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Eu como fumante passei um longo tempo pensando no porque de ainda estar fumando,

mesmo sabendo do mal que ele me causa, e após muito pensar cheguei à seguinte idéia:
O código da Morte.
Em outras palavras, sempre que puxamos um cigarro e o acendemos estamos, nada ma
is, nada menos, do que colocando a morte entre os nossos dedos. A sensação de possui
r a morte entre os dedos, certamente, é uma das sensações de maior poder vivenciado pe
lo homem em sua vida. Obviamente que, por estarmos, vivendo a simbologia da 'mor
te entre os dedos' não vivemos totalmente a experiência de superar a morte, mas revi
vemos a simbologia desta experiência.
Por outra perspectiva, fumar é optar por morrer; assumir conscientemente que se vi
ve um prazer, mesmo que este prazer esteja nos aproximando de uma situação de doença o
u morte. Por isso a mensagem subliminar do ato de fumar é tão forte. Enquanto fumamo
s estamos falando: sou um ser livre, inclusive para destruir o meu corpo em detr
imento dos meus prazeres.
Por outra perspectiva ainda, mais semiológica, ascender um cigarro é fazer viver uma
pequena entidade com tempo de vida contado. O cigarro então, na medida que queima
, representa a linearidade do tempo que nos consome; o rito da queima do cigarro
remete ao poder de destruição atrelado ao ato de existir e culmina no apagamento do
fogo, forçado ou não, que encerra simbolicamente, por completo, o ciclo de vida do
cigarro. Além disso, o cigarro está conectado com a respiração que é em si, a fonte da sob
revivência primeira do homem; o cigarro bloqueia a respiração por quebrar o ciclo de o
xigênio, colocando no corpo o dióxido de carbono e outros agentes nocivos; trocando
um fluxo de vida por um fluxo de morte que acaba por nos aliviar, nos dando uma
pausa momentânea na exigência cíclica da respiração. Relaxamos, entorpecidos pela quebra d
o oxigênio, e nos 'desnorteamos' sutilmente, nos destacando por alguns segundos da
vida.
Em uma sucessão de anti-respiração, vamos fluindo com o cigarro para os seus últimos mom
entos. Entre cada tragada, enchemos nosso corpo de fumaça, como que queimando noss
os órgãos internos, preenchendo misteriosamente nosso corpo com a densa fumaça do taba
co que, quando expelida pela boca, lembra uma alma desencarnando de um corpo, vo
ando aos céus ou pairando como uma assombração sensual em um recinto fechado. Quando f
umamos estamos morrendo um pouco. Quando fumamos estamos tragando o tempo. Estam
os parando a vida e, num dos únicos momentos da pós-modernidade, contemplando o mistér
io e o espanto da vida. Quer estejamos sós olhando o horizonte, quer estejamos a d
ois no lado de fora de um restaurante, o momento do cigarro torna-se o sublime e
miraculoso viver que falta no resto de nossas vidas. Fumar é dizer sim à morte e es
te é o segredo de uma gigantesca indústria crescente em todo o mundo; a definitiva i
ndústria da morte.

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