Você está na página 1de 3

Resenha

CARDOSO, Ciro F. Sete olhares sobre a antiguidade, páginas 82 – 92.

O fragmento da obra, Sete olhares sobre a antiguidade, redigida por Ciro Flamarion Cardoso,
autor de larga produção bibliográfica e diversidade de temáticas históricas, aborda o
descobrimento de tábuas de barro com textos cuneiformes, localizadas nas mediações da
cidade de Ebla, assim revelando valores ambíguos em razão de tal achado arqueológico.
Logo, o autor distribui uma fração da primeira parte do texto em três divisões: 1) Ebla; 2) As
áreas mal documentadas; 3) Relações internacionais. De tal forma, contextualizando cultura,
economia e política, anteriormente vigentes, na Síria setentrional.
Preludialmente, a descoberta é polarizada. Pois, revela uma fulgente civilização, a qual
produziu os primeiros tratados entre cidades, os primeiros documentos filológicos
(ocupando-se da literatura e cultura do determinado povo) e a mais antiga compilação de
leis noticiada. Sendo assim, conflitasse com a prioridade mesopotâmica sobre tais domínios,
rompendo com a ideologia habitual de que o Oriente Próximo possuiu apenas dois pivôs
culturais em sua história: Egito e Baixa Mesopotâmia. Portanto, conclui-se que a cultura
local, têm origens abrangentes, não se reduzindo apenas aquela disseminada pela
mesopotâmia meridional.
Neste mesmo tópico, o mercado e a estrutura política da cidade-estado são debatidos.
Respectivamente, a localização de Ebla era favorável ao comércio, fosse ele direto, ou
indireto. Por essa razão, comercializavam cereais, linho, promoviam a ovinocultura, e
também intercedia entre mercados, assim facilitando a comercialização de madeira e
recursos minerais. A manufatura era controlada pelo palácio real, e o palácio era controlado
pelo monarca intitulado: malikum, quem constava com o auxílio de um conselho de anciões,
e quatorze funcionários graduados, dois deles juízes. De acordo com o autor, a monarquia de
Ebla não seguia preceitos hierárquicos, e conforme contexto histórico, tampouco era um
regime democrático. No século XXIII a.c. a cidade-estado fora parcialmente destruída,
dando predomínio a Urshu.
Seguidamente, as áreas mal documentadas, como: Ásia menor, Síria, Palestina, Elam e bacia
do Egeu, possuem conhecimento político-institucional reduzido em consequência das fontes
de acesso, ou seja: da arqueologia, das informações contida em textos externos, e de raros
documentos escritos, como no caso do Elam. Neste ínterim, análises socioeconômicas de
cada cidade são construídas a partir do período neolítico, calcolítico – Idade do cobre – e,
por fim, Idade do Bronze. O autor observa os avanços de cada civilização, relatando reflexos
culturais.
No território da Ásia menor, o advento da Idade Antiga do Bronze tornou a península num
centro importante de mineração e metalúrgica, movimentando a economia local devido a
qualidade do bronze produzido, além da venda de cobre, chumbo, prata e ouro a outras
regiões, inclusive algumas citadas no parágrafo, como a bacia do Egeu. Contudo, durante a
terceira fase da Idade Antiga do Bronze, o avanço tornou-se um plural retrocesso, em
corolário da chegada dos indo-europeus. Coincidentemente, na Síria, apesar de seu
retrocesso entre os anos de 2900 a.c. e 2600 a.c., houve o surgimento de colônias e sítios
urbanos. E, durante a terceira Idade, a cidade tomou proveito do comércio intermediário, da
mesma forma que Ebla fizera.
Em terras Palestinas, de Elam e Bacia do Egeu, os efeitos do período foram variados. Na
ordem citada, o início da civilização do bronze em domínio Palestino, costuma ser
relacionado a chegados dos “canaanitas”, migrantes do norte e teoricamente difusores do
avanço urbano e o do estabelecimento da economia agrícola, ambos consequências da Idade
do Bronze, assim como a criação de animais de carga e gado menor. Entrementes, o autor
destaca a ligação da história do Elam com a Mesopotâmia, se iniciando na documentação
(pouco abundante) e por meio da escrita. Na região, o estado se tornou federativo e
consolidado através de matrimônios dinásticos. E, como apresentado em registros do Oriente
Próximo, em certos momentos houve domínio dos mesopotâmicos sob Elam.
Na Bacia do Egeu, a combinação entre o clima seco e solo rochoso limitaram os
assentamentos neolíticos. Enquanto que na Idade do Bronze, houve o surgimento de cidades,
e ao que parece, a exploração de recursos marinhos, a navegação e sistemas trocas foram
responsáveis pelo desenvolvimento local.
A terceira subdivisão é fracionada em aspectos de política externa e economia, relação entre
povos e mecanismos de interações internacionais. Logo, o autor exemplifica a necessidade de
algumas cidades em abrir rotas para comércio internacional, visto que seus produtos – como,
tecidos finos – possuem valores acima da média. A influência da manufatura sobre a política
também é retratada, pois a primeira gera emprego aos pobres e dinheiro aos ricos. Portanto, é
possível identificar um sistema capitalismo arcaico.
Em seguida, a relação entre povos é estabelecida, se destacando aquela entre as primeiras
sociedades e os grupos tribais, podendo essa pauta ser analisada num conceito sociológico
com a “Lei do uso e desuso” defendida por Lamarck, pois as tribos poderiam ser tratadas de
forma complementar, colaborativa ou hostil, dependendo de sua utilidade. Assim sendo, num
determinado momento, alguns líderes eram presenteados pela corte, enquanto em outra
ocasião, assistiram o fogo consumir suas aldeias. Os tribais costumavam servir na a caça e
pastoreio, porém permaneciam intitulados como vis bandoleiros e difusores da discórdia,
lidando com os massacres promovidos pelas cidades-estados.
Passando aos meios de ação e mecanismos das relações, o surgimento de fortalezas e cidades
amuralhadas, erguidas na Idade do Bronze, coincide com o período de conflitos do Oriente
Próximo, levando a teorizar que a origem das construções é de precautela. O autor utiliza uma
referência de Richard Leakey para contextualizar o advento da guerra com a necessidade
político-econômica, citando: “Uma resposta política e social às circunstancias econômicas
modificadas”. Em razão da afirmação, é possível reconhecer que a guerra costumava ser a
única fonte viável de mão-de-obra. Todavia, ao contrário do escravismo colonial, é
equivocado atribuir o termo “escravos” aos prisioneiros de guerra, pois estes não pertenciam a
um grupo social permanente, sendo gradualmente integrados a sociedade.
Em virtude dos fatos mencionados, o posicionamento contrário do autor às estruturas sócio-
políticas das primeiras sociedades, é construída por meio da contextualização entre o
capitalismo arcaico dominado pelas cidades-estados (e ampliado pela Idade do Bronze), a
manufatura direcionada aos pobres, e o faturamento voltado a classe alta. O pobre trabalha, e
o rico lucra. Sendo assim, utiliza da posição marxiana, para que então, questione o governo,
naquele momento vigente, fortemente relacionado ao capital e influenciador do movimento
classista. Portanto, as vertentes políticas do autor são de fácil reconhecimento, e os dois
pontos altos do fragmento de Sete olhares sobre a antiguidade, seja para historiadores ou
entusiastas da teoria marxista são: A economia e política externa, assim como as relações
entre povos.

Você também pode gostar