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MARÇO 2011
DIAGNÓSTICO
BASE INDUSTRIAL DE DEFESA
BRASILEIRA
MARÇO 2011
República Federativa do Brasil
Dilma Rousseff
Presidenta
Clayton Campanhola
Diretor
Equipe Técnica
Revisão
Noel Arantes
Projeto gráfico e Diagramação do miolo
Marina Proni
Ficha Catalográfica
AGÊNCIA BRASILEIRA DE DESENVOLVIMENTO INDUSTRIAL.
Diagnóstico: Base Industrial de Defesa Brasileira./ Marcos José Barbieri Ferreira; Fernando Sarti. –
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial. – Campinas: ABDI, NEIT-IE-UNICAMP, 2011. 54p.
1. Industrial Bélica. 2. Política Industrial. 3. Defesa.
I. Título. II. Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial.
CDD 338.4762330981
Introdução 7
1. Demanda por Produtos Estratégicos de Defesa 8
1.1. Características Gerais 8
1.2. Histórico: 1970-2005 9
1.3. Evolução Recente: 2006-2010 10
1.4. Perspectivas: 2011-2020 14
O presente trabalho tem como objetivo apre- Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é rea-
sentar um diagnóstico da Base Industrial de Defe- lizar um diagnóstico da BID brasileira que permita
sa (BID) brasileira, sendo o documento resultante avançar no entendimento dos seus pontos for-
das discussões ocorridas nas Oficinas de Trabalho tes e das suas deficiências, de forma a colaborar
e das informações obtidas a partir de uma pesqui- com a definição das ações empresariais e gover-
sa junto a uma amostra selecionada de empresas. namentais que venham possibilitar a expansão e
Ambas as atividades foram realizadas no segundo alavancar a competitividade dessa importante e
semestre de 2010, sob a coordenação da Agência estratégica indústria.
Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e O estudo está estruturado em três capítulos,
da Secretaria de Ensino, Logística, Mobilização, apresentados a seguir. O primeiro descreve e
Ciência e Tecnologia do Ministério da Defesa (SE- analisa a demanda por equipamentos de defesa,
LOM), com apoio do Ministério da Ciência e Tec- destacando a recente expansão dos investimen-
nologia, da Agência Espacial Brasileira (AEB), da tos relacionados aos programas de reaparelha-
Associação das Indústrias Aeroespaciais do Brasil mento e adequação das Forças Armadas Brasilei-
(AIAB) e da Associação Brasileira das Indústrias ras e as perspectivas com relação a esses inves-
de Material de Defesa (ABIMDE). Por sua vez, a timentos até 2020.
sistematização e análise dessas informações — O segundo capítulo, que realiza um estudo
juntamente com um amplo estudo em fontes aprofundado sobre o desempenho competitivo
secundárias — no presente documento ficaram da estrutura de oferta da BID brasileira, está di-
a cargo do Núcleo de Economia Industrial e da vidido em cinco seções. Inicia-se com um breve
Tecnologia (NEIT) do Instituto de Economia da histórico da indústria brasileira de equipamentos
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). militares e, na sequência, há uma detalhada ava-
A indústria de Produtos de Defesa é uma das liação de cada um dos setores que compõem a
mais importantes dentro da estrutura produtiva BID nacional. A partir disso, apresenta uma sis-
das economias avançadas e também das gran- tematização das principais características dessa
des economias emergentes, particularmente indústria. O capítulo segue analisando a inserção
Rússia, China e Índia. Essa importância é devida internacional da BID nacional através do comércio
tanto ao seu caráter estratégico — decorrente da exterior. A última seção, por sua vez, apresenta os
produção dos equipamentos de defesa do país e, resultados da pesquisa realizada com uma amos-
consequentemente, do domínio de tecnologias tra selecionada de empresas da BID nacional.
sensíveis — como dos seus aspectos econômi- Por fim, no terceiro e último capítulo, são reali-
cos, que estão relacionados à geração de expor- zadas as considerações finais destacando os seus
tações, ao elevado valor adicionado e a empregos principais desafios competitivos e as propostas
de alta qualificação. Desta maneira, a estrutura- de políticas públicas que visam superar esses
ção e o fortalecimento da BID passam a ser fun- desafios, promovendo a capacitação e o fortaleci-
damentais para um país como o Brasil, que, além mento da Base Industrial de Defesa nacional.
de possuir um invejável patrimônio de recursos
humanos e naturais, está buscando uma inserção
cada vez mais ativa no cenário político e econômi-
co internacional.
8 Diagnóstico
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0
1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008
8 Entre estes acordos destacam-se o Tratado de Não- 10 O SIVAM é um amplo sistema de vigilância, con-
Proliferação Nuclear (1998) e o Regime de Controle de trole e defesa do espaço aéreo, terrestre e fluvial da
Tecnologia de Mísseis (1995) (PIRRÓ e LONGO & SOU- região amazônica — cobrindo 5,2 milhões de quilôme-
ZA MOREIRA, 2010). tros quadrados — que utiliza sensores, radares e aero-
naves de forma integrada (SIVAM, 2010).
9 A classe Tupi previa dois submarinos aperfeiçoados
o Tikuna (S34) e Tapuia (S35). No entanto, cortes no 11 Entre as compras de oportunidades realizadas pe-
orçamento do Ministério da Defesa levaram ao cance- las Forças Armadas Brasileiras encontram-se Produtos
lamento do Tapuia e a um atraso na construção do Ti- Estratégicos de Defesa, tais como: aviões de caça su-
kuna. Por sua vez, a FAB reduziu sua encomenda inicial persônicos, aviões de transporte e reabastecimento
de 79 aeronaves AMX para 54 unidades. aéreo, fragatas e carros de combate.
Base Industrial de Defesa Brasileira 11
Valor Taxa de
Indicadores
(R$ milhões)* Crescimento (%)
2006 2007 2008 2009 2006-2009
PIB 2.719.723 2.953.328 3.161.843 3.143.015 15,6
Orçamento da Defesa 41.594 43.831 45.999 51.083 22,8
Investimentos da União 20.064 24.534 29.745 34.137 70,1
Investimentos da Defesa 2.645 3.235 4.158 4.691 77,4
* Valores constantes de 2009: corrigidos pelo IPCA (IBGE).
Fonte básica de dados: SIAFI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
a entrada do novo governo em 2003, passando nua, que se acelerou a partir de 2006, como pode
a buscar uma inserção mais ativa e soberana no ser observado no gráfico 2.
mundo globalizado. Dessa maneira, o Brasil vem Entre 2006 e 2009, os investimentos realiza-
se consolidando ao longo dos últimos anos como dos pelo Ministério da Defesa aumentaram em
uma liderança internacional emergente, tanto no 77%, passando de R$ 2,6 bilhões para R$ 4,7
aspecto econômico quanto político. bilhões. Entretanto, cabe destacar que esse ro-
Neste contexto de maior dinamismo econô- busto crescimento dos investimentos em defesa
mico e de uma política externa mais ativa, o or- está inserido no excepcional processo de expan-
çamento destinado à defesa nacional apresentou são do conjunto dos investimentos da União, que
uma expansão ainda superior que a do Produto apresentou um crescimento de 70% ao longo
Interno Bruto (PIB), como pode ser observado desses quatro anos (tabela 1).
na tabela 1. Enquanto o PIB expandiu 16% entre Desta maneira, os recursos destinados aos
2006 e 2009, o orçamento do Ministério da Defesa investimentos ampliaram a sua participação no
apresentou um crescimento de 23% nesse perío- orçamento do Ministério da Defesa de forma
do. Como resultado observa-se um pequeno mas significativa, passando de 6,1%, no ano de 2006,
significativo aumento de participação dos recur- para 9,2%, em 2009. Observa-se, no gráfico 3,
sos destinados ao Ministério da Defesa que pas- que essa expansão dos investimentos foi em
sou a responder por 3,7% do orçamento federal, grande parte compensada pela redução dos gas-
em de 2009, contra 3,1%, em 2006. Cabe ressaltar tos financeiros, dado que os recursos destinados
que, nesse período, o orçamento do Ministério da ao pessoal e aos gastos correntes praticamente
Defesa foi somente inferior aos orçamentos dos mantiveram suas participações, em torno de 77%
Ministérios da Previdência Social e da Saúde12. e 12% do total do orçamento, respectivamente.
Quando se verifica a distribuição do orça- Entretanto, cabe destacar que uma significa-
mento do Ministério da Defesa de acordo com tiva parcela dos recursos investidos pelo Minis-
a natureza da despesa13, observa-se que a gran- tério da Defesa não se destina à aquisição de
de expansão ocorreu nos investimentos. Depois Produtos Estratégicos de Defesa, sendo utilizado
de terem atingido seu menor patamar no ano de para outros fins14. Sendo assim, para uma melhor
2003, os investimentos na área de defesa inicia- compreensão da demanda das Forças Armadas
ram uma trajetória de expansão gradual e contí- Brasileiras por Produtos Estratégicos de Defesa,
é fundamental que se realize um estudo do orça-
mento do Ministério da Defesa por programa es-
12 SIAFI (2010).
13 O orçamento público pode ser legalmente classifi- 14 Aquisições de Produtos de Defesa e obras de in-
cado de acordo com o Grupo de Natureza da Despesa fraestrutura de caráter não estratégico, isto é, que não
(GND): 1) Pessoal e encargos sociais; 2) Juros e encar- sejam considerados críticos ou essenciais à segurança
gos da dívida; 3) Despesas correntes; 4) Investimen- ou à defesa do País. Por exemplo, investimentos em
tos; 5) Inversões financeiras; 6) Amortização da dívida; atividades de apoio administrativo, serviços de saúde,
7) Reservas (SIAFI, 2010). ensino e pesquisa.
12 Diagnóstico
5.000
4.500
4.000
3.500
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
* Valores constantes de 2009: corrigidos pelo IPCA (IBGE).
Fonte básica de dados: SIAFI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
100
Investimentos
80
Despesas Financeiras
60
40 Despesas Correntes
20 Pessoal
0
2006 2007 2008 2009
Fonte básica de dados: SIAFI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
pecífico — análise vertical — e não apenas pelo lhamento e adequação se traduz na aquisição ou
grupo de natureza da despesa (GND). modernização de Produtos Estratégicos de Defe-
Através de um estudo mais detalhado dos sa; isto é, produtos cujo uso e/ou disponibilidade
programas específicos das Forças Armadas Bra- são essenciais à consecução de objetivos rela-
sileiras, observa-se que a quase totalidade dos cionados à defesa do País.
recursos destinados aos programas de reapare- Além dos programas de reaparelhamento,
Base Industrial de Defesa Brasileira 13
as Forças Armadas Brasileiras possuem outros em apenas sete anos, como pode ser observa-
programas específicos que também envolvem do no gráfico 4. Entretanto, a expansão não foi
a aquisição de Produtos Estratégicos de Defe- uniforme entre as três Forças. Os orçamentos do
sa15. Entretanto, a parcela — e também o volume Exército e da Força Aérea se ampliaram em cerca
— de recursos desses outros programas que é de 150%, enquanto os recursos destinados ao
destinada à aquisição de Produtos Estratégicos reaparelhamento da Marinha apresentaram uma
de Defesa é muito inferior àquela observada nos incrível expansão de 1.650%, dado o patamar ex-
programas de reaparelhamento. tremamente baixo de R$ 54 milhões em 2003.
Dessa maneira, apenas o valor despendido Outra característica observada é que a expan-
nos programas de reaparelhamento e adequação são dos recursos destinados aos programas de
das Forças Armadas Brasileiras deve ser utilizado reaparelhamento não foi contínua e regular, po-
como proxy da demanda por Produtos Estraté- dendo se observar dois períodos distintos. O pri-
gicos de Defesa. Em suma, é a parcela da de- meiro, que vai de 2003 até 2007, quando os dis-
manda militar que realmente importa para a Base pêndios gravitam de forma irregular em torno do
Industrial de Defesa (BID)16. patamar de R$ 1 bilhão anuais; e o segundo pe-
Os recursos voltados ao reaparelhamento das ríodo, que se inicia em 2008, no qual se observa
Forças Armadas Brasileiras vêm sendo amplia- uma clara aceleração dos recursos destinados ao
dos desde 2003 quando registraram o patamar reaparelhamento das Forças Armadas Brasileiras.
de apenas R$ 658 milhões. No ano de 2009 já Convém esclarecer que a maior parte dos pro-
haviam atingido o volume de R$ 2.457 milhões, gramas de reaparelhamento conduzidos entre
contabilizando um crescimento de quase 300% 2003 e 2007 foi, na realidade, a retomada ou con-
tinuidade de antigos projetos que haviam sido
15 Entre os outros programas específicos que tam- suspensos ou prorrogados por falta de recur-
bém envolvem a aquisição de Produtos Estratégicos sos17. A estratégia era reverter o elevado grau de
de Defesa destacam-se: o Programa de Proteção ao sucateamento em que se encontravam as Forças
Voo e Controle do Espaço Aéreo, o Programa Nacional
de Atividades Espaciais (PNAE), o Programa Nacional
Armadas Brasileiras, procurando mantê-las ope-
de Atividades Nucleares e os programas de desenvol- racionais, pois, apesar de crescentes, esses re-
vimento tecnológico das Forças Singulares. cursos ainda eram insuficientes para um efetivo
programa de modernização. Somente a partir de
16 Base Industrial de Defesa (BID) reúne o conjunto
das empresas estatais e privadas, bem como organiza- 2008 houve uma mudança dessa situação.
ções civis e militares, que participam de uma ou mais Em dezembro de 2008 o governo federal apre-
das etapas de pesquisa, desenvolvimento, produção,
distribuição e manutenção de Produtos Estratégicos
de Defesa (bens e serviços). 17 FERREIRA (2009).
2.500
2.000
Força Aérea
1.500
Exército
1.000
500 Marinha
0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
sentou a Estratégia Nacional de Defesa (END), um tar, ao longo do período 2011-2020. Desse total,
abrangente plano que estabeleceu as diretrizes da cerca de R$ 18 bilhões (30%) já estão contra-
defesa nacional. “O plano é focado em ações estra- tados, R$ 9,3 bilhões (15,6%) são de produtos
tégicas de médio e longo prazo e objetiva moder- que se encontram em fase de desenvolvimento
nizar a estrutura nacional de defesa”18. Este plano e 27,7% estão aguardando a seleção das empre-
busca inserir a defesa nacional dentro de uma es- sas vencedoras, que deve ocorrer em breve. Por
tratégia nacional de desenvolvimento, dado que, fim, com cerca de 27% dos recursos previstos,
de um lado, o desenvolvimento da Nação neces- encontram-se os programas que ainda estão em
sita de uma estrutura de defesa que garanta sua fase de estudo, com destaque para os três pro-
proteção, e, de outro lado, é este desenvolvimento gramas voltados para a implantação e moderniza-
que fornecerá os recursos financeiros, materiais e ção dos sistemas de monitoramento e controle,
tecnológicos necessários para construção dessa o SISFRON do Exército, o SisGAAz da Marinha e
ampla e moderna estrutura de defesa. o SISDABRA da Força Aérea19.
Como resultado da Estratégia Nacional de De- Dessa maneira, a expectativa para os próxi-
fesa inicia-se um novo conjunto de programas de mos dez anos é de que a demanda dos progra-
reaparelhamento voltado para a modernização e mas de reaparelhamento possa atingir o patamar
o fortalecimento da estrutura nacional de defesa. dos R$ 60 bilhões, ou um dispêndio anual médio
Apenas a preparação e início de alguns desses de R$ 6 bilhões. Isto significa duas vezes e meia
novos programas demandaram um significativo o que foi apresentado no orçamento de 2009,
aumento dos recursos destinados ao reaparelha- que, por sua vez, foi o ano em que o ciclo de re-
mento das Forças Armadas Brasileiras, que atin- tomada dos programas de reaparelhamento em
giu o patamar de R$ 2,5 bilhões, no ano de 2009. defesa atingiu o seu ápice.
Todos os programas de reaparelhamento e
1.4. Perspectivas: 2011-2020 adequação das Forças Armadas Brasileiras apre-
sentados na tabela 3 estão inseridos dentro das
Existe a perspectiva de uma grande ampliação diretrizes estabelecidas pela Estratégia Nacio-
da demanda por Produtos Estratégicos de Defe- nal de Defesa. Neste sentido, todos esses pro-
sa nos próximos anos em decorrência da imple- gramas de reaparelhamento estão integrados e
mentação dos programas de reaparelhamento e organizados sob a égide do trinômio: Monito-
adequação das Forças Armadas que estão deli- ramento/Controle, Mobilidade e Presença. Não
neados na Estratégia Nacional de Defesa. são programas desconexos entre si que possam
De acordo com o levantamento apresentado ser tratados de maneira unitária; ao contrário, fa-
na tabela 2, o governo federal deverá investir zem parte de uma estratégia ampla e integrada.
cerca de R$ 60 bilhões nos principais programas
de reaparelhamento e adequação da área mili- 19 Cabe destacar que as elevadas especificidades
e complexidades que envolvem estes programas im-
possibilitam um cálculo preciso dos valores que serão
18 END (2008: 5). realmente despendidos.
Valores Estimados
Situação Partc. (%)
(R$ milhões)
Valores
Partc.
Descrição Situação Estimados
(%)
(R$ milhões)
Por exemplo, a aquisição de novos aviões caças volvidas internamente, em decorrência das seve-
(F-X2) está diretamente relacionada à aquisição ras restrições internacionais estabelecidas pelos
dos aviões de reabastecimento de grande porte países detentores destas tecnologias para evitar
(KC-X2) e dos mísseis ar-ar (A-Dart), com a mo- sua difusão. Neste sentido, as diretrizes da Estra-
dernização dos aviões de alerta aéreo antecipa- tégia Nacional de Defesa buscam “fortalecer três
do e controle (E99) e com a reestruturação do setores de importância estratégica: o espacial, o
sistema de controle do espaço aéreo brasileiro cibernético e o nuclear”20, estando os dois primei-
(SISDABRA). Este último, por sua vez, está ligado ros diretamente relacionados aos programas de
à aquisição do satélite geoestacionário (SGB) e monitoramento (satélites e sistemas integrados
à implantação dos programas de monitoramento de vigilância). O desenvolvimento da tecnologia
da Marinha (SisGAAz) e do Exército (SISFRON), nuclear, por sua vez, está vinculado ao progra-
assim por diante. ma de propulsão do submarino nuclear. Por fim,
Cabe destacar que a quase totalidade dos pro- é importante ressaltar que estes três programas
gramas de reaparelhamento envolve a demanda estratégicos apresentam um caráter dual, sendo
por novas tecnologias, sendo que, em alguns ca- assim de grande importância para a geração de
sos, visa à substituição de equipamentos milita- tecnologias de uso civil que também são estraté-
res defasados tecnologicamente por equipamen- gicas para o desenvolvimento nacional.
tos próximos ao “estado da arte”, como no caso Apesar do conjunto de programas de reapa-
dos programas de aquisição das fragatas, aviões relhamento e adequação das Forças Armadas
de caça (F-X2) e veículos blindados (VBTP-MR). Brasileiras exigir um volume de recursos bem
Entretanto, outros programas demandam tecno- superior ao empenhado nas últimas décadas e
logias sensíveis ainda não utilizadas pelas Forças
Armadas Brasileiras e que necessitam ser desen- 20 END (2008: 12).
46 América Latina
Demais
28
Fonte básica de dados: SIPRI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
observado no período entre 1993 e 200529. Esta vatização da Embraer; c) as empresas privadas
redução das exportações brasileiras de Produtos sobreviventes procuram diversificar suas ativida-
Estratégicos de Defesa — para apenas 13% do des para outros setores industriais, restringindo
volume anteriormente obtido — está relacionada suas operações na BID.
com três fatores: a) fim do ciclo de vida dos produ- O único grande programa militar que impul-
tos tradicionalmente exportados; b) os novos pro- sionou a BID brasileira ao longo deste período foi
dutos mais sofisticados, como o caça tático AMX o SIVAM. Apesar de grande parte dos sensores e
e o carro de combate EE-T1 Osório, não foram radares ter sido importada31, duas empresas bra-
aceitos no mercado internacional, principalmente sileiras se destacaram. A Fundação Aplicações
por erros na análise dos mercados e por questões de Tecnologias Críticas (Fundação Atech) — cria-
geopolíticas30; c) saturação e retração dos princi- da especificamente para este programa32 — foi a
pais mercados, em decorrência de diversos fato- empresa responsável pela integração dos siste-
res, particularmente o fim da Guerra Fria. mas, enquanto a Embraer forneceu as aeronaves
Pelo lado da oferta observa-se que a maioria de vigilância eletrônica e de patrulha, desenvolvi-
das empresas apresentava baixa escala empre- das especialmente para o programa SIVAM33.
sarial — tanto produtiva como financeira —, re-
duzida capacidade administrativa, além de uma 2.2. Panorama Atual dos Diferentes Setores
capacitação tecnológica restrita aos produtos de
baixa e média intensidade. Neste sentido, a maior Atualmente, as principais empresas que com-
parte das empresas estava concentrada nos seg- põem a BID brasileira são remanescentes dos
mentos militares convencionais como a produção grandes projetos militares iniciados nas décadas
de munições, armas leves, sistemas de artilharia, de 1970 e 1980, como a Embraer, a Helibras, a Avi-
veículos militares sobre rodas e aeronaves de bras e a Emgepron, ou, então, são empresas mais
transporte, treinamento e combate leves, prati- recentes que acolheram os projetos iniciados nes-
camente inexistindo empresas nos segmentos te período, como a Mectron, a Agrale e a Funda-
tecnologicamente mais sofisticados como o es- ção Atech34. A seguir é apresentada uma breve
pacial, o nuclear e o de sistemas informatizados. avaliação dos principais setores que compõem a
A conjunção de fatores acima apresentada — Base da Indústria de Defesa (BID) nacional.
retração da demanda doméstica e internacional,
ausência de uma política de longo prazo para a
área de defesa e as deficiências da estrutura pro-
dutiva — resultou numa crise de elevadas propor-
ções que atingiu praticamente todas as empre- 31 A maior parte dos radares e sensores foi fornecida
sas que constituíam a BID brasileira: a) algumas pela empresa norte-americana Raytheon e pelas suas
subcontratadas.
empresas foram à falência, entre elas a grande
fabricante de veículos militares Engesa; b) as es- 32 A Fundação Atech veio substituir a Esca Enge-
tatais restringiram ao máximo suas atividades e nharia, empresa nacional que havia participado da im-
os seus investimentos, passando a acumular dívi- plantação dos Sistemas de Defesa Aérea e Controle
do Tráfego Aéreo das regiões Sudeste, Sul e Nordeste
das e sucatear suas estruturas produtivas. Cabe (CINDACTAs I, II e III) e que faliu em 1995.
destacar que foi neste contexto que se deu a pri-
33 Os aviões de vigilância aérea e sensoriamento re-
moto, respectivamente EMB 145 AEW&C e RS/AGS,
29 SIPRI (2010). que utilizam a plataforma do modelo comercial ERJ-
145, estão entre os mais sofisticados do mundo. Por
30 Grande parte do fracasso comercial do avião de outro lado, o EMB-314 Super Tucano, é um avião tur-
caça AMX se deve ao fato desta aeronave ter entrado boélice militar de alto desempenho, dotado de avança-
em operação no fim da Guerra Fria, período em que os dos sistemas eletrônicos, podendo ser utilizado para
orçamentos militares sofreram reduções, além da exis- patrulha aérea, ataque leve e treinamento avançado
tência de um grande número de aviões militares com (EMBRAER, 2010).
pouco uso e baixo custo. Por sua vez, o carro de com-
bate EE-T1 Osório foi projetado pela Engesa visando 34 “Entretanto, cabe destacar que a maioria destas
o mercado externo, mas tentou enfrentar — apenas empresas não apenas retomaram antigos projetos mi-
com protótipos — as grandes empresas ocidentais e o litares, mas realizaram grandes investimentos na atua-
apoio dos seus respectivos países em duas das gran- lização e modernização desses projetos, de forma que
des concorrências internacionais (Arábia Saudita em a maioria delas se capacitou para avançar em produtos
1987 e Abu-Dhabi em 1988). de maior conteúdo tecnológico” (FERREIRA, 2009: 32).
Base Industrial de Defesa Brasileira 21
2.2.1. Armas e Munições Leves e Explosivos (Setor 1) entre 40% e 50% da produção de armas leves da
As primeiras unidades produtivas deste setor Imbel é exportada, tendo como principal cliente
foram criadas no início do século XIX com a vinda internacional o mercado norte-americano37.
da Família Real para o Brasil, sendo um dos se- Por fim, a empresa privada nacional Condor
tores constituintes da BID brasileira juntamente SA Indústria Química que produz, desde 1985,
com a produção de embarcações militares. armas e equipamentos não-letais utilizados pelas
Atualmente este setor está consolidado em instituições de segurança pública e pelas Forças
poucas e grandes empresas de capital nacional, Armadas em missões internacionais de paz e de
que possuem grandes economias de escala e controle da ordem interna. Essa empresa apresen-
escopo, além de uma elevada capacitação tec- ta uma importante inserção no mercado interna-
nológica. Cabe ainda destacar a ativa inserção cional, exportando mais de 70% da sua produção.
internacional destas empresas através de expor-
tações e, em alguns casos, com a instalação ou 2.2.2. Armas e Munições Pesadas (Setor 2)
aquisição de unidades produtivas no exterior. As O setor de armas e munições pesadas da BID
principais empresas que constituem este setor brasileira está concentrado em cinco empresas,
são a estatal Imbel e as empresas privadas Tau- duas estatais e três empresas privadas de capital
rus e CBC35, além da empresa Condor, em tecno- nacional.
logias não-letais. A empresa estatal Imbel atua neste setor indus-
A Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) foi trial com a fabricação de munições pesadas e seus
criada em 1926 e, desde então, concentra-se na insumos, granadas para morteiros e propelentes
fabricação de munições leves, segmento no qual para mísseis e foguetes, tendo como principal
praticamente detém o monopólio nacional. Se- cliente o Exército Brasileiro. Por sua vez, a estatal
cundariamente, a CBC também fabrica armas de Emgepron, através da Fábrica Almirante Jurandyr
caça e esportivas e coletes à prova de bala. Além da Costa Müller de Campos (FAJCMC), produz as
de exportar mais de 70% da sua produção, a CBC munições pesadas utilizadas pela Marinha do Bra-
recentemente adquiriu duas tradicionais fabrican- sil. Ainda no segmento de munições pesadas duas
tes de munições européias, a alemã Metallwerke empresas privadas apresentam atuação destaca-
Elisenhutte Nassau (MEN), em 2007, e a tcheca da, a CBC, que produz munições para canhões de
Sellier & Bellot, em 2009. Desta maneira, a CBC médio calibre38, e a Britanite SA - Indústrias Quími-
vem consolidando a sua posição entre as grandes cas, que atua na fabricação de granadas para mor-
fabricantes mundiais de munições leves. teiros, bombas convencionais e guiadas e fogue-
A Forjas Taurus SA foi fundada em 1937 e tes ar-terra lançados de aeronaves39.
atualmente é uma das três maiores fabricantes No segmento de artilharia, a produção nacio-
mundiais de armas curtas — revólveres e pistolas nal está concentrada na Avibras, que atua neste
—, além de também produzir carabinas e metra- setor através da fabricação do sistema de artilha-
lhadoras. A maior parte da sua produção é expor- ria por saturação de foguetes Astros II — siste-
tada, e a empresa possui também uma unidade ma de foguetes terra-terra e terra-mar multicali-
produtiva nos EUA, a Taurus International Manu- bre. Esse sistema de artilharia foi desenvolvido
facturing Inc. (TIMI)36. nos anos 80, mas vem incorporando uma série
A Imbel atua neste setor produzindo armas le- de inovações, de forma que ainda é considerado
ves — pistolas, fuzis e metralhadoras —, além de um dos mais sofisticados e flexíveis sistemas de
explosivos de uso civil e militar. Cabe destacar que
37 Destaca-se de forma especial a venda de armas
leves para o Federal Bureau of Investigation (FBI) dos
35 Cabe destacar que estas duas empresas foram re- EUA (IMBEL, 2010).
nacionalizadas em 1977 e 1980, respectivamente, com
o apoio do Governo Federal, que visava à transferência 38 A CBC produz munições de 20 e 30 mm utilizadas
de empresas de caráter estratégico para o controle na- em canhões internos de aeronaves e antiaéreos (CBC,
cional. 2010).
36 A Taurus é um diversificado grupo empresarial que 39 A Britanite, criada em 1961 e pertencente ao grupo
atua em outros setores da indústria metal-mecânica, paranaense CR Almeida, é uma empresa da área quí-
como forjados, equipamentos de proteção individual, mica voltada para fabricação de explosivos de uso civil
ferramentas e, desde 2004, na fabricação de máqui- e seus acessórios de detonação, além de Produtos de
nas-ferramentas (TAURUS, 2010). Defesa (BRITANITE, 2010).
22 Diagnóstico
artilharia do mercado mundial. Além de ser uti- gramas — particularmente o SIVAM — possibili-
lizado pelo Exército Brasileiro, este sistema foi taram um avanço, ainda que tardio, neste impor-
exportado para diversos países, particularmente tante setor da indústria de defesa.
do Oriente Médio. A Avibras também produz fo- No segmento de equipamentos eletrônicos
guetes ar-terra40, que, igualmente, foram expor- destacam-se os radares que foram desenvol-
tados para diversos países. Cabe destacar que a vidos ao longo da década de 2000 por quatro
Avibras apresenta uma estrutura produtiva alta- diferentes empresas de médio porte: Mectron
mente verticalizada, produzindo internamente os (radar embarcado do avião de caça AMX), Orbi-
propelentes, explosivos, sistemas eletrônicos e sat (radar de vigilância aérea de baixa altitude, o
viaturas41 utilizadas nos seus produtos. SABER M-6042), a Omnisys (modernização dos ra-
As empresas deste setor possuem elevada dares de longo alcance produzidos pela empresa
capacitação tecnológica e grandes escalas pro- francesa Thales) e a Atmos Sistemas, subsidiária
dutivas, mas, com exceção da CBC e da Britanite, da Fundação Atech, (radares meteorológicos).
elas têm enfrentado sérias dificuldades financei- Por sua vez, a AEL-Aeroeletrônica, subsidiária do
ras decorrentes das dívidas acumuladas no pas- grupo israelense Elbit, está voltada para a monta-
sado que, por sua vez, foram o resultado de um gem local de sistemas aviônicos embarcados em
volume de vendas muito irregular, tanto para o aeronaves militares.
mercado interno, como para as exportações. A empresa que mais tem se destacado neste
setor é a Fundação Atech. Ela foi criada em 1997
2.2.3. Sistemas Eletrônicos e Sistemas de e desde então se concentra no desenvolvimento
Comando e Controle (Setor 3) de sistemas integrados de vigilância eletrônica e
Este setor inclui a produção de radares e sen- inteligência, com destaque para a implantação do
sores, equipamentos de comunicação e trans- SIVAM e a modernização dos CINDACTAS I, II e III.
missão de dados, terminais de interface homem- A Fundação Atech também desenvolve sistemas
máquina e também os softwares que permitem de controle de armas de embarcações e aerona-
não apenas o funcionamento destes sistemas, ves, além de simuladores de operações militares.
como a integração dos mesmos em embarca- Nos últimos anos tem se observado uma mo-
ções, aeronaves e redes de comando e controle. vimentação de duas grandes empresas nacionais
Em suma, inclui os diversos segmentos da in- em direção a este setor. A fabricante de aerona-
dústria de defesa que têm em comum uma base ves Embraer, que recentemente desenvolveu
técnica centrada na tecnologia da informação e um sistema de comunicação de dados (datalink)
na eletrônica. entre aeronaves e comandos em terra, está pro-
A quase totalidade dos esforços governa- curando diversificar suas atividades para este
mentais realizados nos anos 70 e 80 para a ca- setor via aquisições. Por sua vez, a Odebrecht —
pacitação tecnológica nestas novas tecnologias através de uma joint venture recém estabelecida
resultou em fracasso. Por um lado, as restrições com a européia Cassidian (grupo EADS) — está
orçamentárias prejudicaram de forma decisiva os buscando fornecer sistemas integrados de vigi-
programas de defesa deste setor, pois estes ne- lância, controle e inteligência para as Forças Ar-
cessitavam da regularidade de recursos no longo madas Brasileiras.
prazo. Por outro lado, a maioria das empresas
que atuava neste setor não apresentava as capa- 2.2.4. Plataforma Naval Militar (Setor 4)
citações tecnológica, financeira e administrativa O Brasil vem produzindo navios militares des-
necessárias para levar à frente os projetos para de antes da independência, sendo o setor mais
as quais haviam sido contratadas. Na década de antigo da BID nacional. A quase totalidade das
1990, a retomada de alguns programas antigos embarcações militares construídas no Brasil —
por novas empresas e a demanda por novos pro- desde pequenas lanchas-patrulha até os subma-
rinos da classe Tupi — foi produzida no Arsenal
de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), seja a par-
40 A Avibras produz os foguetes ar-terra SBAT (Siste-
ma Brasileiro Ar-Terra de 37 e 70 mm) e SKYFIRE (AVI-
tir de projetos próprios, estrangeiros ou adapta-
BRAS, 2010).
41 As viaturas utilizadas no sistema Astros II são fabri- 42 O radar SABER M-60 foi desenvolvido em conjunto
cadas pela subsidiária Tectran (AVIBRAS, 2010). com o CTEx e a UNICAMP (FERREIRA, 2009: 36).
Base Industrial de Defesa Brasileira 23
dos. Entretanto, com relação aos projetos recen- 2.2.5. Plataforma Aeroespacial Militar (Setor 5)
tes observam-se grandes mudanças. O Setor de Plataformas Aeroespaciais é atual-
Em 2006 a Marinha do Brasil iniciou um pro- mente o mais amplo da BID brasileira tanto pelo
grama de construção de 27 navios-patrulha ma- número e porte das empresas participantes, como
rítima da classe Macaé (Napa 500), a partir da por envolver diversos segmentos industriais.
adaptação de um projeto francês realizada pela A Embraer é uma das líderes mundiais nos
Emgepron. A construção das seis primeiras em- segmentos de aeronaves comerciais e executivas
barcações foi transferida, através de licitação, e, além disso, também é a maior empresa da BID
para dois estaleiros privados nacionais, a Indús- brasileira apesar do setor de defesa representar
tria Naval do Ceará SA (INACE) e o Estaleiro da menos de 10% das suas receitas. Atualmente a
Ilha SA (EISA)43. participação da Embraer no mercado de aerona-
Dentro de um acordo de cooperação estraté- ves militares está focada em dois nichos, o de avi-
gica entre o Brasil e a França, no final de 2008 foi ões turboélices para treinamento militar e ataque
assinado um amplo contrato de transferência de leve, com o EMB-314 Super Tucano, e o de aviões
tecnologia no valor de R$ 16,6 bilhões que prevê de vigilância eletrônica construídos em platafor-
a construção: a) de quatro submarinos convencio- mas comerciais, no caso os modelos EMB 145
nais da classe Scorpène; b) da parte não nuclear AEW&C e RS/AGS. Essas aeronaves foram desen-
do primeiro submarino brasileiro com propulsão volvidas na década de 1990 a partir da demanda
nuclear; c) do estaleiro de construção naval, onde do projeto SIVAM, sendo, posteriormente, expor-
serão produzidos os cinco submarinos; d) de uma tadas para diversos países. Buscando ampliar sua
base naval de submarinos para a Marinha do Bra- participação no segmento militar, a Embraer está
sil junto ao estaleiro, no município de Itaguaí (RJ). investindo, em conjunto com a FAB, em torno de
Este projeto será conduzido pelo Consórcio Baía R$ 2,3 bilhões no programa KC-390, um avião a
de Sepetiba (CBS), joint venture criada no final de jato de transporte militar tático e reabastecimento
2009 pela empresa francesa DCNS — detentora aéreo. O contrato para desenvolvimento foi assi-
da tecnologia — e pela brasileira Odebrecht44. nado em 2009 e no ano seguinte a FAB confirmou
Este é um modelo de parceria inovadora que bus- uma encomenda inicial de 28 aeronaves, cujas pri-
ca a participação direta da empresa estrangeira meiras entregas estão previstas para 201645.
detentora da tecnologia juntamente com uma A Embraer também deverá participar do pro-
grande empresa nacional com elevada competên- grama F-X2 da FAB, que visa à aquisição dos no-
cia em construção civil e gerenciamento de pro- vos aviões de caças supersônicos de primeira
jetos públicos. Entretanto, fica o questionamento linha46. Como um dos objetivos estratégicos da
em relação à capacitação da parte brasileira na FAB é a transferência de tecnologia para capaci-
absorção da tecnologia naval. tação da indústria nacional, a associação da Em-
Quanto aos programas de construção dos braer e de outras empresas da cadeia produtiva
grandes navios de superfície, no caso fragatas, na- com a empresa vencedora do programa F-X2 é
vios de patrulha oceânica e navios de apoio, ainda considerada um pré-requisito básico. Apesar da
não está clara qual a modelagem que a Marinha importância, não está definida em que forma se
do Brasil utilizará — licenciamento ou joint venture dará essa associação entre a Embraer e a empre-
— e se haverá ou não participação do AMRJ. sa estrangeira vencedora.
A produção de Veículos Aéreos Não Tripula-
43 A INACE é uma empresa familiar com atuação na 45 As Forças Aéreas do Chile, Colômbia, Portugal, Ar-
indústria pesqueira e de turismo que desde 1981 vem gentina e República Tcheca estão confirmadas como
produzindo embarcações leves para Marinha do Bra- parceiras no desenvolvimento do programa do car-
sil. Por sua vez, o estaleiro EISA é uma subsidiária do gueiro. As encomendas previstas somam 60 aviões,
grupo Synergy que apresenta destacada atuação na sendo dois da República Tcheca, seis do Chile, seis de
construção naval. O grupo Synergy também atua em Portugal, seis da Argentina e 12 da Colômbia, além das
operações offshore e no transporte aéreo. 28 unidades da FAB.
dos (VANTs) para o uso militar é um segmento radas com o porte das empresas concorrentes no
recente e ainda não consolidado, havendo uma mercado internacional.
janela de oportunidade para a entrada de empre- O segmento espacial é o que apresenta as
sas nacionais com projetos próprios. Neste con- maiores deficiências. As competências tecnoló-
texto, duas pequenas empresas nacionais vêm se gicas e industriais brasileiras estão concentradas
destacando no desenvolvimento e produção de na produção de satélites de órbita baixa de senso-
VANTs leves, a SantosLab e a Flight Solutions47. riamento remoto e de foguetes de sondagem. O
Também existe a expectativa de que a Embraer INPE e o IAE/CTA50 são as instituições responsá-
venha a participar, sozinha ou em conjunto com veis pela execução do programa espacial brasilei-
outras empresas nacionais ou estrangeiras, do ro, realizando os projetos, montagem, integração
desenvolvimento de VANTs. de sistemas e testes dos satélites e veículos lança-
A produção de helicópteros no Brasil está res- dores, respectivamente. A atuação das empresas
trita a Helibras — subsidiária da Eurocopter (grupo privadas está restrita ao fornecimento de peças,
EADS) — que, em 2008, fechou um acordo para componentes e subsistemas encomendados por
implantar uma segunda linha de montagem na estas duas instituições51. Cabe ainda destacar que
unidade de Itajubá (MG), no caso do helicóptero as Forças Armadas Brasileiras não possuem ne-
de médio porte EC-725. Em contrapartida, o Mi- nhum tipo de satélite de uso exclusivo, adquirindo
nistério da Defesa realizou a encomenda de 50 o serviço de outros órgãos públicos (sensoriamen-
unidades, que deverão ser entregues entre 2010 to) ou de empresas privadas (comunicações).
e 2016. O objetivo é que a cadeia produtiva nacio-
nal, composta pela Helibras e seus fornecedores, 2.2.6. Plataforma Terrestre Militar (Setor 6)
consiga atingir um índice de nacionalização do A Engesa, que era praticamente a única fabri-
produto de 50%48. cante nacional de veículos militares foi à falência
No segmento de mísseis não há uma grande em 1993. Os projetos de veículos utilitários leves
empresa que coordene tanto os diferentes pro- dessa empresa foram posteriormente aprimora-
gramas, como a cadeia produtiva. Em geral os dos e modernizados pela Agrale SA52, que lançou
programas são realizados através do consórcio em 2004 o jipe Agrale Marruá53 — tanto na versão
de empresas e coordenados pelas próprias For- utilitário esportivo quanto militar — dos quais o
ças demandantes, com decisivo apoio dos seus Exército Brasileiro já adquiriu mais de 100 unida-
respectivos centros de pesquisa tecnológica — o des, além de ter sido exportado para o exército
CTA da Aeronáutica e o CTEx do Exército —, visan- de outros países.
do superar não apenas as deficiências das empre-
sas nacionais, mas também os embargos dos pa-
íses desenvolvidos à transferência de tecnologias
50 O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE)
sensíveis. As empresas-chave deste segmento é um órgão vinculado ao Ministério da Ciência e Tecno-
são: Mectron (sistemas de guiagem), Avibras (es- logia (MCT), sendo responsável pelo desenvolvimento
truturas aerodinâmicas e sistemas de propulsão) dos satélites. O Comando Geral de Tecnologia Aeroes-
pacial (CTA) é um órgão do Comando da Aeronáutica
e Opto Eletrônica (sistemas ópticos). Apesar das
do Ministério da Defesa (MD), sendo responsável pela
dificuldades enfrentadas, particularmente o baixo produção dos veículos lançadores, através do Institu-
volume e a irregularidade de recursos, estas em- to de Aeronáutica e Espaço (IAE), e pelo controle dos
presas construíram uma razoável competência centros de lançamento de foguetes.
3. Poucas empresas âncoras nacionais: ape- tributários que produz impactos negativos sobre
nas alguns setores ou segmentos da BID pos- a rentabilidade e custo das grandes empresas ex-
suem empresas âncoras nacionais com escala portadoras;
empresarial — produtiva e financeira — compa- 8. Reflexo da estrutura produtiva nacional: a
tível com o padrão de concorrência internacional. elevada capacidade competitiva da base metal-
Entre estas empresas se destacam: a Taurus e a mecânica e de material de transporte da indústria
CBC no Setor de Armas e Munições Leves (S1), brasileira favorece o adensamento das cadeias
a Embraer no segmento de aeronaves militares produtivas dos setores S1, S2, S4, S5 e S6. Por
(S5) e a recente entrada do grupo Odebrecht no outro lado, a deficiência da estrutura produtiva
segmento de submarinos (S4). Nos demais se- nacional na tecnologia da informação prejudica
tores ou segmentos as empresas âncoras pos- o desenvolvimento de setores e segmentos que
suem baixa escala empresarial e/ou são subsidiá- utilizem esta base tecnológica, com destaque
rias de empresas estrangeiras; para o S3.
4. Setores com baixa escala produtiva: nos
setores ou segmentos com baixa demanda e, 2.4. Desempenho no Comércio Exterior
consequentemente, com baixa escala produtiva,
verifica-se como resultado um maior coeficiente Como analisado na seção anterior, o comércio
de produtos, sistemas e componentes importa- internacional de Produtos Estratégicos de Defe-
dos — como observado em alguns segmentos sa é determinado, fundamentalmente, por fato-
dos setores S3, S4 e S5 — ou, então, a adoção res geopolíticos, enquanto que a aquisição de
da estratégia de elevada verticalização produtiva componentes, subsistemas e projetos de defe-
que implica na diminuição da rentabilidade em- sa — sobretudo aqueles de caráter estratégico e
presarial. Esta estratégia é observada principal- que incorporam maior densidade tecnológica —
mente nos setores S2 e S7; apresenta elevadas restrições. Desta maneira, os
5. Diferenças na padronização do processo obstáculos e dificuldades enfrentados pela BID
produtivo: os setores que mais utilizam matérias- nacional se referem tanto à inserção no mercado
primas, insumos e componentes padronizados externo (exportação), quanto ao acesso a tecno-
em seu processo produtivo, no caso S1, S2 e S6, logias de maior sofisticação (importação).
apresentam uma maior participação dos forne- Esta seção busca analisar de forma mais de-
cedores locais, além de uma maior flexibilidade talhada a inserção da BID brasileira no mercado
produtiva e de menores custos operacionais; internacional através da exportação e importação
6. Infraestrutura educacional, científica e tec- de Produtos Estratégicos de Defesa. Em linhas ge-
nológica: as Forças Armadas Brasileiras cons- rais, esta inserção caracteriza-se pela exportação
truíram um amplo conjunto de instituições de de produtos convencionais de média e baixa inten-
pesquisa, desenvolvimento e formação de re- sidade tecnológica, sobretudo aeronaves de trei-
cursos humanos que forneceram o suporte para namento militar, além de armas e munições leves,
a criação, expansão e consolidação de diversos e pela importação de produtos de alta tecnologia.
setores e segmentos da BID. A FAB possui o CTA Neste contexto, o Brasil tem sido sistematica-
que engloba diversos institutos — com desta- mente deficitário no comércio de equipamentos
que para o Instituto Tecnológico de Aeronáutica militares — aqui representado pelos setores S3,
(ITA) — enquanto o Exército Brasileiro possui o S4, S5, S6 e parte do setor S2 — e superavitário
CTEx e os Institutos Militar de Engenharia (IME), em armas e munições, que englobam os setores
de Pesquisa e Desenvolvimento (IPD) e de Proje- S1 e S256.
tos Especiais (IPE). A Marinha do Brasil, por sua
vez, possui o Instituto de Pesquisas da Marinha
56 A análise do comércio internacional de equipamen-
(IPqM) e o Centro Tecnológico da Marinha em tos militares utiliza a base de dados do Stockholm In-
São Paulo (CTMSP); ternational Peace Research Institute (SIPRI, 2010), en-
7. Deficiências tributárias: existe uma assi- quanto a análise do comércio internacional de armas e
munições utiliza a base de dados do International Trade
metria tributária que favorece a importação em
Centre (INTRACEN, 2010) da UNCTAD. Entretanto, o se-
todos os setores da BID. Além disso, os setores tor de Armas e Munições Pesadas (S2) é contabilizado
com maior coeficiente exportado, particularmen- nas duas bases de dados, aparecendo tanto na classifi-
te S1 e S2, apresentam um acúmulo de créditos cação de equipamentos militares (sistemas de artilharia)
como na classificação de armas e munições.
Base Industrial de Defesa Brasileira 27
2.4.1. Comércio Exterior de Equipamentos Militares bilhões) e veículos blindados (US$ 56,4 bilhões).
O comércio mundial de equipamentos milita- O Brasil respondeu por apenas 0,2% das ven-
res — aeronaves, sistemas de defesa aérea, ve- das mundiais de equipamentos militares no perío-
ículos blindados, sistemas de artilharia, mísseis, do 2005-2009, ainda que tenha crescido sua parti-
satélites, sensores, navios, motores e outros —, cipação se comparada ao desempenho da segun-
embora tenha se retraído no biênio 2008-2009 da metade dos anos 90 e da primeira metade da
devido à crise internacional, superou o patamar década de 2000. Contudo, esta participação ficou
de US$ 22 bilhões neste último ano e acumulou aquém da sua inserção na primeira metade da dé-
vendas externas de US$ 116 bilhões no período cada de 1990; período que ainda refletia o elevado
2005-2009. Considerando-se os últimos 20 anos, volume de exportações brasileiras de equipamen-
as vendas em valores correntes aproximaram-se tos militares realizadas nos anos 80. No período
de US$ 470 bilhões, tendo como principal mer- 2005-2009, o segmento em que a BID brasileira
cado o de aeronaves (US$ 210 bilhões), seguido apresentou maior participação internacional foi
por navios (US$ 73,1 bilhões), mísseis (US$ 64,3 em produtos de artilharia (0,7% das exportações
Valor Acumulado
Países
(US$ milhões)1
1990-1994 1995-1999 2000-2004 2005-2009 1990-2009
Reino Unido 133,0 133,0
Colômbia 29,0 60,0 89,0
França 3,0 79,0 82,0
Arábia Saudita 64,0 64,0
Nigéria 54,0 54,0
Malásia 26,0 25,0 51,0
Grécia 48,0 48,0
Irã 38,0 38,0
México 36,0 36,0
Peru 25,0 25,0
Qatar 25,0 25,0
Egito 23,0 23,0
Namíbia 8,0 10,0 18,0
Equador 15,0 15,0
Angola 13,0 13,0
Chile 10,0 10,0
República Dominicana 5,0 5,0
Cabo Verde 3,0 3,0
Argentina 2,0 2,0
Bolívia 1,0 1,0 2,0
Paraguai 1,0 1,0
Uruguai 1,0 1,0
Total 391,0 95,0 70,0 176,0 732,0
1. Valores constantes (US$) de 1990.
Fonte básica de dados: SIPRI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
taram uma participação 70% maior, reflexo das mulou um déficit comercial de US$ 3,98 bilhões,
compras de equipamentos militares usados e com destaque para os segmentos de navios
da implantação do programa SIVAM. A maior (US$ 1,64 bilhão), aeronaves (US$ 789 milhões),
participação das compras externas de equipa- mísseis (US$ 627 milhões) e sensores (US$ 536
mentos militares pelo Brasil, ao longo das últi- milhões). No período mais recente, marcado pela
mas duas décadas, ocorreu nos segmentos de retomada das exportações, o déficit comercial
navios e sensores — ambos representando cerca apresentou uma pequena redução (US$ 838 mi-
de 2,3% das compras mundiais —, seguida das lhões), se concentrando nas aeronaves (US$ 329
aquisições de motores (2,1%) e de mísseis (1%). milhões), navios (US$ 188 milhões) e mísseis
Os principais fornecedores de equipamentos mi- (US$ 130 milhões). Entretanto, esse déficit foi
litares para o Brasil neste período foram Reino menos da metade que o observado no período
Unido, França, Alemanha e EUA. No período mais 1995-1999 (US$ 1,77 bilhão), quando se realizou
recente (2005-2009), o principal fornecedor foi a um grande volume de compras de equipamentos
França, seguida da Alemanha, Espanha, Israel e militares, tanto usados (“compras de oportunida-
EUA, como pode ser observado na tabela 8. de”) quanto novos (programa SIVAM). Além dis-
O Brasil foi deficitário no comércio internacio- so, as exportações do período 1995-2004 esta-
nal de quase todos os segmentos de equipamen- vam num patamar muito inferior, como pode ser
tos militares, tendo como exceção os sistemas observado na tabela 6 e no gráfico 6.
de artilharia. No período 1990-2009, o país acu-
30 Diagnóstico
Valor Acumulado
Países
(US$ milhões)1
1990-1994 1995-1999 2000-2004 2005-2009 1990-2009
Reino Unido 211,0 939,0 6,0 38,0 1.194,0
França 170,0 161,0 476,0 197,0 1.004,0
Alemanha 156,0 340,0 174,0 670,0
EUA 94,0 188,0 245,0 85,0 612,0
Suécia 8,0 175,0 183,0
Itália 11,0 10,0 73,0 83,0 177,0
Israel 22,0 22,0 120,0 164,0
Espanha 156,0 156,0
Canadá 23,0 24,0 66,0 113,0
Bélgica 78,0 22,0 100,0
Kuwait 99,0 99,0
Cingapura 30,0 20,0 10,0 60,0
Jordânia 44,0 44,0
Rússia 9,0 35,0 44,0
Suíça 35,0 5,0 3,0 43,0
Noruega 24,0 24,0
África do Sul 13,0 13,0
Áustria 12,0 12,0
Holanda 1,0 1,0
Total 766,0 1.869,0 1.064,0 1.014,0 4.713,0
1. Valores constantes (US$) de 1990.
Fonte básica de dados: SIPRI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
373,8
400
300
212,8 235,7
202,8
200
153,2
100 78,2
19,0 35,2 36,6
14,0
0
-100
-75,0
-200
-198,8 -167,6 -199,1
-300
-400 -354,8
2.4.2. Comércio Exterior de Armas e Munições rantemente para o Oriente Médio e América La-
O setor de armas e munições tem aumenta- tina, no setor de armas e munições, os EUA são
do sua participação no comércio internacional, o maior mercado consumidor, absorvendo mais
embora essa presença ainda seja inferior a 1% de 50% das vendas externas brasileiras, seguido
(gráfico 7). Cabe destacar que ao contrário do co- de longe pela Malásia, Reino Unido, Alemanha e
mércio mundial, que apresentou forte contração Cingapura. As exportações para os EUA se con-
no biênio 2008-2009 devido à crise financeira in- centram em armas e munições leves, com desta-
ternacional, o setor de armas e munições incre- que para as pistolas e revólveres da Taurus e as
mentou suas exportações no período, que supe- munições da CBC, que ocupam uma posição de
raram o patamar de US$ 10 bilhões. liderança no mercado norte-americano.
O Brasil vem ampliando de forma bastante Com relação às importações de armas e mu-
significativa sua participação no comércio inter- nições, embora também crescentes, o peso das
nacional de armas e munições, duplicando sua compras brasileiras no mercado mundial é bem
presença entre os anos de 2005 e 2009 de 1,5% menos significativo (0,3%), posicionando o país
para 3,1% das exportações mundiais (gráfico 8). em 40º no ranking global. Isso indica que a quase
Com exportações de US$ 338 milhões em 2009, totalidade da demanda interna por armas e muni-
o Brasil posicionou-se em 12º no ranking mundial ções é atendida pela BID nacional. Os EUA, Chile
à frente de países avançados e com tradicionais e França são os principais fornecedores externos
indústrias de armas como a Suíça, Coreia do Sul e de armas e munições para o Brasil, que concentra
Espanha e logo atrás de economias como Israel, suas importações em nichos de mercado como
Japão e França (gráfico 9). armas leves especiais ou armamento pesado (ca-
Diferentemente das exportações de equipa- nhões e obuses).
mentos militares, que foram destinas preponde-
12.000 0,100
0,089
0,090
10.000 0,061
0,080
0,069 0,063
0,070
8.000 0,062
0,060
6.000 0,050
0,040
4.000 7.155 7.522 8.664 9.718 10.763
0,030
0,020
2.000
0,010
0 0,000
2005 2006 2007 2008 2009
3,5
3,14
3,0
2,68
2,5 2,32
2,0
1,79
1,53
1,5
1,0
0,5
0,19 0,22 0,30
0,08 0,12
0
2005 2006 2007 2008 2009
Exportação Importação
Fonte básica de dados: INTRACEN/UNCTAD. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
4.000
3.434
3.500
3.000
2.500
2.000
1.500
1.000
640 586 554
495 487 485 452 380 377
500 343 338 311
220 215 198 195 136 134 82 77
64
0
EUA
Itália
Reino Unido
Alemanha
Rússia
Bélgica
Noruega
Austria
França
Japão
Israel
BRASIL
Suíça
Canadá
Coreia do Sul
Espanha
República Checa
Turquia
Suécia
Portugal
FInlândia
China
Assim, no setor de armas e munições, diferen- Entretanto, somados os dois setores — equi-
temente do setor de equipamentos militares, o pamentos militares e armas e munições — o
país tem sido crescentemente superavitário no co- Brasil é fortemente deficitário, dado o expressivo
mércio exterior, com saldo positivo de US$ 310 mi- déficit comercial do primeiro setor.
lhões em 2009, contra US$ 105 milhões em 2005.
Base Industrial de Defesa Brasileira 33
3.000 2.856
2.500
2.000
1.500
1.000
737
500 391 325
317 259 242 230 223 222 219 218
184 176 164 157 150 148 147 142
28
0
EUA
Reino Unido
Canadá
Países Baixos
Austrália
Arábia Saudita
Coreia do Sul
Noruega
Alemanha
Polônia
Tailândia
Japão
Espanha
França
República Checa
Bélgica
Austria
Colômbia
Suíça
Itália
40° BRASIL
Fonte básica de dados: INTRACEN/UNCTAD. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
Valor Taxa de
Indicadores
(US$ milhões) Crescimento (%)
Público
14,3 57,1
Privado Nacional (minoritário estrangeiro)
9,5 Estrangeiro
sas analisadas apresentam menos de 500 funcio- Um indicador bastante positivo do desempe-
nários, o que certamente representa um obstá- nho econômico das empresas da BID foi a evolu-
culo aos ganhos de eficiência em termos de eco- ção recente dos investimentos e as expectativas
nomias de escala e de escopo, de capacidade com relação às decisões de novos investimentos.
de investimento em pesquisa, desenvolvimento Apenas uma em cada dez empresas não investiu
e inovação (P&D&I) e de uma maior inserção in- nos últimos cinco anos. O expressivo percentual
ternacional. Vale ressaltar que o faturamento e o de empresas que realizou investimentos é coeren-
emprego dizem respeito apenas às atividades da te com o aumento da demanda por Produtos Es-
área de defesa. Ainda assim as escalas empre- tratégicos de Defesa nos últimos anos, como ana-
sariais são relativamente baixas para os padrões lisado na primeira parte do trabalho. Além disso,
internacionais (ver Anexo B), o que implica na oito em cada dez empresas têm expectativas de
necessidade de uma profunda e abrangente con- novos investimentos para os próximos cinco anos,
solidação na estrutura produtiva e patrimonial da também sinalizando expectativas positivas com re-
BID brasileira como forma de possibilitar a am- lação à expansão da demanda por produtos da BID
pliação das capacidades competitivas, tecnológi- no âmbito dos programas de reaparelhamento e
cas e sobretudo financeiras. adequação das Forças Armadas Brasileiras.
de R$ 10,5 a R$ 30 milhões
4,8 57,1
de R$ 30 a R$ 60 milhões
14,3
acima de R$ 60 milhões
1 a 99
24 24
100 a 499
500 a 999
14
38 acima de 1.000
0 20 40 60 80 100
Com relação ao financiamento do investimen- siderado por dois terços das empresas. Cabe
to das empresas da BID, observa-se uma dife- registrar também a baixa importância atribuída
rença importante em relação às empresas que ao financiamento concedido pelas instituições
compõe os demais setores da estrutura produti- financeiras privadas e ao financiamento externo.
va brasileira, pois estas tendem a utilizar os recur- Outro indicador positivo para o desenvolvi-
sos próprios como a principal fonte de recursos mento produtivo da BID está relacionado ao maior
para o financiamento. No caso da BID, o financia- adensamento da cadeia produtiva. Como visto na
mento público foi considerado muito importante seção anterior sobre o desempenho no comércio
para dois terços das empresas, apresentando exterior, a BID brasileira foi caracterizada como
uma maior importância que o autofinanciamen- fortemente deficitária nos equipamentos milita-
to, considerado muito importante por 48% das res em todo período compreendido entre 1990 e
empresas. Já o mercado de capitais não é con- 2009, sendo superavitária apenas no setor de ar-
36 Diagnóstico
75
70
72,0
65
61,2 61,3
60
62,2
55
57,9
50
2005 2006 2007 2008 2009
Fonte básica de dados: Questionário e Pesquisa de Campo ABDI. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
mas e munições leves e pesadas. Apesar desse um elevado grau de inserção no mercado interna-
desempenho desfavorável no comércio exterior, cional. A maioria absoluta das empresas é exporta-
segundo informações das empresas pesquisa- dora (82%) e importadora (71%). Dentro do grupo
das, o coeficiente de participação dos fornece- de empresas com atividades no exterior, sete em
dores locais nas compras das empresas da BID cada dez apresentam saldo positivo no comércio
tem aumentado. Como pode ser observado pelo exterior. Com base nas informações do gráfico 16,
gráfico 15, aproximadamente 72% do valor das é possível observar que mais de 40% das empre-
compras foram adquiridas de produtores domés- sas analisadas têm elevado coeficiente exportador
ticos em 2009, contra 61% em 2005. (igual ou superior a 20% do faturamento).
As empresas pesquisadas da BID apresentam Outro indicador bastante positivo do desem-
45
41,2
40
35
30
23,5
25
17,6 17,6
20
15
10
0
Elevado Moderado Reduzido Não Exporta
penho competitivo das empresas da BID brasilei- presas da BID realizaram inovações de produto
ra diz respeito aos gastos em atividades de ino- ou processo para o mercado nos últimos três
vação. Os resultados apresentados diferem-se anos, sendo que 43% realizaram inovações con-
bastante da média industrial brasileira. Segundo juntas (de produto e de processo) para o merca-
as informações coletadas, oito em cada dez em- do, como pode ser observado no gráfico 17.
90
81,0
80
70
60
50
42,9
40
33,3
30
19,0
20
10
4,8
0
Produto Processo Produto e Produto ou Não Inovou
Processo Processo
12
10,2
10
6
4,2 3,2
4
0
Gastos totais Gastos em P&D&I Gastos em
em atividades interno máquinas e
inovativas equipamentos
As empresas pesquisadas da BID gastaram fonte de financiamento: para 85% das empresas
aproximadamente 10% do seu faturamento em o financiamento público é muito importante, se-
atividades de inovação. Além de ser um per- guido do autofinanciamento, apontado por 50%
centual muito acima da média das empresas in- das empresas. O financiamento concedido pelas
dustriais, outro indicador importante é que uma instituições financeiras privadas foi apontado
parcela significativa desses gastos (4,2% do fa- como muito importante por apenas 5% das em-
turamento) foi em ativos intangíveis — no caso presas, enquanto que o mercado de capitais e
atividades internas de P&D&I — e apenas 3,2% o financiamento externo foram apontados como
em gastos com ativos tangíveis, isto é, com a fontes de recursos pouco ou nada importantes
aquisição de máquinas e equipamentos. para as atividades de inovação.
Além da própria especificidade do setor em A maior intensidade de atividades de inovação
termos globais que, como visto anteriormente, nas empresas da BID demanda uma mão de obra
caracteriza-se pela crescente e contínua geração mais qualificada. Essa é outra característica im-
e incorporação de inovações tecnológicas; no portante do setor: a geração de empregos com
Brasil, o aumento no volume de gastos destina- maior qualificação e escolaridade e, portanto,
dos aos programas de reaparelhamento ao longo com maior remuneração. A presença de enge-
dos últimos anos tem contribuído para reduzir os nheiros e tecnólogos, além de profissionais como
elevados riscos e incertezas associados aos in- mestrado e doutorado, é bastante superior à mé-
vestimentos em atividades de inovação. dia da indústria brasileira, confirmando a hipótese
Com relação às fontes de financiamento dos de maior qualificação dos recursos humanos.
gastos em atividades de inovação, novamente o
crédito público aparece como a mais importante
Mercado de capitais 5 10 85
Recursos próprios 50 30 5 10 5
Financiamento externo 5 20 10 5 60
Financiamento privado 5 40 20 10 25
Financiamento público 85 15
0 20 40 60 80 100
Médio
1,5
4,5
3,5 Técnico
Tecnólogo
18,2 Graduação
43,2
Engenharia
13,8 Especialização
Mestrado
0,8 14,5
Doutorado
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
E PROPOSTAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS
A Base Industrial de Defesa (BID) tem elevada — por conta dos novos programas de reapare-
importância, tanto do ponto de vista econômico lhamento e adequação das Forças Armadas Bra-
como para segurança da nação. No que se refe- sileiras inseridos na Estratégia Nacional de Defe-
re aos aspectos econômicos, destaca-se o fato sa — oferece uma excelente oportunidade para
desta indústria ser uma importante geradora de capacitação, expansão, diversificação e fortaleci-
inovações tecnológicas, pois necessita atender a mento da BID nacional. Entretanto, para que isto
demanda do setor militar que exige equipamen- ocorra é necessário que a estrutura produtiva da
tos de defesa cada vez mais sofisticados — mui- BID enfrente e supere três grandes desafios:
to dos quais no “estado da arte”. Além disso, a) promover o desenvolvimento tecnológi-
grande parte dessas inovações apresenta uso co nacional;
dual, isto é, também são utilizadas para fins não b) aumentar a escala empresarial, tanto
militares. Dessa maneira, a BID é uma importante produtiva quanto financeira;
geradora e difusora de novas tecnologias dentro c) ampliar o adensamento da cadeia pro-
da estrutura produtiva de uma nação. Em decor- dutiva possibilitando maiores encadeamentos
rência disso, observa-se que a mão de obra utili- produtivos e tecnológicos.
zada por esta indústria apresenta uma qualifica- Caso a estrutura produtiva nacional não consi-
ção e remuneração acima da média dos demais ga superar estes desafios de maneira adequada,
setores industriais. a ampliação da demanda por Produtos Estraté-
Com relação aos aspectos políticos, essa in- gicos de Defesa provavelmente resultará numa
dústria possui uma posição singular, pois é a res- especialização regressiva da estrutura produtiva
ponsável pelo fornecimento dos equipamentos da BID brasileira juntamente com a desnacionali-
utilizados na defesa da nação, de outra forma o zação de empresas estratégicas desta indústria.
país terá de adquirir seus equipamentos de defe- Em ambas as situações, a maior parte dos be-
sa no exterior, ficando na dependência — tanto nefícios propiciados pela expansão da demanda
técnica quanto política — do fornecimento de será capturada pelos fornecedores estrangeiros.
outros países. Em suma, a estruturação e o forta- Neste sentido, são apresentadas a seguir as
lecimento da BID são estratégicos para um país principais propostas de políticas públicas que
como o Brasil que está buscando uma inserção visam promover a capacitação, expansão, diver-
cada vez mais ativa no cenário político e econô- sificação e fortalecimento da Base Industrial de
mico internacional. Defesa nacional:
No primeiro capítulo, observou-se que a evo- 1. Instrumentos legais que assegurem os
lução da BID brasileira — e dos setores que a recursos de longo prazo necessários para a
compõem — vem acompanhando ao longo das construção da autonomia tecnológica nacio-
últimas quatro décadas a demanda governamen- nal — pesquisa, desenvolvimento e inovação
tal por Produtos Estratégicos de Defesa. Dessa (P&D&I) — nos programas de defesa selecio-
maneira, verifica-se que o volume e a regularida- nados como estratégicos;
de dos recursos despendidos nos programas de 2. Infraestrutura educacional, científica e
reaparelhamento e adequação das Forças Arma- tecnológica compatível com os programas de
das são os elementos chaves para expansão e reaparelhamento e modernização demanda-
consolidação da BID no Brasil. dos pelas Forças Armadas Brasileiras;
Neste sentido, a perspectiva de expansão da 3. Instrumentos que possibilitem a coorde-
demanda por Produtos Estratégicos de Defesa nação dos programas de pesquisa e desen-
Base Industrial de Defesa Brasileira 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
0,180
0,160
0,140
0,120
0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
0,140
0,120
0,100
0,080
0,060
0,040
0,020
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
neste período — como analisado na seção 2.2. Uma explicação possível para o desempenho
do relatório, este setor tem elevado coeficiente negativo apresentado no período 2002-2005 está
exportador. A partir de 2003, o setor sofreu uma associada ao aumento dos custos de matérias-
queda nas principais variáveis de desempenho primas — sobretudo das commodities metálicas:
econômico, voltando a se recuperar somente a ferro, aço, cobre, níquel, latão e etc. — e dos salá-
partir do biênio 2005-2006. rios. Assim, a redução no indicador de agregação
80
70
60
50
40
30
20
10
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
W/VTI VTI/VBP
de valor (VTI/VBP), devido ao aumento dos custos dificuldade crescente das empresas do setor de
de operações industriais, e a elevação da relação recuperarem o crédito de ICMS ou mesmo um au-
salários/VTI explicam a redução nas margens de mento das alíquotas. A evolução do indicador de
rentabilidade e de mark-up no setor. Outro fator imposto indireto sugere existir espaço para uma
que explica o desempenho negativo no período política mais agressiva de desoneração tributária,
pós 2003 foi a forte valorização cambial com im- estimulando a produção e ganhos de competitivi-
pactos sobre a rentabilidade das exportações. dade frente aos concorrentes internacionais. Ain-
O setor de Armas e Munições apresentou uma da assim, uma comparação para 2008, com base
capacidade de agregação de valor — relação en- na nova metodologia do IBGE para PIA, aponta
tre valor da transformação industrial e valor bruto que o setor tem uma relação deduções/receita
da produção (VTI/VBP) — muito superior à média bruta inferior à média industrial, mas bastante su-
industrial, embora decrescente no período 2002- perior à de algumas cadeias desoneradas, como
2006. Por outro lado, a participação dos salários é o caso do setor aeronáutico.
no valor agregado é muito superior à média indus- O setor de Armas e Munições, embora tenha
trial e foi crescente no período 2002-2005, contri- uma elevada capacidade de agregação de valor,
buindo junto com o aumento dos custos de maté- apresentou um patamar de produtividade (men-
ria-prima para pressionar a rentabilidade do setor. surada pela relação VTI/pessoal ocupado) inferior
A relação deduções/receita bruta é um bom in- à média industrial, com exceção dos anos de
dicador para avaliar a carga de impostos indiretos 1997 e 2002. Cabe observar a recuperação no in-
(ICMS e IPI) sobre o valor da produção industrial. dicador de produtividade a partir de 2005, cujos
O gráfico A7 permite observar uma expressiva ganhos de eficiência podem estar associados ao
queda na carga tributária no período 1998-2003, aumento das escalas de produção — no bojo de
e nova tendência de elevação a partir de 2004 até uma maior demanda, tanto interna quanto ex-
2007, quando superou o patamar de 20%. Essa terna —, ou mesmo às maiores taxas de investi-
expansão dos impostos indiretos se deu simulta- mento, ambas analisadas adiante.
neamente ao aumento das vendas externas (em As escalas empresariais e de produção no
tese isentas de tributos), o que pode sinalizar a setor de Armas e Munições são bem superiores
80
75
70
65
60
55
50
45
40
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
50
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40
35
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25
20
15
10
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
100
Desp. N-Oper.
Outros C&D
80 Depreciação
Impostos
Arren. Merc.
60
Aluguel
Serv. Indls.
40
Peças e Acess.
EE e Combust.
20 Revenda
Mat. Prima
Pessoal
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Fonte básica de dados: PIA-IBGE. Elaboração NEIT-IE-UNICAMP.
48 Diagnóstico
35
30
25
20
15
10
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
25
21,5
20
15,3
15
10
5
0,5
0
Ind. Transformação Ind. Armas & Munições Ind. Aeronáutica
120
110
100
90
80
70
60
50
40
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
900
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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
10
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1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
60
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35
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20
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Tabela B1 – Classificação por Vendas das 100 Maiores Empresas de Defesa do Mundo:
País de origem, segmentos de atividades e vendas em defesa
(em US$ milhões e % das vendas totais) (2009)