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ATOS DE REVOLTA
OUTROS IMAGINÁRIOS SOBRE INDEPENDÊNCIA
PATROCÍNIO ESTRATÉGICO
PATROCÍNIO MASTER
REALIZAÇÃO
MINISTÉRIO DO TURISMO E LIVELO APRESENTAM
ATOS DE REVOLTA
OUTROS IMAGINÁRIOS SOBRE INDEPENDÊNCIA
LIVELO
Patrocinadora master
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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ATOS DE REVOLTA Outros imaginários sobre independência
Ao longo de 2022, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro se
dedicou a refletir sobre a história do Brasil. Para nós,
é essencial que o museu permaneça atento a seu tempo
e continue sua vocação e responsabilidade de contribuir com
processos formativos e educativos, e de instigar a produção de
conhecimento e pensamento crítico a partir de suas exposições.
Depois de Terra em tempos: fotografias do Brasil e de
Nakoada: estratégias para a arte moderna, chegou a vez de Atos
de revolta: outros imaginários sobre independência, desenvolvida
em colaboração com o Museu da Inconfidência, em Ouro
Preto, e cuja publicação você tem agora em mãos.
Enquanto Nakoada toma como ponto de partida a
efeméride dos cem anos da Semana de Arte Moderna de 1922,
Atos de revolta entende o bicentenário da Independência
do Brasil como oportunidade para discutir os diversos
imaginários de país esboçados naquele contexto, abordando
conflitos ocorridos antes e depois do 7 de setembro de
1822 para dar a ver suas reverberações no agora.
Assim, convidamos artistas brasileiros de gerações
e geografias diversas para pensar essa história desde
múltiplos levantes que aconteceram durante o Primeiro e o
Segundo Reinado, e o período regencial. No espaço expositivo, as
obras contemporâneas são apresentadas em diálogo com uma seleção
de objetos e fragmentos dos séculos 18 e 19, oriundos dos
acervos do Museu da Inconfidência, do Museu Histórico Nacional
e do Convento Santo Antônio, no Rio de Janeiro, sinalizando
conceitualmente os sintomáticos resquícios e descontinuidades de
uma época que ainda se mantém presente no cotidiano do país.
Da mesma forma, a seleção e a edição dos documentos deste
livro proporcionam aos públicos outros modos de leitura do
passado, evidenciando a complexidade dos processos históricos
que nos constituem. Juntas, exposição e publicação colocam
em discussão o papel de artistas e acervos na construção das
imagens e narrativas sobre o que entendemos hoje como Brasil.
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
A partir de fragmentos 010
ALEX CALHEIROS E PABLO LAFUENTE
REVERBERAÇÕES 154
textos de Murilo Mendes
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
A PARTIR DE
FRAGMENTOS por
ALEX CALHEIROS E PABLO LAFUENTE
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
Trabalhar, em uma instituição pelas limitações materiais (de espaço,
dedicada à arte moderna e contemporânea, de recursos) e a disponibilidade de
com esses fragmentos, implica entender informações, mas também porque o passado
o exercício historiográfico desde que estamos tentando narrar ainda faz
uma ação poética. Talvez o museu seja parte do que somos. E prestando atenção
capaz de fazer história, mas não é tanto ao caráter subjetivo dos elementos
sua função escrevê-la – ao menos se individuais, à especificidade do que é
entendemos essa história como geral, cada obra, texto ou documento e do que
e a escrita como um exercício técnico- falam, como à objetividade do todo ao
-científico. Se há de se aventurar no qual se refere, de modo sempre parcial,
processo de narrar percursos temporais imperfeito.
que vão além da arte, o museu deve ter Assim, podemos pensar na
o caminho liberado para aplicar as exposição ou no próprio livro, e na arte
ferramentas que aprende da própria arte. em geral, como reflexo do mundo e de sua
No amor que Derek Walcott identifica no história somente se esse reflexo estiver
processo de remontar o vaso quebrado, na construído por meio de uma sucessão
criação contínua que Friedrich Schlegel ininterrupta de espelhos equivalentes,
demanda de qualquer ato de expressão. que criam uma imagem infinitamente
Reconstruindo sempre de novo, a partir diferida. Cada ato de olhar, cada obra
de cada conjuntura, sem a ilusão de de arte, texto, exposição ou livro
poder alcançar aquilo que existia – que quisermos fazer sobre esse ou
pelo contrário, procurando diferenças e qualquer momento histórico contribuiria
contrastes que nos forcem sempre a ficar para um jogo de reflexos que não
cientes do que não conseguimos enxergar acumula informações, experiências
ou entender. ou conhecimentos, mas os expande e
Olhar a história desde o museu complexifica. Em nosso caso, ao pensar
implica, portanto, em criar. Criar desde o nosso presente a Independência
obras, por artistas que imaginam do Brasil, a tarefa que se apresenta
passados e pessoas, que inventam cenas é de revisão do ato fundador e do
e relações, que manipulam símbolos e processo de construção do país a partir
ferramentas e, ao mesmo tempo, exploram dos fragmentos aos quais temos acesso,
as possibilidades dos processos de sabendo que essa tarefa nunca deixará de
imaginação e invenção, sejam eles ser uma tarefa pendente, sempre em busca
com tecnologias ancestrais, como a de uma construção nova, mais complexa,
percussão, ou recém-nascidas, como a em um esforço reiterado que Walcott
linguagem de máquina. Criar também com identificaria como ato de amor.
a palavra, como fazem os escritores e
poetas nos textos de ficção presentes
1 Derek Walcott, “Noble Lecture”, The Nobel Prize,
neste livro, oferecendo acesso à dez. 1992. Disponível em https://www.nobelprize.
intimidade de situações que sem eles org/prizes/literature/1992/walcott/lecture/,
não conseguiríamos imaginar. Criar, acesso em 11 out. 2022.
finalmente, conexões entre coisas e 2 Friedrich Schlegel, “On Incomprehensibility”,
pessoas, como parte do processo de em Schlegel’s Lucinde and the Fragments. Trad. e
curadoria ou de edição, justapondo, introdução Peter Firchow, Minneapolis: University
of Minnesota Press, 1971, p. 263. Disponível
subtraindo, sobrepondo, expandindo, em http://users.clas.ufl.edu/burt/Schlegel-On-
ocultando para mostrar, e explicando Incomprehensibility.pdf, acesso em 11 out. 2022.
para evidenciar que há coisas que não
podem ser explicadas. Fazendo sempre
escolhas parciais justificadas não só
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A partir de fragmentos ALEX CALHEIROS E PABLO LAFUENTE
AVENTURA
NOS VESTÍGIOS DE UM
por
PAÍS
ERIKA PALOMINO e JULIANA TRAVASSOS
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
da Independência da Bahia. Depois, nos do livro (desenvolvida em conjunto
deparamos com o estado precário dos com a da exposição) toma inspiração
arquivos públicos e, consequentemente, da energia das ruas, dos fanzines do
com a má preservação dos documentos. movimento punk e de publicações de
Porque o tempo suja os papéis. Aos pegada historiográfica, trazendo ruídos
poucos, manchas apagam nomes e, depois, gráficos que evocam as rasuras que
histórias inteiras se deterioram. o tempo inscreve sobre os documentos
Para reconfigurar a presença de históricos. Usa colagens que,
certas ausências, por vezes recorremos sobrepostas, enquanto procedimento
a imagens genéricas que representam de composição, podem também comentar
situações ou grupos sociais específicos, o processo de construção da memória
como a gravura de autoria desconhecida, coletiva. Ao final do livro, um dossiê
datada do século 18, de um indígena da oferece um registro da exposição,
etnia Mura, que lutou na Cabanagem.2 com fotos das obras comissionadas e
Simultaneamente, no que toca à emprestadas – registro que serve tanto
palavra, convidamos autoras e autores para a memória institucional do MAM Rio
literários para nos ajudar a preencher quanto para seu público.
algumas dessas lacunas, fabulando a
história a partir do presente. Reunimos
os textos inéditos com outros, já
1 A pesquisa foi realizada principalmente na
publicados, que deixam ver aspectos Biblioteca Nacional, no Arquivo Nacional, Arquivo
ocultos nas imagens e nos documentos Público da Bahia, Arquivo Histórico do Itamaraty,
coletados. e nos arquivos do Museu Histórico Nacional e do
Museu da Inconfidência.
A pesquisa feita pela equipe
resultou em uma variedade de materiais 2 Ver página 84.
que passamos a aglutinar, formando
pares ou pequenos grupos semânticos.
Exercitando uma escuta a esses
fragmentos, excluímos reincidências,
ensaiamos combinações, trocamos páginas
de lugar. Por fim, esboçamos ideias
de capítulos para guiar a navegação
pelo livro. No sumário e no rodapé, é
possível observar essas subdivisões.
Sem respeitar uma ordem
cronológica, aproximamos arquivos de
diferentes revoltas e perspectivas da
Independência por sua visualidade e
afinidade temática. Para facilitar a
compreensão do material, as páginas
incluem transcrições e legendas
expandidas. Assinada pelo estúdio
Sometimes Always, a identidade visual
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Aventura nos vestígios de um país ERIKA PALOMINO E JULIANA TRAVASSOS
↓ → Ofício do conde da Ponte, governador de religião islâmica. Depois, os nagôs passaram a
da capitania da Bahia entre 1805 e 1809, para o protagonizar a resistência. A mais conhecida delas é
visconde de Anadia, secretário de Estado da Marinha a Revolta dos Malês (1835). Malês era o termo usado
e Domínios Ultramarinos. O texto traz notícias de que para designar os nagôs islamizados. Acervo da Fundação
escravizados haussás, capturados na Costa da Mina, Biblioteca Nacional – Brasil, Projeto Resgate, 1807,
planejavam um levante, e informa sobre os métodos AHU_ACL_CU_005, Caixa 149.
da guerrilha, suas armas e mandingas. Na primeira
metade do século 19, a Bahia foi palco de diversas
conspirações e revoltas de escravizados. Até a década
de 1820, elas foram levadas a cabo por haussás
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
← Disposição das forças imperiais e rebeldes, ↓ Guerillas (1835), de Jean Victor Adam
na batalha de Ponche Verde, na então província do (1801–66). A gravura retrata o uso da mão de obra
Rio Grande do Sul, durante a Revolução Farroupilha. escravizada nas batalhas impostas pelos colonizadores
Considerada a mais longa rebelião do período regencial, aos povos nativos do território brasileiro. Gravura.
a Guerra dos Farrapos (1835–45) teve caráter autonomista Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1835,
e republicano, resultando na declaração de independência ICON94994_131.
e proclamação da República Rio-Grandense. A batalha de
Poncho Verde ocorreu em 26 de maio de 1843, quando os
generais farroupilhas Bento Gonçalves, Davi Canabarro
e Sousa Neto aproveitaram a superioridade em cavalaria
para atacar as forças imperiais. Litografia de Tito
Alves de Brito. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Brasil, 1843, CART544575.
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
TEMPORAIS, FENDAS E
por
ALLAN DA ROSA
SUSSURROS
Fumaça se espraiando da orelha, fio gelado
traidores que delataram mocambos em
troca de uma promessa de sítio ou
suplicantes pelo breque na tortura de
se dissipando lento como a agonia ponta-cabeça. Pedras desmoronadas por
de um flechado solitário na vala da marretas nos arregaços de muralhas e
mata. Pavor temperando cada mordida, conventos.
cada molar, cada mastigada na carne Plumas tinteiro assinando
assada percebida como lasca de ferro. contratos de navegação e empréstimos
Fumaça exalando das frestas das unhas ingleses, assinando vereditos de galés
e adentrando as narinas, enevoando o e deportações de rebeldes, sumariando
medo e o ódio, inchando de espanto os leis de terras e declarações de
pulmões de barões. Fumaça ardendo nas independência e de império.
vistas, lacrimogênea, escorrendo pelas Criança beliscando pesadelos
faces pálidas e banhando o cantinho de por dentro dos crânios, pronunciando
lábios que amaldiçoam o Haiti, calda língua creole caribenha, pairando
ácida lavando pragas, marcando trilhas sorridente entre imagens íntimas e
em bochechas rosadas e gotejando pelo mescladas de passado e futuro e de luxo
queixo trêmulo. Desespero trocando e terror, amassando a textura mole de
de moradia, arrumando sorridente sua cérebros desmanchados feito uma carta
bagagem, saltando de um peito preto de alforria caída numa larga poça de
marcado por alicates para a palma de sangue. Molecagem montada, feita égua
uma mão habituada a assinar contratos por pequeninos barões, levantando-se
de exportação. Desespero amontoando sua repentina e esbagaçando em seu sapateado
trouxa no colo de vestidos de casimira e o cavaleiro brincante que tomba de suas
cambraia, pousando retorcido e traquinas costas no chão cintilante e perfumado.
com seu aroma de tabocas. Fumaça no Pirralho saindo de uma parede construída
horizonte dos vales e montes, preenchida com seus ossos, rompendo alicerces de
por manchas de fazendas incendiadas. edifícios erguidos pelas mãos do seu pai
Fumaça no pito dos porões e mocambos, pedreiro obrigado a meter o filho entre
rezando vinganças e banzos, juremês e a massa e os tijolos do prédio por não
batismos. Fumaça na cozinha das casas- denunciar como sumiram espingardas e
-grandes, emanando de bandejas e xícaras fardos de milho. Neném levitando até a
de porcelana. Fumaça leve brotando de beira do poço, do sumidouro onde pousou
garrafas envenenadas, ao se sacar a arremessada por sua mãe foi preservada
rolha para se encher taças de barões que dos delírios e mandos escarrados no
tilintam nas reuniões de conchavos. peito e nas coxas da escravaria. Corpo
Pedras cravando-se nas solas nascendo, brotando ao sol com placenta
das turmas que marcam o ritmo, e cordão umbilical entre uivos de
carregando condes nos ombros e liteiras, tiroteios e rufos de caixas de congados
equilibrando pianos e baldes de e estandartes de ticumbis e portas
excrementos no cocuruto, enveredando-se estouradas e saracoteios de bailarinos
entre tavernas, esquinas e varandas que ocultam canivetes sob contas de
da cidade. Pedras rochosas na boca do rosário e golas engomadas benditas por
estômago, nos intervalos das costelas, Nossa Senhora.
no peso do enfarte diante do castelo Canoas transportando fugidos
arrasado. Penumbra aninhando mãos e pólvora, remadores africanos
madrugueiras cascosas que enredam clandestinos decifrando igarapés
trancelins e preparam cordas de e tormentas oceânicas. Jangadas
enforcar. Pedras empilhadas como recolhendo destroços e peixe fresco
lápides em túmulos à beira da estrada, para a refeição da noite na fogueira.
protegendo cadáveres tombados por Navios pingando entre portos trazendo
bacamartes. Pedras voando de estilingues ex-cativos bilíngues, marinheiros
e atiradeiras, enfiando-se nas frontes de pretos trilíngues, escritores de
soldados da Guarda Nacional. Pelotas memórias, bebedores de bares do
de angu diluídas nas gamelas enquanto cais onde sopram notícias de Haiti,
a merenda trata de revides e emboscadas. arrepiando e instigando levantes.
Pedras empurradas na garganta de Fumaça, fervo, faca.
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Allan da Rosa
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← ↓ Defesa do frei Joaquim do Amor Divino, mais coordenação do general Labatut contra os portugueses
conhecido como Frei Caneca, e do frei José Maria do nas batalhas pela Independência da Bahia (1822–23).
Sacramento Brainer, ambos acusados pelo envolvimento Abaixo, transcrição de trecho do documento.
na Revolução Pernambucana de 1817. Frei Caneca foi Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1817,
um religioso e jornalista com ampla participação MSS1498423.
política na província de Pernambuco. Célebre por
ser o principal mártir da Confederação do Equador,
foi fuzilado pelas forças imperiais de d. Pedro 1o
em janeiro de 1825. O frei José Maria do Sacramento
Brainer, por sua vez, é lembrado por lutar sob a
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
↓ Combate naval entre as frotas brasileira e ↓ ↓ Em 15 de novembro de 1839, durante a Guerra
portuguesa durante o bloqueio do porto de Salvador, dos Farrapos, um ataque das forças imperiais à esquadra
na Independência da Bahia (1822–23). Gravura, 39 x 56 cm. farroupilha resultou na retomada de Laguna, na então
[Combate de 4 de maio de 1823]. [1913]. Autor: J. província de Santa Catarina. No combate, todos os chefes
Raison. Acervo do Museu Histórico Nacional/Ibram. da marinha rio-grandense foram mortos, com exceção
Fotografia de Juliana Travassos. Domínio público. de Giuseppe Garibaldi. Gravura, 40 x 56 cm. [Combate
Notação: 52G (29.598). naval da Laguna]. [191-]. Autor: J. Raison. Acervo do
Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia de Juliana
Travassos. Domínio público. Notação: 49G (29.594).
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Correspondência de d. Pedro 1o, então portuguesas e o governo baiano foi transferido para
príncipe regente do Brasil, alertando sobre a a capital da província. Arquivo Público do Estado da
existência de facções que ameaçavam a unidade do Bahia, 182-, BR BAAPEB CIBB-ATN-007-107.
território nacional, a causa da liberdade do Brasil
e sua Independência. O documento foi emitido pelo
Conselho Interino de Governo, criado em junho de
1822, na então Vila de Cachoeira, para dirigir a luta
pela Independência do Brasil na Bahia. O conselho foi
extinto com a vitória final dos brasileiros, em julho
de 1823, quando Salvador foi libertada das trocas
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
↓ Fotografia da penitenciária de Ouro Preto, onde
estiveram presos os envolvidos na Inconfidência Mineira
(1789) e atual prédio principal do Museu da Inconfidência.
Autoria desconhecida, 11,2 x 16,5 cm. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 19–, ICON622617.
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← ↓ Carta do capitão-tenente Pedro da Cunha que apoio da classe média e foi extremamente violenta:
relata a batalha entre tropas imperiais e rebeldes, calcula-se que 30% a 40% da população da província,
em Belém, em maio de 1835. Em janeiro daquele ano, estimada em cem mil habitantes, morreu no período.
teve início na província do Grão-Pará a Cabanagem, Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1835,
revolta popular que duraria até 1840. Protagonizada MSS1482616_001.
por indígenas, principalmente das etnias Mura e Maué,
e negros livres e escravizados, a revolta foi motivada
pela extrema pobreza dos moradores da região. Seu
nome vem das cabanas, habitações ribeirinhas feitas
de palha, barro ou madeira. A revolta contou com o
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
por
ELIANA ALVES CRUZ
O CREPÚSCULO
Estava frio no vale do rio Paraíba do profundo da fazenda Maravilha, que era
Sul. Deitada na grama molhada de orvalho, maravilhosa sim, mas para ela. Para
eu fechava meus olhos e podia ver o mim, estas terras não eram mais que a
cafezal a perder de vista coberto por continuação do tumbeiro que trouxe meus
uma neblina fina e úmida. Tudo era paz avós e os pais dos meus avós, pois eu
e beleza. Já não se sentia frio. Já não já não vim de lá. Sou da terra, sou
se sentia nada. Quem olhasse de longe crioula. Sou Marianna Crioula.
acharia lindo o espetáculo das mulheres Assim que a cela trancava, eu
colhendo em meio à plantação verde, me deitava exausta, mas ainda em tempo
cortada por uma fila sinuosa de homens de recordar daquele dia em que Manoel –
pretos, com cestos de palhas nos ombros este sim, o Congo – e os outros vieram
cheios das sementes vermelhas que seriam até aqui para a libertação. Não fazia
transformadas no líquido negro valioso e muito tempo que Camilo Sapateiro tinha
cobiçado: o café. Um rio de pele negra sido abatido a tiros feito bicho pelos
correndo lento e incessante, como numa jagunços do Capitão Manuel Xavier.
dança embalada pela música do silêncio. Todos os negros estavam enojados, mas
Meus olhos cerrados não viam essa foi só a gota final no tanque de
de longe, mas de perto. Muito perto. água da nossa paciência, pois antes
Eu podia ver escondidas na névoa mãos tinham morrido tantos e tantas... Tinham
calosas, pés gretados e sangrentos, morrido Antônio Congo, João Cabinda,
costas lanhadas, colunas envergadas, Antônio Ângelo e Maria Conga queimados,
feridas inúmeras... chagas que iam enforcados e enterrados perto de uma
apodrecendo e enrijecendo corações. bica. Teve julgamento, mas nada acontece
Quando aqueles cestos chegassem ao com “sinhô e sinhá”. Nada.
grande pátio da fazenda, lá estaria Eu chorava baixo não por mim, mas
Manuel. Não o ferreiro Congo, mas o por eles e elas. Chorava por meu amor e
Capitão-mor Xavier. Aquele que vigiava, marido, José... ele também já não estava
punia e matava com a voz que comandava mais aqui. Se foi arruinado pela lida
as mãos de outros. pesada. Aquela dor no peito outra vez...
Despertei dos meus delírios e mas ela não impedia as recordações, que
lembranças sentindo um aperto estranho vinham fortes sobre o dia em que tudo
no peito, que andava indo e vindo por transbordou. Lembro que Francisca Xavier
aqueles dias. Levantei-me não no gramado, pensava que eu – ali dentro daquela cova
mas no porão escuro em que eu habitava chamada “Maravilha” – estava muito grata
sozinha. Foi quando ouvi ao longe os por esvaziar seus penicos, preparar seu
passos dela e sua voz inconfundível banho, lavar suas roupas, costurar,
seguida de um riso: “Já está acordada, costurar, costurar... Ela, voltada
rainha?”. apenas para seu espelho medonho, pensava
Dona Francisca Elisa Xavier, que eu não me importava.
mal o sol levantava, vinha pessoalmente Foi uma arrebentação! Naquela
abrir meu porão para os duros trabalhos noite, Manoel Congo vinha na frente de
da casa e, assim que a escuridão descia, mais de 200, 300... sei lá. Vi quando
me trancava outra vez neste lugar arrombaram a porta. Era chegada a hora,
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
DA RAINHA
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Eliana Alves Cruz
↓ Fazenda du Secrétario: Municipe de Vassouras, → Boletim nº 1, panfleto político da Revolta
de Victor Frond (1821–81). Em 1838, o município foi dos Búzios (1798-99). A distribuição em Salvador
palco da Revolta de Vassouras, liderada por Manoel de panfletos como este, à época chamados de papéis
Congo e Marianna Crioula, quando mais de trezentas sediciosos, marca o início dessa revolta em agosto
pessoas escravizadas se aquilombaram e resistiram de 1798. Protagonizada por trabalhadores livres e
aos maus-tratos recebidos nas lavouras de café. A escravizados, defendeu sua libertação e a instauração
propriedade ao centro da gravura foi construída pelo de uma república democrática na Bahia. Ela envolveu
barão do Campo Belo, coronel com grande participação as classes médias e baixas da sociedade baiana e
na luta contra os insurgentes. Em 1839, Manoel teve influência da Revolução Haitiana (1791–1804),
Congo foi condenado à forca. Até hoje há comunidades insurreição de escravizados autolibertos que resultou
quilombolas na região. Acervo da Fundação Biblioteca na Independência do Haiti, em 1804. Arquivo Público do
Nacional – Brasil, 1859-61, ICON1113654_25. Estado da Bahia, 1798, BR BAAPEB TJBA-SRB-BB-576-01.
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← ↓ Perguntas feitas a Manuel Faustino dos Santos → Mappa do Reconcavo da Bahia de Todos os
Lira, alfaiate e um dos líderes da Revolta dos Búzios Santos, de Von Busch. Entre 1822 e 1823, o Recôncavo foi
(1798–99). Viveu entre o Recôncavo Baiano e Salvador, palco de lutas pela Independência da Bahia. Na Revolta
mas nunca teve residência própria. Foi enforcado na dos Malês (1835), trabalhadores escravizados da região
praça da Piedade, ao lado do também alfaiate João de Deus se uniram à batalha, em Salvador. Acervo da Fundação
Nascimento e dos soldados Lucas Dantas e Luís Gonzaga Biblioteca Nacional – Brasil, 1836, CART230528.
das Virgens, pelo seu envolvimento na revolta. Os quatro
mártires eram negros e livres. A Revolta dos Búzios foi
chamada em sua época de “Sedição dos mulatos”, devido ao
protagonismo negro e a seu caráter abolicionista. Abaixo,
transcrição de trecho do documento. Arquivo Público do
Estado da Bahia, 1800, BR BAAPEB TJBA-SRB-PRO-SAB-580-02.
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
UM DEFEITO DE
por
CORANA MARIA GONÇALVES
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Trecho do fragmento “A rebelião”, do livro → Cartão-postal com imagem de Água
Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves. Rio de de Meninos, bairro litorâneo da cidade de
Janeiro: Record, 2022, pp. 526–30. Salvador onde se deu a última batalha da
Revolta dos Malês. Ao se verem encurralados,
muitos revoltosos tentaram escapar por esta
praia. Fotografia de autoria desconhecida,
9 x 14 cm. Acervo da Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil, [1913?], ICON1549366.
as armas que, de fato, eram o que nos marchávamos, animados por gritos e toque
interessavam. Precisávamos deixar logo de tambores, e foram se abrigar atrás
a cidade, e novamente nos dividimos em dos muros. Mas logo saiu a cavalaria,
dois grupos, sendo que um deveria descer que se pôs no meio da rua e barrou nossa
a Barroquinha e passar pela Cadeia, passagem, e por trás da primeira fileira
desta vez pelos fundos, e fazer nova de cavalos e soldados foi se formando
tentativa de libertar o alufá Licutan. outra, que voltava do Bonfim naquele
Meu grupo tinha que ir direto para o momento. Era a patrulha que tinha ido
Terreiro de Jesus reunir o máximo de até lá para o caso de os escravos dos
pessoas que conseguisse e esperar pelos engenhos vizinhos se rebelarem, mas que
outros, para finalmente seguirmos para retornou à cidade tão logo foi avisada
Itapagipe. Em frente ao antigo Colégio dos acontecimentos.
dos Jesuítas, novamente entramos em Já estávamos cansados, correndo
combate com um grupo de vinte ou trinta de um lado para outro havia mais de
soldados, que pusemos para correr com três horas, ainda longe do destino e sem
a ajuda do grupo que voltava sem ter saber se teríamos forças para chegar
conseguido libertar o alufá Lucutan. O até lá. E mesmo se tivéssemos, era bem
Mussé calculou que éramos pelo menos possível que não houvesse tempo para
duzentos, bastante gente para aquela um descanso antes de seguirmos para o
época, o que hoje já não sei, pois dizem Recôncavo. Muitos fugiram antes mesmo
que a cidade cresceu bastante. Descemos de a luta começar para valer, e não os
a Ladeira do Pelourinho e seguimos tanto condeno, porque eu também tive vontade de
para Baixa dos Sapateiros quanto para aproveitar que não estava machucada e ir
Ladeira do Taboão, até a cidade baixa. É para casa. Mas depois pensava nas vidas
estranho como todos esses nomes e lugares que já se tinham perdido e olhava para
me voltam à memória sem esforço algum, os meus companheiros, a grande maioria
como se eu estivesse vendo a história mais velhos e mais cansados do que eu,
acontecer nesse exato momento. mas ainda acreditando que era possível.
Eu estava com o grupo que ia à O Fatumbi era um desses, com o rosto
frente abrindo caminho, tentando não demostrando cansaço a cada movimento e a
perder de vista o Fatumbi e o Mussé, voz rouca de tanto gritar, mas não havia
e quando olhava para trás e via todas em seus gestos e olhos a menor dúvida
aquelas pessoas, pensava no que poderiam quanto a ir até o fim. Mesmo quando as
ter passado para estar ali. Pelas patas dos cavalos avançavam sobre nós,
palavras de ordem gritadas em línguas mesmo quando as poucas armas de fogo
de África e respondidas por todos, já estavam sem munição, mesmo quando um
dava para perceber que quase não havia ataque contínuo de mais de quinze minutos
crioulos entre nós, que aqueles homens de balas vindo de dentro do quartel
e mulheres que rumavam para Itapagipe deixava muitos dos nossos fora de combate
tinham feito a mesma viagem que eu. Mas ou a correr pelos matos e montes da
a grande maioria provavelmente não tinha vizinhança. As patas dos cavalos também
firmado laços, não tinha filhos nem terminavam o serviço das balas, pois
casa e, portanto, quase nada a perder. bastava que um de nós caísse para receber
Depois de tudo começado, não pensei em a pisada ou o coice de misericórdia.
abandonar o grupo, mesmo sabendo que Durante algum tempo fiquei
muita coisa não tinha dado certo, que sozinha no meio daquela confusão toda.
a precipitação nos tinha impedido de Olhei para os lados e não vi mais os
contar com boa parte dos pretos e com conhecidos, então fechei os olhos, como
a maioria das armas. Com eles, talvez tinha feito no caminho de Savalu para
tivéssemos conseguido passar pelo Uidá. Os guardas, os mortos, o sangue,
quartel da cavalaria em Água de Meninos. os cavalos e até mesmo o barulho sumiram
Era o único caminho, o último problema por uns instantes, dentro do que meus
a enfrentar dentro da cidade, e nunca olhos não queriam ver. Não sei por
achamos que justo ali haveria maior quanto tempo permaneci assim, sem que
resistência. Quando dobramos a Rua do nada me tocasse, até que fui sacudida
Pilar, havia alguns guardas do lado de pelo Eslebão, aquele que tinha se
fora do quartel, e acredito que tenham juntado a nós no Convento das Mercês,
se assustado com a determinação com que dizendo que estava tudo acabado, que
39
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Ana Maria Gonçalves
tínhamos que sair dali. Olhei ao redor que eu já imaginava, que dali só saia
e já não havia mais quase ninguém de pé. morto, uma bala bem no meio da testa
Os pretos apanhados vivos eram fuzilados o dispensou de falar. Não sei se saí
na hora contra o muro do quartel, e tive correndo de susto ou para não ver meu
a impressão de que os que ainda restavam amigo morrer, ou para não ter o mesmo
ilesos, como eu, só esperavam chegar a fim que ele. Quando vi que o Eslebão
sua vez. De fato, essa era a ideia de ainda estava ao meu lado, aflito,
alguns deles, que gritavam que não iam repetindo com lágrimas nos olhos que
se entregar, que iam morrer lutando, estava tudo acabado, enquanto dois homens
como tinha morrido o pai Calafate. a cavalo vinham na nossa direção,
Estavam falando do Manoel Calafate, que peguei a mão dele e saímos correndo
tinham visto cair bem no início, ainda para a praia, onde nos juntamos a um
na Ladeira da Praça. grupo que não sabia se entrava no mar
O Eslebão tentava me puxar ou se tentava dar a volta pela encosta.
pelo braço na direção da praia, e eu Muitos não sabiam nadar mas não tiveram
disse que não iria sem o Fatumbi, que escolha, porque a cavalaria já tinha
encontrei ajoelhado junto com quatro descoberto aquela rota de fuga e estava
ou cinco pretos, orando. Corri até ele atrás de nós. Eu me atirei no mar atrás
e disse que precisávamos sair dali, do Eslebão, mais para ter alguém a quem
mas antes que ele pudesse responder o seguir, pois não estava em condições
40
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
de decidir nada, nem ficar e morrer, Alguns acharam melhor cada um por
nem fugir. Era uma noite escura, e si, por chamar menos atenção, e foram
logo sumimos das vistas da cavalaria, embora, mas outros decidiram permanecer
que começou a soltar fogos para atrair juntos, para se ajudarem em caso de
a atenção da fragata que o presidente necessidade. Todos achavam que haveria
da província tinha mandado ficar de um grande policiamento na cidade, e a
prontidão. Mais alguns pretos morreram, primeira coisa que fizemos foi tirar os
porque não sabiam nadar ou porque abadás, amuletos e anéis e enterrá-los
estavam muito cansados, e outros foram na areia, pois poderiam denunciar nossa
atingidos pelas balas vindas da fragata, participação na revolta. Fiquei com um
de onde ativaram a esmo, tendo a sorte de grupo de mais seis pessoas e resolvemos
acertar. Eu também não sabia nadar seguir o Eslebão, que disse conhecer um
direito e me mantive boiando e seguindo excelente esconderijo, embora pudéssemos
em frente com muita dificuldade, e não correr perigo para chegar até lá.
aguentaria por muito tempo mais quando
vi que algumas pessoas começavam a [...]
sair da água, na altura do Pilar. Nós
nos sentamos na praia para recobrar o
fôlego e a força nas pernas e tentamos
decidir sobre um bom esconderijo.
41
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Ana Maria Gonçalves
↓ ↘ Autos da devassa relativa à conjuração de dívidas à Coroa. Seus envolvidos foram acusados de
Minas Gerais de 1789, conhecida como Inconfidência lesa-majestade e condenados ao exílio. Com exceção do
Mineira. Com o acirramento da cobrança do quinto alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como
real, imposto coletado pela Coroa Portuguesa sobre Tiradentes, condenado à morte e enforcado em 1792.
o ouro encontrado em suas colônias, e temendo a Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1789,
derrama, dispositivo fiscal aplicado para assegurar MSS1289278.
um piso na arrecadação anual, as classes altas de
Minas Gerais passaram a conspirar contra a dominação
portuguesa na província. O movimento foi traído por
Joaquim Silvério dos Reis em troca do perdão por suas
42
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
Auto de Perguntas feitas ao Alferes Excelentíssimo Vice-Rey o mandava
Joaquim José da Silva Xavier. prender, e ter visto, que atras
dele andavão continuadamente dous
inferiores, observando-lhe os passos.
Anno do nascimento de Nosso Senhor Jezus E sendo instado, que dissesse
Christo de mil setecentos e oitenta e a verdade: porque não era bastante
nove aos vinte e dous dias do mês de rasão o andarem, como elle presumio,
Mayo, nesta Fortalesa da Ilha das Cobras, espias atras de si, nem os avisos,
cidade do Rio de Janeiro, aonde foi vindo que diz, se lhe fiserão, de que Sua
o Desembargador José Pedro Machado Coelho Excelência o queria prender, ao mesmo
Torres, [cômigo] Marcelino Pereira Cleto, tempo, que não declara as pessoas que
Ouvidor, e Corregedor desta Cômarca, e lhes fiserão; pois se ele não tivesse
Escrivão nomeado para esta Devassa, e culpa, nem devia esperar prisão, nem
o Tabelião José dos Santos Rodrigues, devia teme-la, de sorte que se
e Araújo para effeicto de assistir a preparou com hum Bacamarte, que lhe
estas perguntas, e sendo ahi se procedeo foi achado no auto da prisão, estando
a ellas na forma seguinte, de que tudo carregado, e de mais com cartas, que
para constar fiz auto: E eu Marcellino lhe forão achadas, de favor para
Pereira Cleto Ouvidor, e Corregedor desta ser auxiliado na sua pretendida
Cômarca, e Escrivão nomeado o escrevi: fugida, com cujos factos vinha a
E sendo perguntado, como se faser-se criminoso, o que não era
chamava, de quem era filho, donde natural, senão para o livrar de algum
era natural, se tinha alguãs ordens, procedimento, que merecesse por outro
se era Casado, ou Solteiro, e que crime mayor.
ocupação tinha. Respondeo, que como tem dito,
Respondeo que se chamava não tinha crime algum, e que se
Joaquim José da Silva Xavier, filho de escondera para ver, o que se passava
Domingos da Silva dos Santos, e de sua em rasão das antecedências, e que
mulher Antonia da Encarnação Xavier, era verdade, que fora achado com o
natural do Pombal, termo da Villa de bacamarte, e tambem, que tinha as
S. João de El Rey Capitania de Minas cartas de favor para ser auxiliado
Gerais, que tinha quarenta e um anos na sua fugida, as quaes lhe dera huã
de idade, que era solteiro, que não o Capitão Manoel Joaquim Fortes, que
tinha ordens alguãs, e com effeicto, hé do Regimento de Voluntários de S.
vendo-lhe ser o alto da cabeça, vi Paulo, e se achava nesta cidade para
que não tinha tonsura alguã, e que era embarcar para a Corte, e assistia
Alferes do Regimento de Cavalaria paga nesta cidade nas casas do Mestre de
de Minas Gerais. Campo Ignácio de Andrade, e outra de
E sendo-lhe perguntado, se sabia Manoel José, que tambem assistia nas
a causa da sua prisão, ou a suspeitava mesmas casas, e a quem o dito Capitão
= Respondeu que não = E sendo instado, Fortes pedio escrevesse ao Mestre de
que dissesse a verdade, por quanto se Campo Ignácio de Andrade, recomendado
elle respondente se tinha reffugiado, desse passagem a elle respondente;
e posto em circunstancias de fugir, porque se via aqui perseguido por
era signal evidente, de que tinha diser as verdades, e com efeito ele
crime, pelo qual receava ser preso, respondente recebeo as ditas duas
e chegando a se-lo, devia desconfiar, cartas, que sendo-lhe mostradas neste
que era por esse crime. acto reconheceo serem as proprias,
Respondeo, que não tinha crime que se achaõ as folhas trinta e sete,
algum, de que se receasse, nem pelo e folhas trinta e nove da devassa,
qual fugisse, como com effeicto não uhã de Manoel José que está assignada
fugiu, e só o que fez foi, esconder-se por elle, e outra do Capitão Manoel
em casa de Domingos Fernandes Torneiro Joaquim, que está por assignar [...].
assistente na rua dos Latoeiros, o que
fez no dia seis de Mayo do presente
anno, e a razão, que para isto teve
foi, por lhe fazerem repettidos
avisos, de que o Ilustríssimo e
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
de
BASÍLIO DA GAMA
O URAGUAI
Canto Segundo
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
Por mim te fala o rei: ouve-me, atende, Dentro de pouco tempo: e o vosso Mundo,
E verás uma vez nua a verdade. Se nele um resto houver de humanidade,
Fez-vos livres o céu, mas se o ser livres Julgará entre nós; se defendemos
Era viver errantes e dispersos, Tu a injustiça, e nós o Deus e a Pátria.
Sem companheiros, sem amigos, sempre Enfim quereis a guerra, e tereis guerra.
Com as armas na mão em dura guerra, Lhe torna o General: Podeis partir-vos,
Ter por justiça a força, e pelos bosques Que tendes livres o passo. Assim dizendo,
Viver do acaso, eu julgo que inda fora Manda dar a Cacambo rica espada
Melhor a escravidão que a liberdade. De tortas guarnições de prata e ouro,
Mas nem a escravidão, nem a miséria A que inda mais valor dera o trabalho.
Quer o benigno rei que o fruto seja Um bordado chapéu e larga cinta
Da sua proteção. Esse absoluto Verde, e capa de verde e fino pano,
Império ilimitado, que exercitam Com bandas amarelas e encarnadas.
Em vós os padres, como vós, vassalos, E mandou que a Sepé se desse um arco
É império tirânico, que usurpam. De pontas de marfim; e ornada e cheia
Nem são senhores, nem vós sois escravos. De novas setas a famosa aljava:
O rei é vosso pai: quer-vos felices. A mesma aljava que deixara um dia,
Sois livres, como eu sou; e sereis livres, Quando envolto em seu sangue, e vivo apenas,
Não sendo aqui, em outra qualquer parte. Sem arco e sem cavalo, foi trazido
Mas deveis entregar-nos estas terras. Prisioneiro de guerra ao nosso campo.
Ao bem público cede o bem privado. Lembrou-se o índio da passada injúria
O sossego de Europa assim o pede. E sobraçando a conhecida aljava
Assim o manda o rei. Vós sois rebeldes, Lhe disse: Ó General, eu te agradeço
Se não obedeceis; mas os rebeldes, As setas que me dás e te prometo
Eu sei que não sois vós, são os bons padres, Mandar-tas bem depressa uma por uma
Que vos dizem a todos que sois livres, Entre nuvens de pós no ardor da guerra.
E se servem de vós como de escravos. Tu as conhecerás pelas feridas,
Armados de orações vos põem no campo Ou porque rompem com mais força os ares.
Contra o fero trovão da artilheria, Despediram-se os índios, e as esquadras
Que os muros arrebata; e se contentam Se vão dispondo em ordem de peleja,
De ver de longe a guerra: sacrificam, Como mandava o General. Os lados
Avarentos do seu, o vosso sangue. Cobrem as tropas de cavaleria,
Eu quero à vossa vista despojá-los E estão no centro firmes os infantes.
Do tirano domínio destes climas, Qual fera boca de libréu raivoso,
De que a vossa inocência os fez senhores. De lisos e alvos dentes guarnecida,
Dizem-vos que não tendes rei? Cacique, Os índios ameaça a nossa frente
E o juramento de fidelidade? De agudas baionetas rodeada.
Porque está longe, julgas que não pode Fez a trombeta o som da guerra. Ouviram
Castigar-vos a vós, e castigá-los? Aqueles montes pela vez primeira
Generoso inimigo, é tudo engano. O som da caixa portuguesa; e viram
Os reis estão na Europa; mas adverte Pela primeira vez aqueles ares
Que estes braços, que vês, são os seus braços. Desenroladas as reais bandeiras.
Dentro de pouco tempo um meu aceno Saem das grutas pelo chão cavadas,
Vai cobrir este monte e essas campinas Em que até li de indústria se escondiam.
De semivivos palpitantes corpos Nuvens de índios, e a vista duvidava
De míseros mortais, que inda não sabem Se o terreno os bárbaros nasciam.
Por que causa o seu sangue vai agora Qual já no tempo antigo o errante Cadmo
Lavar a terra e recolher-se em lagos. Dizem que vira da fecunda terra
Não me chames cruel: enquanto é tempo Brotar a cruelíssima seara.
Pensa e resolve, e, pela mão tomando Erguem todos um bárbaro alarido,
Ao nobre embaixador, o ilustre Andrade E sobre os nossos cada qual encurva
Intenta reduzi-lo por brandura. Mil vezes, e mil vezes sota o arco,
E o índio, um pouco pensativo, o braço Um chuveiro de setas despedindo.
E a mão retira; e, suspirando, disse: Gentil mancebo presumido e néscio,
Gentes de Europa, nunca vos trouxera A quem a popular lisonja engana,
O mar e o vento a nós. Ah! não debalde Vaidoso pelo campo discorria,
Estendeu entre nós a natureza Fazendo ostentação dos seus penachos.
Todo esse plano espaço imenso de águas. Impertinente e de família escura,
Prosseguia talvez; mas o interrompe Mas que tinha o favor dos santos padres,
Sepé, que entra no meio, e diz: Cacambo Contam, não sei se é certo, que o tivera
Fez mais do que devia; e todos sabem A estéril mãe por orações de Balda.
Que estas terras, que pisas, o céu livres Chamaram-no Baldetta por memória.
Deu aos nossos avôs; nós também livres Tinha um cavalo de manchada pele
As recebemos dos antepassados. Mais vistoso que forte: a natureza
Livres as hão de herdar os nossos filhos. Um ameno jardim por todo o corpo
Desconhecemos, detestamos jugo Lhe debuxou, e era Jardim chamado.
Que não seja o do céu, por mão dos padres. O padre na saudosa despedida
As frechas partirão nossas contendas Deu-lho em sinal de amor; e nele agora
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Basílio da Gama
Girando ao largo com incertos tiros As rédeas volta ao rápido cavalo
Muitos feria, e a todos inquietava. E por cima de mortos e feridos,
Mas se então se cobriu de eterna infâmia, Que lutavam co’a morte, o índio afronta.
A glória tua foi, nobre Gerardo. Sepé, que o viu, tinha tomado a lança
Tornava o índio jactancioso, quando E atrás deitando a um tempo o corpo e o braço
Lhe sai Gerardo ao meio da carreira: A despediu. Por entre o braço e o corpo
Disparou-lhe a pistola, e fez-lhe a um tempo Ao ligeiro espanhol o ferro passa:
Co’reflexo do sol luzir a espada. Rompe, sem fazer dano, a terra dura
Só de vê-lo se assusta o índio, e fica E treme fora muito tempo a hástea.
Qual quem ouve o trovão e espera o raio. Mas de um golpe a Sepé na testa e peito
Treme, e o cavalo aos seus volta, e pendente Fere o governador, e as rédeas corta
A um lado e a outro de cair acena. Ao cavalo feroz. Foge o cavalo,
Deixando aqui e ali por todo o campo E leva involuntário e ardendo em ira
Entornadas as setas; pelas costas, Por todo o campo a seu senhor; e ou fosse
Flutuavam as penas; e fugindo Que regada de sangue aos pés cedia
Soltas da mão as rédeas ondeavam. A terra, ou que pusesse as mãos em falso,
Insta Gerardo, e quase o ferro o alcança, Rodou sobre si mesmo, e na caída
Quando Tatu Guaçú, o mais valente Lançou longe a Sepé. Rende-te, ou morre,
De quantos índios viu a nossa idade, Grita o governador; e o tape altivo,
Armado o peito da escamosa pele Sem responder, encurva o arco, e a seta
De um jacaré disforme, que matara, Despede, e nela lhe prepara a morte.
Se atravessa diante. Intenta o nosso Enganou-se esta vez. A seta um pouco
Com a outra pistola abrir caminho, Declina, e açouta o rosto a leve pluma.
E em vão o intenta: a verde-negra pele, Não quis deixar o vencimento incerto
Que ao índio o largo peito orna e defende, Por mais tempo o espanhol, e arrebatado
Formou a natureza impenetrável. Com a pistola lhe fez tiro aos peitos.
Co’a espada o fere no ombro e na cabeça Era pequeno o espaço, e fez o tiro
E as penas corta, de que o campo espalha. No corpo desarmado estrago horrendo.
Separa os dous fortíssimos guerreiros Viam-se dentro pelas rotas costas
A multidão dos nossos, que atropela Palpitar as entranhas. Quis três vezes
Os índios fugitivos: tão depressa Levantar-se do chão: caiu três vezes,
Cobrem o campo os mortos e os feridos, E os olhos já nadando em fria morte
E por nós a vitória se declara. Lhe cobriu sombra escura e férreo sono.
Precipitadamente as armas deixam, Morto o grande Sepé, já não resistem
Nem resistem mais tempo às espingardas. As tímidas esquadras. Não conhece
Vale-lhe a costumada ligeireza, Leis o temor. Debalde está diante,
Debaixo lhe desaparece a terra E anima os seus o rápido Cacambo.
E voam, que o temor aos pés põe asas, Tinha-se retirado da peleja
Clamando ao céu e encomendando a vida Caitutu mal ferido; e do seu corpo
Às orações dos padres. Desta sorte Deixa Tatu-Guaçú por onde passa
Talvez, em outro clima, quando soltam Rios de sangue. Os outros mais valentes
A branca neve eterna os velhos Alpes, Ou eram mortos, ou feridos. Pende
Arrebata a corrente impetuosa O ferro vencedor sobre os vencidos.
Co’as choupanas o gado. Aflito e triste Ao número, ao valor cede Cacambo:
Se salva o lavrador nos altos ramos, Salva os índios que pode, e se retira.
E vê levar-lhe a cheia os bois e o arado.
Poucos índios no campo mais famosos,
Servindo de reparo aos fugitivos,
Sustentam todo o peso da batalha,
Apesar da fortuna. De uma parte
Tatu-Guaçú mais forte na desgraça
Já banhado em seu sangue pertendia
Por seu braço ele só pôr termo à guerra.
Caitutu de outra parte altivo e forte
Opunha o peito à fúria do inimigo,
E servia de muro à sua gente.
Fez proezas Sepé naquele dia.
Conhecido de todos, no perigo
Mostrava descoberto o rosto e o peito
Forçando os seus co’exemplo e co’as palavras.
Já tinha despejado a aljava toda,
E destro em atirar, e irado e forte
Quantas setas da mão voar fazia
Tantas na nossa gente ensanguentava.
Setas de novo agora recebia,
Para dar outra vez princípio à guerra.
Quando o ilustre espanhol que governava
Montevidio, alegre, airoso e pronto
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Segundo canto de O Uraguai (1769), de
Basílio da Gama (1740–95). O poema épico do autor
mineiro narra as batalhas travadas entre indígenas
Guarani missioneiros e as tropas espanholas e
portuguesas no contexto da Guerra Guaranítica
(1753–56). Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Brasil, 1769. Domínio público.
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ESTRATÉGIAS DE AÇÃO Basílio da Gama
↓ Três homens posam em ruínas de trincheiras ↓↓ Grupo de pessoas na praça Heróica, local do
construídas na época da Balaiada, revolta popular que antigo quartel no período da Balaiada, onde soldados
se deu na província do Maranhão entre 1838 e 1841, imperiais fizeram recuar trezentos revolucionários
protagonizada por camponeses, indígenas, negros livres balaios que desejavam invadir Itapecuru. Fotografia,
e escravizados que se opunham ao partido conservador e 4,5 x 4,5 cm. [Gaiola Grande – praça Heróica]. S.d.
exigiam melhores condições de vida. Fotografia, 4,5 x 4,5 cm. Autoria desconhecida. Acervo do Museu Histórico
[Trincheira das Formigas]. S.d. Autoria desconhecida. Nacional/Ibram. Fotografia de Juliana Travassos.
Acervo do Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia de Domínio público. Notação: MAf9 (45.233).
Juliana Travassos. Domínio público. Notação: MAf4 (45.228).
48
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Três homens posam nas ruínas da Casa Forte de
Iguará, fortaleza construída em 1712. Para não confundir
com o quartel feito no tempo da Balaiada, os habitantes da
região chamavam o lugar de Quartel Velho. A Balaiada teve
início com a invasão do presídio da então vila da Manga,
também às margens do rio Iguará, pelo vaqueiro Raimundo
Gomes, um dos líderes da revolta. Fotografia, 4,5 x 4,5 cm.
[Casa Forte do Iguará]. S.d. Autoria desconhecida. Acervo
do Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia de Juliana
Travassos. Domínio público. Notação: MA f 10 (45.234).
49
ESTRATÉGIAS DE AÇÃO
↓ Manifesto impresso da Revolução Pernambucana
de 1817, intitulado Preciso [relato] dos sucessos,
que tiverão lugar em Pernambuco, desde a faustíssima
e gloriozissima Revolução operada felismente na praça
do Recife. Ao pé do documento, o brasão da monarquia
invertido simboliza as aspirações autonomistas da
revolução. Acervo do Arquivo Histórico do Itamaraty, 1817,
Coleções especiais. Documentação do ministério anterior a
1822. Independência. Capitania de Pernambuco. Lata 195.
Maço 05. Pasta 02.
52
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Decreto em que d. Pedro 1o nomeia o juiz de
direito nas causas de abuso da liberdade de imprensa e
obriga as tipografias a enviar ao procurador da Coroa
e Fazenda um exemplar de tudo o que for impresso em
território nacional. Embora emitido durante as guerras
da Independência da Bahia (1822–23), corroborou com
decreto de d. João 6o, de 1821, abolindo a censura prévia
e estabelecendo no Brasil a mesma extensão à liberdade de
imprensa que passara a existir em Portugal. Arquivo Público
do Estado da Bahia, 1822, BR BAAPEB CIBB-ATN-007-96.
53
PALAVRAS DE REVOLTA
CIDADE DO SALVADOR,
CAPITANIA DA BAHIA
SÁBADO, 11 DE AGOSTO
por
DE 1798
MARCIO JUNQUEIRA
eles caminham
calados eufóricos e apreensivos
no negrume de nove da noite
discretos
levam poucos candeeiros
é um coletivo pequeno
doze, treze homens
quase todos pardos ou pretos
alfaiates ferreiros mascates soldados escravos
na lapela
nos cabelos
trançado numa pulseira de palha da costa:
búzios
– marca que distingue um aliado –
levam trinchas
cinco baldes com grude
– feito de goma vinagre água –
e
onze lambe-lambes
tipograficamente caligrafados
fruto
dos processos dos últimos meses
das leituras coletivas
das traduções enquanto táticas de guerrilha
dos encontros
dos desencontros das vontades
da raiva acumulada
da tristeza
da vontade de ser outro
da saudade de si
da pergunta de marlon
o que é que a gente projeta no mundo?
param primeiro na esquina da praça do palácio
três vigiam
outros se dividem nas funções
passar grude na parede
passar grude no fundo do lambe
fixar o lambe na parede
Avizo
Animai-vos Povo Bahinense
que está para chegar o tempo felis da nossa Liberdade:
o tempo emque todos seremos irmaons
Quer o povo
q. sefaça nesta Cid.e e seu termo
a sua memoravel revolução
54
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
Homens,
o tempo he xegado pª a vossa ressurreição,
sim pª ressussitareis do abismo da escravidão,
para levantareis a Sagrada Bandeira da Liberd.e
rua de baixo de são bento, igreja de são bento, igreja de são domingos
na porta do carmo
de gaiatice
gonzaga sugere
colar um
na frente da casa de manoel da farmácia
cadelinha do governador
geral ri e acha que ele tá certo.
Quer o Povo
q todos os Membros militares deLinha,
milícias, eordenanças;
homens brancos, pardos, epretos
concorrão p.a aliberd.e Popular
Note-se
Que cada soldado terá soldo 200 r. Cada dia
55
PALAVRAS DE REVOLTA Marcio Junqueira
Cada hu soldado
he cidadão
mormente os homens pardos, epretos
q vivem escornados, eabandonados,
todos serão iguaes não haverá diferença;
so haverá liberd.e , iguald.e e fraternid.
e aq.le q seoposer aliberd.e Popular
será enforcado,
sem mais apelação
56
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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PALAVRAS DE REVOLTA Marcio Junqueira
↓ O Paraense, primeiro periódico da província
do Grão-Pará. Foi criado e editado por Felipe Patroni,
advogado, jornalista e político que participou
ativamente do movimento constitucional no país, sendo o
primeiro brasileiro a falar na Assembleia Constituinte,
em abril de 1821. Em sua edição de estreia, o jornal
publicou o decreto de d. João 6o sobre a extensão da
liberdade de imprensa. Acervo da Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil, 1822, PER819301_1822_00001.
58
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ O Bemtevi, periódico liberal que circulou em
São Luís, capital da província do Maranhão, durante
curto período em 1838. O ano marca o início da Balaiada,
também chamada Guerra dos Bem-te-vis, revolta de
caráter popular e social que durou até 1841. Apesar de
fazerem oposição ao poder estabelecido na província, os
editores do Bemtevi não estiveram diretamente envolvidos
nos confrontos armados. Acervo da Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil, 1838, PER718130_1838_00002.
PALAVRAS DE REVOLTA
60
ATOS DE REVOLTA Outros imaginários sobre independência
SABÃO de
FABIO MORAIS
↓ Trecho de Sabão, de Fabio Morais.
Florianópolis: Editora parentesis, 2018, pp. 7–8.
61
PALAVRAS DE REVOLTA Fabio Morais
↓ O Conciliador do Maranhão circulou impresso
entre 1821 e 1823 em São Luís, no Maranhão. O
periódico foi fundado por Bernardo da Silveira Pinto
da Fonseca, então governador da província, de ideais
liberais e entusiasta da Revolução do Porto. Nele, o
político publicou ofícios, discursos e difamou seus
opositores. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Brasil, 1821, PER749524_1821_00001.
62
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
63
PALAVRAS DE REVOLTA
↓ Boletim nº 4, panfleto político da Revolta → O Povo, jornal político, literário e
dos Búzios (1798–99). Antes da vinda da Corte ministerial farroupilha. Circulou por cerca de três
portuguesa, em 1808, as tipografias eram ilegais na anos e foi considerado o principal periódico da
colônia. Os papéis revolucionários eram manuscritos. República Rio-Grandense, tendo à frente dois líderes
Em agosto de 1798, onze deles apareceram colados em da Revolução Farroupilha, o italiano Luigi Rossetti
diversos pontos de destaque da cidade de Salvador, o e o brasileiro Domingos José de Almeida. Acervo
que desencadeou na prisão de uma série de suspeitos da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1838,
de envolvimento com a conjuração. Arquivo Público do PER718742_1838_00001
Estado da Bahia, 1798, BR BAAPEB TJBA-SRB-BB-576-04.
Prélo,
O povo Bahinense, e Republicano ordena manda e quer que seja feita nesta cidade
[- - -] termo para o futuro de sua memoravel revolução; portanto [manda] que
seja punido com morte natural para sempre todo aquele e qualquer sacerdote que
no pulpito, confecionario, exortaçaõ, por qualquer forma, modo, maneira [ora]
persuadir aos ignorantes, e fanaticos com o [como] for contrario a liberdade e
bem do Povo: manda o Povo que o sacerdote que concorrer para [- - -] revolução
seja reputado concidadaõ como condigno: os deputados frequentarão todos os actos
da igreja para que seja tomado inteiro conhecimento dos delinquentes: assim se
entenda alias...
Note-se
[que] cada soldado
terá de soldo 200 r.
Cada dia.
O Povo Nº 676
Entes da liberdade
64
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
65
PALAVRAS DE REVOLTA
66
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Panfleto político da Revolução Pernambucana ↓ Panfleto constitucionalista produzido no
de 1817 convocando patriotas da província do Ceará contexto da Independência da Bahia (1822–23). Em 1821,
para a causa revolucionária. O Ceará, em especial a eclodiu em Salvador uma conspiração constitucionalista
região do Cariri, teve participação no levante. Os influenciada pela Revolução Liberal do Porto. Ela
principais artífices locais foram Bárbara de Alencar daria início às disputas políticas da Independência
e seus filhos José Martiniano, pai do romancista José da Bahia, que duraram até julho de 1823, quando
de Alencar, e Tristão Gonçalves. Em 1817, a Câmara finalmente as últimas tropas portuguesas foram
da Vila do Crato foi tomada por revolucionários sob expulsas do território. As disputas envolveram diversos
a liderança de Martiniano, mas sua república durou setores da sociedade, incluindo as camadas populares
apenas oito dias. Acervo do Arquivo Histórico do locais, e visões políticas, como as de republicanos,
Itamaraty, 1817, Coleções especiais. Documentação do constitucionalistas e partidários do regime colonial.
ministério anterior a 1822. Independência. Capitania Acervo do Arquivo Histórico do Itamaraty, 1821, A
de Pernambuco. Lata 195. Maço 05. Pasta 02. Gazeta da Bahia. Lata 195. Volume 01. Maço 04.
67
PALAVRAS DE REVOLTA
↓ Duas negras posando em estúdio, de Alberto
Henschel (1827–82). Os registros do fotógrafo alemão
são alguns dos poucos que mostram pessoas negras
durante o Brasil escravista. O nome e a nacionalidade
das personagens das fotografias são desconhecidos,
e não se sabe também se eram livres ou escravizadas.
Acervo do Instituto Moreira Salles, Salvador, c. 1869,
P002SAm21-0063.
70
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Retrato – Cafuza, de Alberto Henschel. O
termo “cafuzo” refere-se de forma indistinta a pessoas
nascidas da miscigenação entre ameríndios e negros
africanos. Tradicionalmente utilizado por pessoas
brancas, o termo caiu em desuso na segunda metade do
século 20 devido a seu caráter generalizante. Não se
sabe o nome ou a nacionalidade da mulher retratada.
Acervo do Instituto Moreira Salles, Recife, c. 1869,
P002SAm21-0082.
71
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
↓ Mulher negra de turbante, de Alberto
Henschel. Não se sabe a identidade da mulher
retratada. Atualmente, por vezes a imagem é atrelada
ao nome de Maria Felipa de Oliveira, heroína da
Independência da Bahia (1822–23), ou a Luiza Mahin,
revolucionária radicada na província da Bahia no
início do século 19. Acervo do Instituto Moreira
Salles, Rio de Janeiro, c. 1870, 007IMS_007_22.
72
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Negra vendedora de frutas, de Alberto
Henschel. Acervo do Instituto Moreira Salles, Rio de
Janeiro, c. 1870, P002SAm21-0077.
73
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
↓ Nègre et negrèsse dans une plantation, de Gustave
Phillipe Zwinger. Em 1835, ano de impressão desta
gravura, eclodiu em Salvador a Revolta dos Malês (1835),
protagonizada por pessoas negras livres e escravizadas.
A maioria das representações de pessoas negras no
período, entretanto, é de gravuras de viajantes europeus
que não identificaram os retratados. Não há imagens dos
protagonistas da revolta. Acervo da Fundação Biblioteca
Nacional – Brasil, 1835, ICON94994_082.
74
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Fabricantes de jacás (paniers), de Jules-
Joseph-Augustin Laurens (1825–1901). A Balaiada
(1838–41) foi uma revolta popular protagonizada por
indígenas, camponeses, negros livres e escravizados
que exigiram melhoria das condições de vida na
província do Maranhão. Seu nome se origina dos
balaios, cestos de palha, verga ou outros materiais,
muito fabricados na região. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 1861, ICON1113654_58.
75
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
76
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
77
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
← Mapa demográfico de seis freguesias da Vila
de Recife, divididas em 24 companhias do Regimento de
Infantaria da Ordenança. Produzido pelos capitães das
companhias a pedido do governo interino da província
de Pernambuco em 1810, o documento traz uma amostra
quantitativa de pessoas brancas, indígenas e negras, estas
últimas divididas entre pretos e pardos, escravizados e
livres. Acervo do Arquivo Histórico do Itamaraty, 1810,
Coleções especiais. Documentação do ministério anterior a
1822. Capitania de Pernambuco. Lata 195. Maço 04. Pasta 01.
78
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↙ ↓ Relação dos presos políticos na Revolução de
Pernambuco que foram conduzidos à Bahia a bordo do
navio Carrasco, em junho de 1817. A lista evidencia o
caráter coletivo da revolução, e seus muitos agentes.
Frente e verso. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional
– Brasil, [18--], MSS1498422.
79
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
80
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Alferes Joaquim José da Silva Xavier, ↓ Frei Caneca, de autoria desconhecida. Além
conhecido como Tiradentes, mártir da Inconfidência de religioso e político, Joaquim da Silva Rabelo,
Mineira e precursor da luta pela Independência do conhecido como Frei Caneca, foi jornalista e esteve
Brasil. Essa gravura integrou o Pantheon Escolar à frente da Typhis Pernambuco entre 1823 e 1824, no
Brazileiro, de Antônio Estevão da Costa e Januário contexto da Confederação do Equador. Nela, imprimiu
dos Santos Sabino, caixa produzida na primeira metade seus discursos políticos, incluindo a frase que lhe
do século 20 que continha cerca de trinta biografias rendeu o epíteto: “Quem bebe da minha caneca tem
e imagens de personalidades históricas brasileiras. sede de liberdade”. Desenho, 20,8 x 16,5 cm. Acervo
Neste panteão, composto para fins didáticos, não da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, [18--],
havia nenhuma mulher, indígena ou pessoa negra, o ICON687854.
que evidencia os processos de construção das figuras
heroicas nacionais. Gravura, 13,4 x 9 cm, Acervo
da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, [18--],
ICON95726.
81
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
↓ Femmes Gouaranis civilisées allant a la as colônias portuguesa e espanhola determinada pelo
messe le dimanche, de Charles Étienne Pierre Motte Tratado de Madrid (1750). Gravura, 31,7 x 20,1 cm.
(1785–1836). Desde o século 16, as missões jesuíticas, Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1835,
a partir de seus princípios etnocêntricos, construíram ICON393052_057.
aldeamentos com objetivo civilizador e evangelizador
na América. No século 18, a região do Rio Grande de
São Pedro, no atual Rio Grande do Sul, era povoada
por sete dessas missões, onde viviam majoritariamente
indígenas Guarani convertidos ao cristianismo. Eles
foram os protagonistas da Guerra Guaranítica (1753–56),
quando resistiram à nova demarcação de fronteiras entre
82
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Representação das vestimentas usadas pelos
que lutaram nas guerras pela Independência do Brasil
na Bahia (1822–23). As roupas dos homens à esquerda,
então chamados de jagunços e couraçados, contrastam-se
com as do coronel do Estado Maior do exército e,
mais à direita, com o soldado em pequeno uniforme.
Aquarela sobre papel, 23 x 33 cm. [Bahia, 1824]. 192-.
Autor: José Wasth Rodrigues. Acervo do Museu Histórico
Nacional/Ibram. Fotografia de Juliana Travassos.
Domínio público. Notação: UM50 (30.255).
83
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
↓ Mura, de autoria desconhecida. A Cabanagem
(1835–40) teve grande participação indígena, em especial
das etnias Mura e Mawé. Durante a revolta, os cabanos
levaram a luta armada para o interior da Amazônia e
revolucionaram Santarém, Manaus e toda a região até a
fronteira do atual Amapá. Hoje, os Mura vivem no complexo
hídrico dos rios Madeira, Amazonas e Purus, em terras
indígenas e em centros urbanos da região, como Manaus,
Autazes e Borba. Gravura, 20 x 15,5 cm. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, [17--], MSS1255454_13.
84
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Retrato de d. Pedro 1o vestindo uma farda
imperial. Gravura, 43 x 33 cm. [Retrato de d. Pedro 1o,
após a Independência]. [18--]. Autoria desconhecida.
Acervo do Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia
de Juliana Travassos. Domínio público. Notação: IMp12
(028.426).
85
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
↓ Sessão do Conselho de Estado, de Georgina de Leopoldina é considerada uma das principais articuladoras
Albuquerque (1885–1962). A pintura histórica representa da Independência. Óleo sobre tela, 210 x 265 cm. Acervo
a imperatriz Maria Leopoldina (1797–1826) em sessão de do Museu Histórico Nacional/Ibram, 1922.
2 de setembro de 1822 do Conselho de Estado do Brasil,
no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Nesse dia, na condição
de princesa regente do Brasil, Maria Leopoldina assinou
o decreto da Independência do Brasil. A notícia chegou a
seu marido apenas cinco dias depois, quando ele estava
às margens do riacho Ipiranga em viagem à província de
São Paulo. Extremamente culta e versada politicamente,
86
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Bento Gonçalves da Silva (1788–1847), coronel
na Revolução Farroupilha (1835–45). Foi presidente da
República Rio-Grandense entre 1836 e 1841. Morreu em
1847, dois anos após a assinatura do Tratado de Poncho
Verde, que deu fim à revolução, deixando 53 pessoas
escravizadas para seus herdeiros. Reprodução fotográfica
de litografia, 10 x 7 cm. [Retrato do Coronel Bento
Gonçalves da Silva]. [19--]. Autoria desconhecida. Acervo
do Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia de Juliana
Travassos. Domínio público. Notação: 28L (38.084).
87
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
↓ Dona Maria de Jesus, de Edward Francis
Finden (1791–1857). Maria Quitéria (c. 1792–1853) foi
uma combatente da Independência da Bahia (1822–23).
Sob identidade masculina, atuou no regimento de
artilharia e chegou a 1º cadete, comandada pelo
general Labatut. É considerada a primeira mulher
a se alistar no Exército brasileiro, apesar de
haver outras combatentes nas trincheiras baianas no
período. Gravura, 22,7 x 16,7 cm. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 1824, ICON389302.
88
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Lancero de la época de Rivera, de Juan líderes farroupilhas ainda mantinham pessoas negras
Manuel Blanes (1830–1901). Os lanceiros negros foram escravizadas. Óleo sobre tela, 36 x 24,5 cm. Coleção
combatentes majoritariamente escravizados que lutaram Horácio Porcel, [18--].
na Revolução Farroupilha (1835–45) em busca de sua
liberdade. Totalizaram cerca de quatrocentos homens,
divididos em oito companhias. Apesar da importância
dos lanceiros para a revolta, a questão abolicionista
não foi um consenso na República Rio-Grandense.
O Povo, órgão oficial da república, anunciava a
fuga de escravizados e, ao fim da revolução, os
89
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS
90
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Retrato de soror Joanna Angélica, de Domenico ↓ Poema "A lástima", de Alvarenga Peixoto,
Failutti (1871–1923). Joana Angélica foi uma freira publicado postumamente no livro Obras poéticas
baiana assassinada, em 1822, pelas tropas portuguesas de Ignário José de Alvarenga Peixoto. Paris: Typ.
à porta do Convento de Nossa Senhora da Conceição da Portug. de Simão Raçon e Comp., 1865. Alvarenga
Lapa, na Bahia, onde era abadessa. Não há consenso Peixoto foi um dos principais articuladores da
entre os historiadores sobre as circunstâncias de Inconfidência Mineira (1789). Após suas prisão na
sua morte. Alguns afirmam que ela escondia soldados Ilha da Cobras, no Rio de Janeiro, foi exilado em
brasileiros no interior do convento e que os defendeu Angola, onde veio a falecer em 1792.
quando tropas portuguesas invadiram o edifício.
Outros dizem que Joana Angélica defendia as irmãs
da violência das tropas portuguesas que praticavam
saqueamentos e assassinatos em Salvador durante os
conflitos da Independência da Bahia (1822–23). É
considerada a primeira mártir da Independência do
Brasil. Óleo sobre tela, 125 cm x 157 cm. Acervo do
Museu Paulista da Universidade de São Paulo, [19--].
A LÁSTIMA por
ALVARENGA PEIXOTO
91
PROTAGONISMOS E AGÊNCIAS Alvarenga Peixoto
↓ Documento produzido pelo Conselho Interino da
Bahia em nome de d. Pedro 1o, então príncipe regente,
conclamando apoio popular nas lutas contra as tropas
portuguesas na Independência da Bahia (1822–23).
Acervo do Arquivo Público do Estado da Bahia, jul.
1822, BR BAAPEB CIBB-ATN-007-90.
94
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Decreto imperial de março de 1823 bloqueando
o porto da Bahia e proibindo a entrada de embarcações
enquanto as tropas portuguesas estivessem em Salvador.
Em maio de 1823, dois meses após o decreto, uniu-se ao
bloqueio marítimo a esquadra de Thomas Cochrane, recém-
-conclamado almirante da Armada Imperial do Brasil. Em 2
de julho, as tropas portuguesas são finalmente expulsas
da capital da província, dando fim ao conflito. Acervo do
Arquivo Público do Estado da Bahia, 1823, BR BAAPEB CIBB-
ATN-007-12.
95
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
GUERRA PARTICULAR
por
CIDINHA DA SILVA
97
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR Cidinha da Silva
↓ Portaria ordenando o reconhecimento de Salvador por um longo período da guerra. Autoritário,
Pierre Labatut como general do Exército. Pierre acabou destituído e preso por desafiar o mando dos
Labatut foi um general francês, combatente das Guerras proprietários de escravizados e de terras da região.
Napoleônicas, contratado como comandante das tropas Acervo do Arquivo Público do Estado da Bahia, 1823,
terrestres brasileiras por d. Pedro 1o para atuar na BR_BAAPB_CIBB_ATN_007_005.
Independência da Bahia (1822–23), em um contexto em
que não havia oficiais de alta patente para liderar o
Exército e a Marinha. A força expedicionária sob seu
comando, denominada Exército Pacificador, partiu do
Rio de Janeiro para a Bahia, onde organizou o cerco a
98
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Projeto de constituição da República e com a alta carga de impostos, e de instabilidade
Rio-Grandense elaborado pelos revolucionários política devido à abdicação de d. Pedro 1o em 1831.
farroupilhas. Os ideais liberais da Revolução Francesa A Independência do Rio Grande do Sul foi proclamada
encontraram terreno fértil no Brasil na primeira em 1936 e o projeto de constituição apresentado em
metade do século 19. A independência política recém- fevereiro de 1843. Acervo da Fundação Biblioteca
-adquirida criou entre as elites regionais Nacional – Brasil, 1843, PER813605.
expectativas de maior autonomia. A Revolução
Farroupilha (1835–45) foi a mais longa rebelião do
período regencial do Brasil. Eclodiu em um cenário de
descontentamento com a centralização de poder da Corte
99
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Reunião da Junta Governativa de Goiana. Autores: Monnin; H. Lalaisse. Acervo do Museu
Pernambuco foi a primeira província a se separar do Histórico Nacional/Ibram, 1846. Fotografia de Juliana
reino de Portugal. Em agosto de 1821, um movimento Travassos. Domínio público. Notação: FD 78 (32.538).
constitucionalista armado expulsou de lá o general
português Luís do Rego Barreto, que havia liderado a
repressão à Revolução Pernambucana de 1817. Naquele
momento, membros da elite pernambucana formaram a
Junta de Goiana, que, após eleita, administrou a
província entre outubro de 1821 e setembro de 1822.
Gravura, 12 x 17 cm. [Réunion politique à Fernambouc].
100
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
101
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
102
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← ↓ Carta do príncipe regente d. Pedro 1o a seu
pai, d. João 6o, próximo à Independência do Brasil.
Acervo Arquivo Histórico do Itamaraty, 1822, Coleções
especiais. Documentação anterior a 1822. Documentos
autógrafos de d. Pedro 1º. Lata 169. Maço 08. Pasta 03.
Rio 18-6-1822
103
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Cérémonie de sacre de D. Pedro 1er. Empereur
du Brésil : à Rio de Janeiro, le 1er. Decembre 1822, de
Thierry Frères (1768–1848), a partir de Jean-Baptiste
Debret (1768–1848). A cerimônia de sagração e coroação de
d. Pedro 1o foi realizada na Capela Real do Rio de Janeiro.
Esta imagem foi escolhida para ser pintada, em 1828, em um
quadro de grandes dimensões, único que Debret realizou no
Brasil, e que hoje se encontra no Palácio do Itamaraty,
em Brasília. Gravura, 20,3 x 31,2 cm. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 1839, ICON393054_181.
104
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
105
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
106
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Decreto imperial dando execução ao Tratado ↓ Cláusula do Tratado de Paz entre Brasil e
de Paz entre Brasil e Portugal. Em agosto de 1825, o Portugal determinando o pagamento da quantia de 2
documento oficializou o reconhecimento por Portugal milhões de libras esterlinas a Portugal. No momento
da Independência do Brasil. O acordo foi mediado pelo de sua Independência, o Brasil contraiu sua primeira
Reino Unido e estabeleceu que o Brasil indenizaria grande dívida pública. Obrigado a indenizar Portugal,
Portugal pelos prejuízos causados nas guerras de o Império brasileiro assumiu as dívidas portuguesas
Independência e pela Biblioteca Nacional, vinda da com os bancos da Inglaterra. Acervo Arquivo Nacional,
metrópole junto à Coroa em 1808. Acervo do Arquivo 1828, DIL 0233.
Nacional, 1826, 2H.0.0.20/21.
107
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
GALANTES MEMÓRIAS
E ADMIRÁVEIS
AVENTURAS de
JOSÉ ROBERTO TORERO
DO VIRTUOSO
CONSELHEIRO GOMES,
O CHALAÇA
Atesto para todos os fins que tudo o exemplo acabado de homem e estadista,
que neste livro se verá é verdadeiro, e constitui-se num modelo muito
e que todas as palavras aqui escritas imitado pelos brasileiros, desde
andam de mãos dadas com a verdade – aqueles tempos até os dias de hoje.
embora uma ou outra vírgula possam ter Mas Francisco Gomes também
sido inventadas. Esta obra constitui-se sabia fazer rir. Não à toa que
do caderno de anotações de Francisco seu apelido significa gracejo,
Gomes da Silva, conselheiro do Império, caçoada, zombaria. Seu humor fino
que, durante o saudoso tempo em que e inteligente, seu talento musical
andei pelo mundo dos vivos, foi um de (tirava inspirados lundus de sua
meus mais importantes auxiliares e viola) e sua habilidade ao intermediar
certamente o mais próximo. meus encontros com as filhas de
Houve quem o chamasse de Eva fizeram com que ele fosse minha
alcoviteiro e safardana, mas tais companhia favorita enquanto não
acusações não passam de calúnias. Se admirava as flores pelo lado da raiz.
o Chalaça – este era o seu apelido Pode ser que o Chalaça falte
– conseguiu ascender de simples com a verdade em alguns trechos, mas
serviçal a um dos mais influentes não o julguemos mal. Se há exageros
homens do Império Brasileiro, isso e omissões em sua narrativa, é porque
aconteceu principalmente graças à assim funciona a memória, prolongando
sua privilegiada inteligência. Além vitórias e dissimulando derrotas.
de habilidoso conselheiro, este Talvez por conta disso ele seja
meu grande companheiro foi também acusado de imprecisão histórica, mas
um brilhante filósofo, conforme o leitor há de convir que a ciência
demonstram algumas de suas teorias que da história fica ainda mais bela
aqui estão. Como exemplo cito aquela se enfeitada pela arte do mentir, e
na qual ele estabelece a profunda nisso o autor deste livro mostra-se
relação entre o fluxo sanguíneo e o inigualável.
funcionamento do cérebro no momento da Um maganão, esse Chalaça.
cópula, o que explica tantas e tantas
atitudes masculinas. Dom Pedro 1o
Não posso furtar-me a dizer (psicografado)
que meu amigo esteve presente aos
principais acontecimentos da jovem
nação brasileira. Gritou ao meu lado
às margens do Ipiranga, escreveu a
primeira Constituição e dissolveu
com bravura a primeira Assembleia
Constituinte. O Chalaça foi, enfim, um
108
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Texto de orelha de Galantes memórias e ↓ Declaração de d. Pedro 1o ao povo brasileiro
admiráveis aventuras do virtuoso conselheiro Gomes, o após o retorno de d. João 6o a Portugal. Em 1820, teve
Chalaça, de José Roberto Torero, São Paulo: Companhia início a Revolução Liberal do Porto, quando elites
das Letras, 1 ed., 1994. políticas portuguesas se uniram ao exército para exigir o
retorno das Cortes e a implementação de uma constituição
no reino. Nesse contexto, d. João 6º esvazia os cofres do
Banco do Brasil e volta a Portugal, deixando seu filho
como príncipe regente. O episódio deu início a uma série
de disputas políticas que acarretariam na Independência
do Brasil em 1822. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional
– Brasil, 1821, BNDIGITAL0348.
109
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
110
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Decreto em que d. Pedro 1o às vésperas ↓ Panfleto político produzido às vésperas
de sua coroação como imperador do Brasil perdoa a da Independência da Bahia (1822–23) conclamando os
pena de morte aos presos nas cadeias brasileiras. negociantes a aderirem ao movimento constitucionalista
A Constituição Imperial de 1824, primeira e mais português. O apoio às Cortes de Lisboa representava
duradoura do Brasil, não previa a pena de morte, mas oposição ao governo centralizado no Rio de Janeiro,
também não a proibia. A prática perdurou no país até evidenciando o interesse das elites locais em gozar de
a Proclamação da República, em 1889. Acervo Arquivo autonomia em seus negócios. Acervo Arquivo Histórico
Público do Estado da Bahia, 1822, BR_BAAPB_CIBB_ do Itamaraty, 1821. Lata 195. Volume 01. Maço 04.
ATN_007_068.
111
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ A ata da aclamação de d. Pedro 1o documenta a → Juramento de d. Pedro 1o à Constituição do
participação da classe política do país na nomeação de Império, de 25 de março de 1824, dia em que foi outorgada.
d. Pedro 1o como “Imperador Constitucional do Brazil” O documento foi produzido artesanalmente através de linho
mesmo antes da Constituição do Império ser outorgada. e cânhamo, e traz iluminuras nas cores relacionadas aos
[Ata da Aclamação do Senhor Defensor Perpétuo do símbolos das casas reais. O verde representa as cores
Brasil. Rio de Janeiro: Typ. de Silva Porto]. 1822. da Casa de Bragança e o amarelo, as cores da Casa de
Acervo do Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia Habsburgo-Lorena. Acervo Arquivo Nacional, 1824, BR
de Juliana Travassos. Domínio público. Notação: IMv10 RJANRIO 53, códice 852, v. 01.
(028.939).
112
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
113
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Acclamation de Don Pédro 1er. Empereur du Santa Anna (atual Palacete Imperial),
Brésil; : au camp de Stª. Anna, à Rio-de-Janeiro, de foi saudado pela população da Corte. Gravura,
Thierry Frères (1768–1848), a partir de Jean-Baptiste 22 x 35,4 cm. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Debret (1768–1848). Quando d. Maria Leopoldina Brasil, 1839, ICON326378_181.
assinou a declaração de Independência do Brasil, em
2 de setembro de 1822, d. Pedro 1o estava em viagem
pela província de São Paulo. O príncipe foi aclamado
imperador apenas em 12 de outubro de 1822, seu
aniversário de 24 anos e data oficial da fundação do
Império do Brasil. Neste dia, no Palacete do Campo de
114
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
115
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Lista de Armamentos de Guerra que o governo Itamaraty, 1817, Documentação relativa à Revolução
revolucionário de Pernambuco encarregou a Gernazio Pernambucana de 1817. Estante 355. Prateleira 01. Lata
Pires Ferreira mandar vir dos Estados Unidos da 195. Volume 04. Maço 05.
América. A Revolução Pernambucana de 1817 teve forte
influência da Revolução Americana (1776) e do modelo
republicano adotado na Independência dos Estados
Unidos da América. Durante seu transcurso, emissários
foram enviados em missão diplomática ao país vizinho
para comprar armas, contratar mercenários e obter
reconhecimento e apoio. Acervo Arquivo Histórico do
Copia
116
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Ofício enviado pelo governo provisório da e da resistência de escravizados. Após a vitória, um
Bahia ao juiz das vilas de Maragogipe e Jaguaripe decreto imperial chegou a recomendar a libertação dos
a respeito de escravizados que haviam fugido e que serviram nos conflitos e a compensação de seus
deveriam ser restituídos aos seus cativeiros. antigos proprietários. Mas grande parte da classe
Durante a Independência da Bahia (1822–23), as senhorial não aceitou a ordem, o que resultou em
forças brasileiras sob o comando do general Labatut longos processos na província da Bahia. Acervo Arquivo
recrutaram pessoas escravizadas para a batalha. Tal Público da Bahia, 1823, BR_BAAPB_CIBB_ATN_007_044.
recrutamento, somado à desarticulação social causada
pela guerra, gerou grande desestabilização na ordem
escravista. O período é marcado pelo aumento das fugas
117
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ ↘ Representação à Assembleia Geral Constituinte escravidão no país. Mas o documento não chegou a ser
e Legislativa do Império do Brasil sobre a escravidão, apresentado em plenário. Antes disso, d. Pedro 1o
escrita por José Bonifácio de Andrada e Silva. Em demitiu o ministro e destituiu a Constituinte.
maio de 1823, d. Pedro 1o instaura uma assembleia Divergente do texto que estava sendo preparado, que
constituinte com cem deputados eleitos de catorze restringia os poderes do imperador, d. Pedro 1o nomeou
províncias brasileiras. Entre eles, estava José novos membros para um Conselho de Estado e lhes deu
Bonifácio, então ministro do Reino e dos Negócios amplos poderes para elaborar a Constituição de 1824.
Estrangeiros e braço direito do imperador. Afinado com Acervo Biblioteca do Senado, 1825, Código: 000022940.
as ideias abolicionistas inglesas, Bonifácio preparou
uma apresentação defendendo a extinção gradual da
118
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
119
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
DIÁRIO DE UMA de
MARIA GRAHAM
VIAGEM AO BRASIL
[Sábado] 28 [de setembro]. – homens quanto mulheres, não usam nada
Esta manhã; antes do café, olhando pela senão um pano em tôrno dos rins. Quando
janela da casa do Sr. Stewart, vi uma são comprados é costume dar às mulheres
mulher branca, ou antes um demônio, uma camisa e uma saia e aos homens ao
surrando uma pobre negra e torcendo menos uma calça, mas isto muitas vêzes
seus braços cruelmente enquanto a pobre se suprime.
criatura gritava angustiadamente, até Ontem a variedade de chapéus
que nossos homens interferiram. Bom dos habitantes portuguêses foi
Deus! Como pode existir êste tráfico vantajosamente exibida numa sortida
e êstes hábitos de escravidão! Perto através das ruas, feita por uma espécie
da casa há dois ou três depósitos de de milícia suplementar. Tratava-se de
escravos, todos moços. Em um vi uma forçar o fechamento de tôdas as lojas
criança de cerca de dois anos à venda. e a prisão de todos os escravos, por
As provisões estão agora tão raras que causa de um alarma de que o inimigo
nenhum bocado de alimentação animal estava atacando a cidade pelo sul. O
tempera a massa de farinha de mandioca, oficial que chefiava o grupo estava
que é o sustento dos escravos, e de fato vestido en militaire, com
mesmo isso estas pobres crianças, com uma espada desembainhada em uma das
seus ossos salientes e faces cavadas, mãos e uma pistola na outra. Era
revelam que eles raramente recebem seguido de uma companhia, que Falstaff
suficientemente! Agora, o dinheiro dificilmente engajaria. Estava
também está tão escasso que não se devidamente armada mas ostentava
encontra com facilidade um comprador. grande variedade de bonés e chapéus,
Mais uma angústia se acrescenta à conforme os ofícios a que pertenciam os
escravidão: o desejo vão de encontrar possuidores. A retaguarda era formada
um senhor! Vintenas dessas pobres por uma figura singular, com um pequeno
criaturas são vistas em diferentes barrete em forma de tambor no alto da
cantos das ruas com todos os sinais cara rija e pálida, com uma capa de
de desespêro. E se uma criança tenta encerado, tendo à mão esquerda uma
arrastar-se por entre êles, em busca imensa espada de Toledo desembainhada,
de um divertimento infantil, a única que êle carregava voltada para cima. Os
simpatia que êle pode provocar é um milicianos são mais bem uniformizados
olhar de piedade. Estarão errados os e estão agora empregados no serviço
patriotas? Eles puseram armas nas regular, alternando com as tropas
mãos dos novos negros, enquanto as reais, que desertam para os patriotas
lembranças da pátria, do navio negreiro diàriamente.
e do mercado de escravos, lhes estão Passando pelo palácio esta
frescas na memória. manhã soubemos que uma centena de
[…] Os negros fazem as compras, índios estão sendo esperados na cidade
poucos por conta própria, na maior para auxiliar a guarnição. Usam as
parte por conta dos senhores. O vestimentas aborígines e são armados de
vestuário dos negros livres é igual fundas, arcos e flechas. Disseram-nos
ao dos portuguêses nativos da terra: que suas idéias de govêrno consistem
jaqueta de linho e calças. Nos dias de em acreditar que devem obediência tanto
cerimônia, uma jaqueta de pano e um ao rei como aos padres. A aguardente
chapéu de palha compõem tanto um negro é o incentivo pelo qual fazem qualquer
como um cavalheiro branco. As mulheres coisa; uma oitava dessa bebida e um
em casa usam uma espécie de camisola punhado de farinha de mandioca é a
que deixa demasiado expostos os seios. única alimentação que exigem quando vêm
Quando saem usam ou uma capa, ou uma à cidade. […]
manta; esta capa é freqüentemente de [Domingo], 29 [de setembro]. – A
côres vivas. Também os sapatos, que festa de S. Miguel fez sair as senhoras
são o sinal de liberdade, são de tôdas portuguêsas, das quais não havíamos
as côres, menos o preto. Correntes visto ainda uma só passar pelas ruas.
de ouro para o pescoço ou para os O traje preferido parece ser o negro,
braços e brincos, com uma flor no com sapatos brancos e fitas brancas
cabelo, completam o vestuário da mulher ou coloridas e flôres no cabelo, uma
pernambucana. Os negros novos, tanto manta de seda ou gaze preta ou branca.
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Trecho de Diário de uma viagem ao Brasil e
de uma estada neste país durante parte dos anos 1821,
1822, 1823, de Maria Graham. Tradução de Américo
Jacobina Lacombe. São Paulo: Companhia Editora
Nacional, 1953, pp. 116–8, 120–2, 136–7.
Vimos alguns padres, também, pela vestindo-o e a sua mulher com um belo
primeira vez. Penso que o edito em que fato preto, um colar e pulseiras para
se determina que se conservem dentro a senhora, e fivelas nos joelhos e
dos muros dos respectivos conventos sapatos para adornar as meias de seda,
origina-se do fato de estarem eles raramente se esforça muito mais, e
entre os fomentadores do espírito de contenta-se com sua alimentação diária.
independência. A apropriação de tão Muitos, de tôdas as côres, quando
grande parte da renda da igreja pela conseguem comprar um negro, descansam,
côrte de Lisboa tornara-a evidentemente dispensando-se de demais cuidados.
impopular entre o clero do país; não Fazem com que o negro trabalhe para
é difícil aos padres convencer o povo êles, ou esmole para êles, e assim,
daquilo que é de fato verdade, isto é, desde que possam comer seu pão
que a remessa de tantos tesouros do país tranqüilamente, pouco se importam em
para sustentar Lisboa, que não pode saber como foi êle obtido.
agora nem governá-lo, nem protegê-lo, Os portuguêses europeus ficam
é um bom fundamento para queixas. Diz-se extremamente ansiosos por evitar o
que os costumes do clero aqui são os casamento com os naturais do Brasil
mais depravados. Isto é provàvelmente e preferem antes dar suas filhas e
verdade. Os membros do clero romano, fortunas ao mais humilde caixeiro
impedidos pelos votos, de exercerem de nascimento europeu do que aos
as caridades ativas da vida social, mais ricos e meritórios brasileiros.
só dispõem dos recursos da ciência Estão convencidos das prodigiosas
e da literatura contra as paixões e dificuldades, senão malefícios que
os vícios. Mas aqui até os nomes da fizeram a si próprios com a importação
literatura e da ciência são quase de africanos. Sem dúvida encaram agora
desconhecidos. O colégio e a biblioteca com pavor a hipótese da revolução,
de Olinda estão em decadência. Não há um que libertará os escravos da sua
só livreiro cm Pernambuco e a população autoridade e, declarando-os iguais aos
de suas diversas freguesias sobe a outros, autorizá-los-á a tomarem como
70.000 almas! […] agravos os insultos que suportaram
Quarta-feira, 10 [de outubro]. pacientemente por tanto tempo.
– Fomos à terra cedo pela primeira
vez desde o armistício. Os canhões
foram retirados das ruas e raras lojas
reabriram; os negros não estão mais
encerrados portas a dentro e os padres
reapareceram. Seus chapéus largos e
amplos mantos dão-lhes importância no
meio do povo, agora ocupado e ativo e,
ao que parece, disposto a ressarcir o
tempo perdido para o comércio devido
ao sítio. Fiquei impressionada com a
grande preponderância da população
negra. Pelo último censo a população
de Pernambuco, incluindo Olinda,
chegava a setenta mil, dos quais não
mais de um têrço era de brancos. Os
demais são negros ou mulatos. Os
mulatos, em geral, são mais ativos,
mais industriosos e mais espertos que
qualquer das outras classes. Acumularam
grandes fortunas em muitos casos, e
estão longe de ficar para traz na
campanha pela independência do Brasil.
Poucos negros, mesmo entre os livres,
conseguiram ficar muito ricos. Um
negro livre, quando sua loja ou seu
jardim corresponde ao seu esfôrço
121
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR Maria Graham
↓ Hospice de N. S. da Piudade a Bahia, de
autoria desconhecida, retrata a praça da Piedade e
deixa ver a vida urbana em Salvador. Gravura. Acervo
da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1835,
ICON94994_150.
122
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
123
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
ROMANCE II OU por
CECÍLIA MEIRELES
DO OURO INCANSÁVEL
Mil bateias vão rodando
sobre córregos escuros;
a terra vai sendo aberta
por intermináveis sulcos;
infinitas galerias
penetram morros profundos.
Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos;
cada família disputa
privilégios mais antigos;
os impostos vão crescendo
e as cadeias vão subindo.
124
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Poema “Romance II ou Do ouro incansável”, ↓ Lei de 7 de novembro de 1831, também
extraído do Romanceiro da Inconfidência (1953), de conhecida como Lei Feijó. Proibia a entrada de pessoas
Cecília Meireles, em Obras poéticas. Rio de Janeiro: escravizadas no país, tipificava quem as contrabandeava
Editora Nova Aguilar, 1977. como sequestrador e remunerava quem denunciasse o
crime. Sua promulgação se deu em um período de grande
instabilidade política, principalmente devido à
abdicação de d. Pedro 1º ao trono e seu retorno
a Portugal. Até cerca de 1835, a lei de fato foi
cumprida. Mas, em seguida, o Império cedeu à pressão
das elites escravistas brasileiras e cessou qualquer
fiscalização ao tráfico negreiro. Após a Lei Feijó,
pelo menos 740 mil pessoas foram ilegalmente trazidas
ao Brasil. Devido à política externa antiescravista da
Inglaterra no período, a lei deu origem à expressão
"lei para inglês ver". Acervo Câmara Legislativa,
[1873], Coleção das Leis do Império do Brasil de 1831.
125
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Boletim nº 6, panfleto político da Revolta
dos Búzios (1798–99). O levante teve protagonismo
popular, defendeu o livre comércio e a abertura dos
portos baianos a outras nações além de Portugal. Lutou
por maiores salários para os soldados e por maior
igualdade racial. No boletim sedicioso podemos ver a
relação que os revolucionários tentaram estabelecer
com os comerciantes locais. Acervo Arquivo Público da
Bahia, s.d., BR_BAAPEB_TJBA_SRB_BB_576_06.
Aviso ao Povo
O Povo Bahinense Republicano para o futuro pertende, manda, e q.r q seja feita
p.a o futuro a sua revolução nesta Cid.e e seo termo para oq faz q seja siente
o Comersio desta Cid.e outrosim ordena q q.al q.r comissário, mercador mascates,
lavradores de mandiócas fabricantes de açucar e tabacos hajão de ter todo o
direito soubre as suas fazendas com auxilio do Povo, seg.do o plano e boa ordem
q para esse fim setem pensado alem do socorro de fora.
Para o d.o efeito se tomárão as medidas, tudo abem do Povo,
principalmente aumen.to do Comercio, e Lavradores: os taverneiros também serão
contemplados na boa união.
Aq.le q.l q.r q. seja q recuzar será morto e logo se fará sequestro dos
seus bens, e a respeito dos descendentes dos q forem tiranos, e falços do estado
revolucivo aseu tempo se haverá respeito.
Assim seja entendido alias [- - -]
126
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Ofício do Conselho Interino do Governo da Bahia
transmitindo decreto imperial que ordenou o sequestro de
bens e propriedades dos súditos do Reino de Portugal em todo
o território brasileiro. Em meio a rumores de que Portugal
preparava uma esquadra militar para atacar o Rio de Janeiro,
d. Pedro 1º ordenou o confisco dos bens de vassalos
portugueses, desde mercadorias até embarcações e edifícios.
Naquele momento, as lutas pela Independência da Bahia (1822–23)
já transcorriam há quase um ano em Salvador. Acervo Arquivo
Público da Bahia, 1823, BR_BAAPB_CIBB_ATN_007_022.
O Conselho Interino de Governo desta Provincia me manda transmitir pelo Seu Secretario
em officio de 28 de Janeiro preterito deste Corrente anno por Copia assignada pelo
official Maior da Secretaria Imperial Decreto de onze de desembro passado por que Sua
Magestade Imperial Houve porbem ordenar como acertada medida de segurança para os seus
súbditos, que seponhão em effectivos Sequestros os bens e Propriedades pertencentes
aos Subditos do Reino de Portugal existentes ou empoder de Negociantes deste Imperio
do Brazil, para que em pelo que respeita a Comarca [De] minha jurisdição dê inteiro
cumprimento ao predito Imperial Decreto, como nelle se declara. Cuja Copia do mesmo
Imperial Decreto, também por copia assignada pelo Escrivão da Ouvidoria interino
[---] a V Mes para dar cumprimento ao mencionado Imperial Decreto pelo que respeita ao
Destricto desua jurisdição. O que participo a V Mes para sua intelligencia.
Deos Guarde a V Mes
Villa da Jacobina 18 de Fevereiro de 1823, segundo da Independencia e do Imperio.
127
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Mapa diário de abastecimento de capins para → Relação de produtos necessários para a
os cavalos do destacamento do Caminho Novo, em Minas manutenção da patrulha do Caminho Novo, assinada por
Gerais, datado de 1781. Em 1780, Tiradentes se alistou Joaquim José da Silva Xavier, alferes comandante do
para o regimento da cavalaria na tropa da capitania comércio. Foi a partir de sua atuação no Caminho Novo
de Minas Gerais, quando recebeu o posto de alferes – que Tiradentes se aproximou dos grupos críticos ao
equivalente ao que hoje chama-se subtenente. No ano domínio português que formaram a Inconfidência Mineira
seguinte, passa a atuar como comandante da patrulha do (1789). Acervo Museu da Inconfidência/Ibram/MTur,
Caminho Novo, estrada na Serra da Mantiqueira por onde 1781, DE/IM/PRIM/MAN-14.
o minério era escoado para o porto do Rio de Janeiro.
Insatisfeito com a estagnação de sua carreira militar,
pede licença da Cavalaria, em 1787. Acervo Museu da
Inconfidência/Ibram/MTur, 1781, DE/IM/PRIM/MAN-13.
128
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
129
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
INDEPENDÊNCIA
Era um sábado e o verão estava rigoroso. forças armadas chegaram com canhões
Ainda estava amanhecendo quando eu e para impor a independência à revelia das
meu irmão mais novo puxamos a canoa, nossas vontades.
que estava debaixo do assoalho da casa Voltamos para casa e nos anos
do cacique, e a arrastamos até o rio de seguintes acompanhei muitas reuniões
águas barrentas. Éramos crianças, mas secretas, nas quais as lideranças
tínhamos muita prática e respeito com as falavam exaltadamente sobre a erupção
águas dos rios. dos povos da floresta, contra aquele
Dali, rumamos por umas duas horas movimento independentista que criou
até chegarmos na aldeia vizinha, onde uma situação política que nos oprimia e
pegamos carona numa embarcação maior, silenciava a nossa gente. Cresci vendo
que rumava para a pequena vila no meio as reuniões ficarem mais numerosas,
da floresta amazônica. No decorrer da com representantes de diversos grupos
viagem, entre belas paisagens e sons de sociais que viviam e reexistiam entre
animais na mata, ouvíamos as conversas rios, igarapés e igapós.
dos adultos sobre assuntos políticos; Anos depois, eu devia estar
diziam que o Brasil havia se libertado com aproximadamente 23 anos de idade,
de Portugal, mas que não havia nenhuma participei de uma grande assembleia
decisão sobre o futuro dos nossos povos na floresta. Eram centenas, milhares
no Brasil independente. de pessoas valentes, com roupas
As conversas e o balançar da esfarrapadas, visivelmente sofridas,
embarcação me fizeram adormecer, acordei carregando cantis de água e marmitas com
com os gritos dos feirantes, quando farofas, esperançosas por dias melhores.
já estávamos atracando na vila. Ali Havia uma decisão coletiva em torno
vendiam de tudo, trocavam e até davam, da guerra pela paz, uma batalha pela
principalmente quando faziam amizades melhoria da vida dos povos da floresta.
com alguém. Desembarcamos e percebi o Depois de três dias acampados
burburinho de vários grupos de parentes em cabanas de palha, acertando os
posicionados à beira do rio, e a maioria detalhes sobre as estratégias para
conversava sobre os mesmos assuntos que aquela batalha, todas as pessoas
ouvi na viagem toda no barco. presentes – homens, mulheres, jovens
Parecia uma moda falar de e crianças – saíram em suas canoas em
independência do Brasil nesta feira. direção a Mairi, território Tupinambá,
Percebi que os adultos, especialmente batizado pelos colonizadores como
as lideranças, estavam insatisfeitos Belém. A ideia era tomar a cidade e
com a maneira como os políticos organizar um governo popular, formado
brasileiros estavam tratando a questão por indígenas, quilombolas, ribeirinhos
indígena e a floresta, e que um ano e gente humilde que não esperariam de
depois da famosa independência tudo braços cruzados os ditos benefícios da
havia ficado ainda pior. independência do Brasil.
Por não termos o reconhecimento Lembro que quando entramos na
de cidadãos e de brasileiros por parte cidade pelo rio Guamá, conduzidos
dos governantes, as lideranças da pelos parentes Tupinambá da região, os
floresta estavam tramando movimentos de moradores ficaram surpresos e apoiaram
contestação. Falava-se até em movimentos o nosso movimento, pois a maioria era
separatistas na Amazônia, especialmente de origem indígena. Essa consciência de
porque nossos povos não foram ouvidos pertencimento contagiava os parentes
pelos autonomistas, e, por fim, as que se juntavam ao nosso grupo, pois
130
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
QUE TINHA CHEIRO
de
DE FLORESTA
EDSON KAYAPÓ
ficava evidente que éramos os legítimos governante, fui até o jardim fumar um
donos da floresta, e que estávamos cachimbo. Estava muito satisfeito com
absolutamente marginalizados pelo os desdobramentos do nosso movimento de
governo aristocrata. Encaramos com libertação, quando fui surpreendido por
desconfiança e estranheza a ideia de uma soldados que tinham acabado de chegar na
tal independência, liderada pelo filho cidade para reprimir a nossa libertação,
da nação que nos oprimiu por séculos. a mando do imperador.
Nas investidas por nossa Fui brutalmente alvejado, tinha
liberdade na cidade de Belém, tivemos consciência de que ali terminava minha
o firme apoio de muitos intelectuais, missão material na Terra. Senti uma dor
padres e até de alguns fazendeiros. que se confundia com ansiedade, medo e
Decidimos aceitar os apoios, cientes de satisfação, seguida de uma sonolência
que essa aliança era estratégica para que neutralizava a dor das outras balas
nossa liberdade, pois o grande projeto entrando em meu corpo.
era a libertação dos povos originários e Depois de muitas reviravoltas,
a proteção da vida na floresta em todas nosso projeto popular de independência
as suas dimensões. foi reprimido pelos governantes,
Bravamente, fomos tomando os suprimido e arquivado. Foi quando entrou
pontos estratégicos da cidade, até em cena a pedagogia do exemplo, pela qual
ocuparmos as fortalezas, quartéis e o nossos povos se orientam, considerando
palácio do governo. A essa altura já que aquela batalha pela independência
sabíamos toda a rotina do governador, não foi em vão, gerou frutos que
inclusive que ele não costumava dormir influenciaram as novas gerações.
no palácio do governo, pois passava Vivendo aqui na Grande Aldeia,
as noites com sua amante, e foi para onde vivem os antepassados, meus
lá que seguimos. Rodeamos a casa até ancestrais me ensinaram a manter a
o alvorecer, enquanto isso, pela tranquilidade. Nosso empenho pela
madrugada, chegara a notícia de que libertação dos nossos povos e pelo
um parente havia matado o chefe da respeito à vida humana e não humana
segurança do governo. é a prova de que a morte não existe.
Ficamos entocados e quando o As gerações mais jovens seguem os
governador saiu da casa, permitimos que nossos rastros pela liberdade e pela
ele seguisse para o palácio, conforme autodeterminação, e se guiam pelo clarão
o combinado entre nós. Lá ele seria das luzes que daqui projetamos para eles
interceptado por outros guerrilheiros quando ouvimos os sons dos seus maracás.
da liberdade para a execução do plano. A independência do Brasil é
Quando o governador chegou ao palácio, um projeto que está em construção,
segui em sua direção, saquei a arma necessitando levar em consideração as
e cumpri minha missão. Colocamos os demandas de suas gentes, respeitando a
nossos líderes nos postos de controle e vida humana e não humana. São muitos
montamos um governo popular, com cheiro Brasis, muitas independências e
da floresta, que valorizava as nossas pluralismos que não cabem numa única
ciências e o nosso jeito de ser. data ou numa história única.
Aquele momento foi muito doloroso
para todos, pois perdemos centenas
de irmãos e irmãs nos confrontos.
Depois que ocupamos o palácio do
governo e empossamos o nosso legítimo
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ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR Edson Kayapó
132
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← Extrato do Tratado de Limites de 1750, ↓ Extrato da carta geográfica usada nas
conhecido como Tratado de Madrid, assinado pelos negociações em torno do Tratado de Madrid. Nela,
reis João 6o de Portugal e Fernando 6o da Espanha. a linha vermelha demarcava os limites ao norte da
Substituiu o Tratado de Tordesilhas, estabelecendo América Meridional. Na parte inferior da imagem, mapa
novos limites no território sul-americano. Com ele, da mesma região utilizado nas negociações do Tratado
Portugal abriria mão da Colônia do Sacramento em troca de Santo Ildefonso (1777), que substituiu o Tratado de
dos campos dos Sete Povos das Missões, de modo que os Madrid. Em vermelho, a linha divisória citada no novo
Guarani missioneiros que estavam no que passava a ser acordo, e, em amarelo, a fronteira que então tinha
território brasileiro deveriam atravessar o rio Uruguai o Brasil. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
e se mudar para o lado espanhol. A nova demarcação não Brasil, 1778, CART537490.
foi acatada pelos indígenas, que, em 1753, iniciaram
a Guerra Guaranítica. Acervo Arquivo Histórico do
Itamaraty, 1750, Estante 343. Prateleira 02. Maço 01.
133
ORGANIZAÇÃO SOCIAL E CIRCULAÇÃO DE VALOR
↓ Salve! Querido Brasileiro. Dia: 25 de porque o rosto da figura do Brasil, inesperadamente
março de 1824, de Charles Philibert de Lasteyrie feminino, reproduzia com perfeita fidelidade as
(1759–1849). Nesta data, foi outorgada a primeira feições da Marquesa de Santos, amante de Pedro I”.
Constituição brasileira, de modo que a alegoria pode Gravura, 50 x 36,2 cm. Acervo da Fundação Biblioteca
ser lida como representativa da luta do imperador Nacional – Brasil, [1824], ICON408454.
contra o despotismo. A imagem foi reproduzida em
1923 no Almanaque de Pelotas com a legenda:
“D. Pedro I quebrando os grilhões que prendiam o
Brasil à Metrópole [...] Esta preciosa obra de arte
causou na épocha profunda sensação, e mesmo escandalo,
136
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
O GRITO ↓ O poema “O grito do Ipiranga” foi publicado
em setembro de 1856, no jornal carioca Correio Mercantil,
quando Machado de Assis tinha apenas 17 anos.
DO por
MACHADO DE ASSIS
IPIRANGA
Liberdade!... Farol divinizado! – César dos mares, afrontando as ondas,
Sob o teu brilho a humanidade e os séculos À Europa revelou um Novo Mundo;
Caminham ao porvir. Roma as algemas Ele nos trouxe o cetro das conquistas
Quebrou dos filhos que a opressão lançara Nas mãos de Pedro – o fundador do Império!
Dentre a sombra de púrpura dos Césares,
Que envolvia Tarquínio em fogo e sangue, O herói calcando os pedestais da história,
Cheia de tua luz e estimulada Ergue soberbo aos séculos vindouros
Por teu nome divino – essa palavra A fronte majestosa! Imenso vulto!
Imensa como as vozes do Oceano. É ele o sol da terra brasileira!
Sublime como a ideia do infinito! Neste dia de esplêndidas lembranças
Tal como Roma a terra americana, No peito brasileiro se reflete
Um dia alevantando ao sol dos trópicos O nome dele – como um sol ardente
A fronte que domina os estandartes, Brilha dourado no cristal dos prismas!
Saudou teu nome majestoso e belo –
E o brado imenso – Independência ou morte! – Tomando o sabre, dominou dois mundos
Soltado lá das margens do Ipiranga. O herói libertador, valente e ousado!
Foi nos campos soar da eternidade. Ele, o tronco da nossa liberdade,
Foi como o cedro secular do Líbano,
Desenrola nas turbas populares Que resiste ao tufão e às tempestades!
Dos livres a bandeira o herói tão nobre,
Digno dos louros festivais que outrora Ipiranga! Inda o vento das florestas
Roma dava aos heróis entre os aplausos Que as noites tropicais respiram frescas
Do povo que os levava ao Capitólio! Parecem murmurar nos seus soluços
Ele foi como o César de Marengo; O brado imenso – Independência ou morte!
Sua voz como a lava do Vesúvio Qual o trovão nos ecos do infinito!
Levada pela voz da imensidade
Foi do Tejo soar nas margens, onde Disse ao guerreiro o Deus da Liberdade:
Estremeceu de susto o lusitano! Liberta o teu Brasil num brado augusto,
E o herói valente libertou num grito!
Ipiranga!... Ipiranga!... A voz das brisas
Este nome repete nas florestas!
Caminhante! Eis ali onde primeiro
Soou o brado – Independência ou morte!–
O homem secular levando as águias
Por entre os turbilhões de pó, de fumo,
Ostentando nos livres estandartes
O lúcido farol de um século ovante,
Mais sublime não foi nem mais valente
Que Pedro o herói, da América travando
Do farol da sagrada liberdade,
E acordando o Brasil, escravizado,
Sob férreos grilhões adormecido.
137
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS Machado de Assis
↓ Alegoria representando três grupos sociais que
contribuíram para a formação da identidade brasileira:
o negro escravizado, o português e o indígena. Entre
eles, o imperador d. Pedro 1o. José Bonifácio, sentado,
traz a bandeira imperial sobre os joelhos. Gravura,
52 x 33 cm. [A fundação da Pátria brasileira, 7 de
setembro de 1822]. [19--]. Autoria desconhecida. Acervo
do Museu Histórico Nacional/Ibram. Fotografia de Juliana
Travassos. Domínio público. Notação: 18G (24.924).
138
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Panfleto com o poema “Mote improvisado.
Independencia, ou morrer”, de Luis de Sousa Dias,
impresso em homenagem a d. Pedro 1o. Acervo da
Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1822,
BNDIGITAL0244.
139
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS
↓ Folha de rosto do livro manuscrito O parnaso
obsequioso e obras poéticas, de Cláudio Manoel da
Costa (1729–89). O drama foi escrito sob o pseudônimo
árcade Glauceste Satúrnio em homenagem ao conde de
Valadares, então governador da capitania de Minas
Gerais. Manoel da Costa foi um proeminente advogado,
político, minerador e poeta acusado de envolvimento
na Inconfidência Mineira (1789). Cometeu suicídio
na prisão após ser detido por sua participação na
conjuração. Acervo Arquivo do Museu da Inconfidência/
Ibram/MTur, 1768, DE/IM/PRIM/MAM-05.
140
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Partitura composta pelo padre João de Deus de classes sociais diversas, e cabia a eles construir as
Castro Lobo (1794–1832). Nos séculos 18 e 19, a região igrejas e organizar os serviços religiosos na região,
de Vila Rica, atual cidade de Ouro Preto, foi marcada inclusive no que dizia respeito à formação de músicos
por dinâmica atividade social e cultural. Epicentro e à constituição de orquestras. A família Castro Lobo
do ciclo do ouro, chegou a ser a cidade mais populosa esteve associada à música religiosa em Vila Rica
da América Latina em 1730. Temendo a influência por, pelo menos, três gerações. Seu avô, Manuel de
da Igreja Católica na circulação do ouro mineiro, Castro Lobo, atuou na Irmandade de São José dos Homens
a Coroa Portuguesa proibiu a instalação de ordens Pardos. Acervo Museu da Inconfidência/Ibram/MTur,
religiosas regulares, de modo que o culto católico coleção Curt Lange, s.d., registro: 0184.
ficou sob organização das irmandades leigas da região.
As irmandades eram formadas por homens brancos e
negros, livres e escravizados, com profissões e
141
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS
↓ Partitura composta por José Joaquim Emerico Boa Morte e a irmandade de Nossa Senhora do Rosário
Lobo de Mesquita (1746–1805). No século 18, as dos Homens Pretos, em atividade até os dias de hoje.
atividades artísticas possibilitaram a integração de O musicólogo Curt Lange (1903–97), responsável por
homens negros na estrutura social mineira. Em 1780, localizar essas e outras partituras e por dar a ver a
em instruções ao governador, o desembargador Teixeira expressividade da música mineira do século 18, chega
Coelho relatou que muitos negros empregavam-se “no a afirmar que não existiam músicos brancos nas Minas
ofício de músicos, e são tantos na capitania de Minas Gerais setecentistas. Acervo Museu da Inconfidência/
que certamente superam o número dos que há em todo Ibram/MTur, coleção Curt Lange, [185-], registro: 0098.
reino”. Grande parte das irmandades religiosas eram
racializadas, como a irmandade da Nossa Senhora da
142
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
RIO por
EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA VERMELHO
I II
o grito seria outro se fosse do ypiranga povo bom da vila chega na janela venha
não do homem ver os congos que lá vai pra guerra
e suas escaras ao modo tupinambá do tuxaua Cabelo
seria outro o grito se não o do coldre de Velha que ardeu Mairi entre 1617 e
insano 1721 antes de ali nascer a cidade de
e seus projetos Belém do Pará. na calvície das minas
no grito armado em setembro urla os negros do Serro e Diamantina seguem
em surdina conluiados sob a treva do Século
o ypiranga das Luzes. numa noite sem vagalumes,
sua névoa seu curso sua ira nossa era imagina-se, o salão de lianas estará
ameaçada repleto: reunidos aqui – fala alguém
de morte a ser capturado por um flash de
sentam-se à mesa posta nas ruas fotografia – reunidos há muito na
ao norte margem desse fio d’água, na Comarca
e ao sul Órfã de todos os santos, proclame-
o grito seria um grito se navegasse se: os cavalos vinham patinando na
numa canoa estrada e patinaram de novo sob o
de astros peso desumano. ao modo cotia cava no
seria um canto se escrevessem sua lajedo, pensa-se noutro país de hérnia
água e gozo.
vermelha
sobre a esfera azul de uma bandeira III
em látex
violento sempre viva o grito esperado
seria primavera ainda que não fosse agudo
setembro por dentro
se o grito entre as artérias – um mapa
crispado nos dentes de uma ariranha grave
calasse fundo por fora
e nos ouvisse como alguém que chegasse à praça
e sua quimera
fosse
tocar tambor nas estátuas – o grito
que ruge
à sintaxe
ouve quem disse algo e foi calado
às margens
do dicionário
que seja um grito informe, ermo
entre o capim
e os lagartos
se fosse cravado no espelho esse
grito
diria agora
a quem se mata num ônibus, treme
no berço
e tem fome
diria como dizem os filhos-morcegos
salve, sabiá,
sibila sua hora
144
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
IV
quando é maio.
145
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS Edimilson de Almeida Pereira
↓ Bandeira da República Pernambucana, feita
pelo padre revolucionário João Ribeiro Pessoa de Melo
Montenegro e pintada por Antônio Alves por ocasião
da Revolução Pernambucana de 1817. As três estrelas
representam Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte,
demonstrando o caráter federalista do movimento. Em 1917,
após pequenas alterações, foi oficializada como bandeira
do estado de Pernambuco. Gravura, 20 x 31,7 cm. Acervo da
Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1917, ICON511926.
146
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
147
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS
↓ Versão da bandeira imperial do Brasil, criada
por Jean-Baptiste Debret (1768–1848) a pedido de
d. Pedro 1o, em 1822. O escudo verde traz ao centro
uma esfera armilar de ouro (instrumento astronômico
aplicado nas navegações) sobreposta à Cruz da Ordem
de Cristo em vermelho. Vinte estrelas prateadas
representam as províncias brasileiras e estão
dispostas sobre um aro que simboliza a orla azul
do país. Acima do escudo está a coroa imperial.
À direita, um ramo florido de tabaco e, à esquerda,
um ramo frutificado de café. Os dois principais
produtos agrícolas da época são unidos pelo Laço
da Nação e simbolizam a riqueza comercial brasileira.
162 x 90 cm. Arquivo do Museu da Inconfidência/Ibram/
MTur, s.d., registro: 1493.
148
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Fotografia de um lenço farroupilha. → Aos manes venerandos paulistas. Promulgação
Desenvolvido por Mariano de Matos e Bernardo Pires, da independência do Brasil pela província de S. Paulo,
ambos revolucionários da Guerra dos Farrapos, o lenço de Nicolau Huascar de Vergara (s.d.–1882), publicada
farroupilha estampava em seda diversos símbolos da no periódico humorístico O Polichinello. Influenciado
República Rio-Grandense. Ao centro, o brasão das pelo romantismo brasileiro de sua época, O Polichinello
armas traz inscrita a data de fundação da república. apresentava forte viés nacionalista e indianista.
Abaixo dele, uma faixa proclama liberdade, igualdade e Em suas páginas, eram recorrentes as representações
humanidade. Nos dois lados, barretes frígios – espécie idealizadas de indígenas, simbolizando a identidade
de touca utilizada pelos republicanos franceses na nacional. Gravura, 46 x 60,5 cm. Acervo da Fundação
tomada de Bastilha em 1798 – são circundados por Biblioteca Nacional – Brasil, 1876, ICON1475908.
ramos de mate e trigo. Ao redor, a parte mais externa
do lenço apresenta as datas das principais vitórias
farroupilhas. Fotografia de autoria desconhecida,
19 x 20 cm. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Brasil, [18--], ICON838414.
149
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS
150
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
151
CONSTRUÇÕES SIMBÓLICAS
↓ Largo do Rossio (atual praça Tiradentes), de
Sousa (s.d. – s.d.). Localizada no centro do Rio de
Janeiro, a praça Tiradentes originou-se no século 17 e
já recebeu diversos nomes. O desenho toma a perspectiva
do canto da praça e mostra, ao centro, o pelourinho
instalado com a chegada da Corte, em 1808. Ao fundo
se vê o Real Teatro de São João, atual Teatro João
Caetano, em cuja sacada d. Pedro 1o jurou fidelidade à
Constituição. No local se deu a execução de Tiradentes
em 1792. Desenho, 18,3 x 25,3 cm. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 1860, ICON236323.
154
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Inauguração da estátua equestre de
d. Pedro 1o na praça da Constituição, atual praça
Tiradentes, em 30 de março de 1862. A estátua foi
a primeira escultura pública do país. À sua base, o
pano que a cobria e, ao seu redor, alguns soldados
e muitos espectadores. O Arco do Triunfo à frente
foi desmontado após a solenidade. Fotografia de
autoria desconhecida, 32 x 34 cm. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 1862, ICON832195.
155
REVERBERAÇÕES
↓ Panfleto da inauguração da estátua equestre → Texto de origem e autoria desconhecidas
de d. Pedro 1o. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional assinado por "um brasileiro", em Munique, na Alemanha.
– Brasil, 1862, ICON1512951. No verso do escrito havia esboços feitos por
Von Schwanthaler de estátuas equestre e pedestre de
d. Pedro 1o. Eles, entretanto, não correspondiam à
estátua erguida na praça Tiradentes. Acervo da Fundação
Biblioteca Nacional – Brasil, 1844, ICON1424799.
156
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
157
REVERBERAÇÕES
↓ → À véspera da inauguração da estátua equestre
de d. Pedro 1o, a tipografia do Diário do Rio publicou
uma carta aberta de Teófilo Ottoni com duras críticas
à edificação. À época chefe do Partido Liberal,
Ottoni se opunha ao reconhecimento de d. Pedro 1o
como símbolo da Independência do país, acirrando as
disputas narrativas entre liberais e conservadores.
Abaixo, imagem da carta e, à direita, transcrição de
seu conteúdo. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Brasil, 1862, OR-00498 (02).
158
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
ilustres constituintes, render o devido Minas assistio amargurada,
preito e menagem á dynastia dos nosso ao glorioso martyrio de seus filhos
principes. Mas a questão é mais grave. predilectos.
Com a inauguração da estatua Um tribunal de excepção veio
equestre se pretende resolver: de Lisboa, encarregado de apurar o
1º A quem deve o Brasil sua maior numero possivel de victimas e
independencia proclamada em 7 de de arroja-las em massa para as plagas
Setembro de 1822? mortiferas dos presidios africanos.
2º E a constituição jurada em 23 Devia o ferrenho tribunal
de Março de 1824? designar na lista dos proscritos,
E sentenciar o acto de virilidade para uma punição mais rigorosa, o
popular que no dia 7 de Abril de 1831 cabeça do crime da independencia, que
transferio a Coroa Imperial para a inconfidencia se chamava.
augusta cabeça de Sua Magestade o Esse chefe procurado com
Imperador o Sr. D. Pedro II. tamanho empenho, decidio a alçada que
Eu sou muito pequenino para em era: Joaquim José da Silva Xavier-o-
tal processo ser juiz. -Tiradentes.
Tambem longe está de mim essa Eis as palavras que fechavam a
pretenção. sentença de Tiradentes. Era condemnado
Só reclamo a liberdade de como: “Sendo por esta descomedida
articular a minha defesa e de ousadia reputado por um heroe entre os
justificar-me por não aceitar conjurados [...].
pressuroso a commissão de que tão No dia 21 de Abril de 1791 foi
benevolamente se dignaram a encarregar enforcado, decapitado, esquartejado
me tantas, e tão respeitaveis Joaquim José da Silva-o-Tiradentes.
corporações. É o que vou fazer. A scena de sangue teve lugar no
Em vista dos seus antecedentes campo da forca, que demorava entre as
e origem, o monumento da praça da ruas do Conde e dos Ciganos.
Constituição significa: Estava a forca defronte do
1º Que a independencia de 1822 pelourinho que se erguia ameaçador
foi uma doação no monarcha, cujos justamente no centro do Rocio.
augustos descendentes impérara sobre os O prestito sahio da cadêa velha,
dous reinos em que se dividio a familia paço actual da camara dos deputados.
portugueza. Entrou pelo Rocio no campo da
2º Que a constituição foi, forca.
senão uma outhorga do direito divino, O Rocio estava, como hade estar
ao menos espontanea concessão da amanhã, literalmente apinhado. [...]
philosophia do principe, e documento de Mas o martyrio de Tiradentes não
sua adhesão ás idéas liberaes. tinha sido inutil á causa por que elle
3º Que o 7 de Abril de 1831 se havia sacrificado.
foi um crime de rebelião, de que o A arvore da liberdade regada com
Brasil contricto deve pedir annistia, o sangue precioso do martyr fructificou.
annullando por injusta a sentença que E germinaram com força na terra da Santa
lavrou aquele dia contra o primeiro Cruz as doutrinas de Tiradentes.
reinado. Em 1817 o drama teve em scena
Ao menos, é isto que eu leio na novos actores. A revolução fôra
praça da Constituição. decretada no Rio de Janeiro em casa de
Mas pondo os olhos em Deos, e a Ledo e devia romper na briosa provincia
mão na consciencia, sinto necessidade de Pernambuco. Nessas Thermopilas do
de protestar contra essas epopéas heroismo os barbaros passaram, mais uma
que o arauto de bronze quer levar á vez, por sobre corpos livres.
posteridade. Martins, Mendonça, o padre
O facto de 1822 é o resultado Miguel, Silveira e Pereguino, tambem
dos esforços de mais de uma geração. cumpriram a palavra sagrada.
Já no seculo passado o Brasil aspirava E no cadafalso deram testemunho
emancipar-se. Sentia-se com força para da doutrina de Tiradentes.
reclamar um assento no congresso das João Ribeiro, o veneravel
nações. A primeira entre as outras sacerdote, prototypo de todas as
colonias americanas onde repercutio virtudes, antecipou o seu termo.
sympathica a revolução dos Estados- Como no Ouro-Preto Claudio
-Unidos, foi o Brasil. Manoel da Costa, e em Utica o
De sobreaviso como estavam, antecipára Catão
puderam os nossos dominadores esmagar
a generosa provincia que ia tomar a [...]
iniciativa do projecto libertador.
159
REVERBERAÇÕES
↓ ↘ Cupom numerado do bônus da Independência, século 20, em que avanços tecnológicos e científicos
sorteio realizado por ocasião da Exposição eram apresentados aos visitantes como propaganda
internacional do centenário da Independência do do progresso e da modernização do país. Acervo
Brasil, então chamada Exposição nacional (7 de da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1922,
setembro de 1822 – 24 de julho de 1823). Na frente, ICON1550440.
a reprodução da célebre pintura de Pedro Américo,
Independência ou morte. No verso, os valores em
dinheiro e as condições para participar do sorteio.
O evento reproduziu o formato das exposições
universais típicas do final do século 19 e início do
160
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
→ Capa do álbum comemorativo do centenário ↘ Etiqueta usada pelos expositores da seção
da Independência publicado pela prefeitura do Rio de brasileira na Exposição internacional do centenário
Janeiro, então Distrito Federal, reunindo fotografias da Independência do Brasil. Na lateral esquerda da
de diversas construções e paisagens da cidade. Acervo da etiqueta, o brasão imperial e, na direita, o brasão
Fundação Biblioteca Nacional – Brasil, 1922, ICON325335. da República. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional –
Brasil, 1922, ICON1503010.
161
REVERBERAÇÕES
162
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
↓ Poemas extraídos de História do Brasil
(1932), de Murilo Mendes. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1991, pp. 42–46.
HISTÓRIA DO BRASIL
por
MURILO MENDES
163
REVERBERAÇÕES Murilo Mendes
↓ ↘ Comemoração da Independência da Bahia no início da separação política entre a antiga colônia e Portugal.
do século 20. Em fevereiro de 1822, meses antes da Até hoje, festas populares enchem as ruas de Salvador em
proclamação da Independência do Brasil, Portugal nomeou celebração da data. Fotografias, 24 x 18 cm, 17 x 23 cm.
o general Madeira de Melo como comandante das armas [Bahia: cortejo, numa das ruas coloniais de Santo Antônio,
na província da Bahia. O objetivo era restabelecer o comemorativo ao 02 de julho de 1823]. [19--]. Autor: Leão
controle militar do Brasil, restringindo a autonomia até Rozemberg. Acervo do Museu Histórico Nacional/Ibram.
então conquistada. Militares brasileiros reagiram, dando Fotografia de Juliana Travassos. Domínio público. Notação:
início à guerra da Independência da Bahia (1822–23). 91L (38.144); 92L (38.145).
O resultado foi a vitória, em 2 de julho de 1823, do
Exército e da Marinha do Brasil na Bahia e a consolidação
164
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
165
REVERBERAÇÕES
PARA FABULAR
por
BEATRIZ LEMOS e THIAGO DE PAULA SOUZA
FUTUROS
168
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
como, por meio de suas lutas, buscaram Tais eixos conceituais
o desenvolvimento de novos sistemas de fundamentaram o diálogo entre a
direitos. curadoria e o grupo de artistas, mas
Arissana Pataxó, Arjan Martins, não circunscrevem a disposição das
a dupla Giseli Vasconcelos e Pedro obras na expografia. As obras estão
Victor Brandão, e Tiago Sant’Ana dispostas em um grande salão central e
abordam os processos de produção e em duas naves laterais. Ao centro, um
distribuição de valor, tendo em vista painel expográfico transformado em base
a lógica escravocrata que foi a base se estende de uma parede à outra, como
da atividade econômica durante o uma barricada. Sobre essa mesa vermelha
período colonial. Suas obras refletem estão dispostos fragmentos e peças dos
a desigualdade e a violência produzidas séculos 18 e 19, emprestados do Museu
pela exploração colonial, as exclusões da Inconfidência, do Museu Histórico
e a desigual distribuição dos recursos Nacional e do Convento Santo Antônio no
e espaços. Reverberam até os dias Rio de Janeiro. A estrutura estabelece
de hoje as sequelas deixadas por uma diferença cromática e volumétrica
esse processo socioeconômico, assim em relação ao restante da exposição,
como as reivindicações que priorizam configurando-se como um espaço-tempo
transformações nas estruturas de poder. suspenso. Ainda, impede que o público
Os trabalhos de Ana Lira, Gê atravesse livremente o espaço, ao
Viana, Glauco Rodrigues, Glicéria provocar o movimento de contornar as
Tupinambá, Luana Vitra, Paulo Nazareth, laterais do salão.
Thiago Martins de Melo e Tiago Sant’Ana O gesto de olhar a história por
referem-se aos símbolos presentes nas meio de objetos e produções artísticas
revoltas e às propostas sobre o modelo de deu continuidade ao exercício proposto
país e de comunidade refletidas neles. por duas exposições apresentadas pelo
Por fim, os trabalhos de Elian Almeida, MAM Rio, em 2022 – Terra em tempos:
Marcela Cantuária, Paulo Nazareth e fotografias do Brasil e Nakoada:
Tiago Sant’Ana pensam nas representações estratégias para a arte moderna.
e lideranças dos levantes, como Maria Juntas, as três mostras refletem a
Felipa de Oliveira, Maria Quitéria convicção de que o museu é também
de Jesus e João de Deus Nascimento. instrumento fundamental na tarefa de
O exercício de recuperação do poder pensarmos o passado e o que somos hoje.
simbólico dessas lideranças nos lança
perguntas relacionadas ao presente:
sobre os impactos da individualização
das lutas, sobre a importância de
positivar narrativas de protagonismos
revolucionários historicamente silenciados
e, ao mesmo tempo, de questionar a escrita
hegemônica do passado.
169
Para fabular futuros BEATRIZ LEMOS E THIAGO DE PAULA SOUZA
IMAGINANDO COM por
KEYNA ELEISON
171
Imaginando com força uma história KEYNA ELEISON
172
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
173
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
174
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
175
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
← ← Painel de abertura da exposição. Ao fundo, Frei Francisco do
Monte Alverne (1860), de autoria desconhecida; Frei Francisco de Santa
Thereza de Jesus Sampaio (c. 1860) e Frei Francisco de São Carlos (c.
1860), de autoria atribuída a Tirone, acervo do Convento Santo Antônio
do Rio de Janeiro
176
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
177
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
↓ Duas paredes que compõem Hãhãw Pataxó: de que lugar você olha?
(2022), de Arissana Pataxó
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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VISTAS DA EXPOSIÇÃO
180
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
181
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
182
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← ← Maria Felipa e a fera do mar (2022),
de Marcela Cantuária com colaboração
das participantes da Frente de Mulheres
Brigadistas Luciane G. S. Idalino, Anna
Carolina Idalino, Leila Oliveira e Lavynia
Vitória Rezende
183
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
↑ Sonho cabano (2022) e Edição extraordinária do Jornal Pessoal
– A agenda amazônica de Lúcio Flávio Pinto (2022), ambos parte da
instalação Nheenga Cabana, de Giseli Vasconcelos e Pedro Victor Brandão.
Ao fundo, instalação Somos fronteiras vivas (2022), de Gustavo Caboco
Wapichana e Roseane Cadete Wapichana
184
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
185
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
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VISTAS DA EXPOSIÇÃO
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ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
← ← Instalação Somos fronteiras vivas (2022), de Gustavo Caboco
Wapichana e Roseane Cadete Wapichana, com vista da exposição ao fundo
189
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
190
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
191
VISTAS DA EXPOSIÇÃO
OBRAS
AUTORIA DOS TEXTOS
ALEX CALHEIROS BASÍLIO DA GAMA
é professor associado do departamento (Tiradentes, Brasil, 1741 — Lisboa,
de filosofia da Universidade de Portugal, 1795) foi um poeta
Brasília, o qual chefiou entre 2010 e brasileiro. Sob o pseudônimo Termindo
2017. Foi diretor de difusão cultural Sipílio, participou da Arcádia Romana,
da Universidade de Brasília de 2017 sociedade literária fundada em Roma
a 2021, estando à frente da Casa da em 1690. É o patrono da cadeira 4 da
Cultura da América Latina e da Casa Academia Brasileira de Letras.
Niemeyer. Em 2014, foi professor
visitante no departamento de filosofia
da Universidade de São Paulo. Em 2021, BEATRIZ LEMOS
dirigiu o Departamento de Processos trabalha com curadoria e pesquisa, e
Museais do Ibram e, atualmente, é responde pela idealização e direção da
diretor no Museu da Inconfidência em plataforma Lastro – Intercâmbios Livres
Ouro Preto, Minas Gerais. em Arte. Foi curadora visitante da
Escola de Artes Visuais do Parque Lage
(2015–2016). Fez parte das comissões
ALLAN DA ROSA curatoriais do 20º Festival de Arte
é escritor e angoleiro. Historiador, Contemporânea Sesc_Videobrasil (2017),
mestre e doutor em cultura e da Bolsa Pampulha (2018–2019) e da 3ª
educação pela Faculdade de Educação Frestas – Trienal de Artes do Sesc
da USP. Dramaturgo, compôs peças Sorocaba (2019 e 2021). Atualmente,
com companhias de SP, RJ e MG. é curadora adjunta do Museu de Arte
Integra, desde o início, o movimento Moderna do Rio de Janeiro.
de Literatura Periférica de SP. Já
palestrou e participou de eventos
em estados do Brasil e de Cuba, CIDINHA DA SILVA
Moçambique, EUA, Colômbia, Bolívia e é prosadora, tem 19 livros publicados,
Argentina. É autor de Águas de homens entre eles, os premiados Um Exu em
pretos, Pedagoginga, autonomia e Nova York (Biblioteca Nacional, 2019
mocambagem, Zagaia, Da Cabula e Reza e PNLD Literário 2021), Oh, margem!
de mãe. Reinventa os rios! (PNLD Literário,
2021) e O mar de Manu (APCA 2021,
melhor livro infantil).
ANA MARIA GONÇALVES
abandonou a publicidade para se
dedicar à literatura. Publicou os EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA
romances Ao lado e à margem do que é poeta, ensaísta, autor de literatura
sentes por mim (edição da autora, infantojuvenil e professor na
2002) e Um defeito de cor (2006). Faculdade de Letras da Universidade
É autora das peças Diversos (2015) Federal de Juiz de Fora. Publicou,
e Tchau, querida! (2016) e coautora entre outros, Mundo encaixado:
de Chão de pequenos (2017) e significação da cultura popular
PretOperItamar – O caminho que vai dar (1992), E (Patuá, São Paulo, 2017),
aqui (2019). Poesia + antologia 2015–2019 (2019) e
A vida não funciona como um relógio
(2022). Sua obra de ficção inclui
ALVARENGA PEIXOTO O ausente (2021), Um corpo à deriva
(Rio de Janeiro, Brasil, 1742 (2021) e Front (2021).
– Ambaca, Angola, 1792) foi
advogado, poeta e um dos principais
articuladores da Inconfidência EDSON KAYAPÓ
Mineira. Após ser detido e julgado pertence ao povo Mebengokré, nascido no
por sua atividade revolucionária, foi Amapá. É doutor em Educação, professor
condenado ao exílio. Atribuem a ele a na licenciatura intercultural indígena
inscrição latina na bandeira de Minas no Instituto Federal de Educação,
Gerais: “Libertas quae sera tamen”. Ciência e Tecnologia da Bahia, campus
Porto Seguro, docente no Programa de Pós-
graduação em ensino e relação étnico-
raciais da Universidade Federal do Sul
da Bahia, membro titular do Parlamento
Indígena do Brasil e da Comissão Indígena
e Quilombola da OAB/SP.
194
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
ELIANA ALVES CRUZ JULIANA TRAVASSOS
é escritora, roteirista, jornalista é editora, produtora e pesquisadora.
e pós-graduada em comunicação Mestre em teoria literária pela
empresarial. Autora dos romances Universidade Federal Fluminense com
Água de barrela (Prêmio Oliveira projeto sobre as formas híbridas na
Silveira de 2015, da Fundação Cultural poesia brasileira. Produziu as feiras
Palmares/Ministério da Cultura e literárias Cardume (Museu de Arte do
menção honrosa do Prêmio Thomas Rio, 2019) e Feira no Cobogó (Instituto
Skidmore 2018); O crime do cais do Moreira Salles, 2018 e 2019). Em 2014,
Valongo (2018), um dos melhores do fundou a Garupa, onde editou livros de
ano de 2018 pelos críticos do jornal literatura contemporânea, incluindo O
O Globo e semifinalista do Prêmio martelo, de Adelaide Ivánova (Prêmio
Oceanos 2019; Nada digo de ti, que em Rio, 2018). Atualmente, é produtora
ti não veja (2020), vencedor do Prêmio editorial no Museu de Arte Moderna do
Rachel de Queiroz; e Solitária (2022). Rio de Janeiro.
MACHADO DE ASSIS
FABIO MORAIS (Rio de Janeiro, Brasil, 1839 – 1908)
atua entre os espaços expositivo e foi um escritor, dramaturgo, jornalista
editorial. Sua mais recente exposição e crítico literário. Grande relator dos
individual foi Cores (Galeria eventos político-sociais de sua época,
Vermelho, 2022). Participou de testemunhou a Proclamação da República
coletivas, como The life of others. do Brasil e militou pela abolição da
Repetition and Survival, Akbank Sanat escravatura naquele contexto. Foi um
(Istambul, Turquia, 2013); Passant dos fundadores da Academia Brasileira
pàgina. El llibre com a territori de Letras.
d’art (Catalunha, Espanha, 2012).
Tem obras publicadas pelas editoras
par(ent)esis, Tijuana, Dulcineia MARCIO JUNQUEIRA
Catadora, Cosac Naify e Ikrek, e nas é poeta e artista visual. É doutorando
revistas seLecT, Bravo e Recibo. no programa de pós-graduação em
artes visuais da Universidade Federal
da Bahia. Desde 2005, desenvolve
JOSÉ ROBERTO TORERO trabalhos em torno de subjetividades,
é cineasta, roteirista, jornalista homoerotismos, escritas de si e
e escritor com 49 livros publicados. autoficção. Integra o coletivo
Escreveu roteiros para cinema e Bliss não tem bis. Publicou Sábado
tevê, entre eles os longas-metragens (2019); LUCAS (2015); e voilà mon
Pequeno dicionário amoroso (1997), coeur (2010). Atua, desde 2012, como
Memórias Póstumas (2001) e Pelé eterno professor de literaturas em língua
(2004). Seu romance Galantes memórias portuguesa na Universidade do Estado
e admiráveis aventuras do virtuoso da Bahia.
conselheiro Gomes, o Chalaça foi
vencedor do prêmio Jabuti em 1995.
195
AUTORIA DOS TEXTOS
MARIA GRAHAM
(Papcastle, Inglaterra, 1785 – Londres,
Inglaterra, 1842) foi desenhista,
pintora, escritora, tradutora e
editora de livros. Publicou relatos
de suas viagens pela Índia, Chile,
Brasil e por diversos países da
Europa, assim como uma série de livros
históricos e didáticos. No Brasil,
acompanhou a família real no período da
Independência do país e foi preceptora
da princesa d. Maria da Glória.
MURILO MENDES
(Juiz de Fora, Brasil, 1901 – Lisboa,
Portugal, 1975) escreveu poesia, prosa
ficcional e crítica de arte. Publicou
24 livros em vida e teve doze livros
publicados postumamente. É considerado
o maior expoente do surrealismo
literário no movimento modernista
brasileiro.
PABLO LAFUENTE
é escritor, editor e curador. Foi
cocurador da 31a Bienal de São Paulo
(2014), do projeto de pesquisa
e exposições Zarigüeya/Alabado
Contemporáneo (Museo del Alabado,
Quito, 2015–2020) e de A Singular Form
(Secession, Viena, 2014). Trabalhou como
editor para Afterall e Afterall Books, e
continua como editor da série Exhibition
Histories. Na atualidade, é diretor
artístico do Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro com Keyna Eleison.
196
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
TRABALHOS NA EXPOSIÇÃO
ANA LIRA GÊ VIANA
Recife, PE, Brasil, 1977 Couro laminado, tempo livre, 2022
Nos traquejos do tempo [vibração um], 2022 série Couro laminado
instalação com atabaque, timbau e colagem manual, ráfia tramada com
ashiko, e programa de atividades poliéster metalizado, tinta acrílica e
Área na exposição: 400 x 800 x 1000 cm caneta hidrográfica
Patrocínio Petrobras 170 x 90 cm
Colaboração: Karlene Farias, Gabriel
ARISSANA PATAXÓ Campelo e Mestre Peixinho
Porto Seguro, BA, Brasil, 1983
Hãhãw Pataxó: de que lugar você olha?, 2022 GÊ VIANA
acrílica sobre tela e adesivo vinílico Couro laminado, toada de pregões, 2022
sobre espelho série Couro laminado
Área na exposição: 250 x 315 x 610 cm colagem manual, ráfia tramada com
A obra inclui trechos do livro Viagem poliéster metalizado, tinta acrílica e
ao Brasil (1815–17), de Maximiliano de caneta hidrográfica
Wied-Neuwied. 130 x 90 cm
Colaboração: Karlene Farias, Gabriel
ARJAN MARTINS Campelo e Mestre Peixinho
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1960
Só vou ao Leblon a negócios, 2016 GISELI VASCONCELOS
acrílica, gesso, grafite, caneta Belém, PA, Brasil, 1975
hidrográfica, estêncil, sanguínea Pedro Victor Brandão
aquarelada sobre tela Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1985
663 x 313 cm Nheenga Cabana, 2022
Apoio A Gentil Carioca instalação com fotografias, publicações e
estação de leitura
ELIAN ALMEIDA 200 x 128 x 180 cm
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1994
Maria Felipa de Oliveira, 2022 Incluindo as obras:
série O que não se registra, o tempo leva
acrílica e bastão oleoso sobre tela GISELI VASCONCELOS e PEDRO
132 x 135 cm VICTOR BRANDÃO
Apoio Galeria Nara Roesler 256 cabanxs, 2022
série Nheenga Cabana
ELIAN ALMEIDA impressão em jato de tinta sobre
O mais importante é inventar o Brasil papel de algodão a partir de imagens
que nós queremos (Ganhadeiras), 2022 geradas por aprendizado de máquina
série O que não se registra, o tempo leva 128 x 128 cm
acrílica e bastão oleoso sobre tela
150 x 205 cm GISELI VASCONCELOS e PEDRO
Apoio Galeria Nara Roesler VICTOR BRANDÃO
7 de janeiro de 1835, 2022
GÊ VIANA série Nheenga Cabana
São Luís, MA, Brasil, 1986 impressão em jato de tinta sobre
Couro laminado, angu na garganta, 2022 papel de algodão a partir de imagens
série Couro laminado geradas por aprendizado de máquina
colagem manual, ráfia tramada com 128 x 128 cm
poliéster metalizado, tinta acrílica e
caneta hidrográfica GISELI VASCONCELOS e PEDRO
210 x 130 cm VICTOR BRANDÃO
Colaboração: Karlene Farias, Gabriel Edição extraordinária do Jornal
Campelo e Mestre Peixinho Pessoal – A agenda amazônica de
Lúcio Flávio Pinto, 2022
GÊ VIANA série Nheenga cabana
Couro laminado, sopro defumado, 2022 impressão offset, tiragem de 5 mil
série Couro laminado exemplares
colagem manual, ráfia tramada com 27 x 20 cm
poliéster metalizado, tinta acrílica e
caneta hidrográfica
190 x 90 cm
Colaboração: Karlene Farias, Gabriel
Campelo e Mestre Peixinho
197
TRABALHOS NA EXPOSIÇÃO
GISELI VASCONCELOS e PEDRO GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
VICTOR BRANDÃO LUCILENE WAPICHANA
Sonho cabano, 2022 Fronteira Wapichana, 2019
série Nheenga Cabana fio de algodão wapichana bordado
impressão em jato de tinta sobre sobre brim
papel de algodão a partir de imagens 47 x 71 cm
geradas por aprendizado de máquina
128 x 128 cm GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
ROSEANE CADETE WAPICHANA
GLICÉRIA TUPINAMBÁ Fronteira Wapichana: Guyana /
Ilhéus, BA, Brasil, 1982 Brasil, 2022
FERNANDA LIBERTI marcador sobre algodão cru
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1994 40 x 80 cm
Pena por pena: o manto em movimento, 2021
vídeo HD com áudio 8'57" GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
Trilha original: Glicéria Tupinambá ROSEANE CADETE WAPICHANA
Desenho de som: Hanna Weibe Mapa do Rio Branco, povo Wapichana e
a revolta da Praia de Sangue (1), 2022
GLICÉRIA TUPINAMBÁ feltro, fio de algodão bordado
Pena por pena, 2012/2022 sobre brim e cabaças
instalação com penas, cordão cru 101 x 105 cm
encerado com cera de abelha de jitaí e
uruçu, fuso de madeira, cuia de coité e GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
esferas de cera ROSEANE CADETE WAPICHANA
Área na exposição: 225 x 660 x 600 cm Mapa do Rio Branco, povo Wapichana e
Suporte expositivo: Augustin de Tugny a revolta da Praia de Sangue (2), 2022
acrílica sobre algodão cru e tecido
GUSTAVO CABOCO WAPICHANA helanca
Curitiba, PR / Território Wapichana, 166 x 114 cm
RR, Brasil, 1989
ROSEANE CADETE WAPICHANA GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
Boa Vista, RR, Brasil, 1989 ROSEANE CADETE WAPICHANA
Somos fronteiras vivas, 2022 Por onde andam nossas histórias?, 2022
instalação com vídeos, desenhos e acrílica sobre algodão cru
bordados em papel e em tecido 126 x 190 cm
Área na exposição: 350 x 800 x 550 cm Com participação de alunos da
Com participação de alunos da escola escola indígena Tuxaua Luiz Cadete
indígena Tuxaua Luiz Cadete na terra na terra indígena Canauanim (RR)
indígena Canauanim (RR)
GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
Incluindo as obras: ROSEANE CADETE WAPICHANA
Como resistimos?, 2022
GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e acrílica sobre algodão cru
ROSEANE CADETE WAPICHANA 126 x 100 cm
Somos fronteiras vivas, 2022 Com participação de alunos da
vídeo digital H264 com áudio, 11'22" escola indígena Tuxaua Luiz Cadete
Texto, criação e direção: Gustavo na terra indígena Canauanim (RR)
Caboco Wapichana e Roseane Cadete
Wapichana GUSTAVO CABOCO WAPICHANA e
Voz: Roseane Cadete Wapichana ROSEANE CADETE WAPICHANA
Imagens: Richard Nascimento, Evidência colonial: por onde andam
Gustavo Caboco e Roseane Cadete nossas histórias?, 2022
Wapichana caneta esferográfica sobre papel
Edição e cor: Gustavo Caboco 30 x 21 cm
Wapichana Com participação de alunos da
Desenho de som e trilha original: escola indígena Tuxaua Luiz Cadete
Emanuel Wapichana, Juan Cadete, na terra indígena Canauanim (RR)
Gian Cadete e Gustavo Caboco
Apoio escola indígena Tuxaua Luiz
Cadete, terra indígena Canauanim (RR)
198
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
LUANA VITRA THIAGO MARTINS DE MELO
Belo Horizonte, MG, Brasil, 1995 São Luís, MA, Brasil, 1981
Bandeira Nacional atualizada, 2018/2022 Rasga mortalha, 2019
bandeiras de cimento, lama e tecido filme em animação stop motion, 13'50"
americano cru Produção: Samantha Moreira
Área na exposição: 350 x 500 x 600 cm Trilha original: João Simas, Thierry
Tiragem: uma para cada pessoa brasileira. Castelo, Jales Carvalho, Viviane Vazzi
A obra conta com a ação performática Ladainha. Pedro e André Lucap
Nela, as bandeiras que compõem a peça são Músicos convidados: Paulinho Moura,
distribuídas para cidadãos brasileiros João Garcia e João Victor Carvalho
Colaboração e assistência Paola Rodrigues Desenho de som: João Simas, Thierry
e Augusto Hendricus Vossenaar Castelo e André Lucap
Produção e finalização de som: Deu na
LUANA VITRA Telha Audiolab
Escora para tetos prestes a desabar, Design: Raul Luna
2019/2022 Produtor associado: Renato Ranquine
caibros de eucalipto, compensado Distribuição: A Gota Preta Filmes
de madeira, cimento, lama e tecido
americano cru TIAGO SANT'ANA
Área na exposição: 350 x 500 x 600 cm Salvador, BA, Brasil, 1990
Colaboração Marcenaria Jorge da Costa Museu da Revolta Bahiense, 2022
instalação com objetos produzidos e
MARCELA CANTUÁRIA apropriados, peça de áudio, mobiliário
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 1991 expositivo e sinalização, dedicada à
Maria Felipa e a fera do mar, 2022 Revolta dos Búzios, Independência da
série Mátria Livre Bahia e Revolta dos Malês
pinturas: óleo e acrílica sobre tela, Área na exposição: 350 x 1150 x 560 cm
linha, algodão, arame, tecido e
madeira; estandartes: juta plástica,
cânhamo, lã, tinta acrílica, arame, COLEÇÃO GILBERTO CHATEAUBRIAND
miçanga, espuma e madeira; escultura: MUSEU DE ARTE MODERNA DO
tecido, espuma, plástico e arame RIO DE JANEIRO
Área na exposição: 440 x 640 cm
Colaboração das participantes da Frente GLAUCO RODRIGUES
de Mulheres Brigadistas Luciane G. S. Bagé, RS, Brasil, 1929 – Rio de
Idalino, Anna Carolina Idalino, Leila Janeiro, RJ, Brasil, 2004
Oliveira e Lavynia Vitória Rezende CATECISMO BRASÍLICO: Da criação do
Apoio A Gentil Carioca primeiro homem, 1971
série A conquista da Terra, n° 6
PAULO NAZARETH acrílica e decalque sobre tela colada
(Belo Horizonte, MG, Brasil, 1977) em madeira
Medalha de Honra [ou 49 Medalhas + 1], 2017 55,3 x 38 cm
cortinas de tecido suspensas em
estrutura metálica tubular, iluminação, GLAUCO RODRIGUES
caixas de madeira estofadas com veludo, Domingo de Pascoela, 26 de abril de
medalhas de latão, fitas diversas e 1500 "…Andava aí um que falava muito
placas de latão gravada aos outros que se afastassem, mas não
Área na exposição: 273 x 540 x 540 cm que a mim me parecesse que lhe tinham
Coleção Instituto Inhotim, Brumadinho acatamento ou medo.", 1971
A versão apresentada na exposição Carta de Pêro Vaz de Caminha do
contém 39 medalhas. descobrimento da Terra Nova que fez
Pedro Álvares Cabral a El Rey Nosso
Senhor. Carta nº 15
acrílica sobre tela colada em madeira e
decalque sobre madeira
75 x 80,2 x 6 cm
GLAUCO RODRIGUES
NA ÊNFASE DA HARMONIA, 1972
acrílica sobre madeira
72,8 x 60,2 cm
199
TRABALHOS NA EXPOSIÇÃO
GLAUCO RODRIGUES Autor não identificado
O crescimento acelerado da economia, 1972 Arco de retábulo – Atributos de Nossa
acrílica sobre tecido colado em madeira Senhora das Dores, século 18
71 x 58 cm policromia, douramento purpurinado
sobre madeira
GLAUCO RODRIGUES 228,5 x 142,8 x 21,5 cm
Quinta-feira, 30 de abril de 1500
"…Andavam já mais mansos e seguros entre nós, Autor não identificado
do que nós andávamos entre eles. …certo, Armas do Reino de Portugal em troféu,
esta gente é boa e de boa simplicidade. século 18
E imprimir-se-á facilmente neles qualquer madeira, óleo sobre madeira e ouro
cunho, que lhes quiserem dar.", 1971 205 x 161 cm
Carta de Pêro Vaz de Caminha do descobrimento
da Terra Nova que fez Pedro Alvares Cabral a Autor não identificado
El Rey Nosso Senhor. Carta nº 21 Carranca de retábulo, século 18
acrílica e grafite sobre tela colada em madeira
madeira e decalque sobre madeira 33 x 46 cm
75 x 80 x 6 cm
Autor não identificado
GLAUCO RODRIGUES Cartela de retábulo, século 18
Sexta-feira 24 de abril de 1500 douramento sobre madeira esculpida
"…mas se ele queria dizer que levaria 120 x 76,3 x 16 cm
as contas e mais o colar, isto não o
queriamos nós entender, porque não lho Autor não identificado
havíamos de dar.", 1971 Cartela de retábulo, século 18
Carta de Pêro Vaz de Caminha do policromia sobre madeira
descobrimento da terra nova que fez 95 x 68 x 14 cm
Pedro Álvares Cabral a El Rey Nosso
Senhor. Carta nº 8 Autor não identificado
grafite e acrílica sobre tela colada em Coroamento de retábulo, século 18
madeira e decalque sobre madeira policromia e douramento sobre madeira
88 x 67 cm 44,9 x 194,2 cm
200
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
Autor não identificado MARC FERREZ
Peanha de escultura religiosa – Nossa Saint-Laurent, França, 1788 – Rio de
Senhora [não identificada], século 18 Janeiro, RJ, Brasil, 1850
policromia e douramento sobre madeira Dom Pedro I Imperador do Brasil, 1826
30,7 x 64,7 x 50,8 cm bronze
76 x 50 x 30 cm
Autor não identificado
Prensa de impressão de gravuras, século
19 [TIRONE]
ferro fundido e madeira [s.l.] [s.d.]
64,4 x 55,8 x 33,7 cm Frei Francisco de Santa Thereza de
Jesus Sampaio, c. 1860
Autor não identificado óleo sobre tela e madeira
Remate de frontão de retábulo, século 18 132 x 96 cm
policromia e douramento sobre madeira
38 x 53,5 x 17 cm [TIRONE]
Frei Francisco de São Carlos, c. 1860
Autor não identificado óleo sobre tela e madeira
Remate de frontão de retábulo, século 18 129 x 95 cm
policromia e douramento sobre madeira
29,2 x 53,5 x 13,3 cm
ACERVO DO MUSEU HISTÓRICO NACIONAL
Autor não identificado IBRAM – MINISTÉRIO DO TURISMO
Talha de retábulo, século 18
policromia e douramento sobre madeira Autor não identificado
43 x 51 x 8,5 cm Brasão do Império, século 19
madeira policromada
Autor não identificado 131 x 85 cm
Talha de retábulo, século 18
policromia e douramento sobre madeira Autor não identificado
41,2 x 50,7 x 7,4 cm Placa Independência (placa comemorativa
da Independência do Brasil, baseada na
Autor não identificado tela Independência ou morte, de Pedro
Talha de retábulo, século 18 Américo), 1920
madeira bronze e madeira
8 x 19 x 7 cm 38,5 x 66 cm
201
TRABALHOS NA EXPOSIÇÃO
MAM RIO
GOVERNANÇA Ricardo Steinbruch
Rogerio Pessoa
CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO Sérgio Gusmão Suchodolski
Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand Tanit Galdeano
Presidente
Armando Strozenberg COMITÊ DE INVESTIMENTOS
Eliane Aleixo Lustosa de Andrade Edmar Bacha
Eugênio Pacelli de Oliveira Pires dos Santos Helio Portocarrero
João Maurício de Araújo Pinho Filho Luiz Chrysostomo de Oliveira Filho
Livia de Sá Baião Luiz Roberto Sampaio
Luiz Roberto Sampaio Pedro Luiz Bodin de Moraes
Nelson Eizirik
Paulo Albert Weyland Vieira COMISSÃO DE ACERVO
Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand
CONSELHO FISCAL Eugênio Pacelli de Oliveira Pires dos Santos
Cesar do Monte Pires Luís Antônio de Almeida Braga
Edson Cordeiro da Silva Luiz Guilherme Schymura de Oliveira
Ricardo Lopes Cardoso
BENFEITORES
Gilberto Chateaubriand in memoriam
CONSELHO CONSULTIVO Joaquim Paiva
Luiz Carlos Barreto
ASSOCIADOS SENIORES
Armando Strozenberg
Carlos Alberto Gouvêa Chateaubriand PATRONOS
Eugênio Pacelli de Oliveira Pires dos Santos
Gustavo Martins de Almeida PATRONOS OURO
Heitor Reis Alec Oxenford
Helio Portocarrero Cris e Marcelo Trindade
Henrique Luz Roberta e Daniel Bassan
João Maurício de Araújo Pinho
João Maurício de Araújo Pinho Filho PATRONOS PRATA
Luís Antônio de Almeida Braga Andrea e José Olympio da Veiga Pereira
Luiz Guilherme Schymura de Oliveira Camila Magnus e Roberto Miranda de Lima
Luiz Roberto Sampaio Luis Paulo Montenegro
Nelson Eizirik Mariana e Rogério Pessoa
Paulo Albert Weyland Vieira Paula Marinho e Miguel Pinto Guimarães
Ronaldo Cezar Coelho Renata e João Marcello Dantas Leite
202
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
CURADORIA PRODUÇÃO
CURADORA ADJUNTA GERENTE
Beatriz Lemos Jusele Sá
ASSISTENTE DE CURADORIA PRODUTORAS
Natasha Felix Ana Terra
Julliana Santos
MUSEOLOGIA
GERENTE COMUNICAÇÃO
Cátia Louredo GERENTE
COORDENADORA DE MUSEOLOGIA Erika Palomino
Camila Pinho COORDENADORA DE DESIGN
COORDENADORA DE CONSERVAÇÃO Amanda Lianza
Manuela Pereira DESIGNER
MUSEÓLOGA Mariana Boghossian
Ana Beatriz Cascardo COORDENADORA DE MÍDIAS DIGITAIS
MONTADORES Domi Valansi
José Marcelo Peçanha EDITOR DE CONTEÚDO DIGITAL
Noan Moreira Danilo Satou
AUDIOVISUAL
CINEMATECA Matheus Freitas
GERENTE FOTÓGRAFO
Hernani Heffner Fabio Souza
COORDENADOR DE CINEMA COORDENADORA DE PUBLICAÇÕES
José Quental Márion Strecker
COORDENADOR DE DOCUMENTAÇÃO DE CINEMA PRODUTORA EDITORIAL
Fábio Vellozo Juliana Travassos
PESQUISADOR DE CINEMA ASSESSORA DE IMPRENSA
Carlos Eduardo Pereira Mônica Villela Assessoria
ASSESSOR AUDIOVISUAL
Tiago Ferreira RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
OPERADORES CINEMATOGRÁFICOS GERENTE
Edson Gomes Paula Correia
Sidney de Mattos ANALISTAS
RECEPCIONISTA Caroline Bellomo
Karina do Valle Juliana Torres
Michèle Fajardo
EDUCAÇÃO E PARTICIPAÇÃO ESTAGIÁRIA
GERENTE Jessica Nunes
Renata Sampaio
COORDENADORA DE MEDIAÇÃO ADMINISTRAÇÃO E FINANÇAS
Lais Daflon SUPERINTENDÊNCIA FINANCEIRA
EDUCADORES Carlos Mineiro
Daniel Bruno ANALISTA DE RECURSOS HUMANOS
Shion Lucas Giselle Lima
ASSISTENTE ADMINISTRATIVO ANALISTA ADMINISTRATIVO FINANCEIRA
Ualace Miliorini Juliana Orsolon
ASSISTENTE DE PROJETOS
PESQUISA E DOCUMENTAÇÃO Janice Morais
PESQUISADORAS AUXILIAR ADMINISTRATIVO
Aline Siqueira Eduarda Seixas
Moema Bacelar ASSISTENTES DE BILHETERIA
ARQUIVISTA Brena Araújo
Cláudio Barbosa Luma Anunciação
MUSEÓLOGO ATENDENTE DE LOJA
Maurício Sales Evelin Damascena
BIBLIOTECÁRIO RECEPCIONISTA
Reinaldo Alves Fabiana Lima
AUXILIAR DE BIBLIOTECA ASSESSORA DE DIRETORIA
Flávio Augusto Leticia Nunes
JOVEM APRENDIZ SUPERVISORA DO SALÃO DE EXPOSIÇÃO
Brenda Cabral Ana Paula Pinheiro
AUXILIARES DO SALÃO DE EXPOSIÇÃO
Joice Jessica Fernandes
Jucelia de Karla Souto
203
ORIENTADORES DE PÚBLICO
Ana Beatriz Carvalho
Ana Carolina Brandizzi
Anderson Albuquerque
Dária Bento
Diego Emanuel Fonseca
Eduardo Inácio Paiva
Jefferson Borelli
Leticia Mello
Leticia Tereza
Lucas Siqueira
Patrick Magalhães
Raquel Accacio
Silvia Amancio
Thamires Santos
Vinicius Lima
OPERAÇÕES E TI
GERENTE
Cassio Pereira
COORDENADOR DE OPERAÇÕES
Vinícius Fazio
ANALISTA DE OPERAÇÕES E MANUTENÇÃO
Karolaine Lisboa
ELETRICISTAS
Edmilson Fernandes Carvalho
João Elias de Almeida
MECÂNICOS DE REFRIGERAÇÃO
Reginaldo Pessanha dos Santos
Roberto Monteiro Leocadio
OPERADOR DE AR-CONDICIONADO
Marcelo Antonio de Almeida
AUXILIARES DE MANUTENÇÃO
Antonio Marcos Araújo
Elvis de Oliveira Rodrigues
Josias da Conceição Madeira
PRESTADORAS DE SERVIÇOS
Air Service Ar-condicionado Eireli
Best Force Geradores Eireli EPP
Brasil Forte Vigilância e Segurança Ltda.
Elevadores Salta
FLEC Tecnologia
Fraga, Bekierman e Cristiano Advogados
Lacus Tratamento de Água e Serviços
Químicos Eireli
Leal, Cotrim, Jansen Advogados
Limppo MultiServiços
Olivieri & Associados - Consultoria Jurídica
Palma e Guedes Advogados
Red Safety Segurança Contra Incêndio Ltda.
204
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
PATROCINADORES ESTRATÉGICOS
Instituto Cultural Vale, Petrobras e
Ternium por meio da Lei Federal de
Incentivo à Cultura.
PATROCINADORES
B3, Eletrobras Furnas, Livelo, Mattos
Filho, BMA, Itaú, Taesa, Unipar, BTG
Pactual, Gávea Investimentos, UBS,
Wilson Sons, Aliansce Sonae, Credit
Suisse, Icatu, MRS Logística S.A.,
Verde Asset Management e Vinci Partners
por meio da Lei Federal de Incentivo à
Cultura.
AGRADECIMENTOS
Ministério do Turismo e Secretaria
Especial de Cultura.
205
ATOS DE REVOLTA
EXPOSIÇÃO SINALIZAÇÃO
Base Comunicação Visual
ATOS DE REVOLTA Gouvea Artes
Outros imaginários sobre independência
17 set 2022 – 26 fev 2023 REVISÃO E TRADUÇÃO
Sara Ramos
CURADORIA Juan-Carlos Urbina
Beatriz Lemos Ludmila Rodrigues
Keyna Eleison
Pablo Lafuente ACESSORIA EM ACESSIBILIDADE
Thiago de Paula Souza Felipe Monteiro
TRANSPORTADORA
Millenium Transportes
CORRETORA DE SEGUROS
Affinité Seguros
206
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
AGRADECIMENTOS
Aos professores Eduardo Santos Neumann
e Luiz Carlos Villalta. Ao Arquivo
Histórico do Itamaraty, Arquivo
Nacional, Arquivo Público do Estado da
Bahia, Biblioteca Nacional, Biblioteca
do Senado Federal, Instituto Moreira
Salles, Museu da Inconfidência e Museu
Histórico Nacional. A Gentil Carioca,
Alex Calheiros, Aline Montenegro,
Antônio Almeida, Atxinãy Pataxó,
Carchíris, Carlos Dale, Carolina
Carvalho, Galeria Nara Roesler, Jandir
Gonçalves, Janine Menezes y Ojeda,
Jeane Mautoni, João Paulo Reys, Júlia
Gonçalves, Kamarutê Pataxó, Kum’tum
Akroá-Gamella, Ludoviko Bütcher, Luiz
Pinto, Lívia Prata, Lúcio Flávio Pinto,
Mariana Veluk, Meruka Pataxó, Natasha
Felizi, Povo Akroá-Gamella, Povo Pataxó,
Ralph Camargo e frei Roger Brunorio.
207
© 2022 Museu de Arte Moderna do Rio de AVISO LEGAL
Janeiro, os artistas e os autores. Todos os esforços foram feitos
Todos os direitos reservados. Nenhuma para identificar os detentores dos
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Bibliotecário:
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NOTA DE IMPRESSÃO
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro Este livro foi composto com família
Av. Infante Dom Henrique, 85 tipográfica ABC Social Mono e impresso
Parque do Flamengo em outubro de 2022 pela Ipsis, miolo em
20021-140 Rio de Janeiro, RJ, Brasil papel Colorplus Fidji 80g/m2 e Papel
Tel. 55 21 3883-5600 Pólen Bold 90g/m2 e capa em papel
www.mam.rio Colorplus Tóquio 240g/m2.
208
ATOS DE REVOLTA outros imaginários sobre independência
VERSÃO DIGITAL ISBN 978-65-88670-22-4