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Cecília Bona
Cecilia Mori
Clarice Gonçalves
Débora Mazloum
Débora Passos
Gabi
Gê Orthof
Gisel Carriconde
Gustavo Silvamaral
Íris Helena
João Teófilo
Júlia Godoy
Júlia Milward
Karina Dias
Levi Orthof
LHWOLF
Lua Cavalcante
Luciana Ferreira
Luisa Günther
Luiz Olivieri
Maria Eugênia Matricardi
Maurício Chades
Nina Maia
Raquel Nava
Rômulo Barros
Silvino Mendonça
Tatiana Duarte
Thalita Perfeito
Ap o io:
Organização
Cecilia Mori
Júlia Milward
Karina Dias
Silvino Mendonça
Yana Tamayo
Brasília / DF
Programa de Pós-graduação em Artes Visuais - PPGAV
Universidade de Brasília - UnB
Dezembro de 2020
R937 Rumor [recurso eletrônico] / organização, Cecilia Mori … [et al.] ;
curadoria: Yana Tamayo. — Brasília : Universidade de Brasília,
Programa de Pós-graduação em Artes Visuais, 2020.
2 t. : il.
CDU 7(817.4)
salvo engano o futuro não se imprime
como o passado nas pedras nos móveis no rosto
das pessoas que conhecemos
o passado ao contrário dos gatos
não se limpa a si mesmo
aos cães domesticados se ensina
a andar sempre atrás do dono
mas os cães o passado só aparentemente nos pertencem
pense em como do lodo primeiro surgiu esta poltrona este livro
este besouro este vulcão este despenhadeiro
à frente de nós à frente deles
corre o cão
Como forma de tornar visível a rica e ativa produção artística no Distrito Federal, Rumor reúne obras de 29
artistas do Distrito Federal. Neste espaço partilhado dentro e fora das galerias, articulam-se trabalhos que fazem
emergir simultaneamente experiências de campos de pensamento, de crítica, formação, experimentação e
circulação nos quais se ancoram a construção de circuitos ativos de cultura, pesquisa, educação e a possibilidade
do diálogo entre linguagens, territórios e gerações de artistas.
A noção que emerge do título da exposição volta-se a uma imagem que sugere ruído ou divergência, dissensos
resultantes do encontro de diferenças. Como múltiplas vozes projetando-se simultâneas e indistintas num
espaço comum. As obras expostas negociam suas posições no espaço entre acordos e dissonâncias, apontando
para partilhas que extrapolam o espaço da galeria e dirigem-se ao espaço no qual é tecido a vida comum.
As obras dialogam com nosso olhar suscitando inúmeras interpretações e aproximações. Solicitam que Atravessar territórios, voluntária ou involuntariamente é parte da história da humanidade desde seu surgimento
percebamos seus gestos, suas possibilidades de inscrição material no espaço. De alguma forma, os desenhos e na Terra: nossa forma de conhecer, subsistir, caminhar e habitar o espaço dizem muito sobre a forma como
esculturas de LWWOLF pedem que busquemos compreender a repetição de formas como ferramenta poética decidimos negociar nossa existência na natureza. Evidenciar as diferenças de escala existentes entre nós e as
– o artista amplia manualmente desenhos feitos originalmente com 1,5 cm. Em Quedas de uma linha própria, dimensões longínquas dos horizontes de terra e água nos faz pensar novamente sobre nossa própria dimensão
instalação com borrachas pretas e desenhos feitos com bastão a óleo, Cecilia Mori evidencia o desenho como no todo. Mas afinal, o que é o todo?
campo de pensamento, trabalho, esforço e inscrição expandida no espaço. Podemos sentir o peso das linhas
que pendem pela parede ao passo que também se poderia perceber o papel como espacialidade onde os nós A obra de Débora Mazloum coloca no centro da galeria principal bússolas desorientadas pela presença de
atam-se antes de vir o espaço. A matéria que salta quase viva diante de nós e evidencia seu embate com a campos magnéticos e limalha de ferro. Karina Dias caminha num filete de água aprisionado entre duas porções
superfície está também presente na pintura Sem título, de Raquel Nava. de terra. Seu corpo demarca uma extensão imaginária, apenas possível pelo artifício da câmera. Nina Maia
desliza em outra paisagem: um mar feito de porções isoladas de azuis-crepe infinitos, um oceano destacado e
De maneira formal e conceitual, os campos da pintura e da escultura são tratados também por Gustavo colorido pela memória do tempo e de todos os azuis marítimos. Este mesmo mar que une continentes, separa
Silvamaral, Gisel Carriconde, Raquel Nava, em Poças, e Cecília Bona, em Exercícios de espera. Trabalhos que porções de terra, fronteiras delimitadas em Aterramento em alto mar, de Cecilia Mori. Já os trabalhos de João
nos apontam o equilíbrio sempre provisório entre os objetos no mundo, entre sujeitos e sociedades em sua Teófilo e Maurício Chades dialogam com as fronteiras invisíveis que demarcam territórios no espaço urbano,
diversidade e contingências. Gisel aponta para o sistema de validação da arte como espaço de pensamento, de assinalando coisas que passam desapercebidas ao nosso olhar no fluxo cotidiano.
criação simbólica, mas também como espaço a ser pensado em sua frágil condição de mercadoria.
Íris Helena possibilita com seu trabalho um contato nosso sistema de produção de memórias coletivas; entre
Ao centro da galeria, outros trabalhos apresentam, pela perspectiva dos corpos representados, as relações de ruínas e monumentos, questiona as formas instituídas de memória e os esquecimentos calculados. Também
poder que os atravessam constantemente moldando sua existência. Seja nas pinturas de Clarice Gonçalves, Alina Duchrow e Silvino Mendonça partem do documento histórico como fonte de pesquisa para fazer emergir
nas fotografias de Lua Cavalcante, nas fotografias de rostos curvados de Julia Milward, na instalação de Rômulo relatos apagados. A mudança de modos de ver e a desaparição da experiência do cinema tal qual conhecemos
Barros ou nas fotografias de Maria Eugênia Matricardi, o corpo feminino surge como interlocutor de memórias em sua origem nos traz uma reflexão sobre os modos de representação da sociedade no presente. Em Se me
de apagamentos, mas também como instância primeira de resistência, deleite e abrigo. encontrar parado, me empurre para o meio, Alina expõe um fragmento da história de desamparo e esperança
de milhares de pessoas que migraram para a Amazônia durante os ciclos da borracha. Entre histórias de extravio
Se pensarmos que os corpos carregam também o lastro de cartografias afetivas, tanto na obra Fissuras, de e desaparição, as poéticas podem, como na Arqueologia, aproximar-se da história a fim de encontrar narrativas
Rômulo Barros, como nos desenhos bordados com linhas de algodão e fios de cabelos de mulheres (série Seio), que se escondem nas lacunas e vazios das grandes narrativas.
de Débora Passos, emerge a relação com uma linhagem de afetos transmitidos e com narrativa dos espaços de
construção do feminino na sociedade. Ainda lidando com essa memória constantemente em trânsito, Tatiana Luisa Günther, Levi Orthof, Thalita Perfeito nos convidam a olhar para o cotidiano com humor e abertura para
Duarte nos apresenta duas pinturas em encáustica sobre fotografia que lidam com deslocamentos e a força o imprevisível que é sempre o que há de preciso. Nos fazem pensar, entre outras coisas, nas possibilidades do
necessária para fazer travessias no tempo. Em Erupi, um vulcão manifesta sua força, como a vida normalmente corpo como interventor e criador de fendas momentâneas no real: como percebemos as intervenções urbanas,
invisível e subterrânea extravasa o que não pode ser mais contido, a fim de encontrar novo equilíbrio. a escuta do cotidiano, dos edifícios e dos pássaros que habitam o mesmo espaço que nós. Poderíamos nos
imaginar como parte de um conjunto em movimento coordenado, partitura do acaso coreografado? Luiz Olivieri
também evoca nossa confiança nos sentidos em Espaço Ressonante: ao entrar numa caixa compartimentada,
que possamos estar atentos à complexidade que sempre envolve uma experiência sonora.
Muitos destes trabalhos não tocam a realidade de maneira literal; exigem de nós que possamos destacar
as coisas de seu contexto e re-imaginá-las como formas nunca vistas, como ações no tempo, manchas ou
construções. Ainda é possível que nos deparemos na galeria com uma língua inventada, a fim de nela tentar
apreciar sua melódica diferença incompreensível. Cada encontro com os trabalhos demanda de nós um esforço
e engajamento corporal: em toda linguagem há corpo, memória e há palavra. Os trabalhos de Júlia Godoy,
Luciana Ferreira e Gabi nos convidam a pensar a palavra e o espaço em seu grau máximo de estranhamento.
Chamam a deslocar o hábito como necessidade vital a fim de manter viva a linguagem, criar universos diversos.
Numa obra imersiva como a instalação HA-gaz-AH, de Gê Orthof, nos deparamos com a iminência do fogo
que ameaça devorar as árvores, os museus, os animais, os livros, as histórias, a louça sobre a mesa, as imagens
e nossa própria memória. Realizado em 2014, este trabalho abordava inicialmente o aumento das tensões no
Oriente Médio naquele ano. Reeditado em 2020, a instalação reaviva seus sentidos trazendo à tona um estado
de alerta constante. Ao mesmo tempo, a obra suscita os gestos inimagináveis de solidariedade que podem
surgir a fim de guardar memórias compartilhadas valiosas. Como no filme Farenheit 451, obra de Ray Bradbury
filmada em 1966 por François Truffaut, num futuro hipotético, toda forma de escrita e literatura foi condenada
à fogueira. Para salvar os livros, cada habitante de uma sociedade secreta decide decorar um livro. “Decorar”,
que significa guardar com o coração. O coração já foi considerado o órgão responsável pela memória. Se é
possível guardar com o coração aquilo que de valioso encontramos no interesse público da arte, que possamos
rememorar a fim de não esquecer, compartilhar a fim de multiplicar, trazer à público a fim de dialogar. Porque
o tempo corre.
Yana Tamayo
Alina d’Alva Duchrow
Alina d’Alva Duchrow nasceu em Fortaleza- CE – Brasil, vive e trabalha em Brasilia. Arquiteta
e artista visual, fez Pós-graduação em artes visuais pela Universidade Alanus Hochschule,
Bonn, Alemanha e graduou-se em Arquitetura e Planejamento Urbano pela Universidade de
São Paulo – EESC USP. Atualmente é doutouranda do Programa de Pós- graduação em Artes
Visuais da UNB.
No final do século XIX e primeira metade do século XX milhares de cearenses foram iludidos
com promessas de uma vida de abundância nos seringais da Amazônia e para lá migraram,
sendo utilizados como mão de obra escrava para servir aos interesses da indústria internacional
que demandava o látex. Eram impossibilitados de voltar à sua terra natal pelas relações
coercitivas de sujeição ao dono do seringal. O Vídeo “ Quem me encontrar parado me empurre
para o meio” narra a história de um barquinho que carrega uma carta de uma cearense isolada
no interior da mata amazônica com preces e oferendas a São Francisco de Canindé.
Cecília Bona
Cecília Bona é artista visual, pesquisadora e professora. Em seu trabalho propõe objetos e
instalações que promovem a experiência de fenômenos perceptivos e imensuráveis. Sua
pesquisa é direcionada pelo interesse na luz, no tempo e no espaço. Explora a materialidade
como potencial artístico e trabalha com os mais diversos utensílios, apetrechos e suportes.
Bacharel em Desenho Industrial pela Universidade de Brasília com habilitação em Projeto de
Produto e Programação Visual. Mestre em Artes Visuais pela Universidade de Brasília, na linha
de Poéticas Contemporâneas.
Harmonia à beira do caos. Um frágil equilíbrio visual que cria a expectativa de um fim. A espera
do desmoronamento que incorre em desconstrução visual e destruição dos objetos.
Cecilia Mori
Artista plástica, pesquisadora doutora, com Prêmio UnB de Teses na área de Artes. É professora
do Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília onde pesquisa a mentira como
verdade poética. Premiada no Salão de Artes Visuais do MAB, possui obras no acervo do Museu
Nacional e da Casa da Cultura da América Latina-UnB. Investiga o orgânico e o inorgânico em
diferentes linguagens artísticas e experimenta materiais ordinários na sua potência poética e na
(de-)formação plástica com pseudo-métodos.
Em Aterramento em alto-mar, as cidades que têm sua terra coletada remetem ao percurso
traçado pelas famílias portuguesas que migraram para o Brasil. A obra busca resgatar os laços
familiares sem perder de vista o desequilíbrio afetivo instaurado nos encontros culturais. A
porção de terra armazenada forma uma cápsula da cidade e, enquanto uma amostragem, essa
terra evoca toda a ancestralidade. Ao mesmo tempo em que a história familiar se confunde com
a história da cidade, as terras guardadas se apresentam com a força atemporal da Pintura. A
verticalidade proposta pela montagem da obra sugere, ainda, a visão hierática dessa matéria-
cor, das terras enclausuradas, que cotidianamente são experimentadas na sua horizontalidade,
como o piso por onde andamos.
Com a peneiração dos solos coletados, as matérias (pedregulhos, gramas, minhocas e afins)
encontradas são descartadas e aquilo que poderia identificar essa porção de terra como um
determinado território é retirado, permanecendo apenas o pigmento, a pintura pulverizada.
Essa poeira, que antes fora terra, se torna uma pequena vitrine de cor com a desmaterialização
física do território. Enquanto vitrine, atiça o olhar mas impede o tato. Enquanto vitrine-objeto,
isola mas guarda a poeira-pintura. Ao ser deslocado de seu espaço originário, essa terra,
agora encapsulada, evidencia a reverberação da memória que, apesar de minha, a existência
me precede. Por fim, o esvaziamento potente do corpo pictórico se associa ao esvaziamento
de referência com as imagens fotográficas, fixadas ao lado, que mostram uma paisagem
desconhecida e descontextualizada da paisagem bem conhecida da Esplanada dos Ministérios
de Brasília. Com seu solo coberto de granizo, geada e até neve, como noticiou um jornal local
sobre o evento raro em outubro de 1964, o cartão postal da cidade é obliterado. Ainda uma
cidade por vir, mas já habitada. Mesmo assim desértica.
Queda da linha própria
Em Queda da linha própria, de 2020, apresento uma instalação de parede construída de dois
emaranhados de borrachas e uma linha horizontal de desenhos desses enlaçamentos e nós feitos
em pastel oleoso preto. O primeiro grande nó de restos de borracha de refrigeração e automotiva
é, na verdade, uma queda ou uma cascata em direção ao piso da galeria enquanto o segundo
parece executar um outro movimento, no espaço do entre o piso e o teto. Provavelmente,
se não houvesse os desenhos como horizonte abaixo, o agrupamento de borrachas à direita
pareceria flutuar, se desprendendo de todo o contexto e, com isso, perdendo ou enfraquecendo
sua conexão com a materialidade que o compõe. Dessa forma, a presença física marcada pelo
traço grosso e opaco do pastel preto reforça a noção de chão necessária para que o emaranhado
da direita possa parecer se lançar após um tropeço, pois com a referência do piso (ou tendo o
horizonte como obstáculo), o céu é construído.
Essa ambiguidade que a noção chão impõe acaba por estabelecer uma proposição paradoxal
entre a ascensão e a queda. E ainda o céu, criado a partir do que foi estabelecido como chão,
parece não ter limite (nem físico nem simbólico). Assim, o encontro com ele não apenas não
estatela um corpo como é impossível, pois é postergado a cada pé subido em sua direção.
Clarice Gonçalves
Alina d’Al Nascida no DF em 1985, Clarice Gonçalves se graduou em Artes Visuais pela UnB em
2008, e vem expondo sua pesquisa em pintura desde 2005. Possui obras na Casa das Américas,
em Havana-Cuba, no acervo do Museu de arte de Joinville, SC, na Galeria de Arte da Universidade
de Goiás (FAV),GO. Vem realizando regularmente mostras individuais em Brasília e Outros Estados
do Brasil. Em 2019 Idealizou e executou o projeto Matriz, composto de uma mostra individual da
artista apresentando obras sobre seu puerpério, com curadoria de Cinara Barbosa e em paralelo
realizou a orientação, acompanhamento e curadoria de um ateliê convocado por edital aberto
para artistas mães convidadas a produzir sobre a temática de suas vivências com a maternidade.
Os trabalhos resultantes foram expostos paralelamente a mostra de Clarice, no Museu Nacional
da República em Brasília. A obra de Clarice é representada em Brasília pela Galeria Referência e
em São Paulo pela Galeria Almeida Prado. Foi criada, vive e trabalha em Taguatinga – DF.
A outra pintura que se avizinha a esse universo é intitulada Ou seja, a cultura bebe e vomita do
mesmo contexto, dessa vez uma mulher indígena está deitada, um feixe de luz urbana, quadrada
e uniforme lhe banha o rosto. Não se sabe ao certo se sofreu um golpe fatal, ou está dormindo. É
assim que vejo nossas populações originárias desde sempre nesse Brasil, ainda mais agora nesse
momento de extermínio patrocinado pelo Estado. Não que estejam passivos, mas, nessa cena,
espero que seja um sono, que possa acordar e ver que das cinzas a nutrição rebrota, que o inimigo
agora visível por seus atos deploráveis não tenha mais onde se esconder nessa sociedade, nem
mesmo dentro de cada um de nós. Que enquanto sociedade tomemos consciência de quanto
nossos hábitos de consumo fomentam cruelmente mortes e destruição.
Débora Mazloum
Débora Mazloum, artista plástica, mestre em Processos Artísticos Contemporâneos pela UERJ
em 2016. Nascida no Rio de Janeiro, atualmente vive e trabalha em Brasilia, onde teve sua filha
Maitê. Ao longo dos anos, os deslocamentos entre cidades feitos pela própria artista assim como
pela sua família reverberaram em sua pesquisa questões relacionadas a imigração, a colonização
botânica e ao modo de ver e entender a história.
O polo norte geográfico difere do polo norte magnético. Essa diferenciação, ocorreu por conta
da convenção que países imperialistas estabeleceram desde a época dos descobrimentos e
impuseram sobre os outros a idéia de que eles seriam a referência , de que eles seriam o lugar
para o qual se quer ir, o norte. Entender esse pensamento é fundamental para que possamos
criar novas narrativas acerca do nosso lugar no mundo, do sul global e nos recolocarmos no
nosso centro narrativo, seja ele geográfico, seja ele interno. Nessa medida, o trabalho pretende
estabelecer uma relação paralela com uma idéia de espaço geopolítico junto com o espaço
da micropolítica, através da criação dessas novas bússolas que serão colocados em pequenos
objetos que usualmente temos em casa como um vaso, uma saboneteira ou uma forma de
bolo. Assim a instalação de objetos busca descentralizar a idéia de norte, a partir de agulhas
de aço colocadas sobre uma camada de limalha de ferro que atuam no campo magnético de
modo a tirar o magnetismo da bússola e dos ponteiros de aço (construídos especialmente para
o trabalho). Sem a indicação do ponteiro podemos realmente apontar e sugerir outras direções.
Débora Passos
O trabalho é feito com técnicas de bordado livre, utilizando fios de cabelo de minha mãe, os
meus, os de outras mulheres e outros tipos de linha.
Gabi
Gabi é artista visual e professora na rede pública de ensino do Distrito Federal. Desenvolve
trabalhos utilizando a materialidade do ambiente em que está imersa, estabelece relações
com o tempo e a efemeridade, percepções sutis da obra situada no espaço e noções de
paisagem. Expõe regularmente desde 2010, e integra o grupo Espaços da Escrita. Vive e
trabalha no Distrito Federal.
esboço, 2020.
Papel vegetal, fio de nylon, linha de algodão e fita adesiva
Instalação
Dimensões variáveis
Desenho a mão livre. Mãos livres para tatear a linha, os planos, a superfície. Amassar folhas
que saem do interior de outras folhas. O vazio deixado na parede, um quadrado. Na superfície
do papel habita o som da chuva. A matéria abriga estados e transformações. Entre uma coisa
e outra, o desenho se estabelece sutil. Demarcação transitória. O olhar apurado evapora a
distância, falhas na exatidão.
Gê Orthof
HA-gaz-AH, 2014-2020.
Instalação. Dimensões variadas.
Coleção Onice Moraes e José Rosildete de Oliveira
A instalação busca tensionar as questões da faixa de Gaza com o fascismo que se alastra como
um grande barril de pólvora pelo mundo afora. Uma narrativa é desfiada de forma não literal,
entremeando citações do livro Fahrenheit 451 de Ray Bradbury e memórias pessoais da ditadura
civil/militar no país. Tudo está por um triz.
Gisel Carriconde
Gisel Carriconde Azevedo é graduada em artes pela Universidade de Brasília, com mestrado e
doutorado na Inglaterra (University of Brighton e University of East London). Entre 2000 e 2016,
atuou como designer de exposições no Museu de Valores, direcionando sua atenção para as
relações entre objeto, espaço e público. Trabalha desde 2003 com instalações onde incorpora uma
série de práticas museológicas, explorando o uso do objeto e da linguagem na (des)construção
do conhecimento. Desde 2014, está a frente do deCurators, um espaço de arte independente
voltado para experimentações no campo da expografia e da curadoria.
As pedras Object Trouvé (França), Gesamtkunstwerk (Kassel) e Bienalle (Veneza), fazem parte de
uma coleção de pedras coletadas em viagens. Inseri-las no circuito de arte como objetos, gesto
que celebra/ironiza minha relação (desajeitada) com a natureza.
Gustavo Silvamaral
Gustavo Silvamaral nasceu em Brasília em 1995. Graduado em Artes Visuais pela Universidade
de Brasília, participa desde 2015 do grupo de pesquisa Corpos Informáticos coordenado
por Bia Medeiros, e também é assistente da artista Iracema Barbosa. A pesquisa do artista
vem se desdobrando em uma série de ações, objetos, instalações, desenhos e pinturas. A
pictorialidade, ou seja, os elementos e formas de representação fundamentais da pintura que a
tornam um meio específico de produção e circulação de imagens e imaginários são esmiuçados,
tensionados e aprofundados no processo do artista.
Coisamarela, 2019.
Instalação
Vinil adesivo, lâmpadas tubulares, concreto, lacre plástico, tinta pva, esmalte sintético, papel,
metal, fita adesiva, tubos de papelao, saco plástico, madeira.
Dimensões variáveis
Rumores sussurrados no meu ouvido.
Que ano difícil. Me falaram que podia piorar, eu imaginava que as coisas poderiam se complexar
cada vez mais, porém não esperava tamanho descompasso com as expectativas do que eu tinha
sobre esse ano. Escrevo esse texto com alguns meses passados desde a exposição Rumor e
muita coisa mudou nesse meio tempo, mais até do que eu podia imaginar. Vários dos rumores
que motivaram a exposição se tornaram realidade, outros que a gente nem imagina que podia
ser real, também. Estou bem, mas em cacos ao mesmo tempo, e o coisamarela me contempla
bastante com isso.
Esse trabalho é formado por uma área delimitada pelo piso, utilizando vinil adesivo na cor amarela
como sinalizador deste lugar. Nele dispus uma série de esculturas e objetos vindo de destroços da
sociedade contemporânea, restos descartados por outras pessoas que vou acumulando em meu
atelier. A eleição desses cacos se dá pelo acaso do encontro, a caminhada é um instrumento para
a minha pesquisa em artes, preciso me deslocar para colocar meu corpo de encontro com esses
resíduos. Com o tempo cacos isolados encontrados em tempo e lugares diferentes se unem, se
transformando em um novo objeto.
Iris é uma artista multidisciplinar licenciada em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba,
Mestre em Poéticas Contemporâneas e doutoranda em Deslocamentos e Espacialidades em
Arte Contemporânea pela Universidade de Brasília. Sua pesquisa caracteriza-se pela investigação
crítica, filosófica, estética e poética da paisagem urbana a partir de uma abordagem dialógica
entre a imagem da cidade e as superfícies/suportes escolhidos para materializá-la. Os suportes
precários e ordinários são muitas vezes retirados de seu consumo cotidiano e possibilitam a (re)
construção da memória atrelada ao risco, a instabilidade, sobretudo, ao desejo do apagamento.
Iris Helena também é integrante do grupo de artistas pesquisadores VAGA-MUNDO: poéticas
nômades vinculados a Universidade de Brasília (CNPq). O Grupo realiza residências e expedições
pensando geopoética e poéticas da paisagem.
Fundação foi uma intervenção feita na quadra 207 Norte, mais conhecida "quadra vazia”. No
Plano-Piloto o terreno destinado à "Superquadra 207 norte", pertencente a Universidade de
Brasília, tornou-se lugar de projeção e especulação imobiliária, sem que nada fosse construído no
espaço de fato. O projeto pretendeu inaugurar uma espécie menir que anunciaria uma quadra-
devir inexistente. O local recebeu, dia 1 de julho de 2017, a ação de inauguração de uma réplica
idêntica de um totem de concreto, símbolo da sinalização da cidade de Brasília, como marcador de
localização dos blocos nas superquadras de Brasília com os dizeres SQN 207 BLOCO A. O totem
nesta paisagem é o primeiro "bloco" e primeira ação desta série fundacional dentro de uma cidade
tombada; A intervenção durou 12 dias e foi completamente vandalizada e destruída por passantes.
Um monumento e uma ruína; projeção de futuro e falência dessa estrutura simultaneamente.
Na mostra RUMOR o projeto fundação é exibido em caráter de registro que consiste em apresentar
4 imagens da ação/intervenção artística em 4 momentos distintos de sua duração.
João Teófilo
João Teófilo é brasiliense por usucapião, possui graduação em Arquitetura e Urbanismo (2010) e
bacharelado em Artes Visuais (2015), ambos pela Universidade de Brasília, atuando em ambas
as áreas. Atualmente é mestrando da linha de pesquisa Espacialidades e Deslocamentos do
programa de pós-graduação do Instituto de Artes da UnB.
Arborícolas, 2017-2019.
Grafite sobre papel;
12 desenhos de 38 x 28 cm cada
montagem variável
Arborícolas
À maioria dos transeuntes, entorpecidos pelo ritmo dos afazeres cotidianos, permanecem
invisíveis. Aqui e ali, trepados nas árvores, toda sorte de objetos. Cadeiras e bancos, em
especial, têm uma propensão natural para a vida arborícola. Há também coisas misteriosas,
de finalidades desconhecidas.
Nascida na Baía de Guanabara, criada nas margens do Paraíbuna, atravessou o oceano atlântico
até a Seine, desaguou no Rhône e praticou três anos de Stand Up Paddle no Lago Paranoá.
Atualmente faz viagens em torno do próprio quarto.
Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora [BR] e em Artes
Plásticas pela Université Paris 8 [FR]. Mestre em Fotografia Contemporânea pela École Nationale
Supérieure de la Photographie [FR] e em Artes Visuais/Poéticas Contemporâneas pela Univer-
sidade de Brasília [BR]. Doutoranda em Artes Visuais/Deslocamentos e Espacialidades pela
Universidade de Brasília [BR].
Renomes, 2016-2019.
Fotografias Digitalizadas / Imagens de Arquivo / 8 fotografias
Dimensões variáveis
Instalação: 700x350 cm
Renomes
“Ele a cobria – como um lençol, como uma mortalha, como um biombo. Ela não tinha existência separada.”
Rebecca Solnit.
As taxas de feminicídio no Brasil aumentam a cada dia, a maior parte dos crimes são cometidos pelos maridos ou
ex-companheiro. As razões parecem repetir modelos, de um roteiro pré-estabelecido socialmente, seja pela não
aceitação do comportamento da esposa (o ciúme-posse confundido com amor) ou o fim daquela relação. A base
desses ataques tem relação estreita com o fato das mulheres ainda serem compreendidas como propriedades
dos homens, sintoma que podemos notar nas imagens produzidas, nas representações que surgem dentro das
falas cotidianas (Mulher, minha não faz isso), no controles dos corpos (a roupa que define caráter), nas imagens
presentes, como, por exemplo, na fotografia (forma predominante de representação social do século XX).
E existem outras inúmeras formas de fazer uma mulher desaparecer, uma delas é através do sobrenome. A
substituição do nome apaga a genealogia da mulher e até sua próxima existência. Na linguagem oral restam
resquícios dessa relação de posse, quando, por exemplo, a mulher deixa de se chamar Carolina da Silva e passa a
ser Sra. Mario Peixoto.
Na série “Renomes” apresento fotografias retiradas das colunas sociais dos anos 50 e 60, onde os rostos
estampados das abastadas mulheres aparecem acompanhados das legendas que as nomeiam: Sra. Embaixador
Luiz Bastian Pinto, Sra. Conselheiro Paulo Paranaguá. Trocam o nome próprio pelo status do bom casamento, se
curvam para o outro perdendo, assim, a própria identidade.
Para propor o diálogo sobre essa forma de apagamento das mulheres com o público, as 8 fotografias da série
foram impressas em tecido sintético em grande formato e foram fixadas de forma em que a parte superior da
imagem fique sempre projetada para o chão (remetendo o gesto de submissão), quando os rostos tentam se
reerguer caem novamente o olhar sem identidade.
Júlia Godoy
Nasceu no interior de São Paulo em 1984 e vive em Brasília há uns sete anos. Formou-se em
Letras-Russo pela USP e fez mestrado em Artes Visuais na UnB. Sua pesquisa e produção
artística gravitam em torno das questões da linguagem e de como imagens e escritos orbitam o
universo da língua. Quase tudo nasce no balcão da cozinha perto de livros, lápis, gata e coleções
de cacarecos. Gosta de desenhar, de estudar alquimia, de ler poesia e fazer anotações sobre tudo.
Até sobre a Lua. E, por essa razão, acumula caderninhos e os perde constantemente.
Tomei emprestado o conceito de Rainer Maria Rilke. Talvez porque eu sinta e saiba intuitivamente
que o barulho da minha língua nativa já tenha tentado de tudo – ela tenta e quer, porém, se
esgota. Histórias e idiomas diferentes fazem uma aproximação sobre a imponderabilidade dos
corpos e da queda livre dos deuses pelo espaço: as coisas existem por si só apesar da língua
e apesar de nós. A linguagem tem uma capacidade ambígua de explicar ou de fazer o silêncio
imperar. E aí reside a angústia.
Karina Dias
Karina Dias (Brasília, 1970) Artista visual e professora do Departamento de Artes Visuais da
Universidade de Brasília, atuando na graduação e pós-graduação. Pós-doutora em Poéticas
Contemporâneas (UnB), Doutora em Artes pela Université Paris I – Panthéon Sorbonne. Trabalha
com vídeo e intervenção urbana. É autora do livro: Entre visão e invisão: paisagem (por uma
experiência da paisagem no cotidiano). Coordena o grupo de pesquisa vaga-mundo: poéticas
nômades (CNPq). Sua pesquisa está centrada nas poéticas da paisagem e da viagem, na
geopoética, nos processos de produção artística, no lugar e seus modos de imaginação.
www.karinadias.net
cargocollective.com/vaga-mundo
Orla, 2018.
vídeo-projeção, 6min21seg
câmera e edição: Albert Ambelakiotis
Orla é uma vídeo-projeção que apresenta a extremidade do Lago Paranoá em Brasília. Vemos a
artista, à pé, indo e vindo, cruzando esse espaço limítrofe que a separa da água e das embarcações
que cruzam a estreita faixa filmada. Cria-se aqui, pelo fluxo das imagens, uma espécie de tempo-
paisagem constituído pelo percurso da artista, pelo movimento do/no lago e pelo estranho
espaço que os circunda. Orla-bucólica, orla-artifício.
Levi Orthof
Cabineiro, 2019-2020.
Caixa de som portátil, player de música (contendo música de elevador), performance.
LHWOLF
Leopoldo Wolf, artista plástico de Brasília com produção focada no desenho em série. Bacharelado
em Artes Visuais na UnB, pós-graduação em Ilustração Aplicada no IDEP e mestrado em
Estudos Comparados na UPF, ambas em Barcelona. Desde 1994, participa em várias exposições.
Recentemente, destaca-se 100 anos de Athos Bulcão. itinerante entre Brasília, Belo Horizonte,
São Paulo e Rio de Janeiro.
peso, 2017-2019.
tamanhos variados
porcelana fria
Do projeto de criar formas por meio dos procedimentos mais simples, como amassar uma
massinha. Gerar uma bola com as duas mãos para dar a liga no material. A bola estica numa tripa
que, logo, ganha uma curva e, de repente, está pronto! Surgindo de modo espontâneo, sem plano
prévio, a riqueza da forma aparece nos detalhes que fogem ao controle. Meu objetivo era enfrentar
a ansiedade com o estudo histórico, em parceria com alguma experimentação de movimento. Foi
isso o que me levou a enrolar bastonetes e ver a forma que sai. Quis elaborar objetos relacionais
orientados a um conceito de dança reduzido ao ato de segurar. Alguns dos objetos expostos na
Rumor foram criados por influencia da manipulação da linha elástica de porcelana fria durante um
exercício de movimento corporal. Entretanto, a motivação inicial se transformou rapidamente. Na
subsequência, as formas pareceram reafirmar a questão da auto-similaridade.
Seleção da serie Jeito Maneira com desenhos geométricos, realizados entre 2015 e 2018, contando
com 27 desenhos em tamanho dinA4 dispostos em três linhas de nove desenhos cada, mais um
desenho maior, que é uma versão ampliada de um desses desenhos para o tamanho dina1.
peso
Lua Cavalcante é educadora, artista e aleijada. Lua é tudo o que cabe em seu corpo e também é
impulso para que caiba o infinito.
Uma ausência que se faz presente como haste que perfura, como a máquina de costura
percorrendo toda a extensão do tecido, cada passo é um buraco que se abre. Eu me
encarrego de colocar a linha na agulha para que essa fissura seja adornada e se cure. Meu
corpo. Ora agente, ora receptor da apertura, do alinhavo, do buraco.
É como agulha que fere para juntar bordos de um corte, ferida ou incisão com linha para
promover a cicatrização.
Luciana Ferreira é graduada e doutoranda em artes visuais pela Universidade de Brasília (DF).
Expõe seus trabalhos desde 2011, já tendo participado de exposições individuais e coletivas em
diferentes lugares, algumas selecionadas por editais. Grande parte de seus trabalhos investiga o
que tem chamado de uma língua mal-dita, envolvendo processos subversivos de escrita, leitura
e intervenções em livros.
Leitura II é um trabalho integrante de uma série de ações, registradas em vídeo, que propõem
a experiência da leitura por meio de processos não convencionais, subvertendo o seu conceito.
Em Leitura II, um livro de poemas é lido de cabeça para baixo, fazendo com que uma língua
inimaginada emerja. Um ambiente sonoro repleto de palavras inventadas toma conta do ouvinte,
envolvendo-o em uma atmosfera de sons mais ou menos familiares, mas que nascem de
palavras desconhecidas que não costuram nenhum sentido. Tudo se passa como se aquele que
escuta essa leitura testemunhasse uma língua inexistente.
Luisa Günther
luisagunther.com
duplaplus.com
Tem dias em que a gente percebe estar emaranhado do mais puro torpor. Os pensamentos
nos denunciam. Os sentimentos mitigados, escorrem pelas entranhas como se bastasse
sorrir para que o mundo não se corrompesse em lágrimas. Este dia foi assim. Talvez tivesse
sido a feijoada. Talvez tivesse sido a despedida. Talvez, fosse apenas algo da instância
do político. Ou nada disso. Só sei que esta imagem é apenas mais uma herança que se
apresenta da intenção de dissolução entre corpo e paisagem.
Maurício Chades é artista visual e cineasta piauiense. Mestre em Arte e Tecnologia e Bacharel
em Audiovisual pela UnB, cursa um MFA na SAIC School of the Art Institute of Chicago, no
departamento Film, Video, New Media and Animation. Fluxos de matérias, rituais de morte,
ficção especulativa, relações interespécie e tensões territoriais são temas que orbitam seu
trabalho, que assume diferentes formas a cada projeto – entre filme, instalação, escrita, bio-
arte-e-tecnologia e performance. Participou de exposições coletivas e exibiu filmes e vídeos
em festivais nacionais e internacionais. Em 2019 apresentou sua primeira exibição solo,
Pirâmide, Urubu, na Torre de TV Digital de Brasília.
O reflexo da luz em discos de DVD progride formando um espectro de um arco-íris pelo vapor
d’água de um umidificador de ar.
TERRA[CAP], 2019.
Instalação
Galhos de árvore morta, mourão e vídeo-projeção mapeada sobre objeto
Dimensões variáves
Morando na Serrinha do Paranoá por anos que percebi os conflitos territoriais entre
governo e a população local. As terras aqui têm a posse requisitada por três instâncias:
o governo do Distrito Federal, representado pela empresa pública TERRACAP, diz ser
dono da terra; o Governo Federal diz que as terras pertencem à União; e o morador, que
ocupou, construiu e plantou, também briga pela posse. Já fazia parte da minha realidade
ter o percurso de ciclista limitado por arame farpado e mourões de concreto com a
palavra TERRACAP gravada. Quando o caminho estava desimpedido é porque esses
mourões estavam derrubados no chão, destruídos a marretadas.
TERRA[CAP] surge como uma performance para vídeo em que meu vizinho indígena
Gabriel, que também participa do elenco do filme JUCA, repete o gesto praticado por
muitos moradores da Serrinha do Paranoá. Derrubar esses mourões é resistir à tragédia
declarada pela especulação imobiliária, que já fez a cidade crescer desordenadamente
para a região sul e que agora aponta o desejo de trazer empreendimentos imobiliários
para a região norte.
Nina Maia
Nina Maia [1992] Artista Visual e Arte-educadora, nascida em Brasília, Distrito Federal. Graduanda
em Artes Visuais pela Universidade de Brasília, seu trabalho se dá em diversas linguagens,
sendo a pintura, objeto e as instalações as mais recorrentes. Caracteriza-se pela investigação
crítica e poética da paisagem construída a partir de uma abordagem dialógica entre a imagem e
a percepção formal e individual. A construção da paisagem atrelada ao que se sente, aos ruídos
internos ou a ausência deles. A vontade de encontrar algo no percurso, no atrito gerado por
miudezas e imensidões são questões fundamentais em seu trabalho.
O trabalho Sem Título/Horizonte II é um Site Specific, uma ação realizada diretamente na parede.
Estico, Pinto, Rasgo e Colo repetitivamente, um dia, dois dias, três dias, camada sobre camada de
fita crepe vão sendo adicionadas, como plano sobre plano ao fazer o corpo constrói a vista, um
gesto após outro, uma nova coreografia em escala de compartilhamento no espaço expositivo,
surge então uma geografia, uma vista aérea, um mar, uma montanha, uma nova paisagem, uma
síntese. Aqui, ao propor a imagem propõe-se o desmoronamento, o embate entre a superfície e
o suporte, o momento oportuno da imagem colapsar, a flexibilidade dos materiais, as misturas, o
tempo do procedimento, o tempo como paisagem, o tempo em que ela aparece e desaparece é
o que resta do que vemos, aí então, a sismografia da imagem acontece.
Raquel Nava
Raquel Nava (1981) investiga o ciclo da matéria orgânica e inorgânica em relação aos desejos
e hábitos culturais, usando taxidermia e restos biológicos de animais justapostos à materiais
industrializados em suas instalações, objetos e fotografias. A variação cromática com a qual
trabalha nos objetos e fotografias, se aproxima da paleta utilizada na sua produção de pintura.
A diversidade de sua produção está nos experimentos com técnicas e materiais, mas sempre
surge uma referencia aos órgãos ou aos organismos.
Formou-se em artes visuais pela Universidade de Brasília (2007), obteve título de mestre
em Poéticas Contemporâneas pela mesma instituição (bolsa Capes 2010-12) e foi aluna da
Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires (2005). Trabalhou como
professora de licenciatura em Artes Visuais da Universidade Aberta do Brasil - UAB/UnB
(2010-2017). Expõe com regularidade desde 2006, tendo realizado mostras individuais em
Brasília, no Rio de Janeiro, em Lima e em Paris. Recebeu prêmio no 19º Salão Anapolino
de Arte e no Transborda Brasília 2018 – Caixa Cultural. Em 2016 teve o projeto Taxidermia
Contemporânea: transformações e apropriações de Pesquisa e Residência Artística
contemplado pelo Fundo de Apoio a Cultura/DF- Brasília. Indicada ao Prêmio Pipa 2018.
Vive e trabalha em Brasília.
www.raquelnava.net
www.animalia.art.br
Poças, 2019.
Ossos de cães e felino, porcelana fria, concha marítima, mdf e tinta automotiva
Dimensões variáveis
Um grande espirro de poliuretano busca simular uma grossa massa de tinta acrílica
sobre o esmalte. As marcas do tempo também são vistas na camada de poliuretano
cru que muda de cor, inevitavelmente, com sua exposição a luz artificial ou natural.
Romulo Barros
Nascido no interior de Minas Gerais onde viveu grande parte da vida no qual participava de um
processo de amadurecimento inserido em um meio onde o comportamento social culmina para
um repetição das histórias locais. Esse processo acaba fazendo com todos estejam dentro da
mesma trouxa; Questiona a própria identidade, procura externar cotidianamente a sua própria
perspectiva, abordando muitas vezes a individualidade e unicidade de um ser que busca em
si e em sua ancestralidade uma relação de afeto, vínculo, fluxo e refluxo, atualmente tem uma
produção artística que perambula pelos campos da pintura, instalação, escultura, gravura. Utiliza
de materiais têxteis os quais teve grande contato durante sua vida, cercado por uma família
tradicionalmente artesã e inventiva, materiais esses muito diversos e em sua maioria fuleiros são
costurados, furados, colados, amarrados, agregados, desorganizados, esvaziados e preenchidos.
Fissuras, 2019.
Transmídia
Feijões, sementes de pau-brasil Sapeca-neguin, esteira de palha, cabaças
Fissura #1
O corpo e suas entranhas, evacuar, regurgitar, fluidificar e expulsar, expelir pelos poros.
Um corpo, uma forma amorfa que descansa.
O desejo de falar sobre a masculinidade que me foi dada forçosamente, como um presente indesejado,
que se faz presente e me preenche, e que não é bem quista pelo meu corpo, não assimilada. Como uma frase
qualquer dita, que entra por uma orelha e sai pela outra, mas deixa na cabeça o incômodo do som que foi ouvido,
não se sabe quais palavras eram, mas elas existiram, incomodaram fisicamente o aparelho auditivo, e se foram.
Crio mais uma metáfora de mim mesmo, com uma esteira onde o corpo pode repousar, se deixar refletir
e deixar sair pelos poros aquilo que lhe é tóxico, aquilo que não se sabe o que é, mas lhe causa incômodo, ao
mesmo tempo lhe preenche.
Corpo feito do feltro sapeca neguin, é preenchido com alguns muitos quilos de feijão e algumas
sementes de pau brasil que transbordam pelo espaço; A esteira de palha é o que me dá base, um território
que não basta e não retém esse corpo, o sapeca neguin a membrana que prende tudo, o pau-brasil aquilo que
escolho como cor do fluido avermelhado sanguíneo, hemácias de tom avermelhado devido ao ferro que elas
contém, o mesmo ferro do feijão, um dos alimentos que mais o contém.
_ põe feijão no prato desse moleque
America Latina, Brasil, Minas Gerais, Medeiros
Feijão no meu prato, um alimento que curiosamente eu não gosto desde criança. Meu pai, na intenção
de me fazer homem, me edificar com o ferro do feijão, muitas vezes insistiu que eu consumisse esse alimento
que não passa pela minha garganta.
_ comer feijão pra ficar forte, virar homem!
meu pai dizia,
Eu já sabia de muita coisa … não queria colocar pra dentro a masculinidade que ele insistia que eu
engolisse.
Metáfora do meu corpo expelindo a hombridade que não me pertence, pelos rasgos na pele, pelos
orifícios, pelo sistema digestório, linfático, sanguíneo.
o feijão que preenche
o que foi imposto
o feijão ainda me preenche
Ritualizo a minha existência para expurgar, entender, transformar o meu eu e os meus arredores.
Silvino Mendonça
www.silvinomendonca.com
Projeções, 2019.
Fotografia, pigmento mineral sobre papel de algodão.
2 de 60 x 45 cms
Criado em 1997, o Cine Academia encerrou as suas atividades em 2010, após um incêndio
acidental destruir parte de suas instalações. Enquanto produções hollywoodianas de grandes
estúdios dominavam o circuito de estreias nas demais salas de cinema do DF, no Cine
Academia prevaleciam as sessões de filmes independentes de nacionalidades diversas —
não só ficções, mas também documentários. Era lá que acontecia, por exemplo, o Festival
Internacional de Cinema de Brasília (FIC), oportunidade rara para acessar cinematografias
mundiais inéditas no Brasil.
Cine Ruínas
Um passeio pelas ruas de Brasília revela a decadência do mercado físico de home video em
tempos de streaming.
Tatiana Duarte
Nasceu em São Paulo, brasiliense por opção, artista visual, desenvolve poética com principal
ênfase no Corpo - orgânico, afetivo e seus deslocamentos. Desde de 1998 participa de
exposições de Arte. Mestre em Educação em Artes Visuais pela Universidade de Brasília (CNPq).
Licenciatura e Bacharelado em Artes Plásticas (UnB). Especialista em Arteterapia em Educação
e Saúde. Experiência em Educação em Arte Visuais na área da saúde (âmbito hospitalar), social
(desenvolvendo ações com mulheres nas RAs do DF) e em espaços expositivos. Coordenadora
Pedagógica do Programa Educativo do Centro Cultural do Banco do Brasil (DF).
Erupi, 2017.
Fotografia, encáustica, madeira e cupim calcinado, 40 X 50 cm.