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Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância
Diretor Regional João Francisco Correia de Souza
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Superintendente Universitário Jussara Cristina Cubbo
e de Desenvolvimento Kamila Harumi Sakurai Simões
Luiz Carlos Dourado Katya Martinez Almeida
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Reitor Luciana Marcheze Miguel
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Coordenadora de Desenvolvimento Coordenador Multimídia e Audiovisual
Tecnologias Aplicadas à Educação Adriano Tanganeli
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Equipe de Design Audiovisual
Coordenador de Operação Adriana Matsuda
Educação a Distância Caio Souza Santos
Alcir Vilela Junior Camila Lazaresko Madrid
Professor Autor Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo
Rita de Cássia Costa Moreira Christian Ratajczyk Puig
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Flaviana Neri Mayra Aoki Aniya
Francisco Shoiti Tanaka Michel Iuiti Navarro Moreno
Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida Renan Carlos Nunes De Souza
Hágara Rosa da Cunha Araújo Rodrigo Benites Gonçalves da Silva
Janandrea Nelci do Espirito Santo Wagner Ferri
Arte e Literatura na Infância
Aula 01
A História da Arte e a Arte na História
Objetivos Específicos
• Conhecer a História da Arte e suas implicações para o ensino de Artes no
Brasil.
Temas
Introdução
1 Arte e historicidade
2 A Arte e suas linguagens
3 A arte no Brasil
4 A escola e a educação artística no Brasil
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
“As grandes nações escrevem sua autobiografia em três volumes:
o livro de suas ações, o livro de suas palavras e o livro de sua arte.
Nenhum desses três livros pode ser compreendido
sem que se tenham lido os outros dois, mas desses três,
o único em que se pode confiar é o último”.
(RUSKIN, 1980, p. 86)
Estimulante proposta, não é mesmo? Então, apertem os cintos, nossa viagem vai
começar!
1 Arte e historicidade
O desejo de comunicação e de transformação, ao longo da história, motivou mulheres e
homens a utilizar símbolos, linguagens e discursos das mais diferentes formas para expressar,
entender e mudar o que viam, viviam, faziam, sentiam. Nas paredes das cavernas, nas
construções, nos objetos e utensílios encontramos marcas do trabalho, das descobertas e
dos desafios cotidianos para sobrevivência, adaptação, manutenção e melhoria da vida em
sociedade. Marcas, sinais, indícios passíveis de interpretação, de leitura, de reconstituição da
fascinante trajetória humana na história.
Uma experiência que preenche os espaços, dá cor e forma ao cotidiano, revela marcas
de tecnologia1 e expõe as permanências e mudanças materializadas ao longo do tempo. Num
rápido exercício de visão/percepção, observe à sua volta a infinidade de detalhes presentes
em objetos, utensílios, construções. São cores, formas, tamanhos, ideias, sugestões,
combinações, encaixes... Todos ligados a uma finalidade (a exemplo dos utensílios domésticos,
dos instrumentos de trabalho, da habitação), a uma necessidade funcional (a roda, o elevador,
o motor), à superação de limitações (a vara, a corda, o gancho), à apreciação estética, ao
registro (a escrita, o desenho, a caneta, a pintura, a música) e outras tantas possibilidades
concretas e abstratas.
1 Expressão aqui empregada no sentido de um conjunto de conhecimentos que envolvem técnicas, métodos e instrumentos utilizados pelos
indivíduos para satisfazer necessidades e transformar a realidade.
Vamos começar investigando a expressão “fazer arte” e os sentidos de que ela se reveste
em diferentes contextos. No sentido mais popular do termo, bastante referido no que diz
respeito à infância, fazer arte é “traquinar”, fazer coisa errada, desobedecer, transgredir a
norma. “Fazer arte” também é empregado no sentido de criar algo novo, experimentar e
se expressar de diferentes formas; outra forma de transgressão. Nas duas possibilidades de
interpretação, a arte encontra-se como manifestação do desejo humano de expressar, criar,
mudar, fazer. Como expressão de sua relação com a natureza, com o outro, com a realidade,
com a subjetividade; ou seja, sua integração com as atividades humanas.
Já a palavra arte também envolve alguns sentidos de acordo com o contexto em que
é empregada: pode ser a forma de fazer algo de acordo com regras preestabelecidas (uma
tecnologia); pode se referir também a uma habilidade para executar trabalhos com as mãos,
para comover alguém com gestos e palavras; ou ainda para se referir ao conjunto de obras
de um espaço, uma cidade, um país, um artista. Comum a todas essas, há a possibilidade de
pensar a arte como elemento humano e, portanto, vivo, dinâmico e sensível no tempo e no
espaço.
As imagens visíveis nesta ilustração (feita nas paredes das cavernas no período histórico
conhecido como Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, aproximadamente 2,5 milhões de anos
a.C.) e denominada de Pintura Rupestre revelam traços simples feitos com argila, sem muita
preocupação com a forma, mas com forte apelo visual, mágico e sentimental. Estudiosos
da área acreditam que para esses primeiros artistas, o desenho garantiria a posse sobre o
objeto desenhado. É possível perceber, no olhar atento, força e movimento, medo e ousadia
na representação dos animais temidos (fortes, grandes); na leveza das renas e dos cavalos;
na imagem das crianças e das mulheres grávidas. São indivíduos (eles mesmos e não suas
representações), animais e objetos em relação; em situações cotidianas como a caça, o sono,
o contato com os animais, os rituais de magia. Você poderia perguntar: o que permite então,
sua classificação como arte, ou melhor, como Pintura e Arte Rupestre? A técnica (aliando
o fazer e o material utilizado), a possibilidade de legitimação como documento histórico (é
o registro concreto da existência dos primeiros hominídeos) e o valor cultural (produção
humana situada no tempo e no espaço) justificam tal classificação.
No que diz respeito à produção artística, os egípcios nos deixaram como legado uma
arte fortemente marcada pela religiosidade, pelas convenções, pelo rigor técnico e pelo
anonimato – o artista deveria evidenciar sua precisão técnica e não o seu nome ou estilo.
A Lei da Frontalidade, por exemplo, revela esse rigor: o tronco de uma pessoa deveria ser
representado sempre de frente, enquanto a cabeça, os pés e as pernas eram vistos de
perfil, como se vê na imagem 3. Dessa forma, para eles, a arte garantiria a sua função de
representar a realidade e não a de expor uma ilusão. Nos deixaram também esculturas e
2 Faraó: soberano do antigo Egito. Chefe político visto pela sociedade como um deus. Governava o império de forma autoritária, exercia
funções religiosas, fiscalizava obras públicas e comandava exércitos (BRAICK, 2000).
• A linguagem visual, com forte apelo ao sentido da visão, alimenta a pintura, o desenho,
a gravura, a fotografia e o cinema, e mais a escultura, a arquitetura, a decoração, o
grafite e demais manifestações do pensamento captadas pela retina. O que usamos,
vestimos, escolhemos, desejamos está em estreita relação com o que vemos, lemos e
interpretamos. Conscientemente ou não, somos aprisionados pela leitura visual, não
apenas como elemento decodificar do mundo escrito, mas também como percepção
de mensagens sobre a realidade. Periódicos, livros, quadros, outdoors, palavras,
pessoas imagens... a cada instante os mais variados estímulos atravessam nossa
retina e conduzem nosso olhar, nossas emoções. Recursos tecnológicos, criatividade,
investimento financeiro e imaginação têm permitido o uso cada vez mais intencional
e profissional desta linguagem na dinâmica social e nas produções artísticas.
• A linguagem cênica (o teatro) e seu caráter performático têm sua origem associada ao
desejo de celebração, de representação pública do cotidiano e das emoções através
da linguagem corporal. O palco é o espaço dessas apresentações que primam pela
carga dramática, pela composição de personagens e cenários, pelo uso de diferentes
recursos interpretativos (a voz, a música, o movimento, a expressão facial etc.) e
por acionar no público emoções, sentimentos e estranhamentos. Atores, sujeitos
que emprestam seu corpo, emoção e voz para dar corpo e vida ao espetáculo,
dramaturgos, diretores e técnicos, de posse de um tema, texto, livro ou ideia criam
uma apresentação com foco na divulgação cultural, na crítica e no despertar de
sentimentos e opiniões do público presente.
3 A arte no Brasil
Da pré-história brasileira temos achados arqueológicos que evidenciam a presença
humana entre 40 e 50.000 anos atrás, em várias regiões do país e, em especial, no estado
do Piauí e na região amazônica. Pesquisas empreendidas sob a coordenação da arqueóloga
Niéde Guidon encontraram manifestações de pintura rupestre (que se utiliza de pigmentos
para dar cor), gravura rupestre (desenhos feitos a partir de incisões na Rocha), objetos e
utensílios que ratificam a existência deste importante acervo artístico em território nacional
e permitem interpretar como viviam esses primeiros habitantes do nosso país.
Dos indígenas recebemos uma arte que valoriza a perfeição na sua realização (já que
criada para uma finalidade específica), representa fielmente as tradições e identidade de sua
comunidade, é inspirada e alimentada (em materiais e cores) pela natureza local. Pintura
corporal, cerâmica (como a conhecida arte Marajoara), tecelagem, arte com plumas e
máscaras tribais são características deste grupo étnico e influenciam de diferentes formas a
cultura artística no Brasil.
Do período colonial e sua forte expressão barroca (estilo artístico que surgiu na Europa
entre os séculos XVI e XVIII e ficou conhecido pela forma rebuscada de suas expressões),
intimamente ligada à religião católica, temos: a riqueza arquitetônica visível em igrejas
espalhadas pelo Brasil inteiro e, especialmente na Bahia (como a Igreja de São Francisco) e
em Minas Gerais (como a Igreja de Nossa Senhora do Pilar); uma rebuscada escrita literária,
inspirada em escritores espanhóis e portugueses), a exemplo de Gregório de Matos (o Boca
do Inferno) e do Padre Antônio Vieira; e na escultura, o artista mineiro Aleijadinho.
Da primeira metade do século XX, quando a arte começou a ser ensinada no Brasil (ainda
fortemente marcada pela proposta de transmissão de conhecimentos, de reprodução de
modelos e espontaneísmo) à atual proposta de ensino de arte na escola, um caminho de
permanências, mudanças e significativos avanços. À escola – ora afinada com a religiosidade
(fundada por Jesuítas no Brasil Colônia e hoje, em sua maioria, inspirada pelo ideal católico), ora
com o pensamento dominante de cada contexto histórico (burguês, capitalista, democrático
etc.) – coube a função de educar, disciplinar corpos e mentes para papéis e ações adequadas
para cada um dos sexos, além de transmitir saberes socialmente construídos e formar
cidadãos, (indivíduos dotados de direitos e deveres).
No Brasil Colônia, caracterizado por uma sociedade austera e fiel aos princípios da Igreja,
a educação para as meninas e moças limitava-se ao ensino das prendas do lar e do artesanato
como caminho para uma adequada assunção da administração ds casa, do marido, e dos
filhos; na educação dos homens a preparação para o espaço público com disciplinas que
desenvolvessem o intelecto e a autonomia.
com a primeira Lei específica da educação - LDB 1961. A mobilização popular e as muitas
investidas no campo da educação na década de 70 tomam corpo e novo fôlego com a 2ª Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, que entre outros avanços incluiu a educação
artística (sem o status de disciplina) no currículo escolar.
Considerações finais
Aprendemos, neste rápido panorama, que linguagens e comunicação caminham lado a
lado na história da humanidade. Das primeiras representações pictóricas às linguagens todas
que hoje favorecem a interação entre as pessoas e o mundo, a presença da arte (como
manifestação do pensamento humano), da tecnologia (uso conjugado de criatividade, técnica
e matéria-prima) e do desejo de registro que caracterizam a trajetória humana na terra.
Reconhecer, na arte e na prática pedagógica, o importante trabalho de mulheres e homens
Referências
ARNOLD, Dana. Introdução à História da Arte. São Paulo: Ática, 2008.
CORTELAZZO, Patrícia Rita. A história da Arte por meio da leitura de imagens. Curitiba: Ibpex,
2008.
IAVELBERG, R. Para gostar de aprender arte: sala de aula e formação de professores. ArtMed,
abr./2011. VitalBook file.
ZAGONEL, B. (org.) Metodologia do ensino de arte. Curitiba: Ibpex, 2011 (Série Metodologias).
Objetivos Específicos
• Identificar as relações entre a palavra – oral e escrita (signo linguístico e
ideológico), a arte, as tecnologias e o livro, e sua importância para a educação
de crianças
Temas
Introdução
1 A palavra, signo ideológico e linguístico
2 Escrita e poder
3 A literatura para crianças no Brasil e no mundo
4 O livro, o leitor e o consumo
5 A vocação “pedagógica” da literatura
6 Arte, tecnologias, acessibilidade e aprendizagem
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Como já sabemos, a arte, como expressão do pensamento e da cultura humana está
intimamente relacionada à educação. Já aprendemos também a ampliar o nosso olhar sobre
a arte na escola, assegurando sua integração às diferentes linguagens, é absolutamente
necessário para a formação integral das crianças.
Nesta aula, vamos mergulhar nas relações entre a palavra, a arte, o livro e as novas
tecnologias, compreendendo-os como elementos fundamentais na realidade da escola.
Não é de hoje que a palavra é objeto de estudo para diferentes áreas do conhecimento
humano. Saber sua origem, entender as mudanças sociais, explicar a cultura e suas muitas
linguagens tem sido mote para investigações cada vez mais reveladoras sobre a capacidade
humana de expressar-se e transformar-se.
1 A Semiótica, ou ciência geral dos signos, investiga os modos como interpretamos a realidade e tem por objeto de estudo qualquer sistema
composto de signos, como a religião, a dança, a música, as artes visuais etc.
• E linguagem?
Nessa perspectiva, todo discurso produzido pelos sujeitos (na oralidade, na escrita,
nas artes) é expressão de seus pensamentos, desejos e modos de vida e do trabalho social,
político, histórico e ideológico que se constitui e alimenta da relação entre língua e linguagem,
cotidianamente materializada.
2 Escrita e poder
“No princípio era a Palavra e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus” (João
1, 1-2)
No Egito antigo, o domínio da escrita sagrada2 pelos escribas trata-se de um papel dos
homens (há poucos e contraditórios registros sobre mulheres escribas) que, segundo esta
inspiração, estariam destinados a conduzir a humanidade, a ter poder, a escrever. Isso pode
explicar o acesso tardio das mulheres à educação formal – que de início era volta para prendas
do lar (o que só aconteceu por volta do século XVII, enquanto os homens já frequentavam
a escola desde a antiguidade), à escrita e ocupação de espaços públicos na condição de
profissionais.
2 A escrita hieroglífica era considerada sagrada por ser dominada apenas por membros da realeza, sacerdotes ou escribas no Egito antigo.
Neste contexto, a leitura literária é fundamental para a aprendizagem escolar. Ela é fonte
de prazer, de conhecimentos, de transmissão ideológica, de contato com temas e assuntos
diversos como expresso nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (1997,
p. 36-37): “[...] É importante que o trabalho com o texto literário esteja incorporado às práticas
cotidianas de sala de aula, visto tratar-se de uma forma específica de conhecimento”. E nessa
perspectiva ganham força a literatura ficcional, os livros em linguagem não verbal para leitores
iniciais (educação infantil) e não-alfabetizados, os livros denominados paradidáticos (criados
com a finalidade de abordar temas e conteúdos específicos) e os de autoajuda destinados às
crianças.
A literatura, portanto, tem a “liberdade poética” de dizer com autonomia deste rico,
diverso e complexo cotidiano social: o trabalho, o lazer, a sobrevivência, as relações familiares,
profissionais, amorosas, educativas entre os gêneros. Nesse percurso, a literatura expõe a
língua, suas tradições, suas manifestações artísticas; a linguagem e suas marcas ideológicas;
a memória social; a história; as identidades e as representações sociais e culturais.
Figura 1 – Cinderela camponesa representada nos textos Figura 2 – Representações de “Cinderella” no mundo
dos Irmãos Grimm contemporâneo
Assim, narrativas orais e escritas, marcadas pela riqueza de detalhes, pela verossimilhança
e pelo uso de um imaginário fantástico e mágico, prenderam e fidelizaram um público cada
vez maior. Das cavernas (e seus registros pictóricos que nos deixaram inúmeras histórias) aos
dias atuais, diferentes estilos e narrativas marcadas pela ideologia do contexto sócio-histórico
do período que retratam: da Europa burguesa do século XVIII os maravilhosos contos de
Grimm (1785-1863) – irmãos filólogos4 que, na busca de resgatar e difundir a cultura alemã,
empreenderam um minucioso trabalho de campo para registrar um sem número de histórias
da tradição popular, como Branca de Neve, Cinderela, O Gato de Botas etc.
3 Aproximadamente “1500 a.C. quando os fenícios inventaram a escrita fonética alfabética” que usamos até hoje. Antes disso, tivemos a escrita
pictográfica (uso de figuras), cuneiforme (em forma de cunhas) na Mesopotâmia e hieroglífica no Egito (ARANHA, 2006, p. 42).
4 Filologia é o estudo da língua por meio da combinação entre literatura (oral e escrita) e linguística (estudo da linguagem).
Anos mais tarde, já no século XIX, surgiu na Dinamarca a sensível criação literária de
Hans Cristian Andersen (1805-1875), um dos primeiros expoentes da literatura dedicada às
crianças. São obras suas, entre tantas outras, O Patinho Feio, A Pequena Sereia e O Soldadinho
de Chumbo, hoje reeditados e veiculados em cinematográficas releituras dos Studios Disney.
Da África, e por meio da voz sofrida e forte das amas de leite, recebemos, além das
cantigas de ninar, histórias de resistência, amor e beleza. Cultura, costumes e linguagens
caminhavam lado a lado com o respeito aos antepassados, a culinária, os mitos e os ritos,
como ricamente expõe o escritor, historiador e professor brasileiro Joel Rufino dos Santos,
referência sobre a cultura africana no Brasil, nos títulos: O presente de Ossanha (2000), A
botija de ouro (1984), Gosto de África (1988), entre tantos outros de sua vasta produção
literária.
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Arte e Literatura na Infância
Dos primeiros habitantes do Brasil5 , a tradição narrativa de lendas e mitos sobre a criação
do mundo e a relação entre os seres vivos e a divindade, como Yara, a Rainha das águas,
Guaraná, a essência dos frutos, Mumuru, a estrela dos lagos e muitos outros que, ao relatar
a rica herança cultural indígena nos revela suas influências em nossa língua, linguagens e
costumes.
Nestas breves reflexões, um discurso que evidencia a força da palavra e da literatura como
materialização do pensamento e da história humana e como instrumento de comunicação e de
poder. Na literatura, como em toda arte, um retrato social onde realidade, valores, fantasias,
pensamentos, tradições culturais e história se revestem de importância, de significação, e
ensinam mais que muitos manuais didáticos. Na literatura, polissemia e polifonia revelam
a complexa relação entre os sujeitos e suas subjetividades a história, e a realidade; nesse
encontro, a possibilidade de resgatar o passado, entender o presente, e planejar o futuro.
Como narrativa, a literatura infantil se realiza na oralidade, pela voz de quem conta; na
linguagem visual por meio das ilustrações; na linguagem corporal, por meio de mímicas
e gestos; na linguagem musical, nas cantigas de roda, nos musicais; na linguagem teatral
e suas muitas possibilidades de representação dramática; na linguagem virtual, o e-book
ou livro digital representa, neste momento histórico, uma evolução no que diz respeito ao
acesso à informação e circulação da obra literária, seja ela ficcional (a exemplo dos romances
de José de Alencar e Jorge Amado) ou factual (como a obra histórica Casa Grande e Senzala,
de Gilberto Freire).
Na esteira dos livros digitais, a Biblioteca virtual (a exemplo da que utilizamos neste curso)
se fortalece como importante espaço para constituição de acervo e acesso à informação
neste momento histórico de ampliação de oportunidades leitoras, de formação à distância,
de inclusão digital, e cesso ilimitado à internet:
5 Até hoje erroneamente designados de índios (numa alusão à chegada de Colombo às Índias).
6 Expressão de origem francesa – ecrã, ou inglesa - touch screen - que designa uma superfície/tela sensível ao toque, presente em celulares,
computadores e tabletes, entre outros.
Meu objetivo, com estas provocações, é permitir que você reflita sobre a
força da linguagem na expressão, na comunicação e na inserção de diferentes
sujeitos na dinâmica social.
Considerações finais
Nesta aula, relacionamos, de maneira dialógica e dialética, alguns dos elementos que
compõem a comunicação humana, a palavra, a escrita e a linguagem, compreendendo-os
como fundamentais para a criação e circulação do livro na escola e fora dela. Vimos também
que utilizando diferentes caminhos e possibilidades de acesso à leitura as crianças podem
dialogar com os variados campos do saber e, ao mesmo tempo, construir conhecimento
linguístico e social em diferentes situações de comunicação. Na próxima aula, mantendo o
mesmo ritmo de estudos e discussões, vamos aprofundar conhecimentos sobre o fascinante
campo da linguagem e da educação.
Nosso cotidiano é bastante rico no que diz respeito às manifestações de linguagem, aos
avanços tecnológicos e à comunicação. Sujeitos mergulhados em complexas relações que
envolvem a educação, a família, a escola e o trabalho, interagem no tempo e no espaço por
meio da palavra, da arte, da literatura. Nessa interação, há o encontro de opostos (a dialética),
o bem e o mal, a alegria e a tristeza, o dia e a noite, e de muitas vozes (dialogia) de mulheres,
homens, governantes, autores, pesquisadores, professores etc.
Referências
BRAIT, B. Bakhtin: conceitos chave. São Paulo: contexto, 2012
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Compreender a importância da arte na aquisição da linguagem (oral e escrita)
e no desenvolvimento infantil
Temas
Introdução
1 Aquisição da linguagem oral e escrita
2 Desenvolvimento sensorial e cognitivo
3 Arte, literatura e produção de sentidos
4 Jogo simbólico e imaginação infantil
5 Linguagem virtual, criatividade, raciocínio e aprendizagem
6 Linguagens e disciplinas em diálogo
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Toda criança, ao nascer, se integra a uma história — da família, da comunidade, da
cidade, do seu grupo social ou de uma cultura — no seu processo de socialização. Seu passado
e antepassados próximos e distantes são elementos fundamentais na construção de suas
experiências, hábitos, atitudes, valores e linguagens. Também a história e a cultura de outros
indivíduos com os quais ela se relaciona têm papel fundamental nesse desenvolvimento.
Vamos, nesta aula, entender esse processo e descobrir como a criança adquire linguagem
e como esta interfere no seu desenvolvimento sensorial e cognitivo, na produção de sentidos,
nos jogos simbólicos e na sua relação com a vida, com a arte e com os saberes socialmente
construídos. Para isso, vamos buscar o suporte teórico-metodológico nos autores indicados
na bibliografia, nas recentes discussões sobre este tema e na nossa experiência concreta
como sujeitos ativos na história.
Nesse sentido, a criança lê o seu entorno muito antes de entrar na escola e dominar
a língua escrita. Esse aspecto pode ser percebido quando a criança está em contato com
as músicas (cantigas de roda ou de ninar), as narrativas infantis (de diferentes temas e, em
especial, animais e princesas), a poesia, a dança e os jogos dramáticos. Histórias, contos,
lendas, fábulas e poemas encantam mesmo os que ainda não dominam o código escrito.
As narrativas orais – clássicas e populares – bem como as cantigas, parlendas, trava-línguas
e adivinhações são significativos momentos de ludicidade, afetividade e informação,
fundamentais para a aproximação entre a criança e a língua.
1 Código Morse: Sistema de comunicação em código, criado em 1835 por Samuel Morse (mesmo inventor do telégrafo), que utilizando letras,
números e sinais de pontuação, transmitia mensagens por meio de ondas sonoras, pulsos elétricos ou sinais visuais (luzes).
2 Articulação da fala; associação entre a produção do som vocal e a articulação do som promovido pelas estruturas orofaciais (boca, dentes,
língua, lábio, palato mole).
É nesse sentido que a linguagem contribui para o jogo simbólico tão presente (e
necessário) na infância. Por meio da linguagem, a criança vive na fantasia e no faz de conta,
experiências estruturantes consigo mesma, com o outro e com o meio ambiente, e assim
aprende a lidar com frustrações, medos, limites e com os contraditórios sentimentos que
compõem a subjetividade humana (o amor, o ódio, o desejo, a inveja e tantos outros). Daí ser
bastante comum observar na infância o recorrente interesse por narrativas que lhes permitam
experimentar (na fantasia e, por isso mesmo, reversivelmente) o medo (Chapeuzinho
Vermelho, Os três Porquinhos, Cachinhos de Ouro), o amor (Cinderela, A Bela Adormecida), a
superação (O Pequeno Polegar, O Patinho Feio, a Polegarzinha) e a morte (Branca de Neve, O
Rei Leão).
estético, em situações de comunicação formal (na escola) e informal (na vida cotidiana),
como defendem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) já na sua introdução: “No ensino
fundamental (...) a Arte visa à formação artística e estética dos alunos” (BRASIL, 1997, p. 19).
O trabalho desenvolvido sob essa inspiração e afinado com a proposta cidadã expressa no
artigo 2ª da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei 9394/96), que diz que:
“A educação (...) inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana,
tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da
cidadania”, deve priorizar o contato da criança com diferentes linguagens, manifestações
artísticas e disciplinas, o que lhe permitirá compreender e utilizar diferentes conteúdos nas
diversas áreas do conhecimento; respeitar a diversidade de pessoas, culturas e ambientes,
valorizando o patrimônio histórico, a arte e a produção humana ao longo da história.
Considerações finais
Nesta aula, aprendemos que para além da escrita e da oralidade, diferentes linguagens,
fontes de informação e recursos (materiais, didáticos, tecnológicos etc.), cada vez mais
acessíveis e constantemente atualizados permitem conhecer, discutir, construir e ampliar
conhecimentos. Assim, por meio do sensível, adequado e mediado trabalho com a arte e a
literatura, as crianças podem interpretar fatos da natureza histórico-geográfica, técnico-
científica, artístico-cultural, ou do seu cotidiano imediato, identificando regularidades e
mudanças, confrontando diferenças, questionando pontos de vista, analisando argumentos,
calculando, classificando, opinando, adquirindo e desenvolvendo linguagem.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997
DEL RÉ, A. Aquisição da linguagem: uma abordagem psicolinguística. SãoPaulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Associar a arte e a literatura à atividade simbólica da criança
Temas
Introdução
1 O maravilhoso e sua função simbólica: mitos, heróis, personagens
2 Contos populares: por que gostamos tanto de ouvi-los?
3 O que eles nos dizem?
4 Características das narrativas infantis (lendas, fábulas, cantigas de roda,
parlendas, trava-línguas) e seu uso em sala de aula
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
A arte, as narrativas literárias e, em especial, os contos têm importância vital no
desenvolvimento infantil. Eles representam além do apelo à fantasia e imaginação, uma
motivação para a leitura e a expressão escrita. Seu universo simbólico – tão afinado com
o sensível olhar infantil – seduz pela beleza, pelas temáticas, pelo diálogo entre os seres
(vivos, mágicos e inanimados), o meio ambiente e os complexos e contraditórios sentimentos
humanos, como o amor, o ódio e a inveja.
Uma das formas artísticas de representação da realidade, a literatura, tem sua força
na oralidade e na tradição. Como explicar para as crianças a grande aventura humana,
seus desafios e conflitos (entre a vida e a morte, o bem e o mal, a criança e o adulto, o
menino e o homem, a menina e a mulher) senão através do simbólico presente na literatura?
Viver fantasias, assumir papéis, travestir-se, transformar-se... tudo é possível e reversível no
universo simbólico.
É neste universo que vamos mergulhar nesta aula. Uma viagem prazerosa e recheada de
magia nos espera.
Como nos diz Fanny Abramovich (1997, p. 17), literatura “é ouvir, sentir e enxergar com
os olhos do imaginário!”. Nessa perspectiva, é fundamental para a formação infantil ouvir
histórias. É o início da aprendizagem para ser leitor, para saber ouvir, sentir e conhecer o
mundo real, o mágico e o simbólico, onde tudo é possível e também reversível. Com as
histórias, a criança pode sorrir, chorar, brincar, sentir e descobrir sentimentos, coisas, lugares,
pessoas e possibilidades; também é um importante caminho para o contato físico, o carinho,
a atenção, a superação de conflitos, medos, impasses e problemas; e para possibilitar o
acesso e ampliar o contato da criança com outras linguagens artísticas, como o desenho,
a dança, a linguagem virtual, na escola e fora dela; clássicos da literatura mundial, como
William Shakspeare, por exemplo, podem ser vistos no teatro (em peças e musicais), em
modernos aplicativos e games e nos Mangás (histórias em quadrinhos no estilo japonês)
traduzidos em todo o mundo.
1 Os Irmãos Grimm (1785-1859), estudiosos da língua alemã, coletaram contos populares e os registraram para garantir a permanência e
resguardar a cultura de seu país. Esses contos, conhecidos como Contos de Grimm não foram criados por eles, mas recontados da tradição oral.
Seu universo simbólico está repleto de fadas – boas, que expressam votos positivos
e têm função de anjo da guarda, e más, que têm poderes maléficos e segredos, mas que
também favorecem os ritos de iniciação e o amadurecimento do herói —; ogros e gigantes,
que representam o confronto do homem com as forças obscuras, testando sua coragem.
Também apresentam espelhos mágicos, que refletem a verdade (boa ou ruim); animais
malignos (lobos e dragões) e animais pacíficos e servis (como as corças), que representam
nossa consciência moral; árvores e suas raízes, representando o limite entre o céu e o
inferno; a solidão do herói/heroína, demonstrando a inegável solidão do ser humano; uma
fada boa, que realiza desejos e tem função de anjo da guarda; uma fada má, que substitui,
que toma, mas que também ensina e faz acordar. E também metamorfoses, encarnando o
sonho humano de renascimento e, consequentemente, da passagem de um estado físico (de
feiura e imperfeição) para o estado moral encarnado pela beleza.
seu aspecto lúdico, pelos temas ligados à infância e por exercitarem diferentes estruturas
(físicas, motoras, sensoriais) são muito apreciadas e utilizadas como recurso pedagógico:
“[...] Caranguejo não é peixe, Caranguejo peixe é, Caranguejo não é peixe na vazante da maré.
Palma, palma, palma, Pé, pé, pé, Caranguejo só é peixe na vazante da maré!”
2 Resposta: Rio
Considerações finais
Vimos nesta aula a força da arte e da literatura na atividade simbólica da criança. Vimos
também diferentes possibilidades de uso da linguagem para o desenvolvimento infantil: a
brincadeira com as palavras, o estimulo à magia, a exploração de sentidos, a ampliação do
olhar sobre si mesmo e sobre o mundo, a sensibilidade, a dicção e expressão oral e escrita e
o respeito às manifestações culturais. Equilibrando razão e emoção, o maravilhoso universo
dos contos, das lendas, das fábulas e das manifestações artísticas em geral, toca as crianças e
permite que, emocionadas, construam conhecimento.
Referências
ABRAMOVICH, FANNY. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1997.
BETTELHEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 5 ed. São Paulo: Contexto, 2009.
GILLIG, Jean-Marie. O Conto na Psicopedagogia. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1999.
ZAGONEL, B. (org.) Metodologia do ensino de arte. Curitiba: Ibpex, 2011 (Série Metodologias).
Objetivos Específicos
• Relacionar língua, palavra, linguagem e literatura à formação integral de
sujeitos leitores.
Temas
Introdução
1 Palavra, língua e linguagem
2 Literatura ideologia e Cidadania
3 Leitura de si e do mundo, diversidade e pluralidade
4 Literatura e representações sociais (papéis, temas, estereótipos)
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e literatura na infância
Introdução
Como estudamos até aqui, ser socializado é pertencer a uma cultura. É ter internalizado
ao longo do tempo os padrões, os valores e os jeitos para estar e se relacionar com o mundo.
Esse processo acontece de forma constante e gradual e envolve os sentidos, as subjetividades,
o cognitivo, o real e o simbólico; envolve língua e linguagem.
Dia após dia em seu desenvolvimento, os sujeitos são iniciados e estimulados à formação
de hábitos (de higiene, de estudo, de leitura...), a vestir-se, a brincar e a se comportar
adequadamente de acordo com seu sexo, idade, classe social, etnia ou religião. Na educação
formal, recebida por meio da escola, são transmitidos saberes e valores estereotipados e
historicamente legitimados; na educação informal, a transmissão de valores culturais anda
“de braços dados” com as expectativas em torno dos papéis sociais e sexuais (a escolha das
cores para meninas e meninos, as brincadeiras adequadas, a forma de sentar, andar, brincar)
que compõem a nossa aprendizagem e integração social. Uma aprendizagem repleta de
vivências marcadas por ideologias, representações e estereótipos, como veremos nesta aula.
Com a família, primeira forma de convívio social, a possibilidade de construção dos laços
afetivos e emocionais; com a escola, a possibilidade de convivência, partilha e acesso ao
conhecimento de um mundo plural, diverso, complexo e cheio de antagonismos, classificações
e hierarquizações. Na família e na escola, intercâmbios e práticas são possíveis por meio da
língua, da linguagem, da palavra.
A língua, como um sistema de signos, nos nomeia e apresenta. Por meio dela,
pertencemos a uma cultura, nos comunicamos e nos percebemos como seres sociais.
Falando, escrevendo e representando transmitimos experiências e pensamentos afetivos
e intelectuais, ora utilizando a linguagem popular (com gírias e dialetos), ora a linguagem
culta (rica em recursos de estilo e expressões formais).
A linguagem nos antecede; ela faz parte da nossa existência mesmo antes de nascermos.
Sempre viva e atualizada, revela tempos, pensamentos e construções ideológicas (BAKHTIN, 2006)
por meio de diferentes discursos: sociais, políticos, históricos, econômicos, educacionais etc. Esta
troca, cotidianamente realizada no exercício da língua e da linguagem, nos permite comunicar,
significar, internalizar e aprender conteúdos explícitos (objetividade) e implícitos (subjetividade).
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Arte e literatura na infância
Palavra – conjunto de letras ou sons de uma língua cuja função é representar gráfica ou
sonoramente o pensamento humano
Língua – Código linguístico formado por palavras e leis combinatórias por meio do qual
as pessoas se comunicam e interagem entre si.
Para ampliar os seus conhecimentos sobre este assunto, leia: FIORIN, J.L.
Introdução à Linguística I: objetos teóricos. Páginas 11 a 24 e 25 a 53. São Paulo:
Contexto, 2010 (disponível na biblioteca virtual)
1 Natural é o que é relativo à natureza, espontâneo, em que não há trabalho humano (BUENO, 2000, p. 533).
Como defende Bakhtin (2006, p. 36), a palavra se constitui, assim, num “fenômeno
ideológico”, que reflete a experiência concreta de mulheres e homens, uma experiência que
evidencia desigualdades e relações de poder em diferentes representações: de papéis sociais,
de coragem, de fragilidade, de medos, sofrimentos, conquistas e descobertas, evidenciadas
em imagens, ideias e discursos. Nessa perspectiva, a linguagem na literatura se revela como
um poderoso instrumento de comunicação, de educação e, consequentemente, de ação
sobre o pensamento e sobre o outro.
E no moderno conto de Marina Colasanti (1992, p. 46-47), que discute o ideal de beleza,
silêncio e o papel de submissão a que toda mulher casada estaria sujeita: “Quanta alegria,
desta vez, na recepção do Rei. Sim, os nobres cavaleiros haviam dito a verdade. Ali estava a mais
bela das jovens. A mais delicada. A mais silenciosa. Ali estava a esposa que tanto buscara”.
Muitos estudiosos definirão a literatura como a arte de compor escritos. Veja o que nos
diz Roland Barthes sobre literatura:
“Entendo por literatura não um corpo ou sequência de obras, nem mesmo um setor
de comércio ou de ensino, mas o grafo complexo das pegadas de uma prática: a
prática de escrever. Posso portanto dizer, indiferentemente: literatura, escritura ou
texto (...) A literatura assume muitos saberes. Num romance como Robinson Crusoé,
há um saber histórico, geográfico, social (colonial), técnico, botânico, antropológico
(Robinson passa da natureza à cultura)”. (BARTHES, 2007, p. 16-17)
E estes escritos têm tido historicamente o papel de reserva cultural. Para grande parte
das línguas ocidentais (como o português e o inglês), o material literário é o alfabeto. Isso
significa dizer que, ao contrário das outras artes que lidam com aspectos “menos formais”
(o desenho, a dança, a mímica etc.), a literatura se vale de um signo para construir algo:
o signo linguístico. Este, marcadamente ideológico, porque é comprometido com o meio
sociocultural onde está inserido, regula os processos de interação social: a escrita, a fala e os
diferentes canais de manifestação do pensamento humano.
Nos três versos a seguir, tempo, espaço, pensamento simbólico, contextos e personagens
da literatura infantil, caminhando junto com os sentimentos e as descobertas, se abrem à
interpretação e ilustram breve e ludicamente um período histórico e a nossa discussão sobre
a relação entre literatura, ideologia, papéis e representações sociais:
Na Bela Adormecida (princesa linda e casta), história que nos remete aos tempos
medievais, o despertar para a maturidade: “Nasceu linda a menina filha de rei tão valoroso;
batizada e adorada, por seis fadas foi abençoada. Mas, por maldade ou inveja, por cem anos
precisou dormir, para só sair dali nos braços de um príncipe que a beijou, amou e fez sorrir”.
Em Branca de Neve, também evidenciando o período feudal, a conquista da maturidade,
a sobrevivência fora de casa e num ambiente hostil, a quebra de paradigmas e a reprodução
de estereótipos: a mulher má (a madrasta) e o homem salvador: “Branca, meiga e gentil,
despertou na madrasta um desejo de vingança. Mas era tão jovem a criança que se tocou o
caçador e correndo a libertou bem no meio da floresta. Sete homens a acharam, protegeram
e ajudaram”.
Em Rapunzel, como nas outras histórias deste mesmo período, o ensino de valores, a
legitimação de papéis sociais, o repúdio aos maus sentimentos (como a inveja) e o estímulo
às boas atitudes (coragem, bondade, perseverança): “Longas tranças, possuía e era bela e
formosa. Mas a bruxa invejosa a prendeu no castelo. Mas, mesmo na torre, essa princesa
corajosa casou com um príncipe sincero vestido de branco e amarelo”.
Como pudemos observar neste breve exercício de leitura, aspectos ligados à realidade
concreta de mulheres e homens em seus papéis sociais se descortinam, evidenciando as
representações e atributos esperados e valorizados para cada um deles na dinâmica social,
como discutido pela historiadora brasileira Heleieth Saffioti (1987, p.08), “A sociedade
delimita, com bastante precisão, os campos em que pode operar a mulher, da mesma forma
como escolhe os terrenos em que pode atuar o homem”. Essas expectativas e representações,
presentes nas diferentes manifestações de linguagem, se abrem ao universo infantil por meio
da arte, seja ela visual, escrita, imagétina, virtual, teatral ou corporal, na escola e fora dela.
Daí a importância, como afirmam os PCN (BRASIL, 1997), de sensibilizar as crianças para a
diversidade e para o respeito à humanidade presente em cada um de nós.
Considerações finais
Aprendemos, nesta aula, que leitura e literatura são elementos fundamentais para o
desenvolvimento infantil e para a formação humana e que a arte literária é uma forma
privilegiada de contato com a realidade, de construção das identidades e de respeito à
pluralidade e à diversidade. Ela nos revela o mundo e media a nossa relação com ele. Uma
relação cheia de história, ideologias e subjetividades. Com ela aprendemos e ensinamos.
Com ela podemos favorecer o contato cada vez mais aprofundado, sensível e crítico da criança
com a arte em suas diferentes manifestações.
Referências
ALENCAR, José de. O Guarani. 1959. (Obras completas).
COLASANTI, Marina. Uma voz entre os arbustos. In: e a Rosa. Rio de Janeiro: Salamandra, 1992.
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 5ªed. São Paulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Relacionar as fases do desenvolvimento infantil às escolhas literárias,
competências e habilidades de leitura e produção de textos em diferentes
linguagens e áreas do conhecimento.
Temas
Introdução
1 O sujeito leitor e a Estética da Recepção.
2 O leitor na educação infantil e a literatura em linguagem verbal e não verbal
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e literatura na infância
Introdução
Em nossos estudos, aprendemos que a criança lê o seu entorno muito antes do
aprendizado sistemático da leitura e da escrita e que seu desenvolvimento envolve diferentes
fatores ligados aos aspectos motores, intelectuais, cognitivos e emocionais. Neste sentido,
ela precisa ser estimulada a vivenciar histórias, contos, jogos, brincadeiras e dramatizações
que encantem e mobilizem diferentes estruturas mentais, intelectuais, físicas e relacionais.
Assim, como veremos nesta aula, pode-se formar um sujeito leitor, dialogar nas diversas
áreas do conhecimento e, ao mesmo tempo, construir conhecimentos; para isso, ela precisa
ser vista, sentida, ouvida e estimulada em práticas que envolvam o contato cada vez mais
íntimo e frequente com a arte e a literatura infantil.
Veja o que nos dizem Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1986, p. 11) sobre a importância
da aprendizagem da leitura para os sujeitos:
Lendo e/ou produzindo textos, as crianças podem dialogar com diversas áreas do
conhecimento e, ao mesmo tempo, construir conhecimento (linguístico, lógico-matemático,
espaço-temporal, físico etc.) em diferentes situações de comunicação. Assim, ela aprenderá
a variedade de grafias que usamos numa palavra; as letras e as sequências em que elas
podem ocorrer; os valores sonoros, os sentidos (conotativo e denotativo) e seus significados
em cada contexto.
O sujeito leitor: aquele que se deixa envolver pelo texto (em qualquer linguagem) e
descobre nele novas possibilidades; que dialoga com suas palavras e mensagens; que é
sensível e curioso, buscando novos conhecimentos, e que, abraçando uma postura crítica, vai
além das linhas e se envolve também com as entrelinhas do texto. Ele participa e encontra
prazer nas suas descobertas e nos diálogos com o autor.
• Reprodução: reescrita, paráfrase (dizer a mesma coisa com outras palavras), paródia
(recriação crítica ou irônica de um texto), resumo oral e escrito;
Nessa perspectiva, é preciso ter cuidado para que a literatura seja um caminho de
sensibilização e aproximação entre a arte, a leitura e os sujeitos, e não apenas um instrumento
a serviço da educação e da avaliação escolar. O objetivo do trabalho com a arte e as narrativas
infantis repousa na possibilidade de formar leitores proficientes, críticos e com autonomia
para ler e fazer suas próprias escolhas literárias.
Considerações finais
Que aula deliciosa! Aprender enquanto ensinamos a amar a arte, a leitura e a literatura!
Como observamos ao longo desta aula, ao favorecer o contato da criança com o material
artístico e literário, o educador também aprende e se sensibiliza. Nas fases e afinidades
com temas e abordagens, nos identificamos com os jovens e descobrimos, neste diálogo
entre gerações, caminhos para retomadas e superações. Nossa leitura, comprometida
ideologicamente, porque é ligada aos valores sociais, ganha frescor e se renova. Caminhando
dessa forma, nos tornamos sujeitos leitores cada vez mais conscientes da capacidade
humana de constantemente aprender e superar-se, tendo a arte e a leitura como aliadas e
fiéis companheiras de viagem.
Referências
AZENHA, Mª. G. Construtivismo: de Piaget a Emília Ferreiro. São Paulo: Ática, 1986.
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 5ªed. São Paulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Compreender a importância do desenvolvimento neurossensório-motor
para a imaginação e criatividade infantil.
Temas
Introdução
1 Os sentidos e o papel do imaginário
2 Funções mentais, sentidos e aprendizagem
3 A poesia, a música, a expressão corporal e o desenvolvimento infantil
4 A arte visual e a criação textual em diferentes linguagens
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
A natureza precisou de muito tempo (aproximadamente 10 milhões de anos, dos
primatas ao Homo sapiens) para preparar um sistema nervoso centralizado que tornasse
possível o pensamento humano e que integrasse informações polissensoriais cada vez mais
abundantes e sofisticadas. Neste processo de evolução do cérebro humano, o aparecimento
da consciência representa o desenvolvimento dos neurônios e suas muitas possibilidades
de conexão, da linguagem, das atividades conscientes e reflexivas e de todas as formas de
representação e comunicação que conhecemos.
Desta perspectiva, como realizar um consistente trabalho educativo por meio da arte e
suas muitas linguagens?
É sob essa perspectiva que ela organiza conhecimentos de acordo com os sentidos:
Assim, a criança explora o ambiente, relaciona-se com seus pares (a mãe, o pai, a família,
outras crianças, etc.) e se expressa utilizando as mais diversas manifestações de linguagem.
Daí a importância da vivência com a arte (visual, musical, teatral, corporal...) e suas muitas
possibilidades de expressão simbólica e concreta para a afetividade, o equilíbrio emocional,
as relações humanas e o desenvolvimento infantil.
No que diz respeito à relação assimétrica entre os saberes na escola, podemos pensar nas
construções culturais que privilegiam, em cada contexto sócio-histórico, uma manifestação
de linguagem em detrimento de outra; como é o caso da escrita, da matemática, da filosofia,
do teatro, da dança em diferentes momentos da história. O que queremos, nesta disciplina,
é pensar sem hierarquias; é reconhecer a importância do trabalho sensível, porque aberto a
diferentes linguagens, com as distintas manifestações do pensamento humano.
4.1 Grafitismo
Um exemplo atual que bem ilustra essa discussão é a arte chamada grafitismo. Diferente
da pichação (escritas e rabiscos sobre muros e espaços públicos), que, sem nenhuma
preocupação estética polui visualmente as grandes cidades, o grafite é baseado em desenhos
cujos elementos visuais (letras e/ou figuras) são cuidadosamente pensados, elaborados,
desenhados e coloridos para que representem o pensamento, as ideias e a mensagem que
o artista quer passar; uma mensagem que possa sensibilizar e conduzir diferentes sujeitos a
refletir, mudar, transformar.
Observe as ilustrações:
Pensar a arte visual e a criação textual em diferentes linguagens nos permite pensar
também na relação forma/conteúdo, ou seja, a relação entre o texto, a técnica usada e a
mensagem que se quer passar. No trabalho com crianças esta é uma possibilidade ímpar por
permitir a vivência concreta dos elementos que constituem uma obra artística: o artista, o
texto (discurso e contexto) e a técnica utilizada.
Vamos ilustrar essa discussão com um exemplo concreto: sua escola vai realizar um evento
chamado Semana Cultural e o tema de sua turma da educação infantil é meio ambiente. Para
o desenvolvimento do seu projeto, você define a linguagem a ser explorada – a arte visual – e
a técnica – o grafitismo. A partir daí você seleciona o artista que lhe permita explorar com as
crianças seu universo simbólico (composto de cores, formas, personagens, sensações); sua
imaginação, sua percepção; seu conhecimento de mundo (a rua, as casas, as praças) e de meio
ambiente. Respeitando os critérios previamente estabelecidos e os objetivos traçados para
este projeto, você vai poder explorar as relações entre a linguagem, a técnica e a mensagem
que o artista quer passar (ou sugere) na produção de leitura de suas obras e na releitura que
as crianças poderão fazer em linguagem oral, escrita, imagética, corporal, teatral, etc.).
Vistas dessa forma, a arte visual e a criação textual em diferentes linguagens configuram-se
como possibilidade indispensável na sensibilização e educação de crianças porque envolvem,
para além do conhecimento acadêmico e artístico, o exercício do pensar e se expressar com
imaginação e criatividade, sobre diferentes assuntos por meio de diferentes linguagens.
Considerações finais
Como aprendemos, os sentidos são fundamentais para pensar, expressar e comunicar
mensagens; para observar o cotidiano e nele perceber objetividade e subjetividade; para
captar a produção artística e seu olhar privilegiado sobre as coisas, um olhar que nos chega
por meio da arte visual, da poesia, da dança e tantas outras manifestações de linguagem. Os
sentidos são, portanto, portas abertas para o simbólico, para o imaginário, para a criatividade
e aprendizagem infantil.
Referências
MARINHO, H. R. B. et al. Pedagogia do movimento: universo lúdico e psicomotricidade. Curitiba:
Intersaberes, 2012.
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Conhecer os diferentes critérios e aspectos que compõem a produção de
leitura na escola.
Temas
Introdução
1 Análise do discurso e a produção de leitura em arte
2 A leitura nas diferentes disciplinas
3 A produção de leitura nas diferentes manifestações artísticas
4 Imagens e interdisciplinaridade
5 A arte (e seus autores) na escola
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Educar é uma ação que requer conhecimento, sensibilidade, atenção e também,
interação. É uma prática consciente, sensível e planejada que permite à criança saber de
si, reconhecer a igualdade na diferença e a riqueza da produção cultural de diferentes
tempos. Neste sentido, algumas provocações se destacam e servem de inspiração para o
desenvolvimento desta aula:
Esta proposta se apresenta para nós como importante possibilidade para pensar
a linguagem como manifestação do pensar de sujeitos que agem e produzem sentidos
historicamente. Sujeitos que leem, escrevem, fazem, reproduzem, interferem e transformam
a história.
Como discute Guimarães (2009), alguns elementos merecem destaque e precisam ser
considerados para um consistente trabalho de produção de leitura em diferentes linguagens
e idades:
• o texto é constituído de palavras e/ou imagens e, nelas, pistas e sinais que têm um
significado;
• é preciso ir além daquilo que o texto diz objetivamente e buscar o sentido escondido
(oculto nas entrelinhas – subjetividade);
• o sentido não está dentro do texto; ele nos oferece pistas, sinais, indícios. O sentido
é um trabalho de interpretação do leitor, a partir de suas condições de produção
(experiências e conhecimentos) e relação com a exterioridade;
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Arte e Literatura na Infância
• Os sentidos de um texto são afetados pela língua, pela história, pela experiência
simbólica e pelo conjunto de ideias e valores (ideologia) de uma cultura.
• sensibilização (uma história, uma música, uma tela, uma cantiga, uma brincadeira...),
algo que acione a memória afetiva dos sujeitos envolvidos;
• extrapolação, relacionando ideias do texto com suas vivências ou com outras áreas
de conhecimento (observando outros textos que dialoguem com texto estudado);
• até que possa resgatar e/ou acionar conhecimentos específicos de cada área, bem
como os fatos linguísticos (fonética, semântica, morfologia, sintaxe, estilística)
necessários para organizar ideias, articular os argumentos com textualidade (coesão
e coerência) e informatividade (nível de informações fornecidas ao leitor).
Como se observa, uma proposta que vai além de decifrar, de decodificar o signo linguístico
e sim, de considerar pistas, sinais, marcas presentes em diferentes textos (orais, escritos,
imagéticos...) para assim vê-lo em sua totalidade e contextualidade. Um estimulante convite
para que a criança leia a si mesma e ao mundo; para que cedo compreenda linguagens,
atribua sentidos, entenda implícitos, construa conhecimentos.
No domínio cognitivo, as crianças podem conhecer a vida e obra de artistas (da literatura
e de outras linguagens artísticas), analisar o trabalho do artista (valorização, preservação
e valor histórico de sua obra), conhecer a diversidade de produções artísticas – desenhos,
fotografias, colagens, ilustrações, cinema. Podem identificar movimentos artísticos e culturais
e, ainda, reconhecer técnicas e procedimentos artísticos presentes nas obras de artes visuais,
virtuais, escritas, etc.
4 Imagens e interdisciplinaridade
A interdisciplinaridade ou a integração dialógica e dialética entre diferentes áreas do
conhecimento tem, na arte, uma importante aliada. Acionando saberes construídos
historicamente nas diversas disciplinas e no universo simbólico, a subjetividade permite aos
sujeitos transitar e se relacionar livremente com espaços, técnicas, métodos, leituras e
interpretações das mais diversas (PAVIANI, 2008).
Você vai descrever (oral ou graficamente) uma rua. Pode ser a rua em
que você mora ou alguma de sua história cotidiana. Por meio da visão, como
você percebe a rua? Como é a sua forma? E as cores? E as casas, que formas e
cores têm? Você também pode perceber e caracterizar a rua utilizando outros
sentidos. Por exemplo: os sons da rua – ela é silenciosa ou ruidosa? Que tipo
de ruídos a caracteriza? Você também pode descrever a rua pelos cheiros que
existem nela (e os cheiros, muitas vezes, lembram sabores).
nosso olhar e nos diz de diferentes formas que a história é feita por sujeitos, o que a cultura
diz de nós e para nós, que a linguagem, materializada de diferentes formas, é trabalho cultural
que se revela à nossa interpretação por meio de diferentes discursos, contextos, valores,
representações e histórias.
Considerações finais
Nesta aula, pudemos aprofundar conhecimentos sobre práticas de leitura e texto na
escola, observando as diferentes formas de expressão por meio da linguagem. Aprendemos
também que o trabalho com a arte, abre canais de percepção que permitem aos sujeitos
explorar os sentidos e assim construir competências e habilidades físicas, motoras, psicológicas,
intelectuais e sociais, o que nos permite reafirmar a importância da arte para uma prática
educativa que permita aos sujeitos o livre acesso e a expressão de suas capacidades, seus
limites, seus pensamentos, seu jeito de ser e estar no mundo.
Referências
COSTA, M. M. da. Metodologia do ensino da literatura infantil. Curitiba: Ibpex, 2007.
PEREIRA, K. H. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008.
Objetivos Específicos
• Conhecer os conceitos de arte visual, as imagens e seus elementos, e sua
importância para as práticas interpretativas e educativas.
Temas
Introdução
1 A arte visual e os sentidos
2 Os elementos visuais na aprendizagem infantil
3 Arte visual e tecnologia
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Embora os primeiros contatos com a linguagem aconteçam no ambiente familiar, cabe
à escola, como espaço de socialização de saberes e formação humana, dar continuidade a
experiências que ampliem o contato com a arte e levem as crianças a conhecer e interpretar
a realidade. Neste percurso, é preciso considerar a diversidade humana e a pluralidade de
situações, contextos e linguagens. Uma música, um toque, um sabor, um perfume, um olhar,
sempre despertam memórias daquilo que experimentamos no corpo e na alma. Assim,
em meio a sensações, sinapses e conexões, armazenamos, classificamos e construímos
conhecimentos.
Para isso, observe atentamente a figura 1, respondendo para si mesmo o que vê, sente,
percebe e interpreta:
Nesta imagem – uma escultura produzida pelo artista italiano e grande expoente do
renascimento, Michelangelo –, variados fatores em diálogo evidenciam a complexa interação
entre o indivíduo e o meio; a experiência vivida pelo artista (suas condições de produção)
presentes no material e técnica escolhidos (escultura em mármore), na mensagem que
quer passar, nos sentidos que quer despertar. Em seu trabalho, o fiel retrato do herói bíblico
(anatomicamente forte, musculoso, belo) no momento que antecedeu a famosa batalha
contra o gigante Golias. Uma obra até hoje reconhecida por sua beleza, grandeza, técnica e
valor sócio-histórico.
Ver e observar, portanto, são ações extremamente importantes para as artes visuais
– campo bastante amplo e em constante atualização. Ele abrange qualquer forma de
representação visual (que aciona primordialmente o sentido da visão) que tenha cor e forma:
a pintura (técnica de aplicar pigmento – cor – a uma superfície), o desenho (composição
dimensional), a gravura (impressão a partir de uma matriz artesanal), a fotografia e o cinema.
Por esta razão, e pelo constante diálogo com diferentes linguagens, outras categorias são
incluídas em seu campo conceitual, abrindo um leque de possibilidades de estudo, discussão
e aplicação em sala de aula, com diferentes idades: arquitetura, escultura, novela, moda,
decoração, paisagismo, teatro, música, ópera, web design, instalação, etc.
Possível perceber que a sala de aula é um espaço privilegiado, ainda que complexo.
Neste ambiente, é possível observar a criança em seu desenvolvimento pessoal (mental,
psicológico, emocional...), social (interação, troca, colaboração, competição...), físico (motor,
corporal) e cognitivo (linguagem, competências e habilidades); aspectos que interferem no
seu processo educativo e que devem ser considerados na proposta de educação pela arte
(MARINHO et al., 2012).
Neste ponto, para continuidade desta discussão, duas provocações se fazem necessárias:
• Como trabalhar a arte visual para que ela favoreça a ampliação da capacidade de ler
o mundo nas crianças?
• Como utilizar a pluralidade (de sujeitos e culturas) e a diversidade (de cores, formas,
texturas, etc.) da vida cotidiana como aliadas numa educação pela arte?
Figura 2 - Singapura
Linha (grossa, fina, brilhante, colorida, continua), cor (primária, secundária e seu efeito
simbólico), textura (brilho, suavidade, aspereza), luz (luminosidade) e sombras permeando
toda a imagem, abrem espaço para a compreensão e provocam efeitos de sentido captados
diferentemente por quem olha (pela subjetividade). Nesse olhar, altura, largura e profundidade
(volume) ampliam as possibilidades de interpretação, criam a sensação de imagens fixas (como
essa fotografia) e lembram movimento (no cinema, na televisão, no vídeo, nos grafismos
informatizados, tão utilizados em narrativas futuristas).
[...] não é simples. Assim, embora possamos gozar de uma visão perfeita, muitas
vezes, parecemos vendados. Não basta abrir os olhos, precisamos exercitar nosso
olhar, como fazemos com nosso cérebro ou nosso corpo.
Essas marcas estão presentes também em outra importante expressão, que é a fotografia
(BUENO, 2013b), técnica criada em 1826 e que parte do princípio de expor um filme
quimicamente tratado à luz; na fotopintura, técnica também antiga e manual que consistia
em ampliar o aspecto visual da foto (colorir, inserir joias e/ou objetos na paisagem); nos
editores gráficos (Photoshop, GIMP, WCP, NeoPaint, etc.) largamente utilizados pelas mídias
impressas e televisivas para ajustar aspectos físicos de artistas, modelos e celebridades (sinais,
celulites, estrias, barriguinhas indesejadas, etc.); na fotocolagem (editor on-line e gratuito
para colagem de fotos); e tantos outros veículos, objetos e espaços que materializam nosso
pensamento, cultura e história por meio da arte visual.
Ainda que passíveis de discussão ética (pois envolvem direitos humanos, respeito à
diversidade, valores morais de cada sociedade, etc.), representam possibilidade de acesso a
saberes e informações das mais diversas para distintos sujeitos, incluindo possibilidades de
avanço e ampliação da linguagem e de nossa capacidade inventivo-comunicativa, na escola e
fora dela, por meio da arte.
É fascinante o universo da arte visual e das tecnologias. Presentes em nosso dia a dia,
elas nos tocam pelo aspecto sensível (exploração dos sentidos), pelo desafio da compreensão
e por nos oferecer, no trabalho com crianças, um importante leque de novas linguagens,
ferramentas (jogos, livros e excursões virtuais, aplicativos, filmes, animações, músicas, etc.),
leituras e possibilidades interativas, inclusivas (áudio, Libras, Braile...) e educativas.
Considerações finais
Como observamos, o trabalho com as artes visuais “concretas” (desenhos, pinturas,
gravuras, esculturas, colagens) e digitais (fotografias, fotocolagem e fotopinturas), ao colocar
a criança diante de diferentes linguagens e tecnologias, amplia seu olhar e abre janelas para
uma leitura crítica e sensível da realidade em que as imagens e seus elementos constitutivos
podem ser vistos em seu contexto social, político, cultural e histórico. Assim, recursos
tecnológicos como o Photoshop, que cria “belezas artificiais”, podem ser discutidos sob a
ótica da ética (e nela os valores humanos de cada cultura) e da estética (discussão sobre a
beleza); importantes canais para a formação integral e cidadã das crianças.
Referências
BUENO, L. E. B. Linguagem das artes visuais. Curitiba: InterSaberes, 2013a.
Objetivos Específicos
• Conhecer os conceitos e elementos que compõem a linguagem musical e sua
importância para a sensibilidade e aprendizagem infantil.
Temas
Introdução
1 A linguagem musical e a inteligência
2 Música, acessibilidade e novas tecnologias
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Diferentes áreas do conhecimento têm investigado o desenvolvimento infantil da
perspectiva de sua formação integral e não apenas no que diz respeito aos conteúdos
curriculares e aos saberes disciplinares socialmente legitimados.
No contexto das práticas educativas para a formação integral da criança, no qual a arte se
insere, a linguagem musical revela-se como importante fator para sensibilização, aquisição,
desenvolvimento da linguagem e conhecimento de si e do mundo, como veremos nesta aula.
Para entendermos melhor e ampliar essa discussão, vamos investigar o que nos diz
a ciência sobre este assunto. No início da década de 1980, o psicólogo e cientista norte-
americano, Haward Gardner (MEYER, 2012), revolucionou a ciência educacional ao apresentar
a Teoria das Inteligências Múltiplas, uma abordagem que sugere pensar que os seres humanos
são dotados de diferentes inteligências – intrapessoal, interpessoal, corporal-cinestésica,
espacial, linguística ou verbal, musical, naturalista – e não apenas a lógico-matemática, tão
valorizada pela escola e pela sociedade. A partir dessa perspectiva, valida uma inteligência
musical passível de ser estimulada e desenvolvida nos processos pedagógicos, e que amplia
o acesso aos saberes culturais e a diversas manifestações de linguagem.
Nos anos 90, a psicóloga norte-americana Frances Rauscher fez uma extraordinária
descoberta: ouvir a música de Mozart melhorava as noções espaciais e o raciocínio
matemático das pessoas. O efeito era tão notório, que podia até ser demonstrado
com ratos de laboratório através de experiências em labirintos. Em pouco tempo,
Rauscher descobriu que as sonatas de Mozart para piano ativavam efetivamente os
genes envolvidos nos sinais nervosos dos ratos.
Para um bom uso da música como recurso pedagógico, sem deixar de lado
o prazer que ela provoca, vale a pena ler o livro de Martins Ferreira (2012),
“Como usar a música na sala de aula”, disponível em nossa biblioteca virtual.
Nele, você vai encontrar, além de boa fundamentação teórico-metodológica,
sugestões de atividades para desenvolver um bom trabalho com as diferentes
disciplinas.
como X-Box 360 Kinect, PS3) e todos os seus impactos positivos sobre os músculos, a atividade
cerebral, a concentração e o equilíbrio. Instrumentos decisivos para a integração social, a
aprendizagem, a qualidade de vida e a cidadania para diferentes sujeitos.
Considerações finais
Utilizar a música como recurso pedagógico não é uma sugestão, é uma necessidade. Ela,
seus instrumentos, ritmos, estilos e textos, ampliam a capacidade de ouvir, ver, observar,
expressar e aprender. Presente em nosso cotidiano (na respiração, no movimento, na fala,
nas batidas do coração, etc.) e nos diversos espaços de atuação e relação humana (na rua, na
escola, no transporte, no shopping, etc.), o som rapidamente nos invade e desperta
lembranças, sentimentos, emoções, experiências. Neste sentido, é um importante aliado
para sensibilização, memorização e aprendizagem de diferentes saberes (dentro e fora da
escola).
Referências
ADLER, S. S.; BECKERS, D.; BUCK, M. PNF: facilitação neuromuscular proprioceptiva – Um guia
ilustrado. Barueri (SP): Manole, 2007.
FERREIRA, M. Como usar a música na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2012.
Objetivos Específicos
• Compreender os conceitos e elementos que estruturam a arte dramática e
sua relação com a imaginação e o desenvolvimento infantil.
Temas
Introdução
1 Breve história do teatro
2 O teatro na educação e na escola
3 Sensibilização pela arte: os jogos teatrais na escola
4 Teatro, corporeidade e autoconhecimento
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Vamos iniciar esta aula com uma provocação: o corpo tem linguagem?
Tem sim! A expressão facial, os gestos, a respiração, o tom de voz; a forma de sentar,
andar, falar, pegar nos cabelos; os movimentos que fazemos com braços e pernas; tudo é
considerado forma de comunicação; são maneiras de transmitir objetiva ou subjetivamente
uma, ou muitas, mensagens. Dessa forma, revelamos o que nos agrada, aborrece; o que
desejamos; nossa alegria ou tristeza; quem somos e o que queremos. Nessa expressão do
corpo que fala, em muitas linguagens, marcas da história, da cultura, dos valores que cada
sociedade atribui ao gênero, à classe social, à geração, à etnia... enfim, aos variados aspectos
que nos constituem como sujeitos históricos.
Este é o material de que se alimenta o teatro, esta manifestação artística rica em técnicas
e recursos que permite aos sujeitos de diferentes idades e, especialmente às crianças, pela
via da educação, ampliar seu universo de expressão e seu acesso à cultura, como veremos
nesta aula.
Esta relação com o sagrado marcou a história do teatro. Nele, como em outras
manifestações de linguagem, sinais da cultura e do desejo humano de controlar a natureza
através de rituais: ora invocando (forças, deuses, energias), ora garantindo a posse (sobre os
seres vivos e as coisas), ora explicando ou controlando os fenômenos naturais (chuva, fogo,
vento, raios...), ora estabelecendo regras e validando a lógica social (casamento, maioridade,
etc.); ora usando máscaras para reverenciar, esconder, representar, etc.
Algo passível de observação na história oficial de cada sociedade são os exemplos de como
o teatro se manifestou em diversas épocas e culturas, como é o caso das máscaras funerárias
no antigo Egito; das tragédias de Sófocles e Ésquilo, dos cenários, das máscaras e do teatro ao
ar livre na Grécia antiga; das expressões teatrais religiosas e dos bobos da corte (funcionários
do riso para a monarquia) durante a Idade Média; das óperas (combinação entre a música, o
canto e o balé); dos teatros modernos cheios de pompa para os reis absolutistas; dos bailes de
máscaras em Veneza (permitindo a mistura entre pobres e ricos, nobreza e povo); dos rituais
indígenas de socialização e iniciação (nascimento, maior idade, morte, etc.) e das liturgias de
diferentes religiões (o batismo, o casamento, etc.). Essas expressões culturais, de maneira
harmônica, se encontraram e encontram também com outras linguagens, como a dança, a
pintura e o canto, contando importantes momentos da história da humanidade.
Possível observar, portanto, a forte relação entre o teatro e a expressão humana. Como
tornar esta arte mais acessível às crianças na escola é o que veremos a seguir.
O ato de dramatizar está potencialmente contido em cada um, como uma necessidade
de compreender e representar uma realidade. Ao observar uma criança em suas primeiras
manifestações dramatizadas, o jogo simbólico, percebe-se a procura na organização de seu
conhecimento do mundo de forma integradora. A dramatização acompanha o desenvolvimento
da criança como uma manifestação espontânea, assumindo feições e funções diversas, sem
perder jamais o caráter de interação e de promoção de equilíbrio entre ela e o meio ambiente
(BRASIL, 1997, p. 57).
Estes canais que cotidianamente utilizamos (sem nos darmos conta disso) na chegada
na escola, nos intervalos escolares, em nossas aulas (e nas relações sociais), configuram-
se como recursos importantíssimos para a arte teatral e para o desenvolvimento infantil,
período quando os acontecimentos se revestem de grande potencial dramático, fantasioso
e simbólico: como a leitura oral (expressão vocal) com voz empostada (bem articulada, com
entonação e boa dicção) de um conto, uma notícia, uma história (falando alto, sussurrando,
gritando, imitando a voz dos personagens, etc.); a expressão corporal mais altiva, mais dura
ou mais relaxada, a depender da situação e da necessidade de expressar poder, fragilidade,
ou chamar a atenção do grupo (autoridade, submissão, aproximação, etc.); o gestual
(mãos, expressões faciais, respiração, etc.); a improvisação (interpretação de um texto
sem preparação prévia); e a interpretação (internalização e apresentação das emoções e
pensamentos de um personagem) (REVERBEL, 2007).
Vejamos duas possibilidades de trabalho que a arte teatral e seu grande potencial
didático nos oferece, observando os diferentes canais de comunicação que aciona (visual,
gestual, motor, auditivo, tátil) e a abordagem de conteúdos, temas, situações de conflito e
desafio que fazem parte do dia a dia da sala de aula.
[...] um bom exercício para estimular a percepção das cores é usar folhas grandes de
celofane azul, vermelho e amarelo e observar o ambiente através delas. O céu mudará
para rosa ou roxo, as árvores ficarão quase pretas e em um instante o mundo mudará
de cor (GRANERO, p. 37-38).
Este exemplo, que pode ser ampliado para outras abordagens e sentidos, permite
trabalhar cores primárias (vermelho, verde e azul), cores secundárias (verde,
laranja e violeta) e a ampliação do olhar sobre as coisas e sobre a vida (tudo pode
mudar a depender do foco, da perspectiva, das cores e das lentes que usamos
para enxergar – lentes fornecidas pela linguagem artística). Possibilita também o
desenvolvimento da noção de representação (caminho para alcançar o pensamento
abstrato), uma vez que a mistura e forma em que as cores se dispõem representam
diferentes elementos da realidade (que podem não os reproduzir fielmente, mas
os representam).
Como se pode observar, aspectos fundamentais para a arte teatral (e para a vida) foram
explorados nestes dois exemplos: a oralidade, a expressão corporal, o gestual, a interpretação,
o improviso, os sentidos, etc., evidenciando sua importância como recurso pedagógico a
serviço da sensibilização e da formação cidadã.
Como se pode observar, são várias as possibilidades para desenvolver um trabalho lúdico
e consistente com as crianças, a partir da arte teatral. Esta, por sua abrangência e proximidade
com as emoções humanas e com outras linguagens (literatura, dança, música, etc.), permite a
Dessa perspectiva, a expressão corporal pela via do teatro, apresenta dois importantes
desafios na escola: favorecer o autoconhecimento e, com ele, o controle sobre o próprio corpo
e suas emoções; e o conhecimento do outro, para respeitar, interpretar e compreender as
mensagens que ele diz. Assim, ensinando a equilibrar pensamento e ação, língua e linguagem,
gesto e mensagem, o teatro permite a socialização, a expressão e a integração dos sujeitos e
a aquisição de conheciementos dentro e fora da escola.
Considerações finais
No trabalho com o teatro e a expressão corporal na escola, sentimentos, emoções e
conflitos (medo, agitação, raiva, intolerância, resistência, etc.) estão sempre presentes e
vão-se revelando, ainda que subjetivamente. Por isso devem ser observados e considerados
em relação aos recursos disponíveis para melhor abordá-los (textos dramáticos, musicais,
mímicas, fantoches, etc.). É preciso ver, em cada um deles, possibilidades educativas que
permitam aos sujeitos (crianças, docentes, comunidade, etc.) se expressar (por meio de
diferentes linguagens), refletir (sobre a realidade, sobre si mesmo e sobre o outro) e buscar
caminhos, estratégias e recursos de adaptação, superação e transformação.
Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a 4ª
séries): Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.
GRANERO, V. V. Como usar o teatro na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2011.
REVERBEL, O. G. Jogos teatrais na escola: atividades globais de expressão. São Paulo: Scipione,
2007.
Objetivos Específicos
• Relacionar o desenvolvimento infantil à expressão corporal através da dança,
reconhecendo sua importância na prática pedagógica com crianças.
Temas
Introdução
1 História da dança
2 Dança e corporeidade
3 A dança, os sentidos e a expressão criativa
4 A dança na educação e na escola
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Somos seres da comunicação. Em diferentes tempos, espaços e culturas, emitimos
mensagens usando o corpo, as mãos, os gestos, a expressão facial, o tom da voz, a postura
para expressar nossos medos, anseios e conquistas. Nesta linguagem do corpo, estão as
marcas da educação, do nosso olhar sobre as coisas, sobre os fatos, sobre as pessoas, sobre
a história.
1 História da dança
Muitos anos se passaram até que o ser humano pudesse se comunicar por meio da
escrita. Nesse percurso, e na incessante busca de novas realizações, diferentes formas de
comunicação e expressão dos sentimentos e desejos foram desenvolvidas, utilizando uma
ferramenta simples e de grande importância: a observação. Com ela, o homem dominou a
natureza, transformou o ambiente, domesticou animais; aprendeu e registrou movimentos
dos ventos, das folhas, das águas, dos seres vivos de diferentes formas e tamanhos que lhe
serviram de inspiração, de modelo para novas formas de atuação e expressão, para novas
linguagens, como é o caso da dança.
A expressão corporal por meio da dança também vem desta observação e está presente
na história da humanidade desde a antiguidade. Vinculada inicialmente aos rituais sagrados
(no Egito), aos jogos (na Grécia), e à expressão cênica nas óperas no final da Idade Média, foi
com o balé do período renascentista (século 15), inicialmente na Itália (com representações
dramáticas e improvisadas) e mais tarde na França, com Luís XVI (que fundou a Academia Real
de Dança em 1661) que a dança adquiriu status profissional e de expressão corporal, baseada
na precisão técnica, no vocabulário e figurino próprios, na arte interpretativa, na vinculação à
música e à arte plástica, na disciplina e na valorização da bailarina como elemento principal.
2 Dança e corporeidade
Para a Biologia, o corpo é uma estrutura física, uma “engrenagem” composta de órgãos
e sistemas onde habita a vida humana. Para as Ciências Humanas, o corpo, para além do
biológico, é também uma produção social e cultural, como analisa Onuki (2013, p. 163):
“O corpo carrega informações, sejam biológicas, sejam culturais. Portanto, não podemos
caracterizar o corpo apenas por sua parte estética, ou aparente”.
É nessa complexa integração entre corpo físico, mente e contexto sócio-histórico que a
humanidade se constitui e que os indivíduos constroem e internalizam sua imagem corporal.
Uma imagem composta de histórias, papéis, máscaras, cores, experiências, sabores, sentidos
e significados culturalmente ensinados e aprendidos por meio de diferentes linguagens
na família, na escola e na sociedade. Neste panorama, há presença marcante dos valores
culturais e dos saberes ensinados na escola, na maneira como nos vemos (autoimagem), nos
avaliamos (autoestima) e lidamos com nosso corpo (corporeidade).
Esta complexa comunicação pelo corpo, para além da expressão artística, vem sendo
estudada pela teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner (MEYER, 2012), para
ele, essa capacidade de internalizar e expressar sentimentos por meio do corpo pode ser
inserido no campo da inteligência Cinestésica – capacidade para criar objetos e produtos,
E por que muitas vezes percebemos o que o outro sente só de olhar para ele?
Pois é, o nosso corpo fala (mesmo quando não queremos que ele fale) utilizando
a linguagem não verbal. Os outros nos leem pela forma como andamos, gesticulamos,
movimentamos os olhos, respiramos, dançamos, o que mais uma vez evidencia a importância
da linguagem corporal para a comunicação humana e da dança como a arte da contemplação
(estado de observação, meditação), dos movimentos e seus significados (místicos, rituais,
cerimoniais, sensuais, etc.), da beleza (experiência estética e subjetiva), dos sentidos (tato,
visão, audição, paladar, olfato), do corpo que fala em movimentos livres (improvisados) ou
planejados (coreografados), mas sempre manifestando seus sentimentos e sua história, afinal,
como discute Tandra (2013, p. 15): “[...] a dança é uma das formas de comunicação mais
antigas que existe, pois, antes mesmo de o homem começar a falar, ele realizou movimentos
de dança”.
Gestos e movimentos, então, tem caráter pessoal. Eles podem também ser universais?
Cada país, cada cidade, cada região tem sua própria cultura: marcas do passado, das
tradições e valores passados de geração em geração presentes nas canções, nos gestos, nas
expressões. Ainda que muitas formas de expressão sejam universais (como o sorriso, por
exemplo), outras, podem ter significado distinto para cada cultura, como o aperto de mão, o
beijo e a dança. Fato é que o corpo fala em conjunto: expressões, gestos e movimentos se
complementam e harmonizam no momento da comunicação.
Considerações finais
Aprendemos nesta aula a importância da dança e da linguagem corporal na relação entre
as pessoas. Aprendemos também a importância de estimular o uso da dança na escola como
prazeroso recurso para sensibilizar, ensinar e ampliar a participação da criança no dia a dia
escolar. Espaço onde aprende, expressa, comunica e ressignifica sentimentos.
Referências
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a 4ª
séries): Arte. Brasília: MEC/SEF, 1997.
GOELNER, S. V. A produção cultural do corpo. In: LOURO, G. L. et al. Corpo, Gênero e Sexualidade.
Petrópolis (RJ): Vozes, 2003.
MAÇANEIRO, S. M. et al. Linguagem da dança. In: BUENO, L. E. B. et al. Por dentro da arte.
Curitiba: InterSaberes, 2013.
Objetivos Específicos
• Conhecer procedimentos didático-metodológicos em Artes e sua importância
para o desenvolvimento de competências e habilidades na infância.
Temas
Introdução
1 O ensino de arte no Brasil
2 O ensino de arte e o trabalho com competências, habilidades e atitudes
3 A arte, as crianças e a prática docente
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
O conceito de leitura, até há bem pouco tempo, girava em torno da capacidade de
decodificar o signo escrito. Assim, diferentes textos, em sua complexidade e contextualidade,
perdiam-se por carência de interação, de diálogo. Hoje, sabemos que é preciso ler o mundo
em suas variadas manifestações de linguagem, para cada vez mais cedo atribuir sentidos,
compreender e interagir com o que está à nossa volta.
Dessa perspectiva, como veremos nesta aula, é grande a contribuição da arte para
a educação. Por meio dela (numa abordagem que considera seus aspectos teórico-
metodológicos), a criança atribui sentidos, observa o contexto sócio-histórico, político
e ideológico no qual autor, texto e leitor estão inseridos, produzindo leitura e, assim,
desenvolvendo as competências e habilidades necessárias para sua formação integral.
• na sala de música;
• nas aulas de teatro, nas aulas de literatura e nos demais espaços onde as linguagens
se manifestem para registrar, comunicar e veicular cultura.
• fora da escola, tem a função social do ensino de arte, como analisa Zagonel (2012, p.
36), de “[...] contribuir para preparar o cidadão para viver em sociedade”.
Tanto para nós (adultos) quanto para as crianças, a arte está sempre ligada à sua
materialidade (existência concreta) na percepção, na produção ou na fruição, daí a
necessidade da exploração (e análise crítica) de diferentes linguagens artísticas, tomando
diferentes perspectivas.
1 Criada por Ana Mae Barbosa, esta abordagem é difundida no país por meio de projetos como os do Museu de Arte Contemporânea de São
Paulo e o Projeto Arte na Escola da Fundação Iochpe (BRASIL, 1997, p. 25).
No que diz respeito à prática pedagógica com crianças, o trabalho com a arte (em suas
diversas manifestações) deve ter como meta (e seguindo procedimentos didáticos2 ) (DIAZ,
2013):
• apreciação de obras artísticas (uma tela, uma escultura, um grafite) e não artísticas
(trabalho dos colegas, pintura da sala, etc.), de novas tecnologias (celular, computador,
jogos eletrônicos...), de inovações culturais (mostra de projetos com instalação,
parcerias entre artigos de estilos diferentes, teatro ao ar livre, esculturas vivas, etc.);
2 Didática: ramo da pedagogia que se ocupa de métodos e técnicas a serem usados pelo docente (elemento mediador) para o ensino e a
aprendizagem.
Importância também deve ser dada no que diz respeito a individualidades e à autonomia
das crianças no desenvolvimento de suas competências e habilidades, como defende a
proposta construtivista de ensino. Nessa proposta, a mediação teria papel fundamental
no fazer artístico, ao permitir (e ao mesmo tempo estimular) que as crianças exponham
livremente suas produções e dúvidas, considerando seus estágios de desenvolvimento e suas
compreensões.
Neste percurso, onde interação, mediação, cognição e cultura caminham lado a lado,
objetividade e subjetividade em constante diálogo permitem o desenvolvimento afetivo e
psicomotor e, consequentemente, a construção de competências e habilidades. E, neste
sentido, se afinam com a proposta de formação integral pela via da arte.
Seguindo esta linha de análise, o trabalho educativo com a arte, em suas diferentes
manifestações, em consonância com os procedimentos didático-metodológicos de cada
etapa do desenvolvimento infantil, amplia o olhar e abre perspectivas para diferentes
leituras: de obras artísticas em diferentes estilos (literatura, música, escultura, pintura, dança,
teatro, etc.), de vestuários (na relação tempo/espaço), de arquitetura urbana (as fachadas,
as moradias, as escolas, os espaços comerciais...), de arte erudita (clássica) e popular (na
pintura, o grafite; na música, o funk, o rap e tantos outros), de lazer (as praças, os parques
temáticos, os cinemas...), de tecnologias.
Dessa forma, ela (a arte), mantendo sua essência transformadora e sua fidelidade à
expressão humana em sua singularidade, complexidade e subjetividade, apresenta amplos
e sensíveis caminhos para o ensino e a aprendizagem infantil. Caminhos que precisam de
espaço, tempo didático, mediação docente (sensível, crítica e atualizada) e novas tecnologias
(máquinas fotográficas, computadores, celulares, ipods, etc.), para potencializar o acesso (a
portadores e não portadores de deficiências) e o diálogo entre a arte, a história, a realidade
e os sujeitos.
Considerações finais
Como observamos nesta aula, ensinar considerando os procedimentos didático-
metodológicos (a abordagem triangular – conhecer, fazer, apreciar; a produção de leitura; a
dramatização; a contação de história, etc.) e refletindo sobre as competências, habilidades e
atitudes pelos caminhos da arte e para além dos muros da escola, permite a ampliação da
leitura de mundo (considerando tempos, contextos e espaços), o respeito ao ser (em sua
individualidade e pluralidade) e à realidade de cada sujeito envolvido no processo educativo.
O que requer da docência, sensibilidade e conhecimento teórico, didático e metodológico
afinados com o desejo de promover uma educação para a consciência crítica e a transformação.
Referências
BARBOSA, A. M.; SALES, H. M. (orgs.). O ensino da arte e sua história. São Paulo: MAC/USP,
1990.
PEREIRA, K.H. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Compreender a importância da arte de contar histórias para a aprendizagem
infantil.
Temas
Introdução
1 Contar histórias: de onde vem esta arte?
2 O ato de contar
3 A narração e outras linguagens em diálogo
4 Para que, o que e por que contar?
5 A narração, a pedagogia, a psicopedagogia e a psicanálise
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Era uma vez...
Expressão mágica! Senha para entrar no fantástico universo das histórias – narrativas
que estão presentes desde o início dos tempos (entre 5.000.000 a.C. e 25.000 a.C., época dos
primeiros hominídeos) na história da humanidade e que ainda hoje encantam, despertam e
se atualizam.
A partir dos registros (imagens) deixados nas cavernas, podemos interpretar que observar
e contar histórias já fazia parte do cotidiano de mulheres e homens desde a pré-história,
quando estes primeiros habitantes da terra se reuniam em torno da fogueira para narrar,
ouvir e desenhar acontecimentos, conquistas, derrotas, nascimento e morte.
Com a escrita (por volta de 4.000 a.C), outras formas de registro foram abraçadas, o que
permitiu a difusão da experiência humana na terra. Mas é fato que a oralidade, fortemente
presente nestes primeiros narradores, marcou (e marca) a aventura de ver, interpretar e
produzir história utilizando a linguagem artística.
2 O ato de contar
“O contador é um artista da voz e do gesto” (GILLIG, 1999, p. 83).
Nosso primeiro contato com o mundo mágico das histórias geralmente se dá quando
ainda somos bebês. Somos acalentados por mágicas narrativas nas quais heróis, princesas
e animais falantes vivem fantásticas aventuras. Esses textos, e tantos outros que nos foram
apresentados nas séries iniciais e ao longo da vida, compõem o nosso repertório cultural e
interferem, de maneira incondicional, na nossa sensibilidade, na nossa criatividade e no olhar
original que cada um de nós tem sobre a vida.
Hoje, como docentes, seguimos o caminho iniciado por esses primeiros contadores.
Reunidos (numa rodinha, numa sala de aula, num auditório), observando o entorno, usamos
a oralidade (hoje alimentada por outras formas de registro) para sensibilizar, para levar
sonho, fantasia, história, realidade e aprendizagem para uma plateia cada vez mais exigente
e desafiadora – as crianças.
Emoção, esta é a senha. É preciso gostar de ler e aprender a viajar com os livros e as
histórias. A memória é seletiva, o que nos emociona é mais fácil de ser guardado. Por isso,
o encontro com a narrativa deve ser cuidadoso, deve encantar desde o primeiro momento
(COELHO, 1999). Deve ser uma vivência de respeito e descobertas. Uma espécie de passaporte
para uma doce e vertiginosa viagem, em que o passado, o presente e o futuro dialogam.
• a sensibilização (preparação da turma para este momento de prazer, que pode ser
uma conversa informal, uma música, uma pista, um tema...);
• o uso do corpo (os gestos, as mímicas, as expressões faciais e corporais que darão
vida e cor ao enredo, aos personagens);
• a escolha de recursos e forma de contar (com ou sem livro, com objetos, com
imagens, com filme, com fantoches etc.);
• a concentração e a escuta;
• o contato físico (por meio das atividades desenvolvidas durante ou após a narração);
Este relato permite que realidade e fantasia se encontrem numa rede de fios, estilos e
recursos de linguagem que, entrelaçados, apresentam conteúdos, sentimentos e sentidos de
natureza múltipla, compreensíveis no momento da recepção – relação entre autor, leitor e
texto; momento cheio de subjetividades e possibilidades de atribuição de sentidos e produção
de leitura.
E como já aprendemos, ler não é apenas decifrar o que está escrito (leitor ascendente), mas
também, e principalmente, compreender (leitor proficiente). Na pressa (leitor descendente),
atropelamos palavras, tropeçamos no sentido e não efetivamos a produção de leitura
(atribuição de sentidos ao texto). Ler, portanto, é somar (subjetividades e informações). Lendo
(coisas, pessoas e mundo), somamo-nos ao outro e ampliamos saberes. Lendo e contando,
multiplicamos possibilidades de sensibilização, apropriação, interpretação, expressão, ensino
e aprendizagem.
A riqueza dessas narrativas pode ser observada no fantástico mundo das fábulas de
Esopo, em que os animais refletem valores humanos; nos clássicos contos de Grimm e de
Perrault, revelando contexto histórico e simbologias; nos contos de Andersen, expondo sua
experiência pessoal em narrativas cheias de encanto e ensinamento; nos textos de suspense,
enigma e aventura provocando o pensamento lógico e a resolução de desafios; nos contos
modernos de Marina Colassanti; nos poemas e sua sonoridade, seu movimento e incentivo
à sensibilidade; nas narrativas épicas cheias de amor e honra; na literatura infantil brasileira
local, regional, nacional.
Enfim, temos um leque de possibilidades, de janelas que se abrem para o deleite e para
o trabalho de formação leitora, considerando os estágios de desenvolvimento, as fases de
leitura, o objetivo pedagógico e a aproximação entre a criança e a literatura.
Nesse sentido, ao favorecer o contato da criança com o material artístico e literário pela
via da contação de histórias (quando o educador empresta seu corpo, sua voz, sua energia e
sua emoção à literatura), se estabelece um vínculo fundamental e promissor entre o educador,
a criança e a literatura.
Para Gillig (1999, p. 76), “O conto de fadas leva a criança para uma viagem
maravilhosa e, no final, volta à realidade, uma realidade que nada mais tem de
mágico, pois se está no nível do cotidiano comum”.
Considerações finais
Aprendemos, ao longo desta aula, que a narração de histórias tem importância
fundamental para o desenvolvimento infantil e para a prática pedagógica com crianças. Vimos,
também, que a mediação docente (ao emprestar seu corpo, sua voz, sua sensibilidade e
energia para a contação) favorece a construção de competências e habilidades que permitirão
à criança transitar pelo universo da literatura, da arte e dos demais saberes com sensibilidade,
autonomia e consciência crítica. E que a Arte, em suas distintas manifestações (como é o caso
da narração), permite às crianças e docentes uma vivência de prazer e aprendizagens.
Para saber mais sobre esta incrível e milenar arte da voz e do gesto – a
contação de histórias – acesse nossa Midiateca e assista ao didático e
estimulante vídeo da TV PUC: A Arte de Contar Histórias.
Referências
COELHO, B. Contar histórias: uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1999.
FARIA, M. A. Como usar a literatura infantil na sala de aula. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2009.
LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. Literatura infantil brasileira: histórias & histórias. São Paulo: Ática,
2004.
Objetivos Específicos
• Conhecer autores e livros infantis, sua relação com o contexto histórico e sua
importância para o ensino e a aprendizagem das crianças.
Temas
Introdução
1 Escritores clássicos e modernos: de Cinderela a Alice
2 Escritores nacionais e a literatura regional
3 A escrita feminina e masculina para crianças
4 Autores, personagens e temas para a infância
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Seguindo o ditado popular, “quem conta um conto aumenta um ponto”. Foi assim
que a literatura para crianças, vinda da Europa entre os séculos 18 e 20, se misturou às
tradições culturais dos povos colonizadores do Brasil: portugueses, indígenas e africanos
(especialmente), e, mais tarde, imigrantes, ampliando o universo das narrativas com
“identidade” nacional, uma identidade miscigenada, rica, plural, multicultural e, por isso
mesmo, de grande importância para a cultura e a escola.
Nesta aula, tomando como perspectiva a relação entre a literatura, a história e a educação
de crianças, ampliaremos conhecimentos sobre os autores clássicos – nacionais e atuais –,
que vêm inspirando a prática educativa, atualizando as tradições culturais, ampliando as
possibilidades de expressão oral e escrita e favorecendo a aproximação entre a criança, o
texto literário e a aprendizagem.
Nesta época de clara distinção entre as camadas sociais (o clero, a nobreza, a burguesia
de um lado, e o proletariado, do outro), de grandes bailes e ricos encontros “mundanos” em
salões reais, nasceu a “moda” dos contos de fada – narrativas que, presentes na oralidade
de diferentes culturas desde a Idade Média, ganharam força neste momento histórico de
reestruturação da sociedade, da família, da educação e dos valores sociais , pois uniam
tradição oral, valores morais e os elementos da cotidianidade (o galanteio, a maldade, a
inveja, etc.).
Essa “moda” chegou ao Brasil no início do século 20 (via tradução) e só era acessível
a crianças (com prévia censura) e adultos das classes dominantes. Os contos eram lidos em
rebuscadas publicações, contados nas poucas escolas desse período para meninos e nos
conventos (onde teve início a educação feminina), recontada e atualizada nas ruas. Esta
literatura já encantava (um prazer muitas vezes silencioso, na leitura individual), entretinha
(nas festas, salões, saraus) e ensinava (boas maneiras, papéis sociais, obediência, história,
padrões de beleza e comportamento adequados às mulheres e aos homens também). Daí a
alusão ao seu potencial pedagógico e à sua crescente apropriação pela escola (GILLIG , 1999).
Como arte milenar, a literatura tem, na palavra oral ou escrita, sua força de expressão.
Uma expressão que tem sua estética pautada nas relações entre língua e linguagem;
Daí sua importância na escola como recurso indispensável para sensibilizar, formar e
expressar a riqueza artística e cultural de diferentes lugares, tempos e contextos.
São exemplos de clássicas histórias (velhas conhecidas nossas), ainda bastante apreciadas
pelas crianças por conta de suas narrativas cheias de magia, simbolismos e significados:
Dos escritores clássicos citados (Grimm, Perrault e Andersen), aos modernos como:
• Lewis Carrol, e sua fantástica história de “Alice no País das Maravilhas” (um “país”
em outra dimensão onde as coisas, os animais e as pessoas tinham uma mágica e
extraordinária relação), e
Veiculados em livros (em diferentes materiais e recursos visuais), ilustrações (em diferentes
estilos) e filmes (com pessoas, animações e musicais) com modernos recursos tecnológicos
(3D, 4D), como se vê nas famosas adaptações de importantes estúdios cinematográficos,
a exemplo de Walt Disney Company, essas (e tantas outras) histórias são frequentemente
reeditadas e adaptadas em diferentes mídias e linguagens, atingindo (e fidelizando) um
público cada vez mais amplo e diversificado, como é o caso da releitura
Você sabia?
• Pequena Sereia (que trocou sua voz pela possibilidade de amar e, assim, ter uma
alma imortal);
• Soldadinho de Chumbo (que mesmo com uma perna só, enfrenta o ogro e se sacrifica
pelo amor da bailarina); e
• Patinho Feio (que nascendo feio, é expulso da colônia de patos, sofre maus tratos, e
encontra a redenção na beleza e na fama, revelando uma espécie de autobiografia
do autor).
O conto de fadas, gênero narrativo nascido da tradição oral, com sua estrutura narrativa
que tem início, desenvolvimento e fim, serviu de inspiração para autores e estilos em
diferentes tempos. Da sua entrada em território brasileiro no início do século 20, aos dias de
hoje, casas editoriais em diferentes pontos do país vêm publicando histórias para crianças
pautadas na fantasia, no jogo simbólico e na poesia que tanto agrada o universo infantil (por
sua sonoridade, plasticidade e movimento).
Dessa perspectiva, vale conhecer alguns autores (e suas narrativas) que, em âmbito
nacional, têm permitido às crianças o acesso a uma prosa poética que prima pela qualidade,
inovação e criatividade. Para efeito didático, observando a necessidade de valorizar (e divulgar)
a escritura de diferentes vertentes e estilos literários no país, bem como a possibilidade de
trabalho com as crianças (observando as fases de leitura, e do desenvolvimento), vamos
conhecer alguns importantes representantes de cada uma das cinco regiões do país.
• Nordeste
• Sudeste
Com seu colar de coral, Carolina corre por entre as colunas da colina. O colar de
Carolina colore o colo de cal, torna corada a menina. E o sol, vendo aquela cor do
colar de Carolina , põe coroas de coral nas colunas da colina (MEIRELES, 1990, p. 72).
• Centro-Oeste
A poeta e escritora Cora Coralina (nascida Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas,
1889-1985), teve seu primeiro livro publicado aos 76 anos de idade, no qual se
revelou uma peculiar e sensível contadora das histórias do seu povo, via produção
poética: “ Meti o peito em Goiás e canto como ninguém. Canto as pedras, canto as
águas, as lavadeiras, também” (CORALINA, 2013, p. 9)
• Norte
• Sul
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca! Conversa é melhor do que piada. Exercício
é melhor do que cirurgia. Humor é melhor do que rancor. Amigos são melhores do
que gente influente. Economia é melhor do que dívida. Pergunta é melhor do que
dúvida. Sonhar é melhor do que NADA!
Até aquele momento, outros autores já tinham sua produção, nomes reconhecidos e
divulgados na produção literária e também na poesia destinada a adultos, como Castro Alves
(1883), Machado de Assis (1891) e Olavo Bilac (1910). Fato curioso, no que diz respeito à
infância nesse contexto, esse sucesso literário de Lobato – que não era professor, não estava
próximo das crianças e nem realizava atividade diretamente ligada ao público infantil.
Isso nos leva a pensar: por que ele, Monteiro Lobato, distante do
magistério (defendido historicamente como função/vocação feminina a partir
do século 19), foi quem teve destaque e legitimidade na escrita para a infância,
e não as mulheres, tão próximas das crianças por meio da maternagem e do
ensino primário? Porque eles, os homens, historicamente representados
como superiores e inteligentes e, portanto, dotados de autoridade, teriam
legitimidade para falar da e para a criança.
Num rápido olhar sobre a história, podemos observar que são os homens que mais
aparecem como cientistas, pintores, escritores, escultores; que explicam a infância e teorizam
sobre elas – evidenciando uma lacuna história que ocultou o protagonismo feminino: as
mulheres sempre estiveram presentes, pensando, escrevendo, educando, produzindo,
pesquisando, fazendo arte e fazendo história. Mas foram ocultadas no registro histórico por
conta da relação entre a escrita e o sagrado (ligado à masculinidade) e, consequentemente,
entre o saber e o poder.
Hoje, esse universo tem-se ampliado e já é grande o número de autoras que se dedicam
a escrever para crianças – ainda que seu reconhecimento esteja atrelado a outros fatores,
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Arte e Literatura na Infância
como o estilo (a poesia ainda é pouco editada), a região (sul e sudeste tem maior tiragem) e o
suporte de grandes editoras nacionais (que selecionam por temática e nomes já conhecidos).
• Ruth Rocha
A autora, utilizando como metáfora a relação de um coelhinho branco que quer ser
pretinho com uma menina pretinha, discute a forma de ensinar às crianças sobre a
sua identidade étnica, sobre família e sobre autoestima.
• Mabel Velloso
• Ricardo Azevedo
Escrever para crianças é uma arte. Sobre esta delicada arte, sensivelmente,
nos fala Ruth Rocha no vídeo É muito bom escrever para crianças, disponível
em nossa Midiateca. Confira!
Considerações finais
Como observamos nesta aula, autores e histórias continuam encantando crianças e
adultos e simbolicamente dialogando com nossas emoções, medos, desafios e descobertas.
Atualizadas pela tradição oral de cada país, de cada cultura, as histórias dizem de nós e para
nós num movimento que une prazer, suspense, romance, intriga, amor e vitórias. Ainda que
passíveis de crítica e releitura (observando aspectos de gênero, classe social, etnia, etc.),
como propõe e desafia a arte e a crítica contemporânea, as histórias são imprescindíveis para
uma prática sensível da língua, da memória e da história. Enfim, para a prática formativa com
as crianças de um modo geral.
Referências
AZEVEDO, R. Meu livro de folclore. São Paulo: Ática, 2000.
LAJOLO, M. Literatura infantil brasileira: história e histórias. São Paulo: Ática, 1999.
ORTHOF, S. Doce, doce... e quem comeu regalou-se! Ilustrações de Tato. São Paulo: Paulus,
1987.
PEREIRA, K. H. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.
Objetivos Específicos
• Valorizar os principais movimentos de arte, seus expoentes, relações e
importância para a prática educativa para crianças.
Temas
Introdução
1 Arte, interação e educação
2 E foi assim que tudo começou...
3 Os movimentos de arte e a prática com as crianças
Considerações finais
Referências
Professora
Rita de Cássia Costa Moreira
Arte e Literatura na Infância
Introdução
Ao longo de mais de 30.000 anos, a humanidade vem registrando suas impressões por
meio de diferentes linguagens. De maneira intuitiva ou consciente, mulheres e homens
documentaram sua existência em materiais e com técnicas que receberam da sociedade
em que estavam inseridos, por meio da leitura, interpretação e tratamento diferenciado
a depender do contexto, dos valores sociais e históricos atribuídos e da legitimação pelo
pensamento dominante. É nesse contexto que a arte se insere. Por meio dela e de suas
muitas linguagens, é possível observar a evolução humana através dos tempos, conhecer as
características da vida de nossos antepassados mais distantes e assim reconstruir e entender
a nossa história.
Em todo esse tempo, a concepção de arte foi mudando de acordo com os valores
significativos de cada sociedade, em cada época, em cada contexto social, político, ideológico
e econômico (apoiado em modelos socialmente reconhecidos e legitimados). Os valores
vigentes (culturais, econômicos, religiosos), no que diz respeito aos materiais, às linguagens,
às normas e regras socialmente estabelecidas como o parâmetro avaliador para técnica e
estilo, foram fatores determinantes para a composição do que se convencionou chamar de
movimentos artísticos.
Nesta aula, vamos conhecer esses movimentos (especialmente no caso do Brasil) e suas
relações com a educação e a formação integral de crianças.
Como então trabalhar com os movimentos artísticos para que eles estimulem e favoreçam
a aprendizagem das crianças em diferentes anos escolares?
podem se manifestar de formas diversas. Esse contato com diferentes saberes e culturas
certamente possibilita aprendizagens ricas por meio do processo de mediação, conforme
defende a perspectiva sociointeracionista.
Para efeito didático, vamos aprofundar nosso olhar sobre a trajetória artística no Brasil, a
partir de cinco importantes momentos na história da arte: arte pré-histórica (arte rupestre);
arte do período colonial; arte no século 19; arte moderna; e arte contemporânea. Neles,
vamos conhecer especialmente a produção artística nacional (situando-a no contexto mundial)
identificando períodos, artistas, estilos, técnicas, influências e possibilidades educativas no
ensino fundamental.
seu cotidiano. No Brasil, um amplo território (que engloba prioritariamente áreas no Piauí,
Bahia, Minas Gerais e Paraíba) mapeado pela arqueóloga Niéde Guidon traz registros que
visualmente documentam (em formas e cores) a história desses primeiros representantes da
espécie humana em nosso território: cenas de caça, dança, combate, e figuras abstratas e
geométricas.
Uma arte reconhecida por sua riqueza, pela ampla possibilidade de nos aproximar
da nossa história primeva (ações, criações, costumes e vida em sociedade), que pode ser
observada em livros, exposições, sítios arqueológicos e museus, e explorada com as crianças,
em releituras ou como estratégia para contação de histórias.
Este intenso movimento culminou com a realização da Semana de Arte Moderna, evento
realizado entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922 em São Paulo e que reuniu intelectuais
e representantes de diferentes linguagens para discutir e apresentar novos conceitos e novas
formas de interpretação artística. Foram ícones da expressão modernista no Brasil:
Sobre o Brasil colônia, é preciso privilegiar a discussão sobre a nossa identidade. Tomando
como ponto de partida a herança cultural dos povos colonizadores – brancos, índios e negros
– e a riqueza de suas produções na arquitetura (observando igrejas, casas, construções
antigas, etc.), na literatura (contos, fábulas, lendas, canções, etc.), na música, na culinária
(feijoada, beiju, acarajé, mingau...), no vocabulário, nos costumes (tomar banho, dormir em
rede, adorar os deuses), na arte (cerâmica, pintura do corpo, arquitetura...), é possível refletir
com as crianças sobre a construção da nossa identidade observando o aspecto étnico (as
características de cada um dos povos no cabelo, no nariz, na cor da pele...), religioso (com
fortes marcas nas igrejas e capelas em todo o país) e cultural (nas diferentes manifestações
que compõem o acervo nacional – as festas populares e religiosas, as esculturas, as pinturas,
etc.) em atividades concretas e lúdicas por meio da dança, dos jogos e brincadeiras, do
trabalho com argila, com pintura e com desenho.
Nesse contexto, entende-se que o aluno, visto como centro e parte mais
importante do processo, deve sentir prazer em aprender, em fazer arte,
em criar, em improvisar, em ouvir, em ver e em apreciar as diferentes
formas artísticas. Ele deve se expressar por meio do fazer artístico, ao
mesmo tempo que adquire conhecimento e desenvolve suas habilidades.
(ZAGONEL, 2012 p. 77).
Considerações finais
Como vimos nesta aula, a aproximação entre as crianças e cada movimento artístico,
cada manifestação de arte, traz a possibilidade de conhecer a história concreta de mulheres
e homens, em suas relações com a vida e a realidade. E nessa experiência intelectual, afetiva
e sensorial, temos a valorização do trabalho de construção e expressão cultural e artística de
diferentes povos, em diferentes tempos. Um trabalho, que como analisa Pereira (2009, p. 09
) “[...] é a manifestação concreta dos significados que um determinado coletivo atribui ao
viver em grupo, é a maneira de criar sentidos para o cotidiano”.
Vale a pena assistir aos vídeos disponíveis em nossa Midiateca sobre a arte
contemporânea de Nina Pandolfo, sobre a Pop Art, e sobre a arte de rua dos
Gêmeos.
Referências
AMARAL, T. Autoretrato. 1923. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/
pessoa824/tarsila-do-amaral>. Acesso em: 29 out. 2014.
CORTELAZZO, P.R. A história da arte por meio da leitura de imagens. Curitiba: InterSaberes,
2012.
______. A história da arte por meio da leitura de imagens. In: CORTELAZZO, P.R. [et.al.] Por
dentro da arte. Curitiba: InterSaberes, 2013.
MEIRELLES, V. Primeira Missa no Brasil. 1860. Óleo sobre tela. Disponível em: <http://
enciclopedia.itaucultural.org.br/termo327/pintura-historica>. Acesso em: 29 out. 2014.
PEREIRA, K.H. Como usar artes visuais na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2009.
POST, F. Ruínas de uma igreja jesuíta em Olinda. [16--]. Óleo sobre tela. Disponível em: <http://
enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa9982/frans-post>. Acesso em: 29 out. 2014.
ZAGONEL, B. (org.) Arte na educação escolar. Curitiba: InterSaberes, 2012. (Série Metodologias).