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Matemáticos
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Centro Universitário Senac São Paulo – Educação Superior a Distância
Diretor Regional Luciana Marcheze Miguel
Luiz Francisco de Assis Salgado Luciana Saito
Superintendente Universitário Mariana Valeria Gulin Melcon
e de Desenvolvimento Mônica Maria Penalber de Menezes
Luiz Carlos Dourado Mônica Rodrigues dos Santos
Nathália Barros de Souza Santos
Reitor Paula Cristina Bataglia Buratini
Sidney Zaganin Latorre Renata Jessica Galdino
Diretor de Graduação Sueli Brianezi Carvalho
Eduardo Mazzaferro Ehlers Thiago Martins Navarro
Wallace Roberto Bernardo
Diretor de Pós-Graduação e Extensão
Daniel Garcia Correa Equipe de Qualidade
Ana Paula Pigossi Papalia
Gerentes de Desenvolvimento Aparecida Daniele Carvalho do Nascimento
Claudio Luiz de Souza Silva Gabriela Souza da Silva
Luciana Bon Duarte Vivian Martins Gonçalves
Roland Anton Zottele
Sandra Regina Mattos Abreu de Freitas Coordenador Multimídia e Audiovisual
Adriano Tanganeli
Coordenadora de Desenvolvimento
Tecnologias Aplicadas à Educação Equipe de Design Visual
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Caio Souza Santos
Coordenador de Operação Camila Lazaresko Madrid
Educação a Distância Carlos Eduardo Toshiaki Kokubo
Alcir Vilela Junior Christian Ratajczyk Puig
Professor Autor Danilo Dos Santos Netto
Monike C. S. Bertucci Fleischmann Hugo Naoto
Inácio de Assis Bento Nehme
Revisor Técnico Karina de Morais Vaz Bonna
Amélia Cristina Abreu Artes Lucas Monachesi Rodrigues
Técnico de Desenvolvimento Marcela Corrente
Adriana Ferreira Dutra Tomida Marcio Rodrigo dos Reis
Carolina Tiemi Sato Renan Ferreira Alves
Renata Mendes Ribeiro
Coordenadoras Pedagógicas Thalita de Cassia Mendasoli Gavetti
Ariádiny Carolina Brasileiro Silva Thamires Lopes de Castro
Izabella Saadi Cerutti Leal Reis Vandré Luiz dos Santos
Nivia Pereira Maseri de Moraes Victor Giriotas Marçon
Equipe de Design Educacional William Mordoch
Alexsandra Cristiane Santos da Silva Equipe de Design Multimídia
Angélica Lúcia Kanô Alexandre Lemes da Silva
Cristina Yurie Takahashi
Cláudia Antônia Guimarães Rett
Diogo Maxwell Santos Felizardo
Elisangela Almeida de Souza Cristiane Marinho de Souza
Flaviana Neri Eliane Katsumi Gushiken
Francisco Shoiti Tanaka Elina Naomi Sakurabu
Gizele Laranjeira de Oliveira Sepulvida Emília Correa Abreu
João Francisco Correia de Souza Fernando Eduardo Castro da Silva
Juliana Quitério Lopez Salvaia Mayra Aoki Aniya
Jussara Cristina Cubbo Michel Iuiti Navarro Moreno
Kamila Harumi Sakurai Simões Renan Carlos Nunes De Souza
Karen Helena Bueno Lanfranchi Rodrigo Benites Gonçalves da Silva
Katya Martinez Almeida Wagner Ferri
Lilian Brito Santos
Construção dos Conceitos Matemáticos
Aula 01
História da matemática
Objetivos Específicos
• Construção dos Conceitos Matemáticos
Temas
Introdução
1 Um mundo sem matemática?
2 A matemática surge a partir das necessidades humanas
Considerações finais
Referências
Professor
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Essa aula apresenta uma breve história da matemática para conhecermos suas origens e
o processo de desenvolvimento de conceitos matemáticos.
A partir do segundo tópico, o texto apresenta a matemática como uma criação humana,
mostrando etapas de seu desenvolvimento ao lado da evolução da humanidade.
O texto discorre sobre como percebemos nosso senso numérico e como o superamos,
após surgir a necessidade de quantificar e contar até criar formas e estratégias para
representar e registar quantidades. Veremos também como a necessidade de medir coisas
levou o homem a desenvolver as noções de medida e de geometria.
Vamos relembrar e analisar situações de nosso dia a dia para verificar se é possível ter
um mundo sem a matemática.
Ao acordar, a maioria das pessoas é despertada por um relógio, instrumento que mede
o tempo e o indica com algarismos (números)... Logo em seguida, as pessoas se vestem e
observam as condições climáticas do tempo e a temperatura (mesmo instintivamente) para
escolher o tipo de roupa: para um dia muito quente ou frio.
Ao sair de casa, muitos de nós utilizamos máquinas, veículos para nos locomover. Então
você dirá: “Não tem matemática nesse momento!”. Mas os veículos somente foram produzidos
A matemática está em praticamente em todos os aspectos de nossa vida. Nos dias atuais
é difícil pensarmos em um mundo sem matemática, sem os números, as medidas... Mas esse
mundo já existiu.
Segundo Carvalho e Gomes (2009), o homem1 que vivia naquela época (e as crianças
passam pelo mesmo processo antes de construir o conceito de número) apenas percebe
pequenas quantidades de até 4 (quatro) elementos. Nessa percepção, consegue-se distinguir
a unidade, os pares e muitos, conforme mostrado no esquema da tabela 1:
Um elemento = unidade
1 Nesse texto, o termo homem é usado como sinônimo de humanidade, referindo-se a homens e mulheres.
Faça o teste!
Em qual situação abaixo é mais fácil realizar a leitura?
a. 99444442 b. 9944 – 4442
Outra estratégia utilizada durante a leitura de um número maior que a nossa percepção
registra e que não apresenta nenhum sinal para organizá-lo em grupos é utilizar o auxílio dos
dedos da mão para marcar os algarismos que estão sendo lidos, assim vamos organizando-os
imaginariamente.
Houve um tempo em que o homem não sabia contar e, ainda hoje, algumas tribos
indígenas contam com apenas dois nomes de números. Eles utilizam dois-um para
expressar o três e dois-dois para expressar o quatro. Quando querem expressar
muitos, apontam para sua cabeça como sinal de inúmeros, tal qual é o número de fios
de cabelo da cabeça. (CARVALHO e GOMES, 2009, p. 56)
Outra situação clássica, muito utilizada para demonstrar a percepção do senso numérico
é a questão:
Imagine que você esteja numa festa. Em que momento é mais fácil saber se há mais
homens ou mais mulheres na festa: quando estão dançando, ou quando a múscia
para e as pessoas estão conversando pelo salão? Por quê? (Questão obtida no site do
programa Educar e citada por LOPES, VIANA e LOPES, 2005, p. 10)
É claro que é o momento em que as pessoas estão dançando, pois estão organizadas em
pares e nossa atenção se focará na percepção da diferença entre a quantidade de homens e
mulheres que não estão dançando.
Quando o homem começou a quantificar, ainda não existiam os números. Então, como
se determinava a quantidade de determinadas coisas?
Acredito que você já deve ter ouvido ou lido a história dos pastores, que no início do dia
levavam o rebanho para pastar e retornavam com os animais ao final do dia. Pois bem, para
saber a quantidade exata dos animais que eram levados e trazidos, e principalmente saber
se algum animal havia se perdido pelo caminho ou se desgarrado do rebanho, os pastores
pegavam um saco e colocavam uma pedra para cada animal que saía da área reservada ao
descanso.
Então o homem buscou uma forma de registrar a informação fazendo marcas nas
paredes das cavernas. Carvalho e Gomes (2009, p. 56) nos trazem uma imagem do que pode
ser o registro de quantidades relacionando-o com a quantidade de dedos da mão humana:
I Bastão 1
Calcanhar 10
Rolo de corda 100
Flor de lótus 1 000
Dedo apontando 10 000
Peixe 100 000
Você já calculou? São 400 palitos. Imagine contar tudo isso um a um? É nesse sentido
que o agrupamento facilita a organização da vida humana.
Os sistemas antigos de numeração dão uma boa noção de como foi essa passagem
e muitos deles usavam a noção de agrupamentos para formar representações de
números maiores. Por exemplo, na numeração romana, as letras são usadas para
representarem os números. “VIII” representa 8, que é o mesmo que I + I + I + V = 1 + 1
+ 1 + 5. O “V” é uma representação para um agrupamento de 5 “I”. O “X” é o símbolo
para representar o agrupamento de 10 “I” ou de 2 “V” etc.
Esta ideia de que um número contém agrupamentos dentro dele nos dá a noção de
contagem que temos hoje. O sistema de numeração criado pelos romanos foi utilizado por
muito tempo. As quantidades eram representadas por símbolos e letras, que mudavam de
valor de acordo com a posição em que estavam.
I V X L C D M
1 5 10 50 100 500 1 000
Quantidade 3 = III “I + I + I”
Quantidade 30 = XXX “X + X + X”
outros povos e deles receberam influências para organizar esse sistema de numeração.
Mas foram os árabes que disseminaram esse sistema de numeração pelo mundo, por
isso o SND ficou conhecido como sistema de numeração indo-arábico.
Para a agricultura, era importante também prever épocas de frio e calor, as estações do
ano, chuva e seca. Então, o homem começou a medir o tempo, observando e registrando
as variações de períodos e o movimento dos astros como o sol, a lua a as estrelas. Assim,
povos antigos como os maias, astecas e incas, que habitaram a região central do continente
americano, criaram seus calendários.
Inicialmente, utilizava-se como unidade de medidas partes dos corpos das pessoas, como
a polegada, o palmo, o cúbito (ou côvado), pés e passos. Algumas delas são utilizadas até hoje,
mas o problema encontrado na utilização dessas medidas é que elas não são padronizadas.
O palmo de uma pessoa é diferente da outra, por isso surgiram muitas divergências sobre a
quantidade ou tamanho do que era medido.
Uma das alternativas utilizadas foi escolher o corpo do rei como referência, mas quando
o rei era destituído, causava nova crise, pois as próximas referências seriam novamente
diferentes. Essa alternativa também não se sustentou. Logo, o homem começou a buscar
unidades de medidas que não se alterassem com o passar do tempo, que não gerassem
divergências nas medidas das quantidades de mercadorias ou do tamanho (área) das terras. A
partir dessa necessidade, foram criadas as unidades de medida padronizadas, como o metro
e o litro, unidades utilizadas até hoje pela humanidade.
Com a expansão do império romano e o contato com a civilização grega, parte dos
conhecimentos matemáticos dos gregos foi aprendida pelos romanos, que se interessaram
mais pelas aplicações práticas nas áreas da engenharia, aplicando-as na construção de
estradas e aquedutos e na área da medicina.
Considerações finais
A matemática é uma construção humana, desenvolvida ao longo de nossa história.
Foi assim que a humanidade desenvolveu a matemática, construindo-a como uma ciência
que nos ajuda a resolver situações cotidianas e trabalhar com quantidades, medidas e formas
do espaço.
Por isso, acredito que é dessa forma que ela deve ser compreendida e ensinada.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
OLIVEIRA, A. A descoberta que mudou a humanidade. 2010. Ciência Hoje. Disponível em:
<http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/fisica-sem-misterio/a-descoberta-que-mudou-a-
humanidade>. Acesso em: fev./2014.
Aula 02
Conhecimento lógico-matemático e o conceito de número
Objetivos Específicos
• Compreender como se constrói o conhecimento lógico-matemático e o
conceito de número.
Temas
Introdução
1 Diferentes tipos de conhecimento: diferentes tipos de aprendizagem
2 Diferenças entre abstração empírica e abstração reflexiva
3 O conceito de número
Considerações finais
Referências
Professor
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Nesta aula, iremos estudar o que é e como se constrói o conhecimento lógico-matemático
e conceito de número a partir dos estudos do epistemólogo1 suíço Jean Piaget (1896-1980).
Apesar de Piaget não se preocupar em desenvolver uma obra para a educação, muitos
educadores têm se baseado nos estudos do pesquisador suíço para compreender como as
crianças aprendem e analisar as implicações pedagógicas de sua teoria.
De acordo com cada tipo de conhecimento, ocorre um tipo de aprendizagem, por isso
é importante que o professor saiba distinguir esses tipos de conhecimento para propiciar a
situação de aprendizagem adequada a cada um.
1 Estudioso e pesquisador de questões que se relacionam com o conhecimento humano, com a forma como o homem, sujeito que aprende,
constrói o conhecimento.
Figura 1 – Fichas
Observamos duas fichas: uma verde e a outra amarela. A cor de cada uma delas é uma
propriedade física, uma característica do objeto e está na realidade externa do sujeito. A
forma redonda também é outra característica do objeto.
De acordo com Lopes, Viana e Lopes (2005, p. 32): “A experiência sobre o objeto
conduzindo a uma abstração a partir do objeto, assim, é a experiência física que é propriamente
uma descoberta das propriedades das coisas”.
Se a criança não tiver a oportunidade de observar, pegar, comparar com outras cores e
outras formas de fichas, ela não conseguirá entender o que são cores e formas. Por isso, essas
experiências, essa interação com os objetos e pessoas do mundo exterior são importantes
para o aprendizado.
São as convenções criadas socialmente, como o nome de um objeto, por exemplo. Por
que o recipiente no qual se coloca o alimento para comer se chama prato?
Um último exemplo interessante apresentado por Lopes, Viana e Lopes (2005) e citado
por Guimarães (2010) é o fato de algumas crianças, até mesmo aquelas bem pequenas,
cantarem os números até dez. Digo cantar em vez de contar porque se ensina à criança
recitar a sequência numérica até dez acreditando que esse procedimento fará com que ela
compreenda o que são os números.
Ao questionar essa criança que sabe recitar os números até dez para ela mostrar
quanto é o 9 (nove), ela não sabe indicar porque ainda não compreendeu que o nove é um
agrupamento de nove unidades ou de três grupos com três elementos em cada um. Essa é a
diferença entre decorar os números e compreender o conceito.
Porém, não é assim que se ensinam os números, porque eles não são conhecimento
arbitrário socialmente construído. Os números foram construídos a partir de relações lógicas,
por observação, experimentação, elaboração e testagem de hipóteses, como nos mostra a
história da matemática. Trata-se, portanto, de um conhecimento de outra natureza.
Figura 2 – Fichas
A cor é característica de cada uma, porém, a diferença estabelecida entre uma cor e
outra não está nas fichas. É uma relação mental criada por cada sujeito.
Isso depende da classificação que o sujeito escolhe para analisar as fichas: se for
considerar as cores, a relação será de diferença; se for escolher o quesito forma, a relação
mental criada será de semelhança.
Lopes, Viana e Lopes afirmam que “o sujeito faz abstração de determinadas propriedades,
partindo das próprias ações e não a partir do objeto” (2005, p. 33).
Dessa maneira, ninguém pode aprender no lugar de outras pessoas. O que se pode fazer
– papel que se espera do professor – é criar situações de aprendizagem, situações em que
cada sujeito, cada criança tenha condições de observar, experimentar, levantar hipóteses e
testar essas hipóteses para construir uma relação mental baseada em lógica.
Lopes, Viana e Lopes (2005, p. 33) indicam que “de acordo com Piaget, a abstração
reflexiva é a fonte do conhecimento lógico-matemático porque pressupõe o estabelecimento
de relações e apoia-se nas coordenações das ações ou operações dos sujeitos”.
3. Se de fato foi construído a partir de relações mentais criadas pelo indivíduo, não será
esquecido.
Mas saber a natureza de cada tipo de conhecimento não é suficiente para poder ensiná-
lo com propriedades. É necessário saber também como a criança abstrai e aprende.
Estruturas cognitivas são as relações criadas pelo cérebro e que correspondem a ações
aprendidas pelo sujeito. No início da vida, a criança possui poucas estruturas cognitivas,
e geralmente simples, resultado do aprendizado de ações reflexas. Conforme cresce, se
desenvolve e aprende, o cérebro vai estabelecendo novas relações e incrementando suas
estruturas cognitivas. São essas estruturas que também permitem novos aprendizados.
As estruturas cognitivas podem ser desenvolvidas a partir dos processos de assimilação e
acomodação. Esses conceitos são centrais na obra de Piaget.
Quando o sujeito recebe uma informação, um novo saber, ele pode criar uma situação
de conflito em suas estruturas cognitivas, porque recebe uma nova informação que não se
encaixa ou se adéqua ao conhecimento que já construiu e nem se encaixa nas estruturas
cognitivas metais que possui. Isso coloca em xeque seus conhecimentos e as estruturas
cognitivas desse sujeito entram em desequilíbrio.
Nessa fase, a criança consegue fazer abstrações concretas, ou seja, aprender por
meio da experiência: a professora pede para ela separar um punhado de sementes
de vários tipos (milho, feijão, arroz, ervilha), de acordo com a semelhança, e fazer
grupos com 12 sementes em cada um. Ao final da tarefa, a professora explica que
agrupamentos com a quantidade 12 recebem um nome especial, são chamados
de dúzia e que a criança separou “uma dúzia de semente de milho”, “uma dúzia de
semente de feijão”, e assim por diante. Depois dessa atividade, a criança com certeza
terá construído a estrutura mental para compreender o que é uma dúzia.
Ainda segundo Piaget, essas fases são vividas por todos os indivíduos mas nem sempre
ao mesmo tempo. A idade em que se vive cada fase depende de cada indivíduo e pode ter
variações nas faixas etárias. Essa observação é corroborada por Carvalho e Gomes (2009, p.
47):
Piaget descreveu a sequência das etapas pelas quais os seres humanos passam
durante seu desenvolvimento cognitivo. Essas etapas seguem as mesmas sequências
em todos os seres, embora não se deem necessariamente na mesma faixa etária. Uma
nova forma de organização cognitiva, ou seja, nova estrutura, implica numa mudança
de etapa e também maior equilíbrio – forma superior de adaptação.
A noção sobre essas fases de desenvolvimento estabelecidas por Piaget nos auxiliará a
compreender que, de acordo com cada fase, a criança consegue desenvolver algumas ações
e realizar determinadas abstrações, empíricas ou reflexivas, e que, como professores, não
podemos propor situações desafiadoras a ponto de a criança não possuir ainda estruturas
mentais para compreendê-las e superá-las.
A abstração empírica ocorre quando o sujeito utiliza suas estruturas mentais mas apoia-
se na interação com o meio ou sobre o objeto. A fonte da abstração é externa ao sujeito.
De acordo com Guimarães (2010, p. 46) a “abstração empírica pode ocorrer, então, a
partir da vivência de situações envolvendo objetos concretos (de diferentes cores, tamanhos,
espessuras, texturas etc.) que o professor apresenta às crianças na escola”.
A criança só pode aprender o que é a cor verde se ela visualizar e observar essa cor.
Assim, o aprendizado do conhecimento físico acontece por meio da abstração empírica. Uma
característica da abstração empírica é que ela nos faz focar apenas em um aspecto, no caso
apresentado, a cor.
Já a abstração reflexiva tem sua fonte interna ao sujeito, por se tratar de ação mental,
como estabelecer a diferença entre duas cores, por exemplo. A diferença não está nas cores
propriamente ditas, ela está na relação mental que o sujeito estabelece. Trata-se de uma
construção de relações que não tem existência na realizada externamente.
Nessa etapa das operações concretas ainda faz-se necessário o uso de recursos
manipuláveis ou imagens concretas que ajudem o sujeito a coordenar a ação de reversibilidade,
ou seja, a criar mentalmente o princípio de que é possível reverter um processo.
Cuidado para não confundir abstração empírica e abstração reflexiva nessa situação,
nos alertam Lopes, Viana e Lopes (2005, p. 33) “o sujeito utiliza-se de objetos manipuláveis,
entretanto, as informações são abstraídas a partir das coordenações das ações mentais sobre
os mesmos.”
3 O conceito de número
Para compreender o conceito de número, é necessário conhecer a história da matemática
para saber que ele surge da necessidade de quantificar, determinar a quantidade de
elementos em um grupo. Esse processo iniciou-se com a correspondência um a um e depois,
com a necessidade de registrar essa quantidade, foram criados os símbolos (algarismos que
frequentemente chamamos de números) para registrar as quantidades.
Kamii (1990, p. 20) apresenta uma imagem que mostra o processo de contagem realizado
por muitas crianças de 4 anos:
Essa figura mostra como a ideia de seriação é necessária para construir a ideia de número
e organizar o pensamento.
A classificação é entendida como uma ação lógica de agrupar ou separar por semelhança.
Podemos, assim, classificar os animais em grupos dos que possuem duas patas e dos que
possuem quatro patas; podemos classificar, agrupar as árvores frutíferas, separando-as dos
A ação de classificar está presente em nosso dia a dia quando guardamos as roupas nos
armários dos quartos, a comida na cozinha, os brinquedos em caixas específicas, separando
cada classe de objetos dos demais.
A inclusão hierárquica é a ação que permite compreender que uma classe está dentro
da outra, como entender que a classe das maçãs é diferente da classe das bananas, mas
ambas estão inclusas na classificação frutas. Ou, pensando em números, que o número um
está incluído no número dois e que o número dois está incluído no número três e assim por
diante, como mostra o esquema a seguir:
A autora foi aluna e colaboradora de Jean Piaget, por isso discute com
propriedade as implicações educacionais de seu professor. O livro aborda assuntos
como a natureza do número, os objetivos para “ensinar” número, os princípios de
ensino e apresenta situações que podem ser utilizadas pelos professores a fim de
proporcionar situações de aprendizagem matemática à crianças entre 4 e 6 anos
de idade.
Considerações finais
Nessa aula, vimos as contribuições dos estudos de Jean Piaget para a compreensão dos
diferentes tipos de conhecimento: o físico, o social e o lógico-matemático, que demandam
diferentes situações de ensino para que possa ocorrer a aprendizagem.
das operações lógicas de seriação e classificação, que são relações mentais estabelecidas
pelo sujeito para entender o que é o número.
Referências
CARVALHO, A. M. F. T.; GOMES, M. T.; PIRES, M. N. M. Fundamentos teóricos do pensamento
matemático. Curitiba: IESDE Brasil, 2009.
Aula 03
Características do sistema de numeração decimal e sua
representação numérica
Objetivos Específicos
• Identificar as características do sistema de numeração decimal e sua
representação numérica.
Temas
Introdução
1 Sistema de numeração decimal
2 Características do sistema de numeração decimal
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Nessa aula, iremos estudar o sistema de numeração decimal (SND), conhecendo sua
origem, sua representação numérica e suas características.
Sistema de numeração, de acordo com Dias e Moretti (2011, p. 20) pode ser entendido
como forma de “registrar e representar a variação de quantidades”. Cada sociedade criou seu
próprio sistema e o organizou de maneiras diferentes, com símbolos e regras próprias.
símbolos:
O zero foi o último algarismo a ser inventado. Adiante conheceremos sua história.
27 (vinte e sete)
3 845 236 179 (três bilhões, oitocentos e quarenta e cinco milhões, duzentos e trinta
e seis mil, cento e setenta e nove).
Sistema de numeração
Sistema egípcio Sistema romano
decimal
27 XXVII
4 538 MMMMDXXXVIII
Sistema de numeração
Sistema egípcio Sistema romano
decimal
306 CCCVI
1 005 MV
• É aditivo e multiplicativo;
• É posicional;
2.1 A base 10
Os hindus desenvolveram um sistema de base 10, ou seja, baseado em agrupamentos de
10 elementos. A ideia de base apoia-se na ideia de agrupamento. Outras civilizações, como
os babilônicos, por exemplo, escolheram o agrupamento de 60 elementos para organizar seu
sistema de numeração. Em algumas situações específicas, como a contagem de tempo e o
registro dele em horas, minutos e segundos, também utilizamos a base sessenta. Os hindus,
assim como os egípcios e os romanos, optaram pela escolha da base 10 para organizar seus
sistemas de numeração decimal.
I V X L C D M
1 5 10 50 100 500 1 000
Em numeração egípcia:
(500 + 10 + 10 + 10 + 5 + 1 + 1)
(5 × 100 + 3 × 10 + 7 × 1)
Esse valor pode ser identificado de acordo com as ordens e as classes dos números. Por
exemplo, se o algarismo 4 estiver na posição de unidade de milhar, significa que passa a valer
ou indicar quatro mil, ou seja, quatro agrupamentos de mil unidades. Se o algarismo 6 estiver
ocupando a posição de centena simples, significa que ele representa seis agrupamentos de
cem unidades. Observe na tabela 5:
Imagine, então, a seguinte situação: um comerciante hindu negocia com dois clientes
ao mesmo tempo. A conta do cliente A foi trezentos e um e a conta cliente B foi trinta e
um. Utilizando os algarismos indo-arábicos e o conhecimento sobre os agrupamentos, valor
posicional e ordem dos números, o registro ficava assim:
Cliente A Ciente B
C D U C D U
3 1 3 1
Observe que são os mesmos algarismos utilizados: três depois o um. O que os diferencia
é a posição que esses números ocupam na tabela. Imagine agora que o comerciante não tem
uma tabela como a do quadro para fazer o registro. É possível diferenciar um número do
outro?
Os sábios hindus resolveram a situação observando o espaço. Tais cálculos eram realizados
em tabelas improvisadas no chão ou em outro lugar que se pudesse fazer pequenas covas
para colocar as pequenas pedras (calculus em grego). Cada pequena cova registrava uma
ordem. Observaram então que, no caso do número trezentos e um a cova da dezena ficava
vazia, então revolveram a situação criando um símbolo para representar o vazio, o nada,
mas que ao mesmo tempo tem a função de indicar uma ordem naquele número. O símbolo
inventado foi o zero, cujo formato lembra uma pequena cova vazia.
Essa foi considerada uma das grandes invenções matemáticas, pois foi a criação desse
símbolo que potencializou o uso do valor posicional, como afirmam Lopes, Viana e Lopes
(2005, p. 38) “Para representarmos uma determinada quantidade por números e fazer uso do
valor posicional, necessitamos usar outra grande invenção da humanidade, isto é, o número
para representar o nada – o zero.”
Tal fato permitiu à humanidade operar os números com mais rapidez e lidar de maneira
relativamente simples com a representação de grandes quantidades, conforme afirma
Carvalho e Gomes (2009, p. 61) “Vale lembrar que a invenção do zero, muito mais tarde,
tornou realizável cálculos que até então não eram possíveis de ser feitos.”
Considerações finais
Nessa aula, vimos como o sistema de numeração se desenvolveu e como os hindus
criaram regras e símbolos para facilitar muito os cálculos e as representações dos números,
utilizando apenas 10 símbolos.
Vimos que o sistema de numeração decimal possui características que o tornam muito
prático: possui (a) base 10, ou seja, se organiza a partir de agrupamentos de 10 elementos,
tornando mais ágil a contagem de grandes quantidades, pois podemos contá-las de 10 em
10, de cem em cem, mil em mil e assim por diante; essa estratégia revela seu princípio
multiplicativo (b), além do aditivo, encontrado também em outros sistemas de numeração.
Tem valor posicional e um símbolo para indicar o vazio e auxiliar a marcar a posição dos
números.
Ora, para bem conhecer o sistema de numeração decimal, devemos conhecer suas
características e isso envolve compreender os agrupamentos realizados, os valores posicionais,
os princípios aditivo e multiplicativo (já estamos “fazendo continhas”!) e a função do zero. Se
nossos futuros alunos entenderem esses princípios, não terão dificuldades com os tais “vai
um” ou “empresta um”.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Aula 04
Processos de aprendizagem desenvolvidos pelas crianças para
a construção do conceito de número e a representação gráfica
Objetivos Específicos
• Analisar os processos de aprendizagem desenvolvidos pelas crianças para a
construção do conceito de número e a representação gráfica
Temas
Introdução
1 O contato com a matemática na vida e na escola
2 Processos de aprendizagem para a construção do conceito de número
3 Hipóteses das crianças sobre a escrita dos números
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Esta aula procura analisar os processos de aprendizagem desenvolvidos pelas crianças
para a construção do conceito de número e a sua representação gráfica. Entendendo o
conceito de número como uma relação mental que deve ser construída por cada sujeito,
a partir das interações estabelecidas com o meio em que vive, o texto dessa aula propõe
algumas reflexões.
No primeiro tópico há uma reflexão sobre a matemática com a qual a criança tem contato
fora e dentro da escola e do quão necessário é relacioná-las, levantando os conhecimentos
prévios dos alunos para utilizá-los como ponto de partida para o ensino de matemática na
escola.
O terceiro tópico apresenta as hipóteses que crianças com idades entre 4 e 5 anos
elaboram sobre a representação gráfica dos números e revelam o modo como elas organizam
seu pensamento na tentativa de compreender o significado do número.
Ou, ainda, quando a criança tem contato com os números ao brincar com objetos e
com outras crianças, ao ter de fazer a divisão de brinquedos ou de colegas para compor dois
times para jogar futebol, por exemplo; quando marcam pontos nos jogos em que participam,
quando escolhem o número de um canal televisivo para assistir a seus programas favoritos.
Tais situações fazem com a que a criança construa os chamados “conhecimentos prévios”,
ou seja, ideias e hipóteses sobre o que é o número e sua utilidade. Conforme Guimarães (2010,
p. 58), esse conhecimento varia de acordo com o meio social em que ela vive: “Um meio
social mais favorecido de estímulos, no qual a criança observe a função social do número, por
exemplo, favorece a construção dos conhecimentos prévios.”
Entretanto, nem sempre essas recomendações são acatadas, ou por falta de conhecimento
e formação do próprio professor, ou por opção do sistema de ensino disponível. Outro fator
é o recente tempo, se considerarmos a história da humanidade e da matemática, há cerca
de 30 anos apenas essas recomendações começaram a ser feitas. Antes disso, o professor
preocupava-se apenas em ensinar a matemática, apresentando todo o conteúdo programado
para cada ano escolar sem considerar o conhecimento prévio do aluno.
Isso não significa que esse ensino tem de ocorrer somente pela escrita e memorização
dos números, pois a escrita do número, sua representação, deve resultar de um processo de
abstração reflexiva, que a criança da Educação Infantil ainda não consegue realizar devido
à ausência de estruturas cognitivas necessárias a essa abstração, mas já desenvolveu as
estruturas mentais necessárias para a realização de abstrações empíricias.
Repare que a criança, como sujeito que aprende, desenvolve um papel ativo no
processo de ensino e aprendizagem. Essa participação nos lembra um pouco da própria
história da matemática, que a apresenta como uma criação humana, desenvolvida a partir de
necessidades humanas, como a necessidade de quantificar e contar.
• Brincar de dentro/fora;
• Organizar uma fila de alunos, comparando a altura, do menor para o maior ou vice-
versa;
• Observar que a porta da sala fica do lado direito e as janelas do lado esquerdo;
Essa ação ou exploração mobiliza o que Lorenzato (2006, p. 25) chama de “sete processos
mentais básicos para a aprendizagem da matemática: correspondência, comparação,
classificação, sequenciação, seriação, inclusão e conservação”. Esses processos permitirão à
criança construir o conceito de número mais tarde.
Lopes, Viana e Lopes (2005) sugerem ainda que, antes de passar à representação de
números, o professor deve fazer algumas experiências com quantidades, deixando as crianças
fazerem comparações utilizando objetos e situações reais em que elas tenham condições de
manipulá-los para fazer a exploração matemática, como propor às crianças de 4 ou 5 anos
comparar a quantidade de tampinhas de garrafa que há em uma caixa com a quantidade de
garrafas plásticas que há no chão.
Se você, professor, não oferecer à criança a chance de vivenciar essa situação e comparar
efetivamente as quantidades, fazendo a correspondência um a um, corre-se o risco de alguma
criança achar que há mais garrafas do que tampinhas, pois o conjunto das garrafas ocupa
um espaço maior e pode transmitir a sensação de que estão em maior número, ou maior
quantidade, como mostra a figura 1.
[...] uma situação interessante que uma professora inventou para desafiar suas
crianças. Elas já tinham tido experiências com quantidades, mas o novo desafio era
mais complicado. Nesse caso, elas não tinham duas quantidades para comparar.
Tinham uma só e tiveram que descobrir a outra.
— Os feijões têm que dizer quantas crianças têm neste grupo. Vocês não devem falar.
Em vez disso, devem me mostrar os feijões. E eu, vendo os feijões, tenho que saber
quantas crianças estão no grupo.
De repente, uma aluna, que estava em um grupo de cinco, teve uma ideia. E logo
mostrou cinco feijões para a professora.
A menina colocou um feijão na frente de cada criança, isto é, “casou” um feijão com
cada criança, fazendo uma correspondência um a um. Seus colegas logo entenderam
a ideia.
Pode-se comparar várias coleções de objetos presentes na sala de aula: lápis de cor e
folhas; cadernos e livros, crianças e mochilas, meninos e meninas.
A maioria dos alunos deve ter imaginado que eu esperava que eles
escrevessem uma continha, que muitos ainda não ainda não sabiam fazer,
porque me perguntaram logo qual era a “conta” que deveriam: “é de mais ou
de menos?”. Respondi que não precisariam escrever uma conta, mas que me
mostrassem uma maneira de saber a quantidade de lápis que eu possuía.
[Aluno T] — Pode?
[Professora] — Sim.
Mesmo assim, outro aluno ainda demonstrava dúvidas, pois disse que não
tinha entendido. Então, peguei os lápis nas quantidades indicadas inicialmente
e tal qual, os distribuí em dois estojos. Entreguei ao aluno e refiz a pergunta:
[Aluno P2 ] — É só contar!
Iniciar o registro escrito permitindo aos alunos que utilizem desenhos e esquemas é
muito importante para ajudá-los a chegar à linguagem matemática. A linguagem matemática
é repleta de símbolos: sinais e algarismos, que se apresentados e utilizados antes de serem
compreendidos poderão se tornar uma barreira ao aprendizado da matemática.
BETINI, B. Batalhas numéricas. Revista Nova Escola. São Paulo, ago. 2006.
Contudo, as crianças ainda não atribuem o valor posicional ao algarismo e também não
demonstraram domínio da noção de agrupamento na base 10, uma das características do
Sistema de Numeração Decimal. Por esse motivo, é importante que o professor desenvolva
atividades que gerem a necessidade de agrupamento dos números de forma a auxiliar o
aprendizado das operações com os números.
Para fazê-las evoluir na escrita dos números e compreender que representam quantidades
acrescentando-se uma unidade ao próximo número da sequência e agrupando os números
na base 10, é importante que o professor proponha situações de comparação e análise
dos números. Pode ser em situações de jogo que gerem a necessidade de registro; faça
questionamentos e dê tempo para a criança pensar, analisar e comunicar seu pensamento.
Considerações finais
Procuramos refletir sobre o contato que as crianças têm com a matemática dentro e
fora da escola, como elas desenvolvem os processos de aprendizagem do conceito numérico,
como pode ser a intervenção do professor e quais ideias as crianças constroem sobre os
números.
Referências
BETINI, B. Batalhas numéricas. Revista Nova Escola. São Paulo. ago. 2006. Disponível em: <http://
revistaescola.abril.com.br/matematica/pratica-pedagogica/batalhas-numericas-428109.
shtml>. Acesso em: fev./2014.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Aula 05
Linguagem matemática: relação entre leitura e escrita dos
números
Objetivos Específicos
• Compreender o desenvolvimento da linguagem matemática analisando a
relação entre leitura e escrita dos números.
Temas
Introdução
1 A linguagem matemática
2 Relação entre leitura e escrita dos números
3 Construção da linguagem matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
O objetivo desta aula é auxiliar a compreender o que é e como se desenvolve a linguagem
matemática, bem como analisar a relação entre a leitura e escrita dos números.
1 A linguagem matemática
A linguagem matemática tem suas especificidades, pois se trata de uma combinação de
sinais, letras, palavras e regras definidas para expressar ideias. Nem sempre sua organização
e significados se assemelham àqueles encontrados na língua materna e, por isso, as crianças
podem encontrar dificuldades em compreender o significado dos termos utilizados na
linguagem matemática e até na aprendizagem e construção dos conceitos matemáticos.
Baseados nos estudos de Carvalho e Gomes (2009), vamos analisar o caso das palavras
“mais” e “menos” com as quais nominamos os símbolos “+” e “‒”, respectivamente. Em
matemática, essas palavras designam a realização de cálculos, operações. A palavra “mais”
mostra uma situação ou cálculo em que se adiciona uma quantidade à outra ou reúne-se duas
ou mais quantidades; é a ideia de adição. A palavra “menos” indica operação de subtração,
na qual se abate uma quantidade da outra (ideia de retirar, diminuir) ou completar o quanto
falta para chegar em outra quantidade, ou, ainda, de comparar quanto uma quantidade tem
“a mais” que outra – olha a confusão!
Percebam que a palavra “mais” da expressão “a mais” relaciona-se com uma ideia de
subtração. Isso por si só pode gerar confusões na sala de aula. No início do processo de
aprendizado da matemática, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, é bastante corriqueiro
uma criança realizar um cálculo de adição quando é solicitada a resolver um exercício ou
problema matemático cujo enunciado seja semelhante a esse:
“João tem 15 figurinhas e Paulo tem 22. Quantas figurinhas Paulo tem a mais que João?”
1 Língua materna: a língua pela qual os indivíduos de um grupo social se comunicam. No Brasil, a língua materna é a língua portuguesa ou a
Libras,– Língua Brasileira de Sinais, língua das pessoas surdas.
adição “+” e acabam efetuando uma soma das duas quantidades, levando à interpretação e
respostas erradas ao exercício.
O que essas crianças ainda não compreenderam é que a situação apresentada exige
uma comparação (ideia de subtração), ou seja, analisar a quantidade de figurinhas que cada
personagem possui, comparar até onde possuem o mesmo número de figurinhas e depois
analisar quantas figurinhas uma personagem tem a mais que a outra. Isso implica trabalhar
com a diferença – novamente, ideia da subtração.
Uma criança de quatro anos está pintando um desenho, uma casa com flores ao redor.
Em determinado momento a criança mostra seu trabalho para a mãe e esta sugere:
Em outra ocasião uma mãe vai chamar seu filho de 7 anos que está brincando com os
colegas no jardim do condomínio e diz:
“Vamos pra casa, Pedro, já está escuro e você não pode mais ficar no jardim hoje.”
Em outra situação, duas crianças estão apostando corrida e uma diz a outra:
Nas três situações, a palavra mais tem significados diferentes da ideia de adição. Na
primeira, significa realçar um valor atribuído ao desenho; na segunda representa uma forma
de negação da ação realizada e ordem para mudar a ação; na terceira é o sentido de verificar
quem melhor domina a velocidade, quem chega primeiro. Nessa ideia, o primeiro é sempre
“mais”, no sentido de ser o melhor.
Imagine a seguinte situação. É a primeira vez que Mariana, uma adolescente, faz um
bolo e seus familiares estão reunidos para provar. Ao experimentarem o bolo, o pai faz o
seguinte comentário:
“Está bom! Mas, da próxima vez, coloque menos açúcar.” (Ideia de menor quantidade do
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 3
Construção dos Conceitos Matemáticos
produto).
A primeira situação mostra um aluno atordoado com a proposta “Paulo exige ser pago
à vista, em dinheiro vivo”. Ele entende que à vista é ver, ter o sentido da visão, a capacidade
humana de enxergar. Dessa forma, ele não consegue relacionar esse sentido com os cálculos
para resolver o problema de aritmética.
No caso dos números de um a nove, cada um possui um símbolo e uma escrita de fácil
compreensão e distinção pelas crianças, pois a leitura e a escrita mantêm uma relação clara:
Leitura Escrita
(nome) (símbolo)
Um 1
Dois 2
Três 3
Quatro 4
Cinco 5
Seis 6
Sete 7
Oito 8
Nove 9
Observem que são nove símbolos diferentes para cada número. Reparem ainda que o
nome do número corresponde exatamente ao seu símbolo.
Entretanto, a lógica matemática não funciona exatamente assim, como Lorenzato (2006)
nos faz refletir sobre o assunto. Para escrever o número dez, usam-se os algarismos 1 seguido
do 0, repetindo os símbolos “um” e “zero”. Porquanto as crianças pensam e criam hipóteses
acerca dos números, o símbolo “10”, em uma lógica infantil, poderia ser chamado “um-zero”,
levando em conta a grafia do algarismo 1 seguido do algarismo 0.
Isso acontece com os outros números: onze, doze, treze, quatorze, quinze, dezesseis,
dezessete, dezoito e dezenove. Esses últimos quatro trazem uma sugestão de sua composição,
por exemplo “dez-e-nove”, usando a lógica infantil.
Uma criança em fase de aprendizado pode grafar 304 e dizer “trinta e quatro”, pode grafar
207 e ler “vinte e sete”. O pensamento da criança com esse tipo de registro está buscando
lógica, pontos comuns na relação entre a escrita dos números em sua língua materna
– o número escrito por extenso, com palavras – e o número representado por símbolos,
os algarismos. Há certa coerência, mas falta-lhe observar a influência do valor posicional
também na escrita do número para entender que “vinte e sete” representam 2 dezenas + 7
unidades; logo, a grafia correta do número usando símbolos da linguagem matemática será
27 e no caso do “trinta e quatro”, 34.
Essa relação entre leitura e escrita dos números precisa ser trabalhada didaticamente
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 5
Construção dos Conceitos Matemáticos
em sala de aula, pois não é explícita. O professor dispõe de recursos didáticos para realizar
esse trabalho, como a representação dos números no “quadro valor de lugar”. Trata-se de
uma tabela que contém na primeira linha o nome das ordens: unidade, dezena e centena,
cada uma em uma coluna, com os respectivos valores que o algarismo ocupa quando está em
alguma dessas ordens. Na linha seguinte, geralmente em tamanho maior, fica o espaço para
representar a quantidade desejada. Dessa forma, a criança tentará ler o valor de lugar (valor
posicional) e não somente o algarismo disposto naquela posição. Para o preenchimento, a
regra determina a escrita de apenas um algarismo em cada célula vazia da tabela.
6 5
Fonte: Da autora (2014).
Dessa forma, o uso do “quadro valor de lugar” pode auxiliar a criança a entender a
linguagem matemática.
Em uma situação como essa pude ajudar um aluno do segundo ano do Ensino Fundamental
(criança de 8 anos) a se familiarizar com os símbolos de adição e subtração e aos poucos se
apropriar da linguagem matemática, atribuindo significado a ela e entendendo a expressão
matemática que representa um cálculo simples de adição ou subtração. Nessa situação,
utilizei a calculadora como instrumento de apoio.
[Professora] — Então vamos lá. Que teclas você apertou pra colocar o
setenta no visor da calculadora?
[Aluno P] — O mais.
fazendo corretamente!
Um desses momentos foi na hora do cálculo de subtração: ele disse que não sabia qual
era o sinal de menos. Ajudei-o e ele conseguiu.
Considerações finais
Para compreender o desenvolvimento da linguagem matemática, analisamos a composição
dessa linguagem e sua relação com a língua materna. Vimos que essa relação nem sempre é
explícita, clara e cabe a nós, docentes, criar situações para os alunos se comunicarem em sala
de aula, exporem suas dúvidas e ideias para fazer a intervenção didática necessária.
Referências
CARVALHO, A. M. F. T.; GOMES, M. T.; PIRES, M. N. M. Fundamentos teóricos do pensamento
matemático. Curitiba: IESDE Brasil, 2009.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Aula 06
A linguagem matemática e o aprendizado escolar (desafios,
mitos e superações).
Objetivos Específicos
• Discutir a importância da linguagem matemática no aprendizado escolar.
Temas
Introdução
1 Importância da linguagem matemática
2 Desenvolvimento da linguagem matemática nos alunos
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Depois de conhecer as especificidades da linguagem matemática e sua relação com a
língua materna, vamos discutir nessa aula a sua importância e seu aprendizado escolar.
A matemática está muito mais presente em nossas vidas do que podemos imaginar ou
perceber. O próprio sistema de numeração decimal utilizado hoje só pôde evoluir por meio
de suas características inovadoras do valor posicional e por ter um símbolo para registrar o
nada e representar a posição vazia, como foi apresentado em aulas anteriores. A partir de
então, a matemática e a humanidade iniciaram um processo de evolução constante.
Nem sempre a linguagem matemática possui relação explícita com a linguagem cotidiana
– linguagem materna – mas é possível estabelecer algumas relações e atribuir significados
para a linguagem matemática; o diálogo é primordial para o aprendizado.
Quanto mais a criança puder explorar, conhecer e utilizar a linguagem matemática, mais
ela estará pensando, reelaborando seus esquemas mentais e desenvolvendo seu aprendizado,
pois as características abstratas da linguagem matemática auxiliam no desenvolvimento
cognitivo e ajudam não só a aprender matemática, mas também a melhorar o desempenho
em todas as outras disciplinas escolares.
Nesse tópico, veremos como a linguagem matemática pode ser desenvolvida na Educação
Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e de que forma ela contribui para o próprio
aprendizado da matemática.
O desenho pode ser explorado pelos professores desde a Educação Infantil para
comunicar as ideias matemáticas das crianças e seus pensamentos e representar situações
vivenciadas, como a hora de brincar.
As crianças podem fazer sugestões, como distribuir as bolas para as crianças e depois
contá-las; formar duplas e entregar uma bola para cada uma, ou ainda, entregar uma bola a
uma criança, e esta escolher um colega, depois contar as bolas distribuídas.
Ao final da brincadeira, a professora pode pedir às crianças que desenhem esse momento
de distribuir as bolas e indicar a quantidade utilizada pela turma (LORENZATO, 2006). Antes,
porém, relembre oralmente a situação vivida junto com o grupo de crianças. Deixe que elas
relembrem as etapas vivenciadas e procure dar oportunidade de todas as crianças falarem.
Essa prática ajuda a organizar o pensamento antes que elas façam o registro visual da situação.
crianças pequenas, não alfabetizadas ou que ainda não aprenderam as operações matemáticas,
não conseguem resolver situações problema. Pesquisadores como Sandez (2013) afirmam
o contrário, e o leitor da situação problema (o professor, um auxiliar, estágiário ou outra
pessoa já alfabetizada fora do ambiente escolar) deve deixar que as crianças levantem
hipóteses e proponham ideias para a resolução da situação problema lida por outra pessoa.
Para possibilitar a resolução dessas situações, o educador deve valorizar as diferentes formas
de expressão e comunicação, registrar a linguagem visual, oral, pictórica, esquemática e,
principalmente, vivenciar a situação ou fornecer objetos às crianças para manipulação e
modelagem da resolução da situação problema.
Outras situações podem ser exploradas na Educação Infantil para trabalhar com a
linguagem matemática, mesmo que de forma oral. Propor atividades de observação e
comparação em situações cotidianas, como ao observar os brinquedos espalhados pela sala
após o momento de brincadeira, o professor pode perguntar: “Onde tem mais (ou menos)
brinquedos, na caixa (armário) ou no chão?”; “O que está mais perto?” “O que está mais
longe?”... Essas questões podem ser levantadas em vários momentos e trabalham com as
noções e linguagem matemática na Educação Infantil.
Sandez (2013) apresenta e discute uma situação problema resolvida por uma criança
de 6 anos de idade. Em um lanche, seriam servidos dois pães para cada aluno da turma e
o professor questionava aos alunos quantos pães seriam necessários para que tal situação
acontecesse. Nessa turma havia 18 alunos.
Para nós, adultos, a resposta e a forma de encontrá-la parecem óbvias: basta multiplicar
a quantidade de alunos por dois. Utilizando a linguagem matemática, a resolução e resposta
são: 2 × 18 = 36.
Mas, e para crianças que ainda não aprenderam o conceito e muito menos a técnica
operatória (algoritmo, a famosa “continha”) de multiplicação? Como as crianças poderiam
resolver essa situação?
da seguinte forma:
10
10 ₌
10
36
Quando a criança atinge esse estágio, o professor pode ter duas atitudes: primeiro,
reprovar a conta da criança e mostrar a forma convencional, mesmo que a criança ainda não
a compreenda – e muitos de nós passamos por isso durante nosso processo de escolarização;
ou, segundo, considerar a estratégia muito interessante e concordar com a resposta da aluna,
afirmando que também há outras formas de resolução e compartilhar a forma convencional
para ampliar o repertório de estratégia das aluna, contudo, sem esperar que imediatamente
Sobre esse tema, recordo de outra situação que vivenciei enquanto docente em 2008,
em uma turma de terceira série do Ensino Fundamental (crianças de 9 anos). Era uma aula
com a proposta de conhecer e explorar o material Tangram1, construir as peças, algumas
figuras e trabalhar com a produção de texto. Foi trabalho de uma manhã inteira.
Vou me ater à parte da aula em que trabalhamos com a produção das peças para mostrar
uma possibilidade de construção da linguagem matemática.
1 Tangram: quebra-cabeças chinês de origem milenar composto por sete peças: dois triângulos grandes, um triângulo médio, dois triângulos
pequenos, um quadrado e um paralelogramo, que juntos formam um quadrado. Usando as sete peças, sem sobrepô-las, é possível representar
mais de mil figuras.
Depois pedi que reservassem os dois triângulos formados e disse que eram
os triângulos grandes do tangram, portanto, duas peças já estavam prontas.
Analisamos ainda algumas características dessa figura: que ela possui quatro
lados, mas dois são inclinados e, nos outros, um é maior que o outro.
Pedi, então, que os alunos unissem as duas pontas do lado com maior
medida no trapézio, as dobrassem ao meio e recortassem, de acordo com a
ilustração da figura 4:
Considerações finais
Ao longo desse texto, pudemos refletir sobre a importância da matemática para o
desenvolvimento da sociedade em que vivemos atualmente.
matemática merecem atenção especial dos professores, mesmo daqueles que trabalham
com crianças pequenas que ainda não foram alfabetizadas na língua materna.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.) Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Aula 07
Conceitos matemáticos: o senso de medidas, as noções
estatísticas e seu desenvolvimento nas crianças
Objetivos Específicos
• Entender como o senso de medidas e as noções estatísticas se desenvolvem
na criança.
Temas
Introdução
1 Do senso de medidas ao conceito de medida
2 O desenvolvimento das noções estatísticas
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Essa aula abordará a construção de conceitos matemáticos como o senso de medidas e
as noções estatísticas, buscando entender de que maneira são compreendidos pelas crianças.
O primeiro tópico detalhará o senso de medida, como desenvolvê-lo nas crianças até a
construção do conceito de número e de que forma esses conhecimentos são utilizados na
vida cotidiana e contribuem para o aprendizado da própria matemática.
Por exemplo: consideremos a situação em que a criança pega a mochila para ir à escola.
Para ajudá-la a entrar no carro, sua mãe segura a mochila e diz: “Sua mochila está muito
pesada”. A criança percebeu que necessitava de certa força para sustentar a mochila “muito
pesada”. Para modificar essa situação, a mãe da criança olha os objetos colocados dentro
da mochila e decide retirar dois livros que não serão utilizados naquele dia. Devolve para a
criança e diz: “Pronto! Está mais leve” ou “Não está tão pesada agora”. A criança carrega a
mochila e se sente mais confortável por não ter de fazer tanta força para sustentá-la.
Essas noções de medida são anteriores ao ato de medir, devem ser trabalhadas desde a
Educação Infantil e são fundamentais para que a criança construa o conceito de medida.
Autores como Carvalho e Gomes (2009) e Lorenzato (2006) concordam que o senso de
medidas está relacionado a situações práticas cotidianas e deve ser trabalhado na escola
mesmo com crianças pequenas, por exemplo, pedindo para as crianças organizarem uma
fila de alunos começando pelo aluno mais alto e terminando com a criança mais baixa (ou
menos alta). Esse caso ainda nos permite fazer outra análise, na verdade, uma observação
sobre a linguagem matemática: utilizamos a palavra “mais” com maior frequência e a palavra
“menos” com menor frequência. Isso poderá trazer implicações para o desenvolvimento da
linguagem matemática futuramente.
Até aqui, analisamos situações que envolvem senso de medida, ou seja, as noções
desenvolvidas sem a necessidade de instrumentos ou unidades de medida para expressar
comparações. O passo seguinte para a construção do conceito de medida pela criança é
explorar a ação de medir.
Vamos considerar grandeza como algo mensurável ou marcado numa escala de variação.
Assim, pode-se medir o tamanho de um corpo, o volume, a superfície (espaço), a massa
(peso), a distância e a velocidade (do movimento), grandezas mensuráveis; ainda é possível
marcar a temperatura e a duração (do tempo).
Mas, para medir, só é possível comparar tamanho com tamanho, volume com volume,
temperatura com temperatura. Não é possível comparar a massa de um corpo com a sua
velocidade. Pode-se, sim, estabelecer algum tipo de relação, mas não de medida. Então, é
necessário comparar a massa entre dois ou mais corpos; pode-se comparar a velocidade de
um movimento com a velocidade de outro movimento.
Deixe os próprios alunos fazerem a medição usando os dois instrumentos. Sugira começar
com o barbante. Na primeira tentativa, erros e até dificuldade no procedimento de medir são
comuns, pois o pedaço de barbante é menor que a criança e será preciso utilizar novamente
o mesmo barbante colocando-o na altura em que ele havia terminado.
Alguém (crianças ou professora) pode sugerir, então, encostar a criança na parede, fazer
uma marca onde termina a sua altura (nesse momento, a professora pode marcar encostando
sua mão na parede) e depois verificar quantas vezes o barbante cabe no espaço delimitado.
Pode ser que a altura da criança seja “três barbantes inteiros e uma parte do barbante”.
Nesse momento, surge a necessidade de utilizar outros números além dos inteiros (um,
dois, três...). Foi se deparando com situações semelhantes, na medida de terras, que os
homens inventaram as frações ou partes de números inteiros: meio, terço, quarto...
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Outras medições semelhantes podem ser realizadas, como quantos passos de largura
medem o comprimento da sala de aula? Ou, quantos palmos mede o tampo da carteira? São
boas situações para os alunos realizarem a ação de medir, utilizando instrumentos e unidades
de medida (não padronizadas).
A história da matemática registra que a humanidade usava seu corpo como unidades de
medida, como nos relatam Carvalho e Gomes (2009, p. 138), “os egípcios, há cerca de 4 mil
anos, utilizam como padrão de medida o cúbito, que é a medida do cotovelo até a ponta do
dedo médio”.
Porém, a questão das diferenças do tamanho dos corpos das pessoas gerava diferenças
nas medições realizadas, o que, por sua vez, gerava conflitos na demarcação de terras e
no comércio. Isso aconteceu por séculos. Somente no século XVIII, a partir da Revolução
Francesa, a humanidade pensou em padronizar mundialmente as unidades de medida.
Até hoje temos vestígios da utilização das partes do corpo como unidade de medida. A
polegada, por exemplo, que corresponde à medida da ponta do dedão da mão até à falange
(dobra), foi padronizada em 2,54 cm.
De acordo com Lorenzato (2006, p. 51), esses três aspectos estão integrados para formar
o conceito de medida: “uma relação entre grandeza e unidade, expressa por um número que
significa quantas vezes a grandeza contém a unidade”.
Se utilizar um copo de 100 ml, serão necessários dez copos; 10 copos multiplicados por
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Se utilizar copos com capacidade de 200 ml, serão necessários 5 copos, pois multiplicando
5 copos por 200 ml teremos novamente 1 000 ml ou 1 litro. Pode-se, ainda, trabalhar a divisão
ou a noção de fração, uma vez que 200 ml é a quinta parte de 1 litro.
Se utilizar copos de 250 ml, serão necessários somente 4 copos, pois cada copo representa
a quarta parte de um litro.
Da mesma forma, essas relações com a base decimal também podem ser identificadas
nas relações entre as moedas e cédulas do sistema monetário brasileiro: a moeda de 10
centavos representa um décimo de real; já as moedas de 25 centavos representam a quarta
parte do real.
Mas esse tipo de conhecimento não é novo. Estudos indicam que o conhecimento
estatístico surgiu com o desenvolvimento da aritmética e no início do século I já se utilizavam
tais conhecimentos, como no caso de contagem e cadastramento de populações. Segundo
Carvalho e Gomes (2009, p. 189), “foi num desses cadastramentos que se descobriu que
Jesus tinha nascido em Belém e não em Nazaré”.
Para realizar um censo, é necessário coletar dados, organizar essas informações, analisar
de forma crítica e divulgar com auxílio de gráficos e tabelas. Essa forma de apresentação foi
adotada porque favorece a comunicação visual. Os resultados do censo servem para orientar
a tomada de decisão dos governantes e a determinação de políticas públicas.
Ainda de acordo com os PCN (1997), além da estatística, integram o bloco de tratamento
da informação as noções de probabilidade e de combinatória.
Por sua utilização e relevância social, esse bloco de conteúdos poderia perfeitamente
ser desenvolvido ao longo dos outros blocos de conteúdos da matemática e até mesmo junto
com outras áreas do conhecimento.
Para isso, é preciso planejar todas as etapas com as crianças e discutir cada uma delas.
Combinar como as crianças irão fazer o registro da coleta das informações. Fazer com que
as crianças pensem e compartilhem suas ideias, as coloquem em prática e vão a campo
para coletar os dados. Com os dados reunidos, é preciso pensar em uma forma de organizar
baseada nas respostas e criar categorias. Depois, é necessário ensinar a fazer o registro em
forma de gráficos e tabelas, discutir a função desse tipo de registro e os elementos que os
compõem.
Numa classe de Educação Infantil, pode-se pesquisar qual é a fruta preferida das crianças
da turma para fazer um suco para a turma. A professora pode utilizar materiais manipuláveis
e desenhos para fazer a pesquisa e montar um gráfico, por exemplo.
Peça para cada criança pegar a imagem da fruta de sua preferência para fazer o suco.
Coloque fita adesiva no verso de cada imagem.
Leve um cartaz pré-elaborado com a imagem das frutas coladas lado a lado, todas embaixo
de uma linha. Oriente as crianças a colar, uma de cada vez, a imagem da fruta escolhida logo
acima da linha com a imagem da mesma fruta, de forma a criar uma coluna.
Depois que todas as crianças colarem sua imagem, faça uma primeira leitura e
interpretação, pergunte às crianças qual é a maior coluna, ou seja, a que tem mais figuras.
Assim fica fácil saber qual foi a fruta escolhida pela turma.
Converse ainda com as crianças sobre a ideia de que cada papel colocado no cartaz
representa a vontade de cada criança da turma. É preciso ficar clara a correspondência entre
a imagem da fruta como representação da vontade ou voto de cada criança.
Pergunte às crianças que nome pode ser dado ao cartaz, ou melhor, ao gráfico elaborado.
Outras análises podem ser realizadas, como a contagem total das frutas para saber
o número de crianças que votaram; saber a quantidade de votos que cada fruta recebeu;
analisar a diferença de votos entre a fruta escolhida pela maioria das crianças para fazer o
suco e a segunda fruta mais votada.
Já para turmas de Ensino Fundamental, a exploração pode ser mais detalhada e ampliar
a pesquisa a outras turmas da escola. Deixe que as crianças registrem as respostas, criem
tabelas e gráficos utilizando papel quadriculado e montem os cartazes para divulgação dos
resultados da pesquisa realizada.
Considerações finais
Nessa aula, estudamos o desenvolvimento do senso de medidas, a elaboração do
conceito e seu aprendizado pelas crianças. Vimos que esse processo pode se iniciar na
Educação Infantil, partindo da observação do mundo real e da vivência de situações nas quais
é necessário realizar medições.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SMOLE, K. S.; MUNIZ, C. A. (orgs.). A matemática em sala de aula: reflexões propostas para os
anos iniciais do ensino fundamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Aula 08
Características do pensamento geométrico e do pensamento
algébrico e sua construção pelas crianças
Objetivos Específicos
• Conhecer como os pensamentos geométricos e algébricos são construídos
pelas crianças.
Temas
Introdução
1 Características do pensamento geométrico e sua construção
2 O pensamento algébrico
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Esta aula apresenta duas temáticas: a identificação de características e compreensão do
desenvolvimento dos pensamentos geométrico e algébrico nas crianças.
Por volta do século II a.C., Euclides, na Grécia, sistematizou o conhecimento até então
elaborado sobre a geometria. Os estudos desse matemático ficaram conhecidos como
Geometria Euclidiana, valorizado pelos currículos oficiais escolares e estudado até hoje. Mais
tarde, no século XVII, surgiu a Geometria Projetiva e no séc. XX, a Geometria Topológica.
Observando a figura um, as crianças conseguem facilmente identificar quais são as figuras
abertas e as figuras fechadas. Entretanto, quando seu pensamento geométrico considera
apenas o aspecto topológico, a criança não consegue distinguir o círculo do polígono de sete
lados, pois a criança ainda não percebe os detalhes, os ângulos que diferenciam as figuras.
Elas nomeiam ambas as figuras como “rodas”, pois o relacionam ao objeto tridimensional com
o qual tem contato (roda do carrinho de bebê, dos brinquedos, dos veículos que observa).
1 Espaço tridimensional: espaço vivenciado nas três dimensões. O cubo, por exemplo, existe na realidade concreta porque possui três
dimensões: comprimento, largura (ou altura) e profundidade.
Observe que a porta e a janela são menores do que as paredes, pois a criança conservou
a proporcionalidade observada entre esses elementos no mundo real. Entretanto, a ideia de
profundidade ainda não está presente.
A partir desse momento a criança começa a perceber os detalhes das figuras geométricas,
como os ângulos, a noção de profundidade e o perpendicularismo. Essas percepções são
representadas nos desenhos. A representação da casa modifica-se para demonstrar que a
criança já entende esses elementos.
Assim, o principal objetivo do ensino da geometria é fazer com que a criança passe do
espaço vivenciado para o espaço pensado, estabeleça relações para representar o espaço
em que ela vive e passe do concreto para o abstrato, da abstração empírica para a abstração
reflexiva.
2 O pensamento algébrico
O que caracteriza a álgebra é o uso de letras ou expressões literais interpretadas e sobre
as quais são realizadas em operações matemáticas, tal qual acontece com o uso dos símbolos
da linguagem matemática.
no século III, que utilizou a letra grega sigma “∑” como incógnita de uma equação.
Há registros de que os hindus também utilizavam abreviações. Atualmente, pode-se
encontrar essa letra como símbolo indicativo de soma no software Excel.
• Terceira e última fase: simbólica, utiliza somente símbolos ou letras para representar
incógnitas e constantes, e um dos seus principais representantes é François Viète, no
final do século XVI. Uma equação simples é um exemplo dessa fase: 5x + 2=30.
Segundo Carvalho e Gomes (2009), algumas concepções sobre a álgebra podem ajudar
no entendimento e estabelecimento de relações:
5+4=4+5
16 + 32 = 32 + 16
209 + 27 = 27 + 209
Analisando o problema, é possível saber a idade dos filhos, mas não a do pai. Então, diz-
se que o pai tem Q anos de idade, igual ao dobro da idade dos filhos, ou seja, duas vezes a
soma de 9 e 12. Utilizando a linguagem matemática algébrica, temos: Q = 2 × (9 +12), onde Q
representa a idade do pai e × representa a multiplicação. Assim, é possível determinar a idade
do pai, 42 anos. Confira! Inicialmente, a idade do pai é uma incógnita, desconhecida.
Nesse caso, a variável não é uma incógnita, pois dependendo da medida dos lados, o
perímetro será diferente, mas a relação entre a medida do perímetro sempre será igual à soma
da medida dos lados do triângulo. A relação não muda. Diferentemente do caso anterior, se
tentar aplicar a resolução quando o pai tiver 43 anos e os filhos 10 e 13, a equação montada
não será verdadeira.
• Existe ainda uma quarta concepção, a “álgebra como estudo das estruturas, que
ocorre com a manipulação de variáveis como símbolos arbitrários, sem relação com
o problema ou função, ou ainda, padrão a ser generalizado” (CARVALHO; GOMES,
2009, p. 161-162) cujo exemplo é a fatoração de um polinômio, onde “x² + 2x” pode
ser fatorado por x (que é o fator comum em evidência nos dois termos) e dividirá
todos os termos do polinômio. Logo: x² ÷ x = x; 2x ÷ x = 2. Assim teremos como
fatoração: x*(x + 2).
Esse tipo de concepção foi enfatizado no ensino da álgebra a partir da metade do século
XX e provocou um “simbolismo extremado”, no qual o aluno apenas aplica as fórmulas sem
compreender as ideias principais da álgebra.
Para evitar os problemas causados pelo ensino enfático desse conceito, o professor
deve compreender as outras concepções e trabalhá-las ainda nos anos iniciais do Ensino
Fundamental.
Atividades de classificação e seriação, nas quais solicita-se aos alunos classificar objetos
de acordo com determinadas características ou a construir séries, sequências determinadas
por uma razão, ajudam a desenvolver o pensamento algébrico e podem ser trabalhadas desde
a Educação Infantil para buscar regularidades e desenvolver a ideia de generalização. Utilizar
recursos manipuláveis, como os blocos lógicos, pode ser o ponto de partida. O trabalho com
elaboração e análise de sequências é ótimo para desenvolver o pensamento algébrico.
Pode ser uma sequência numérica: 5, 10, 15, 20, 25, 30, 35... Ou, ainda, uma sequência
geométrica, como mostra a Figura 5:
O professor deve incentivar o registro e a comunicação dessas ideias para que os alunos
desenvolvam além do pensamento algébrico a escrita algébrica e a linguagem matemática.
15 + a = 25 37 ‒ = 31 × 3 = 12
O desafio para o aluno será determinar o valor de cada letra ou símbolo. Para esse tipo de
atividade, a criança mobilizará também a reversibilidade, ou a operação inversa para ajudar a
determinar o valor da incógnita.
Por isso, para conseguir determinar o valor da incógnita, é importante que as crianças
compreendam que, nesses casos, a letra ou símbolo utilizado representam um valor numérico.
Considerações finais
Após estudar os pensamentos geométrico e algébrico, compreendendo suas características
e sua evolução história, pudemos compreender a natureza desses pensamentos e conhecer
as concepções ligadas a cada um deles.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Aula 09
A resolução de problemas e a modelagem matemática como
processos de ensino-aprendizagem
Objetivos Específicos
• Analisar o processo de ensino-aprendizagem dos conceitos matemáticos
existentes nos mais diversos campos do conhecimento.
Temas
Introdução
1 A resolução de problemas
2 Modelagem matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
O objetivo desta aula é analisar a resolução de problemas e a modelagem matemática
como processos de ensino-aprendizagem dos conceitos matemáticos existentes nos mais
diversos campos do conhecimento.
1 A resolução de problemas
Com certeza você já deve ter resolvido um problema em aulas de matemática enquanto
frequentava a educação básica. Que tal recordar?
“João comprou 5 pacotes de figurinhas. Cada pacote tem 3 figurinhas. Quantas figurinhas
ele comprou ao todo?”
No ano de 2008 vivenciei tal questionamento por uma aluna de 9 anos (antiga 3ª série
do Ensino Fundamental, hoje 4º ano) que não compreendeu a questão do problema, disse
ter pedido ajuda a seu pai e, por não encontrarem uma forma de aplicar um algoritmo, voltou
no dia seguinte dizendo que o problema estava errado porque não dava para fazer “a conta”.
Era a exploração de uma situação que permitia realizar vários cálculos e análises. Na
parte dos cálculos, as crianças foram bem, mas na análise... elas estavam tão condicionadas
a fazer cálculos que, quando a resposta deveria ser encontrada apenas por uma análise, sem
cálculos, elas não conseguiram responder.
O problema era sobre a viagem de um trem, com quatro vagões e capacidade para 80
passageiros sentados e 120 passageiros em pé, que partia da estação inicial e os alunos
acompanhavam a movimentação de passageiros fazendo cálculos sobre quantos embarcavam
ou desembarcavam do trem a cada parada. Na penúltima estação desceram muitos e
embarcaram poucos, restando menos de 50 passageiros no trem. A pergunta era: “Quantos
passageiros ficaram em pé no trem entre a penúltima e a última estação?”
As crianças já haviam realizado cálculo semelhante para saber quantas pessoas ficaram
em pé, número bem maior em relação aos assentos. E tentaram realizar o mesmo cálculo:
subtrair o número de assentos da quantidade de pessoas. Mas como havia bem mais assentos,
o resultado seria negativo e as crianças do Ensino Fundamental I não aprendem esse tipo de
cálculo. Então disseram que não dava para fazer “a conta” e que o problema estava errado.
Reparem que nem era necessário realizar cálculos. Se havia mais assentos do que
pessoas, todas as pessoas que estavam no trem, naquele momento, poderiam sentar. Outro
detalhe: e se algumas pessoas, considerando que faltava apenas uma estação para descer e
mesmo com a oferta abundante de lugares, decidissem continuar em pé?
A resposta para a questão que eu havia colocado não era exata, nem numérica, não
havia sequer a necessidade de cálculo, apenas de interpretação. Mas as crianças estavam tão
condicionadas a fazer contas (cálculos) que não conseguiam mobilizar seus conhecimentos,
ir além da aplicação de um algoritmo e analisar a situação. Nem os familiares que ajudaram
na tarefa imaginaram uma resposta diferente do padrão exato, numérico e resultado de um
algoritmo.
No dia seguinte, analisei junto com os alunos a situação e juntos chegamos à conclusão
de que: 1. não havia a necessidade de cálculo (conta) para essa questão e 2. todas as pessoas
teriam condições de terminar a viagem sentadas e ainda sobrariam assentos vagos no trem.
Propus então outro problema, muito parecido com a estrutura convencional, mas a
resposta, apesar de ser numérica, dependia ainda da interpretação e análise das crianças
sobre o resultado do algoritmo.
O problema era: “Os 350 alunos da Escola Rosa irão fazer uma visita ao museu na próxima
quinta-feira. Para transportar os alunos até o museu será necessário alugar ônibus. Se cada
ônibus tem capacidade para 40 alunos, quantos ônibus a diretora da escola deve alugar?”
resulta na quantidade de ônibus. Alguns alunos perceberam isso e logo disseram “É de dividir.”
Então todos começaram a fazer um algoritmo de divisão.
Mas o resultado é um número decimal: 8,75. Como alugar 8 ônibus inteiros e três quartos
de um ônibus? As locadoras alugam o carro inteiro. Se você irá ocupar toda a capacidade
dele, é opção sua.
Meus alunos não vislumbraram essa possibilidade e como nem todos concluíram a
divisão, porque não conseguiam dividir os décimos, se satisfizeram com o quociente 8 e resto
30, definindo a resposta como 8 ônibus.
Então questionei, “mas cabem todos os alunos da escola nesses oito ônibus? E os 30
alunos que sobraram, o que a gente faz com eles?” E recorri ao desenho para ilustrar a
explicação.
Então outra criança sugeriu fazer um ônibus ir e voltar para buscar essas 30 crianças
numa segunda viagem; eu disse que também não daria certo porque a visita ao museu tinha
horário e se um ônibus voltasse para buscá-las, elas iriam perder a visita.
Até que alguém arriscou, “aluga mais um ônibus”. E eu disse que isso resolveria a situação
das trinta crianças, mas não era o resultado do algoritmo. As crianças concordaram e, depois
de algumas discussões, chegamos à conclusão de que os cálculos ajudam, mas em casos de
divisão, temos que analisar a situação e o resto da “conta” para encontrar a resposta correta.
Smole e Diniz (2007) também concordam que o aluno deve ser capaz de resolver
problemas. Para propor um problema, é necessário retomá-lo, analisar novamente os dados,
a história (contexto), as relações envolvidas entre os dados e a história e localizar a pergunta,
relacioná-la com a resposta encontrada para verificar sua validade. Torna-se um processo de
estudo que desenvolve o pensamento lógico-matemático, mobiliza os conhecimentos sobre
conceitos matemáticos aprendidos pelo aluno, desenvolve a linguagem e a comunicação e
auxilia no processo de alfabetização.
Considere a soma 27 + 18. Quantas estratégias diferentes você consegue fazer para
encontrar o resultado, sem usar o algoritmo tradicional (conta armada)?
Para Dante (2009), ensinar a resolver problemas é um processo mais complexo do que
ensinar a resolver algoritmos e equações, pois geralmente o professor faz uma demonstração,
orienta passo a passo (instrução) de como fazer e passa uma lista de exercícios para os alunos
“aplicarem” o que viram e “aprenderem” a resolver essas técnicas de cálculos. Mas passado
um tempo, se não utilizar essas técnicas, o aluno pode apresentar dificuldades em sua
resolução quando se deparar com um algoritmo ou uma equação em uma situação cotidiana,
fora de uma lista.
Entretanto, para ensinar a resolver um problema, o professor deve atuar como incentivador
para os alunos expressarem suas ideias e estratégias sobre possíveis resoluções e mediador
O professor pode colocar mais questões ou dados aos problemas, propor aos alunos
analisar diferentes perspectivas, modificar um ou mais dados da situação analisada. Carvalho
e Gomes (2009) e Dante (2009) sugerem alguns passos que podem ser trabalhados com as
crianças para a resolução de problemas:
1. Compreender o problema
2. Elaborar um plano
3. Executar o plano
4. Fazer a verificação
Esses passos são estratégias que os alunos, num papel ativo na construção do
conhecimento, devem desenvolver, criar para tentar resolver os problemas. Não adianta o
professor fazer os dois primeiros passos e deixar apenas a execução para os alunos. Mesmo
porque, se os alunos não compreenderam como a estratégia foi elaborada, não terão
condições de fazer a verificação, ou seja, de analisar se a execução de determinado plano
levou a encontrar a resposta adequada ao problema.
Num primeiro momento, quando os alunos não estão acostumados com a metodologia
de resolução de problemas, o professor pode medir o pensamento dos alunos, até interpretar
junto com as crianças, mas nunca fazer essa análise no lugar delas, pois o momento de
aprendizagem dos conceitos matemáticos é das crianças e não do professor.
A proposta desse tipo de problema é romper com a ideia de que todos os dados numéricos
devem ser utilizados para fazer cálculos e de que todo problema tem uma resposta numérica
como solução.
Ex.: “Paulo ganhou 12 figurinhas de seu tio e 15 figurinhas de sua tia. Qual é a idade de
Paulo?”
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Numericamente até pode-se desenvolver um cálculo que resulta em 0,5 (meio) cachorro.
Mas como deixá-lo vivo dividindo-o ao meio? É uma situação que não está adequada ao
contexto real, tornando o problema sem solução. Se no lugar de cachorrinhos fosse um bolo,
que pode ser dividido em partes, o problema teria solução, mas considerando animais torna-
se impossível.
Esse tipo de problema deve ser trabalhado para estimular a criatividade e a elaboração
de diferentes estratégias de resolução e de resposta. Desmancham a crença de que todo
problema tem apenas uma solução.
Ex.: planificação do cubo. “Com seis quadrados iguais, construa uma planificação para o
cubo.”
Ex.: “As compras de Alice somaram 24 reais. Quais cédulas (notas de papel) ela pode usar
para pagar sua conta?”
Figura 3– Cédulas
Nem todas as informações numéricas devem ser utilizadas para encontrar a solução. Esse
tipo de problema mostra a necessidade de leitura, interpretação e seleção de informações
que realmente serão utilizadas para encontrar a resposta.
Uma sugestão para trabalhar com esse tipo de problema é acrescentar dados à problemas
convencionais:
Problema com excesso de dados: “João é um garoto de 6 anos que coleciona figurinhas.
Ele tem muitas. Todos os dias acorda às 7 horas da manhã, toma café, faz a lição, brinca um
pouco, almoça às 12 horas e, de segunda à sexta-feira vai para a escola. Numa terça-feira de
manhã ele foi brincar com seu amigo Pedro de jogo de ganha ou perde, e levou 20 figurinhas.
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 9
Construção dos Conceitos Matemáticos
Durante o jogo perdeu 7, ganhou 2 e na última rodada perdeu 5. Depois almoçou e foi para a
escola. Ele assiste aula das 13h às 18h. Volta para casa, toma banho, janta com os pais e vai
dormir às 21 horas. Quantas figurinhas João levou para sua coleção depois que terminou o
jogo com Pedro, na terça-feira?
Além de ler toda a situação, o aluno deve identificar a questão e selecionar os dados que
realmente importam e são necessários para encontrar a resposta.
Os tipos de problemas aqui apresentados são uma classificação utilizada por Smole e
Diniz (2007), mas existem outras. Como exemplo e sugestão de leitura complementar, é
possível citar a obra de Dante (2009).
2 Modelagem matemática
A modelagem matemática é uma área que se relaciona com a problematização e
investigação, por meio da matemática, de situações vivenciadas na realidade.
Por isso, o autor acredita que a modelagem matemática está relacionada à compreensão
do seu papel sociocultural, ou seja, o papel que a matemática desempenha nas sociedades.
Um exemplo pode ser o estudo, por meio da modelagem, sobre os preços oferecidos
pelo serviço de telefonia móvel a ser contratado por uma família, com turmas de 4º e 5º ano
do Ensino Fundamental. Os alunos podem modelar a situação, ou seja, fazer a cotação do
preço do pacote oferecido e dos serviços disponibilizados (levantamento de dados), organizar,
comparar, levantar questionamentos, fazer análises e indicar a melhor opção a ser contratada
pela família.
Considerações finais
Nesta aula, vimos que tanto a resolução de problemas como a modelagem matemática
podem ser utilizadas como processos de ensino-aprendizagem nas escolas.
Tentou também refletir sobre situações que podem ser desafiadoras e ao mesmo tempo
motivadoras para a aprendizagem matemática.
Referências
BARBOSA, J. C. Modelagem matemática: o que é? Por que? Como? Veriati: UFMS, 2004. n. 4,
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Aula 10
Relações entre resolução de problemas e a linguagem escrita
Objetivos Específicos
• Debater as relações existentes entre a resolução de problemas, a linguagem
matemática e a escrita na construção dos conceitos matemáticos.
Temas
Introdução
1 Relações entre linguagem, escrita e resolução de problemas
2 A escrita nas aulas de matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
A presente aula pretende debater as relações existentes entre a resolução de problemas
e a linguagem – oral e escrita – no ensino de matemática.
A maioria dos problemas propostos nas aulas de matemática, seja de forma oral, na
Educação Infantil, ou de forma escrita a partir anos iniciais do Ensino Fundamental, utiliza a
linguagem matemática para comunicar a situação a ser resolvida ou o desafio a ser superado.
Uma das primeiras dificuldades dos alunos é compreender o significado dos termos
utilizados no problema.
Carvalho e Gomes (2005) e Dante (2009) verificaram que os alunos se confundem muito
com algumas palavras, dentre elas a palavra “dobrar”, que cotidianamente e muito em
particular no contexto da Educação Infantil, que trabalha bastante com dobraduras, significa
fazer marcar no papel, ou dobrar a roupa de forma a organizá-la para caber na gaveta ou na
mala.
Os adultos não se dão conta do conflito vivido pelas crianças quando leem ou escutam a
palavra “dobrar” em linguagem matemática, porque para eles é muito simples.
Outras palavras com as quais as crianças, alunos da Educação Infantil ou dos anos iniciais
do Ensino Fundamental, se confundem, de acordo com a pesquisa de Dante (2009) são:
diferença, meio, vezes, conta, par, altura.
Por isso, uma das ações do professor é trabalhar a linguagem matemática para apropriação
do significado dos termos e compreensão das palavras que são utilizados nos problemas.
Como sugestão para sistematizar o trabalho com o significado das palavras, pode-se
elaborar um dicionário de matemática com a descrição, explicação e até mesmo ilustração
do significado dos termos da linguagem matemática.
Outro aspecto percebido por Dante (2009) é que a linguagem utilizada nos problemas
precisa ser adequada à faixa etária das crianças e procurar utilizar termos mais próximos da
Uma possibilidade para o trabalho com crianças da Educação Infantil e dos dois primeiros
anos do Ensino Fundamental para desenvolver a linguagem matemática a fim de proporcionar
condições de interpretação do problema é trabalhar com figuras para ilustrá-lo.
“A mãe de Lucas fez trufas para ele e as colocou em dois pratos. Um prato tem 5 trufas e
o outro, 7 trufas. Quantas trufas ele ganhou?”
“Uma loja comprou 90 bonés a 10 reais cada um e 40 mochilas ao custo de 32 reais cada.
Qual foi o valor total da compra?” Essa situação pode ser apresentada da seguinte maneira:
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Bonés 90 10 ?
Mochilas 40 32 ?
Valor total ?
Esse tipo de apresentação permite vários questionamentos sobre uma mesma situação:
“Qual foi o valor maior gasto com a compra dos bonés ou a compra dos mochilas?
Supondo que a compra foi paga em duas parcelas iguais, qual foi o valor de cada parcela?”
Para Smole e Diniz (2007, p. 72), “a dificuldade que os alunos encontram em ler e
compreender textos de problema está entre outros fatores, ligada à ausência de um trabalho
específico com o texto do problema.”
Dessa forma, as autoras sugerem uma estratégia interessante para ajudar o aluno a ler e
a interpretar esse tipo de texto: é o problema em tiras.
Ele resolveu comprar todas as figurinhas que faltam para completar o álbum.
Com essas figurinhas, ele já colou 64.
Daniel, um menino de 8 anos, coleciona figurinhas de futebol e cola no álbum.
Quantas figurinhas Daniel deverá comprar?
O padrinho de Daniel deu a ele 15 figurinhas de presente.
Para estar completo, o álbum deverá ter 99 figurinhas.
“Daniel, um menino de 8 anos, coleciona figurinhas de futebol e cola no álbum. Para estar
completo, o álbum deverá ter 99 figurinhas. O padrinho de Daniel deu a ele 15 figurinhas de
presente. Com essas figurinhas ele já colou 64. Ele resolveu comprar todas as figurinhas que
faltam para completar o álbum. Quantas figurinhas Daniel deverá comprar?”
Outra possibilidade é trocar a ordem das frases do meio do problema, que não mudará
o sentido do texto:
Outra situação que pode ser explorada utilizando o problema em tiras é a análise dos
dados numéricos. Na situação apresentada na tabela 1 – “Exemplo de problemas em tiras”
existem quatro informações numéricas, mas somente duas serão utilizadas para calcular a
quantidade de figurinhas restantes para completar o álbum de Daniel.
Ainda para fazer a análise dos dados numéricos de um problema, pode-se adaptar a
atividade: proponha o problema em tiras com lacunas nos lugares dessas informações.
Paula e sua mãe Amélia foram à papelaria, após o término das aulas, às _____ horas da tarde.
Outra estratégia apresentada e discutida por Smole e Diniz (2007) para o trabalho com
a resolução de problemas e a leitura e interpretação deles é questionar o alunos sobre “Que
conta resolve?”
“Um ônibus pode transportar até 46 passageiros sentados. Ele faz a linha Campinas-
Sorocaba, duas cidades do interior paulista. Se esse ônibus fizer 6 viagens diárias, com todos
os assentos ocupados, quantos passageiros ele irá transportar nesse dia?”
46 ÷ 6 46 x 6 46 – 6 – 6 – 6 – 6 – 6 – 6 46 + 46 + 46 + 46 + 46 + 46
O diferencial dessa situação é que o aluno não deve adivinhar, chutar a conta que resolve
o problema, mas ler, analisar as opções apresentadas utilizando a linguagem matemática,
fazer verificações, escolher a operação que considera adequada e justificar sua escolha com
argumentos válidos, ou seja, explicar porque a “conta” escolhida resolve o problema e aponta
a resposta. Essa justificativa pode ser oral ou escrita.
Outros tipos de leitura em aulas de matemática são propostos pelas pesquisadoras Smole
e Diniz (2007): livros paradidáticos, poemas, artigos de jornais e revistas, tabelas e gráficos
para selecionar dados matemáticos nesses diversos tipos de textos.
Qualquer que seja a estratégia escolhida pelo professor para trabalhar a resolução de
problemas e a linguagem matemática, o trabalho em grupo, a comunicação entre os alunos e
socialização de soluções e propostas de resolução dos alunos potencializarão o aprendizado
matemático.
Antes de fazer com que os alunos se tornem escritores nas aulas de matemática, é
necessário que eles tenham tido contato com vários tipos de problemas e a experiência de
analisar, interpretar e resolvê-los.
É possível citar algumas estratégias para promover a escrita nas aulas de matemática:
• Dar um problema aos alunos, mas sem a questão e pedir para as crianças proporem
as questões;
Um exemplo para essa última estratégia de escrita é trabalhar com enigmas, do tipo “O
que é, o que é?”. Smole e Diniz (2007 p. 172) compartilham problemas desse tipo formuladas
por crianças da terceira série do Ensino Fundamental:
“Sou um número primo. Estou entre dois números. Cada um deles tem um algarismo.
Sou maior que o número 3, mas não sou o 5. Sou ímpar. Que número sou eu?” R.
Número sete.
A oportunidade de formular problemas fará com que os alunos sintam que estão fazendo
matemática, gerando confiança e interesse pela resolução de problemas.
Considerações finais
Essa aula nos permitiu analisar as relações entre leitura, escrita e resolução de problemas.
A escrita nas aulas de matemática torna-se uma estratégia para promover o aprendizado
matemático, a compreensão e resolução de problemas e o desenvolvimento da escrita da
língua materna, conectando essas áreas de conhecimento.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Aula 11
Revivendo a história da matemática como processo de ensino
e aprendizagem
Objetivos Específicos
• Identificar como o conhecimento da história da matemática pode
se transformar em processo de ensino-aprendizagem dos conceitos
matemáticos.
Temas
Introdução
1 História da matemática como processo de ensino e aprendizagem
2 Situações de aprendizagem utilizando a história da matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Para ensinar matemática, é necessário conhecê-la e uma dessas formas é compreender
a sua história. Esse motivo justifica a importância da história da matemática na formação de
professores e, por isso mesmo, iniciamos a disciplina Construção de Conceitos Matemáticos
com um pouco da história da matemática, a fim de compreender suas origens e entendê-la
como uma construção humana.
Porém, a proposta deste texto e desta aula é ir além: provocar uma reflexão sobre a
história da matemática como metodologia de ensino; entendê-la como uma forma de
promover aprendizado matemático nas crianças.
Não basta apenas contar a história da matemática para que o aprendizado das crianças
aconteça. Essa é uma das etapas ou pode ser o início do processo de aprendizagem. Muitas
vezes, as crianças da Educação Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental não estão
prontas para compreender as histórias da matemática, então, como fazer?
A tentativa de resposta a essa questão será objeto de estudo das próximas linhas que o
primeiro tópico reflete sobre as contribuições para o aprendizado a partir do entendimento
da história da matemática como um processo de ensino e de aprendizagem. O segundo tópico
aborda algumas situações de aprendizagem que utilizam a história da matemática.
É necessário contar como foi a evolução, a criação dos conceitos matemáticos pelos
homens, mas somente ler essa história para as crianças não garante que elas compreendam
o processo de construção desse conceito.
Como já foi visto em aulas anteriores, quando o homem começou a quantificar e contar,
antes de existirem os números, ele iniciou esse processo fazendo correspondência um a um,
como na história dos pastores que, para fazer o controle de seu rebanho após deslocamentos,
utilizavam uma pedra para representar/corresponder cada animal.
Assim, quando o pastor saía pela manhã do local de descanso, colocava uma pedra
em um saco para cada animal que saía e carregava o saco cheio de pedras. Ao retornar, no
final do dia, para cada animal que entrava no local de descanso ele retirava uma pedra do
saco. Se sobrassem pedras, teria perdido algum animal pelo caminho. Mas em determinado
momento, ficou difícil e pesado carregar o saco de pedras. Então, o homem pensou em
maneiras de tornar o saco mais fácil de carregar e começou a experimentar a substituição
de uma quantidade de pedras por outro objeto: por exemplo, a cada dez pedras, o pastor
trocava-as por um graveto. Então, cada graveto passou a representar dez ovelhas e o pastor
conseguiu diminuir muito o volume e peso do saco de controle dos animais.
Esse é o mesmo princípio do nosso sistema de numeração decimal, mas que muitas
crianças não conseguem compreender, porque ela não vivenciou essa situação e nem atribuiu
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Num primeiro momento, dirão que não é possível contar sem os números, então
colocamos um desafio: “Será? Eu conheço um jeito, será que vocês conseguem descobrir?”
Elas irão começar a levantar hipóteses, sugestões diversas e junto com o grupo iremos
avaliar a viabilidade dessas proposições. Se ninguém levantar a questão, sugiro que utilizemos
um objeto para representar cada criança: bolinhas de gude, botões, tampinhas de garrafa,
um lápis, ou qualquer outro disponível em sala de aula, desde que sejam iguais.
Fazendo isso com um grupo de 20 a 30 crianças não ficaria tão difícil, mas e se fôssemos
contar a quantidade de crianças da escola inteira? Seriam necessários muitos objetos e ficaria
difícil de carregar, mais fácil de se confundir e perder a conta. Será que existe uma maneira
mais fácil sem se confundir ou perder a conta?
Se nenhuma criança tiver a ideia, então, pode-se propor: e se a gente trocar uma
quantidade de tampinhas de garrafa por um lápis, será que funciona? As crianças irão analisar,
testar e podem chegar à conclusão de que sim, é viável. Nesse momento, podemos fazer a
relação com o sistema de numeração decimal, permitindo à criança que atribua significado à
troca que fazemos na base 10 de nosso sistema de numeração: a cada 10 unidades, trocamos
por 1 dezena.
Dessa forma, utilizamos a história da matemática não somente para conhecer a evolução
do sistema de numeração decimal, mas criamos uma situação de aprendizagem a partir da
história da matemática, em que a criança revive essa história, atribui significado de modo a
não somente compreender, mas também construir essa ideia.
novos conhecimentos.
Por exemplo, existem diferentes sistemas de numeração, e cada um foi criado a partir das
necessidades e dos conhecimentos de cada povo. Da mesma forma, a agricultura praticada
pelos maias, nos topos das montanhas dos Andes, era diferente do método utilizado pelos
egípcios às margens do rio Nilo.
Tal atividade contribuirá para o resgate da identidade cultural de diferentes povos, mas
também para a criação da própria identidade cultural do aluno, porque ele irá conhecer
características da sociedade em que vive e poderá observar suas características, diferenciando-
se de outros povos.
O que dizer, então, das artes, da matemática presente nas obras, que permite sua
apreciação, e dos estudos de conceitos matemáticos ou conceitos matemáticos revelados
pela natureza, nas flores analisadas pelas ciências naturais e biológicas?
A história da matemática pode revelar sua conexão com várias áreas do conhecimento.
A história da matemática pode ser utilizada como ponto de partida para motivar os alunos
a estudarem e pesquisarem sobre determinado tema ou conteúdo matemático. Apresentar
o prazer da leitura e da pesquisa para os alunos pode ser um bom começo, ou seja, mostrar-
se leitor e pesquisador pode despertar nos alunos a busca pelo conhecimento que se revela
através da história da matemática.
A partir do conhecimento de uma história, é possível organizar com os alunos uma roda
de contação para as crianças, recontar as histórias, ou ainda preparar dramatizações.
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Uma pessoa reconta uma história porque se apropriou do enredo e se tornou capaz
de recriá-la. O mesmo ocorre com as crianças: para recontar ou dramatizar uma história da
matemática, elas precisam se apropriar da história, das ações e conceitos construídos durante
o processo histórico.
Por exemplo, para chegar à definição do metro como unidade de medida linear padrão,
foi necessário um longo processo histórico. Em vez de apenas contar o processo, o professor
pode permitir aos alunos vivenciarem as etapas desse processo.
Elas podem dizer que precisam de algo para medir. Incentive-as a utilizar partes do corpo:
braço, palmo, pés, passos, ou até o corpo inteiro. Deixe as crianças realizarem as medições
e anotarem seus resultados sem que os colegas vejam. Depois, compare os resultados da
medição. Espera-se que eles sejam diferentes, pois cada corpo tem uma medida distinta.
Prepare alguns instrumentos que podem ser utilizados para medir: barbantes, tira de
borracha, cabo de vassoura com diferentes tamanhos, fita métrica, régua, trena.
Por último, ensine como utilizar os instrumentos padronizados com unidades de medidas
iguais. Deixe que os alunos experimentem, façam as medições e registrem. Depois socializem,
conversem. Nesse momento, as medidas aferidas devem ser as mesmas. E sua comunicação
ficará mais fácil.
1 + 2 + 4 + 7 + 14 = 28
Existe outro número perfeito menor que 28? Aliás, é o primeiro número
perfeito que se conhece e possui apenas um algarismo. Será que você consegue
descobrir?1
1 O primeiro número perfeito que se conhece é 6, pois a soma de seus próprios divisores é igual a esse número: 1 + 2 + 3 = 6.
X 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
2 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
3 3 6 9 12 15 18 21 24 27 30
4 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40
5 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
6 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60
7 7 14 21 28 35 42 29 56 62 70
8 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80
9 9 18 27 36 45 54 63 72 81 90
10 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Nesse momento, é possível propor uma pesquisa para os alunos sobre quem foi Pitágoras,
em que região e época viveu esse importante matemático grego.
Considerações finais
Nesta aula, pudemos refletir que é possível utilizar a história da matemática como
processo de ensino e de aprendizagem e como essa estratégia contribui para que os alunos
possam compreender a lógica e o processo de construção das ideias matemáticas.
Vimos que algumas práticas podem ser desenvolvidas para promover o trabalho com a
história da matemática enquanto estratégia de ensino e de aprendizagem: promover a leitura
de livros paradidáticos; o reconto e a dramatização dessas histórias; a vivência dos processos
históricos registrados na história da matemática e ainda promover pesquisas sobre quem
foram e como viveram os matemáticos que fizeram parte da História da Matemática.
Assim, espera-se que os alunos possam compreendê-la como uma construção humana e
em constante transformação.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Aula 12
Literatura infantil em aulas de matemática
Objetivos Específicos
• Utilizar a literatura infantil para a construção de conceitos matemáticos.
Temas
Introdução
1 Relações entre a literatura infantil e a matemática e a formação de professores
2 A literatura infantil nas aulas de matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
A presente aula tem como objetivo analisar o uso da literatura infantil para auxiliar o
aprendizado de conceitos matemáticos.
Algumas práticas educativas para ensinar matemática a partir da literatura infantil serão
abordadas no segundo item.
Nessa aula, a língua materna volta a ser objeto de nossa atenção, mas o enfoque será a
literatura infantil. Realizaremos uma análise para verificar o seu potencial de colaboração no
aprendizado de conceitos matemáticos.
Nesse sentido, Smole et al. (2007, p. 2) afirmam que integrar a literatura infantil e
matemática representa mudança em relação ao ensino tradicional pois, “em atividades desse
tipo, os alunos não aprendem primeiro a matemática para depois aplicar na história, mas
exploram a matemática e a história ao mesmo tempo”.
Concordo com as autoras quando afirmam que por meio do contato com a literatura
infantil as crianças podem ir aprendendo tanto a língua materna como a matemática. Não é
preciso necessariamente aprender uma para depois aplicar a outra, mas é possível aprender
ambas juntas, no contato com a literatura infantil.
Para que essa concepção seja adotada pelos professores, é necessário primeiro que o
professor goste de ler e conheça o material, a história. Depois, é preciso levar o livro para os
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 2
Construção dos Conceitos Matemáticos
alunos terem contato, observar, manusear, escutar a história (se ainda não souberem ler), ver
as imagens conforme a história é contada e ler.
Com essa atitude, o professor irá criar condições para os alunos se apropriarem da
história. Esse ponto é fundamental, pois somente a partir da apropriação da história é que
pode-se propor sua exploração para estudar a língua materna e a matemática contida na
história.
Ao mudar sua concepção, o professor consegue modificar também suas práticas e, dessa
forma, a atividade docente passa a contribuir para que:
Mas as autoras alertam: nem todo livro de literatura infantil deve ser explorado
matematicamente, pois somente algumas histórias foram escritas com esse objetivo. O
propósito principal dos escritores de literatura infantil é fazer seus leitores viajarem por um
mundo mágico e despertar o prazer de ler.
Para o trabalho com a literatura infantil nas aulas de matemática deve-se utilizar livros
que permitem diferentes aprendizagens matemáticas.
3. Livros conceituais;
4. Livros de charadas.
Possuem fábulas, contos folclóricos, contos de fada ou outras histórias que inicialmente
não foram escritas com objetivo de abordar temas matemáticos, embora o façam de maneira
indireta ou direta e geralmente não foram escritos por matemáticos.
Exemplos de livros com histórias variadas: O lobo e os sete cabritinhos, dos Irmãos
Grimm; O pequeno polegar, de Charles Perrault; Farra no formigueiro, de Liliana Iacocca e
Michele Iacocca; e A fábula das três cores, de Ziraldo.
• Livros conceituais:
São pensados e escritos para explorar ideias matemáticas e também conceitos de outras
áreas que permitem uma ligação com os conteúdos matemáticos.
Seus enredos são apresentados de forma que encantam o leitor e o fazem querer saber
ainda mais sobre o assunto.
Exemplos de livros conceituais de outras áreas que permitem ligação com a matemática:
Aventuras de uma gota d’água, de Samuel M. Branco, e Uma teia alimentar, de Neide S.
Matos.
• Livros de charadas:
O livro narra a história de três partes, três figuras geométricas que formavam uma casa,
se desmancharam, formaram outras figuras, viveram muitas aventuras até se tornar casa
outra vez.
A figura 1 mostra a casa da história das três partes e ao lado, as três partes soltas.
Trata-se de uma história do tipo variada, pois não explora diretamente um conceito
específico, apenas brinca com três partes que assumem várias formas ao longo da história, se
encantam com uma vovó e decidem presenteá-la e morar com ela. Apaixonante!
A primeira etapa é fazer a leitura da história, que pode ser usada desde a Educação
Infantil. Antes de ler o enredo, você pode apresentar as figuras das páginas e perguntar se as
crianças sabem dizer qual figura é aquela.
Depois inicie a leitura. Aos poucos, o enredo será revelado e confirmará ou não as
hipóteses levantadas inicialmente pelas crianças. É uma festa quando elas descobrem que
acertaram a figura.
Entre as três partes para grupos de crianças, desafie-as a reproduzirem algumas figuras.
Caso elas não se lembrem, mostre as silhuetas das figuras para elas tentarem sobrepor as
peças, como mostra a figura 2.
Nessa figura, é possível observar a silhueta das figuras da história e tentar sobrepor as
três partes para descobrir em que posição está cada parte.
A seguir, pergunte se alguém consegue formar outra figura com as três partes. As
possibilidades são muitas.
Depois, pergunte se os alunos sabem como se chama cada uma das partes. Trata-se de
dois triângulos e um trapézio. Pode ser que nem todas as crianças conheçam um trapézio.
Peça aos alunos para observarem as características dessas figuras: todas têm pontas,
cantos, que são chamados de ângulos.
Os triângulos são compostos por três lados e três pontas, três ângulos que dão nome à
figura: três ângulos = triângulo. Podemos fazer uma analogia com a estrutura da formação da
palavra: é a mesma de “tricampeão”, que significa três vezes campeão.
O trapézio possui quatro lados e quatro pontas, quatro ângulos. É possível observar que
ele tem dois lados opostos paralelos, um menor e outro maior. Vemos também que dois lados
possuem medidas iguais.
Podemos ainda desafiar os alunos a construírem outras figuras geométricas com os dois
triângulos. Nesse caso, podemos ter: um retângulo, um paralelogramo e outro triângulo,
conforme mostra a figura 3:
Pode-se ainda propor a exploração da medida dos lados das figuras. No caso apresentado,
as figuras são formadas por triângulos-retângulos que possuem medidas de lados diferentes.
Proponha aos alunos imaginar se os triângulos tivessem os lados com a mesma medida.
Pergunte se seria possível formar as mesmas figuras.
Leve os triângulos que tenham lados com a mesma medida recortados em papel-cartão
e deixe os alunos compararem com as outras partes e formarem figuras. A única diferença
além das medidas será a substituição do retângulo pelo quadrado – que é um caso particular
do retângulo, porque tem todos os lados com a mesma medida.
Para chegar à produção é necessário... saber escrever? Nem sempre, pois o professor
pode se tornar um escriba. Para produzir, é necessário saber o que é uma história, ter tido
contato com muitas histórias, por isso é importante que o professor seja exemplo de leitor e
estimule a leitura diária a fim de repertoriar as crianças.
Sabendo o que é uma história, e dependendo do tema que se deseja abordar, o professor
pode fazer uma seleção de livros com histórias infantis e ler uma por dia para as crianças.
Escolha algumas das histórias lidas para serem analisadas: observar como eram as
personagens, o que elas faziam, o que acontecia com elas nas histórias, o que as histórias
podem ensinar sobre a matemática...
Essa história aborda a divisão de uma maneira simples com a divisão de um pirulito,
sempre em partes iguais, e a exploração da representação fracionária de meio até um sexto.
Converse com os alunos e escolha uma situação vivida para ser escrita em forma de
história. Pode ser uma produção em duplas, na qual um escreve e o outro dita, assim, terão
que negociar como será a história.
Oriente os alunos para que, durante a narrativa, a situação matemática seja demonstrada
com exemplos, como foi feito no livro O pirulito do pato.
Conta a lenda que um jovem chinês despedia-se de seu mestre, pois iniciara uma
grande viagem pelo mundo. Nessa ocasião, o mestre entregou-lhe um espelho de
forma quadrada e disse:
‒ Com esse espelho você registrará tudo que vir durante a viagem, para mostrar-me
na volta.
‒ Mas mestre, como, com um simples espelho, poderei eu lhe mostrar tudo o que
encontrar durante a viagem?
No momento em que fazia esta pergunta, o espelho caiu-lhe das mãos, quebrando-se
em sete peças.
‒ Agora você poderá, com essas sete peças, construir figuras para ilustrar o que viu
durante a viagem. (USP, LABMAT, 1999)
Então, o jovem pegou seu BARCO e iniciou a viagem. Viajou... viajou... e pelos lugares
que passou registrou o que viu de mais belo. Observou diferentes CONSTRUÇÕES
feitas pelos seres humanos e conheceu muitos animais: CANGURU, COELHOS, GATOS,
CISNE, PATO e um CACHORRO, que se tornou seu companheiro. Se encantou com os
PEIXES no mar e com os PÁSSAROS no céu e ficou deslumbrado com as PLANTAS na
terra. Ao retornar de sua viagem, o JOVEM CHINÊS havia aprendido que a beleza do
mundo está na diversidade e no respeito à vida. (BERTUCCI, 2009, p. 8).
Considerações finais
Nessa aula, pudemos analisar como a literatura infantil pode contribuir para o aprendizado
matemático, além de conhecer os tipos de livros apropriados para esse trabalho.
Referências
BERTUCCI, M. C. S. B. Leitura, escrita e geometria: possibilidades do uso do tangram em sala
de aula. 17º Congresso de Leitura do Brasil: Campinas, 2009.
ISOLANI, C. M. M.; SIEDEL, C. Depende do ponto de vista. São Paulo: Editora do Brasil, 1991.
MACHADO, N. J. A peteca do pinto. São Paulo: Scipione, 2003. 5 ed. Coleção Histórias de Contar.
______. Amigos para ler e contar. São Paulo: Scipione, 2005. Coleção Histórias de Contar.
______. Brincando com o espelho. São Paulo: Scipione, 2004. Coleção Histórias de Contar.
______. Contando com o relógio. 6 ed. São Paulo: Scipione, 2003. Coleção Histórias de Contar.
______. Contando de um a dez. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2008. Coleção Histórias de Contar.
______. O pirulito do pato. 5 ed. São Paulo: Scipione, 2008. Coleção Histórias de Contar.
OLIVEIRA, A. O lobo e os sete cabritinhos (Irmãos Grimm). São Paulo: Moderna, 2010.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
SMOLE, K. S. et al. Era uma vez na matemática: uma conexão com a literatura infantil. São
Paulo: CAEM/USP, 2007.
ZIRALDO. A fábula das três cores. 29 ed. São Paulo: Melhoramentos, 2011.
Aula 13
Processo de ensino e aprendizagem dos conceitos
matemáticos: cálculo mental, utilização de jogos e uso de
materiais manipuláveis.
Objetivos Específicos
• Compreender como o desenvolvimento do cálculo mental, os jogos e
o uso de materiais manipuláveis favorecem a construção de conceitos
matemáticos.
Temas
Introdução
1 O cálculo mental
2 Os jogos na aprendizagem dos conceitos matemáticos
3 A utilização de recursos manipuláveis
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Essa aula analisa o cálculo mental e a utilização de jogos e recursos manipuláveis no
ensino da matemática. Assim, o texto foi dividido em três partes.
A primeira discorre sobre o cálculo mental, suas potencialidades e sua utilização na vida
real e nas escolas, bem como a relação com a resolução e anuncia a relação com os jogos,
tratada na segunda parte do texto.
Além da relação com o cálculo mental, o texto explora o potencial dos jogos para o
ensino da matemática na escola e apresenta algumas sugestões de jogos e do seu potencial
a ser explorado.
1 O cálculo mental
O cálculo aritmético, geralmente utilizado de modo escrito no ensino escolar da
matemática, pode ser realizado também “de cabeça”. Quando isso acontece, dizemos que se
trata do cálculo mental.
O cálculo mental tem sido pouco utilizado no ensino tradicional de matemática. Uma aula
tradicional tem a apresentação da definição de um conceito, demonstração de um exercício-
modelo, aplicação do modelo em uma lista de exercícios, tudo registrado por escrito. Os
cálculos são realizados de forma escrita, utilizando uma técnica que pode ser o algoritmo (a
famosa “continha”), uma expressão matemática ou uma fórmula.
Porém, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1997) afirmam que o cálculo mental
é a base do cálculo aritmético utilizado no cotidiano, no dia a dia das pessoas, que nem
sempre dispõem de lápis e papel para registrar o algoritmo e efetuar o cálculo.
Assim, os PCN (1997) recomendam que o cálculo mental seja explorado concomitantemente
com o cálculo escrito durante o ensino escolar da matemática.
Por exemplo, pode-se pedir que os alunos estimem o resultado de um cálculo antes de
escrevê-lo. Socialize algumas estratégias e depois registre o cálculo. Dessa forma, o exercício
do cálculo mental pode se tornar uma estratégia de controle do cálculo escrito.
Outra sugestão de trabalho com o cálculo mental é apresentada por Viana, Lopes e Viana
(2005), ao indicar a disposição horizontal dos cálculos escritos:
35 + 17 =
Se a apresentação oral não for compreendida por todos os alunos, pode-se então utilizar
o registro escrito de diferentes formas: como cálculo horizontal (apresentado acima), como
esquema numérico ou descrevendo-o com palavras.
“Somam-se as dezenas trinta mais dez, que é igual a quarenta. Depois, somam-se as
unidades, cinco mais sete é igual a doze. Por último, somam-se os dois resultados: quarenta
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 3
Construção dos Conceitos Matemáticos
Acredito que você deve se lembrar de exercícios para decompor os números nas aulas de
matemática que teve no Ensino Fundamental. Eu me lembro. Eram listas longas de números
que tínhamos de decompor em suas ordens. Eu fazia, procurava entender a lógica do exercício
para não errar mas não compreendia como aquilo me fazia aprender matemática e muito
menos como utilizar esse conhecimento.
Em uma situação de cálculo mental, faz todo sentido decompor o número. Cria-se um
contexto natural e favorável à decomposição de número em suas ordens e a atividade torna-
se significativa.
Outro recurso usado para explorar o cálculo mental são situações de jogos nas aulas de
matemática, como veremos mais adiante. Guimarães (2010, p. 94) destaca, ainda, que “o uso
de jogos é um recurso favorável ao trabalho com cálculo mental”.
• Entre os jogos de regras estão o xadrez, futebol, esportes em geral que possuem
regras e devem ser respeitadas, e se apresentam como situações mais complexas às
crianças.
Em geral, o jogo se apresenta como um espaço de reflexão e desafio que pode gerar
muito interesse em sala de aula, sendo recomendado pelos PCN (1997) com a ressalva de
que cabe ao professor analisar e avaliar a potencialidade educativa e os conteúdos a serem
abordados com cada jogo.
Guimarães (2010) considera que o jogo deve ser um recurso a mais nas aulas de
matemática, valorizando o processo de ensino e de aprendizagem e permite que o aluno
vivencie esse processo, construa conceitos e conhecimentos na interação com os colegas.
O jogo é divertido e adaptável a várias faixas etárias. O objetivo é fazer o maior número
de pontos pegando varetas. É composto por 41 varetas de cores e pontuações variadas:
Figura 1
Se o participante conseguir retirar a vareta com sucesso, ele continua jogando. Se ele
movimentar qualquer outra, passa a vez para outro participante. Ao final, quando todas as
varetas foram coletadas, somam-se os valores e quem fizer a maior pontuação vence.
Cálculo aditivo: 15 + 15 + 15 + 5 + 5 + 5 + 5 + 5 + 20 + 10 + 10 + 10 + 10 + 10
Atente para o fato de que o próprio sistema de numeração decimal possui os princípios
aditivos e multiplicação para a composição dos números. Assim, retomamos uma propriedade
do SND.
Pode-se ainda propor comparações entre as pontuações dos participantes: quem fez
mais pontos, o participante A ou o participante B, que conseguiu pegar a vareta preta, 5
varetas amarelas, uma vareta vermelha, duas varetas azuis e duas varetas verdes?
Os alunos, às vezes, podem se surpreender, pois mesmo com a vareta preta que possui o
maior valor, o participante B não conseguiu somar mais pontos que o participante A.
Outra atividade interessante é pedir aos alunos que troquem as varetas entre si, mas
mantendo o mesmo valor: por exemplo, quem for trocar a vareta preta, deverá receber quais
varetas para ter o valor equivalente? As possibilidades são muitas.
Pode-se ainda diminuir o valor das varetas, de forma proporcional, para trabalhar com
crianças de 4 a 5 anos, segundo sugestão de Guimarães (2010). Basta dividir o valor das
varetas pelo máximo divisor comum, no caso, o número 5. Assim teremos:
Varetas amarelas: 5 ÷ 5 = 1
Varetas verdes: 10 ÷ 5 = 2
Varetas azuis: 15 ÷ 5 = 3
Varetas vermelhas: 20 ÷ 5 = 4
Vareta preta: 50 ÷ 5 = 10
Segundo Macedo, Petty e Passos (2005), para jogar bem o pega-varetas os alunos
precisarão desenvolver habilidades de organização e planejamento, antecipação de ações e
respeito às regras, desenvolvendo o raciocínio lógico-matemático.
Ao virar duas cartas, os alunos devem formar o maior número possível com aquelas duas
cartas, dizer qual é o número, comparar com o número formado pelos colegas, dizer qual é
o maior e justificar. Novamente, após esse momento, ganha o jogo quem tiver mais fichas
depois que todas forem viradas.
Esse jogo contribui para o aprendizado matemático porque os alunos devem pensar nos
critérios que devem utilizar para compor o maior número possível com as duas ou três fichas
que possuir.
• Por exemplo, se o aluno virar as fichas 2 e 7, que número ele pode formar?
• Se colocar as fichas na ordem em que apareceu o 27, que número foi formado?
• Quanto vale 27? Você consegue demonstrar a quantidade com tampinhas plásticas?
(ou qualquer outro conjunto de objetos que possa ser contado)
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 8
Construção dos Conceitos Matemáticos
O objetivo do jogo é somar quinze. Quem conseguir, combinando uma das cartas de sua
mão com uma ou mais cartas da mesa, leva as cartas. Se nessa combinação o jogador levar
todas as cartas da mesa, ele faz uma “scopa”. Cada scopa vale três pontos na contagem final.
O próximo jogador tem apenas a opção de colocar uma carta na mesa. Quando o jogador,
porém, não consegue fazer nenhuma combinação que some quinze, ele deve deixar uma
carta na mesa e a rodada continua com o próximo jogador.
Quando acabarem as cartas da mão, distribuem-se novamente três cartas para cada
jogador e repete-se o procedimento até acabarem as cartas. Cada jogador conta os pontos
que fez. Cada carta vale um ponto e cada scopa, três pontos. Ganha o jogo quem tiver mais
pontos ao final.
a. 10 + 5, ou
b. 10 + 3 + 2
c. 6 + 9
d. 1 + 9 + 5
Atente para os cálculos mentais que as crianças fizeram. Isso também ajuda a memorizar
somas exatas de dez (fatos básicos da adição1) e ampliar para a soma quinze. Isso futuramente
ajudará a resolver outros cálculos com maior agilidade.
“Que carta eu teria que ter para fazer scopa em determinada rodada?”
“Se o jogador anterior fez scopa e é a minha vez de jogar, e eu tenho as cartas 8 e 3, que
carta é melhor eu jogar, ou tanto faz?”
Se jogar a carta 8, o próximo jogador terá a chance de fazer uma scopa se tiver a carta 7,
pois 8 + 7 = 15; assim é melhor jogar a carta 3.
De acordo com Brenelli (2005), no espaço para pensar criado pelo jogo, o aluno utiliza
sua inteligência para determinar estratégias a serem utilizadas para ganhar o jogo e as
desenvolve mobilizando conhecimentos matemáticos, como o cálculo mental, a composição
dos números, a propriedade das operações como a adição presente nesse jogo. Assim, o jogo
contribui para o aprendizado matemático.
Para jogar, são necessários de dois a quatro participantes, um dado, um marcador para
cada participante e um tabuleiro, como mostra a figura 1:
1 Fatos básicos da adição são as somas de dois números que resultem em dez: 1 + 9; 2 + 8; 3 + 7, 4 + 6, 5 + 5 e vice-versa..
Cada um joga o dado e faz a divisão de 43 pelo número sorteado no dado. Se esse
número for 5, o resto será 3 e o participante poderá avançar 3 casas. A explicação é simples:
43 ÷ 5 = 8 com resto três. Depois do avanço, passa a vez para o participante seguinte e assim
por diante. Ganha o jogo quem chegar primeiro à casa “fim”.
Como o principal objetivo do jogo é descobrir o resto para avançar, o quociente perde
importância e o foco se volta para o resto. Isso também permite diferentes estratégias de
resolução, por exemplo: pensar nos múltiplos de 5 e verificar qual é o mais próximo de 43
imediatamente menor, subtrair a diferença entre eles, que corresponde ao resto da divisão e
avançar com esse número.
• Qual é o maior número de casas que você pode caminhar no tabuleiro em uma
jogada? Explique.
• Há uma casa que lhe coloca fora do jogo. Qual? E por que você será excluído do jogo?
• Se a sua ficha estiver na casa 51, você terá chance de vencer na próxima jogada?
Justifique.
• E se a sua ficha estiver na casa com o número 80, quais números devem sair no dado
para que você ganhe o jogo? Por quê?
• A equipe adversária à sua estava com a ficha na casa 77 e conseguiu avançar para a
casa 12. Quantos pontos essa equipe obteve no dado?
Essas questões ajudam a explorar o potencial do jogo para o ensino da matemática, bem
como os conteúdos elencados no início desse tópico, para a socialização de conhecimentos e
saberes entre os alunos durante as trocas de experiências, entendimentos e visões sobre as
situações de jogo e as interpretações das regras.
• o material dourado;
• as fichas sobrepostas;
• as figuras geométricas;
• o tangram;
• os blocos lógicos;
• até as pedras usadas para fazer o controle de quantidade, ainda quando os números
não existiam, podem ser considerados recursos manipuláveis.
Lorenzato (2006) nos fala sobre a importância desse recurso, seja para apresentar um
assunto em sala, motivar os alunos, auxiliar na memorização de resultados, apoiar análises e
facilitar “redescobertas” matemáticas, exemplificar um conceito ou apoiar uma demonstração.
A figura 2 demostra como a soma dos ângulos de um triângulo é sempre 180 graus.
Faça essa experiência com as crianças. Ela pode ser trabalhada no segundo ciclo do
Ensino Fundamental (quarto e quinto anos), quando se estuda o conceito de ângulo. Entregue
aos alunos triângulos de diferentes tipos, isósceles, equilátero, escaleno, triângulo retângulo,
feitos em papel colorido. Peça para pintarem todos os ângulos de cada um e recortarem
a figura do centro até a metade de cada lado. Depois, peça para unirem os vértices dos
triângulos.
Considerações finais
Nessa aula, pudemos aprender um pouco sobre o cálculo mental e como ele contribui
para o aprendizado da matemática na escola.
Analisamos alguns jogos e como eles podem ser explorados em favor da aprendizagem
matemática, além de conhecer a importância dos recursos manipulativos.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
BRENELLI, R. P. O jogo como espaço para pensar: a construção de noções lógicas e estatísticas.
Campinas: Papirus, 1996.
MACEDO, L.; PETTY, A. L. S.; PASSOS, N. C. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
Aula 14
A relação professor-aluno e a construção do conhecimento
matemático.
Objetivos Específicos
• Refletir sobre como a relação professor-aluno contribui para a construção
do conhecimento matemático.
Temas
Introdução
1 A relação dos professores dos anos iniciais com a matemática
2 Relação professor-aluno e sua influência na construção do conhecimento
matemático
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Esta aula propõe um convite à reflexão sobre a relação dos professores que ensinam
matemática nos anos iniciais com a própria matemática; a relação do professor com o aluno
e sua influência na construção do conhecimento matemático.
O primeiro tópico se propõe a refletir sobre a relação dos professores com a matemática
e analisa possíveis motivos que contribuíram para a construção dessa relação.
Qual era sua disciplina favorita nos anos iniciais do Ensino Fundamental, ou seja, no
antigo primário?
O que você lembra sobre os professores ou professoras que lhe ensinaram matemática
naquela época?
Que tipo de relação você percebia entre o professor e a matemática? Ele(a) gostava? Se
empolgava com as aulas ou se limitava ao trabalho com o livro didático?
Qual era o sentimento que a matemática despertava em você durante esse período?
Talvez você tenha respondido a essas questões com recordações negativas, sentimentos
ruins. Ou, talvez, tenha se sentido indiferente ou, quem sabe ainda, se recordou com um
sorriso no rosto.
Esses sentimentos, aliados às experiências que tivemos, nos fizeram construir ideias,
concepções e crenças sobre a matemática e seu ensino.
Se você tem boa relação com a matemática, se gosta, se entusiasma, se ela desperta
curiosidade, vontade de saber mais e satisfação, sua prática docente será orientada nesse
sentido e seus alunos provavelmente irão gostar da matemática também e querer conhecê-
la.
Senac São Paulo- Todos os Direitos Reservados 2
Construção dos Conceitos Matemáticos
Porém, se ao contrário, você não tem uma boa relação com a matemática, tem
um sentimento negativo, limita-se a usar o livro didático ou as orientações mínimas sem
demonstrar interesse em querer saber mais, sem demonstrar o prazer de conhecer, seus
alunos perceberão e provavelmente não irão se interessar por essa disciplina.
Além desses problemas, Curi (2005) afirma que existe mais uma dificuldade a ser levada
em conta quando se analisa a relação dos professores das séries iniciais com a matemática.
O professor especialista, aquele que leciona a partir do sexto ano, escolhe a disciplina na
qual deseja se formar ou que se identifica mais.
O mesmo não acontece com os professores de anos iniciais, uma vez que são polivalentes1,
ministram várias disciplinas, além de serem responsáveis pela alfabetização dos alunos. E
nesse caminho se deparam com a matemática.
Esse tema continua sendo observado e investigado. Por exemplo, Conti (2011) relata uma
experiência em que solicita a professores – cursistas de uma pós-graduação – que retratem
com imagens ou palavras a relação de cada uma com a matemática.
1 Polivalentes: diz-se dos professores que atuam nos anos iniciais de escolarização e ministram várias disciplinas ao mesmo tempo (Língua
Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia) e não são especialistas em nenhuma dessas disciplinas
semelhantes. A partir de então, essa professora procurou construir uma relação diferente
com a matemática.
Assim, Conti (2011) entende que se o professor não tem boa relação com a matemática e
a vê com temor, tende a ensiná-la da mesma forma, ou seja, a reproduzir as mesmas práticas
que o fizeram não gostar e temer a matemática.
Tais reflexões nos levam a indagar se realmente essas pessoas não gostam ou não
conhecem a matemática. Geralmente é difícil gostar de algo que não se conhece. É isso que
afirma Lorenzato (2005).
Era uma relação vertical: o professor, detentor do saber, ensina, e o aluno, que ainda
não tem o conhecimento construído, aprende. Havia pouca – ou quase nenhuma – interação.
Inexistia o diálogo.
Ao se dar conta da ineficácia desse método, também em um passado recente, por volta
de 1990, várias áreas de conhecimento como a didática e a psicologia propuseram um novo
papel para o aluno dentro do processo de ensino e de aprendizagem.
Esse novo papel põe o aluno no centro do processo, em caráter ativo na construção
do conhecimento. Também demanda que o professor tenha um novo papel, que promova
o diálogo e a interação com os alunos e entre os alunos. É conceber uma relação dialógica,
como preconizava Paulo Freire no final dos anos de 1960.
Mas esse processo não foi tão rápido e automático como parece. Envolveu
– e ainda envolve – esse movimento de estudo e reflexão sobre as práticas a
partir da teoria e da interlocução com os pares. Essa interlocução me auxiliou a
construir, aos poucos, uma prática docente baseada no diálogo, na socialização
de aprendizados, em questionamentos e buscas de respostas e argumentos
para sustentar as respostas encontradas.
Essa prática foi aos poucos construída e hoje consigo envolver o aluno,
colocá-lo no centro do processo de ensino e de aprendizagem, em que ele
possui voz e pode dialogar comigo, professora e com seus colegas, para juntos
construirmos os conhecimentos matemáticos.
Voltando às pesquisas...
Carvalho e Gomes (2009) afirmam que a afetividade estabelecida entre professor e aluno
influencia a qualidade da aprendizagem dos alunos. Como já foi dito, as concepções e crenças
do professor são transmitidas em suas práticas e são percebidas e assimiladas pelos alunos.
Então, espera-se que o professor construa uma relação diferente e positiva com a
matemática, baseada no prazer do conhecimento e na curiosidade que motiva a pesquisa e a
socialização de saberes.
Para auxiliar nesse processo, os PCN (1997) fazem uma reflexão sobre as facetas que o
professor deve assumir para conduzir a aprendizagem significativa dos alunos. São elas:
propor uma atividade para que realizem juntas. Para que o trabalho coletivo de fato aconteça,
o professor deve orientar os alunos para a própria aprendizagem sobre esse tipo de trabalho.
Isso é extremamente difícil, porque, em geral, as crianças são estimuladas a usar seus
recursos, seu pensamento em uma busca solitária da resposta correta. Ouvir o outro é um
exercício que requer disponibilidade, atenção, paciência... habilidades que nem sempre as
crianças possuem e terão de ser desenvolvidas.
E por fim, aprender a trabalhar coletivamente permite que cada criança saiba lidar com
soluções alternativas, de modo a ampliar seu pensamento, considerar possibilidades não
vistas anteriormente e junto com os pares, compreender os conceitos abordados na situação,
ou seja, promover a aprendizagem de todos.
Para efetivamente poder realizar esse tipo de trabalho, é necessário que o professor
proporcione um ambiente de trabalho que estimule o aluno a criar, compartilhar ideias,
ouvir, interagir com seus colegas, comparar, discutir, rever pensamentos e estratégias, fazer
perguntas e socializar as informações.
Podemos defini-lo como aquele que reúne determinadas características com o intuito
de ajudar a promover a aprendizagem matemática dos alunos. Para discutir esse ambiente,
vamos nos fundamentar nos estudos realizados por Nacarato, Mengali e Passos (2009).
Elas entendem também que esse ambiente é construído dentro da relação entre
professor e alunos, porque o concebem como espaço e não apenas local de aprendizagem.
Assim, esse espaço de aprendizagem deve ser dinâmico para que professor e alunos
possam se envolver no processo. Ambos passam a ter papel ativo e a desenvolver a atividade
intelectual. Em uma prática tradicional, a atividade intelectual de pensar, compreender, atribuir
significados e construir conhecimento era restrita ao professor, que depois “transmitia” esse
conhecimento a seus alunos.
Esse dinamismo pressupõe, ainda, que o aluno seja colocado no centro do processo de
ensino e de aprendizagem, do qual o professor também faz parte, desempenhando novo
papel, com várias facetas. Isso nos remete ao princípio freireano de que quem ensina também
aprende ao ensinar.
O registro escrito também faz parte desse ambiente, pois serve como apoio à memória,
como sistematização do conhecimento construído e de demonstração do processo dessa
construção. Esse último item permite que o professor acompanhe passo a passo as etapas
percorridas pelos alunos e possa identificar onde acontece o erro, que tipo de erro acontece
e permite ao professor buscar uma estratégia de intervenção adequada a cada situação.
Considerações finais
Nessa aula, propusemos uma reflexão sobre como a relação professor e aluno contribui
para a construção do conhecimento matemático.
Iniciamos pela lembrança sobre os tempos em que éramos alunos dos anos iniciais,
das práticas docentes exercidas por nossos professores. Essas recordações e as experiências
que tivemos nos forneceram elementos para criar ideias, concepções e crenças sobre a
matemática. Vimos que estas são transferidas para nossa prática docente e para a relação
como nossos alunos.
Então, passamos a refletir como estabelecer uma relação com a matemática de forma
a contribuir para a aprendizagem matemática dos alunos? Durante essa reflexão, vimos que
o papel do aluno no processo de ensino e aprendizagem se modificou, e que o papel do
professor deve se modificar também, desenvolvendo várias facetas.
Ao final, entendemos que, para contribuir com a aprendizagem matemática dos alunos, é
necessário construir um ambiente favorável a essa aprendizagem e essa construção depende
de uma relação dialógica entre professor e alunos.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
CURI, E. A matemática e os professores dos anos iniciais. São Paulo: Musa, 2005.
NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L.; PASSOS, C. L. B. A matemática nos anos iniciais do Ensino
Fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
Aula 15
A matemática e a tecnologia na sociedade atual
Objetivos Específicos
• Conhecer as alterações provocadas pelas tecnologias digitais
contemporâneas no processo de ensino-aprendizagem dos conceitos
matemáticos.
Temas
Introdução
1 Conhecimento, matemática e tecnologia
2 A tecnologia, a escola e a matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Tivemos a oportunidade de refletir como a matemática e a tecnologia evoluíram
conjuntamente em nossa sociedade nas aulas anteriores.
A matemática surgiu como forma de solucionar problemas de ordem prática da vida das
pessoas e ainda hoje se desenvolve assim.
Hoje iremos conhecer e refletir sobre as alterações provocadas pelas tecnologias digitais
contemporâneas no processo de ensino e aprendizagem dos conceitos matemáticos.
Não havia onde guardar o conhecimento acumulado a não ser na memória dos mais
velhos. Assim, os anciãos eram valorizados e muitas vezes considerados sábios.
Ambos, tanto quem ensina como aprende, deveriam estar juntos no tempo e no espaço,
eram, portanto, contemporâneos.
Imagine um grupo de pessoas que não conhece e nem utiliza a escrita para se comunicar
ou para registrar informações. Pode-se encontrar algumas tribos indígenas que ainda vivem
assim.
Mas com certeza você consegue imaginar esse grupo de pessoas, em que os conhecimentos
são transmitidos oralmente. Um ancião contando suas histórias, experiências e saberes para
os mais jovens que estão ao seu redor, escutando, com bastante atenção.
O autor e o leitor não precisavam mais compartilhar o mesmo tempo e espaço. Somente
essa possibilidade, de ler algo que foi escrito em outro lugar do mundo, ou em outra época,
distante do tempo em que o leitor vive, provocou grandes alterações na relação com o
conhecimento e com as próprias pessoas.
As cartas são exemplo dessa relação. Escreve-se para contar a uma pessoa distante como
é o dia a dia de quem escreveu, as suas descobertas e o que se pode aprender com ela.
Outro ponto a ser discutido é a interpretação que o leitor faz. Diferentemente de outrora,
quando o emissor da mensagem e o receptor compartilhavam o mesmo tempo e espaço,
interagiam e podiam dirimir dúvidas ou esclarecer interpretações diversas a fim de chegar a
um entendimento comum sobre o assunto abordado.
Um escrito, como um livro sobre a história dos números, pode ser lido por várias pessoas,
em diferentes tempos e lugares, e ser gerador de outros escritos, artigos, reportagens,
resenhas etc. sobre o mesmo tema.
Observe que, dessa forma, inicia-se a produção de registros escritos sobre o conhecimento
e estes pode ser guardados, acumulados, transportados de um lugar para outro, contribuindo
com a disseminação da informação e do conhecimento e com o aumento desses materiais e
do próprio conhecimento.
Numa primeira etapa isso ocorreu de forma bem lenta, pois os livros eram escritos
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Construção dos Conceitos Matemáticos
Eram poucas as pessoas que sabiam ler e muito menos as que tinham acesso às
bibliotecas. Temos acesso a essas informações justamente pelos registros e pelas pesquisas e
análises realizadas por historiadores.
Nunca se produziu tanto quanto hoje, nunca houve maior acesso à informação, nunca
se leu tanto...
Porém, a tradição oral não foi perdida, não houve a substituição total de uma forma de
transmissão de conhecimento pela outra, nesse caso, a escrita. As duas formas coexistem.
Entretanto, conforme as sociedades foram evoluindo e crescendo, o conhecimento escrito
passou a ser mais valorizado pelos grupos sociais.
A valorização das pessoas e das profissões também foi se alterando. Não mais o ancião
detentor do conhecimento e da memória de determinado grupo social, mas aquele que
domina a leitura e a escrita e que tem acesso ao conhecimento registrado de forma escrita,
que consegue ler, interpretar, transmitir e registrar. E, mais recentemente, as pessoas com
facilidade em lidar com a tecnologia dos computadores e das redes ganham maior destaque
em nossa sociedade.
Observamos que a tecnologia modificou a vida das pessoas, para melhor. Hoje temos
recursos para viver com maior conforto, erguer construções, nos locomover, produzir
alimentos, tratar e prevenir doenças, nos proteger, produzir entretenimento e conhecimento.
Apoiado nas reflexões do filósofo francês, Pierre Levy (1999), Rolkouski afirma que a
relação entre o homem e o computador gera um coletivo pensante, isto é, que as tecnologias
Por exemplo, quando uma notícia de racismo no esporte é veiculada pela web, as pessoas
rapidamente se posicionam sobre o assunto, enviam mensagens, manifestam opiniões, ações
e acabam por mobilizar um grupo de pessoas, um coletivo que pensa de modo semelhante
e se manifesta para defender seu pensamento. Esse pensamento já não é mais individual,
torna-se coletivo.
Outro exemplo, quando uma pessoa apresenta um novo estilo de se vestir e outras pessoas
comentam, algumas se identificam, outras não, mas esse estilo começa a se multiplicar, as
pessoas se vestindo de modo semelhante e defendendo suas opções, que já não são mais
suas, passam a ser de um coletivo que se “encontra”, primeiro, num espaço virtual.
Para Smole e Diniz (2007), a tecnologia não é uma novidade na escola, se considerarmos
que os materiais utilizados representaram um avanço tecnológico na época em que foram
apresentados na escola, como é o caso do livro ou das máquinas de calcular e, mais
recentemente, os computadores.
Na educação, na escola, a informática chega por volta dos anos 1980, de acordo com
Rolkouski (2011).
Porém, a chegada da tecnologia não significou que a escola se modificou tanto para
utilizá-la. Encontra-se muita resistência para a utilização da tecnologia na educação, mesmo
quando só haviam calculadoras.
Outra questão que merece nossa análise é a relação entre o professor e o computador.
Quando as máquinas chegaram às escolas, os professores tiveram de aprender a lidar com o
computador. Primeiro dominar a máquina, e depois pensá-la como ferramenta educacional.
Essa segunda parte foi mais complexa. Quando se pensava em tecnologia educacional,
incialmente se pensava em programas de computadores que fizessem o papel do professor.
Essa tecnologia foi desenvolvida e encontra-se disponível, porém, esse não deve ser um
fim da tecnologia educacional, deixar a tarefa de pensar e aprender para o computador.
O professor não deve trabalhar somente com softwares específicos, em que muitas
vezes cabe ao aluno papel coadjuvante, de apenas clicar nos locais devidos, muitas vezes
sem pensar, mas começar a utilizar programas gerais, como os processadores de texto em
situações nas quais os alunos sejam protagonistas do processo de pensar e decidir.
Sugerem ainda que o professor deve ter o cuidado de escolher um recurso tecnológico
como se escolhe qualquer outro recurso a ser utilizado na educação: pensando nos objetivos
e buscando recursos para atingi-los; verificando a adequação à faixa etária e desenvolvimento
cognitivo dos alunos; analisando sua potencialidade, pontos e fortes, pontos fracos; e
conteúdos e conceitos que podem ser trabalhados.
As autoras afirmam
Nenhum software é válido por si só; as interferências que o professor fará e o ambiente
criado a partir delas determinarão a qualidade do trabalho. O uso de um excelente
software não é garantia de um bom trabalho, assim, como um software ruim, não
produz, obrigatoriamente, maus resultados (SMOLE e DINIZ, 2007, p. 178).
Indicam que a internet também pode ser utilizada para pesquisa com os alunos, utilização
de jogos educacionais on-line, comunicação e interação com outras turmas ou outras escolas.
• Tarefas mecânicas ganham outra motivação. Não é mais necessário perder muito
tempo para desenhar o mesmo polígono e depois parti-lo de diferentes formas para
auxiliar o estudo das frações, pode-se usar o computador e reproduzir rapidamente a
mesma figura, com as mesmas dimensões, inclusive.
Outro ponto lembrado pelas autoras é que as crianças têm mais facilidade de se adaptar
ao computador do que os adultos. Por isso, deve-se promover a utilização dos computadores
e da informática na escola. O receio ou as maiores dificuldades são listadas pelos adultos em
relação ao uso da tecnologia.
Essa reflexão nos conduz à questão da formação dos professores, que nem sempre estão
preparados para lidar com a informática na educação e dependem de um técnico que opere
os computadores ou de alguém que conheça os programas para utilizá-los.
O próprio professor pode considerar a informática como um recurso aliado à sua formação
profissional. É preciso pensar o uso da internet, a rede mundial de computadores como fonte
de pesquisa, compartilhamento de informações entre professores, de experiências e saberes.
A EaD não é novidade, desde meados do século XX ela acontece, seja por correspondência
de cartas ou com o apoio de programas de televisão. Mas, com o avanço da tecnologia e
a utilização de computadores e internet, essas relações educacionais se modificaram e as
possibilidades de interação e de produção de materiais aumentaram bastante.
Considerações finais
Nessa aula, refletimos sobre o desenvolvimento da tecnologia e as mudanças provocadas
por essa evolução nas formas de se relacionar com o conhecimento. E que a chegada da
tecnologia digital é recente na escola.
Vimos também que ainda existem dificuldades para implantar a tecnologia educacional.
Embora os recursos estejam disponíveis, falta formação para que os professores possam
explorar as vantagens oferecidas por ela.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Aula 16
O ensino da matemática com a utilização da tecnologia
Objetivos Específicos
• Entender como as tecnologias digitais contemporâneas disponíveis no
espaço digital auxiliam na compreensão e construção dos conceitos
matemáticos.
Temas
Introdução
1 As tecnologias digitais no ensino da matemática
Considerações finais
Referências
Professora
Monike Cristina Silva Bertucci Fleischmann
Construção dos Conceitos Matemáticos
Introdução
Nesta aula, iremos conhecer algumas propostas que utilizam a tecnologia digital e a
informática como recurso auxiliar para o ensino e aprendizagem dos conceitos matemáticos.
O primeiro apresenta o jogo on-line “Feche a Caixa” e analisa como esse recurso pode
auxiliar na aprendizagem de cálculos e operações matemáticas. Tem ainda a possibilidade de
trabalhar esse jogo a partir da perspectiva da resolução de problemas.
E o terceiro explora o uso de softwares genéricos, como um editor de texto para auxiliar
no aprendizado da matemática, no desenvolvimento de sua escrita e sua linguagem e na
conexão com a língua materna e a literatura infantil, ou ainda o paint (programa que permite
fazer desenhos e modificar formatos e cores) e o editor de apresentações.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) propõem uma reflexão sobre o uso das
tecnologias da informação na escola, para o ensino de matemática com um recurso que pode
auxiliar o aprendizado e motivar os alunos.
Nesse tópico, vamos nos debruçar sobre o uso dos computadores e softwares no ensino
da matemática. Algumas possibilidades de trabalho são:
• jogos on-line, nos quais o aluno pode jogar e desenvolver habilidades de cálculos
como no jogo “Feche a caixa”, disponível gratuitamente;
As figuras a seguir mostram uma rodada desse jogo e permite visualizar a exploração
matemática dos fatos básicos e do cálculo mental.
A figura 1 apresenta a tela inicial do jogo e uma história sobre sua origem. Para os
jogadores que já conhecem as regras, pode-se iniciar o jogo clicando no botão “iniciar”. Mas
se alguém esqueceu, pode conferir as regras clicando na seta “continua”.
A figura 5 apresenta a última jogada com as caixas 1 e 3 abertas. Quando o dado1 foi
lançado, saiu o número 6. Assim, não é possível continuar a rodada e o jogador deve calcular
os pontos das caixas abertas: 1 + 3.
Depois, deve-se retirar os pontos das caixas abertas do total de pontos que possuía no
início do jogo, como mostra a figura 6.
1 Existe uma regra no jogo que permite utilizar apenas um dado depois que as caixas 7, 8 e 9 forem fechadas.
Além das oportunidades de cálculo criadas durante o jogo, o professor pode utilizar o
recurso de “congelar” uma tela e propor uma exploração matemática a partir da resolução
de problemas.
Na figura 7 vemos que o jogador tem à disposição, ou seja, ainda estão abertas as casas
1, 2, 3, 6 e 9. Os dados foram lançados e indicam os pontos 5 e 3.
A partir da análise desse momento do jogo, na tela congelada, o professor pode fazer
uma exploração matemática e levantar uma série de questionamentos:
b. Quais caixas ainda estão abertas e podem ser fechadas com essa pontuação?
c. Imagine que todas as caixas estejam abertas, existem outras possibilidades para
fechar a pontuação indicada pelos dados? Quais?
d. Para fechar a caixa 9, quais números devem ser indicados pelos dados?
e. Quantas combinações com números diferentes podem ser indicadas nos dados para
se ter o resultado 6?
h. Qual combinação de pontos nos dados deve ser indicada para o jogador fechar o
maior número de pontos nessa rodada? E para fechar o menor número de pontos?
i. Existe alguma combinação de pontos indicada pelos dados que encerra a rodada
nesse momento, com as caixas 1, 2, 3, 6 e 9 abertas?
Essas questões também podem ser exploradas em outros jogos eletrônicos cujo objetivo
seja desenvolver o cálculo mental.
Esse programa foi desenvolvido em meados dos anos 1960 pelo matemático Seymour
Papert, professor e pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) nos Estados
Unidos, com fins educacionais, mais especificamente, auxiliar no ensino e aprendizado da
matemática.
• para a frente 40 (pf 40) faz a tartaruga andar 40 passos para a frente;
• para trás 70 (pf 70) faz a tartaruga andar 70 passos para trás;
• para a direita 90 (pd 90), faz a tartaruga girar 90° para a direita;
• para a esquerda 45 (pe 45), faz a tartaruga girar 45° para a esquerda.
A figura 9 mostra a tartaruga após ter realizado três movimentos, de acordo com os
comandos registrados no histórico da Janela de Comandos.
Pode-se também programar a tartaruga para aprender um comando, uma ação que será
realizada toda vez que o comando for digitado.
O Logo é um software livre, gratuito e pode ser baixado nos sites de universidades
brasileiras.
O paint permite desenhar, colorir e modificar figuras. Ele pode ser utilizado para trabalhar
desenhos, formas e cores que podem ser inseridas depois no editor de texto ou no editor
de apresentações. Esse último software possibilita ainda fazer apresentações dos trabalhos
realizados pelos alunos.
Por exemplo, considere o programa paint. Para o aluno criar uma figura, ele pode usar o
auxiliar e escolher a forma que quiser. Pense em uma criança da Educação Infantil ou início
do Ensino Fundamental, que tenha entre 5 e 6 anos de idade. Se pedir para ela desenhar um
quadrado, ela irá escolher a ferramenta que desenha o quadrado.
Você pode, então, questioná-la, “como você sabe que essa figura é um quadrado?”;
“O que faz ele (quadrado) diferente desta (e aponta para o triângulo)?” Para responder à
segunda questão, a criança deverá pensar nas características da figura geométrica quadrado
e triângulo para conseguir explicar as diferenças entre elas. E essa diferença não se resume
apenas ao número de lados.
Considerações finais
Essa aula pretendeu discutir algumas possibilidades de uso das tecnologias no ensino da
matemática apresentando propostas com diferentes softwares e jogos on-line.
Referências
BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a
4ª séries): matemática. Brasília: MEC/SEF, 1997.
SMOLE, K. S.; DINIZ, M. I. (orgs.). Ler, escrever e resolver problemas: habilidades básicas para
aprender matemática. Porto Alegre: Artmed, 2007.