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22 DE SET A 06 DE NOV

MOSTRAS BDMG CULTURAL CICLO 2022

MASSUELEN
CRISTINA
TERREIROS -
ÀS MARGENS
DO VELHA
O Rio das Velhas já foi chamado pelo nome de ‘Uaimií’, que em Tupí, sig-
nifica Velha Água. Esse afluente do Rio São Francisco vai serpenteando
e cortando todo o Estado de Minas Gerais, sendo o Bem Natural mais
importante para diversas culturas Indígenas, mas também possuindo
valor crucial durante a Invasão Europeia no território Brasileiro, sendo
o assentamento (Morada) de diversos Povos Africanos na região de
Minas Gerais.

O Rio das Velhas, em Sabará, foi utilizado como perímetro, dividindo os


casarões coloniais do Centro de Sabará e os Quilombos e Comunidades
Ribeirinhas das Margens, fronteira dessas estruturas de poder, sepa-
rando pessoas, por sua Classe, sua Cor e seu tratamento para com o Rio.

A mesma elite que morava dentro dos limites do Rio, inutilizou sua água,
poluiu seus córregos e aterrou suas fontes, provocando mudanças drás-
ticas no comportamento das cheias, resultando em enchentes e nas
barragens ao longo de seu trajeto.

Já as comunidades que se organizaram nas Margens do Rio, fizeram dele


sua fonte de resistência. Do ‘Cascalho do Rio’, Dinorá e Dolores construí-
ram seu Quilombo, Seis Casas e um Terreiro embaixo delas, trouxeram o
Rio para o seu Sagrado, incorporando sua água, nos ritos de cura e lim-
peza. O Velhas se tornou o ancestral comum dessa comunidade, sendo a
razão pela qual foi possível que o seu assentamento fosse construído e
que continuasse erguido até os dias de hoje. Mesmo com as enchentes,
o Rio é visto por eles como um antigo amigo, os quais possuem uma rela-
ção profunda de pertencimento, configurando deste modo numa outra
forma de leitura, sendo o Rio das Mulheres Velhas do Quilombo Xavier.

VITÚ DE SOUZA
Curador
MASSUELEN CRISTINA

Massuelen Cristina é natural de Sabará, Minas Gerais. Artista e pesquisado-


ra, graduada em Psicologia pela Universidade FUMEC e especialista em Artes
Visuais como técnologa pelo Centro Interescolar de Cultura Arte Linguagens e
Tecnologias (CICALT).

Artista polímata, seu trabalho passa pelas encruzilhadas da performance, pintura,


audiovisual e instalação. Sua pesquisa gira em torno das etnografias do rito como
tempo e espaço de desenvolvimento de narrativas simbólicas e das iconografias
das relações corpo-território.

Premiada nos Prêmios Vozes Agudas para Mulheres Artistas(2020), Prêmio Itaú
Cultural de Artes Visuais(2020) e 7º Prêmio BDMG CULTURAL/FCS (2021) parti-
cipou também com trabalhos no MIP4 - Mostra internacional de performance
(2021) Festival Internacional de arte do Rio de Janeiro- FIAR (2021), MOSTRA VERBO
nas Galeria Vermelho em São Paulo e Galeria Chão SLZ em São Luiz (2022), além
de Residências Artísticas como LAB CULTURAL BDMG (2021) e Instituto de Arte
Contemporânea de Ouro Preto (2021).

FICHA TÉCNICA Comunicação Comissão Ciclo


Paulo Proença de Mostras 2022
Coordenador Froiid
Artes Visuais Estagiário de Juliana Flores
Érico Grossi comunicação Rita Lages
Antônio Paiva
Projeto Gráfico
Maria T Morais Fotografia
Rafael Amato Luiza Palhares

Montagem Diagramação
Sérgio Arruda Maria T Morais
MOSTRAS BDMG CULTURAL CICLO 2022

BRUNO RIOS
PEDRO DAVID
BÁRBARA LISSA E
MARIA VAZ

MASSUELEN CRISTINA

PARA + INFO, ACESSE MOSTRASBDMGCULTURAL.ORG/BARBARALISSAEMARIAVAZ

GALERIA DE ARTE BDMG CULTURAL


RUA BERNARDES GUIMARÃES
1600 LOURDES
Revista Memórias LGBT
Ed. 13 - Ano 9 - 1o Semestre de 2022
ISSN 2318‑6275

LGBT + RESISTÊNCIAS
MEMÓRIA E MUSEOLOGIA
SEMINÁRIO MUSEUS,
Sumário

Sociomuseologia e Questões Acolhimentos e Resistências de Processos


Contemporâneas: resiliência e insurgências, Museológicos em Casas de Acolhida LGBT
gênero e sexualidade_________________ 4 no Brasil____________________________ 32

Museologia e cotidiano: a experiência Universo LGBTQI Pavão, Pavão


do curso de Museologia da UFSC no e Cantagalo_________________________ 35
acolhimento às diversidades__________ 6
Gestão e Museologia LGBT___________ 36
MusaSex: Grupo de Pesquisa Museologia
e Sexualidade_______________________ 9 Sobre o direito à memória como direito
humano de LGBT+___________________ 39
“As gay, as bi, as trans, as sapatão, estão
todas reunidas pra fazer revolução”____ 15 Museu Transgênero de História e Arte__ 43

Memória, História e Museus Trans: a A favor da memória social da deficiência:


experiência de construção do MUTHA — LGBTI+ defiças existem!______________ 45
Museu Transgênero de História e Arte
do Brasil____________________________ 19 Sobre o que tenho aprendido com o ensino
e a pesquisa na Museologia LGBT_____ 48
O lugar interseccional de corpos negros
LGBTQ nos museus e na Museologia___ 21 Experiências de orientação e itinerários de
pesquisa em Museologias LGBT_______ 53
Seminário Memória e Museologia LGBT +
Resistência - Identidade Visual, Plano de Uma parceria que frutifica: o curso de
Divulgação e os desafios da museologia Museologia da UFRGS e o nuances - grupo
na criação de conteúdo digital: uma análise pela livre expressão sexual ___________ 58
baseada no perfil @museologiaufsc_____ 22
Formação para o combate a
O que é museologia positHIVa?_______ 26 homolesbobitransfobia nos museus____ 61

Oxum e Narciso - A marginalidade do Auto- A imaginação museal do futuro ou caminhos


afeto de pessoas Pretas e ou LGBTQ+ __ 29 para uma Museologia Dissidente_______64
R o d a d e Co n v e r s a : N o v a s Vo z e s

Oxum e Narciso
Vitú de Souza
Vitor Luiz Medeiros de Souza
vitorluismedeiroos@gmail.com
Museologia - Universidade Federal

do Auto-afeto de
de Minas Gerais
Museologia Kilombola
Núcleo de Pesquisa em Raças -
Universidade Federal de Minas
Gerais

ou LGBTQ+
Núcleo de Pesquisa em Raça,
Gênero e Performance -
NUPERGEPE - Coletivo Erês
Coletivo Corporeidade

Narciso losamente calculado e pensado (por meus


Todo preto que nasce bonito, ainda que tí- pais) para passar despercebido, meus cabe-
mido, ou que ainda não saiba disso, cresce los eram curtos, sem brincos, eu não usava
sendo xingado ou associado a Narciso. panos, nem adereços, para não notado e
O que entendemos como beleza, no Brasil (consequentemente) incomodado, mas in-
só nós é permitido, quando a tonalidade da fortunadamente, cresci sem intimidade com
pele é condizente com a autonomia, bran- o espelho.
cos, são deuses belos e universais, Pretos Eu me lembro que amava meu reflexo, lem-
são Narcisos. Eu nunca me achei belo, nunca bro quando numa experiência na Bahia, eu
performei a beleza ou afetividade, sempre estava na voz do Rio Cachoeira, em Ilhéus,
me foi negado o direito de me olhar no es- onde o Pontal unia a água doce com o Mar
pelho. Eu ainda lembro das primeiras vezes, de Olivença, e eu estava passando um por
quando criança, onde dissociava, ‘quando- um ‘Píer’.
-tinha-que-ficar-de-frente-para-um-espe- Eu vi o brilho dos meus olhos refletidos na
lho’, não por repulsa (somente), mas por um água e por algum rompante descomunal,
profundo estranhamento. eu fui forçado a olhar meu reflexo, eu tinha
Sem razões fisiológicas, (ter que escovar quinze anos e ainda hoje, chamo este mo-
os dentes, ou lavar o rosto), eu não tinha o mento de ‘Meu Primeiro Ato Narciso’, quan-
hábito de olhar para o espelho, não me era do assim como na lenda, fui enfeitiçado por
permitido e incentivado e tudo na minha uma deusa, a olhar com amor para minha
composição visual e vestimenta, era meticu- própria aparência.

28 | MEMÓRIA LGBTIQ+
- A marginalidade
e pessoas Pretas e

MEMÓRIA LGBTIQ+ | 29
Oxum ção. A cor dourada para muitos iniciados está
Ìba Òsun sekese justamente vinculada ao reflexo do sol na
Ìba Òsun olodi água, ou da energia que surge, quando a água
Latojoki awede we’mo Ìba Òsun ibu kole bate na pedra e irradia as pessoas, seu culto,
Yeye kari está sempre vinculado a coisas belas e leves
Latokoko awede we’mo Yeye opo e o ritmos tocados a Orixá (o Ijexá e Agueres)
O san rere o são os mais lentos e compassado, quando
Àse comparados aos outros orixás, é a deusa da
Ora yê yê ô Beleza, do Amor e de tudo que é belo.
Então porque, a auto estima negra é asso-
Dos 15 (quinze) e até hoje, com 22 (vinte e ciada a Narciso e Não a Oxum ?
dois), ainda utilizo o termo Narciso, não no O trabalho do colonizador-europeu, foi tão
sentido original, pois aprendi a identificar no poderoso, que agiu num nível simbólico in-
meu reflexo, em outras potência e idiossin- tuitivo, que fez um dos maiores símbolos de
crasias, foi quando conheci Oxum, Yabá das afetividade e auto estima, ser também vin-
Águas doce, deusa da maternidade e afe- culado a uma prática, tida como errada, (vin-
tividade, no Panteão Iorubá, foi quando eu culada ao narcisismo e as patologias dessa
entendi o poder do reflexo e como Narciso, doença) Mesmo que a energia de Oxum seja
não conseguiria, suprir de significado, o ato de fato Luxuosa, e ou Ambiciosa, o 'Princípio
de minha auto estima. de seu culto’ está justamente ligado ao afeto
Oxum possui um Caráter Histórico, um Ca- e energia vinda das águas e de como a água
ráter Psíquico e tantos outros Caráteres é a mãe da terra e que e por consequência,
Simbólicos-Sincréticos, entre eles, existem todos na terra são seus filhos.
abismos conceituais extremos. A esperança que vem de Oxum, deveria ser
Como a ‘Função Epistemológica de Feminili- o guia, para nosso reflexo e refletir, assim
dade e Maternidade’ para os povos Iorubás, como ela reflete o Sol para que possamos
foi sexualizada e subvertida e Narcisada ? ter energia, Oxum reconhece e reflete nossa
Para os Iorubás, Oxum é a força-regente energia vital e nos convida a nos enxergar
da própria afetividade e força vital, Oxum com mais afeto.
também nessa cosmovisão é a ‘Maternida- Eu diria até que Oxum reconhece dentro de
de Personificada’, e assim em caráter sim- gente a energia que ela nos cedeu, nos em-
bólico é a Orixá responsáveis pelos Rios e prestou, quando nós nascemos, quase como
Água Doce. numa permuta, não de modo egoísta, para
Oxum é justamente a rainha do reino que rei- dar continuidade com seu culto, mas para
na todas as terras, o Rio que é sagrado em que no ato do ‘Auto Amor’ e Auto Louvação’,
todas as esferas, para todas as pessoas, que possamos retribuir o amor que elas nos deu
banha e reflete todos os corpos, sem distin- em benevolência.

30 | MEMÓRIA LGBTIQ+
Nossa beleza é oriunda dela, nosso afeto Se a imagem de Narciso é branca, isso não
e afetividade, são extensões das águas de se pode ter certeza, contudo sua estigma e
Oxum no nosso corpo, quando olhamos pro culpa é em absoluto são europeias, estigma
espelho-rio, vemos a energia que deveríamos esta que se expandiu e sincretizou outras re-
e poderíamos ter, não como Narcisos, mas ferências de 'auto-reflexão e auto-amor’, a
como Filhos de Oxum, como filhos de um Rio. sacralização da patologia de Narciso, inaugu-
rou uma culpa convicta no auto amor, que ao
meu ver, segregou as expressões e demons-
trações de afeto para brancos-europeus e
condicionou negros e latinos ao ódio a auto
imagem, podemos ser pretos-amerindios bo-
nitos, mas não podemos ser narcisistas.
Oxum não têm a mesma energia de Narci-
so, o afeto para a Yabá é algo expansivo en-
quanto para Narciso é exclusivo, contudo os
filhos de Oxum, continuam sendo estigma-
tizados por Narciso, continuaram a ser ta-
xados e reprimidos, a encontrar o ‘afeto-re-
flexo’, que nos foi originalmente concebido.
Afeto É um ato consumado, que todos os pretos
O Afeto de Oxum e de Narciso, são oposi- em uníssono, sofram de auto estima e se
tórios ? estigmatizam por isso, por não nos ser per-
O Afeto para Oxum e para Narciso são lidos mitido, sermos belos e termos consciência
de formas desiguais, se para Narciso temos disso, sem sermos erroneamente vestidos
termos como feitiços (na noção europeia de como Narcisos.
feitiço, enquanto mal), enquanto patologia, Eu mesmo utilizei do título de Narciso, quan-
para Oxum o afeto é algo empírico e simbólico. do associei o meu passado a uma patologia,
Narciso é um homem, em muitas lendas lido quando não compreendia, a pureza e potên-
como branco, ainda que não existam provas cia do espelho.
concretas que os Gregos fossem, genuina- Desde aquele dia no Rio Cachoeira, tenho
mente caucasianos, concluem um arqué- revisto e refletido, meu reflexo e frente a
tipo Narciso, vinculado a branquitude e a todo o contexto que me foi imposto e repri-
metrosexualidade, e dessa forma, acabam mido, e desde então não fujo mais do espe-
por bestializar a sua existência e condição, lho, hoje tenho um de cada formato e estilo,
de-olhar-para-seu-reflexo-de-forma-com- para cada ocasião e para cada pedido.
pulsória, associando ao Narciso, o vício da Hoje eu não sou mais Narciso
própria imagem. Sou Filho do Rio

MEMÓRIA LGBTIQ+ | 31
Envie sua história, conte suas
memórias, denuncie a discriminação.

Envie também depoimentos, contos,


relatos, fotos e o que mais quiser

revista@memorialgbt.org
Revista Memórias LGBT
Ed. 13 - Ano 8 - 1o Semestre de 2021
ISSN 2318‑6275

pretos em afeto
memórias e corpos
Sexualidade:
Etnia, Raça e
Sumário
Histórico Entrevista Memórias Ensaio Poesia Artigo Exposição

Palavras em Rede _______________ 4 “Arrasa Mona”: os Grupos


Independentes de Dança
Entrevista Hérica Catarino________ 10 de Salvador como
espaço dissidente______________ 53
Museologia Kilombola e questões
LGBT: conversas com Lucas Ribeiro_14 MandumeHQ: autores
do novo mundo_________________ 58
Entrevista com o escritor e artista
Stefano Volp____________________ 18 Entrecosturas para desfazer
narrativas hegemônicas: diálogos
Renascimento__________________ 21
contemporâneos________________ 61
Preto, Assexual e fluindo: quem
Vergonha da própria existência
somos?________________________ 26
(sim, eu tive) ___________________ 71
Caroço de umbu_________________ 29
Desfazer_______________________ 75
Ensaio sobre fragilidades_________ 31
Vivo SempreSempre vivo_________ 80
Corpo negado__________________ 35
Corredor_______________________ 85
Meus Escritxs___________________ 36
It a Otária______________________ 86
Pega visão_____________________ 40
Não quero ter que lutar___________ 87
Ponto final_____________________ 41
E agora?_______________________ 88
Oyá Eu_________________________ 42
Abstrato_______________________ 89
Força bruta_____________________ 43
Ossaín_________________________ 90
Toque_________________________ 44
Oxumarê_______________________ 91
Flor Bela_______________________ 44
Renascimento__________________ 92
Corpo, casa de memória! dançamos
Performance Dorso______________ 98
para não esquecer?______________ 45
Moonlight_______________________ 105
Carta de amor às Bixas Pretas _____ 49
Exposição

Vitú de Souza
Graduando em Performance
Dorso
Museologia pela
Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG),
é Músico pelo Centro
Interescolar De Cultura,
Artes, Linguagens e

A
Tecnologias (CICALT).
Possui experiência em
produção/gestão cultural performance trata das de‑
e suas ramificações. cepções amorosas sofridas
Artista e produtor por jovens LGBTQ's, em es‑
do Coletivo Erês -
pecial jovens negros. Como
Mensageiras dos Ventos
e do Grupo de Samba alguém bissexual (biafetivo) sempre es‑
de Coco - Coquistas de tive de cara com um velho estereótipo, o
Tia Toinha, exercendo as de que gostar de homens e mulheres me
funções de arranjador,
daria mais oportunidades sexuais. Con‑
compositor, cantante
e poli instrumentista. tudo, minha sexualidade só aumentou a
Pesquisador do Núcleo quantidade de decepções.
de Pesquisa em Raças, Quando mais jovem, achei que estas
Gêneros e Performances
decepções mudariam todo meu futuro e
(NUPERGEPE – Coletivo
Erês), onde realiza que jamais iria esquecer o amor passado.
pesquisas sobre Eu tinha um padrão. Eu me interessava
arte, memória e pela cabeça da pessoa, depois pela fala,
pertencimento, bem
depois me apaixonava por elas e, por fim,
como organização
cultural. Também atua sentia atração sexual. Esta atração estava
como fotógrafo do sempre ligada ao dorso. Eu sempre gostei
projeto “Cinematografia dessa parte anatômica dos corpos. Nas
Extrassensorial”, que
aulas de biologia, sempre circulava essa
explora as relações entre
foto e movimento. É parte das pessoas. Depois de tantos ca‑
editor de som e vídeo do sos frustrados de amor, sinto que conti‑
Projeto Corporeidade nuo capturando dorsos por aí.
e articulador da Rede
Museologia Kilombola no
sudeste do Brasil, onde
pesquisa as relações
das culturas negras e o
patrimônio cultural.

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MEMÓRIA LGBTIQ+ | 99
Poema Dorso

Eu sempre gostei de Dorso


Antes mesmo do gênero
O peito é o começo do corpo
Umbigo, mamilo. ...
Quando rotos
Se unem a outros
Ou a eles mesmos:
Através de um espelho;
Reflexo;
Revejo.
Perplexo.
A imagem de Narciso
(Assumido)
Para gostar de si mesmo ele tinha
que gostar de homem primeiro
Para se amar é preciso
Saber que não existe isso
De gostar de apenas um tipo.

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MEMÓRIA LGBTIQ+ | 101
Dorso
Que quando mordido
Pede mais dor.
Mesmo quando dolorido,
Que pede afago.
Com mais força
Mesmo quando o amor é amargo
" O amor só é bom se doer ? "
Será que o amor não dói
Ao tentar preencher ?
Lacunas de expectativa. ...
De um peito cheio de vida,
Cheio de vontade.
Eu gosto de Dorso
Eu não questiono a heteronormatividade
Mas será a divisão a chave ?
Será que não gostamos de corpos
Não por preferência
Mas aí por necessidade
De construímos no outro
Um abrigo de verdade ?
Dorso
Seu olhar choroso
Derramou no meu peito
Um líquido nodoso.

102 | MEMÓRIA LGBTIQ+


MEMÓRIA LGBTIQ+ | 103
25/02/2024, 13:57 CAMINHOS ABERTOS COM AS MÃOS | PROJETO AFRO


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PESQUISE

CAMINHOS ABERTOS COM AS MÃOS


POR VITÚ DE SOUZA
24 de janeiro de 2024
ENCRUZILHADAS
DA ARTE
ARTIGO AFRO-BRASILEIRA
FOTOGRAFIA

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Série Idiossincrasias Dalber Brito - Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto
Ibirapitanga

NAGÔ, NUNCA FALTOU

O Arquivo Fotográfico Negro Nagôgrafia, faz a alusão direta ao termo do Idioma Iorubá (falado na Nigéria e Benin) – ‘NAGÔ’ – que, em sua
tradução livre, sinaliza os Caminhos e possíveis Aberturas e Encruzilhadas.

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ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Dyana Santos- Contagem/ MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo
rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

Em consequência ao tráfico de africanos pelo Atlântico (ocorrido entre os séculos XVI e XIX), o termo foi amplamente utilizado para descrever os
povos da Costa Ocidental Africana, e posteriormente subvertido como metodologia de materialização destas culturas, se organizando, deste
modo, enquanto aquilombamento. ‘O Povo Nagô’ ou ‘Nação Nagô’, indo da Costa da Bahia em Salvador e se ramificando por todo o território
brasileiro, através dos Terreiros e outras Organizações Culturais, que em suas confluências com as Tradições dos Povos Bantus (da África
Central), desenvolveram outros diversos arcabouços estéticos, de uma unidade negra comum. Sendo: ‘NAGÔ’, um dos sinônimos possível para a
‘Negridão’ e todas as suas afluências, reunidas sob esse nome. Não mais, como ‘Folclore Racista’, e sim, como uma dupla afirmação estético-
visual da Negrura.

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ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Marcel Diogo -Contagem/ MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

Enquanto projeto, o Arquivo teve a possibilidade de documentar o ateliê de 11 artistas, residentes de Belo Horizonte–MG. em novembro de 2023,
numa série de fotografias comissionadas por Deri Andrade para a exposição “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”, onde foi possível
identificar processos similares de ‘Aquilombamento’ e ‘Afirmação Estética’ que os Nagôs fizeram pelo território brasileiro.

IDIOSSINCRASIAS DOS CAMINHOS, NAGÔSSINCRASIAS

Apesar das tradições Nagôs terem chegado ao estado de Minas Gerais, importadas do trânsito religioso (SALVADOR – SUL), foram
especificamente perpetuadas pelas contribuições de Carlos Olojukan, fundador do Terreiro Ilê Wopo Olojukan, em 1964, esta fundação só foi
possibilitada com os diálogos e intercâmbio entre o Terreiro e as Corporações Negras dos Reinados (Congados, Moçambiques e Candombes),
que empregavam métodos seculares de perpetuação de suas raízes filosóficas, na materialidade da arte.

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ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Will – Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm
Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

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ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Pedro Neves – Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo rag 308 21 x
29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

Um exemplo deste contexto é o histórico do processo de Tombamento do Terreiro Olojukan, que ocorreu em paralelo à Primeira Edição do
Festival de Arte Negra (FAN) em 1995, quando as culturas negras, encorajadas pelos ‘Movimentos Negros Organizados’ da época, pressionaram
a Prefeitura de Belo Horizonte a criar uma política para a preservação desta Casa de Axé. Mesmo havendo outros Terreiros mais antigos que o
Wopo Olojukan, como o próprio Nzo Kuna Nkos’i (Primeiro terreiro de Nação Angola do Estado de Minas Gerais). Não houveram competições ou
equiparações de relevância, por entenderem que os caminhos de ambas tradições perpassam por serem contemporâneas uma da outra, tendo
caminhos imbricados pela luta contra o racismo, utilizando na Materialidade da Arte com a forma de protegerem suas fundamentações filosóficas,
memórias e suas respectivas tangibilidades.

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ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Iago Marques – Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto
Ibirapitanga

Série Idiossincrasias Marcus Deusdedit – Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto
Ibirapitanga

AS GRAFIAS DOS (ARTISTAS) NEGROS BELORIZONTINOS

Dos 11 artistas fotografados pelo Nagôgrafia, respectivamente: Will; Massuelen Cristina; Marcel Diogo; Dyana Santos; Dalber Brito;
Juliana Oliveira; Marcus Deusdedit; Pedro Neves; Iago Marques; Desali e Gamba. Contemporâneos, uns dos outros, compartilham em
seus trabalhos as noções de Caminhos e Aquilombamentos, que os possibilitaram ‘Se Encruzilharem’ entre si, em diversas oportunidades. Cientes

https://projetoafro.com/editorial/artigo/caminhos-abertos-com-as-maos/?fbclid=PAAaYcXO9809XtewSUPq4EY5dZ_QO9X1vkjvpyqTEVfLY2KA9wHVPYrv1-rLs 6/11
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de seus direitos à autonomia simbólica, estes artistas visuais documentam a realidade através de suas obras, seus protestos, linhas de pesquisa,
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seus idiomas e sincrasias únicas, indissociáveis de seus desempenhos individuais e propósitos pessoais mais íntimos. Para além de enunciados à
beleza, são manifestos públicos da sobrevivência e persistência azeviche, enquanto fiscalizam e protegem as existências uns dos outros, assim
como as tradições negras seculares faziam.

ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Massuelen Cristina- Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel
Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

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ENCRUZILHADAS
DA ARTE
AFRO-BRASILEIRA

Série Idiossincrasias Juliana de Oliveira- Belo Horizonte / MG Impressão fotográfica sobre papel
Hahnemuhle Photo rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

Isto ocorre porque Belo Horizonte é um território construído pelas materialidades das pessoas pretas, trazidas para mão-de-obra da construção da
cidade-modelo, configurando-a paralelamente em obra e em ateliê. Num território de memória, (circunscrita) de estéticas e filosofias negras,
apropriadas, havendo não somente uma Sankofa em cada portão, mas sim, negro em todos os traços da cidade, mesmo que nenhum negro esteja
morando no território construído por seus ancestrais. O processo de Cura e Enegrecimento dessa Região é retroalimentado por cada artista que
residente, dando novas camadas ao que existia anteriormente, tornando negro o que foi embranquecido e instaurando espaços de confluência os
quais não foram planejados para este território, indo além de cidade cosmopolita, para Região ‘Quilombozilhada’, sendo a antítese aos paradigmas
coloniais (posteriormente republicanos) subvertendo as estruturas modernas. Havendo sempre um negro ou um conjunto de negridões,
desafiando os alicerces brancos impostos.

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Série Idiossincrasias Desali – Belo Horizonte/ MG Impressão fotográfica sobre papel Hahnemuhle Photo
rag 308 21 x 29,7 cm Coleção Projeto Afro, com apoio do Instituto Ibirapitanga

Conquistando, de arte em arte, o Território


abrindo os Caminhos com as suas próprias mãos.

A produção deste ensaio e deste artigo é apoiada pelo Instituto Ibirapitanga.

Referências:

ALMEIDA, Amarildo Fernando – A SENIORIDADE INICIÁTICA DO ILÊ WOPO OLOJUKAN: origem e extensão do Candomblé em Belo Horizonte
– MG e as narrativas

sagradas das Iabás <http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/CiencReligiao_AlmeidaAF_1.pdf>

MARQUES, Nathália. Entrevistada durante a Exposição Cidade Palimpséstica, 2019 disponível <https://www.youtube.com/watch?
v=1Jk5ZCvlbP8>

https://projetoafro.com/editorial/artigo/caminhos-abertos-com-as-maos/?fbclid=PAAaYcXO9809XtewSUPq4EY5dZ_QO9X1vkjvpyqTEVfLY2KA9wHVPYrv1-rLs 9/11
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CACCIATORE, Olga Gudolle. Dicionário de Cultos Afro-Brasileiros. Com origem das palavras’- Rio de Janeiro, RJ, 1988
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SODRÉ, Muniz. ‘Pensar nagô’ – Petrópolis, RJ, 2017 <https://www.professores.uff.br/ricardobasbaum/wp-
content/uploads/sites/164/2022/03/Sodr%C3%A9_Muniz-Pensar-Nag%C3%B4.pdf>

Conhecendo o Patrimônio Cultural de Belo Horizonte – https://prefeitura.pbh.gov.br/sites/default/files/estrutura-de-


governo/cultura/2021/ilewopoolojukan-pdf.pdf
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SOBRE O AUTOR
Graduando em Museologia pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG, realiza trabalhos de curadorias de forma autônoma e presta serviços
para Museus, Galerias de Arte e Colecionadores Privados, pesquisa Produção e Gestão Cultural, áreas onde é técnico pelas instituições Serviço Nacional
de Aprendizagem Comercial - SENAC ‘Técnico em Produção Cultural’ e Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais - UTRAMIG. Gere a
Curadoria e Expografia da Galeria Luzia Pinta, no Centro Cultural Casa Amarela em Sabará - Minas Gerais, cidade onde também atua como Agitador e
Produtor Cultural no É membro da Articulação Nacional da Rede de Museologia Kilombola - RMK, organização independente que pesquisa e propõe
políticas para os patrimônios amefricanos. Compõe o Comitê Internacional de Museologia no Brasil - ICOM BR, onde propõe o recorte racial nos debates
das Ciências Sociais do Patrimônio e da Informação. Além disso é Fotógrafo, Documentarista, realizando os registros das tradições e manifestações
populares afrobrasileiras, em seu projeto NAGÔGRAFIA inserido na Produtora OJÚ, pelo qual foi consagrado com a 1° Edição do Prêmio Dona
Generosa, edital de ocupação do Museu dos Quilombos e Favelas Urbanas - MUQUIFU, com a sua exposição NJILAS.

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OUVIR RÁDIO

REVISTA Nº 10
CONHECIMENTO , ARTIGOS

KILOMBO É A CIDADE, O MUSEU SÃO AS


PESSOAS QUE VIVEM NELA
Propostas experimentais para repensar a museologia ocidental a partir
de práticas, costumes e valores das culturas africanas e diaspóricas

VITÚ DE SOUZA

31 JUL 2023 . 14 MIN

Festa de Seu Luciano Vagueiro - N'zo KiaKutuima Mujilo - Maio 2023. Acervo NAGÔGRAFIA

Este texto parte de uma pesquisa que busca produzir um glossário que
experimenta as justaposições de conceitos praticados na Museologia em
(con)dissonância com as visões negras de mundo, esmiuçando as possíveis
divergências que essas leituras possam acarretar – contudo, fazendo-as assim
mesmo. Tais proposições e associações livres partem da releitura e tradução de
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conceitos europeus criados para designar e fetichizar as práticas culturais não


ocidentais, em específico as africanas. A proposta é que o glossário seja um gesto
de “contrafetiche”, capaz de experimentar maneiras de devolver às práticas
tradicionais de preservação de memórias os nomes e termos mais próximos de
suas realidades e ações. Assim, seria possível evidenciar nas Museologias Sociais,
Negras e Kilombolistas as terminologias e conceitos-chaves para serem
apropriados por Museus Negros, Casas de Tradição, Terreiros, Barracões e
Reinados, atuando em possíveis novas abordagens para antigas ferramentas
museológicas. A seguir, apresento alguns fundamentos dessa proposição.

Pontos (para as trocas) de memória

Ọmọlú pè olóre
a àwúre ẹ kú àbọ
Que Omolu (filho de Deus) faça seu trabalho
para nos dar a boa sorte (e memória)

Cantiga do Orixá Omolú da Nação Ketu-Nagô,


transcrita pelo Pai Altair T’ògún [+]

Para muitas culturas africanas, tanto no continente quanto em diáspora, é


comum observar ambientes de memória [+] nos quais, por uma função social ou
cultural (e, em específico, religiosa), as memórias de uma comunidade são
experienciadas por seus membros de forma progressiva. Nesses ambientes de
engajamento, tutoria e formação identitária, os integrantes são formados para
que se tornem herdeiros e zeladores de uma cultura viva, preservando tradições
milenares. Para muitos desses grupos, a memória é, para além de uma
responsabilidade social, uma dádiva concebida pelas divindades que cultuam e
um dogma a ser reverenciado por meio dos objetos.

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DINORÁ DE XANGÔ CONSAGRANDO MASSUELEN CRISTINA NA IGREJA DA SOLEDADE. ACERVO NAGÔGRAFIA

O Terreiro, o Barracão, a Casa de Tradição, o Assentamento, o Kilombo e o


Território são espacialidades negras que abrigam as diversas culturas africanas
aqui no Brasil, cada qual com missões e valores próprios, de distintas tipologias e
usuários. Por essência, ambientes de memória preservam Gbájọ (testemunhos)
físicos da passagem do tempo e da interação de uma comunidade. Assim,
podemos associá-los ao fundamento da existência de espaços formais de
preservação de memória, como museus, arquivos e bibliotecas.

Untèla n’kingu miankulu (mia kanda) kidi yazaga miampa


Princípios antigos, para se compreender os novos

Sentença proverbial registrada pelo pesquisador


Tiganá Santana em sua tese de doutoramento

Possuindo, em suas estruturas, múltiplas dimensões e matrizes culturais, essas


espacialidades negras são geralmente ambientes de cultos e memórias agregadas
que, apesar das especificidades, permitem comparações e associações. Para isso, é
importante distinguir as experiências individuais das vivências comuns nesses
ambientes negros, onde ocorrem experiências, idiomas e afrografias [+]
singulares.

É claro que um Terreiro é diferente de um Kilombo, todavia, em ambos os


espaços, encontramos relações próximas de interpretação e trato ao passado,
manifestadas, por exemplo, na reverência ao que foi anteriormente experienciado
e que, através do corpo e da performance, pode ser apreciado novamente. Estão,
dessa forma, tão próximos um do outro quanto dos espaços formais de memória.

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A questão é que, nas estruturas desses espaços formais, é possivel perceber


enunciados inaugurais que são oriundos das corporações e territórios negros. Isto
é, um museu, mesmo sem admitir, se inspira nos métodos de sobrevivência
cultural que as diversas tradições negras estabeleceram durante todo o processo
diaspórico.

Alguns impedimentos

Mu kanda, babo longa ye longwa


Na comunidade, todos ensinam e são ensinados

Mário Chagas, Rafael Zamorano e Sarah Benchetrit, organizadores do livro A


Democratização da Memória: A função social dos museus ibero-americanos,
publicado em 2008 pelo Museu Nacional (RJ), propõem a seguinte leitura dessas
instituições: “No mundo contemporâneo, os museus da Ibero-América, de algum
modo, são convocados para lidar […] com heranças e tradições dos grupos que
dominaram os processos de construção simbólica das nações e as constituíram
enquanto comunidades imaginadas”. Isso significa que tais instituições nos
demandam absorver fontes e reverenciar a história-memória desses grupos
dominantes que subjugaram nosso território, de modo que o acesso a essa
memória torna-se desproporcional, enquanto o incentivo à continuidade e
preservação das memórias das comunidades não hegemônicas segue
constantemente inviabilizado.

Cientes dos impedimentos de acesso de pessoas negras, quilombolas, indígenas,


ribeirinhas, entre outras, os museus que tratam a hegemonia como uma
facilidade, uma questão estrutural, ainda se mobilizam pouco para incluir esses
grupos. Como sintetiza Nila Rodrigues Barbosa, em seu livro Museus e Etnicidade:
O negro no pensamento museal: “Sendo os museus um dos elementos construtores
e importantes na consolidação da comunidade imaginada nas mentalidades
sociais, a eles é atribuído pelo Estado a criação de referenciais sobre o negro
escravizado que se findam na escravidão, negando-lhes o estatuto de atores
sociais em plena ação na história e na cultura nacional. Ao compasso desta não
posição social do negro, os referenciais com base na edificação da identidade
europeia para o Brasil, são erigidos de forma sistemática nos processos museais”.

Configura-se, assim, uma nefasta política de desmemorização e banalização


conjectural da cultura, que impede sua democratização, valor base da prática
museal no Brasil. Por outro lado, os museus negros, lugares de referência na
educação e cultura afrodiaspória, são estruturas fragilizadas, que não desfrutam
do privilégio da seguridade frente às mudanças sociais causadas por ataques de

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grupos dominantes. E quando um Território é impedido de educar seus herdeiros,


a tradição corre o risco de não perpetuar sua existência.

BOI DA MANTA DO REINADO DA GUARDA DE MOÇAMBIQUE DO TREZE DE MAIO – CARNAVAL DE BELO


HORIZONTE. ACERVO NAGÔGRAFIA

Um triste exemplo é a Guarda de Marujos Nossa Senhora do Rosário de Roça


Grande, em Sabará (MG). Fundada formalmente em 2002 pelo Capitão Paulo
Roberto de Oliveira, a guarda surge de uma descendência da Guarda de Marujo de
Nossa Senhora Aparecida de General Carneiro, irmã da Guarda de Marujo de
Santo Expedito e São Sebastião, descendentes da Guarda do Rosário de Ravena.
As procissões de ambas as guardas remontam aos anos anteriores à aparição de
Santo Antônio de Pádua no Rio das Velhas, em 1676. Culto responsável por
construir a igreja e inaugurar as festividades no dia 13 de maio. A Marujada de
Roça Grande atualmente está sediada em um imóvel cedido pela arquidiocese de
Belo Horizonte, e se mantém viva na pessoa da Rainha Perpétua Maria Cristina,
mesmo sem herdeiros diretos. A Marujada precisou se refazer após os
desdobramentos da crise sanitária da Covid-19, evidenciando a vulnerabilidade
urgente que ancora os abismos de paridade entre os Museus Formais e as Casas
de Tradições. A tradição não deixou de ser viva, porém não pôde ser vivida por
seus membros, em majoritário, homens e mulheres negras que precisam
enfrentar diversos obstáculos sociais para individualmente se manterem vivos.

MBONGO A KANDA KA MBONGO AKU – Não são seus os bens dessa


comunidade

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Essa gunga é de papai, essa gunga é de vovó,


Quando eu chego no Rosário essa gunga é uma só

Toada de Rosário interpretada pela Rainha Isabel Casimira,


Belinha, da Guarda de Moçambique do Treze de Maio

A associação desta antiga sentença proverbial do idioma africano Quimbundo –


aqui emprestada como subtítulo – com esta Toada de Rosário, ambas
remanescentes das tradições Bantus, oriundas do antigo território Ngola-kongo,
evidencia a forma como alguns valores foram se transmutando e sendo
preservados em mais de 500 anos de diluição. A manutenção de conhecimentos
dessas comunidades se aproxima de uma prática essencial para os museus: a
educação museal. Esse conjunto de valores, conceitos, saberes e práticas têm
como fim a facilitação da relação entre os visitantes das instituições e os bens
culturais em exposição. Ainda que a democratização do acesso aos museus esteja
no cerne da educação museal, nos deparamos com uma realidade em que uma
grande parte da população se encontra impossibilitada de fruir desses espaços,
revelando a incongruência da atuação dessas instituições.

ARTHUR, LAÍRA, LUCIANA E RITA E MÃE ANA DE IROKO – FESTA DE CABOCLO, NZO KABILA – OUTUBRO DE 2021.
ACERVO NAGÔGRAFIA

Em sentido contrário, quando analisamos a atuação das Irmandades dos Rosários


e das tradições Bantu, encontramos um exemplo de oposição às práticas museais
tradicionais: ao evidenciar a não propriedade individual de seus objetos, essas

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comunidades educam e alfabetizam as pessoas para o uso consciente da memória


para sua preservação, uma vez que ninguém deve ser proprietário de um bem
comum, assim como não deve ser impedido de ter acesso a eles por sua origem.

Rede de Museologia Kilombola

A palavra “quilombo” é originária do Quimbundo e significa “sociedade formada


por jovens guerreiros que pertenciam a grupos étnicos desenraizados de suas
comunidades”. Assim, um Kilombo é um modelo imaginado de sociedade
inclusiva e participativa, organizada pela confluência de pessoas de outras
comunidades que se agrupam em um território a ser protegido e apreciado.

Nesses territórios kilombolas estão contidos os testemunhos-museália [+]


fundamentais para as suas configurações. Assim, os quilombolas – ou seja, as
pessoas negras cientes das necessidades de proteção dos seus Kilombos
(territórios) – carregam como princípio a proteção às materialidades, algo que é,
inclusive, anterior aos processos burgueses que inauguram a Museologia e a
Patrimonialização. Como afirmam André Desvallées e François Mairesse, em
Conceitos-chave de Museologia: “Antes de o museu ser definido como tal, no
século XVIII, segundo um conceito emprestado da Antiguidade grega e a sua
ressurgência durante o Renascimento ocidental, existia em quase todas as
civilizações certo número de lugares, de instituições e de estabelecimentos que se
aproximavam mais ou menos diretamente daquilo que englobamos atualmente
com esse vocábulo”.

A casa dos pretos

Os Kilombos, hoje, protegem majoritariamente as mesmas materialidades para as


quais foram configurados enquanto abrigo: os corpos negros. Como as dimensões
políticas e filosóficas de ser negro no Brasil seguem passíveis de violência e
extermínio, sem os corpos negros, não há construto negro, não há arte, não há
dança, não há arquitetura e não há Kilombo. Assim, para além de um exemplo
mais próximo de proteção à materialidade, os Kilombos inauguram também um
exemplo mais consistente de proteção de suas memórias, inclusive mais efetivo
que muitos museus e que a própria Museologia.

Nesse ensejo, negros aquilombados de Cachoeira (BA), Alcântara (MA) e Belo


Horizonte (MG) se organizaram em uma frente de defesa e preservação das
materialidades negras, sob a alcunha Rede de Museologia Kilombola, que, em
sua redundância, afirma duplamente o compromisso de agir contra o
epistemicídio cognitivo praticado em todo o território nacional por mais de 400

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anos. Com esse gesto, a rede propõe um novo mito de criação dos Museus, que
ultrapassa as concepções greco-romanas de “Casa das Musas” para alcançar um
processo anterior em África, defendendo, assim, a preservação da memória na
“Casa dos Pretos”.

SAMBADEIRAS DO SAMBA DA DONA DALVA. CACHOEIRA – RECÔNCAVO DA BAHIA, 04 DE JULHO DE 2023. FOTO:
VITÚ DE SOUZA

N’zo, do Quimbundo Njo e do Umbundo Onjo, “casa”, é um termo atualmente


atribuído ao uso religioso, sendo o centro de organização política dentro das
religiões que formam o Candomblé das Nações Ngola-Kongo. São as casas onde
essas culturas ainda podem cultivar suas práticas, podendo existir diversos N’zos
dentro de um Kilombo, uma vez que, mesmo com conflitos ideológicos ou
disputas processuais comuns à diáspora, partilham de um sentimento de unidade
e perpetuação. Um desses indícios é o uso da língua, sobretudo nas cantigas,
rezas e vocábulo vernacular diário de cada um desses N’zos, caracterizando
costumes próprios, ensinados e assimilados imediatamente aos visitantes dessas
comunidades. Essa prática se assemelha ao modelo de visita ao espaço
musealizado, com o qual estamos tão acostumados a ver, por exemplo, em salas
de exposições, sítios arqueológicos e bibliotecas. Assim, podemos esboçar uma
correlação de funções entre a Mãe Criadeira, presente no candomblé de Angola, e
um educador de museu.

NÍLATÍ TÓJU ÌRÁNTÌ – Devemos cuidar da (imagem da nossa)


memória

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Nesse sentido, se podemos associar os N’zos às salas de exposição e ao educativo


de um museu propriamente dito, um Ilê poderia ser compreendido como um
processo mais técnico e menos intuitivo. Dentro da cultura Iorubá, o sufixo -ilè
flexiona o que está mais perto da terra e, em junção a outros termos, designa
territórios e espaços físicos, assentamentos, monumentos e casas de santo, bem
como as divisões dos espaços dentro desses territórios.

No contexto do Brasil diaspórico e dos Candomblés Ketu-Nagô, Ilê significa


“casa”. Com essa associação, podemos pensá-lo como objeto-território-vivo, que
possui um arcabouço de técnicas e métodos de transposição de memória visual.
Para cada espaço em um Ilê, existe um culto, uma divindade, uma cor e distintos
elementos gráficos associados, que, em consonância, compõem a memória e a
imagem dessas casas de santo. A cumeeira só existe pela oposição à pedra central
do terreiro. As pinturas nas paredes dos terreiros representam os Orixás regentes
dos lados do barracão, e geralmente seguem a fisionomia dos sacerdotes
iniciados em tais divindades, que são os patronos desses terreiros.

FESTA DE SEU LUCIANO VAGUEIRO – N’ZO KIAKUTUIMA MUJILO, MAIO DE 2023. ACERVO NAGÔGRAFIA

Outro elemento facilmente reconhecível em um Ilê, justamente pela fachada de


suas casas, é o uso dos Mariwos (folhas dos dendezeiros) de Iansã e de Ogum, que
juntamente com as quartinhas brancas de água, estabelecem uma Geolocalização
Nagô para que todos os membros da tradição consigam facilmente reconhecer os
terreiros não só pelo uso religioso, mas como casa de acolhida e segurança para
pessoas negras.

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Essa casa, esse terreiro, como queira nominar. É um grande útero,


onde cabe todos os seus filhos. E todos encontram aconchego, respeito,
carinho.

Carmen Oliveira da Silva registrada


no álbum Obatalá – uma Homenagem à Mãe Carmen

Outro exemplo interessante é como a historiografia dessas casas possui um forte


apelo social. O Ilê Axé Iyá Nassô Oká é reconhecido até hoje, de forma afetiva,
como “Casa Branca do Engenho Velho”. O mesmo ocorre no Ilê Axé Afonjá
Oxeguirí, em Belo Horizonte, chamado por muitos membros da tradição de
“Antigo Barracãozinho”. Essas práticas enaltecem características físicas desses
espaços, permitindo que associemos as estruturas visuais dos Ilês, bem como suas
nomenclaturas, a determinadas noções modernas de Museografia [+] .

ÀKÒSÓRÍ

Guarde na memória

Referências

A cosmologia africana dos Bantu-Kongo por Bunseki Fu-Kiau: tradução negra,


reflexões e diálogos a partir do Brasil – Tiganá Santana (Tese de doutorado
defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP em 2019)

Conceitos-chave de museologia – André Desvallées e François Mairesse (eds.)


(Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus, Pinacoteca do Estado
de São Paulo e Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo – 2013)

Dicionário yorubá português – José Beniste (Bertrand Brasil – 2020)

Entrevista do Capitão Paulo, Guarda de Marujos Nossa Senhora do Rosário de


Roça Grande – Sabará/MG

Museus e etnicidade: o negro no pensamento museal – Nila Rodrigues Barbosa


(Appris – 2018)

Sentenças proverbiais africanas – Tiganá Santana

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VITÚ DE SOUZA é graduando em Museologia pela UFMG. Membro da Articulação da


Rede de Museologia Kilombola e do ICOM, onde propõe o recorte racial nos debates e
pesquisas das Ciências do Patrimônio e da Informação. Integrante do grupo
permanente do Inventário Participativo das Expressões AfroBrasileiras do Bairro
Concórdia – Belo Horizonte. Fotógrafo, documentarista, realiza os registros das
tradições e manifestações populares afrobrasileiras, em seu projeto Nagôgrafia o qual
está inserido na Produtora OJÚ.ARTE. Como curador autônomo, realizou a curadoria
da mostra “Terreiros: às margens do Velhas”, da artista Massuelen Cristina, realizada
pelo BDMG Cultural em 2022.

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DOBRAR VARIAS VEZES
EM TORNO DE SI

SEM SE ROMPER.
Abayomi em sua tradução mais popular, é Encontrar Panos Preciosos, ou Panos que se Massuelen Cristina, fruto e filha dos
associada com a flexão de duas palavras do tornam preciosos por terem a exata diversos processos de aquilombamentos
idioma Yorubá: Abay - Encontro e Omi - desenvoltura, para poder se dobrar várias em Sabará, fez do seu encontro precioso,
Precioso, contudo essa flexão pode muito vezes em torno de si sem se quebrar ou registrar a diáspora que viu, utilizando o
bem ser uma associação diásporica, romper. Desenvolvendo-se assim em mais mesmo contexto Nagô, de representar as
comumente encontradas em diversas fontes um Enunciado de Cura, através das culturas etnias que mesmo torcidas ou trançadas
do nosso português e do Iorubá Brasileiro visuais, tão presentes para estes povos, que em torno delas mesmas, não rompem
(praticado no Brasil, por tanto em seu grande sistema filosófico suas estruturas, volvendo suas
reimaginado). Pondo a etimologia em especulativo, tange, refletir e criar idiossincrasias de dentro para fora num
segundo plano, podemos nos lançar sobre metáforas sobre a própria negridão e processo constante de dança, cada rosto
certos aspectos mais possíveis para a leitura mestiçagem. retratado pela artista é um enunciado de
das Boneca Abayomis, de ir além de um Os Nagôs deste modo influenciaram outras esperança, de poder salvaguardar e
encontro precioso, entre a Bonequeira culturas, milenares outras, anteriores a percutir a memória do seu povo para a
Artesã e a Criança Presenteada, formação Iorubá de Mundo, que já possuíam posterioridade, tecendo novos
compreendendo a própria tessitura do outros arcabouços e metáforas visuais para documentos e catalogações das
brinquedo. brinquedos preciosos oferecidos às crianças, tangibilidades negras possíveis
Abayomis, são feitos sem costura, são panos que por concórdia, incorporaram a
torcidos e trançados por sua anatomia, mas atribuição filosófica Nagô, de enxergar a
que, contudo, possuem adornos e preciosidade encontrada na matéria-prima, Vitú de Souza
vestimentas próprias, que não são presas para promover eventos de curas, sendo Curadoria e Gestão da Galeria Luzia Pinta
por botão ou cola, essas bonecas se muito provavelmente por este motivo, que
autorreferenciam em suas formas e há Abayomis em Kilombos até os dias de
estruturas, mas, mais profundamente em hoje enquanto na Nigéria brincam com
seu próprio nome, a exaltação e o alvoroço Bonecas feitas de Louça Branca.
que o fenômeno da descoberta está presente
nas culturas Nagôs (Iorubás e
circunvizinhas).
Curadoria: Massuelen Cristina e Vitú de Souza
Produção: Ojú Arte
Realização: Casa Amarela
Montagem: Vitú de Souza e Masuelen Cristina
Iluminação: Vitú de Souza

Galeria Luzia Pinta


HILTON COSTA,
Artista Sensível. Que amou e enalteceu sua família Viu aumentar seus conhecimentos e
em cada instante que esteve vivo, repercussão através de maior
Hilton José Costa nascido em trazendo todos seus membros para relacionamento com outros artistas
Sabará (1931), começou a pintar sua poética artística, escrevendo- Foi membro fundador da
formalmente em 1974, a sua os cartas de amor, em suas Associação Sabarense de Artistas
primeira obra ‘O Moinho do fotografias e pinturas. O mais Plásticos – ASAP, importante
Pompéu’, teve o incentivo de seu importante na Obra de Hilton é ver articulação que mobilizou os
amigo e mentor Alfredo Machado, para além do que pode ser descrito, artistas de Sabará, o que ocasionou
contudo, Hilton foi sempre um a sensibilidade tangível, que na premiação da medalha de Bronze
admirador das artes, em seu acervo comove ao se ver, que em suas do 1° Salão da Casa de Cultura de
pessoal, consta uma fotografia de próprias palavras, descreve “Pode- São Lourenço. MG em Julho de
1954, capturada por sua câmera se aprender a técnica, adquire-se 1991, após os desdobramentos de
Zenit 52. conhecimento sobre arte, misturas sua primeira exposição Individual
As técnicas que utilizou foram de cores, iluminação e sombreado. no Theatro Dom Pedro II, que
adquiridas de forma autodidata, os Mas cada artista já tem seu traço promoveu certo destaque em sua
temas de suas obras, traçam o próprio, que deve ser aperfeiçoado. carreira, contudo não obstante do
contraponto entre a beleza dos bens A personalidade de cada um sempre que merecia. Hilton Costa, nos
edificados de Sabará e as paisagens fica nas telas, junto com a pintura”. deixou no dia 06 de Setembro de
mortas, que compõem as Todos os seus trabalhos são 2019, entretanto sua memória,
atmosferas sensíveis das datados e enumerados, sua obra sensibilidade e legado jamais serão
fabulações, grafadas no seu N°500, está exposta no Salão Nobre esquecidos.
imaginário poético, cada imagem da Prefeitura de Sabará onde
que pintou, foi uma fotografia retrata a antiga ‘Rua da Cidade em HILTON COSTA PRESENTE
tirada e um encontro que Hilton 1940’. Participou desde 1975, em
estabeleceu, sendo cada uma de todas exposições coletivas
suas grafias, enunciados, de comemorativas de aniversário da Fragmentos de Texto, escritos pelo
amizade, memória e afeto. Foi um cidade de Sabará, mas transferiu o próprio Hilton Costa, em Sabará no
Marido, Irmão, Pai, Tio, Avô e seu atelier para Belo Horizonte em dia 28/11/2008 e Reimaginados
Bisavô amoroso, pessoa de fala 1989, por conta de acessos por Vitú de Souza e Massuelen
mansa e segura. desiguais ao mercado das artes. Cristina

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