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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA


CURSO DE TURISMO

NICOLAS LEMOS DE CAMARGO

FESTIVAIS DE MÚSICA PELA ÓTICA DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE


CADEIRA DE RODAS

NITERÓI
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA
CURSO DE TURISMO

NICOLAS LEMOS DE CAMARGO

FESTIVAIS DE MÚSICA PELA ÓTICA DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE


CADEIRA DE RODAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


curso de graduação em Turismo da Universidade
Federal Fluminense, como requisito parcial de
avaliação para a obtenção do grau de Bacharel em
Turismo.
Orientador: Bernardo Cheibub

NITERÓI
2022
Ficha catalográfica automática - SDC/BCG
Gerada com informações fornecidas pelo autor

C172f Camargo, Nicolas Lemos


Festivais de Música pela Ótica de Pessoas em Situação de Cadeira de
Rodas / Nicolas Lemos Camargo ; Bernardo Cheibub,orientador.
Niterói, 2022.
103 f.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo)-


Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Turismo e
Hotelaria, Niterói, 2022.

1. Festivais de Música. 2. Pessoas com Deficiência. 3.Turismo.


4. Acessibilidade e Inclusão. 5. Produção intelectual. I. Cheibub,
Bernardo, orientador. II. Universidade Federal Fluminense.
Faculdade de Turismo e Hotelaria. III. Título.
CDD -

Bibliotecário responsável: Debora do Nascimento - CRB7/6368


DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho às mulheres que me criaram, como minha Avó (Maria Terezinha),
Mãe (Monica) e Tias (Maria Aparecida e Maria das Graças). Foram pessoas que me apoiaram
desde o início a realizar esta graduação tão distante de casa – Minas Gerais. Lembrarei para
sempre de seus conselhos. Sem elas eu jamais seria quem eu sou ou alcançaria esta vitória.
Foram seus ensinamentos que me fizeram ter a coragem em ocupar este espaço dentro do meio
acadêmico, caminho quase impossível de ser seguido por aqueles que precisam reconquistar os
próprios direitos dentro da educação de qualidade.
Esta dedicatória também é destinada a todas as pessoas que vivenciam algum tipo de
deficiência, mas especialmente ao meu tio, Claudio Roberto, pessoa com deficiência
intelectual/mental, que me deu a oportunidade de conviver com alguém que possuísse
condições similares com o grupo de estudo desta pesquisa. Este não utilizava das palavras para
expressar o seu afeto pelo outro, mas pelos seus olhos era possível enxergar as suas diversas
maneiras de demonstrar carinho e afeto. Não era necessário diálogo para sentir o seu amor por
aqueles que estavam presentes em sua vida.

15.03.2015
AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos os profissionais da graduação, mas principalmente ao


professor Bernardo Cheibub. Foi um grande mestre ao me dar oportunidades dentro da vida
acadêmica, além de refletir aquilo que veríamos ter em comum: compaixão. Me proporcionou
momentos em que pude ver e ouvir os risos e olhares mais genuínos. Foi também aquele que
mais me incomodou, exigindo cada vez mais de mim mesmo que, por vias escuras, às vezes
precisava caminhar sem ao menos querer, necessidade que me conduziu para este fim, destino
o qual eu não poderia estar mais grato em alcançar.
Agradeço também a todos os amigos e colegas que de alguma maneira contribuíram
para a conclusão desta graduação, sobretudo ao meu grande amigo Lucas Santos, que muito me
ensinou e ajudou durante minhas incertezas. Amizade que me incentivou e também atentou as
minhas problematizações. Relação incompreendida no começo, mas de muita admiração e
importância ao decorrer de suas transformações. Sou grato por esta graduação ao me
proporcionar o nosso encontro. Serei eternamente agradecido pela sua dedicação em tentar
compreender e aceitar minhas individualidades.
Quero agradecer a família que tive a benção de estar fazendo parte. Meu marido João
e minhas filhas: Antônia, Helena e Maria. Sem estas pessoas nada disso seria possível,
principalmente sem a ajuda do meu companheiro de vida, o qual me ajudou a entender e lutar
contra minha dependência química, batalha iniciada justamente ao longo desta pesquisa e, aliás,
enfrentada com muita força durante esta fase tão importante na minha trajetória. Sem eles, nada
disso teria sido possível, pois, provavelmente minha compulsão levaria todos os meus valores,
principalmente meus objetivos enquanto pesquisador.
Agradeço também as pessoas que me ajudaram na construção desta monografia,
ouvindo sempre com muita dedicação as dúvidas que vim a ter durante esta pesquisa. Agradeço
ao Dio e a Thamyres por me mostrarem o melhor caminho a seguir para a construção desta
monografia, além de me ensinar tanto em tão pouco tempo, demonstrando carinho e
compreensão pelas dúvidas recorrentes ao longo deste trabalho. Serei eternamente grato por
terem se juntado a esta minha caminhada. A posteriori, agradeço ao meu eu do passado, sujeito
o qual determinou a minha realidade atual.

À todos, os meus sinceros agradecimentos!


Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
RESUMO

A presente pesquisa expõe o desenvolvimento dos festivais de música enquanto


espaços de acesso e inclusão das pessoas em situação de cadeira de rodas. O ponto principal
deste trabalho foi averiguar as principais barreiras presentes na vida destes cidadãos nos eventos
em análise, o Rock in Rio e o Lollapalooza. Para isso, foram estabelecidos os seguintes
objetivos específicos: contextualizar a trajetória histórica das pessoas com deficiência,
apontando a ampliação de direitos; analisar dois festivais de música presentes no Brasil, na
intenção de entender o funcionamento deles no que se refere a acessibilidade e inclusão;
relacionar turismo com festivais de música e; por fim, averiguar as dificuldades e limitações
encontradas por este público por meio de observação in loco e entrevistas semiestruturadas. Na
intenção de entender melhor sobre a dinâmica envolvendo o grupo de pesquisa, foi utilizada a
História Oral (HO) enquanto procedimento metodológico, a fim de reconstruir a memória
referente às experiências destas pessoas nos festivais. De caráter exploratório, mediante
pesquisa bibliográfica e documental, o estudo busca responder à questão: Quais são as
dificuldades encontradas pelas pessoas em situação de cadeiras de rodas a serem observadas
para tornar os festivais de música um espaço de acesso e inclusão? Esta pesquisa pretende dar
visibilidade para questões relacionadas à inclusão de pessoas com deficiência, especificamente
pessoas em situação de cadeiras de rodas, em festivais de música. Em relação ao turismo e os
festivais de música como espaço cultural, os resultados das entrevistas mostraram a
potencialidade destes eventos enquanto propulsor do fluxo turístico de pessoas com deficiência.
O grupo de festivaleiros que fazem uso da cadeira de rodas possuem interesse em continuar
participando dos mesmos eventos que já visitaram, mesmo diante dos obstáculos na área da
acessibilidade e inclusão.

Palavras-chave: Festivais de Música; Pessoas com Deficiência; Turismo; Acessibilidade e


Inclusão.
ABSTRACT

This research exposes the development of music festivals as spaces of access and inclusion for
people in wheelchairs. The main point of this work was to investigate the main barriers present
in the lives of these citizens in the events under analysis, Rock in Rio and Lollapalooza. For
this, the following specific objectives were established: contextualizing the historical trajectory
of people with disabilities, pointing out the expansion of rights; to analyze two music festivals
present in Brazil, in order to understand how they work in terms of accessibility and inclusion;
link tourism with music festivals and; finally, to investigate the difficulties and limitations
encountered by this public through on-site observation and semi-structured interviews. In order
to better understand the dynamics involving the research group, Oral History (OH) was used as
a methodological procedure, in order to reconstruct the memory referring to the experiences of
these people at festivals. Of an exploratory nature, through bibliographic and documentary
research, the study seeks to answer the question: What are the difficulties encountered by people
in wheelchairs to be observed in order to make music festivals a space of access and inclusion?
In this sense, this research intends to give visibility to issues related to the inclusion of people
with disabilities, specifically people in wheelchairs, in music festivals. Regarding tourism and
music festivals as a cultural space, the results of the interviews showed the potential of these
events as a driver of the tourist flow of people with disabilities. The group of festival-goers who
make use of the wheelchair are interested in continuing to participate in the same events they
have already visited, even in the face of obstacles in the area of accessibility and inclusion

Keywords: Music Festivals; Disabled people; Tourism; Accessibility and Inclusion.


LISTA DE ABREVIAÇÕES

ACC - Agenesia do corpo caloso.


CDPD - Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.
CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil.
CRM - Cadeira de rodas manual ou motorizada.
DMC - Distrofia muscular de cinturas.
EPD - Estatuto da Pessoa com Deficiência.
FTH - Faculdade de Turismo e Hotelaria.
HO - História Oral.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
LBI - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
OMS - Organização Mundial da Saúde.
OMT - Organização Mundial do Turismo.
ONU - Organização das Nações Unidas.
PCD - Pessoas com deficiência.
PMR - Pessoas com Mobilidade Reduzida.
PNDP - Plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência.
PSD - Pessoas sem deficiência.
PUC - Pontifícia Universidade Católica.
RiR - Rock in Rio.
T4F - Tickets for Fun.
TA - Tecnologia Assistiva.
UFF - Universidade Federal Fluminense.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Pol'and'Rock Festival na Polônia 31


Figura 2 – Ability Festival 33
Figura 3 – Banda Barão Vermelho no Rock in Rio 37
Figura 4 – Mapa do Rock in Rio 2019 39
Figura 5 – Dados do Rock in Rio 2019 40
Figura 6 – Kit Livre do Rock in Rio 2019 41
Figura 7 – Média de atendimentos a PCDs no Rock in Rio 42
Figura 8 – Quantidade de pessoas que usaram cada serviço presente no Rock in Rio 43
Figura 9 – Atendimento prioritário dos brinquedos no Rock in Rio 44
Figura 10 – Pessoa em situação de cadeira de rodas no Rock in Rio 45
Figura 11 – Audiência do Rock in Rio ao redor do mundo 46
Figura 12 – Emicida no Lollapalooza 2022 48
Figura 13 – Mapa do Festival Lollapalooza 2018 no Autódromo de Interlagos 49
Figura 14 – Carro de Golfe acessível no festival Lollapalooza 50
Figura 15 – Lollapalooza no Autódromo de Interlagos 51
Figura 16 – Pessoa em situação de cadeira de rodas com bandeira do Chile no Lolla 52
Figura 17 – Audiência do Lollapalooza ao redor do mundo 53
Figura 18 – Equipe de apoio às pessoas com deficiência do Rock in Rio 2019 60
Figura 19 – Pedro Américo no Lollapalooza 2018 62
Figura 20 – Pedro Américo no Lollapalooza 2017 64
Figura 21 – Julia no Rock in Rio 2019 69
Figura 22 – Plataforma elevada do Rock in Rio 2019 71
Figura 23 – Banheiro prioritário no Rock in Rio 2013 72
Figura 24 – Posto de Apoio às Pessoas com Deficiência do Rock in Rio 2019 73
Figura 25 – Natalia no Festival Nomad 75
Figura 26 – Rock in Rio 1985 79
Figura 27 – Parklife Festival 2019 80
Figura 28 – Tirolesa do Rock in Rio de 2019 81
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 LIBERDADE, EQUIDADE E SOLIDARIEDADE ÀS DEFICIÊNCIAS ..................... 15
1.1 INCLUSÃO SOCIAL: HISTÓRICO DAS LEGISLAÇÕES 16
1.1.1 Três de Dezembro ................................................................................................... 20
1.1.2 Deficiência Física ..................................................................................................... 24
1.1.3 Sobre Rodas ............................................................................................................. 28
2 FESTIVAIS DE MÚSICA .................................................................................................. 30
2.1 TIPOLOGIA E CARACTERÍSTICAS DOS FESTIVAIS DE MÚSICA 34
2.1.1 Rock in Rio .............................................................................................................. 37
2.1.2 Lollapalooza ............................................................................................................ 47
3 FLUXO TURÍSTICO PELA CULTURA E MÚSICA .................................................... 54
3.1 TURISMO CULTURAL 54
3.1.1 Turismo de Eventos Musicais ................................................................................ 56
4 ENERGIAS QUE CONECTAM ........................................................................................ 58
4.1 METODOLOGIA 58
4.2 COLETA DE DADOS 61
4.2.1 “É Tudo Nosso” ....................................................................................................... 61
4.2.2 Inclusão no trabalho ............................................................................................... 68
4.2.3 Acesso ou inclusão? ................................................................................................. 73
4.2.4 Voluntariado............................................................................................................ 78
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 82
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 83
APÊNDICES ........................................................................................................................... 93
APÊNDICE A - ROTEIRO DAS PERGUNTAS PARA AS ENTREVISTAS ................. 93
APÊNDICE B - E-MAIL DE SOLICITAÇÃO AOS DADOS DO ROCK IN RIO ......... 94
APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE
NATALIA HIPOLITO .......................................................................................................... 95
APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE
JULIA MATTOSINHO ......................................................................................................... 96
APÊNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE
PEDRO AMÉRICO ............................................................................................................... 97
ANEXOS ................................................................................................................................. 98
ANEXO A - TERMOS UTILIZADOS PARA SE REFERIR ÀS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA AO LONGO DO TEMPO .......................................................................... 98
ANEXO B – TIPOS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA ............................................................. 103
10

INTRODUÇÃO

Ouvir música e me conectar com todo esse universo foi a forma que encontrei para
enfrentar os momentos mais tensos. E vamos combinar né, nada melhor do que música
boa para deixar a vida mais leve! Para nos deixar mais fortes! Eu quero que o universo
todo sinta isso! Todas as pessoas que eu conheço e que eu venha a conhecer TÊM que
ser contagiadas por isso também! Quero passar à frente toda essa boa energia que
estou sentindo agora! Ao final da noite eu só conseguia pensar: “Mas se eu morrer
esta noite, pelo menos eu posso dizer que fiz o que eu queria fazer” (AMÉRICO, 2017
apud SHIMOSAKAI, 2017, on-line, tradução nossa1).

Uma experiência como a referida na epígrafe acima parece até mais uma daquelas
oportunidades que quase todos conseguem vivenciar em um festival de música. Contudo, Pedro
Américo é uma pessoa em situação de cadeira de rodas e, dentre tantos outras façanhas, criador
do Projeto Mais uma Rodada2, canal no Youtube3 no qual relata suas próprias experiências em
festivais de música e shows pelo Brasil. Seus vídeos apresentam um ângulo diferente de se
enxergar a realidade: sentado! A iniciativa divulga, por meio de vídeos e postagens,
informações e dicas sobre acessibilidade e inclusão nos eventos por ele visitados. O projeto tem
ajudado diversas outras pessoas com deficiência (PCDs) a acreditarem em espaços sendo
ocupados por indivíduos que se identificam pelas mesmas condições físicas e/ou psicológicas.
Apesar dos momentos vivenciados pelo idealizador do projeto, ilustrado nos conteúdos
produzidos e disponíveis virtualmente, estes ambientes ainda devem florescer gradativamente
para envolver a sociedade como um todo. Tais oportunidades apenas foram possíveis por
intermédio de atitudes e recursos necessários para promover equidade de acesso nestes espaços.
Sem estas ferramentas, as pessoas em situação de cadeiras de rodas não conseguiriam usufruir
dos festivais de música/espetáculos/concertos/celebrações como o restante do público, pois são
precisos diversos fatores estruturais, tanto intangíveis como tangíveis, para que tais indivíduos
possam ultrapassar determinadas barreiras sociais presentes na contemporaneidade.
É por interferência destes obstáculos que destaca-se outros defensores da luta pela
inclusão de pessoas com deficiência em festivais de música. Ricardo Shimosakai é mais um
destes exemplos, ele possui um blog para divulgar informações e experiências relacionadas ao
acesso deste público/consumidores/telespectadores em eventos e turismo. Intitulado como
Acessibilidade em Foco4, a iniciativa entrega, em riqueza de detalhes, sugestões para tornar
estes locais um lugar de direitos, fazendo com que esta realidade não seja apenas uma

1
“[…] but if I die tonight at least I can say I did what I wanted to do! Tell me how ‘bout you?” (AMÉRICO,
2017, on-line). Entrevista concedida ao blog de Ricardo Shimosakai.
2
Disponível em: https://www.youtube.com/channel/UCI26FcKSNYNLiniXh5R3R5w. Acesso em: 29 ago.
2021.
3
Plataforma de compartilhamento de vídeos on-line.
4
Disponível em: https://www.ricardoshimosakai.com.br/blog/. Acesso em: 29 ago. 2021.
11

experiência para alguns, como a conquistada por Pedro Américo e o autor do projeto citado
neste parágrafo, mas sobretudo aos demais cidadãos que possuam as mesmas condições.
Existem diversos outros sujeitos que também contribuem de forma significativa para os
temas aqui apresentados. Mas vale pontuar que são gestos como esses que fazem com que
qualquer tipo de produção de evento possa ser desenvolvido a fim de atingir um nível
organizacional mais inclusivo e acessível, seja qual for a condição de quem estiver ali para
participar do espetáculo. Propósitos desse tipo favorecem ambientes onde todos possuem a
chance de desfrutar equitativamente dos mesmos serviços e produtos disponíveis nestes
espaços, independentemente da forma como cada um escolhe participar.
Fundamentado nisso, para a produção desta monografia, e com base na problemática
envolvendo este tema, abordou-se a temática da inclusão de pessoas com deficiência
física/motora em festivais de música, levando em consideração a seguinte questão norteadora:
Quais são as dificuldades encontradas pelas pessoas em situação de cadeiras de rodas a serem
observadas para tornar os festivais de música um espaço de acesso e inclusão?
O presente estudo teve como principal objetivo investigar os principais entraves que
influenciam na qualidade das experiências de pessoas em situação de cadeira de rodas em
festivais de música. Para ser capaz de alcançar a referida finalidade, os seguintes objetivos
específicos foram trabalhados: contextualizar a trajetória histórica das pessoas com deficiência,
apontando a ampliação de direitos; analisar dois festivais de música presentes no Brasil, na
intenção de entender o funcionamento deles no que se refere a acessibilidade e inclusão;
relacionar turismo com festivais de música e; por fim, averiguar as dificuldades e limitações
encontradas por este público por meio de observação in loco e entrevistas semiestruturadas.
Neste trabalho, por meio de uma pesquisa de cunho exploratório, buscou-se, mediante
pesquisa bibliográfica e documental, coletar dados secundários que forneçam consistência e
destaque ao tema exposto. As bases de dados utilizadas para a pesquisa bibliográfica foram a
Scopus, Web of Science, Scielo e Google Scholar, além do Mendeley para o gerenciamento de
referências bibliográficas a partir da pesquisa das palavras-chave: acessibilidade; cidadania;
pessoas em cadeira de rodas; festivais e turismo. Em vista disso, primeiramente localizou-se os
artigos que tinham a ver com a temática proposta a partir da leitura do título, resumo e palavras-
chave para, então, selecionar os textos para leitura completa e aprofundamento.
Já os dados primários foram tratados de forma qualitativa, obtidos a partir de
entrevistas semiestruturadas, por meio de um roteiro5 com questões previamente planejadas e

5
Roteiro de entrevista no apêndice A.
12

inspiradas no método de pesquisa da História Oral (HO). Ao todo foram três entrevistados:
Julia, Natalia e Pedro - tendo todos concordado em dar tais contribuições de forma não anônima.
Por intermédio deste modelo de entrevista, pude me dar a oportunidade de conhecer muito mais
do que havia sido planejado, como, por exemplo, a maneira em que o sujeito demonstra e lida
com suas experiências, além de aprofundar importantes questões levantadas pelos próprios
entrevistados. Ao final realizo uma análise e a interpretação qualitativa do material obtido.
Em adição a isso, busquei coletar informações a partir de sites que estivessem
relacionados aos tópicos expostos, principalmente aqueles relacionados aos festivais de música
abordados neste trabalho (Rock in Rio e Lollapalooza). Existe uma quantidade significativa de
informações ligadas a experiência de pessoas com deficiência nestes canais de comunicação,
como os dados pertinentes aos serviços que seriam prestados por tais produções à comunidade
de PCDs. Ainda, ao longo desta pesquisa, analisa-se comentários e blogs que relatam vivências
de pessoas em situação de cadeira de rodas nos ambientes de análise e outros.

A página virtual dos eventos pode ser, portanto, o primeiro e último momento de uma
festa. Ali estão contidas todas as informações necessárias: o local e horário, os preços
da entrada e do estacionamento, restrições sobre a entrada com comida e água, as
atrações do local [...] expectativas do público, divulgação do trabalho dos Dj’s e
eventuais artistas que se apresentarão na festa, e (após a festa) os feedbacks,
impressões, esclarecimentos, novos eventos, próximas edições etc. É aí que se
encontram também fotografias – muitas das quais utilizadas neste trabalho – que
servem para destacar momentos considerados de maior importância e construir uma
memória do evento. O olhar do fotógrafo é um olhar que seleciona e põe em relevo
dimensões da festa que merecem a atenção do pesquisador. (FRANCO, 2016, p. 31)

Seguindo a proposta, esta monografia encontra-se organizada em quatro capítulos. No


primeiro trago a discussão teórica acerca do caminho dos direitos humanos e a relação com a
trajetória de vida das pessoas com deficiência enquanto cidadãos, aprofundando o assunto até
alcançar nosso público-alvo – as pessoas em situação de cadeira de rodas, ou seja, sujeitos que
possuam esta condição devido a uma deficiência física, assunto o qual também se encontra no
primeiro capítulo. Além disso, menciona-se os modelos de tratamento que acompanharam a
vida social das pessoas com deficiência, destacando exemplos da época de origem junto com
as leis que vigoraram ao longo do tempo.
Por seguinte, no segundo capítulo, apresento uma contextualização acerca dos festivais
de música, indicando o período em que estes eventos começaram a se desenvolver com mais
intensidade, juntamente com alguns exemplos da época que fizeram a diferença neste cenário.
Nesta parte da pesquisa, busca-se caracterizar as diferentes maneiras de se produzir tais eventos.
Destaco também dois festivais de música realizados no Brasil, como o Lollapalooza e Rock in
13

Rio, mencionando a história e os aspectos relacionados à área de acessibilidade e inclusão, além


de abordar questões relacionadas ao setor turístico.
Já no terceiro capítulo, discorro sobre o turismo como fonte de aprendizado e eventos
musicais como disseminador das diferentes manifestações culturais e artísticas presentes no
país. Nesta parte da pesquisa, demonstra-se a ligação destas celebrações com o turismo
enquanto meio de enriquecimento cultural. Aqui, também relaciono a importância desta
temática na vida do grupo de investigação desta monografia, pessoas em situação de cadeira de
rodas, a fim de enaltecer este fenômeno para o desenvolvimento da inclusão e acesso deste
grupo em espaços festivos e no setor turístico.
No quarto capítulo, destaca-se a metodologia usada para a elaboração deste trabalho,
aprofundando os benefícios e a maneira como utilizo a ferramenta de pesquisa. Nesta seção,
também entrego os resultados da coleta de dados obtidos por meio das entrevistas
semiestruturadas desenvolvidas com base na História Oral (HO). Separa-se esta parte do
trabalho em subtópicos, sendo cada qual ligado ao resultado das entrevistas, sendo o último
direcionado às experiências do autor trabalhando no setor de acessibilidade de algumas edições
do Rock in Rio, evento enunciado no segundo capítulo.
Sendo assim, esta monografia contará com experiências próprias do pesquisador
relacionadas à equipe de apoio às pessoas com deficiência do Rock in Rio. Trabalhando dois
anos consecutivos neste evento (2017 e 2019), trato percepções deste grupo neste ambiente, a
fim de relacionar com os tópicos encontrados ao longo do desenvolvimento deste trabalho.
Acredito que assim trago ainda mais discussões para serem expostas e analisadas nos capítulos
aqui apresentados. Além disso, mencionarei vivências e percepções relacionados ao trabalho
em um festival internacional, o Parklife, também como experiência profissional, mas não na
área ligada às pessoas com deficiência, e sim com o público em geral.
Estes momentos não servem apenas para sustentar os tópicos desenvolvidos ao longo
desta pesquisa, pois, na verdade, foram eles que motivaram quem aqui escreve para a
elaboração deste trabalho. A partir destas oportunidades, o autor pode descobrir a sua vocação
como profissional. Foi só a partir destas experiências que houve a descoberta da sua importância
como cidadão, agregando não só conhecimento para si mesmo, mas entregando possibilidades
de acesso às pessoas com deficiência em festivais de música. Esta monografia está fundada em
sentimentos que prezam pela coexistência social, a qual respeita a vida de seus semelhantes.
O desenvolvimento dos objetivos citados é de suma importância para o cenário do
tema apresentado, pois toda a sociedade necessita usufruir dos mesmos direitos. Nesse sentido,
esta pesquisa pretende dar visibilidade para questões relacionadas à inclusão de pessoas com
14

deficiência, especificamente pessoas em situação de cadeiras de rodas, em festivais de música.


Este trabalho apontará as principais temáticas que circundam a experiência deste grupo de
estudo em festivais de música, a fim de produzir mais informações científicas acerca destas
questões no meio acadêmico.
O estudo sobre o tema proposto é imprescindível para essa parcela da sociedade, já
que, além de apresentar a importância da equidade de direitos, poderá fomentar o interesse do
setor de eventos para/com este público. Esta pesquisa possibilitarán que produtores de eventos
se sensibilizem em relação a importância dos fatores relacionados ao acesso e inclusão de PCDs
em festivais de música. Com isso, diversos produtores conseguirão aumentar o número de
visitantes nas iniciativas a serem produzidas futuramente, proporcionando maiores índices na
qualidade da experiência deste público.
A posteriori, é muito importante deixar nítido que este trabalho foi realizado por um
pesquisador sem deficiência, mas que contou, sobretudo, com a ajuda de pessoas que vivem
esta realidade. Além de se interessar tanto em entender este universo, também se dedica em
ajudá-lo a crescer de modo conjunto e harmônico. Empatia esta que não visa ocupar espaços
que não o convenha, mas sim aqueles que possam direcionar contextos que deem visibilidade
e autonomia para indivíduos que sejam cativados por festivais de música, sendo mais acessíveis
e inclusivos. Esta monografia foi realizada com base em experiências reais de pessoas em
situação de cadeira de rodas.
15

1 LIBERDADE, EQUIDADE E SOLIDARIEDADE ÀS DEFICIÊNCIAS

Este capítulo poderá conter alguns termos e definições6 que já sofreram modificações
em relação ao contexto atual. Todavia, bibliograficamente, é provável que tenham sido
utilizados para se referir às pessoas que possuíam algum tipo de deficiência no passado, ou seja,
algumas nomenclaturas que estão ou estiveram associadas aos padrões normativos já pré-
estabelecidos pela própria sociedade. Alguns termos que possam gerar incômodo ao leitor
passam/passaram por mudanças durante os séculos e, de certo modo, acompanham o
pensamento da sociedade vigente ou da classe dominante, a qual possui determinados
parâmetros segregacionistas.
Em respeito às vitórias conquistadas pelas pessoas com deficiência, utiliza-se as
declarações mais atuais para abordar algumas questões presentes neste trabalho. Com isso,
trabalho com as diretrizes previstas na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência (CDPD), elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e adotada por
meio da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), também conhecida como
Estatuto da Pessoa com Deficiência (EPD), regulamentada pelo decreto nº 6.949/2009 no
Brasil. Recorre-se também do Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Viver
sem Limite, instituído pelo decreto nº 7.612/2011, iniciativa provinda da CDPD.
É imperioso dizer que, felizmente, até a própria linguagem aplicada nesta pesquisa,
supostamente, um dia, se tornará obsoleta para as gerações vindouras, pois com os
desdobramentos da equidade de direitos às "pessoas com deficiência” poderão ‘saltar para outro
nível’, possibilitando a chance de serem tratadas e referenciadas coloquial e formalmente pelo
substantivo “pessoas”. Agindo desta maneira, faz com que tais indivíduos possam ser aceitos
e tratados de maneira digna, como qualquer outro cidadão, sem medo de sofrer qualquer forma
de discriminação relacionado a capacidade física ou intelectual – tipo de preconceito já
denominado como capacitismo7.
Este capítulo foi dividido em quatro seções. No primeiro, relata-se acerca dos
desdobramentos dos direitos das pessoas com deficiência ao longo da história. Já no segundo,
aborda-se a porcentagem de pessoas que vivem com algum tipo de deficiência no Brasil e no
mundo, juntamente com o modelo de tratamento que acompanharam este grupo durante os
séculos, e a sua conexão com o princípio da cidadania. No terceiro, discute-se questões

6
Lista de termos utilizados para se referir às pessoas com deficiência ao longo da história no anexo A.
7
[ ...] “significa qualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com o propósito ou efeito
de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfrute ou o exercício, em igualdade de oportunidades com as
demais pessoas, de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político, econômico, social,
cultural, civil ou qualquer outro” (ONU, 2014).
16

relacionadas à deficiência física, abordando pontos ligados à acessibilidade. Por fim, no último
subcapítulo, discorre-se sobre o público que nos levou a produção desta monografia, as pessoas
em situação de cadeira de rodas.

1.1 INCLUSÃO SOCIAL: HISTÓRICO DAS LEGISLAÇÕES

Muito antes dos direitos humanos serem defendidos por escrito já se falava sobre a
forma com que alguns grupos deveriam ser tratados perante o Estado, mesmo que tal atitude
fosse apenas uma intenção de duplo sentido – sobressair-se politicamente por defender causas
sociais, ou realmente lutar, por meio de atitudes genuínas de compaixão8. O Código de
Hamurabi foi o primeiro ato a impor os direitos comuns (naturais/humanos) de seus habitantes,
como a vida e a dignidade (LONGO; BRAYNER; PEREIRA, 2007). Contudo, restou aplicar
as mesmas normas aos que nasciam predestinados à morte. Na época, nem todos tinham o
privilégio de serem considerados parte de uma sociedade.
Outro exemplo que também se delimitou ao ampliar os grupos sociais que seriam
legalmente beneficiados foi a Lei das Doze Tábuas (450 a.C.), principalmente as pessoas com
deficiência. Esta iniciativa deu origem às ideias de proteção aos direitos dos “cidadãos”
(LONGO; BRAYNER; PEREIRA, 2007). Tal registro também foi mais uma atitude que
desprezava totalmente a vida de qualquer pessoa que apresentasse alguma diferença física e/ou
psicológica. A Tábua IV, por exemplo, destacava a criança com deficiência como uma ameaça
para o desenvolvimento da sociedade, sem serventia nem ao menos para servir o corpo militar
(BARROS FILHO; PERES, 2014). Este período demonstrava mais uma vez o preconceito
existente na sociedade daqueles tempos.
Anos depois, outros pensadores começaram a defender a inclusão de “minorias” na
sociedade. A Magna Carta (Great Charter, 1215), produzida pelo Rei John Landless, da
Inglaterra, foi pioneira a favor da liberdade e da igualdade entre homens (LONGO; BRAYNER;
PEREIRA, 2007). O fenômeno exposto foi um marco na história da humanidade. A partir daqui
criaram-se a ideia de união, realidade a qual fez com que a população pensasse a respeito do
princípio de justiça9. Com isso, deu-se um pouco de credibilidade para as opiniões daqueles que

8
“[...] o que pode mover a bons atos, a obra de amor é sempre e tão somente o conhecimento do sofrimento
alheio, compreensível imediatamente a partir do próprio sofrimento e posto no mesmo patamar deste. Daí, no
entanto, segue-se o seguinte: o amor puro, em conformidade com a natureza, é compaixão; e o sofrimento que
ele alivia, ao qual pertence todo desejo insatisfeito, tanto pode ser grande quanto pequeno” (SCHOPENHAUER,
2005, p. 477).
9
“O princípio da justiça estabelece como condição fundamental a equidade: obrigação ética de tratar cada
indivíduo conforme o que é moralmente correto e adequado, de dar a cada um o que lhe é devido” (CREMESP,
2021, on-line).
17

não eram vistos ou ouvidos. Tal período não foi caracterizado pelo diálogo sobre direitos
humanos, mas indiretamente indagou parâmetros que pudessem criar ordem e igualdade entre
os diferentes modos de vida.
Nesta época, a igualdade era o valor mais próximo do princípio de justiça, mas mesmo
que não fosse o ideal para lidar com a diversidade existente, pode-se dizer que contribuiu para
a inclusão social. Naquele período de início do século XIII, os governantes ainda acreditavam
que éramos todos iguais, mantendo-se assim uma ilusão acerca do que seria realmente
igualdade. Mesmo assim, este marco havia sido um avanço para pessoas que antes nem ao
menos eram incluídas em um modelo de tratamento. Ao passar dos anos, tivemos novos avanços
e as diferenças passaram a ter mais credibilidade, devendo aos líderes tratar todos conforme
suas individualidades. A partir deste entendimento, buscou-se ponderar as devidas limitações
de cada cidadão presente em uma comunidade que se preocupasse com o bem comum.
Mais tarde, outros fatos históricos também colaboraram na fomentação dos direitos
humanos. Nos Estados Unidos, em 1776, a Declaração de Direitos de Virgínia, baseada no
Iluminismo10, abriu fronteiras para proclamar os direitos naturais e positivados inerentes ao ser
humano (HUPFFER, 2011). Ademais, influenciou consideravelmente na criação de outros
documentos, como a Declaração de Independência dos Estados Unidos (também de 1776), e a
Carta dos Direitos dos Estados Unidos, de 1789, a qual foi redigida no mesmo período que
nascia a Declaração do Homem e do Cidadão, na França, documento histórico que simbolizou
a universalização de direitos sociais, políticos, culturais e econômicos.
Tal acontecimento ocorreu ao final da Revolução Francesa, em 26 de agosto de 1789.
Neste momento, o povo francês acabava de dar um passo à frente na batalha a favor da equidade
de direitos. Por meio do lema “Liberté, Égalité, Fraternité”, promulgaram a Declaração do
Homem e do Cidadão, abrindo fronteiras para o desenvolvimento do princípio da dignidade da
pessoa humana11. A nova ordem afirmava a maneira como o ser humano deveria ser tratado:
“Os Homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
fundamentar-se na utilidade comum” (AZEVEDO, 2013, on-line). Este marco na história da

10
“O pensamento iluminista tem como fundamentos a crença no poder da razão humana de compreender nossa
verdadeira natureza e de ser consciente de nossas circunstâncias” (DE MELLO; DONATO, 2011, p. 252).
11
“[...] a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e
consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e
deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e
promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com
os demais seres humanos” (SARLET, 1998).
18

humanidade possibilitou o reconhecimento de diversas camadas da sociedade, principalmente


dos indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
Ao final deste conflito, e por consequência deste ato, novos outros sistemas
constituintes foram reelaborados ao redor do globo. Isso refletiu até mesmo nas legislações
vigentes nos dias atuais, como a Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem
(1948) e a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Esta última foi um momento
de reviravolta na história da humanidade, pois mesmo que o seu surgimento não tenha tido
caráter impositivo, mas sim moral, se tornou base do direito internacional. Teve mais força
apenas após a Conferência Mundial de Direitos Humanos de Viena, em 1993 (FALCÃO, 2009),
primeira conferência de direitos humanos realizada desde o final da Guerra Fria.
Estes documentos derrubaram barreiras que impediam de dar visibilidade às mais
distintas classes daqueles e deste tempo. Após todas as conquistas mencionadas, novos
discursos se tornaram pauta entre a população. Nesta ocasião, começaram-se a dialogar acerca
das individualidades que deveriam ser reconhecidas e tratadas pelos órgãos governamentais.
Em vista disso, trouxeram à tona os diálogos ligados à cidadania. O ser cidadão passa a fazer
mais sentido para um número maior de pessoas cabendo a eles direitos e deveres, bem como os
demais integrantes de uma comunidade, isto é, para grupos que já não faziam parte de parcelas
formadas por minorias, como o clero, os aristocratas e burgueses.
Assim sendo, o entendimento sobre este fenômeno, o qual assegura participação ativa
na sociedade, teve diversos avanços significativos ao longo do tempo, mas foi remodelado com
maior represália após o início da Idade Contemporânea, na França, momento ocorrido após a
queda da Bastilha – símbolo de opressão do Antigo Regime (COSTA; IANNI, 2018). Dentre
tantos desdobramentos e definições deste assunto, a que mais se aproxima da realidade desejada
para o progresso desta pesquisa pode ser observada na conceituação deste tema raciocinada
pelo então professor Norberto Luiz Guarinello (2013):

[...] cidadania implica sentimento comunitário, processos de inclusão de uma


população, um conjunto de direitos civis, políticos e econômicos e, significa também,
inevitavelmente, a exclusão do outro. Todo cidadão é membro de uma comunidade,
como quer que esta se organize, e esse pertencimento, que é fonte de obrigações,
permite-lhe também reivindicar direitos, buscar alterar as relações no interior da
comunidade, tentar redefinir seus princípios, sua identidade simbólica, redistribuir os
bens comunitários. A essência da cidadania, se pudéssemos defini-la, residiria
precisamente nesse caráter público, impessoal, nesse meio neutro no qual se
confrontam, nos limites de uma comunidade, situações sociais, aspirações, desejos e
interesses conflitantes. Há, certamente, na história, comunidades sem cidadania, mas
só há cidadania efetiva no seio de uma comunidade concreta, que pode ser definida
de diferentes maneiras, mas que é sempre um espaço privilegiado para a ação coletiva
e para a construção de projetos para o futuro (GUARINELLO, 2013, p. 46).
19

Dessa forma, a cidadania é definida com base no sentimento de solidariedade ou, em


outras palavras, fraternidade - combinação entre as normas básicas que compõem um sistema
(religioso, político, econômico, social etc.) e sensação de pertencimento adquiridas por meio da
luta por reconhecimento e espaço. O art. 5º da Constituição de 1988 deixa esta ideia bem
explícita: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade” (BRASIL, 1988, on-line). A cidadania faz parte da
criação de nossa identidade.
Para Cheibub (2008), em resenha sobre os estudos de Gastal e Moesch (2007), a
cidadania se baseia na condição em que toda a população se une em prol de um bem comum,
respeitando, assim, todas as diferentes manifestações culturais presentes na sociedade. O
mesmo autor também destaca algumas políticas públicas que devem ser realizadas para atingir
esta concepção. Ele menciona a necessidade que os órgãos governamentais devem ter em dar
visibilidade para grupos “minoritários”, a fim de conhecer melhor a realidade de vida daqueles
que não possuem as mesmas condições de acesso à cidade, podendo, por meio desta
aproximação, adquirir caminhos provindos de experiências reais.
O princípio da cidadania está ligado às três primeiras dimensões conquistadas pelo
povo francês: liberdade12, equidade13 e solidariedade14. O primeiro preceito está incluído na
nossa própria constituição, assim como o termo solidariedade que é encontrado por meio da
palavra fraternidade. Equidade também é referido neste mesmo documento, mas por meio da
palavra igualdade. Porém, esta última não possui tanto a intenção de tratar todos conforme suas
particularidades, e sim da mesma maneira: injusta e desigual. A igualdade somente será fonte
de justiça após oferecer oportunidades que equalizem as diferenças individuais, possibilitando,
assim, que os povos possam viver e desfrutar do devido espírito cidadão.

Um sujeito só é realmente livre quando goza da igualdade em todos seus aspectos.


Um homem privado de suas capacidades visuais é, frente ao Estado, um sujeito de
direitos e deveres, mas tem sua igualdade tolida quando o meio em que circula não é
adaptado a suas necessidades, portanto, não é um homem livre e igual (DOS
SANTOS; MACEDO; DE OLIVEIRA, 2020, p. 15).

12
“Só porque é livre o homem pode resistir a todos os estímulos sensíveis, tanto internos quanto externos; pode
começar por si mesmo um evento; pode ser legislador absoluto de si mesmo; e pode ser totalmente responsável
de tudo aquilo que faz ou deixa de fazer” (PECORARI, 2010, p. 46).
13
“[...] a equidade traz ao caso concreto a possibilidade de corrigir eventuais equívocos cometidos pelo
legislador, ou preencher lacunas que sua atividade legislativa não conseguiu prever” (BURCI; SANTOS,
COSTA, 2017, p. 446).
14
“A solidariedade passa pela empatia, mas nela não se encerra. Ao contrário, vai além dela. Enquanto a empatia
é a capacidade de se colocar no lugar do outro, a solidariedade consiste na preocupação com a situação alheia e
na tomada de ações para minimizar o sofrimento do próximo” (SILVA, 2016, p. 38).
20

Os avanços relacionados aos direitos das pessoas com deficiência estiveram durante
anos sofrendo adaptações, criavam-se iniciativas que nem sempre buscavam a inclusão;
ocasionando por consequência, infelizmente - a exclusão. Algumas definições ainda aprisionam
significados retrógrados. Na teoria, é visível que muitos possuem os direitos sugeridos pelas
organizações envolvidas. Contudo, resta saber se eles realmente se aplicam em populações que,
ideologicamente, possuem tantas divergências. Seria possível que uma sociedade fragmentada
e conflituosa respeitasse o direito daqueles que devem ser tratados assim como todo o restante
da população, que também preza pela própria existência?

1.1.1 Três de Dezembro15

Com isso, vale abordar a trajetória de vida destes cidadãos fora do âmbito
constitucional. Conforme informações que já conseguiram provar cientificamente o modo de
vida de algumas populações, é possível conhecer melhor a maneira como as pessoas com
deficiência “viviam”. Em relação às diferentes culturas e espaço-temporais, as pessoas com
deficiência, na maioria das vezes, eram quase que imperceptíveis aos olhos do restante da
população, ou melhor, era necessário que sobrevivessem em condições de invisibilidade em
prol da própria sobrevivência ou de quaisquer resquícios de pertencimento. Tal grupo social
resistiu a recriminações durante diversos contextos, perpetuando até a contemporaneidade.
Os períodos que configuram a história dos PCDs foram divididos em três modelos:
religioso (segregação), médico (integração) e social (inclusão). De acordo com Barboza e
Almeida Junior (2017) o primeiro modelo, sendo o mais excludente, designado como “modelo
moral ou religioso”, foi reproduzido por determinados povos da antiguidade, e teve como base
a justificação religiosa pautada na improdutividade e inutilidade. Este pensamento atribuía aos
cidadãos sentenças de morte e sentimento de culpa perante aos deuses. Por causa disso, pessoas
com deficiência foram perseguidas, posto a afirmação da capacidade do homem, a qual era
pautada de acordo com o desenvolvimento físico e intelectual de cada indivíduo.

Num primeiro momento, a família e a sociedade de um modo geral não apenas não se
importavam com as pessoas com deficiência, mas as segregavam. As famílias
escondiam essas pessoas do restante da sociedade, cujos elementos as olhavam com
certa repulsa (SAMPAIO; TALARICO, 2019, p. 232).

Conforme Miskolci (2002), foi neste cenário que estas pessoas foram associadas com
questões ligadas à degeneração hereditária e sem nenhuma perspectiva de cura. Tinha como

15
Dia Internacional das Pessoas com Deficiência.
21

consequências a fraqueza, a doença e, por conseguinte, a ameaça social. Na Roma Antiga,


conforme relatado por Gugel (2007, s.p.), “[...] aos pais era permitido matar as crianças com
deformidades físicas, pela prática do afogamento. Relatos nos dão conta, no entanto, que os
pais abandonavam seus filhos em cestos no Rio Tibre, ou em outros lugares sagrados”. Isso
levou com que milhares de pessoas com deficiência não apenas fossem excluídas/assassinadas,
mas também perseguidas durante os séculos.
Após milhares de conflitos sociais envolvendo este grupo criou-se o modelo médico,
o qual classificava a deficiência como condição patológica. Sendo assim, os profissionais da
época tentavam contornar as condições físicas e psicológicas destas pessoas, tornando-as o mais
“normal” possível, a fim de ajustá-las aos moldes do capitalismo-produtivista (BARBOZA;
ALMEIDA JUNIOR, 2017). Este novo método deu origem aos meios de prevenção, tratamento
e reabilitação. Para a realidade daqueles tempos, tais medidas geraram um pouco mais de
compreensão e visibilidade, ainda que não tenham sido a melhor maneira de lidar com este
público. Todavia, contribuiu para o fomento da inclusão.

Entre 1850 e 1870, a psiquiatria ganhou poder crescente ao abandonar os temas do


delírio, a alienação da realidade e se voltar para a questão do comportamento, do
desvio e das anormalidades. Nesse meio tempo o poder da medicina sucedeu o da
religião em nossa sociedade substituindo a questão da morte e do castigo eterno pelo
problema da normalidade ou anormalidade, ou ainda, de forma mais clara, saúde ou
doença (MISKOLCI, 2002, p. 112).

Nesse sentido, as pessoas com deficiência passaram a ser vistas como passíveis de
receberem tratamento, e novas abordagens começaram a ser desenvolvidas em prol deste grupo
social, a fim de inseri-los, mesmo que ainda parcialmente, na estrutura da sociedade. É neste
período que nascem organizações direcionadas a educação de pessoas com deficiências, como
foi o caso da criação do Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atualmente Instituto Benjamin
Constant), fundado no Brasil pela insistência de Dom Pedro II, por meio do Decreto Imperial
nº 1.428, de 12 de setembro de 1854, que tinha como intuito o ensino primário, a música, moral,
religião e ofício fabris (BRASIL, 1854).
Durante este período na história da comunidade com deficiência, de acordo com
Sampaio e Talarico (2019), a condição física e intelectual de um indivíduo era uma questão de
responsabilidade familiar, devendo a eles se incluírem socialmente de maneira individual, quer
dizer, conforme os recursos e medidas desenvolvidas pelos próprios PCDs, sem a ajuda de
qualquer sujeito fora de seu círculo de contato. Segundo os mesmos autores (2019, p. 233), “por
exemplo, um aluno com deficiência física deveria primeiro resolver a sua dificuldade de ir à
22

escola, sem que a instituição tivesse a preocupação de estar adaptada fisicamente às dificuldades
desse aluno”. Isso demonstrava tal realidade.
Por fim, surge-se o “modelo social”, sendo essa concepção presente no Preâmbulo do
Estatuto da Pessoa com Deficiência16, lei elaborada em 2015 sob os ditames da Convenção
sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência (CRPD), promulgada em Nova York, em 30 de
março de 2007. Neste documento é destacado que “a deficiência é um conceito em evolução e
resulta da interação entre PCDs e barreiras atitudinais e ambientais que impedem sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com os demais” (BRASIL,
2009, on-line). O CRDP é de extrema importância, este tratado fixa:

[...] os direitos humanos e as liberdades fundamentais básicas e universais, como o


direito de ir e vir, o direito à acessibilidade, à educação, ao lazer, à cultura, à saúde, à
moradia, dentre outros, contemplando instrumentos jurídicos que dão eficácia a eles.
Assim, a Convenção reforça a visão de proteção e garantia da eficácia desses direitos,
com superação da segregação ou exclusão, reconhecendo, pois, a qualidade de sujeito
de direito das pessoas com deficiência (BARBOSA-FOHRMANN, 2016, p. 739).

Neste último e atual modelo, é possível perceber que a deficiência passa a ser um
problema gerado pela sociedade como um todo, e não somente as pessoas que eram vistas como
um empecilho a ser resolvido. Com isso, o foco desta questão deixa de estar direcionado a
exclusão e correção fisionômica deste grupo, e torna-se uma questão geral, devendo a todas as
pessoas sem deficiência (PSDs) se readaptarem para fomentar a inclusão desses cidadãos em
um meio em que todos nós temos o direito de ser respeitados. A partir deste momento, a
deficiência de um indivíduo se apresenta por meio das barreiras físicas, sociais e jurídicas que
estes venham a enfrentar (CLETO, 2016). Outro autor corrobora para esta afirmação, dizendo:

[...] todas as pessoas têm igual valor e aquelas com alguma deficiência fazem parte da
diversidade humana, não se tolerando qualquer tipo de discriminação. A sociedade
também precisa preparar-se para receber essas pessoas, por exemplo, adaptando
fisicamente as escolas e o transporte público. A sociedade inclusiva, portanto, está
alicerçada no respeito e na valorização das diferenças. Nesse contexto, são criados
diversos documentos internacionais referentes à pessoa com deficiência (SAMPAIO;
TALARICO, 2019, p. 233-234).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos enfatiza que: “Todos os seres


humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos, são dotados de razão e consciência e
devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade” (ONU, 1948, on-line). Para
mais, de acordo com a Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, proclamada pela
Organização das Nações Unidas: “as pessoas deficientes têm o direito de ter suas necessidades

16
“É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência),
destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania” (BRASIL, 2015, p. 8).
23

especiais levadas em consideração em todos os estágios de planejamento econômico e social17”


(ONU, 1975, p. 2, tradução nossa). Desse modo, é notável que, conforme as legislações dos
dias de hoje, todos devem ser tratados com dignidade18.
Atualmente, os PCDs estão resguardados pelos próprios critérios estabelecidos pelos
defensores dos direitos humanos, tanto nacional como universalmente, assim como qualquer
outro indivíduo que se identifique como parte de uma comunidade. Questão a qual foi
comprovada pela criação do próprio Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, datado no
dia três de dezembro, conquista considerada como um grande marco no reconhecimento deste
grupo. Esta vitória foi delegada a partir da necessidade de reafirmar a importância do
reconhecimento desta camada da sociedade ao longo da história, uma vez que estes passaram
por diversas questões de exclusão, criando a necessidade de mudar tal contexto.
Isso se deve a grande porcentagem de pessoas vivendo sob as mesmas condições.
Segundo dados da OMS, mais de 1 bilhão de pessoas – cerca de 15% da população – vivem
com alguma forma de deficiência, reiterando que “a deficiência faz parte do ser humano, quase
todas as pessoas sofrerão de deficiência temporária ou permanentemente em algum momento
de suas vidas” (OMS, 2021, on-line, tradução nossa19). Em consonância a isso, Tobin Siebers
relata que “o ciclo de vida vai, na realidade, da deficiência para a capacidade temporária e a
volta à deficiência" (SIEBERS, 2008 apud SOLOMON, 2013, p. 36). Seja qual for a
deficiência, algumas possíveis limitações são inerentes ao ciclo de vida do homem.
Já em relação a este debate e o Brasil, de acordo com dados do censo demográfico e
Grupo de Washington, vinculado à Comissão de Estatística das Nações Unidas, destaca-se que:
“quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou ter algum grau de
dificuldade em pelo menos uma das habilidades investigadas (enxergar, ouvir, caminhar ou
subir degraus), ou possuir deficiência mental/intelectual” (IBGE, 2010). Dessa maneira, é
imprescindível mencionar o enorme significado da quantidade de pessoas com deficiência na
estrutura social da população no Brasil, a deficiência não deve ser tratada como uma questão
de minorias, uma vez que quase 1/4 da população é composta por esta parcela da sociedade.
Além disso, outros movimentos também compactuaram para que pessoas com
deficiência tivessem mais visibilidade na sociedade. Por meio do lema “Nada sobre nós, sem

17
“Disabled persons are entitled to have their special needs taken into consideration at all stages of
economic and social planning” (ONU, 1975, p. 2).
18
“[...] Um dos fundamentos da República Federativa do Brasil é a dignidade da pessoa humana e um dos
objetos fundamentais é promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação (SAMPAIO FILHO, 2018, s.p.).
19
“Disability is part of being human. Almost everyone will temporarily or permanently experience disability at
some point in their life” (OMS, 2021, on-line).
24

nós”, germinado em 1935 por um grupo de ativistas, o cenário voltado para o reconhecimento
deste grupo começou a seguir caminhos rumo ao empoderamento e respeito desta parcela social
(SASSAKI, 2011, on-line). Este marco gerou grandes consequências favoráveis para a inclusão
de PCDs em um mundo onde todas as opiniões devem ser levadas em consideração.
Entretanto, mesmo com todos esses números e processos constitucionais que
contribuam para a defesa dos direitos de pessoas com deficiência, pouco é executado, não sendo
colocado em prática o que se tenta defender. O cotidiano de vida deste enorme grupo ainda
continua sofrendo preconceitos e estigmas na sociedade. Nesse sentido, a questão da inclusão
das pessoas com deficiência é algo ainda mais complexo do que no passado, uma vez que
mesmo com algumas conquistas, até mesmo em relação à comemoração do dia três de
dezembro, muitos estão à beira da exclusão.
Diversas pessoas com deficiência ainda vivem em situações de vulnerabilidade
socioeconômica, e muitas vezes não levam em consideração a questão da cidadania
(KORNALEWSKI, 2011). Os tempos parecem outros, mas a forma como lidam com os direitos
humanos ainda parecem seguir conforme os mesmos parâmetros sociais de antigamente –
exclusivos e, ao mesmo tempo, funcionais para aqueles que alimentam com maior significância
os ritmos de um sistema segregacionista. As vitórias constitucionais desta parcela da população,
além de estarem em vigor, precisam ser colocadas em prática na sociedade de modo que haja
equanimidade no que toca os direitos humanos.

1.1.2 Deficiência Física

Entre o grupo das PCDs que vivem nesta realidade, existem indivíduos com os mais
variados tipos de deficiência. Nesta seção, tratarei acerca das pessoas com deficiência
física/motora. Conforme o IBGE, e levando em consideração a porcentagem populacional das
pessoas com deficiência no Brasil (24%), “mais de 13 milhões são pessoas com deficiência
física – aquelas que possuem alguma perda em sua formação de natureza fisiológica ou
anatômica que atrapalhe o desenvolvimento de algumas atividades” (IBGE, 2010). Em relação
a conceituação desta deficiência, Monteiro (2012) menciona os parâmetros utilizados por
Rodrigues (2002) para ser considerada uma pessoa com deficiência física, o autor:

[...] considera que a deficiência motora pode ser considerada como uma perda de
capacidades, afetando a postura e/ou o movimento da pessoa, fruto de uma lesão
congénita ou adquirida nas estruturas reguladoras e efetoras do movimento no sistema
nervoso. Este autor apresenta três tipos de classificação face à estrutura lesada; o facto
de a lesão ser a nível central ou não central; a forma de aquisição e evolução da própria
deficiência. Na deficiência motora, as lesões de tipo não central ou de origem não
25

central, podem ser classificadas como temporárias, definitivas ou evolutivas


(RODRIGUES, 2002 apud MONTEIRO, 2012, p. 12).

A deficiência física foi definida por Costa (2001, p. 54) como “[...] toda e qualquer
alteração no corpo humano resultado de um problema ortopédico, neurológico ou de má
formação, levando o indivíduo a uma limitação ou a uma dificuldade no desenvolvimento de
algumas tarefas motoras”. Em sequência, Kirby (2002 apud MONTEIRO, 2012, p. 13)
conceituou a deficiência física/motora como “[...] qualquer déficit ou anomalia física que tenha
como consequência uma dificuldade, alteração e/ou a não existência de um determinado
movimento considerado normal no ser humano”. Entende-se então que a deficiência física é
delineada a partir das dificuldades de locomoção de uma pessoa em específico.
Ademais, em relação a este assunto, pode-se destacar algumas variações da deficiência
física/motora, como aquelas que influenciam nas condições motoras dos membros inferiores.
Conforme o art. 5° do Decreto n° 5.296, de 2 de dezembro de 2004, a deficiência física/motora
pode ser apresentada sob diversas formas, como: “paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia,
amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade
congênita ou adquirida” (BRASIL, 2004, on-line). Sendo assim, tais condições físicas se
dividem em diversos grupos.
Desse modo, observa-se que dentro da parcela de pessoas com deficiência, estão
incluídas todas aquelas que sofreram algum tipo de paralisia motora20. Sabendo dos diversos
grupos que possuem algum dos tipos de deficiência, os mais comuns de perceber no dia a dia
são as pessoas em situação de cadeiras de rodas, uma vez que suas limitações são mais visíveis.
Estes quase sempre precisam de condições estruturais para se locomoverem pelos sistemas
públicos e privados. Ou seja, adaptações do meio em que vivemos para usufruírem dos sistemas
de saúde, transporte, educação, etc.
Sendo assim, entre as pessoas com deficiência física/motora, algumas destas
necessitam primordialmente de tecnologias assistivas21 que facilitem o seu deslocamento nas
áreas de acesso, seja dentro da própria casa ou em espaços urbanos. Entre tais recursos, posso
dar como exemplo a bengala, muleta, andador e cadeira de rodas comum ou motorizada, além
de recursos que se voltam à utilização de materiais, adaptação de copos, de talheres, teclados e

20
Quadro de deficiência física/motora no anexo B.
21
“Tecnologia assistiva ou ajuda técnica são: produtos, equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivem promover a funcionalidade, relacionada à atividade e à participação
da pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida, visando à sua autonomia, independência, qualidade de
vida e inclusão social” (EPD, 2015, p. 9).
26

mouses adaptados. Por sua vez, esta última ferramenta (cadeira de rodas) é comumente utilizada
pelas pessoas conhecidas como “cadeirantes”, e é gradativamente relacionada com as
dificuldades de acessibilidade22 e inclusão na sociedade em geral.
É imperioso comentar que o aprimoramento e desenvolvimento das tecnologias
assistivas (TA) está incluída no Plano Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência –
Viver sem Limites, formulado junto à Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa
com Deficiência. Este foi organizado para colocar em prática as diretrizes estabelecidas na
Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência e incluídas no Estatuto da Pessoa com
Deficiência (EPD). Conhecido como Programa Nacional de Inovação em Tecnologia Assistiva,
esta iniciativa busca encontrar medidas que aumentem a autonomia dos usuários,
proporcionando-lhes um nível de vida mais significativo e saudável (PNDP, 2013).
Para contribuir no funcionamento adequado destas ferramentas, criaram-se o desenho
universal, a fim de desenvolverem meios de convívio que pudessem ser acessíveis e inclusivos
a todos que viessem a usufruir dos meios sociais. Com isso, as pessoas com deficiência
poderiam colocar em prática o uso da tecnologia assistiva. Conforme o Estatuto da Pessoa com
Deficiência (EPD, 2015), desenho universal é definido como: “[...] concepção de produtos,
ambientes, programas e serviços a serem usados por todas as pessoas, sem necessidade de
adaptação ou de projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistiva”.

O termo Universal Design foi cunhado por Ron Mace para denominar as ideias que
circundavam o movimento [...] por mais acessibilidade frente à diversidade das
habilidades humanas. Reconheceu-se ser preciso criar alternativas para atender às
necessidades de muitas pessoas diferentes e não apenas de um extrato da população
ou “pessoas padrão” para as quais eram exclusivamente desenvolvidos os espaços e
produtos (OLIVEIRA et al., 2013, p. 422).

Esta nova forma de projetar e construir infraestrutura adequada para receber pessoas
com deficiência em espaços públicos e privados se faz mais do que uma necessidade, mas um
direito. O EPD também menciona normas relacionadas a este tema. No art. 44, por exemplo, é
imprescindível que haja acessibilidade razoável em espaços onde venha acontecer qualquer
forma de espetáculos, como cerimônias esportivas, shows e festivais de música. Nesta parte
deste documento é destacada a necessidade de possuir nestes ambientes “espaços livres e
assentos para a pessoa com deficiência, de acordo com a capacidade de lotação da edificação,
observado o disposto em regulamento” (EPD, 2015).

22
“A acessibilidade é direito que garante à pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver de forma
independente e exercer seus direitos de cidadania e de participação social” (BRASIL, 2015, p. 32) .
27

Para que tudo isso funcione de maneira adequada é pertinente abordar as barreiras23
que dificultam o implemento de ações que visem a melhoria na qualidade de vida de pessoas
com deficiência na sociedade e, no contexto deste trabalho, em festivais de música. Conforme
a EPD estes obstáculos podem estar presentes em diferentes setores dos sistemas que moldam
a estrutura de uma sociedade, como nas áreas urbanísticas, arquitetônicas, comunicacionais,
tecnológicas e transportes, cada qual possuindo suas particularidades (Quadro 1). Além disso,
o comportamento das pessoas também se encaixa nestes obstáculos, por exemplo, podem estar
ligados a atitude da população com os grupos PCDs, denominado como barreira atitudinal.

Quadro 1 – Barreiras Sociais


Tipo Descrição
Existentes nas vias e nos espaços públicos e privados abertos
Urbanística
ao público ou de uso coletivo.
Arquitetônica Existentes nos edifícios públicos e privados.
Transportes E existentes nos sistemas e meios de transportes.
Qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que
dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de
Comunicação e Informação mensagens e de informações por intermédio de sistemas de
comunicação e de tecnologia da informação.

Atitudes ou comportamentos que impeçam ou prejudiquem


a participação social da pessoa com deficiência em
Atitudinal igualdade de condições e oportunidades com as demais
pessoas.
As que dificultam ou impedem o acesso da pessoa com
Tecnológica
deficiência às tecnologias.
Fonte: Estatuto da Pessoa com Deficiência, 2015.

Com o propósito de disseminar tais problemáticas, diversos fatores são elaborados para
tornar a vida de PCDs o mais próximo a atender seus direitos como cidadãos, seja por meio do
diálogo referente aos direitos PCDs ou implementações de planos de desenvolvimento voltados

23
“Qualquer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento que limite ou impeça a participação social da pessoa,
bem como o gozo, a fruição e o exercício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de movimento e de
expressão, à comunicação, ao acesso à informação, à compreensão, à circulação com segurança, entre outros”
(EPD, 2015, p. 55).
28

para a inclusão destas pessoas. Em vista disso, os mesmos indivíduos conseguem atingir um
nível de vida consideravelmente comum em vista dos demais grupos sociais, principalmente
aqueles que utilizam de tecnologias assistivas que são mais fáceis de serem visualizadas, como
é o caso da cadeira de rodas, que muito precisa de adaptações para poder funcionar de modo
eficaz e eficiente em localidade de convívio.

1.1.3 Sobre Rodas

O grupo citado no parágrafo acima, junto às suas cadeiras de rodas, enfrenta


dificuldades diariamente, devido à falta de acessibilidade na conjuntura que circunda a vida das
pessoas sem deficiência (PSDs). Sendo assim, é necessário abordar melhor a maneira como
estes precisam ser tratados perante a população, informando a forma como devem ser
entendidos, e as devidas conceituações referentes à condição de vida destacada nesta parte da
monografia, pessoas que necessitam fazer o uso da cadeira de rodas.
A terminologia utilizada para se referir às pessoas em situação de cadeira de rodas faz
parte da própria forma como este grupo se identifica informalmente - cadeirantes, devendo-se
ser utilizada apenas em ocasiões coloquiais (SASSAKI, 2003). Segundo Bordallo (2007), “[...]
a palavra ‘cadeirante’ não se encontra nos dicionários de língua portuguesa, a palavra cadeirante
foi um termo optado pelos próprios usuários de cadeiras de rodas” (BORDALLO, 2007 apud
COSTA, 2012, p. 22). Na situação em que vivemos, o pronome adequado é descrito como
“pessoas em situação de cadeira de rodas”, uma vez que nem sempre determinada pessoa
utilizará por toda uma vida desta ferramenta.
Já para uma definição acerca de quem se encaixaria neste grupo social, Costa (2012,
p. 22) conceitua este tema dizendo: “[...] cadeirante é todo indivíduo que precise fazer o uso,
temporário ou definitivo, de uma cadeira de rodas para se locomover”. Cantarelli (1998, p.4)
reforça a mesma concepção afirmando que: “[...] as pessoas que apresentam grande perda ou
perda total do movimento dos membros inferiores, necessitando, portanto, de equipamentos
específicos para a sua locomoção”. Desse modo, a pessoa em situação de cadeira de rodas é
qualquer um que tenha que lidar com uma paralisia nos membros inferiores, fazendo, assim,
uso do aparelho em destaque.
A pessoa com deficiência física, em específico a pessoa em situação de cadeira de
rodas, necessita viver, temporariamente ou permanentemente, com a ajuda de tecnologia
assistiva (TA), que tanto pode ser a cadeira de rodas manual ou motorizada (CRM). Presoto
(2015) destaca muito bem a relação da pessoa com deficiência com a cadeira de rodas, dizendo
29

‘que “corpo mais cadeira de rodas formam um só elemento, dada a intimidade que desenvolvem
entre si, trata-se de uma consideração abarcando corporeidade - e, dito de outra forma, envolve
o deficiente às voltas com seu próprio corpo” (PRESOTO, 2015, p. 31, grifo nosso). A cadeira
de rodas é considerada parte do indivíduo que a utiliza.
Apesar das CRM serem “[...] utilizadas para aumentar a funcionalidade e a
independência dos indivíduos, tanto em casa como na comunidade” (SAGAWA JUNIOR et
al., 2012, p. 187), os usuários as veem como o principal fator que os impede de se deslocarem
com maior facilidade e eficácia, mais limitantes que sua própria paralisia. Tais grupos
enfrentam grandes dificuldades em relação à falta de infraestrutura adequada nos locais
públicos e privados, além de falta de acessibilidade comunicacional e atitudinal. A falta de
infraestrutura na sociedade compromete a qualidade de vida destas pessoas.
Por fazerem uso da cadeira de rodas, a acessibilidade em espaços públicos é
imprescindível para que pessoas nesta situação possam alcançar suas necessidades específicas.
O fomento do desenvolvimento de locais inclusivos é um direito desta parcela da população. A
Lei de Acessibilidade nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, estabelece o modo como a
urbanização deve ocorrer, diretrizes que reforçam a ideia voltada para o desenho universal e
eficácia das tecnologias assistivas. Apenas com o comprometimento em realizar estas normas
é que a pessoa conseguirá realizar tarefas básicas. A medida estabelece:

[...] normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, mediante a supressão de
barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na
construção e reforma de edifícios e nos meios de transporte e de comunicação
(BRASIL, 2000, s.p., grifo nosso, on-line).

Diante disso, tais indivíduos podem gozar de uma vida com maior participação na
sociedade, pensando de maneira inclusiva e acessível. Com a criação e execução de normas
como essas, pessoas com as mais distintas deficiências conseguem estar presentes em algumas
dinâmicas que envolvem o cidadão, como ao frequentar lugares que jamais haviam sido
ocupados por estes grupos. Após o desenvolvimento desta lei e forma de reorganizar os sistemas
de acesso, pessoas em situação de cadeira de rodas estão cada vez mais envolvidas com o
entretenimento, sendo, gradativamente, comum percebê-las em eventos ligados a formas de
celebrações, como os festivais de música.
É importante mencionar também que nem todas as pessoas em situação de cadeira de
rodas possuem alguma deficiência física. De acordo com o art. 112 do Estatuto da Pessoa com
Deficiência, pessoa com mobilidade reduzida é definida como: “aquela que tenha, por qualquer
motivo, dificuldade de movimentação, permanente ou temporária, gerando redução efetiva da
30

mobilidade, da flexibilidade, da coordenação motora ou da percepção, incluindo idoso,


gestante, lactante, pessoa com criança de colo e obeso” (BRASIL, 2015, p. 55). Sendo assim, o
uso da cadeira de rodas muitas vezes não está associado a deficiência, mas também pode estar
associado ao condicionamento físico decorrido de uma alteração física, seja ela por idade, peso
ou maternidade.

2 FESTIVAIS DE MÚSICA

Pedro Américo, festivaleiro, citado no começo deste trabalho e também contribuinte


para o fomento desta pesquisa, é um exemplo do que foi exposto no capítulo acima. Ele esteve
presente em diversos eventos de música, e atravessou barreiras para desfrutar dos privilégios
em ser cidadão. Contudo, houve toda uma trajetória, tanto na qualidade de vida das pessoas
com deficiência como também no surgimento dos festivais de música, para que esta junção
fosse possível. Sendo assim, é relevante demonstrar o momento em que este tipo de festival
veio a ser germinado, além das suas devidas conceituações e características, lembrando dos
benefícios gerados aos adeptos desta nova concepção.
Os festivais de música tiveram grande impacto ao longo da história, principalmente
depois de grandes períodos de instabilidade social, momentos aos quais diversas sociedades,
com exceções, puderam aproveitar a vida de modo mais energético. “Foi só após a Revolução
Francesa, quando compositores passaram a gozar de prestígio artístico de forma cada vez mais
consolidada que o mundo viu surgir o primeiro festival em que a música era apresentada com
a finalidade de entretenimento” (BRITO, 2015, n.p., on-line). Consequentemente, muitos
franceses tiveram a oportunidade de experienciar a música como sinônimo de lazer, e assim
exercer os direitos defendidos após a queda da Bastilha, principalmente o da cidadania.
A partir disso, começaram a surgir alguns conceitos envolvendo este cenário. Em grande
parte dos trabalhos acadêmicos é possível encontrar assuntos sobre o tema “festival”.
Comumente, este fenômeno é ilustrado a partir de um espaço elaborado para oferecer
conhecimentos sociais e culturais. Possui como objetivo trazer ao público novos ou já
conhecidos artistas e estilos musicais (DE MELLO, 2003). Em uma destas definições, o qual
está ligado diretamente a música, os festivais de música são delineados, sem quaisquer
parâmetros competitivos, pela união e diálogo entre as diferentes classes.

[...] são momentos coletivos, que combinam arte, lazer e uma certa ideia de comunhão
do público. São também manifestações públicas que obedecem a um calendário
específico e envolvem um grande número de atores sociais (sejam eles artistas, crítica,
agências de turismo, prefeituras, estados ou agentes diplomáticos). Enfim, são
31

momentos festivos, que introduzem uma ruptura no cotidiano e criam espaços de


composição e/ou recomposição do corpo social (FLÉCHET, 2011, p. 258).

Os festivais de música ultrapassam os limites de uma simples forma de festejar aquele


devido momento na história de uma cidade/região/país. É também uma forma de enriquecer a
própria cultura por meio do encontro com as diferenças, são símbolos culturais (MANNING,
1983 apud CARVALHAL, 2014). Conforme Carvalhal (2014), este tipo de evento possui a
característica de ser um momento de significativa inclusão social. O mesmo autor enuncia que
os festivais de música “estão rapidamente a tornar-se num dos fenômenos culturais mais
importantes no quadro da cultura europeia” (CARVALHAL, 2014, p. 6). Assim sendo,
observa-se o grande impacto destes modelos festivos para a cultura.
Nestes espetáculos, o público pode ter a possibilidade de adquirir vivências únicas.
Segundo Getz (1991), os festivais de música realizam o papel de desenvolver sensações de
alegria, prazer e pertencimento. Estas celebrações também vieram a se tornar uma maneira pela
qual grupos adeptos a este tipo de evento conseguiram transformar ideologias (RUAS, 2013).
Exemplo disso, pode ser citado o Monterey Pop Festival24, Woodstock25 e Summer of Soul26,
movimentos contra a cultura de 1960, nos Estados Unidos. Depois disso, foram desenvolvidos
outros festivais do tipo, criados para transmitir ideias fundamentadas no amor, amizade e
música, como o Pol'and'Rock Festival, na Polônia (Figura 1).

24
“O Monterey Pop Festival mudou completamente a cultura dos Estados Unidos em diversos aspectos.
Culturalmente e politicamente, o país não seria mais o mesmo após o Verão do Amor. Aquela geração atingiu
um novo nível de ativismo e todos, em diversos aspectos, buscavam a própria liberdade – nas roupas, no sexo,
nas drogas e/ou na música. Essas transformações sociais iam no lado completamente oposto da política externa
do país, focada na interminável Guerra do Vietnã (1955-1975)” (MORAIS, 2017, on-line) .
25
“O Festival de Woodstock não é só um festival de música, seu significado é mais amplo, ele busca romper as
convenções habituais que para os jovens naquele momento não passavam de hipocrisias” (TELES, 1998, p. 21).
26
“O Festival não era apenas de música. A energia era indescritível. A maior mudança era nos cabelos. Tratava-
se de uma declaração política das comunidades preta e parda” (ESCOREL, 2022) .
32

Figura 1 - Pol'and'Rock Festival na Polônia27

Fonte: STARECAT, 201428.

De volta as visões acerca desta temática, festivais de música são um tipo de evento que
busca atender as necessidades emocionais dos participantes, proporcionando-lhes experiências
que envolvam momentos de felicidade por meio do convívio com os demais públicos
(QUEIRÓS, 2014). Desse modo, entende-se que este tipo de comemoração tem como objetivo
satisfazer os desejos do público, independentemente de sua característica física e psicológica,
o importante deste veículo de renovação é proporcionar experiência que atribua emoções
positivas aos seus participantes. Tem como possibilidade demonstrar que todos podem conviver
de modo equânime, dentro e fora desses ambientes.

Um festival pode ser considerado um espaço temporariamente coletivo de comunhão,


uma experiência compartilhada momentaneamente, a busca por uma fuga do
cotidiano, enfim, muitas são as definições para esta palavra cujo sentido remete a
celebração, festa e alegria (LONGO, 2019, p. 17).

Independente da utilização dos festivais como disseminador da música e,


consequentemente, das diferentes formas de expressões, estes ambientes possuem o poder de
fomentar diversas questões sociais em uma sociedade. Um estudo realizado na Inglaterra
elencou alguns dos benefícios gerados pela produção dos festivais de música, como ao ampliar

27
Para todos verem: em meio a uma multidão, um cadeirante está sendo suspendido no alto pelas demais
pessoas. O indivíduo é um senhor de barba longa e usa uma faixa vermelha no cabelo. Existem diversas
bandeiras sendo seguradas por alguns participantes ao fundo.
28
Disponível em: https://starecat.com/woodstock-2014-poland-wheelchair-guy/. Acesso em: 03 abr. 2022.
33

o envolvimento entre as diferentes culturas, aumentando o nível de respeito ao outro; atrair


turistas dos mais variados lugares; alavancar a imagem do local, tanto regional como
internacionalmente; e apresentar a região como um lugar agradável para desfrutar dos direitos
básicos, assim aumentando o nível de investimento no país, focando na qualidade de vida da
população destacada (REGIONAL DEVELOPMENT AGENCY, 2007).
Pode-se citar também outro festival de música que teve como consequência a
transformação na maneira como se organizam estas produções. O Ability Festival, na Austrália
(Figura 2), por exemplo, tem sido desenvolvido em prol da inclusão de pessoas com deficiência
nestes espaços, proporcionando aos PCDs total interação com o meio social neste espaço. Este
festival foi produzido pela Dylan Alcott Foundation & Untitled Group, organização que possui
como propósito o enriquecimento da qualidade de vida de jovens com deficiência, envolvendo-
os em atividades esportivas e proporcionando bolsas de estudo para esta comunidade (ALCOTT
FOUNDATION, 2022, on-line). A iniciativa não só se preocupa em entregar um festival
inclusivo, mas também desenvolve oportunidades fora deste ambiente.

Figura 2 – Ability Festival29

Fonte: Dylan Alcott Foundation, n. d.30.

29
Para todos verem: na imagem, duas pessoas em situação de cadeira de rodas dão as mãos para celebrar o
momento. De um lado está o produtor do festival Ability, do outro um jovem de fisionomia oriental. Ambos
expressam em seus rostos sentimentos de conquista. Ao fundo, três pessoas aplaudem a situação.
30
Disponível em: https://dylanalcottfoundation.com.au/our-mission/. Acesso em: 08 abr. 2022.
34

Estes momentos se tornaram ainda mais reconhecidos por conta dos avanços do
turismo. Ruas (2013) menciona a globalização como fenômeno responsável por atrair um maior
número de pessoas para um mesmo lugar. A autora relata que a possibilidade de acesso a
determinado local e facilidade de informações turísticas, facilita o envolvimento da sociedade
em determinado festival. A mesma pesquisadora destaca que tais eventos influenciam na
difusão de hospedagens alternativas, podendo ser citados os campings, e enfatiza que “os
festivais de música se afirmam cada vez mais como uma experiência proporcionada pelo
turismo e se aproximam (ou se une) ao fenômeno do turismo” (RUAS, 2013, p. 94).
Dessa maneira, esse tipo de produção seguiu rumos em direção a uma melhora dos
níveis de bem-estar de seus seguidores. Os festivais de música são, sobretudo, uma maneira de
unir as diversidades por meio do que se ouve e da dança, seja qual for a classe social daqueles
que comparecem nestes ambientes. A posteriori, este tipo de festividade é também uma forma
de aumentar a qualidade de vida de uma sociedade. Criam-se, com isso, uma nova ferramenta
de fomento à economia, além de criar possibilidade para que participantes das mais distintas
características e condições possam estar juntos, sem distinções sociais, seja qual for o tipo de
modelo organizacional do festival visitado.

2.1 TIPOLOGIA E CARACTERÍSTICAS DOS FESTIVAIS DE MÚSICA

Os festivais de música podem oferecer ao público diversos tipos de estilos musicais


distintos, como eletrônica, pop, rock, indie, jazz e entre outros. Dias (2012, p. 37) destaca que
“[...] existem os mais genéricos, sem um estilo de música dominante e atraindo diversos
públicos, ou podem ser eventos com um estilo musical marcante e com uma programação
criteriosa”. Os festivais de música se destacam conforme os estilos musicais apresentados,
atraindo, às vezes, somente pessoas com gostos específicos, ou, na maioria dos festivais que
aqui serão apresentados, diversos visitantes com as mais distintas preferências musicais e
demais desejos pessoais e/ou coletivos. Nem sempre a arte é o fator primordial de motivação.
Dentre isso, também existem particularidades espaciais a serem lembradas e exaltadas
nesta pesquisa. Ruas (2013) destaca algumas atrações que têm sido exploradas nos espaços
onde acontecem tais festividades, como “rodas gigantes, montanhas russas, praças de
alimentação, áreas de descanso compostas por pufes, espaço de interação com patrocinadores,
dentre muitos outros” (RUAS, 2013, p. 109). Mediante o exposto, os festivais de música são
uma fonte inesgotável de experiências que ultrapassam até mesmo o campo da própria música,
35

mesmo sendo a ferramenta principal na criação destes momentos festivos. Quiçá um dia até ela
própria desapareça, dando espaço a novas formas de celebrações.
Os “festivas”, gíria utilizada pelo grupo que frequenta festivais de música eletrônica,
oferecem ao público uma experiência única a partir de um só lugar. Estes eventos são marcados
pela possibilidade de experimentar inúmeras sensações e emoções provindas pelas atrações e
pelo contato com aquilo e aqueles que possibilitam a oportunidade de dividir o mesmo
sentimento, principalmente para quem quase nunca possui a oportunidade de viver distante de
obstáculos. Às vezes, a melhor maneira de se sentir pertencente é estando em lugares onde o
objetivo principal é baseado no sentimento que se apresenta naquele instante.
Os festivais de música podem ser realizados em diferentes localidades, já que na sua
grande maioria estas produções buscam a excentricidade, fazendo com que cada qual possua
uma característica fundada no que se pretende entregar ao público. Alguns prezam pela
tranquilidade proporcionada pela natureza, já outros enxergam nas metrópoles o ambiente
perfeito para explorar a harmonia provocada pela música e a união entre o público com maior
atração aos eventos urbanos. Independentemente disso, os locais escolhidos para sediar um
festival se modificam conforme os avanços da humanidade.

[...] não existe um molde ou um local ideal para a realização de festivais, tendo em
vista que dentre os citados muitos deles aconteceram em fazendas e parques, mas
também em ilhas e praias isoladas e em espaços criados para eventos, como
autódromos e estádios. Em sua maioria, os festivais são realizados em áreas isoladas
e mais afastadas de grandes centros urbanos. Infere-se que isto se justifica pela
necessidade de “privacidade” para realizar o festival e para criar o ambiente ideal para
sua realização, como também para não invadir a “privacidade” dos que não estarão
presentes (RUAS, 2013, p. 93).

A maioria dos responsáveis pela criação dos festivais de música optam pela
tranquilidade, a fim de gerarem mais relaxamento para o público, além de poderem
proporcionar aos participantes locais um local onde seja possível acampar. “A preferência por
zonas rurais e espaços verdes, onde seja possível acampar no mesmo local do festival,
caracterizam grande parte dos festivais de música actuais (sic)” (DIAS, 2012, p. 36). Desse
modo, grande parte dos festivais ocorrem em ambientes onde a natureza e a música são destaque
para aqueles que desfrutam da harmonia entre ambos fatores. Festivais conhecidos pelo termo
outdoor ou, nacionalmente, ao ar livre, são estilos estruturais utilizados por muitos festivais.
Os festivais também podem ser caracterizados conforme o público. Stone (2009)
destaca que os festivais de música podem ser desenvolvidos com o objetivo de captar um grande
número de pessoas (mainstream), ou apenas um grupo específico. No geral, estes eventos são
procurados por grupos sociais diversificados, pessoas das mais distintas culturas costumam
36

fazer parte destas iniciativas (GETZ, 1991). O público é atingido com base nos produtos e
serviços oferecidos pelos produtores, ou apenas pelo fato da influência do marketing na
sociedade, a qual promete momentos únicos de confraternização.
Além disso, estes ambientes divergem pela quantidade de palcos e atividades que
possuem (DIAS, 2012). Tais eventos podem possuir vários palcos ou tendas, cada um com
programação segmentada e contínua (multivenue), ou funcionarem com apenas um palco (one-
track). Por fim, estes eventos também podem incluir outras modalidades do campo das artes
como teatro, dança, circo, entre outros. Com isso, formas artísticas diversificadas são essenciais
para o acontecimento dos festivais, uma vez que, como dito, em muitas ocasiões, não só de
artistas musicais se constroem um festival deste tipo, mas também de dançarinos, atores,
pintores, acrobatas, artesãos, etc.
Os festivais de música podem acontecer em diferentes períodos do ano. Para a maioria
dos produtores, o verão é a estação do ano de maior interesse, uma vez que grande parte destes
eventos são realizados normalmente em estilo outdoor. Dias (2012) explica que as condições
climáticas proporcionam ao ambiente noites mais frescas e dias mais longos, com isso
proporcionam aos participantes experiências mais agradáveis. Além disso, de acordo com o
mesmo autor, o verão costuma ser o momento das férias, oferecendo, assim, condições para
viajar até o local do festival. Tais eventos acontecem preferencialmente nos finais de semana,
a fim de, inclusive, possibilitar a participação de moradores locais (PIEDBOEUF, 2006).
Entre a enorme gama de maneiras de desenvolver eventos de música, existem focos
para diferentes quantidades de participantes, podendo ser direcionados para um pequeno
número de pessoas, sendo estes os festivais locais, e também aqueles que contam com a
presença de milhares de visitantes, sendo os festivais globais e internacionais, como o Rock in
Rio e Lollapalooza. Desse modo, estes ambientes podem ter visibilidade em todos os cantos do
mundo ou apenas em um lugar específico, o que não diminui sua importância para os integrantes
do então festival. Grande parte destas produções visam principalmente o lucro, deixando de
lado a qualidade na experiência do público.
Para melhor abordar esta questão, tento desviar ao máximo dos festivais que possuem
como foco principal o lucro e não os princípios da solidariedade, igualdade e liberdade. Levo
em consideração algumas das particularidades essenciais aos festivais que contam com enorme
número de festivaleiros, tendo como parâmetros os eventos que aconteçam por mais de um dia
e que tenham características de um megaevento, ou seja, “aqueles cuja magnitude afeta
economias inteiras e repercute na mídia global” (ALLEN et al, 2003, p. 6). Tenho como eixo
37

de análise os festivais que combinem cultura e lazer no mesmo espaço, explicando de maneira
clara as práticas inclusivas das celebrações apresentadas.

2.1.1 Rock in Rio

JANEIRO DE 1985. Freddie Mercury regendo mais de 250 mil pessoas enquanto
tentava cantar "Love of my lite". O trovejante baixo de Chris Squire, do YES, que
fazia tremer o descampado da Cidade do Rock, em Jacarepaguá. O esporro de Herbert
Vianna, dos Paralamas do Sucesso, na plateia que jogou pedra em Erasmo Carlos na
noite de abertura do Rock in Rio. No dia da eleição de Tancredo Neves, o pedido de
Cazuza para que o dia nascesse feliz para o Brasil. Ozzy Osbourne se despindo do
rótulo de Príncipe das Trevas ao vestir uma singela camisa do Flamengo e cantar os
velhos sucessos do Black Sabbath. Rod Stewart, encharcado de chuva, interpretando
"Sailing" (CARNEIRO, 2011).

E assim aconteceu o primeiro Rock in Rio (RiR) da história. Administrado e fundado


por Roberto Medida, este momento contou com a presença de diversos artistas, como Cazuza
da banda Barão Vermelho (Figura 3), Queen, Secos e Molhados, entre outros. Depois disso,
várias outras edições foram realizadas, e cada vez mais era visível o seu crescimento na
indústria do entretenimento, tanto da região como do país. O evento em questão passou por
muitas transformações, resistindo até os dias atuais, realidade em que se mostra ainda mais
envolvente com a sociedade. Atualmente, o RiR possui edições em Portugal (Lisboa), Estados
Unidos (Las Vegas) e Espanha (Madrid).
Desde a sua inauguração, a iniciativa não teve datas marcadas. Da primeira (1985) à
segunda edição (1991) foram cinco anos de espera. A terceira (2001), em desagrado com o
anseio do público, demorou dez anos para ser celebrada (CARNEIRO, 2011). Mesmo tempo
aguardado para a quarta, ocorrida em 2011. Todavia, para a felicidade dos brasileiros e
estrangeiros, a partir da quinta edição (2013), o Rock in Rio passou a funcionar bienalmente.
Por conseguinte, tivemos a sexta edição em 2015, a sétima em 2017, e a oitava no ano de 2019.
Este novo modelo de datas foi interrompido somente após a pandemia causada pelo SARS-
CoV-2. A próxima celebração foi marcada para o segundo semestre de 2022.
38

Figura 3 – Banda Barão Vermelho no Rock in Rio de 198531

Fonte: Jornal Extra, 201532.

As primeiras edições foram arquitetadas na então “Cidade do Rock”, localizada em


Jacarepaguá, bairro do município do Rio de Janeiro. O espaço foi construído exclusivamente
para sediar o festival, em 1985 (CARNEIRO, 2011). Em 1991, o festival foi celebrado no
estádio de futebol Maracanã, uma vez que o espaço sede havia sido demolido pelo Governador
Leonel Brizola. Contudo, mesmo distante do lugar estabelecido para sua execução, muitos
participantes conseguiram se divertir. Em 2011, o antigo local foi restabelecido e voltou a
receber o evento. Já em 2017, o espetáculo foi transferido para o Parque Olímpico, na Barra da
Tijuca, localidade a qual tem sido palco do Rock in Rio desde então.
A edição do Rock in Rio no Brasil é desenvolvida durante dois finais de semana dos
meses de setembro e outubro, podendo variar a data conforme as necessidades do público e
organizadores, os quais buscam se atentar às previsões climáticas. No primeiro final de semana,
os portões são abertos na sexta-feira, e no segundo na quinta-feira, encerrando o evento no
domingo com uma enorme queima de fogos, momento ao qual ocorre em todos os dias desta
produção, logo após o encerramento dos shows no palco principal. O evento ainda continua,
contudo, apenas com atrações com foco na música eletrônica. Ao final é aberta uma área VIP,
onde as pessoas ainda podem festejar até o amanhecer.

31
Para todos verem: na imagem, Cazuza, da banda Barão Vermelho, segura o microfone enquanto canta no Rock
in Rio de 1985. Cazuza veste uma regata azul e utiliza de uma gravata vermelha, juntamente ao uso do acessório
que o caracteriza: uma faixa segurando seu cabelo cacheado. Ao seu lado está Roberto Frejat tocando seu
instrumento musical, vestindo uma camiseta amarela.
32
Disponível em: https://extra.globo.com/tv-e-lazer/nos-30-anos-do-rock-in-rio-relembre-30-momentos-
marcantes-do-festival-15006851.html. Acesso em: 25 jun. 2022.
39

Durante a montagem dos equipamentos do projeto em análise são estruturados


diversos espaços de interação. A projeção do Rock in Rio ultrapassa as idealizações esperadas
pelos públicos das gerações passadas, atualmente este festival é considerado uma das maiores
plataformas de experiências do mundo (COSTA; IGREJA, 2019). No decorrer dos dias que
acontecem este marco na história do entretenimento brasileiro, é possível desfrutar de roda
gigante, tirolesa e diversos palcos, sendo o principal conhecido como Mundo, além do Sunset,
Street Dance e o New Dance Order, cada um voltado para um estilo musical específico.

Figura 4 – Mapa do Rock in Rio 201933

Fonte: Portal de notícias da Globo – G1, 201834.

No Rock in Rio, o participante tem ao seu dispor diversos serviços, como área de
alimentação, loja oficial e diversas ativações de marcas, sendo cada edição patrocinada por
diferentes empresas. “Em 2019, a Cidade do Rock tinha 17 áreas com atrações variadas,
incluindo as 3 arenas olímpicas, 9 palcos e ruas temáticas” (ROCK IN RIO, 2022, on-line).
Espalhados pelo espaço do evento, as pessoas podem encontrar ambulantes que vendem chopp,
balas e cigarros. Além disso, por todo o Parque Olímpico é viável localizar vários funcionários
do evento que estão ali para fazer a gestão de público, informando e ajudando a facilitar os
deslocamentos dos festivaleiros.

33
Para todos verem: No mapa é possível localizar todas as atrações do festival Rock in Rio. Ao fundo o palco
mundo, e ao seu lado o sunset. No meio está localizada a roda gigante, e logo no início as demais atrações, como
a arena olímpica e o palco New Order.
34
Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/rock-in-rio/2019/noticia/2018/11/10/rock-in-rio-2019-
divulga-mapa-e-aumenta-area-do-evento.ghtml. Acesso em: 20 abr. 2022.
40

Entre os diversos serviços disponíveis, a preocupação com as pessoas com deficiência


é um ponto chave para a qualidade deste festival. No RiR, é possível encontrar uma equipe de
apoio responsável por entregar estratégias que auxiliem os PCDs a usufruírem dos mesmos
serviços e produtos oferecidos para os demais públicos. Mesmo que esta atitude seja um ponto
a favor, é importante dizer que este setor é formado por voluntários que se dispõem a contribuir
para o desenvolvimento do evento, e por isso nem todos possuem as qualificações necessárias.
Contudo, alguns conhecem empiricamente os obstáculos presentes na vida da classe atendida,
como é o caso da Julia, contribuinte para o desenvolvimento desta pesquisa.
Algumas informações obtidas ajudam na confirmação, em parte, deste festival
enquanto facilitador de acesso e inclusão de pessoas com deficiência. A priori, dados não
publicados35 do Rock in Rio (2019) informam que diversos integrantes, com as mais distintas
condições físicas e/ou psicológicas, foram atendidos pela equipe de apoio aos PCDs. Abaixo
alguns números referentes a quantidade de pessoas que estão ligadas a este grupo, e que
participaram da edição de 2019 (Figura 5). Nem todas possuem uma deficiência em si, porém
precisam igualmente de maior atenção por conta das suas condições físicas, dadas pela idade,
peso ou gestação, sendo estas denominadas como pessoas com mobilidade reduzida.

Figura 5 – Dados do Rock in Rio 201936

Fonte: Material enviado por e-mail (2019)37.

35
Os dados foram adquiridos após um pedido por e-mail ao coordenador da área de apoio à pessoa com
deficiência do Rock in Rio 2019, como consta no apêndice A.
36
Para todos verem: Painel com tons de azul escuro e preto com letreiros brancos que anunciam o quantitativo
de cadastro das pulseiras de ingresso.
37
Material enviado por e-mail pelo coordenador da equipe de auxílio às pessoas com deficiência do Rock in Rio.
41

Outros números também informam os serviços prestados e suas respectivas utilizações.


Os kits livres38 (Figura 6) refere-se a cadeira de rodas motorizadas, tecnologia assistiva que
possibilita que o utilizador possa circular livremente pelos espaços disponibilizados ao público,
lembrando que liberdade não quer dizer que o sujeito terá condições para acessar os espaços. A
solicitação desta ferramenta, nos anos passados, era realizada presencialmente no posto de
acessibilidade, encontrado apenas no dia do evento, o que dificultava fazer uma reserva para as
pessoas com deficiência que realmente necessitam deste objeto.

Figura 6 – Kit Livre do Rock in Rio 201939

Fonte: Blog Casadaptada, 201940.

Neste ambiente também é passível de serem encontrados plataformas elevadas,


estruturas arquitetadas próximo a quase todos os palcos, menos ao de música eletrônica, única
atração após a última apresentação no palco conhecido pelo nome “mundo”. Nestas estruturas,
apenas pessoas com deficiência podem acessar, sendo possível ser acompanhados por um
amigo de escolha, o que não favorece muito a experiência do festivaleiro, caso ele esteja junto

38
“Trata-se de uma “motinha”, nas palavras do diretor de marketing da empresa Kit Livre, Cassius Oliveira, que
é acoplada à cadeira de rodas. Com motor capaz de alcançar até 60 km/h – os itens vendidos são limitados para
chegar a no máximo 20 km/h – e com diferentes tipos de pneus, o equipamento é capaz de andar na areia, subir e
descer escadas e é usado até para fazer manobras radicais pelos cadeirantes” (FIALHO, 2018, on-line).
39
Para todos verem: Na imagem uma cadeira motorizada, e atrás dela o letreiro do Rock in Rio.
40
Disponível em: https://casadaptada.com.br/2019/09/rock-in-rio-tera-interprete-de-libras-vans-adaptadas-e-
espaco-pcd/. Acesso em: 01 out. 2021.
42

a diversas outras pessoas. O visitante acaba tendo que optar pelo espaço ou presença de todos
os colegas, o que não é uma situação muito inclusiva.
Além disso, pessoas com mobilidade reduzida (PMR) também obtiveram as devidas
necessidades atendidas, isto é, tiveram auxílios de acordo com aquilo que sugeriram ser melhor
para eles. Esta parcela às vezes também faz uso da cadeira de rodas, uma vez que nem toda
pessoa em situação de cadeira de rodas possui perda total do controle dos membros inferiores
(BRASIL, 2015, p. 55). Em alguns casos, o indivíduo faz uso desta ferramenta por
consequência de uma condição temporária, ou por não ter energia suficiente para circular o
tempo todo de maneira autônoma, ou seja, sem a ajuda de uma tecnologia assistiva. Ao todo
foram atendidas cerca de duas mil pessoas (Figura 7).

Figura 7 - Média de atendimentos a PCDs no Rock in Rio de 201941

Fonte: Material enviado, 2019.

Diferentemente de alguns festivais de música, o Rock in Rio busca proporcionar, de


certa forma, experiências igualitárias. Entre os elementos de inclusão e acessibilidade, a
organização também oferece determinados serviços (Figura 8). A produção se esforça para
atender as expectativas de pessoas que possuam outros tipos de deficiências, como auditiva,
pela criação do espaço “sinta o som”42, espaço que conta com intérprete de libras, e também

41
Para todos verem: Painel com tons de azul escuro e preto com letreiros brancos que anuncia a média de
atendimentos a PCDs no Rock in Rio.
42
“A plataforma é voltada para o público com deficiência auditiva. Fica próxima do Palco Mundo, trazendo a
vibração das caixas para que a música seja sentida em suas diversas formas” (ROCK IN RIO, 2022, on-line).
43

visuais, por meio do aplicativo Veever43 e piso tátil (ROCK IN RIO, 2022, on-line). Outrossim,
os participantes podem ir ao festival trazendo consigo um cão guia, o que facilita a sua
locomoção dentro do festival.

Figura 8 – Quantidade de pessoas que usaram cada serviço presente no Rock in Rio de 201944

Fonte: Material enviado, 2019.

Em adição às informações obtidas, esta celebração também registrou a quantidade de


atendimentos prioritários nas atrações do evento, como a tirolesa, a roda gigante e o Mega Drop.
Contudo, nem todos os atrativos disponíveis são acessíveis e inclusivos. O Rock in Rio conta
também com uma montanha russa; porém, não possui acessibilidade às pessoas em situação de
cadeira de rodas, sendo por isso o motivo de não estar presente na imagem (Figura 9). O
brinquedo, em uma das edições, havia sido patrocinado pelo posto Ipiranga. Todas as outras
atrações foram patrocinadas por empresas, como Heineken, banco Itaú e Doritos.

43
Através do AppVeever, disponibilizamos em 2019, pela primeira vez em um festival, o serviço de
microlocalização para pessoas com deficiência visual, onde através da tecnologia de beacons o espectador acessa
o App que fornece informações para orientação dentro da cidade do rock. O App também informará através de
audiodescrição as estruturas do Rock in Rio.
44
Para todos verem: Painel com tons de azul escuro e preto com letreiros brancos que anuncia a quantidade de
pessoas que usaram cada serviço presente no Rock in Rio.
44

Figura 9 – Atendimento prioritário dos brinquedos no Rock in Rio de 201945

Fonte: Material enviado, 2019.

Dentro do festival, os participantes conseguem encontrar diversas outras atrações


temáticas. Cada edição possui diversos patrocinadores, assim como os citados no parágrafo
acima. Os stands (ativação de marca) ficam espalhados ao longo de todo o espaço do Parque
Olímpico, e cada qual possui uma dinâmica diferente. Com isso, é válido destacar também que
dentre a acessibilidade construída dentro do evento, existem divergências, uma vez que cada
marca fica responsável pela estrutura cedida pela produção, devendo a eles proporcionar
inclusão ou, em alguns casos, exclusão.
Sendo assim, mesmo atingindo um número enorme de telespectadores, o Rock in Rio
ainda não pode ser considerado um lugar de total inclusão e acesso às pessoas com deficiência
(Figura 10), mas as tentativas em fazê-lo um ambiente onde todos possam usufruir dos mesmos
direitos é algo a ser considerado. Neste evento, pessoas com as mais distintas características
vivenciam um momento de muita harmonia; porém, sem tanta liberdade de acesso aos espaços
oferecidos ao público em geral, já que alguns serviços prestados pela produção não oferecem
acessibilidade e inclusão a todos.

45
Para todos verem: Painel com tons de azul escuro e preto com letreiros brancos que anuncia o quantitativo de
atendimentos prioritários dos brinquedos no Rock in Rio.
45

Figura 10 – Pessoa em situação de cadeira de rodas no Rock in Rio46

Fonte: Ivo Gonzalez/Agência O Globo, 201947.

Ainda é importante exaltar os impactos deste festival para a sociedade. A edição


brasileira, em 2022, veio a se tornar Patrimônio Cultural Imaterial da Cidade Maravilhosa
(ROCK IN RIO, 2022, on-line). Com isso, é de se imaginar sua relevância para o
desenvolvimento do município do Rio de Janeiro, o qual colhe diretamente os benefícios deste
evento. Segundo pesquisas realizadas pela Faculdade de Turismo e Hotelaria (FTH) da
Universidade Federal Fluminense (UFF), na edição do Rock in Rio de 2015, do total de
participantes, cerca de 3,7% tiveram como motivação de viagem, não o evento em si, mas
conhecer a cidade, mostrando assim o impacto deste evento no setor turístico.

A cada edição atraímos para o Rio turistas do Brasil e do mundo! Eles movimentam
hotéis, restaurantes, bares, visitam pontos turísticos, esticam a viagem por todo o
estado. Por conta disso, mais postos de trabalho são abertos gerando mais qualidade
de vida para quem vive aqui. Para você ter uma ideia, em 2019, o impacto econômico
no Rio foi de 1.7 bilhão de reais (ROCK IN RIO, 2022, on-line).

O Rock in Rio, além de movimentar a economia do país, contribui no fomento a


visibilidade para a indústria brasileira de entretenimento. Influencia em todas suas edições

46
Para todos verem: na imagem jovem em cadeira de rodas é erguido no show da banda O Surto. Em meio à
multidão, o jovem veste uma camisa preta, e sinaliza com a mão o gesto ligado ao rock.
47
Disponível em: https://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-acervo/post/voce-foi-veja-imagens-do-publico-
durante-edicoes-de-1991-e-2001-do-rock-rio.html. Acesso em: 20 abr. 2022.
46

turistas de diversas partes do mundo (Figura 11). Conforme a mesma pesquisa citada acima,
entre os festivaleiros da celebração de 2015, estavam presentes colombianos, chilenos,
mexicanos, argentinos, alemães, americanos, canadenses, entre outros. A difusão da imagem
deste evento, facilita, assim, futuros investimentos nacionais e internacionais em setores que
estejam envolvidos com este mercado, principalmente no ramo da hotelaria e turismo, que estão
diretamente ligados na recepção de turistas para este festival.

Figura 11 – Audiência do Rock in Rio ao redor do mundo48

Fonte: Viberate Analytics, 202249.

A visibilidade deste festival é imensa, por meio dela é possível intensificar e


desenvolver todo um sistema voltado para a inclusão de classes socioecnomicamente
prejudicadas. O Rock in Rio é transmitido até mesmo por uma das maiores emissoras de
televisão do país – a Rede Globo. Assim sendo, percebe-se a importância deste festival tanto
para a economia do país, como também para o processo de reconhecimento das pessoas com
deficiência enquanto cidadãos. Esta realidade é similarmente válida a outros eventos do tipo
que acontecem no Brasil, um exemplo que ainda está a florescer é o Lollapalooza, sediado na
cidade da Garoa - SP.

48
Para todos verem: na imagem a representação de todos os países, sendo alguns, como Austrália, Brasil,
Áustria, México, Alemanha, Estados Unidos e Canadá, marcados com cor azul.
49
Disponível em: https://www.viberate.com/festival/rock-in-rio-brazil/analytics. Acesso em: 20 abr. 2022.
47

2.1.2 Lollapalooza50

Como dito, existem também outros festivais de música análogos ao Rock in Rio, como
é o caso do Lollapalooza, apelidado carinhosamente pelo nome Lolla. Este evento foi criado
em 1991 pela banda Jane's Addiction, em um momento em que o mesmo grupo decidiu realizar
uma turnê de despedida. Nesta iniciativa, duas outras bandas se juntaram às apresentações que
seriam feitas ao redor dos Estados Unidos (CARELI; HORA; ANDRADE, 2019). Os mesmos
autores indicam que “o festival se tornou um dos principais eventos do verão estadunidense nos
anos 90”, perpetuando até os dias atuais.
A celebração em questão não possuía um determinado lugar para ser realizado, era
conhecido por ser um festival de música itinerante até 1997. Em 2005, o Lollapalooza se fixou
em Chicago, no Grant Park (DA SILVA; COLANTUONO, 2018). Depois disso, houve
realizações deste mesmo evento em diversas capitais, como São Paulo (Brasil), Santiago
(Chile), Buenos Aires (Argentina), Berlim (Alemanha), Estocolmo (Suécia) e Paris, na França.
Sendo assim, atualmente este festival continua sendo realizado, ao todo, em sete países
(LOLLAPALOOZA, 2022, on-line), divididos entre dois continentes – América e Europa.
No Brasil, a primeira edição do Lollapalooza foi realizada em 2012, e teve como sede
o município de São Paulo, mais especificamente no Jockey Club, localizado no bairro Cidade
Jardins. Por ali, também já passaram diversos artistas nacionais e internacionais, como Iza,
Criolo, Emicida (Figura 12), Djonga, Pabllo Vittar, Detonautas, Gloria Groove, Vintage
Culture, Red Hot Chili Peppers, Lana Del Rey, Miley Cyrus, Pharrell Williams, Pearl Jam e
entre outros (G1, 2022, on-line). São diversos estilos musicais representados durante as
realizações deste evento musical, cada qual possuindo as suas peculiaridades.

50
“O nome do festival Lollapalooza “tem origem de uma expressão americana que possui dois significados:
“Algo e/ou alguém excepcional e/ou maravilhoso’’ e “Um pirulito em espiral gigante’’, que se tornou o primeiro
logo oficial do festival” (CARELI; HORA; ANDRADE, 2019, p. 65).
48

Figura 12 – Emicida no Lollapalooza de 202251

Fonte: Calazans e Nascimento/Yahoo, 202252.

No ano de 2022, o festival foi organizado pela GEO Eventos. Já a partir de 2014, o
projeto se tornou responsabilidade da produtora Time for Fun (T4F), sendo, desta vez,
organizado dentro do Autódromo de Interlagos, localidade também pertencente à região
paulista (CARELI; HORA, ANDRADE, 2019). O local é de fácil acesso saindo da capital e
regiões metropolitanas, o espaço pode ser acessado por meio de linhas regulares de ônibus
especiais, trem (linha 9 - Esmeralda) e carro, posto que há estacionamento privado
disponibilizado pelo parque a todos que tenham adquirido o ticket que dá direito a vaga
(OLIVEIRA, 2022, on-line), no caso, pessoas com deficiência.
O Lollapalooza acontece durante dois dias ininterruptos, cada qual se iniciando durante
a tarde e encerrando na madrugada do dia seguinte. O mapa (Figura 13) deste festival é bastante
diversificado. Possui atrações das mais diferentes marcas, posto médico, caixas eletrônicos,
centros de alimentação, pontos de informações, loja própria, foodtrucks, roda gigante,

51
Para todos ver e saberem: na imagem, em ano de eleição, o artista Emicida realiza um gesto de negação contra
o atual governo, o qual, por meio do decreto nº10.502/2020, e tantos outros retrocessos na área da acessibilidade
e inclusão, acredita ser pertinente a criação de classes e instituições especializadas para atender pessoas com
deficiência, segregando, assim, estas pessoas.
52
Disponível em: https://br.vida-estilo.yahoo.com/emicida-abre-show-no-lollapalooza-brasil-com-bolsonaro-vai-
tomar-no-c-222723163.html. Acesso em: 01 maio 2022.
49

kamikaze53 e slackline54. Na edição de 2022 o espaço contou com quatro palcos (Palco Perry’s
by Doritos, Budweiser, Onix e Adidas), sem mencionar o Lolla Lounge, ambiente reservado
para aqueles que desejam fugir da agitação para relaxar.

Figura 13 - Mapa do Festival Lollapalooza de 2018 no Autódromo de Interlagos55

Fonte: Portal de notícias da Globo – G1, 201856.

Há dentro deste ambiente, assim como no RiR, setores de atendimento voltados para
pessoas com deficiência, junto a alguns serviços que tentam equalizar a experiência deste

53
“A atração possui duas gôndolas que fazem movimentos idênticos e simultâneos para ambos os lados.Seus
giros chegam a ser de 360º e em alguns momentos ele chega a parada completa de cabeça para baixo” (PARQUE
MARISA, 2022, on-line).
54
“O Slackline é um esporte que consiste em equilibrar-se em cima de uma fita de nylon, estreita e flexível,
suspensa entre dois pontos fixos” (MESQUITA JUNIOR).
55
Para todos verem: Na imagem, o mapa do Lollapalooza de 2018. Nele, estão todos os serviços disponíveis
dentro do Autódromo de Interlagos.
56
Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/lollapalooza/2018/noticia/mapa-do-lollapalooza-2018-
festival-divulga-posicao-dos-palcos-e-atracoes.ghtml. Acesso em: 12 abr. 2022.
50

mesmo nicho. A edição de 2022 contou com determinadas estratégias, como portões de acesso
dedicados a estes participantes, carrinho de golfe para ajudar em seus deslocamentos (Figura
14), plataformas elevadas e equipamentos motorizados (FOLHA, 2022, on-line). Ademais, a
produção se preocupou em contratar intérpretes de Libras e compras de ferramentas de
audiodescrição para grupos com deficiência auditiva. A contratação destes trabalhadores não
se dá de forma voluntária.

Figura 14 – Carro de Golfe acessível no festival Lollapalooza57

Fonte: Acervo enviado pelo entrevistado Pedro Américo, 2022.

Todavia, mesmo encontrando tais informações relacionadas aos serviços que estariam
dispostos para o público PCD, na maioria dos assuntos comentados na internet, o que mais
faltou foi o comprometimento na qualidade do que havia sido prometido. Por exemplo, por
conta de o terreno possuir relevos e declínios (Figura 15), as cadeiras de rodas, mesmo que
motorizadas acabavam por não ser capaz de realizar suas devidas funcionalidades. O terreno já
não parecia muito adequado para receber esta parcela da população, e os serviços na área da

57
Para todos verem: na imagem, Pedro Américo, contribuinte desta pesquisa, se acomoda com a ajuda de um
funcionário do Lollapalooza no carrinho de golf acessível do evento. Do lado de fora do veículo, o motorista
aguarda o procedimento.
51

acessibilidade não foram suficientes para impedir estes obstáculos. Com isso, deve ser
destacado a importância na qualidade deste festival para a sociedade.

Figura 15 – Lollapalooza no Autódromo de Interlagos58

Fonte: Portal de notícias da Globo – G1, 202259.

Assim sendo, é preciso lembrar o impacto deste festival para o setor de entretenimento
do país, e a necessidade de promover a inclusão de todos os povos. De acordo com Careli, Hora
e Andrade (2019), a antepenúltima edição do Lolla, ocorrida em 2017, contabilizou cerca de
190 mil pessoas (100 mil no sábado e 90 mil no domingo). Já na sua penúltima realização,
segundo os mesmos autores, em 2018, desta vez ocorrendo durante três dias consecutivos,
aproximadamente 300 mil pessoas passaram pelo Autódromo de Interlagos. Este evento reúne
pessoas das mais distintas nacionalidades (Figura 16). É de se esperar que este acontecimento
atinja consideravelmente a economia.

58
Para todos verem: A imagem mostra uma parte do espaço do Autódromo onde é sediado o Lollapalooza. Ao
fundo, o palco principal e as edificações que compõem a cidade de São Paulo.
59
Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/lollapalooza/2022/noticia/2022/03/24/lollapalooza-
2022-preparativos-finais-do-festival-no-autodromo-de-interlagos-fotos.ghtml. Acesso em: 28 de jun. de 2022.
52

Figura 16 – Pessoa em situação de cadeira de rodas com bandeira do Chile no Lolla60

Fonte: Piero Paglarin/Revista Sobreviva em São Paulo, 2020 61.

Em 2013, segundo o Observatório de Turismo e Eventos da Cidade de São Paulo,


núcleo de estudos e pesquisas da empresa municipal São Paulo Turismo (SPTuris), o evento
trouxe uma arrecadação de aproximadamente R$ 60 milhões para o setor de turismo (apud
MATSER, 2022, on-line). Na edição do Lollapalooza de 2022, a celebração movimentou cerca
de R$ 421,8 milhões na capital paulista, sendo, deste total, R$ 123 milhões gastos apenas pelos
turistas (apud LHA, 2022, on-line). Nesta pesquisa também foi destacado que 97% dos
participantes devem continuar apoiando o festival, mostrando, com isso, a importância e
potencialidade desta iniciativa para os próximos anos.
Outros dados também confirmam a força deste evento para o turismo. Segundo João
Paulo Amorim, da Associação Brasileira de Hostels, “É o evento que atrai mais gente para a
hotelaria, mais que Réveillon, Carnaval, que qualquer outra data mesmo” (AMORIM apud G1,
2017, on-line). O Lollapalooza possui influência no turismo, mobilizando diversos outros
continentes. Tem como audiência (Figura 17) países como Austrália, Estados Unidos, Inglaterra

60
Para todos verem: Na imagem está uma festivaleira em situação de cadeira de rodas motorizada no
Lollapalooza. Ela suspende um copo, e na sua tecnologia assistiva encontra-se uma bandeira do Chile. Ao fundo
o letreiro com o nome do evento.
61
Disponível em: https://www.sobrevivaemsaopaulo.com.br/2020/01/acessibilidade-no-lollapalooza-brasil-
2020/. Acesso em 22 de jun. de 2022.
53

e diversos estados brasileiros. A visibilidade deste evento é enorme, e possui o poder de


alavancar a fonte de renda de muitos setores que estejam de alguma maneira interligados.

Figura 17 – Audiência do Lollapalooza ao redor do mundo62

Fonte: Viberate analytics, 202263.

Assim, como o Rock in Rio, o Lollapalooza atrai olhares de muitas partes do mundo,
movimenta durante um final de semana diversos setores pertencentes aos meios de renda da
industria brasileira. O impacto deste evento é bastante significativo para o município de São
Paulo. E tem a possibilidade de influenciar em questões relacionadas aos direitos das pessoas
com deficiência, sendo exemplo ao disponibilizar recursos que envolvam o público como um
todo nesta celebração. As empresas de turismo desta cidade também podem aproveitar para
captar turistas que fazem parte do grupo de pessoas com deficiência, a fim de ampliar o público
que consuma os seus serviços e produtos.

62
Para todos verem: Na imagem é possível visualizar o mapa mundi. Nele está selecionado os principais países
que fazem parte da audiência do Lollapalooza, como Austrália, Brasil, Áustria, México, Inglaterra e Estados
Unidos.
63
Disponível em: https://www.viberate.com/festival/lollapalooza-brasil. Acesso em 20 de jun. de 2022.
54

3 FLUXO TURÍSTICO PELA CULTURA E MÚSICA

Entre o laço formado pela comunidade de pessoas com deficiência e festivais de


música, existe um fenômeno essencial para que esta união venha a funcionar: o turismo. Este
se articula como veículo fundamental para obtenção de conhecimentos. É o intermediador
principal para o sucesso deste vínculo. Sem ele, nem mesmo PSDs conseguiriam participar de
celebrações festivas, como as que aqui foram citadas: Rock in Rio, Lollapalooza e aqueles
mencionados superficialmente. Dessa forma, para explorar melhor este assunto, realiza-se a
contextualização dos temas envolvidos nesta junção, como o turismo pela ótica da busca por
enriquecimento da própria cultura, e festivais enquanto uma segmentação de evento.

3.1 TURISMO CULTURAL

Primeiramente, para relacionar melhor as temáticas envolvendo esta parte da


monografia, é imprescindível que haja a devida conceituação a respeito de turismo e cultura.
Em vista disso, de acordo com a Organização Mundial do Turismo, “[...] o turismo é um
fenômeno social, cultural e econômico, que envolve o movimento de pessoas para lugares fora
do seu local de residência habitual, geralmente por prazer” (NACIONES UNIDAS / UNWTO,
2008, p. 1, grifo nosso). A mesma entidade acrescenta ao entendimento deste fenômeno dizendo
que o tempo de estadia deve ser menor que um ano, e as atividades realizadas durante as viagens
fazem parte do conjunto que molda os traços deste fenômeno.
Já o que concerne ao que se baseia as teorias a respeito de cultura, em muitos casos a
concepção acerca deste fato, inerente a todas as sociedades, seja ela de pouca estrutura
econômica ou dotada de diversas possibilidades de desenvolvimento, se fundamenta apenas no
nível de compreensão teórica de um indivíduo, devendo estar associado a uma das sete artes64
(PUC - Pontifícia Universidade Católica)65. Contudo, não é bem assim que esta característica
individual e coletiva se fundamenta. Conforme exemplificado por pesquisadores da instituição
citada, cultura é a forma como o ser humano representa a sua visão de pertencimento, assim
como demonstra entendê-lo, manifestando assim aspectos sociais de uma sociedade.

[...] dentro da cultura de um povo, é possível encontrar o seu estilo de vida, as suas
próprias instituições sociais e governamentais bem como as suas celebrações e
tradições. Estas conduzem muitas vezes a eventos e celebrações, culturais, capazes de
despertar o interesse de indivíduos não pertencentes a essa cultura ou comunidade
(DIAS, 2013, p. 23).

64
Arquitetura, Escultura, Pintura, Música, Literatura, Dança, Cinema. Disponível em:
https://abra.com.br/artigos/quais-sao-as-7-artes/. Acesso em: 20 jun. 2018.
65
Disponível em: https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/20657/20657_4.PDF. Acesso em: 20 jun. 2022.
55

O turismo, ao longo da história, não esteve vinculado à busca pelo aprimoramento


pessoal e social (CARVALHAL, 2014). Mas como desassociá-los, se o próprio se deslocar já
é um encontro consigo mesmo ou com o outro, gerando assim formas de aprendizados?
“Mesmo que a cultura surja como elemento secundário para visitar um destino, o turista acaba
sempre por consumir algo com significado cultural” (MARUJO, 2015, p.3). Não importa se a
motivação está fundada, conscientemente, apenas na intenção de conhecer outros lugares fora
do ambiente comum em prol de status social, existe um fator intrínseco neste querer: agregar
conhecimento pelo contato com um novo lugar e pessoas.
Carvalhal (2014) enuncia que o turismo cultural pode ser entendido “como o
movimento de pessoas que procuram enriquecer o seu conhecimento, através [sic] da
descoberta de culturas, e manifestações culturais diferentes” (CARVALHAL, 2014, p. 4).
Definição esta que se faz bem próxima ao que foi mencionado pelas Nações Unidas em relação
ao turismo, o qual considera esta prática como um movimento de cunho cultural, não sendo
assim inseparáveis. O turismo carrega consigo expressões estéticas e comportamentais de uma
sociedade, isso é perceptível até mesmo antes de chegar ao destino de escolha, como, por
exemplo, ao utilizar sites de busca ligados ao local da viagem.
E não para por aí, segundo Marujo (2015) o turismo cultural está ligado ao consumo
de “[...] equipamentos e atracções previamente classificados como culturais: sítios e centros
históricos, festivais [...], entre outros espaços, objectos [sic] e eventos” (MARUJO, 2015, p. 12,
grifo nosso). A mesma pesquisadora também ilustra outros aspectos deste entendimento sobre
turismo, apontando que esta é qualquer viagem que envolve atividades culturais, pois “pela sua
própria natureza, a arte de viajar retira os turistas da sua cultura anfitriã e coloca-os
temporariamente num meio cultural diferente” (MARUJO, p. 3, 2015). Assim sendo, percebe-
se a relação entre o turismo e cultura, temas que caminham sempre na mesma direção.
Este fenômeno cultural não só traz enriquecimento pessoal para os praticantes como
também fomenta o desenvolvimento social de uma nação, porque quanto melhor a experiência
do turista, maior serão os benefícios gerados por este fenômeno. “Na prática do turismo cultural,
surge a necessidade de, não só ocupar o tempo livre dos turistas, mas aumentar também a
permanência dos mesmos nos locais visitados” (DIAS, 2013, p. 26). Com isso, por meio de
experiências memoráveis, os visitantes de um país consomem ainda mais produtos e serviços
disponíveis no meio em que circulam.
Seguindo esta lógica, o turismo já é uma prática de cunho cultural, não cabendo
classificá-lo como “turismo cultural”, uma vez que ambos já fazem parte um do outro. Realizar
56

turismo é uma forma de enxergar/buscar a cultura do outro e a de si mesmo. Porém, ao se


colocar praticando viagens fora do ambiente habitual, existem diversas maneiras de
potencializar o próprio enriquecimento cultural provindo do turismo, e uma dessas maneiras é
visitando festivais de música. Alguns turistas fazem deste ato a motivação principal ao visitar
um destino, se deslocam em busca da música e possibilidade de fraternizar com diferentes
povos, além de experienciar a mais pura forma de liberdade.

3.1.1 Turismo de Eventos Musicais

Uma das formas de adquirir determinados conhecimentos específicos por meio do


turismo é frequentando eventos de música em localidades distantes do ambiente residencial,
descobrindo, assim, novas manifestações culturais (CARVALHAL, 2014). De acordo com
Jesus (2015), o uso desta ferramenta festiva está, gradativamente, ganhando destaque para o
desenvolvimento do turismo, são: “capazes de atrair valor ao destino e torná-lo competitivo
junto do mercado” (JESUS, 2015, p. 23). Desse modo, estes ambientes possuem o poder de
disseminar o conhecimento acerca de uma cultura específica.
Nestes espaços é possível ter uma ideia das diversas formas de existência humanas
presentes no país, inclusive aquelas que possuem alguma deficiência. Como destacado no
capítulo acima, o tipo de evento exposto neste trabalho possui suas características culturais, e
por isso se destacam como disseminador de conhecimento por meio de processos de comunhão
entre diferentes povos. Os festivais de música têm o poder de representar a riqueza de um lugar
por meio das características condicionais de uma população. Estes ambientes contam com a
participação de diversos participantes provindos de várias partes do país.
Em relação a concepção acerca de eventos, existem diversas abordagens em relação a
este tema, uma vez que tais acontecimentos podem ser classificados das mais diferentes formas,
como exposições, feiras, shows, espetáculos, festivais etc. A definição dos eventos pode ser
flexível para se adequar a diferentes situações. Conforme Goldblatt (2002), evento pode ser
considerado como: “um momento único no tempo, celebrado com cerimônia e ritual para
satisfazer necessidades específicas” (GOLDBLATT, 2002, p. 6, tradução nossa66). Os eventos
possuem a finalidade de atingir o desejo individual de cada espectador.
Cada classificação, funciona como uma segmentação dentro da área de eventos. Deste
modo, dentro destes momentos, encontram-se os festivais de música. E foi a partir destas

66
“[…] a unique moment in time, celebrated with ceremony and ritual to satisfy specific needs” (GOLDBLATT,
2002, p. 6).
57

ramificações que o mundo acelerou ainda mais a massificação turística para locais onde viesse
a ser organizado esses tipos de produções, como os festivais de música (JESUS, 2015, p. 23).
Como declaram Gibson e Connell (apud DIAS, 2012, p. 38), “Woodstock e Monterey tinham
uma orientação turística, procurando atrair visitantes de (...) todo o mundo”. O uso dos festivais
de música como intensificador no fluxo turístico trouxe aos líderes diversas perspectivas para
o aumento da qualidade de vida da população receptiva.
A exemplo disso, destaca-se o Rock in Rio, o qual, como já evidenciado na elaboração
desta pesquisa, foi considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Rio de Janeiro por meio do
projeto de lei nº 765/2021 (RIO DE JANEIRO, 2021, on-line). Com isso, se espera que este
evento continue acelerando a economia local, contribuindo assim para a qualidade de vida de
todos, além de proteger a identidade local. O turismo cultural “[...] desempenha um papel
crucial na reabilitação das identidades locais e culturais, contribuindo para a sua difusão
mundial” (MARUJO, 2015, p. 6). Estes momentos realizam um papel significativo no setor de
marketing, tendo o potencial de disseminar a imagem de um local.

O turismo de festivais é importante no turismo de eventos, tanto que o termo


festivalização reflete a supercomoditização da sua exploração comercial turística e
local. Os festivais cumprem todas as propostas centrais do turismo de eventos através
da atração, contribuição para imagem/marca do destino, animação e como
catalisadores de desenvolvimento, sendo ativos e produtos turísticos, originando
fluxos turísticos, e sendo recursos turísticos, com impactos multifacetados em
diferentes elementos do espaço turístico, o que espelha a individualidade do turismo
de festivais (CARVALHO, 2020, n.p.).

A preocupação em relação ao aumento da diversidade em festivais de música não é


apenas uma forma de conscientizar/sensibilizar os produtores do modo que se deve realizar
eventos de música, mas uma obrigação que deve ser pensada ao serem organizados tais
momentos. Assim como todos, o direito a estas oportunidades também fazem parte do corpo
cidadão das pessoas com deficiência. Segundo o art. 42 do Estatuto da Pessoa com Deficiência,
estes têm assegurado o respeito à oportunidade de terem acesso à cultura, ao esporte, ao turismo
e ao lazer em igualdade de oportunidades com os demais indivíduos.
O turismo pode ser a prática ideal na busca por manifestações culturais e também como
propulsor na divulgação do país como destino turístico. Além disso, possui a característica de
fomentar a inclusão social, já que, por meio do direito à cultura e lazer, destacado no art. 215,
da Constituição de 1988 (BRASIL, 2022, on-line), pessoas das mais distintas classes têm a
chance de frequentar diversos tipos de espaços, principalmente ao que concerne o tema desta
pesquisa, festivais de música como uma segmentação de eventos. Estas celebrações manifestam
a realidade de acesso de uma sociedade.
58

4 ENERGIAS QUE CONECTAM

Nesta parte do trabalho analiso os dados obtidos por meio das entrevistas realizadas
com três pessoas em situação de cadeira de rodas a fim de atingir o objetivo deste trabalho, o
qual vale relembrar que é investigar os principais entraves que influenciam na qualidade das
experiências de pessoas em situação de cadeira de rodas em festivais de música. Busco
desenvolver neste capítulo os assuntos abordados ao longo desta monografia, como turismo de
festivais e o grupo de análise, a fim de perceber melhor as atitudes que importam para a
qualidade da vivência destes cidadãos em festivais de música.

4.1 METODOLOGIA

A metodologia adotada para coleta de informações foi baseada em História Oral, sendo
esta uma ferramenta que “consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem
testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos
da história contemporânea” (Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea
do Brasil – CPDOC, 2022, on-line). A História Oral pode ser direcionada a diversos temas
pertinentes à academia (ALBERTI, 2018), neste caso as ciências humanas, área do ensino que
se fundamenta no Turismo. Para a utilização deste modelo metodológico é necessário realizar
um planejamento antes de ser aplicada.

A história oral é um conjunto de procedimentos que se inicia com a elaboração de um


projeto e continua com a definição de pessoas a serem entrevistadas, com o
planejamento da condução das gravações, com a transcrição, com a conferência do
depoimento, com a autorização para o uso, arquivamento e com a publicação dos
resultados os quais, regra geral, devem, a priori, voltar aos entrevistados para revisão
(ICHIKAWA; SANTOS, 2003).

Conforme Alberti (2018), existem três tipos de História Oral: história oral de vida,
história oral temática e tradição oral. Para esta pesquisa utilizo da História Oral temática que:
“a partir de um assunto específico e preestabelecido, busca-se o esclarecimento ou opinião do
entrevistado sobre algum evento definido” (ICHIKAWA; SANTOS, 2003). Neste caso, o relato
dos entrevistados, cidadãos em situação de cadeira de rodas, sobre as suas experiências em
festivais de música. O roteiro foi estruturado a fim de coletar informações relacionadas às
questões pertinentes à acessibilidade e inclusão nestes espaços.
O uso da História Oral como instrumento de pesquisa permite que lembranças de um
momento na história do sujeito seja remontado no contexto atual, “a história oral, mais do que
fornecer pistas para acessar o passado, produz narrativas no presente que permitem uma forma
59

de aproximação com a realidade” (FIUZA; RIBEIRO, 2021, p. 540). Este mesmo pesquisador
nos atenta em relação à subjetividade deste método, o que o torna ainda mais satisfatório para
a coleta de dados. Em consonância a isso, pode-se ter aspectos de pura autenticidade ao que
concerne a vivência do entrevistado em relação ao que se busca.
Todas as entrevistas seguiram o mesmo padrão: a experiência de pessoas em situação
de cadeira de rodas em festivais de música, buscando encontrar as principais barreiras que
impedem tais cidadãos de desfrutar dos serviços e produtos disponíveis nestes espaços. Mesmo
que o roteiro de perguntas siga a mesma linha de pensamento, os entrevistados possuíam cada
qual suas singularidades comportamentais, emocionais e físicas, independentemente da
característica em comum: o uso da tecnologia assistiva em destaque. “Na entrevista, o que está
em foco é a [...] sua percepção enquanto indivíduo singular” (FIUZA; RIBEIRO, 2021, p. 553).
O material foi construído e analisado conforme a maneira como o sujeito enxerga a realidade.
O enquadramento dos questionamentos foi estruturado de modo que fosse possível
coletar informações acerca da vivência destas pessoas em festivais de música, além de
identificar as devidas emoções com que foram ditas. Para as entrevistas funcionarem de forma
ética, antes das entrevistas foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido67 a
serem aceitos ou recusados após a transcrição e manuseio das gravações. “O consentimento
prévio, livre e esclarecido da pessoa com deficiência é indispensável para a realização de
tratamento, procedimento, hospitalização e pesquisa científica” (BRASIL, 2015, on-line, grifo
nosso). Dessa forma, os dados que estão sendo expostos aqui tiveram as devidas autorizações.
Aplicou-se tal método seguindo os protocolos de proteção contra a atual pandemia
causada pelo vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19. Os entrevistados puderam decidir
entre dar a entrevista em ambientes públicos, caso estivéssemos imunizados, ou
presencialmente se ambos estivessem vacinados e confortáveis para realizar o encontro. Além
disso, também puderam dar a entrevista de modo virtual, por meio do Google Meet. Estes
convidados foram encontrados por meio de redes sociais e a partir de outras matérias
envolvendo os mesmos temas desta pesquisa. Para um dos entrevistados, não houve entrevista,
assim, disponibilizei apenas o roteiro em forma de questionário.
Assim sendo, este tipo de abordagem dirigiu-se às pessoas em situação de cadeira de
rodas, com a intenção de atingir os objetivos desta pesquisa. Ao todo foram três pessoas que
colaboraram para o progresso desta pesquisa. Os entrevistados foram selecionados de maneira
que pudessem dar fomento aos tópicos aqui discutidos, cada sujeito teve relevância para os

67
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no apêndice C.
60

assuntos abordados ao longo deste trabalho. Busquei encontrar outras questões não antes
enxergadas pelos pesquisadores desta monografia, informações dadas conforme o decorrer das
entrevistas, levantadas pelos próprios entrevistados.
Para a elaboração desta parte da pesquisa também contarei com experiências pessoais,
as quais obtive trabalhando por duas edições consecutivas na equipe de pessoas com deficiência
do Rock in Rio. Na primeira, auxiliando o público com deficiência na área VIP, e na segunda
conduzindo os PCDs na Tirolesa, sendo este último minha mais rica experiência lidando com
este público. Ali, entendi melhor a dinâmica envolvendo pessoas com deficiência e festivais de
música, uma vez que estive em contato direto com estas pessoas.

Figura 18 – Equipe de apoio às pessoas com deficiência do Rock in Rio 201968

Fonte: Acervo pessoal, 2019.

Vale utilizar também a minha própria experiência trabalhando em um festival


internacional. Realizado em Manchester, cidade localizada no norte da Inglaterra, o Parklife
Festival (2019) foi um festival que tive a experiência de trabalhar realizando gestão do público

68
Para todos verem: Na imagem a equipe de apoio às pessoas com deficiência do Rock in Rio de 2019. Estamos
todos encostados no letreiro que leva o nome do festival. Atrás de nós, é possível perceber a roda gigante do
evento.
61

na entrada do festival, direcionando e dando as devidas informações relacionadas ao acesso do


público em geral neste evento. Nesta vivência profissional contribui realizando atividades de
controle de acesso, direcionando as pessoas para o local onde ocorreu este festival.
Ainda mais, utilizo da pesquisa bibliográfica para encontrar informações ligadas aos
tópicos discutidos neste trabalho. Como destacado na parte introdutória, a maioria das fontes
estavam ligadas a sites vinculados às organizações dos festivais de música, e depoimentos
relatados a blogs pessoais de pessoas que lutam pela equidade de direitos das pessoas com
deficiência, como o casadaptada e projeto pulso. Dois dos entrevistados foram identificados por
meio de depoimentos disponibilizados nestes canais de comunicação, e o outro por ter tido
contato trabalhando conjuntamente no Rock in Rio de 2017.

4.2 COLETA DE DADOS

Aplicando-se o método da História Oral, tive algumas pessoas chave para a elaboração
desta parte da monografia. A primeira entrevistada, de 25 anos, mora em São Conrado, bairro
na cidade do Rio de Janeiro. Ela, Julia Mattosinho, é estudante de letras, e já participou do Rock
in Rio como visitante e trabalhando voluntariamente. Já o segundo, é Pedro Américo, de 37
anos. Residente do município de Sorocaba, é pós-graduado em tecnologias em educação a
distância, e atua como funcionário público na Câmara Municipal de Sorocaba - SP, posto que
ocupa realizando gestão documental. A terceira entrevistada é a Natalia Hipólito, de 25 anos,
moradora da cidade de São Paulo, é formada em designer.

4.2.1 “É Tudo Nosso”

A partir da frase que dá o nome a este subcapítulo, ouvida em uma de suas experiências
em festivais de música, Pedro Américo de Arruda (Figura 20), pessoa em situação de cadeira
de rodas e sujeito de extrema relevância para o desenvolvimento deste trabalho, percebe a sua
importância como cidadão de direitos. Daí em diante, aliás, e até mesmo antes disso, qualquer
obstáculo que se apresentasse no seu caminho não o impediria de ocupar o seu devido espaço
na sociedade, principalmente em lugares que viessem a culminar a arte da música e união entre
diferentes culturas. Obviamente, sem mencionar a sua influência em outras áreas do saber.
62

Figura 19 – Pedro Américo no Lollapalooza 201869

Fonte: Foto cedida pelo entrevistado, 2018.

Referenciado carinhosamente pelos seus amigos, e aceito por ele mesmo, pela
expressão “defi”, derivação criada por meio do termo pessoas com deficiência, Pedro relatou
suas vivências em festivais de música para os pesquisadores desta monografia. O festivaleiro
parece viver assim como aquilo que foi dito no começo deste trabalho, como se fosse o seu
último dia de vida, mas com a enorme sensação de ter realizado tudo aquilo que gostaria de ter
feito, assim como registrado na letra “4 minutes” da Madonna. Contudo, como este fim ainda
não faz parte de sua história, ele continua indo além, demonstrando que estes ambientes podem
fazer parte da realidade de quem jamais pensaria que uma proeza como essa seria possível.
Para esclarecer melhor a sua astúcia contra o sistema capacitista, o então entrevistado
possui uma deficiência conhecida como distrofia muscular de cinturas70. E uma das maneiras
de desacelerar a evolução desta condição é exatamente realizando o que ele mais sente

69
Para todos verem: Na imagem está Pedro Américo. Ele está sorrindo, possui barba longa e tatuagens no braço.
Está vestindo uma camiseta branca e usa tênis vermelhos. Este esta junto a sua cadeira de rodas, tecnologia
assistiva a qual esta decorada com adevisos na roda. Ao fundo um dos palcos do Lollapalooza 2018.
70
“A distrofia muscular de cinturas (DMC) é uma patologia com diferentes doenças genéticas, que tem como
característica fraqueza progressiva de cintura pélvica e escapular, e variabilidade clínica. Ela afeta,
principalmente, a musculatura proximal da parte superior e as extremidades inferiores, essas características
podem aparecer na primeira infância até a idade adulta tardia” (PEDROLO; LIMA, 2012, p. 177).
63

satisfação em fazer, se movimentar em direção a lugares onde exista qualquer sinal daquilo que
viesse a ser sua paixão – festivais de música. Espaços estes que não somente contribuem para
o seu bem-estar físico, mas também psicológico, aliviando toda uma tensão proveniente do seu
cotidiano. Para ele, a música transparece ser o oxigênio que alimenta sua alma. Todo este espaço
de tempo causado pela pandemia, foi o suficiente para que esperasse ansiosamente pelo seu
próximo contato com esta descoberta que teve em sua vida. Um marco de retorno à própria
existência, ali ele voltou a respirar.

Nossa, esses dois anos de pandemia assim, eu estava a ponto de enlouquecer. Eu


ficava pensando: “será que eu nunca mais vou ter a sensação de ir em um
Lollapalooza?”. Que é o meu queridinho aqui de São Paulo que eu vou sempre, né?
“Será que eu nunca mais vou conseguir estar lá dentro?”. Dá uma angústia muito
grande, muito grande. Esse último agora que teve, agora pós-pandemia, né? Nossa,
foi uma sensação muito… E eu pensava assim que ele ia ser uma explosão de alegria,
tipo, “nossa, e aí? Vencemos!”. A minha sensação que eu tive, na verdade, foi tipo,
um respiro assim, tipo, “ok, a partir daqui a vida pode continuar'' (AMÉRICO, 2022).

Pedro já participou de diversos espetáculos musicais ao longo dos seus trinta e sete
anos, e mesmo com sensações de medo, não hesitou em estar presente no mundo da adversidade
as diferenças sociais. Desde a primeira edição do Lollapalooza em 2012, não parou mais de
frequentar anualmente o mesmo festival. Esta última, ocorrida neste mesmo ano de 2022, o
entrevistado acrescentou no seu histórico de recordações festivas a sua sétima celebração dentro
deste evento, e esta, sem dúvidas, não parece estar nem perto de ser a sua última experiência.
Indago que o mesmo já esteja se planejando para o próximo Lolla, esperado para ser
comemorado no ano seguinte.
Para além disso, como dito, não só de Lollapalooza o então entrevistado recupera suas
energias. Demonstra que qualquer festival que esteja ao seu alcance se fará presente. Ele já
participou de diversos festivais. Visitou o Coala Festival, Tomorrowland, Milkshake Festival,
Nomad (Figura 21), e Electric Zoo, além dos diversos shows independentes, como Madonna,
U2, Moby, Kraftwerk, Shakira, FatboySlim, One Republic, Jamiroquai, Lady Gaga, Florence
+ The Machine, Muse e entre outros. Todas essas experiências podem ser conferidas no seu
canal do Youtube, conhecido pelo nome “Mais uma Rodada”71. Vivências únicas pela ótica de
uma pessoa em situação de cadeira e rodas. Tudo isso em meio a muitas dúvidas.

71
O projeto é um jeito de divulgar acessibilidade cultural (GOMES, 2017). “Tudo começa ali com o
Festivalando, e as pessoas começaram a ler meu texto do Festivalando e começaram a me chamar e começou a
ser muito orgânico assim. Alguém me chamava aqui, eu ia, alguém me chamava lá, eu ia. E daí até que eu decidi
criar meu próprio canal” (AMÉRICO, 2022).
64

Figura 20 – Pedro no Lollapalooza 201772

Fonte: Acervo enviado pelo entrevistado, 2017.

Antes de participar de um festival de música, o festivaleiro nato sempre é invadido por


pensamentos sobre quais seriam os obstáculos possíveis a serem enfrentados por conta da sua
deficiência e, principalmente pelo fato da maneira que estes espaços são organizados. Algo
natural na vida de quem sofre pela falta de acessibilidade e inclusão em espaços públicos e
privados presentes no dia a dia, ainda mais em ambientes inundados por uma multidão de
pessoas, como é o caso do Lolla, Rock in Rio, e demais festivais de música. Assim sendo, o
entrevistado se auto questiona sempre antes de ir a um ambiente desconhecido:

Será que vai ter banheiro pra mim? Será que vou conseguir enxergar o palco? Vai ter
uma multidão na rua para eu atravessar? O carro tem que parar muito longe da
entrada? E se chover? Vai ter entrada especial? Tem lugar pra mim dentro do estádio?
Meus amigos vão poder ficar comigo, ou vou ter que ficar sozinho num canto? Será
que não vou morrer pisoteado? (AMÉRICO apud SHIMOSAKAI, 2017, on-line).

Para ultrapassar tais barreiras, ele busca se planejar. Analisa o território dos festivais
e tenta se informar melhor sobre as recomendações direcionadas às pessoas com deficiência.
Ele informa que existem duas situações, na primeira, os mapas, anunciados antes do evento no
site da empresa e plataformas digitais, contém as devidas informações ligadas às áreas de apoio,
mas na prática não condizem com o exposto pela produção. Já na outra circunstância, o

72
Para todos verem: Na imagem está Pedro Américo. Veste uma jaqueta jeans e usa tênis vermelhos. Ele esta
junto a sua cadeira de rodas, tecnologia assistiva a qual esta decorada com adevisos na roda. Ao fundo um
letreiro com a palavra “amor”.
65

conteúdo disponibilizado nas redes sociais do evento, não possuem os dados ligados aos
serviços e produtos; contudo, a acessibilidade acaba sendo mais do que o esperado pelo público
de PCDs. “Mas em ambas as situações, eu aprendi que é na prática, é lá na hora”.
Em relação a navegação deste público nas páginas da internet, é válido destacar que
estas plataformas devem ser devidamente organizadas de forma acessível. As empresas
comerciais com sede no Brasil, devem desenvolver mecanismos que facilitem a maneira como
estas pessoas navegam dentro destes sites, “garantindo-lhe acesso às informações disponíveis,
conforme as melhores práticas e diretrizes de acessibilidade adotadas internacionalmente”
(Estatuto da Pessoa com Deficiência, 2015). Como destacado por Franco (2016), a página
virtual do evento costuma ser o primeiro e último local onde o público goza da sua experiência
festiva, sendo possível encontrar dados relevantes para aplicar nesta pesquisa.
Voltando à entrevista, o festivaleiro nem sempre está acompanhado nesta jornada, às
vezes, por vontade própria decide lidar com todas suas dúvidas sozinho, sem o auxílio de
nenhum colega que pudesse contribuir para a qualidade da sua experiência, como o ocorrido no
festival Sonar de 2015. Não que isso devesse ser necessário, pois, conforme exemplificado nas
leis expostas neste trabalho que destacam a necessidade de espaços acessíveis e inclusivos,
pessoas com deficiência devem possuir independência para utilizar dos recursos disponíveis
nos meios urbanos. Em outras experiências em festivais de música, Pedro costuma estar
acompanhado de amigos. “Com a galera”. Mas mesmo assim, as barreiras persistem.
Fato interessante, mencionado durante a entrevista, foi a questão das pulseiras digitais
(Lolla Cashless) utilizadas para acessar o local do evento e também compra de produtos durante
o festival. Este dispositivo é preso no braço do festivaleiro durante o espetáculo, e não há como
removê-lo. O entrevistado relata que não costuma ser sempre a pessoa que realiza a atividade
de deslocamento até os postos de vendas, dividindo tal tarefa com os seus colegas. Contudo,
destaca que após a adoção deste novo método de pagamento, necessita colocar todo o seu
dinheiro em só uma pulseira, ou seja, na sua ou do seu acompanhante73, fazendo com que assim
este tenha que se deslocar, ou, caso contrário, não ter tanto domínio do dinheiro gasto.
Outro ponto relevante, são os obstáculos presentes até mesmo nos espaços reservados
para a própria comunidade com deficiência, como as plataformas elevadas (ilhas de
acessibilidade) ou filas prioritárias logo na entrada. Ele comenta que tais modelos de
organizações impedem que ele possa desfrutar do momento de modo conjunto, uma vez que
apenas é permitido estar acompanhado do indivíduo de preferência. Tendo, assim, que optar

73
“Aquele que acompanha a pessoa com deficiência, podendo ou não desempenhar as funções de atendente
pessoal” (BRASIL, 2015, p. 12).
66

por quem, entre talvez mais de um amigo, estará junto a ele nestas áreas. “Não que eu queira
levar toda a minha turma de dez pessoas junto comigo, mas às vezes estamos só em três. Daí
passa um comigo e um fica pra trás?”.

Às vezes, dependendo do terreno de cada lugar, eu preciso de duas pessoas pra ajudar
mesmo, porque, pra trocar a cadeira, uma vai puxando pela frente, a outra vai levando,
empurrando a cadeira. às vezes você está com mochila, né, porque, enfim…, e daí
quem segura a mochila, quem segura a bolsa, é muita coisa. E daí fica meio inviável
você ficar só com uma pessoa (AMÉRICO, 2022).

Ainda sobre isso, infelizmente as políticas públicas ainda não se adaptaram a este tipo
de obstáculo na vivência das pessoas com deficiência em meios culturais. No próprio Art. 44
do Estatuto da Pessoa com Deficiência, é resguardado o direito a apenas um acompanhante do
PCD ou PCM, assegurando, apenas, o direito de se posicionar próximo aos indivíduos que não
o puderam acompanhá-lo (EPD, 2015) , ou seja, em plataformas elevadas Pedro estaria com
apenas um outro amigo, mas próximo dos outros colegas, os quais estariam do lado de fora
destas estruturas. Juntos; porém, separados por uma barreira.
Já enquanto a sua relação com as barreiras presentes ao longo do festival, fui além com
a entrevista perguntando acerca das demais limitações de acesso e inclusão. E Pedro nos relatou
outros empecilhos existentes nas suas experiências em festivais de música. Com isso,
problematiza a questão dos banheiros dispostos nesses lugares, os quais, na maioria das vezes,
são químicos, como os do Lollapalooza, que não possuem iluminação noturna. Ao contrário
dos de alvenaria disponíveis no Rock in Rio, bem mais inclusivos e acessíveis. Lembrando
novamente que este direito está exposto na Lei 13.146, de seis de junho de 2015, que assegura
acessibilidade em eventos.

Já enfrentei diversos tipos de dificuldades, mas sempre digo que uma das coisas mais
básicas, acaba sendo a mais difícil: banheiros! Sempre tenho dificuldades com
banheiros, quase nunca são adaptados da maneira correta, dificultando ou
impossibilitando o uso (AMÉRICO apud GOMES, 2017, on-line).

Também questionado acerca dos obstáculos relacionados a suas experiências ao


término do festival, o entrevistado sugeriu criar um capítulo à parte. Qual seria a melhor
solução: sair antes de todos ou decidir enfrentar todos os entraves presentes no caos ao se
deparar com as milhares de pessoas saindo destes espaços ao mesmo tempo? “É muito longe o
estacionamento da área do festival. Então a gente vai de carrinho de golfe? Mas assim, quem
vai achar um carrinho desses?”. Então me pergunto: assim como todas as outras pessoas, por
que deveriam ter que escolher entre tais caminhos? As pessoas com deficiência devem ter o
direito de sair com facilidade no momento que se sentirem satisfeitos com o fim do festival.
67

Esse ano no Lolla, eu não vi a grande queima de fogos. Porque eu já tinha saído meia
hora antes de acabar o festival. E pra mim, a queima de fogos é tipo, é uma grande
queima de fogos. É um momento de muita celebração para mim. Daí assim, a cada
dez minutos que eu ficasse a mais no festival, me consumia mais ou menos uma hora
pra eu chegar em casa depois, sabe? Tipo, se eu ficasse mais vinte minutos no festival,
ia me atrasar duas horas pra chegar na minha casa depois (AMÉRICO, 2022).

Pedro, mesmo se deparando com todos estes obstáculos, elucida que muito do que foi
comentado poderia ser amenizado por meio da qualidade na comunicação entre PCDs e
produtores de festivais de música. “É aquela velha história, combinando certinho, todo mundo
brinca”. A falta de informação apresentada pelo entrevistado se destaca sendo um dos principais
obstáculos na área da acessibilidade e inclusão. Para ele, muito depende da capacidade dos
funcionários em notificar o modo como o festival estará organizado para recebê-lo. “Às vezes
a estrutura está ali, próxima de mim. Mas eu não sei se ela está ali do lado, entendeu?”. É de
suma importância que as pessoas sejam capacitadas para lidar com o público com deficiência.
Na visão do participante desta pesquisa, felizmente, a diversidade se mostra cada vez
mais presente nestes espaços. Ele destaca que, gradativamente, tem percebido mais pessoas em
situação de cadeira de rodas circulando dentro dos festivais de música. E enaltece a importância
da música como ferramenta potencializadora de inclusão, uma vez que, por meio dela, a pessoa
com deficiência consegue enxergar as diversas oportunidades inclusas fora do meio capacitista.
Frequentando festivais de música, Pedro encontrou o real sentimento de liberdade e
pertencimento ao meio em que se insere.

Acho importante colocar que a música é libertadora, através dela que eu sobrevivi e
criei essa persona forte que tenho hoje. Por isso, sou tão conectado. Os ‘defis’, as
pessoas em geral na verdade, devem encontrar na vida o que faz com que tenham esse
sentimento, o que faz com que se sintam vivas. E então, viverem! Plenamente! É
muito importante abrir sua mente para novas possibilidades e novas ideias, o mundo
está cheio de propostas, cheio de oportunidades, não podemos nos trancar em casa, a
vida acontece lá fora (AMÉRICO apud GOMES, 2017, on-line).

Perguntei a Pedro acerca dos festivais de música que ele gostaria de conhecer. Ele
então nos respondeu que possuem muitos em mente, como o Lolla do Chile e Argentina, João
Rock no interior de São Paulo, Planeta Atlântida no sul do país, e o Festival Folclórico de
Parintins, no estado do Amazonas. O entrevistado também nos relatou que um dia gostaria de
visitar o Burning Man, localizado nos Estados Unidos, o que demandaria certo planejamento a
respeito de transporte, hospedagem e alimentação, recursos necessários para realizar turismo
de festivais. Preocupações essas que também circundam a trajetória dele para outros festivais,
assim como sair de Sorocaba e ir até São Paulo; contudo, em proporções menores.
Durante a entrevista realizada com Pedro Américo de Arruda, o então festivaleiro se
mostrou muito entusiasmado em contar sobre suas experiências em festivais de música. Os
68

dados obtidos foram relatados com muita alegria e autenticidade. A utilização do método de
pesquisa fundada na História Oral se mostrou bastante eficaz, uma vez que possibilitou ao
pesquisador, juntamente com o estado emocional do entrevistado, coletar informações de forma
contínua e objetiva. Além de proporcionar aos envolvidos, momentos de descontração e
aprofundamento em assuntos de relevância para o sujeito em questão.

4.2.2 Inclusão no trabalho

Já pela ótica de outra contribuinte deste trabalho, em 2017, teve a oportunidade de ser
membro da equipe de apoio às pessoas com deficiência (Figura 22) do Rock in Rio - Brasil.
Junto à companhia de sua mãe, Adriana, contribuiu de modo significativo na experiência dos
PCDs neste espaço festivo. Já em 2019 a universitária apenas assistiu aos shows igualmente
aos demais integrantes. Sendo assim, sua experiência está ligada aos festivais de música e a esta
pesquisa de duas maneiras, como funcionária temporário (voluntário) e participante. Sua
maneira de enxergar estas celebrações ultrapassam a ótica de uma simples visitante.

Figura 21 – Julia no Rock in Rio 201974

Fonte: Acervo enviado pela entrevistada, 2019.

74
Para todos verem: Na imagem está Julia Moreno. Ela está de costas com os braços abertos. A festivaleira esta
junto a sua cadeira de rodas. Ao fundo o espaço onde ocorre o Rock in Rio.
69

Ela nasceu prematura e foi diagnosticada com agenesia do corpo caloso75, tornando-a,
assim, uma pessoa em situação de cadeira de rodas. Esta relata que seu gosto pela música surgiu
desde muito cedo, causado principalmente pelo seu amor à música e pela sensação de estar no
meio de uma multidão de pessoas. “Desde pequena gostei de música e ir em shows, gosto muito
da energia e da atmosfera de todas as pessoas unidas e vibrando coisas boas”. Nesta fala fica
claro o laço criado pelo ambiente festivo e a festivaleira. A partir desta relação, Julia sempre
anseia por eventos do gênero.
Mesmo contando com a sensação de fraternização dentro deste ambiente, a estudante
necessita contar com a ajuda de transporte privado para sua chegada ao Rock in Rio. Menciona
que o transporte público do Rio de Janeiro não possui acessibilidade, e por isso necessita que
alguém a leve até o local do evento, precisando, com isso, fazer uso do estacionamento
prioritário disponível dentro do parque. Além disso, logo na entrada relata não precisar pegar
as longas filas e passar pelo sistema de segurança. Destaca que detectores de metais não
possuem tanta utilidade para quem está em situação de cadeira de rodas, a não ser que a tirem
da tecnologia assistiva para examiná-la.
Em relação ao que foi mencionado sobre as questões referentes ao transporte público
do Rio de Janeiro, é válido retornar mais uma vez às diretrizes que regem o Estatuto da Pessoa
com Deficiência. Conforme este documento, exatamente no capítulo X – Do Direito ao
Transporte e à Mobilidade, é dever do Estado disponibilizar acessibilidade em meios de
transportes terrestre, aquaviário e aéreo. Além de todo sistema que faça parte do trajeto
realizado por estes veículos, como estações, portos e terminais. Nesta mesma lei também está
indicado o direito a vagas prioritárias aos PCDs. Tudo isso devendo ser desfrutado pelo cidadão
de forma segura no momento do embarque e desembarque.
De volta ao conteúdo disponibilizado pela entrevistada, indaga sobre a maneira como
lida com a parte de locomoção dentro do RiR, responde que quase todos os serviços neste
espaço possuem acessibilidade. Conta que antes de chegar no festival busca se informar acerca
da localização dos ambientes que estejam adaptados para sua utilização. Aponta que suas
necessidades são atendidas pela organização do evento em destaque. Esta consegue se sentir
atendida e incluída assim como o público sem deficiência. Acrescenta que o fato de ter

75
“A agenesia do corpo caloso (ACC) é uma enfermidade congênita que pode ocorrer durante o primeiro
trimestre de gestação e é influenciada por uma anormalidade migratória do telencéfalo. Trata-se de uma
patologia incomum, que pode ser parcial ou total. Os sintomas vivenciados pelo paciente portador são causados,
na maioria das vezes, por outras malformações cerebrais, anomalias cromossômicas ou síndromes genéticas”
(BARBOSA; OLIVEIRA; FERRAZ; et al, 2018, p. 56).
70

banheiros adaptados e plataformas elevadas (Figura 23), para visualizar melhor os artistas, são
os pontos de maior significância para a qualidade da sua experiência.

Figura 22 – Plataforma elevada do Rock in Rio 201976

Fonte: Diário do Rio, 201977.

Os banheiros do Rock in Rio (Figura 24), como a própria entrevistada comentou, é uma
questão de extrema importância na vivência deste grupo neste evento de música. Sendo esta
forma de inclusão um ponto incluso na Lei de Acessibilidade (nº 10.098), alterada pela lei nº
13.825, de 13 de maio de 2019, que estabelece a “obrigatoriedade de disponibilização, em
eventos públicos e privados, de banheiros químicos acessíveis a pessoas com deficiência ou
com mobilidade reduzida” (BRASIL, 2000, on-line). Realizar as necessidades básicas, mostra
fazer total diferença na qualidade da experiência.

76
Para todos verem: Na imagem a plataforma elevada do Rock in Rio. Na imagem é possível vizualizar, por
meio de um ângulo da estrutura mencionada, o palco sunset do Rock in Rio.
77
Disponível emhttps://diariodorio.com/acessibilidade-para-todos-no-rock-in-rio-2019/. Acesso em: 17 de jun.
2022.
71

Figura 23 – Banheiro prioritário no Rock in Rio 201378

Fonte: Agência O Globo, 201379.

Além disso, a universitária pontua que os postos de atendimento intensificaram a


qualidade da sua experiência no Rock in Rio de 2017 e 2019. Neste local é possível se informar
sobre questões na área da acessibilidade e, sobretudo, consertar as cadeiras de rodas alugadas
pelo festival. Ali também é possível guardar insulina no frigobar, a fim de tranquilizar aqueles
que fazem uso da substância – pessoas com diabetes (GUIMARÃES, 2017, on-line). Este
espaço é de suma relevância para aqueles que não se atentaram antes deste festival aos serviços
prestados dentro do RiR, além de servir como apoio a todos que sintam a necessidade de auxílio
ao longo dos espetáculos.

78
Para todos verem: Na imagem o banheiro destinado às pessoas com deficiência do Rock in Rio 2013.
79
Disponível em: https://oglobo.globo.com/rio/rock-in-rio-se-prepara-para-receber-portadores-de-necessidades-
especiais-9923131. Acesso em: 17. jun. 2022
72

Figura 24 – Posto de Apoio às Pessoas com Deficiência do Rock in Rio 201980

Fonte: Vimeo, 201981.

Ao término do Rock in Rio, a estudante aponta ter duas opções para sair deste ambiente
sem nenhum obstáculo (mesmo que pensar sobre isso já seja uma barreira): antes da última
música ou após todos os shows e apenas depois que todos consigam deixar o festival, pois existe
uma grande quantidade de pessoas seguindo para os estacionamentos, dificultando a sua chega
até esta localidade. Sendo assim, me auto questiono, porque não haver vias reservadas
especialmente para este tipo de público? Com isso não haveria nenhum impedimento para
desfrutar por completo do que se é esperado ao adquirir seus ingressos, equidade de acesso.
Busquei saber também sobre as condições que tornariam um festival mais inclusivo,
Júlia destacou ser bastante importante contratar pessoas com deficiência para atender este
mesmo público. Quem sabe assim os funcionários de uma produção como esta não conseguiria
atender melhor às necessidades de seus semelhantes, uma vez que saberiam especificamente
das situações que influenciam na expectativa de pessoas em situação de cadeira de rodas em
festivais de música. A festivaleira também destaca ser fundamental PCDs contribuindo por
meio de assessoria, e não apenas trabalhando diretamente com o público.

80
Para todos verem: Na imagem o posto de apoio às pessoas com deficiência do Rock in Rio. A frente deste
local é possível vizualizar diversas cadeiras de rodas.
81
Disponível em: https://vimeo.com/384007121. Acesso em: 30 jul. 2021.
73

É preciso que assim como o Rock in Rio outros festivais de música contratem pessoas
com deficiências específicas para que possam auxiliar melhor, além de dar consultoria
nas questões relacionadas à acessibilidade e inclusão (JULIA, 2022).

É válido destacar que o direito ao trabalho está previsto no Estatuto da Pessoa com
Deficiência, instituído pela Lei nº 13.146/2015. Ademais, o art. 93 da Lei nº 8.213/91 (Lei de
Cotas), reforça a necessidade da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Esta diretriz obriga as empresas com 100 ou mais empregados a incluir de 2% a 5% das
ocupações com pessoas com deficiência (BRASIL, 1991). O que foi dito pela festivaleira se
torna algo muito mais do que proveitoso para o desenvolvimento dos festivais de música, mas
também um direito da comunidade com deficiência. A sua ocupação trabalhista em festivais de
música deve ser inclusiva e acessível.

A pessoa com deficiência tem direito ao trabalho de sua livre escolha e aceitação, em
ambiente acessível e inclusivo, em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas. (ESTATUTO DA PESSOA COM DEFICIÊNCIA, 2015)

Em uma de suas melhores experiências em um festival de música, a entrevistada


relembra sua vivência ao ver Elton John de dentro de um espaço prioritário para pessoas com
deficiência auditiva (sinta o som82), mesmo não possuindo a deficiência relacionada a este
espaço, é importante lembrar que ela estava ali a trabalho, e por isso presente neste local. Além
disso, disse ter sido memorável todas as vezes que desceu na tirolesa, atrativo ao qual pude
trabalhar e ver de perto a emoção sentida pelas pessoas que utilizavam deste serviço.
Experiências únicas obtidas por meio do Rock in Rio.
Realizei uma pergunta voltada, indiretamente, para o turismo de festivais de música.
Indago sobre se haveria algum evento em específico que a entrevistada gostaria de participar.
Júlia nos respondeu dizendo que existe um objetivo em mente, que seria fazer parte do
Coachella Valley Music and Arts Festival, localizado em Los Angeles, Estados Unidos. Desse
modo, assim, como Pedro Américo, seria de se esperar que em um futuro próximo a então
universitária estaria com propósitos de utilizar diversos serviços e produtos do turismo para
estar presente neste espetáculo.

4.2.3 Acesso ou inclusão?

Já para nossa terceira entrevista, contei com a experiência de uma cidadã que não só
visitou diversos festivais e shows, como também, quando ainda mais jovem, fez parte de um fã

82
“Imagine poder compreender o que cantam e falam os astros do rock mesmo tendo uma deficiência auditiva.
Um serviço batizado como “Sinta o som” tem exatamente esse objetivo no Rock in Rio 2017” (GUIMARÃES,
2017, on-line).
74

clube ligado a banda NX Zero. Natalia Hipólito (Figura 26) possui uma deficiência conhecida
como distrofia muscular de Ullrich, ou distrofia por deficiência de colágeno seis. Por causa
desta condição ela é uma pessoa em situação de cadeira de rodas, mas, como destacado, nada
disso a impediu de realizar atividades sociais, principalmente ao participar de espaços onde
viesse a ser propagado formas de expressões artísticas.

Figura 25 – Natalia no Festival Nomad83

Fonte: Acervo enviado pela entrevistada, 2022.

A festivaleira já participou de diversos eventos musicais, como, por exemplo, Nômade


Festival84, Circuito Cultural Banco do Brasil, Close UP Festival, Mix Festival, João Rock,
Black na Cena, Virada Cultural, além de diversos shows nacionais e internacionais. Mencionou
na entrevista ter assistido ao espetáculo de Péricles, Stevie Wonder, Jason Mraz e The Jacksons
Five, não esquecendo dos diversos shows do NX Zero, os quais, ao todo, de acordo com a
entrevistada, foram mais de trinta vezes. Ela assistiu ao trabalho realizado por esta banda em
diferentes lugares dentro da região de São Paulo e arredores da capital.

83
Na imagem está Natalia Hipótilo. Ela usa roupas na cor marrom e óculos preto. Ela também usa um batom na
marrom. Possui cabelos na altura dos ombros. Esta junta a sua cadeira de rodas motorizada. Ao fundo o mural do
festival Nômad.
84
“Sobre a acessibilidade no Nômade Festival, pontuo que pelo Memorial da América Latina ser um espaço
plano e linear já é um saldo positivo, porém a participação das PCDs – Pessoas com Deficiência, não depende
somente disso. A área reservada estava numa altura abaixo do padrão e posicionada num ângulo que
impossibilitava a visualização dos artistas no palco. Outro deslize foi o banheiro adaptado não estar junto à área
reservada e sim com os banheiros do público geral. E por fim, não havia sinalização alguma de onde estavam os
elementos de acessibilidade” (AMÉRICO, 2018, on-line).
75

Questionada sobre se estaria sempre acompanhada nestes ambientes, a designer


destacou que sempre buscou ir na companhia de sua mãe, justamente por ter começado a
frequentar estes lugares muito nova, e por isso ter tido a necessidade de estar junta com alguém
que fosse maior de idade, ou seja, o seu responsável por ela naquele momento de celebração.
Também destacou que as vezes participava destes eventos na presença de alguns amigos, os
quais muitas vezes faziam parte do fã clube que ela era integrante, tanto no quesito regional
como no oficial associado a banda referida acima.
Ao ser indagada a respeito dos procedimentos realizados durante os pré-eventos, a
entrevistada nos respondeu dizendo estar sempre atenta às informações disponibilizadas na
página do evento, “a primeira coisa que eu tentava ver era se tinha alguma informação na página
de show assim, né? Alguma descrição que falasse sobre o acesso para deficiente”. Natalia
também relata sobre a falta de informação no passado, dizendo ter tido que fazer um esforço
maior para saber sobre os serviços disponibilizados às pessoas com deficiência,
primordialmente questões ligadas ao benefício a meia entrada85.

Sempre olhava no site, né, na esperança de ter, mas como não tinha, eu era obrigada
a ligar no local, e se era um festival a céu aberto, por exemplo, esse Mix Festival foi
no sambódromo do Anhembi, aqui em São Paulo. E lá, assim, é um lugar de show,
hoje em dia é bem comum, mas na época era novidade ter show lá. Então não tinha
uma informação clara do acesso para pessoa com deficiência, onde ele entrava. Não
tinha nada assim. E aí eu tinha que ligar no local, no sambódromo, e eles não sabiam
dizer porque não sabiam como ia ser no dia. Então era sempre na base da surpresa,
por isso que eu sempre preferi ir acompanhada porque eu sei que algum perrengue
assim eu ia ter ali, um medo de chegar durante o show (HIPÓLITO, 2022).

Antes mesmo da realização dos eventos em que esta participava, os obstáculos já se


mostravam presentes antes mesmo do início destes espetáculos. E, em determinadas ocasiões,
para deixar de experienciar outras barreiras sociais até a sua chegada nestes espaços, a
entrevistada utilizava de transportes privado, no caso taxis/uber. Porém, muitas vezes ousou em
usufruir de seus direitos como cidadã, como o de ir e vir86, previsto no art. 5º da Constituição
de 1988, utilizando assim de meios de locomoção públicos, como metrô e ônibus. A designer
demonstrou lidar muito bem com ambas situações.
Já em relação aos procedimentos realizados na entrada de shows e festivais, Natalia
logo faz uma associação desde o começo das suas vivências até os dias de hoje, enfatiza dizendo
que as atitudes dos produtores em relação às pessoas em situação de cadeira de rodas não

85
“Dispõe sobre o benefício do pagamento de meia-entrada para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e
jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes em espetáculos artístico-culturais e esportivos, e revoga a
Medida Provisória nº 2.208, de 17 de agosto de 2001” (BRASIL, 2013, on-line).
86
“É livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens” (BRASIL, 1988).
76

mudaram muito. O método continua o mesmo, não há tanta vistoria, uma vez que a cadeira de
rodas, objeto de metal, é quase que inseparável daquele que a utiliza, diminuindo assim a
atenção dada nos portões de entrada para este tipo de visitante. E o restante das instruções, em
relação ao apoio a estas pessoas, funcionando da seguinte forma: “se você precisar de algo, peça
ajuda para gente, vamos estar espalhado pelo show”. Bastaria procurá-los?
No decorrer dos espetáculos, a festivaleira relata já ter ciência de que enfrentará
diversos empecilhos, principalmente aqueles relacionados às necessidades básicas, como
alimentação e higiene. Ela destaca que nem mesmo as estruturas adaptadas possuem
acessibilidade para recebê-la, pois certas adaptações funcionam apenas para alguns, já para
outros, como ela, a qual manuseia uma cadeira motorizada, não são de tanta inclusão. Por
utilizar de uma tecnologia assistiva de alto peso, ela nos relatou dizendo sobre algumas
limitações por causa desta sua realidade.

Banheiros químicos que, entre aspas, são adaptáveis, são adaptados porque eles têm
um piso mais largo, mas é horrível, é horrível porque é apertado. Não cabe a minha
cadeira dentro porque a minha cadeira é motorizada e é grande, então ela não é o
tamanho muito comum de uma cadeira dobrada, né? Que são as cadeiras comuns.
Então eu sempre tive que deixar minha cadeira fora do banheiro, minha mãe me
pegava no banheiro, ficava de olho pra ver se ninguém ia abrir a porta, ou se ninguém
vai pegar minha cadeira lá fora que está sozinha (HIPÓLITO, 2022).

Outra questão está relacionada aos espaços reservados às pessoas em situação de


cadeira de rodas, como as plataformas elevadas. A designer comenta que em alguns eventos,
estas estruturas também não funcionam de modo inclusivo, pois estão posicionadas em espaços
de fácil acesso para os bombeiros, e de difícil visualização dos PCDs para os artistas. A
acessibilidade se mostra presente; contudo, peca no quesito inclusão, pois não entregam
experiências equalizadas. Este grupo pode até assistir aos shows da banda favorita, mas não
com a mesma condição dos demais públicos. A entrevistada até mesmo opta por estar fora
destes espaços, comenta que no meio da multidão consegue ter mais vantagens.

A gente quer vivenciar o momento ali igual a todo mundo. E aí eles frisam, vamos
dizer, é uma exclusão ali que nos colocam só no mundinho, que acaba de privar a
gente de ter a experiência igual todo mundo, né? E tem gente que aceita isso, porque
em muitos shows que tinha esse espaço e tinha pessoas com deficiência, eles ficavam
lá, sabiam que não estava confortável, que não era bom, mas falava: “ah, fazer o quê?
É assim, né? A gente tem que ficar”. E eu nunca aceitei, eu falei: “não, eles botaram
a gente aqui, mas isso aqui não está bom pra mim. Eu vou procurar onde está bom”.
Então eu sempre fui um pouco rebelde nesse sentido (HIPÓLITO, 2022).

A contribuinte para o desenvolvimento desta monografia, indaga a necessidade de


melhorias em relação aos espaços disponibilizados para que as pessoas em situação de cadeira
de rodas possam assistir aos shows. Ela acredita haver o desenvolvimento de plataformas que
77

estejam “um pouco mais perto, um pouco mais alto”, pois, muitos destes grupos, possuem
determinadas características individuais, assim como todos nós. Mesmo em espaços reservados,
as pessoas se distinguem em tamanhos, a designer, por exemplo, se classifica com uma pessoa,
além de cadeirante, de baixa estatura, impossibilitando assim, a visualização dos palcos.
Outro ponto importante, o qual foi questionado na entrevista, são as questões ligadas
à sua experiência ao final dos eventos em que esta participou. Assim como os outros
entrevistados, Natalia também relata se preocupar com a grande quantidade de pessoas saindo
do evento ao mesmo tempo, mas destaca que dá muita importância pra isso, pois já está
acostumada com este tipo de barreira, tenta sempre sair após se sentir satisfeita com o decorrer
do evento. Ela diz se informar sobre estacionamentos que estejam localizados na área restrita
ao público, e caso não haja percorre o mesmo caminho que está disposto as demais pessoas,
busca pedir licença enquanto percorre o seu caminho final.
Ainda sobre os obstáculos enfrentados pela festivaleira, ela pontua que as barreiras na
estrutura e informações são as mais aparentes na sua experiência dentro destes ambientes, mas
que também enfrenta certas situações referente às atitudes das pessoas ao vê-la ocupando estes
espaços. Destaca observar comportamentos que demonstram espanto em relação a sua presença
em shows e festivais, mas que entende tais expressões, uma vez que a sua participação nestes
locais ainda é algo incomum na sociedade. E enaltece a sua participação para tornar esta
realidade um ponto positivo para naturalizar a presença de grupos com deficiência em eventos
onde todos possuem o direito de se fazerem presentes.
Agora, se tratando dos pontos positivos, Natalia exalta com bastante ênfase a questão
da possibilidade de estar em contato com outras pessoas. Para ela, um dos melhores benefícios
proporcionados por festivais de música, além de poder assistir um grupo artístico em específico,
é estar celebrando junto a participantes que vibram pelos mesmos motivos: a música. “Então
assim, era aquele momento de criar um ciclo de amizade”. A partir desses momentos, a
entrevistada comentou ter fomentado relações que penduraria para fora destes espaços,
influenciando, com isso, uma interação com outras pessoas que viessem a ter condições
similares a sua, e até mesmo realidades pertencentes a outros grupos sociais.
Por conta deste ponto positivo, a entrevistada continua buscando novas realizações
festivais. “Eu não pude estar no Lollapalooza e nem no Rock in Rio, mas espero um dia poder
ir”. Com isso, percebe-se o impacto destes ambientes na relação que esta desenvolve nestes
ambientes, motivando-a a continuar visitando eventos que possuam similaridades parecidas
com as que aqui foram citadas. Onde corpos que caminham sob rodas metálicas podem sentir
e ouvir tudo aquilo que a frequência da vida possa produzir; sonoridades reproduzidas não só a
78

partir daquilo que chega de maneira externa, mas também de forma interna, propagadas por
meio da relação entre o contato com o outro.

4.2.4 Voluntariado

Qualquer tipo de produção necessita lidar com certos imprevistos, seja pela falta de
atenção durante o desenvolvimento do projeto ou questões naturais, como a chuva ou calor
excessivo, influenciando, assim, na qualidade da experiência do público em geral. E se em um
dado momento, todo o espaço onde é realizado o festival se tornasse um grande monte de lama?
Isso já aconteceu, no Rock in Rio de 1985, ocorrido na antiga cidade do rock durante um final
de semana, houve muita água misturada com a terra presente no local. “E quando isso acontece,
não há nada o que possa ser feito, senão aproveitar a oportunidade para lavar a alma, sujar a
roupa e dançar “até que a grama vire lama” (PSICODELIA, 2013, s.p.).

Figura 26 – Rock in Rio 198587

Fonte: Blog Iron Maiden, 20288.

Nestas circunstâncias, como seria a experiência de pessoas em situação de cadeira de


rodas? Aparentemente, bastaria a eles contar com o sentimento comunitário, por estarem
reunidos ao som de uma só canção, dançando cada qual da sua maneira? No Parklife Festival
(figura 28), por exemplo, não se via rastros que não fossem feitos por pegadas. Além do terreno
ser irregular, a chuva fez com que boa parte do ambiente fosse prejudicado, dificultando, com

87
Na imagem, uma fotografia tirada por cima do local de evento do Rock in Rio de 1985.
88
Disponível em: https://br.vida-estilo.yahoo.com/emicida-abre-show-no-lollapalooza-brasil-com-bolsonaro-vai-
tomar-no-c-222723163.html. Acesso em: 10 fev. 2022.
79

isso, a presença de festivaleiros em situação de cadeira de rodas. Sob estas condições, estas
pessoas não conseguiram realizar o básico necessário para assistir aos shows: locomoção.
Mesmo com chuva, este evento não parecia ter sido elaborado para receber este tipo de público.

Figura 27 – Parklife Festival 201989

Fonte: Acervo pessoal, 2019.

Caso similar ocorreu no Lollapalooza de 2013, o acontecimento contou com fortes


quedas d’água provocadas pela chuva. Neste momento, esta causa, quase que natural, pareceu
desapontar grande parte das pessoas que utilizavam de alguma tecnologia assistiva. Fato este
comprovado por um dos participantes deste evento: “É praticamente impossível ir de um lado
ao outro. Tive sorte de conseguir carona em um desses carrinhos de golfe com um integrante
da produção" (KEREKES, 2015 apud SHALOM, 2013). O festival por inteiro acabou sendo o
maior obstáculo daqueles que necessitam contar com espaços inclusivos.
Na minha primeira experiência trabalhando, voluntariamente, em um festival de
música, especificamente no Rock in Rio de 2017, fui alocado para trabalhar na área VIP, lá

89
Na imagem diversas pessoas caminham próxima a roda gigante do fertival Parklife. Ao fundo é possível
vizualizar um dos palcos deste evento.
80

pouco tive experiências adquiridas pelo contato com pessoas com deficiência. Mas qual seria o
motivo de não haver tantas pessoas frequentando este ambiente? Por consequência de vivermos
em uma sociedade capacitista, estariam estas pessoas à beira da vulnerabilidade social,
principalmente na parte econômica, uma vez que estes espaços precisam de um investimento
mais alto? Os serviços disponíveis e acessíveis seriam diferentes dos outros locais?
Já durante minha segunda experiência trabalhando desta mesma maneira no Rock in
Rio; contudo, na edição de 2019, tive contato com as mais distintas condições físicas e
psicológicas. Recepcionando este grupo logo no portão de entrada do festival, durante o
primeiro final de semana, tive aproximação com determinadas limitações, como algumas
presentes na visão e audição, no físico e na mente. Depois disso, fui direcionado para auxiliar
este público no atrativo conhecido como tirolesa. Lá, vivenciei realizações de vida, em que o
participante podia desfrutar de um momento único em sua vida: estar suspenso e em movimento
em uma estrutura que era possível enxergar a sua própria importância na sociedade.

Figura 28 – Tirolesa do Rock in Rio de 201990

Fonte: Acervo pessoal, 2019.

90
Na imagem é possível enxergar uma das torres da Tirolesa do Rock in Rio 2019.
81

Nesta minha mesma participação também manuseei a cadeira escaladora, “capaz de


subir as escadas do brinquedo e que permite a quem depende do aparelho usufruir da atração
sem nenhum prejuízo” (GUIMARÃES, 2017, on-line). Neste momento, tive contato com o uso
desta tecnologia assistiva, a qual pode contribuir para outras áreas do festival, como, por
exemplos, em lugares onde exista escadas e não seja possível incluir rampas de acesso, tornando
assim uma opção extra para caso não haja o devido planejamento que possibilite o cadeirante a
ter autonomia na circulação. Não é o ideal, mas funciona em casos específicos.
Nesta minha experiência profissional, não somente tive a oportunidade de desfrutar
deste atrativo – a tirolesa, mas pude ver aqueles que o utilizavam pela primeira vez em toda
uma vida, conquista ínfima, perto das realizações de quem já conquistou muitas coisas no meio
social, principalmente o do acesso em um espaço nunca antes ocupado, os festivais de música.
Era visível aos meus olhos e coração a emoção dessas pessoas. Estive presente em dois
momentos na experiência destas pessoas durante esta celebração: na chegada e na saída deste
grupo na tirolesa, o sentimento de felicidade era surpreendente.
Como realizei minhas funções como voluntário na parte da tarde, durante a noite estive
livre para aproveitar o evento, porém a minha empolgação auxiliando este público persistia.
PCDs por onde me viam solicitavam auxílio. Durante a noite, a dinâmica do espetáculo já era
diferente, muitos festivaleiros já haviam chegado, e por isso maior tumulto. Neste momento,
percebi que os PCDs não conseguiam alcançar determinado local, e nem ao menos minhas
tentativas, como voluntário já após o turno de serviço, atingiam um resultado positivo. Pessoas
em situação de cadeira de rodas não conseguiam acessar as áreas reservadas para eles. Aqui
ficou evidente a falta de inclusão, por mais que houvesse recursos na área da acessibilidade.
82

CONCLUSÃO

A nomenclatura correta a ser utilizada é um grande fator para mudar a história destes
indivíduos. O essencial é tratar as pessoas com deficiência como a si mesmo, só assim será
possível viver em equilíbrio com aqueles que fujam do ideal enaltecido pela sociedade. A
maneira como se deve lidar com as diferenças é de suma necessidade para a aplicação e
execução dos direitos universais. O respeito pelo outro precisa estar acima de qualquer regra
que venha a instruir cidadãos a se relacionarem entre si. Não há eficácia na implementação de
legislações que não estejam acompanhadas de uma população adepta a dar espaço a condições
de vida semelhantes às próprias.
Em relação ao turismo e os festivais de música como espaço cultural, os resultados das
entrevistas mostraram a potencialidade destes eventos enquanto propulsor do fluxo turístico de
pessoas com deficiência. O grupo de festivaleiros que façam uso da cadeira de rodas possuem
interesse em continuar participando dos mesmos eventos que já visitaram, como Rock in Rio e
Lollapalooza, mesmo diante dos obstáculos na área da acessibilidade e inclusão. Ademais
também desejam visitar novos espaços do gênero, restando saber se os espaços públicos e
privados estão em condições de receber estas pessoas.
Para transformar é preciso que pessoas com deficiência continuem lutando pelos seus
direitos, assim como todos que fizeram no passado. PCDs sempre viveram a margem da
sociedade, muitas vezes trancafiados em lares considerados seguros de qualquer discriminação.
As leis que resguardam o direito destas pessoas já se fazem presentes no meio governamental,
e, para reforçar o que se defende, é preciso ocupar espaços. Tal grupo deve atravessar barreiras
para estarem inclusos no sistema. Quando este grupo for algo comum e aparente aos olhos do
restante da população, o diferente deixará de causar espanto.
Nesta pesquisa, foram encontrados diversos problemas em relação às barreiras
estruturais, mas ao final o que realmente importa em uma sociedade onde muito se deve
melhorar em relação à acessibilidade nestes ambientes? Para o grupo de análise deste trabalho,
independentemente dos direitos relacionados à cidadania, o que parece mesmo importar, na
experiência deste grupo em festivais de música, é a união entre diferentes povos. Ali tudo parece
estar fluindo conforme o que não se espera de um mundo totalmente capacitista - diversas
manifestações culturais dançando conforme manda a música. “Todos numa direção. Uma só
voz, uma canção. Todos num só coração” (ROUPA NOVA, música tema do Rock in Rio).
83

REFERÊNCIAS

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TELES, A. de A. Woodstock e a contracultura: um olhar sobre os EUA dos anos 60.


Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação). Universidade Federal de Uberlândia, 1998.
93

APÊNDICES

APÊNDICE A - ROTEIRO DAS PERGUNTAS PARA AS ENTREVISTAS

ROTEIRO DE ENTREVISTAS
1. Nome
2. Idade
3. Identidade de gênero
4. Estado civil
5. Local de residência
6. Escolaridade
7. Profissão
8. Poderia me falar um pouco sobre sua deficiência? (tipo e causa)
9. Vi que você participou de vários festivais. Qual foi o primeiro? O que você sentiu?
10. De onde surgiu a vontade em ir a um festival de música?
11. Participou do festival acompanhado? Sempre está acompanhado? Já foi em algum
sozinho? Iria?
12. Pode me falar um pouco sobre os procedimentos para chegada no evento? Como você se
prepara? Instruções, termos, acesso aos estacionamentos. Preocupação da produção,
contato telefônicos.
13. Qual o meio de transporte utilizado para ir até o local do festival?
14. Na entrada de um festival de música, como você descreveria a parte da acessibilidade e
inclusão? Por exemplo, ao apresentar ingressos, passar pelos detectores de metais, etc.
15. E durante o festival, como você lida com o acesso aos espaços? Banheiros (químicos),
restaurantes, entretenimento. Eu vi que você busca pelo mapa do festival, mas e na
prática, você costuma circular para conhecer melhor o espaço?
16. No percurso de saída do festival, como você se organiza? Saída, movimento, prioridades,
ônibus.
17. Quais foram as barreiras que mais te impediram de utilizar os serviços disponíveis?
Barreiras atitudinais, estruturais, comunicacionais.
18. Quais foram as situações que mais acrescentaram para sua experiência em um festival
de música?
94

19. Em geral, o que você acha que poderia ser feito para melhorar a área de apoio às pessoas
com deficiência?
20. Além dos recursos aplicados na área da acessibilidade e inclusão, algo mais
impossibilita/possibilita que você se sinta parte de um festival de música?
21. Você voltaria em algum festival? Por que?
22. Qual outro festival que você gostaria de participar? Por que?
23. Em algum destes festivais você utilizou de serviços da área turística, como hotelaria,
transporte. Visitou pontos turísticos?
24. Por fim, pode me contar sobre sua experiência que talvez tenha sido a mais inesquecível
dentro de um festival de música?
25. Existem termos ligados à sua deficiência que te desagradam? Quais termos são aceitos?

APÊNDICE B - E-MAIL DE SOLICITAÇÃO AOS DADOS DO ROCK IN RIO


95

APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE


NATALIA HIPOLITO
96

APÊNDICE D - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE


JULIA MATTOSINHO
97

APÊNDICE E - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO DE


PEDRO AMÉRICO
98

ANEXOS

ANEXO A - TERMOS UTILIZADOS PARA SE REFERIR ÀS PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA AO LONGO DO TEMPO

ÉPOCA TERMOS E VALOR DA PESSOA


SIGNIFICADOS
No começo da “Os inválidos”. O Aquele que tinha deficiência era tido como
história, durante termo significava socialmente inútil, um peso morto para a
séculos. Romances, “indivíduos sem sociedade, um fardo para a família, alguém
nomes de valor”. Em pleno sem valor profissional.
instituições, leis, século 20, ainda se
mídia e outros meios utilizava este termo, Outros exemplos:
mencionavam “os embora já sem
inválidos”. nenhum sentido “Servidor inválido pode voltar” (Folha de S.
Exemplos: “A pejorativo. Paulo, 20/7/82).
reabilitação “Os cegos e o inválido” (IstoÉ, 7/7/99).
profissional visa a Outro exemplo:
proporcionar aos
beneficiários “Inválidos
inválidos...” (Decreto insatisfeitos com lei
federal nº 60.501, de relativa aos
14/3/67, dando nova ambulantes” (Diário
redação ao Decreto nº Popular, 21/4/76).
48.959-A, de
19/9/60).
Século 20 até ± “Os Foi um avanço a sociedade reconhecer que a
1960. incapacitados”. O pessoa com deficiência poderia ter
“Derivativo para termo significava, capacidade residual, mesmo que reduzida.
incapacitados” de início,
(Shopping News, “indivíduos sem Mas, ao mesmo tempo, considerava-se que a
Coluna capacidade” e, mais deficiência, qualquer que fosse o tipo,
Radioamadorismo, tarde, evoluiu e eliminava ou reduzia a capacidade da pessoa
1973). passou a significar em todos os aspectos: físico, psicológico,
“indivíduos com social, profissional etc.
“Escolas para capacidade
crianças incapazes” residual”. Durante
(Shopping News, várias décadas, era
13/12/64). comum o uso deste
termo para designar
Após a I e a II pessoas com
Guerras Mundiais, a deficiência de
mídia usava o termo qualquer idade.
assim: “A guerra Uma variação foi o
produziu termo “os
incapacitados”, “Os incapazes”, que
incapacitados agora significava
exigem reabilitação “indivíduos que não
são capazes” de
99

física”. fazer algumas coisas


por causa da
deficiência que
tinham.
De ± 1960 até ± “Os A sociedade passou a utilizar estes três
1980. defeituosos”. O termos, que focalizam as deficiências em si
termo significava sem reforçarem o que as pessoas não
“Crianças defeituosas “indivíduos com conseguiam fazer como a maioria.
na Grã-Bretanha tem deformidade” Simultaneamente, difundia-se o movimento
educação especial” (principalmente em defesa dos direitos das pessoas
(Shopping News, física). superdotadas (expressão substituída por
31/8/65). “os deficientes”. “pessoas com altas habilidades” ou “pessoas
Este termo com indícios de altas habilidades”). O
No final da década de significava movimento mostrou que o termo “os
50, foi fundada a “indivíduos com excepcionais” não poderia referir-se
Associação de deficiência” física, exclusivamente aos que tinham deficiência
Assistência à intelectual, auditiva, intelectual, pois as pessoas com
Criança Defeituosa – visual ou múltipla, superdotação também são excepcionais por
AACD (hoje que os levava a estarem na outra ponta da curva da
denominada executar as funções inteligência humana.
Associação de básicas de vida
Assistência à Criança (andar, sentar-se,
Deficiente). correr, escrever,
tomar banho etc.) de
Na década de 50 uma forma diferente
surgiram as primeiras daquela como as
unidades da pessoas sem
Associação de Pais e deficiência faziam.
Amigos E isto começou a ser
dos Excepcionais - aceito pela
APAE. sociedade.
“os excepcionais”.
O termo significava
“indivíduos com
deficiência
intelectual”.
De 1981 até ± “Pessoas Foi atribuído o valor “pessoas” àqueles que
1987. Por pressão das deficientes”. Pela tinham deficiência, igualando-os em direitos
organizações de primeira vez em e dignidade à maioria dos membros de
pessoas com todo o mundo, o qualquer sociedade ou país.
deficiência, a ONU substantivo
deu o nome de “Ano “deficientes” (como A Organização Mundial de Saúde (OMS)
Internacional em “os deficientes”) lançou em 1980 a Classificação
das Pessoas Deficient passou a ser Internacional
es” ao ano de 1981. utilizado como de Impedimentos, Deficiências e Incapacida
adjetivo, sendo-lhe des, mostrando que estas três dimensões
E o mundo achou acrescentado o existem simultaneamente em cada pessoa
difícil começar a substantivo com deficiência.
dizer ou escrever “pessoas”.
“pessoas deficientes”.
100

O impacto desta A partir de


terminologia foi 1981, nunca mais se
profundo e ajudou a utilizou a palavra
melhorar a imagem “indivíduos” para se
destas pessoas. referir às pessoas
com deficiência.
De ± 1988 até ± “Pessoas O “portar uma deficiência” passou a ser um
1993. portadoras de valor agregado à pessoa. A deficiência
deficiência”. Termo passou a ser um detalhe da pessoa. O termo
Alguns líderes de que, utilizado foi adotado nas Constituições federal e
organizações de somente em países estaduais e em todas as leis e políticas
pessoas com de língua pertinentes ao campo das deficiências.
deficiência portuguesa, foi Conselhos, coordenadorias e associações
contestaram o termo proposto para passaram a incluir o termo em seus nomes
“pessoa deficiente” substituir o termo oficiais.
alegando que ele “pessoas
sinaliza que a pessoa deficientes”.
inteira é deficiente, o
que era inaceitável Pela lei do menor
para eles. esforço, logo
reduziram este
termo para
“portadores de
deficiência”.
De ± 1990 até “Pessoas com De início, “necessidades especiais”
hoje. O art. 5° da necessidades representava apenas um novo termo.
Resolução CNE/CEB especiais”. O termo Depois, com a vigência da Resolução n° 2,
n° 2, de 11/9/01, surgiu “necessidades especiais” passou a ser um
explica que as primeiramente para valor agregado tanto à pessoa com
necessidades substituir deficiência quanto a outras pessoas.
especiais decorrem de “deficiência” por
três situações, uma “necessidades
das quais envolvendo especiais”, daí a
dificuldades expressão “portado
vinculadas a res de necessidades
deficiências e especiais”. Depois,
dificuldades não- esse termo passou a
vinculadas a uma ter significado
causa orgânica. próprio sem
substituir o nome
“pessoas com
deficiência”.
Mesma época “Pessoas O adjetivo “especiais” permanece como
acima. Surgiram especiais”. O termo uma simples palavra, sem agregar valor
expressões como apareceu como uma diferenciado às pessoas com deficiência. O
“crianças especiais”, forma reduzida da “especial” não é qualificativo exclusivo das
“alunos especiais”, expressão “pessoas pessoas que têm deficiência, pois ele se
“pacientes especiais” com necessidades aplica a qualquer pessoa.
e assim por diante especiais”,
numa tentativa de constituindo um
101

amenizar a eufemismo
contundência da dificilmente
palavra “deficientes”. aceitável para
designar um
segmento
populacional.
Em junho de “Pessoas com O valor agregado às pessoas é o de elas
1994. A Declaração deficiência” e fazerem parte do grande segmento dos
de Salamanca pessoas sem excluídos que, com o seu poder pessoal,
preconiza a educação deficiência, quando exigem sua inclusão em todos os aspectos
inclusiva para todos, tiverem da vida da sociedade. Trata-se do
tenham ou não uma necessidades empoderamento.
deficiência. educacionais
especiais e se
encontrarem
segregadas, têm o
direito de fazer
parte das escolas
inclusivas e da
sociedade
inclusiva.
Em maio de “Portadores de Não há valor a ser agregado com a adoção
2002. Frei Betto direitos deste termo, por motivos expostos na coluna
escreveu no jornal O especiais”. O termo ao lado e nesta.
Estado de S.Paulo um e a sigla apresentam
artigo em que propõe problemas que A sigla PODE, apesar de lembrar
o termo “portadores inviabilizam a sua “capacidade”, apresenta problemas de uso:
de direitos especiais” adoção em 1) Imaginem a mídia e outros autores
e a sigla PODE. substituição a escrevendo ou falando assim: “Os Podes de
Alega o proponente qualquer outro Osasco terão audiência com o Prefeito...”,
que o substantivo termo para designar “A Pode Maria de Souza manifestou-se a
“deficientes” e o pessoas que têm favor...”, “A sugestão de José Maurício, que
adjetivo “deficientes” deficiência. O termo é um Pode, pode ser aprovada hoje...”
encerram o “portadores” já vem 2) Pelas normas brasileiras de ortografia, a
significado de falha sendo questionado sigla PODE precisa ser grafada “Pode”.
ou imperfeição por sua alusão a Norma: Toda sigla com mais de 3 letras
enquanto que a sigla “carregadores”, pronunciada como uma palavra deve ser
PODE exprime pessoas que grafada em caixa baixa com exceção da
capacidade. “portam” (levam) letra inicial.
uma deficiência. O
O artigo, ou parte termo “direitos
dele, foi reproduzido especiais” é
em revistas contraditório porque
especializadas em as pessoas com
assuntos de deficiência exigem
deficiência. equiparação de
direitos e não
direitos especiais. E
mesmo que
defendessem
102

direitos especiais, o
nome “portadores
de direitos
especiais” não
poderia ser
exclusivo das
pessoas com
deficiência, pois
qualquer outro
grupo vulnerável
pode reivindicar
direitos especiais.
De ± 1990 até hoje e “Pessoas com Os valores agregados às pessoas com
além. deficiência” passa a deficiência são:
ser o termo
A década de 90 e a preferido por um 1) o do empoderamento [uso do poder
primeira década do número cada vez pessoal para fazer escolhas, tomar decisões
século 21 e do maior de adeptos, e assumir o controle da situação de cada
Terceiro Milênio boa parte dos quais um] e
estão sendo marcadas é constituída por
por eventos mundiais, pessoas com 2) o da responsabilidade de contribuir com
liderados por deficiência que, no seus talentos para mudar a sociedade rumo à
organizações de maior evento inclusão de todas as pessoas, com ou sem
pessoas com (“Encontrão”) das deficiência.
deficiência. organizações de
pessoas com
A relação de deficiência,
documentos realizado no Recife
produzidos nesses em 2000,
eventos pode ser vista conclamaram o
no final deste artigo. público a adotar este
termo. Elas
esclareceram que
não são “portadoras
de deficiência” e
que não querem ser
chamadas com tal
nome.
Fonte: SASSAKI, 2003.
103

ANEXO B – TIPOS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA

Deficiência Características
PARAPLEGIA Perda total das funções dos membros inferiores.
PARAPARESIA Perda parcial das funções motoras dos membros inferiores.
MONOPLEGIA Perda total das funções motoras de um só membro (inferior ou
posterior).
MONOPARESIA Perda parcial das funções de um só membro (inferior ou
posterior).
TETRAPLEGIA Perda total das funções dos membros inferiores e superiores.
TETRAPARESIA Perda parcial das funções dos membros inferiores e superiores.
TRIPLEGIA Perda total das funções de três membros.
TRIPARESIA Perda parcial das funções de três membros.
HEMIPLEGIA Perda total das funções motoras de um hemisfério do corpo
(direito ou esquerdo).
HEMIPARESIA Perda parcial das funções motoras de um hemisfério do corpo
(direito ou esquerdo).
AMPUTAÇÃO Perda total ou parcial de um determinado membro ou segmento
de um membro.
PARALISIA CEREBRAL Lesão de uma ou mais áreas do sistema nervoso central, tendo
como consequência alterações psicomotoras, podendo ou não
causar deficiência intelectual.
OSTOMIA Intervenção cirúrgica que cria um ostoma (abertura/óstio) na
parede abdominal para adaptação de bolsa de coleta; processo
cirúrgico que visa à construção de um caminho alternativo e
novo na eliminação de fezes e urina para o exterior do corpo
humano (colostomia: ostoma intestinal; urostomia: desvio
urinário).
NANISMO Deficiência no crescimento que culmina em baixa estatura, se
comparado com a média.
Fonte: Coordenadoria de Acessibilidade Educacional/Universidade Federal de Santa Catarina, n. d.

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