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Direito Processual Penal Professor João de Deus Alves de Lima

INTRODUÇÃO AO PROCESSO PENAL

Noções Gerais

“Jus Puniendi”:
Quando ocorre uma infração penal, surge o “jus puniendi”, ou seja, o direito de punir
exercido pelo Estado.

Processo:
O processo é o meio que possibilita o exercício do direito de punir do Estado. Funciona
ele como um complexo de atos coordenados visando ao julgamento da pretensão
punitiva.
“Jus Puniende” abstrato: Significa a norma em si, ou seja, para o Estado ter o direito de
punir tal ato, o mesmo terá que ter definição em Lei constando que é crime.
Abstrato está no plano intelectual, ( normativo ) o art 121 CP – “matar alguém”
Pena = reclusão
De 6 a 20 anos
É o direito de punir do Estado de forma abstrata, só sai do plano abstrato quando o
agente prática a conduta ilícita, o meio pelo qual o Estado se utiliza que damos o nome de
Direito Processual ou surge o direito de punir concreto.
“Jus Puniendi” concreto: É o próprio crime, ou seja, o fato típico e antijurídico.
Litígio: quando existe o conflito de interesses entre as partes, a do Estado de punir e do
agente de se defender, ou seja, conflito de interesses qualificado por uma pretensão
resistida.
São três as formas compositivas de resolver a lide, a saber:
A Autodefesa ou Autotutela: Significa fazer justiça com as próprias mãos, utilizado pela
força, historicamente na civilização mais antiga, hoje é terminantemente proibido, não se
confunde com a legítima defesa que é amparada pelo direito e é uma excludente da
ilicitude, uma vez que essa é permitida para se defender com moderação e não para
aplicar sanções.
A autodefesa também nos dias de hoje ampara pelo direito usada em Estado de
necessidade, cumprimento do dever legal.
Autocomposição: É quando as partes entram em um acordo amigável para resolver o
litígio; a Justiça do Trabalho é a justiça que mais utiliza a autocomposição, porém na
maioria das vezes é feito um acordo entre empregado e empregador, e esse acordo não é
justo.
No Direito Penal temos a Lei 9.099/95 – Transação Penal, ou seja, o Estado tem o direito
de punir e faz uma troca com o agente (acordo).
O Processo: É o meio mais racional e eficaz de composição da lide. Acordo sob um
prisma imparcial – juiz aplica a lei ao caso concreto, quando isso ocorre temos a tutela
jurisdicional.
• Narra-me os fatos que lhe direi o direito...

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Limitação ao direito de punir do Estado


- Não há pena sem juiz
- Não há pena sem processo

Relação Processual
a )Autor
b )Réu
c )Juiz
O juiz é sujeito imparcial, ele só julga está em posição de superioridade, as partes são
autor e réu e todos estão dentro de uma relação jurídica.
Procedimento Ordinário – Art 157
Procedimento – são seqüências de atos do processo, linear, progressiva, continua.
Conceitos de Processo Penal: É o conjunto de normas e princípios que regulam a
aplicação jurisdicional do Direito Penal objetivo, a sistematização dos órgãos de jurisdição
e respectivos auxiliares, bem como, da persecução (investigação) criminal, ou seja, é o
meio que conduz a aplicação da pena.
Direito Processual Penal: Direito Processual Penal é o ramo do direito público que
regula a atividade tutelar do Direito Penal. (aplicação da pena).

Instrumentalidade
O Direito Processual Penal tem um caráter instrumental: constitui o meio para fazer atuar
o direito penal material, tornando efetiva a função de prevenção e repressão das
infrações penais.

Outros Ramos do Direito Relacionados com o Direito Processual Penal:


a) Direito Constitucional;
b) Direito Penal;
c) Direito Civil;
d) Direito Administrativo;
e) Direito Processual Civil;
f) Direito Comercial (falências);
g) Direito Internacional.

Características do Direito Processual Penal

Autonomia:
É a ciência autônoma no campo da dogmática jurídica, uma vez que tem objeto e
princípios que lhe são próprios.

Instrumentalidade:
O Processo Penal tem como característica ser ele um instrumento para a realização do
Direito Material.

Finalidade:

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Há duas finalidades presentes:


a) mediata: se confunde com a própria finalidade do Direito Penal, que é a manutenção da
paz social, a solução dos conflitos sociais de catáter penal;
b) imediata: efetivação da pretensão punitiva derivada de um delito, através da utilização
da garantia jurisdicional, aplicação da sanção penal ao caso concreto.

Leis Processuais Brasileiras

α ) Ordenações Filipinas;
β ) Código de Processo Criminal (1832);
χ ) Códigos Processuais dos Estados (Constituição de 1891);
δ ) Retorno à unidade processual nacional (Constituição de 1934);
ε ) Código de Processo Penal (1941) - atualmente em vigor.
φ ) Lei de Execução Penal (1984) - passou a regular a matéria.

Processo Penal Histórico e principais sistemas processuais

História do Processo Penal

I – Processo Penal na Grécia


Faziam distinção entre os crimes privados e os crimes públicos.
• Crimes privados: ficavam a cargo do ofendido;
• Crimes públicos: apurados com a participação direta do cidadão, e eram denunciados
à Assembléia do Povo, que indicava um cidadão para proceder a acusação;
• Assembléia do Povo: mais importante tribunal grego, cuja competência era o
julgamento de crimes políticos graves;
• Areópago: o mais célebre dos tribunais, cuja competência era o julgamento dos crimes
de homicídio premeditado, incêndio, traição;
• Tribunal dos Éfetas: tinha competência para julgar os homicídios não premeditados e
os involuntários;
• Tribunal dos Heliastas: exercia jurisdição comum.
Se houvesse empate, o réu era absolvido.

II – Processo Penal em Roma

• Crimes privados: o Estado atuava apenas como árbitro;


• Crimes públicos: de interesse aos romanos (porque os crimes atingiam a sociedade
também);

O processo penal em Roma dividiu-se em 3 fases:


a ) Monarquia: processo do tipo cognitio (cognição = conhecimento)  figura do juiz
concentrador (concentrava em suas mãos todo o poder jurisdicional).
Notitia criminis  inquisitio  pena (punição)
Provocatio ad populum  cidadão romano

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O que o juiz decidia, estava decidido. No entanto, começaram a surgir os Tribunais de


Apelação (apenas para os romanos, pois os estrangeiros tinham que aceitar a decisão
do juiz sem direito à réplica), julgada por júri popular. Foi criado devido o poder
concentrado mas mãos do juiz.
b ) República: processo do tipo acusatio (acusatório)  figura do acusador distinta do
julgador. Esta acusação, qualquer cidadão romano poderia fazer, com exceção das
mulheres, juízes, menores e pessoas desonradas. Aqui, não existia mais um poder
concentrado nas mãos de só um juiz, no entanto, também não havia nenhum poder
que limitava as atitudes dos juízes na esfera penal. O processo é da seguinte forma: é
feita a postulação (acusação, ocorrência de um fato criminoso – apresentação das
provas de toda a investigação) por um juiz, um outro (se o fato for julgado crime) faria
a inscrição (inscriptio), que era inscrito no Livro dos Crimes e desta forma se tornava
um processo, uma inscrição judicial pelo juiz, que já não podia mais desistir do
processo (primeiros resquícios do Princípio da Indisponibilidade). Com a inscrição, o
julgamento seria feito por jurados que eram cidadãos romanos e em número ímpar,
para que não houvesse empate. Neste julgamento, também caberia recurso através
do Tribunal de Apelação.
c ) Império: era um julgamento inquisitivo, com a denúncia a princípio (acusação) que
era feita por um juiz, o qual faria também a investigação e o julgamento através do
Tribunal Judicial (juízes), não mais um júri popular. Aqui, a confissão se não fosse de
própria vontade, era sob tortura. Aqui surgiram as situações de corrupção: quem tinha
maior poder aquisitivo, subordinava o juiz. Voltou a ser cognitio.
Cognitio extra ordinem = cognição extraordinária
III – Processo Penal Germânico

Nos crimes particulares, era a autotutela que prevalecia (não existia interesse nenhum do
Estado).
Nos crimes públicos, o Estado só intervinha se prejudicasse o próprio.
Nessa época era dente por dente, olho por olho, era usado a autotutela, o Estado só
intervia quando ele era atingido, era denunciado para uma Assembléia (membros da
monarquia), que providenciavam o julgamento, era nomeado um acusador entre reis,
príncipes, condes e encaminhado ao juiz para proceder ao julgamento. Buscava-se a todo
custo uma confissão do réu, ele deveria jurar inocência em praça pública em nome de
Deus que era inocente. Se ele fosse culpado, ficava a cargo de Deus. Com este tipo de
punição, os crimes foram aumentando, então surgiram os meios de prova de inocência, o
réu deveria provar a inocência (ônus da prova).
Meio de prova = tudo o que você faz para demonstrar as provas.
Meios de provas era de duas formas:
Era também de acordo com a gravidade do delito.
1º Juramento – a pessoa em praça pública jurava em nome de Deus que era inocente e
ficava a cargo de Deus.
2º Ordalhas - (juízos de Deus – providência divina), os juízes usavam dos seguintes
meios de provas:
- Duelos Judiciais (crimes menos graves)

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- Purgações (crimes mais graves, que atentavam contra a cidade/cidadão).


a) Água fria
b) Água quente
c) Ferro quente

O tipo escolhido dependia da gravidade do crime do qual o réu era acusado.


Nos duelos judiciais, os dois (autor e réu) eram chamados em praça pública para o
combate. Se o autor fosse muito pequeno, magro, raquítico, convocavam um lutador
profissional e colocavam-no no confronto com o réu. Se este vencesse, era a

1. Acusatório (1.º fase):


Forma conhecida na antiguidade, o processo acusatório dependia da acusação de
alguém para se iniciar e deixava a produção das provas exclusivamente a cargo das
partes.

2. Inquisitório:
No processo inquisitório, todas as funções (acusação, defesa e julgamento) passaram a
ser exercidas por uma só pessoa. Muito comum na Idade Média, a Igreja praticou
inúmeras atrocidades usando-se deste sistema.

3. Acusatório (2.º fase):


Como reação ao sistema inquisitório, ressurgiu o sistema acusatório, mas agora de forma
diferente. As funções passaram a ser desempenhadas por pessoas diferentes.

4. Sistema Misto:
Adota tanto a fase inquisitória, para a apuração dos fatos, como posteriormente a
acusatória, que garante maiores garantias ao acusado.

Princípios do Processo Penal

O processo penal orienta-se pelos seguintes princípios:

1. Princípio do Devido Processo Legal:


Ninguém será privado da liberdade e de seus bens, sem a garantia que supõe a
tramitação de um processo desenvolvido conforme o direito processual.

2. Garantia de Contraditório:
Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

3. Proibição de Provas Obtidas por Meios Ilícitos:


Não é admitida no processo, qualquer prova obtida através de transgressões a normas de
direito material.

4. Inocência Presumida ou presunção de inocência/não culpabilidade:


Até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, ninguém será considerado

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culpado.

5. Publicidade dos Atos Processuais:


Os atos processuais são públicos (art. 5º, XXXIII e LX; e art. 93º, IX da CF).

6. Juiz Natural:
A ação penal deve ser proposta perante o órgão competente, indicado pela Constituição
(art. 5º, LIII, da CF).

7. Iniciativa das Partes:


A ação penal deve ser provocada pelas partes. A promoção da ação penal pública cabe
privativamente ao Ministério Público (art. 129, I, da CF); não existe mais ação penal com
início por portaria do juiz ou da autoridade policial; a promoção da ação penal privada
cabe ao ofendido ou seu representante legal.

8. Impulso Oficial:
Uma vez iniciada, porém, a ação penal, compete ao juiz do crime manter a ordem dos
atos e o seguimento do processo (art. 251 do CPP).

9. Verdade Real:
A função punitiva do Estado só pode fazer-se valer em frente àquele que, realmente,
tenha cometido uma infração; portanto o Processo Penal deve tender à averiguação e
descobrimento da verdade real ou verdade material, como fundamento da sentença.

• Verdade formal ou convencional: acordo surgido das manifestações formuladas


pelas partes, o qual exclui no todo ou em parte a verdade real (usada no Processo
Civil).

10. Legalidade ou Obrigatoriedade:


Sendo o processo obrigatório para a segurança e reintegração da ordem jurídica, devem
os órgãos persecutórios atuar necessariamente, ou seja, não podem possuir poderes
discricionários para apreciar a conveniência ou oportunidade da instauração do processo
ou inquérito.

Aplicação da Lei Processual Penal

Interpretação da Lei Processual Penal

Interpretar a lei é conseguir depreender do seu texto a sua real vocação, ou seja, saber
exatamente qual a vontade nela contida.
Há várias formas de se interpretar a lei processual penal:
a) interpretação doutrinal e judicial;
b) interpretação gramatical;
c) interpretação teleológica;

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d) interpretação extensiva;
e) interpretação analógica.

O processo penal admite a interpretação extensiva, o uso da analogia e os princípios


gerais do direito.

Observação importante: não limite seus estudos ao material de apoio, consulte sempre a
bibliografia indicada.

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