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PRADO, F.E; FERREIRA, C.H; MENDONÇA, R. M.

Comparação das declividades de 2 e 10% no cultivo


hidropônico de alface. Horticultura Brasileira 30: S577-S581.

Avaliação de duas declividades (2 e 10%) no cultivo de alface hidropônica,


produzida em sistema NFT.
Cristiano Henrique Ferreira¹; Fernando Eduardo Prado¹; Ricardo Moreira Mendonça².
¹Graduandos do Curso de Agronomia, FAZU - Faculdades Associadas de Uberaba, Av. do Tutunas, 720 – CEP 38061-
500, Uberaba – MG, e-mail: fernandoeprado@gmail.com; cristianu_hf@hotmail.com; ²Prof. MSc. Curso de
Agronomia, FAZU - e-mail: ricardo@fazu.br

RESUMO
Com o crescente aumento da população a demanda por alimentos será cada vez maior, e para suprir
esta necessidade nova tecnologias vêm sendo empregadas para a produção de alimento, dentre elas
destaca-se a hidroponia, onde há uma melhoria na qualidade das hortaliças além de uma maior
produtividade. Visando analisar o rendimento da cultura da alface em duas diferentes declividades
dos canais de cultivo e quatro cultivares do grupo crespa (Vanda, Amanda, Vera e Solaris), adotou-
se um delineamento fatorial 2 x 4 em faixas, onde os tratamentos das subunidades foram arranjados
em faixas através de cada repetição ou bloco. A solução nutritiva era fornecida a cada 15 minutos,
para não provocar a diminuição da absorção de oxigênio pelas raízes, todo o sistema foi controlado
por um ‘timer’, que funciona das 6 ás 18 horas. As declividades consistiram em 2% e 10%, onde
foram coletados dados de matéria fresca total; matéria fresca de parte aérea; matéria fresca de raiz;
matéria seca total; matéria seca de parte aérea; matéria seca de raiz. Os melhores resultados obtidos
em matéria fresca total e matéria fresca da parte aérea ocorreram na declividade de 2%. O maior
desenvolvimento do sistema radicular na declividade de 10% ocorreu possivelmente para
compensar a maior velocidade da solução dentro do perfil. As cultivares não apresentaram
diferenças quanto ao desempenho, exceto a cultivar Vanda que apresentou os menores resultados.
PALAVRAS-CHAVE: Lactuta sativa, declividade, hidroponia, produção.

ABSTRACT
With the increasing population the demand for food is increasing, and to meet this need new
technology is being used for food production, chief among which is hydroponics, where there is an
improvement in the quality of vegetables and a higher productivity. To analyze the yield of lettuce
in two different slopes of the growing channels and four cultivars of crisp group (Vanda, Amanda,
Vera and Solaris), we adopted a 2 x 4 factorial design in bands where the treatments were the
subunits arranged in strips across each replication or block. The nutritive solution was given every
15 minutes to not cause a decrease in oxygen uptake by the roots, the whole system was controlled
by a "timer", which runs from 6 to 18 hours. The slopes consisted of 2% and 10%, where data were
collected on fresh weight, shoot fresh weight, root fresh weight, dry weight, shoot dry weight, root
dry matter. The best results obtained in fresh weight and fresh weight of shoots occurred in 2%
slope. Further development of the root system of the slope 10%, possibly occurred to compensate
for the higher speed of the solution within the profile. Cultivars did not differ in performance,
except Vanda with the lowest yield.
KEYWORDS: Lactuta sativa, slope, hydroponic production.

O cultivo hidropônico transformou-se em uma atividade dos tempos modernos, a qual gera aumento
na produção, na produtividade e a na qualidade dos produtos agrícolas. Através desta tecnologia é
possível controlar um maior número de fatores ambientais ligados a nutrição e ao desenvolvimento
da planta (pH, aeração, concentração de nutrientes, temperatura da solução e outros)
(RODRIGUES, 2002).
Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 577
PRADO, F.E; FERREIRA, C.H; MENDONÇA, R. M. Comparação das declividades de 2 e 10% no cultivo
hidropônico de alface. Horticultura Brasileira 30: S577-S581.

A oxigenação da solução é um fator que está ligado diretamente com o nível de absorção dos
nutrientes, fazendo com que este processo seja de grande necessidade. A oxigenação pode ser feita
durante a circulação da solução rumo ao reservatório, ou através da aplicação de ar comprimido. A
circulação feita por queda natural gera menor custo de manutenção, durante o estabelecimento da
cultura. Já a temperatura deve estar na faixa de 20 a 25° C em temperaturas inferiores a 15° C e
superiores a 25° C causam problemas nas raízes, pois facilita o desenvolvimento dos fungos e
bactérias, a solução nutritiva deve ter temperatura igual ou menor que a ambiente. Em dias quentes,
os contatos das raízes com soluções abaixo da temperatura ambiente, resultam no murchamento
temporário das plantas, e na redução da absorção dos nutrientes. Para minimizar esses efeitos os
reservatórios da solução devem ser construídos de material isolante térmico e ao abrigo da radiação
solar.
Diversas culturas da hidroponia têm apresentado um grande crescimento, porem com maior
destaque para a cultura da alface (Lactuta sativa L.). Essa folhosa é apreciada desde os tempos
antigos, e sempre é consumida na forma de salada crua (in natura). Por esse motivo deve-se
priorizar a qualidade. Com o passar do tempo, a alface se tornou uma cultura de grande expressão
econômica no mercado hortícola brasileiro, o que vem favorecendo inúmeros estudos sobre a
cultura (ALBERONI, 1998).
Por possuir um fácil manejo e grande precocidade, a alface é a cultura chave para abrir caminho aos
produtores que pretendem iniciar um cultivo hidropônico de hortaliças. Com 40 a 45 dias após a
semeadura é possível se obter plantas com características comerciais, trazendo rápido retorno
financeiro. No entanto, antes de serem introduzidas em cultivos hidropônicos comerciais em
diferentes regiões do Brasil, as cultivares de alface precisam ser testadas e avaliadas (SILVA et al,
2007).
Para o cultivo de alface hidropônica, geralmente é utilizada a técnica de fluxo laminar de solução
nutritiva (NFT). Esse sistema iniciou-se com a utilização de telhas de amianto com brita, sendo a
alface a cultura pioneira nesse sistema, assim posteriormente pode ser utilizada na produção de
outras hortaliças de porte semelhante. Atualmente, podem ser encontrados no mercado nacional
canaletes de PVC e PP (Polipropileno), com tamanho padronizado com o fundo reto ou semicircular
para diversos tipos de culturas, esses novos tipos de canais dispensam o uso de cobertura de isopor e
já vem pronto para a implantação das mudas, no espaçamento em que o produtor encomendar
(RODRIGUES, 2002).
Rodrigues (2002), afirma que para um bom desenvolvimento do sistema radicular, a bancada dos
canais deve apresentar declividade suficiente para permitir o fluxo de solução ao longo do
comprimento do canal. Estudos realizados mostram que a declividade não deve ser muito acentuada

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para que o fluxo de solução não seja muito rápido, podendo assim afetar a absorção de nutrientes e
ferir o sistema radicular da planta. De modo geral, a declividade para culturas como tomate, pepino
e morango, pode variar de 1,5 a 2,0% e para a alface e chicória, de 2,0 a 4,0%.
Através de testes realizados por produtores da região, os quais produzem alface em declividades
superiores às recomendadas pelas referências, que são de 4 a 8% de declividade, realizou-se este
trabalho de campo com o objetivo de comparar o desempenho de quatro cultivares de alface em
duas declividades, mínima (2%) e máxima (10%) com intuito de maiores produtividades.

MATERIAL E METODOS
O experimento foi realizado no setor de horticultura da fazenda escola da FAZU- Faculdades
Associadas de Uberaba (MG), localizada nas coordenadas: Longitude 47 º55 ' W, Latitude 19 º45 'S
e altitude de 780 metros. O clima conforme método d e Koppen é Aw, tropical quente e úmido. As
médias anuais de precipitação e temperatura são de 1474 mm e 22ºC, respectivamente.
As mudas de alface foram produzidas em espuma fenólica, irrigando-se apenas com água até a
emergência das plântulas. Quatro dias após a semeadura (DAS), as mudas foram transplantadas
para os perfis das bancadas, e conduzidas pela técnica do sistema NFT, utilizando-se da solução
proposta por Furlani (1999) no restante do ciclo. Na fase intermediária de desenvolvimento, as
mudas permaneceram em perfis de tamanho reduzido (50 mm) até atingirem três pares de folhas.
Aos 25 DAS transplantou-se as mudas para a fase final de desenvolvimento, em perfis de 100 mm,
onde permaneçam até a colheita (45 DAS). Durante essas etapas a solução nutritiva era fornecida a
cada 15 minutos, afim de não provocar a diminuição da absorção de oxigênio pelas raízes, todo o
sistema foi controlado por um ‘timer’, que funcionava das 6 ás 18 horas.
Utilizou-se delineamento de blocos casualizados em esquema fatorial 2 x 4, onde os tratamentos das
subunidades foram arranjados em faixas contendo três repetições. Assim, avaliaram-se quatro
cultivares de alface crespa: “Vanda”, “Amanda”, “Vera” e “Solaris”, em duas declividades, 2% e
10%, onde foram coletados os dados de: Matéria fresca total; Matéria fresca de parte aérea; Matéria
fresca de raiz; Matéria seca total; Matéria seca de parte aérea; Matéria seca de raiz.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na comparação entre as declividades dos canais de cultivo, os melhores resultados obtidos em
relação à matéria fresca total e matéria fresca da parte aérea foram observados no perfil com 2% de
declividade, conforme ilustra a Tabela 1. Esses resultados confirmam as recomendações mais
frequentes da literatura quanto à declividade mais adequada para o cultivo de alface em sistema

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hidropônico de alface. Horticultura Brasileira 30: S577-S581.

NFT. A adoção de declividade mais acentuada por produtores hidropônicos parece não ter respaldo
científico, já que não foi encontrado nenhum trabalho publicado que corroborasse essa mudança.
Por outro lado, em sistemas que adotam solução recirculante com substrato nos canais, o aumento
da declividade é sugerido para evitar o estancamento da solução nutritiva, promovendo um
ambiente anaeróbio junto às raízes, podendo causar sua deterioração (Castellane, 1994).
Já a declividade de 10% apresentou maior desenvolvimento do sistema radicular, que possivelmente
ocorreu para compensar a maior velocidade da solução dentro do perfil, dificultando a absorção dos
nutrientes. Ao que parece, o maior crescimento das raízes acarretou um menor desenvolvimento da
parte aérea, visto que não houve diferenças na análise da matéria seca total. Esse desvio metabólico
não é desejável, tendo em vista a redução da parte comestível da planta. Em hidroponia é comum
afirmar-se que um bom desenvolvimento das raízes é um indicativo do vigor da planta. Nesse caso,
percebe-se que há limites para esse crescimento radicular, de forma a não comprometer o
desenvolvimento da parte aérea da planta.
Comparando as cultivares testadas, não apresentaram diferenças estatísticas quanto a matéria fresca
da raiz. Entretanto, a cultivar Vanda apresentou os menores resultados tanto para matéria fresca da
parte aérea quanto para matéria fresca total, mostrando sua menor adaptação às condições em que
foi realizado o cultivo.
Não houve interação entre os fatores estudados (declividade x cultivar).

REFERÊNCIAS
ALBERONI, Robson de Barros. Hidroponia: Como instalar e manejar o plantio de hortaliças
dispensando o uso do solo.
São Paulo: Nobel, 1998.
CASTELLANE, Paulo Donato.; ARAÚJO, J. A. C. de. Cultivo sem solo: hidroponia. 2. ed.
Jaboticabal, SP: FUNEP, 1995. 43p.
RODRIGUES, Luís Roberto Franco. Técnicas de Cultivo Hidropônico e Controle Ambiental no
Manejo de Pragas, Doenças e Nutrição Vegetal Em Ambiente Protegido.
Jaboticabal-sp: Funep, 2002. 762 p.
SILVA, Marcelo Locks da et al. PRODUÇÃO HIDROPÔNICA DE QUATRO CULTIVARES DE
ALFACE EM GARÇA (SP).
Revista Científica Eletônica De Agronomia, Garça, Sp, v. , n. , p. 11 jun. 2007. Periódico
Semestral. Disponível em: <http://www.revista.inf.br/agro11/artigos/anovi-edic11-art07.pdf>.
Acesso em: 14 abr. 2012.

Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 580


PRADO, F.E; FERREIRA, C.H; MENDONÇA, R. M. Comparação das declividades de 2 e 10% no cultivo
hidropônico de alface. Horticultura Brasileira 30: S577-S581.

Tabela 1: Comparação entre as declividades de 2 e 10%, em relação a quatro cultivares de alface.


Cultivar
Declividade
Vera Vanda Amanda Solaris Média CV% DMS
2% 362 270 359 340 366 A ¯
MFT 10% 396 337 365 367 333 B 8,16 ¯
Média 379 a 303 b 361 a 353 a 47
2% 347 286 311 314 314 A ¯
MFPA 10% 329 230 305 287 287 B 9,21 ¯
Média 338 a 258 b 308 a 300 ab 47
2% 21 22 22 24 22 B ¯
MFR 10% 25 20 26 25 24 A 9,11 ¯
Média 23 a 21 a 24 a 24 a 7
2% 1,870 1,849 1,858 1,860 1,859 ¯
MST 10% 1,853 1,835 1,855 1,858 1,850 ¯
Média 1,862 1,842 1,857 1,859
2% 0,943 0,925 0,934 0,93 0,933 A ¯
MSPA 10% 0,926 0,927 0,93 0,931 0,929 A 15,26 ¯
Média 0,935 a 0,926 a 0,932 a 0,931 a ¯
2% 0,927 0,924 0,924 0,930 0,926 B ¯
MSR 10% 0,927 0,908 0,925 0,927 0,922 A 7,27 ¯
Média 0,927 ab 0,916 a 0,925 a 0,929 b ¯
MFT - Matéria fresca total; MFPA - Matéria fresca de parte aérea; MFR - Matéria fresca de raiz; MST – Matéria seca
total; MSPA – Matéria seca de parte aérea; MSR – Matéria seca de raiz. As médias seguidas pela mesma letra não
diferem estatisticamente entre si. Foi aplicado o Teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Médias seguidas de
letras maiúsculas analisar nas colunas e médias seguidas de letras minúsculas analisar na linha.

Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 581

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