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e-ISSN 2594-6781
Volume 4 (2020)

Artigo publicado em 17/03/2020

Considerações sobre produção de sementes


de abóbora
Tatiani Mayara Galeriani
Bruno Marcos Nunes Cosmo*
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Unesp
Adriana Gouveia Beneton
Fabiula Patricia Novakoski
Universidade Federal do Paraná – UFPR
*Correspondência para: brunomcosmo@gmail.com

ORIGEM E IMPORTÂNCIA DA ABÓBORA

As abóboras são cucurbitáceas cultivadas no Brasil, destacando-se principalmente as espécies Cucurbita


moschata, C. pepo e C. maxima, esta cultura representou em anos passados mais de 385 mil toneladas de
produção em aproximadamente 88 mil hectares de cultivo. Contudo na atualidade a maior parte das sementes
são importadas. As cucurbitáceas encontram-se entre as plantas mais importantes para produção de
alimentos e fibras. As estruturas de desenvolvimento das cucurbitáceas é muito similar, contudo, em muitas
das espécies a grande variante encontra-se nos frutos. Estas plantas foram domesticadas e selecionadas
visando aspectos como redução do amargor da polpa, aumento do tamanho do fruto, redução das sementes e
afins. A família das cucurbitáceas apresenta cerca de 90 a 120 gêneros distribuídos entre aproximadamente
700 a mais de 800 espécies, difundidas principalmente nas regiões subtropicais e tropicais do globo, e com
menos frequente em regiões temperadas. Dentre as representantes da família encontram-se as abóboras,
pepinos, melões, maxixes e mais outras que compõem cerca de 26 espécies cultivadas com fins hortícolas.
A maioria das plantas da família das Cucurbitáceas são monoicas, as flores são grandes, solitárias, de cor
variando do amarelo até o branco. As flores femininas são grandes e com o ovário ínfero e bem destaco, e as
masculinas são pequenas e apresentam pecíolos longos, uma forma de diferenciar ambas no campo. Quanto a
origem da família, os gêneros Cucurbita, Cyclanthera e Sechium são considerados de origem americana,
enquanto os demais são considerados provindos da África e da Ásia Tropical. Considerando as principais
representantes da família, estima-se que 1/5 dos produtos olerícolas do mundo provenham da mesma,
assumindo expressão similar as solanáceas (família da batata).
As cucurbitáceas ainda representam importante fonte de alimento em regiões com menores recursos
financeiros, devido à baixa exigência em cuidados que possibilita seu cultivo como alimento de subsistência
para diversas comunidades brasileiras.

TÉCNICAS CULTURAIS PARA A PRODUÇÃO DE SEMENTES DE ABÓBORA


A) PRÉ-CAMPO
I) Exigências Climáticas
Na produção de cucurbitáceas a temperatura é um dos fatores climáticos mais expressivos, esta cultura é
bem adaptada a regiões quentes com temperaturas entre 18 a 30ºC, sendo sensível a temperaturas menores

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que 10ºC, onde ocorre paralisia do crescimento. A germinação ocorre em temperaturas entre 10 a 35ºC, sendo
a faixa ideal entre 25 a 30ºC. Em temperaturas de 10 a 15ºC, alinhadas com excesso de chuva ocorre redução
na taxa de florescimento, bem como a atividade de polinização dos insetos é prejudicada.
Além da temperatura, o fotoperíodo é muito importante, devido a sua relação com a expressão do sexo
das cucurbitáceas, embora essa característica seja controlada geneticamente, ela pode ser afetada pelo
fotoperíodo, gerando maior número de flores femininas em dias mais curtos e possivelmente gerando maior
número de frutos formados.
A umidade relativa para a família não deve ser elevada, pois pode favorecer o surgimento de doenças em
folhas e frutos, repercutindo em menor produção e qualidade.
II) Isolamento no Campo de Produção de Sementes

Por ser classificada como planta alógama a abóbora, uma das principais representantes das
cucurbitáceas, torna-se dependente da atividade de insetos para a fecundação das flores, porém quando o
objetivo é a produção de híbridos existe a necessidade que apenas as duas linhagens parentais estejam
presentes no campo, sem a interferência de pólen estranho.
O isolamento do campo de sementes é importante para garantir a pureza/integridade genética da
semente. De acordo com a portaria nº 11 do MAPA, de 07 01/1985, a distância mínima recomendada para o
isolamento físico dos campos de sementes de abóbora é de 1.500 m, contudo algumas regiões adotam distância
menores de cerca de 1.000 m.
B) CAMPO
I) Semeadura

A época de semeadura é muito importante para garantir o bom estabelecimento da cultura, no geral para
abóbora se evita a semeadura em épocas frias e busca-se alocar a semeadura no período das chuvas,
principalmente em regiões que o cultivo não lança mão do uso da irrigação.
No Vale do São Francisco, por exemplo, a semeadura ocorre no segundo semestre do ano por coincidir
com períodos de alta temperatura e luminosidade, contudo o período coincide com a maior ocorrência de mosca
branca na região, no Agreste nordestino a semeadura ocorre no começo do ano entre abril e junho conforme o
regime hídrico da região.
O processo de semeadura pode ser realizado em bandejas para posterior transplante ou de forma direta,
contudo, muitas cucurbitáceas são intolerantes ao transplante devido a sensibilidade do sistema radicular,
levando grande parte da semeadura ser realizada diretamente na área de cultivo. O espaçamento comumente
utilizado é de 3,0 x 1,5 m entre fileiras e entre plantas, respectivamente, com 1 a 2 plantas em cada cova.
Buscando a realização da hibridização aplica-se a proporção de 3 a 4 fileiras de indivíduos femininos para
cada fileira de indivíduos masculinos, visando garantir a polinização adequada, às fileiras com a linhagem
masculina devem ser semeadas cerca de duas semanas antes das linhagens femininas. A profundidade de
semeadura deve ficar entre 2 a 3 cm, e o total de sementes empregadas oscila entre 1 a 2 Kg ha -1.

Para garantir o total de 1 a 2 plantas por cova, é comum a realização do raleio, ou seja, são semeadas
mais sementes por cova e após as plantas apresentarem duas a três folhas definidas faz-se a retirada das
plantas menos desenvolvidas deixando apenas a quantidade desejada de indivíduos, a prática deve ser
realizada com solo úmido e com atenção para não danificar as plantas que permaneceram na área.
II) Tratos Culturais
Em muitas regiões de produção, pode-se lançar mão de sistemas de irrigação para garantir o suprimento
hídrico adequado para a cultura, para evitar alta umidade nas folhas em geral emprega-se a irrigação por
gotejamento, portanto, o sistema deve ser instalado logo após o final da semeadura da área.
Outra prática comum na produção de abóboras e outras cucurbitáceas é a condução das ramas, que se
baseia na orientação e direcionamento das ramas em direção a faixa de trânsito, ou seja, espaço entre linhas, o
procedimento também é denominado penteamento e visa facilitar as operações como controle fitossanitário,

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adubação e colheita, além de evitar a produção nos frutos em locais muito úmidos. A condução deve ser
realizada, quando as ramas ainda não estiverem fixadas firmemente ao solo.
O controle de plantas daninhas pode ser realizado por meio de capina manual, mecânica ou por
herbicidas seletivos, principalmente na fase inicial, visando a instalação da cultura sem mato competição,
após a frutificação as plantas daninhas não interferem mais na cultura, além da não competição inicial, o
controle de plantas daninhas evita o aparecimento de pragas como mosca branca e doenças como míldio e
oídio.
Com relação às pragas que afetam a abóbora, pode-se citar as vaquinhas (transmitem viroses e causam
desfolha) pulgões (causam encarquilhamento de brotos), lagarta-rosca (corte de plantas rente ao solo), broca
das cucurbitáceas (destruição de partes vegetativas e formação de galerias nos frutos) e mosca branca
(introdução de toxinas e transmissão de viroses).
Dentre as principais doenças que afetam a abóbora encontram-se o oídio, míldio, antracnose, sarna e o
vírus do mosaico amarelo da abobrinha, todas estas doenças podem afetar a produtividade final e sanidade da
lavoura.
Por fim, um dos principais manejos realizados no campo de produção de sementes e mesmo em áreas de
produção comercial é a prática do roguing, que consiste na retirada manual de plantas indesejáveis, como
cultivares de outras espécies, ou da mesma espécie que não sejam “puras”, plantas atípicas, plantas doentes e
afins, ou seja, todos os indivíduos que possam comprometer a sanidade e integridade do campo de produção de
sementes.
III) Colheita

A última etapa da produção é a colheita, que deverá ser realizada após o desenvolvimento completo e
maturação fisiológica dos frutos e sementes. O momento da colheita oscila entre as linhagens e cultivares, mas
ocorre cerca de 40 a 50 dias após a polinização.
No momento da colheita, deve-se atentar para separar as ramas que possam estar entrelaçadas, visando
separar os frutos da linhagem feminina (frutos hibridizados) da masculina, os frutos hibridizados devem ser
levados para ambiente fresco e coberto, onde podem permanecer por cerca de 7 a 20 dias para completar a
maturação das sementes.
C) PÓS-CAMPO
I) Pré-Beneficiamento: Extração, Lavagem e Secagem de Sementes
Após o período de repouso, realiza-se a extração das sementes, para tal deve-se abrir os frutos e realizar a
remoção da mucilagem da polpa que pode ser realizada esfregando-se as sementes com cal hidratada, sendo
posteriormente lavadas em água corrente, ou realizada apenas com o auxílio de água.
No processo de lavagem ocorre a separação do material por diferença de densidade, as sementes “boas”
com maior densidade sedimentam no fundo, enquanto as demais sementes e pedaços do fruto emergem e são
arrastadas pela água.
Na sequência as sementes sedimentadas são lavadas, drenadas e encaminhadas para a pré-secagem.
Algumas impurezas ainda podem estar presentes na massa que segue para secagem e devem ser elididas. A
secagem pode ser realizada espalhando em ambiente ventilado com temperaturas próximas de 30 a 40ºC.
II) Beneficiamento de Sementes
No beneficiamento de sementes de abóbora emprega-se o uso de máquinas de ventilador e peneiras e a
mesa gravitacional, podendo-se em alguns casos utilizar separador a ar. Após as etapas do pré-beneficiamento
(extração, lavagem e secagem), as sementes apresentam-se praticamente limpas, não necessitando
propriamente de um beneficiamento.
Contudo, após o pré-beneficiamento a maioria das sementes segue para a máquina de ventiladores e
peneiras, onde passam novamente por limpeza e são classificadas por tamanho, em seguida a passagem na
mesa gravitacional realizada a separação/ classificação de acordo com o peso específico, eliminando impurezas

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e sementes mais leves (pode-se lançar mão de um separador pneumático), sendo em geral a última etapa do
beneficiamento.
III) Embalagem e Armazenamento
Para garantir a qualidade das sementes por períodos longos, as mesmas devem ser armazenadas em
recipientes que as protejam da umidade, garantindo assim seu poder germinativo. Desta forma pode-se
empregar o uso de latas ou sacos de papel aluminizado para embalar as sementes, estes recipientes devem ser
acondicionados em câmara frigorífica de 4ºC, possibilitando o armazenamento com garantia de 3 anos.
Alguns trabalhos fazem menção ao armazenamento a vácuo de sementes com 13% de umidade que
possibilita viabilidade de até 8 meses sem alteração da qualidade fisiológica das mesmas.
IV) Testes da Regra para Análise de Sementes - RAS

De acordo com a ABRASEM – Associação Brasileira de Sementes e Mudas, os testes para produção de
sementes de abóbora e cucurbitáceas em geral seguem alguns parâmetros, dentre eles o tamanho máximo dos
lotes de sementes deve oscilar entre 10 toneladas para Cucurbita hybrids, C. moschata Duchesne e C. spp., e
20 t para C. maxima Duchesne, e C. pepo L.
Para as avaliações considera-se o tamanho da amostra média de 350 g para os lotes de 10 t e 1.000 g para
os lotes de 20 t, assim como são necessárias 180 g para análise de pureza dos lotes de 10 t e 700 g para os lotes
de 20 t., por fim para outras sementes por número são necessárias 1.000 g apenas para os lotes de 20 t.
O quadro 1 apresenta as exigências tomadas como padrão na produção de sementes de abóbora no
território nacional.

Quadro 1: Atributos para produção e comercialização de sementes de abóbora no Brasil.

Atributos exigidos em 340 g de amostra Exigência mínima

Pureza (%) 98%

Germinação (%) 70%

Determinação de Semente de outra espécie e/ ou cultivar cultivada 4


outras sementes por
Semente Silvestre 4
número (nº máximo)
Semente nociva tolerada 5

Semente nociva proibida 0

Como uma das exigências principais para comercialização de sementes é a sua porcentagem de
germinação, para abóboras em geral são apresentados procedimentos padrões para realização do teste de
germinação segundo a ABRASEM, para Cucurbita hybrids e C. spp., recomenda-se o uso de substrato Entre
Papel (EP) e Entre Areia (EA) e para C. moschata Duchesne, C. maxima Duchesne e C. pepo L., recomenda-se
o uso de substrato em Rolo de Papel (RP) e Entre Areia (EA).
Com relação a temperatura para todas as espécies citadas recomenda-se uma faixa de 20 a 30ºC com
temperatura ótima de 25ºC, primeira contagem deve ser realizada aos 4 dias, com a segunda e última
realizada aos 8 dias, indica-se o uso de papel plissado para superar a dormência de todas as espécies e/ ou
utilizar o substrato mais seco que o normal apenas para C. moschata Duchesne, C. maxima Duchesne e C.
pepo L.
A ABRASEM ainda determina os parâmetros para realização de teste de tetrazólio em Cucurbita spp.,
além destes, outros testes indicados para sementes de abóbora são TesteS Indicativos de Vigor
(Envelhecimento Acelerado, Teste de Frio, Teste de Sanidade, Peso de Mil Sementes) e Teste de Raio-X.

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Referências
Almeida DPF (2002) Cucurbitáceas hortícolas
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Bisognin DA (2002) Origem e evolução de cucurbitáceas cultivas
Brasil (2009) Regras para Análise de Sementes
Marcelino JS et al. (2012) Dossiê técnico: Cultivo de abóboras
Nascimento WM; Freitas RA; Araujo EF (S/A) Beneficiamento de sementes de hortaliças
Nee M (2007) Flora da reserva Ducke, Amazonas, Brasil: Cucurbitaceae
Nunes ED et al. (2011) Atributos físicos de qualidade em acessos de abóbora procedentes de estados da região nordeste
Pessoa HBSV (1998) Produção de sementes híbridas de abóbora do tipo Tetsukabuto
Ramos SRR et al. (2010) Aspectos técnicos do cultivo abóbora na região Nordeste do Brasil
Salata AC (2007) Produção e qualidade de sementes de abóbora utilizando polinização manual com botões florais armazenados
Sasaki FF et al. (S/A) Taxa respiratória de etileno de abóboras minimamente processadas em função da temperatura de armazenamento

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