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Otávio de Castro Roque, TURMA A.

AV 3º semestre, CMB - Profº Maurício Gonçalves.

Paralelo social entre a recepção dos filmes 'Rio, 40 Graus' (1955) e 'Rio, Zona Norte'
(1957)

A necessidade de representar as personagens e os elementos da cultura popular nos filmes


brasileiros tão defendida por Nelson Pereira é, sem dúvida, evidenciado com o
lançamento das duas primeiras produções do diretor - respectivamente, 'Rio, 40 Graus' e
'Rio, Zona Norte'. São filmes não só de um cuidado estético cinematográfico mas de certa
denúncia social.

Os dois longas de Nelson Pereira foram lançados com um pequeno intervalo entre si -
essa informação é importante se analisada juntamente ao fato de 'Rio, 40 Graus', anterior
a data de lançamento em dois anos a 'Rio, Zona Norte', ter sido vítima de censura pelo
Chefe de polícia do Distrito Federal e após ser liberado pela censura, a proibição por
parte de um coronel do Departamento Federal de Segurança Pública. E mesmo assim, em
contrapartida, o longa teve uma massiva publicidade em jornais e revistas de grande
circulação justamente por este motivo, o que chamou grande atenção da classe
cinematográfica brasileira. O que poderia ter sido um freio nessa produção nacional com
a tentativa de censura, tornou-se um maior impulso, resultando o lançamento do segundo
longa do diretor após tão pouco tempo vindo desta efervescência política.

A recepção de 'Rio, 40 Graus' veio indispensavelmente com a abertura de diálogo sobre a


necessidade de fortalecer a produção cinematográfica no Brasil em 1955, e o mais
importante, levantou a questão da apropriação do Brasil e sua questão social de fato pelo
cinema nacional - como o valor de imagens do povo brasileiro que os filmes deveriam
veicular.

Assim, o povo e sua inter-relação fisicamente e geograficamente no espaço onde vive e


frequenta faze-se o principal personagem na obra de Nelson Pereira, especialmente nos
dois longas em foco durante o semestre. Os dois filmes apresentam imagens da população
carioca que, neste contexto, representaram o povo brasileiro.

Esteticamente ligado ao movimento neo-realista dentro do cinema, há uma busca da


câmera por locações externas que retratassem paisagens urbanas (por ora as favelas, outra
a Central do Brasil por exemplo), e dentro desse espaço geográfico que já diz tanto sobre
esse povo retratado, é feito a escolha de protagonistas vindos do 'povo' (seja este o
sambista ou o vendedor de amendoim) para viver este Brasil retratado. A chave de análise
social mais forte é sem dúvida a escolha dessa representação, que não é encarnada na
figura do 'malandro' que causa problemas a serem lidados posteriormente por uma figura
'heróica' ou qualquer outro personagem secundário, mas nos protagonistas.

É importante também ressaltar algumas características destes protagonistas. Em 'Rio, 40


Graus' é apresentado Jorge em meio a outros 4 meninos negros, periféricos e vendedores
de amendoim - nesse momento inicial, ele logo torna-se o protagonista com a escolha do
diretor de seguirmos seus passos até sua casa, onde o drama social é apresentado com sua
mãe doente e acamada. O personagem-símbolo do povo será Jorge nesta primeira parte,
será ele a fonte de identificação do espectador - o jovem negro.

Por outro lado, também é necessário ressaltar a trilha fortemente embalada pelo discurso
nas letras dos sambas de autoria de Zé Keti, de denúncia social, de exaltação de uma
identidade negra mas também de uma espécie de integração de igualdade racial e étnica
pacífica que não é realista à luta negra brasileira.

Já em 'Rio, Zona Norte' temos o protagonismo do personagem de Grande Othelo,


Espírito da Luz Soares, compositor de sambas, pobre, negro e que tem como marco do
seu arco sua exploração dentro da lógica de classes - aquela que reflete em grande
medida uma sofrida pelo povo brasileiro.

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