Você está na página 1de 30

O espaço público e o lúdico

como estratégias de planejamento


urbano humano em: Copenhague,
Barcelona, Medellín e Curitiba
Public space and the playing aspect as strategies of human
urban planning in Copenhagen, Barcelona, Medellin and Curitiba

Marina Simone Dias


Milton Esteves Júnior

Resumo
No Brasil, o debate urbano contemporâneo reto- Abstract
ma a crítica social como base conceitual, para re- The contemporary urban debate in Brazil resumes
afirmar os espaços públicos como instâncias que social critique as a conceptual basis to reaffirm
promovem práticas sociais e cultura urbana, valo- public spaces as means to promote social practices
rizando a diversidade, a democracia e o exercício and urban culture, valuing diversity, democracy
da cidadania. Analisam-se aqui os novos rumos do and the exercise of citizenship. The new paths
urbanismo com base no papel fundamental desem- of urbanism are analyzed here based on the
penhado pelos espaços públicos livres, incluídos os fundamental role played by free public spaces,
espaços lúdicos infantis, e através de exemplos em- including children’s playing spaces, and through
píricos de transformações urbanas realizadas em empirical examples of urban transformations
Copenhague, Barcelona, Medellín e Curitiba. Por implemented in Copenhagen, Barcelona, Medellin,
meio do apontamento de questões, problemáticas and Curitiba. By highlighting issues, problems and
e deficiências, abrem-se perspectivas e discutem- deficiencies, perspectives open up and alternatives
-se alternativas para o devir urbano, a partir de um for the future of cities are discussed, based on a
planejamento que ressignifique o conceito de urba- type of planning that reframes the urban concept
nidade e reconquiste o lúdico como possibilidade and revitalizes the playing aspect as a possibility
de otimização de uma cidade humana e sustentá- of optimizing a human and sustainable city for all
vel para todos os cidadãos. citizens.
Palavras-chave: urbanização; planejamento ur- Keywords: urbanization; urban planning ;
bano; espaço público livre; espaço lúdico infantil; free public space; children’s playing space;
cidades humanas. human cities.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
http://dx.doi.org/10.1590/2236-9996.2017-3912
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Introdução Nas últimas décadas, o planejamento ur-


bano assumiu uma agenda audaz, objetivando
um alcance amplo e aprofundado da realidade
A cidade é uma realidade plural e multiface- urbana, ou melhor, retomando-a como um de
tada, um fenômeno polifônico e polissêmico, seus mais notórios instrumentos agenciadores.
um espaço povoado por uma multiplicidade de Buscando respostas às novas dinâmicas – que
imagens, cores, sons, linguagens e informações, já não se restringem ao âmbito das meras lo-
do qual emerge a diversidade. É uma mate- calidades devido às influências multiescalares
rialização de momentos históricos e modelos e supralocais a que estão sujeitas, vinculadas a
culturais, que articula questões e problemáti- âmbitos metropolitanos, regionais e globais –,
cas sociais, políticas, econômicas e ideológicas cabe-nos compreender permanências, inércias
(Castells, 2009). Tal complexidade demanda do e rupturas derivadas dos processos de transfor-
planejamento urbano uma interdisciplinarida- mação, os impactos de tais processos nos teci-
de com outros campos do conhecimento, que dos socioespaciais e o papel do planejamento
analisam a cidade a partir de perspectivas ge- urbano como instrumento para a recuperação
ográficas, políticas, históricas, antropológicas, da cidade para as pessoas.
sociais, culturais e artísticas. Apesar de convertidas no domínio refe-
O ambiente urbano é um lugar histórico rencial e preferencial das inter-relações entre
privilegiado no qual os indivíduos se inter-rela- indivíduos e coletividades, as cidades vêm per-
cionam com outros sujeitos sociais, numa rede dendo o status de lugar vivencial. Suas versões
em que coexistem contextos e espacialidades ampliadas, denominadas metrópoles, megaló-
propícios aos processos de subjetivação indivi- poles ou “metápoles”,1 pressupõem desafios
dual e coletiva. Nesse processo dinâmico, pes- crescentes para o planejamento urbano, na
soas de todas as idades, gêneros, raças e clas- sua função bipartida entre recuperar o que foi
ses socioeconômicas convivem e modificam degradado e tentar criar “um novo mundo”. E
suas­trajetórias, tecem suas redes de interações se os avanços técnicos e científicos há muito
e se articulam no espaço fenomenológico e se mostram ineficazes para responder às pro-
existencial do urbano, atribuindo-lhe sentidos blemáticas urbanas e ambientais em âmbitos
por meio de seus encontros, experiências e vi- localizados, compete-nos agora indagar acerca
vências. Em contrapartida, tais espacialidades do futuro da condição metapolitana definitiva-
são constantemente ressignificadas e trans- mente globalizada.
formadas: como duas faces de uma mesma Com base nessas premissas, devemos
moeda, o valor do espaço depende das ações questionar: “Como superar a inércia, a obso-
que acolhe, e o valor das ações humanas de- lescência e a defasagem dos paradigmas ado-
pende do espaço onde se desenvolvem (Santos, tados pela gestão do território e das cidades
2006). Nesse contexto, ocorrem a construção diante da permanência e da multiplicação das
social do espaço e a construção espacial das citadas problemáticas?”; “Como instrumenta-
práticas sociais. lizar o planejamento urbano para recuperar e

636 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

ressignificar a cidade para todos os seus cida- as festas e as celebrações e as identidades cul-
dãos?”. Essas questões justificam o presente turais. Com um caráter não somente analítico,
debate que busca compreender os impactos mas também propositivo, o estudo empírico
socioespaciais desses paradigmas e os pos- traz experiências de transformações urbanas
síveis caminhos para dirimir seus efeitos. Em bem-sucedidas na Europa, na América Latina e
definitiva, urge alimentar as reflexões acerca no Brasil, evidenciando a cidade como espaço
da teoria e das experiências empíricas de (re) “real e representacional, como texto e como
estruturação urbana para orientar os rumos a contexto, como ética e como estética, como es-
serem delineados para nossas cidades. paço e como tempo, socialmente vividos e (re)
Este artigo enfrenta esses desafios as- construídos” (Fortuna, 2001, p. 4).
sumindo a materialidade do espaço real e o
ideário do espaço mental como instâncias di-
ferenciadas, entendidos de modo interdepen-
dente e indissociável. O “espaço real” situa um
O desafio das metrópoles
enfoque retrospectivo, que analisa experiências contemporâneas
vividas na concretude do território, percebidas
pelos sentidos e registradas na memória. O O ideário moderno de cidade, influenciado
“espaço mental” trata de circunstâncias pros- pelo pensamento taylorista, pelo modelo de
pectivas, instaladas em uma espacialidade ima- produção industrial fordista e, mais recente-
ginária, em um espaço projetado, planejado e mente, toyotista, provocou câmbios estrutu-
desejado. Assim, assumem-se uma teoria do rais tanto na organização do território quanto
espaço e uma experiência vivencial no espa- na sua organização social.3 O modelo fordista
ço como recursos retóricos e táticos ou, se se fundou um desenvolvimento econômico e uma
preferir, como estratégia metodológica aberta e relativa independência entre industrialização e
em permanente construção. urbanização, bem como uma desestruturação
Por um lado, a pesquisa dá ênfase às física e simbólica de cidades e regiões metro-
questões teórico-conceituais do fenômeno politanas. Esses efeitos foram potencializados
urbano lato sensu, centrando-se na condição pelo toyotismo, definitivamente atrelado à
urbana hodierna e nos efeitos das atuais con- produção flexível, à gestão política neoliberal,
figurações territoriais sobre os modos de vida ao planejamento urbano estratégico, ao capi-
nas cidades, sobre a prática da urbanidade, da talismo cognitivo e ao “Capitalismo Mundial
sociabilidade, da amabilidade e a ludicidade, Integrado” (Guattari, 2006). Em vez de con-
ou seja, sobre o exercício da cidadania. Por ou- tribuir para a geração de uma nova geografia
tro, debruça-se sobre o espaço público – espe- política e para novas morfologias urbanas que
cialmente o espaço livre público2 –, entendido diluíssem barreiras na escala global e promo-
como fundamento da urbe e ícone de suas fun- vessem o efetivo desenvolvimento local, esses
ções primigênias: dar suporte à vida em comum dois modelos – cujas denominações, não por
e acolher manifestações e conflitos, encontros acaso, estão vinculadas à indústria automobi-
e intercâmbios, o imprevisto e o espontâneo,­ lística – provocaram uma verdadeira mutação

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 637
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

das cidades,­transformando-as em uma exten- básicas­do ser humano. Apesar da criação de


são das bases produtivas do território global e planos e leis, como o Estatuto das Cidades, de
criando uma grande fragmentação urbana em 2001, que representa uma resposta genuina-
prol de nocivos interesses geopolíticos e eco- mente brasileira à questão urbana, na maioria
nômicos. Na atual sociedade da informação, das vezes nossas cidades permanecem reféns
cidades desempenham o papel de elo entre o dos interesses do mercado imobiliário, um ru-
global e o local (Borja e Castells, 1998). mo que vai na contramão da produção de cida-
As metrópoles, hoje, revelam a falência des compactas e sustentáveis.
de seus próprios fundamentos por negligen- A permanência da crise urbana deriva,
ciar sua dimensão humana, seus aspectos de certo modo, da dificuldade de articulação
socioculturais e suas prerrogativas formais e entre a vida privada e a vida pública, revelan-
ambientais. As atuais configurações urbanas e do aspectos individualistas e consumistas da
territoriais apresentam-se cada vez mais seg- sociedade pós-industrial atual. Assistimos a
mentadas, em setores monofuncionais, tribu- uma verdadeira reificação da vida urbana, na
tárias do transporte individual e baseadas na qual resta pouco tempo para o lazer, para as
superestimação do fator econômico e na fa- atividades comunitárias e para a expressão e
laciosa capacidade da produção industrial de o exercício da cidadania (Silva, 2006). Nossas
suprir as necessidades materiais e de promover metrópoles, megalópoles ou metápoles não
o “desenvolvimento”. têm apresentado respostas às demandas por
As discussões sobre a questão urbana espaços que convidem ao encontro, devido
tornaram-se imperativas a partir do “fluxo uni- à transformação dos espaços públicos em es-
versal de urbanização massiva” (Harvey, 2004), paços de passagem. Os não lugares, tal como
que em um curto período provocou uma ver- definidos por Augé (1994), têm tomado conta
dadeira explosão urbana. Enquanto em 1900 das cidades, transformando-as em “não cida-
um terço da população mundial vivia nas ci- des” ou “anticidades”; têm diluído a função do
dades, logo após a virada do milênio esse nú- encontro ao esvaziar o papel republicano e dia-
mero passou para mais da metade, e com uma lógico que definiu e constituiu a cidade.
maior expectativa de vida. No caso do Brasil, Cabe a interrogação de Silva (2006, p. 10):
as cifras são ainda mais avassaladoras: desde o “Somos nós que moldamos a cidade ou é a ci-
ano 2000, mais de 82% da população mora em dade que nos molda?”. Seguindo a proposta
espaços urbanos. Ademais, nove áreas metro- de inversão da lógica capitalista de Lefebvre
politanas brasileiras concentram mais de 30% (2009), de 1968, com o direito à cidade, à so-
de toda a população nacional. ciabilidade e aos encontros em ambientes ur-
Analisando a urbanização das cidades banos, optando por um modelo de urbanismo
brasileiras, verifica-se que os princípios que de integração.
a nortearam não são claros, mas discutíveis,
O uso (o valor de uso) dos lugares, dos
pois, conforme Somekh (2010), seguiram o
monumentos, das diferenças escapa
modelo moderno sem buscar sua verdadei- às exigências do valor de troca [...]. Ao
ra essência: a superação das necessidades mesmo tempo que lugar de encontros,

638 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

convergência­ das comunicações e das “direito à cidade” quanto os novos empreendi-


informações, o urbano se torna o que mentos produzidos para o mercado imobiliário
sempre foi: lugar do desejo, desequilíbrio
formal; ocupações em áreas de risco, de preser-
permanente, sede da dissolução das nor-
vação ambiental ou pertencentes ao Estado;
malidades e coações, momento do lúdico
e do imprevisível. (Ibid., 2009, pp. 84-85) degradação ambiental e esgotamento dos re-
cursos naturais.
Retomamos, assim, a defesa de uma ci- Se tais características são nefastas para
dade para todos, compreendendo que a vida qualquer situação urbana, agravam-se quando
urbana não se restringe aos limites geopolíti- associadas à suburbanização nos denominados
cos e espaciais das cidades. Para tanto, torna- “países periféricos”.4 Nesses casos, somam-se,
-se fundamental a inclusão de questões labo- ainda, outras situações paradoxais: superpopu-
rais, mercantis, econômicas, políticas, de habi- lação, crescimento urbano acelerado e déficit
tação e mobilidade e do espaço público, assim habitacional; problemas associados à falta de
como das dimensões sociais que incluem todos condições de habitabilidade (saneamento, ser-
os grupos (culturais, etários, de gênero, etnia). viços básicos, desnutrição e doenças); empo-
brecimento, intensificação das desigualdades
e da segregação socioespacial; acirramento de

Da cidade à metápole: origens disputas sociais; marginalidade, violência, cor-


rupção e falência de valores éticos; proliferação
e mutações, paradigmas de ocupações clandestinas e favelas; carência
e paradoxos, novos rumos ou inexistência de ambientes e espaços públi-
cos qualificados ao convívio social, resultando
Segundo Ascher (1998), os atuais modos de na precarização da sociabilidade.
produção do território e do urbano são regidos O modelo metapolitano distribui esse
por lógicas generalizantes que transcendem as crescimento urbano em nucleações atomi-
peculiaridades socioculturais, ambientais e eco- zadas, dispersando-as em zonas periféricas
nômicas locais. No entanto, apesar da extensão distanciadas da área central, com espaços
dessas lógicas à escala global e dos avanços públicos escassos, precários e inseguros, em
econômicos, técnicos, científicos e culturais, a assentamentos isolados e polarizados, ora
produção do espaço continua replicando pa- em setores formais com tendência à autossu-
radigmas discutíveis e paradoxais, tais como: ficiência, muitas vezes isentos de habitantes,
proliferação de espaços alheios às preexistên- ora em ocupações cada vez mais adensadas
cias, às peculiaridades geológicas, aos valores e carentes de infraestruturas mínimas. Essa
sociais e ao devir dos lugares; enfraquecimento dispersão metapolitana vem gerando diversas
dos valores históricos, do patrimônio, da me- problemáticas: movimentos pendulares coti-
mória coletiva e do próprio tecido urbano tradi- dianos; aumento dos tempos de deslocamen-
cional; contraposição entre centralidades, que tos de pessoas­e mercadorias; intensificação
congregam qualidade de vida, e as periferias, da poluição atmosférica e sonora; gentrifica-
onde se instalam tanto aqueles que não têm ção e segregação socioespacial; destruição do

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 639
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

continuum­ urbano; aparecimento­ de vazios monofuncional,­esvaziado de pessoas e debili-


intersticiais, tanto internamente às unidades tado nas relações sociais.
de vizinhança quanto entre os loteamentos Considerando que grande parte das pro-
ocupados e os que restam vagos devido à espe- blemáticas aqui apontadas vem se repetindo e
culação imobiliária; surgimento de ambiências se agravando há muito tempo, cabe questionar:
urbanas inóspitas e esfaceladas; corrosão dos até que ponto esses paradigmas e paradoxos
setores rurais ou rurur­banos tradicionais que continuarão se reproduzindo e comprometendo
cercavam as cidades. o devir urbano? Cientes de que essas questões
O crescimento atomizado da metápo- não podem ser afrontadas por um pensamento
le espalha, pontual e desorganizadamente, único, é arriscado buscar-lhes respostas pre-
as novas ocupa­ções urbanas, à espera de que cisas. No entanto, mais problemático ainda é
a expansão da cidade as englobe e estruture. conformarmo-nos com tal situação, isentando-
Essa morfologia metapolitana promove con- -nos das investigações quanto aos seus impac-
trastes entre áreas de ocupações intensivas e tos sobre a realidade objetiva e quanto às pos-
de adensamento extremo (passíveis do esgota- síveis alternativas para superá-la.
mento de infraestruturas e de serviços) e zonas O planejamento urbano atravessa um
de ocupações extensivas e pouco adensadas momento de inflexão ao questionar a práti-
(onde predominam vazios intersticiais sujeitos ca modernista e funcionalista. A crise urbana
a ocupações irregulares, ilegais e informais). diagnosticada na década de 1980, que acom-
Esse modelo assume a cidade e o urbanismo, panhava a crise econômica mundial da déca-
respectivamente, como lugar e aparelho privi- da anterior, vem se arrastando até os dias de
legiados da prática burocrática do condiciona- hoje. Em sua esteira, reforçaram-se as ações
mento, da alienação e do isolamento da vida avassaladoras do (neo)liberalismo econômi-
social em categorias polarizadas: a dos espaços co, ancorado em uma revolução tecnológica e
de permanência, subdivididos em esferas pri- informacional sem precedentes e em novas e
vada e pública, e a dos espaços de passagem, escusas formas de democracia e cidadania.
dominados pelos veículos particulares. Análises contemporâneas revelam no-
A metápole expressa a dissociação en- vos desafios globais e destacam a busca por
tre urbe e civitas, o que levou alguns autores um modelo mais focado na dimensão hu-
a associar essa forma urbana à desumaniza- mana, na educação e no bem comum, fina-
ção (Rogers e Gumuchdjian, 2001) e à morte lidade da vida urbana: com uma arquitetura
da cidade (Choay, 2004). Há mais de cinquenta e um urbanismo coletivos, inclusivos, que
anos, Jacobs (2000), precursora do ativismo ur- reconquistem­ as ruas convencionais, as de
bano, levantava a questão dos “olhos da rua” pedestres, as calçadas, as praças, os largos,
a velar pela pólis, sem os quais as cidades se os parques, as áreas verdes, etc. Integrado ao
tornavam inóspitas, inseguras. Ela apontava direito à cidade,­também deve estar o direito
para a morte da cidade como resultado do ao lazer e à recreação, ao lúdico, à beleza e
aumento do tráfego e do urbanismo disperso, à arte, não como uma questão estética, mas

640 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

como (re)construção­de sentimentos como to- pp. 82-83), essa nova maneira de pensar e
pofilia, terrafilia e cidadania.5 planejar as cidades e as metrópoles, esse
Tratar do urbanismo hoje constitui uma “neourbanismo”,
metáfora para discutir a produção social do
[...] apoia-se em atitudes mais reflexivas,
espaço urbano (Monte Mór, 2006). Como des-
adaptadas a uma sociedade complexa
taca Gehl (2013), é possível modificar as re- e a um futuro incerto. [...] É também um
gras do jogo em prol da escala humana e de instrumento cuja elaboração, expressão,
espaços públicos que garantam uma cidade desenvolvimento e execução revelam as
viva e segura, equitativa e inclusiva, diversifi- potencialidades e as limitações que são
impostas pela sociedade, pelo atores
cada e pluralista, compacta e coesa. Tal postura
envolvidos,­pelos lugares, circunstâncias e
demanda um planejamento urbano integrado, acontecimentos.
que vise à sustentabilidade pelo investimento
em edificações multifuncionais, em mobili- Ascher vislumbra um planejamento que é
dade sustentável, em valorização da cultura simultaneamente uma ferramenta de análise e
ciclista e pedonal, em aumento da eficiência de negociação, que deve desenvolver um enfo-
energética com menores níveis de poluição que funcional mais minucioso e soluções mul-
e de consumo de recursos naturais (Rogers e tifuncionais, ao considerar a complexidade e a
Gumuchdjian, 2001). Demanda, ainda, a bus- variedade das práticas urbanas, com ambientes
ca de uma nova cidade que reencontre a sua mais atrativos, confortáveis e inclusivos. Um
natureza, sua arché, para que as comunidades dos componentes fundamentais desse neour-
possam defender, preservar e/ou construir uma banismo deve ser a sustentabilidade, não como
identidade por meio de seus valores naturais e característica acessória ao planejamento, mas
culturais e de seu patrimônio, uma cidade que como premissa que, além das dimensões eco-
possa dialogar­com o futuro pela valorização nômica e ambiental, envolva também a social
dos seus potenciais. Nas palavras de Brandão (Vilà e Gavalda, 2013).
(2006, p. 75), “sem retorno às origens, não há O neourbanismo deve pensar a cidade
futuro; sem memória, a cidade desfalece, e vi- como um campo de práticas epistêmicas, po-
ce-versa: sem futuro e sem projeto, a identida- líticas, sociais e culturais entrelaçadas, permi-
de e o sentido de nossas existências individuais tindo práticas socioculturais que levem à apro-
e coletivas se perdem”. priação dos espaços públicos pela população,
Nessa busca, é fundamental articular para que deixem de ser “espaços de ninguém”
passado e futuro, memória e utopia, arqué- e se efetivem como “espaços de todos”. Nes-
tipo e ideal, para que a comunidade se reco- sa cidade mais plural, a apropriação funciona
nheça dentro de uma tradição, conquistando como mecanismo de defesa e superação ante
uma identidade e construindo um patamar os modelos urbanísticos impessoais impostos
dialógico e democrático. Para Ascher (2010, pelos planejadores.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 641
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Repensando alternativas caminhar, andar de bicicleta e encontrar outras


pessoas em espaços urbanos comuns não eram
a partir do espaço público atividades que impactassem o desenvolvimen-
to urbano em todo o mundo.
A origem das cidades, como construto social, A intensificação e a complexidade do
fruto de um processo sócio-histórico, reside no processo de urbanização trouxeram um cres-
sentimento gregário e na necessidade de con- cimento exagerado de novas edificações,
vívio social. Sua definição varia segundo seus um aumento da densidade e os citados pro-
modos de uso e identificação dos espaços pú- blemas derivados do tráfego de veículos. As
blicos, que organizam a malha urbana, fomen- consequên­cias desse triplo processo negativo
tando encontros, intercâmbios, manifestações do urbano – dissolução, fragmentação, privati-
e lazer, permitindo mobilidade e permanência zação – reforçam-se mutuamente e contribuem
nas dinâmicas espaciais associadas aos proces- para o desaparecimento dos espaços públicos
sos e às práticas sociais (Albernaz, 2007). como espaços de cidadania (Borja e Muxi,
El espacio público supone, pues, 2003). Ainda que indispensáveis ao equilíbrio
dominio público, uso social colectivo da cidade, verifica-se a constante redução de
y multifuncionalidad. Se caracteriza investimentos na implementação de espaços
físicamente por su accesibilidad, lo que le públicos livres multifuncionais, levando à per-
hace un factor de centralidad. La calidad
da de sua vitalidade com sérias consequên-
del espacio público se podrá evaluar
sobre todo por la intensidad y la calidad cias. A cidade viva demanda uma combinação
de las relaciones sociales que facilita, de espaços públicos conectados, articulados
por su fuerza mezcladora de grupos y em rede,­acessíveis e seguros, interessantes e
comportamientos; por su capacidad de convidativos, além de certa massa crítica de
estimular la identificación simbólica, la
pessoas­que queiram utilizá-los (Gehl, 2013).
expresión y la integración culturales.
(Borja e Muxí 2003, p. 28) Afrontando o modelo moderno, os espaços
urbanos são revistos hoje, na prática da arqui-
Entretanto, nas últimas décadas, o es- tetura e do urbanismo, como uma pauta para
paço público foi relegado a segundo plano. A garantir o devir urbano.
explicação estaria tanto na sua rejeição pelos Os atuais questionamentos sobre a vida
urbanistas modernos, quanto no rápido de- urbana vêm ressaltando os conflitos, a desi-
senvolvimento do tráfego de veículos e a con- gualdade e a segregação como fatores que evi-
sequente valorização da malha viária (Gehl e denciam a submissão das cidades ao mercado
Gemzoe, 2002). Para Gehl (2013, p. 26), “ideo- imobiliário e às grandes empresas. A “moderni-
logias dominantes de planejamento rejeitaram dade líquida”, tal como definida por Bauman
o espaço urbano e a vida na cidade como ino- (2001), impôs uma relação “cambiante” entre
portunos e desnecessários”. Nesse contexto, o espaço e tempo, caracterizada pelo esvazia-
planejamento urbano dedicou-se ao desenvol- mento do espaço público, pela expansão do
vimento de um cenário racional e simplificado espaço privado e pelo aumento da segregação
para as atividades “realmente necessárias”: socioespacial, decorrentes da sobrevalorização­

642 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

de fatores econômicos. Além disso, tais ques- seguro” (Garcia, 1996, p. 26), em uma nova e
tionamentos geraram novos modelos cultu- atemporal cartografia urbana, composta por
rais e de comportamento que transformam
novos produtos imobiliários – loteamen-
radicalmente a sociabilidade, ao modificar os
tos fechados, shopping centers, centros
usos e as formas de relacionamento dos e nos empresariais, parques temáticos, centros
lugares, ressignificando a prática socioespacial turísticos [...]. Os novos espaços “públi-
(Sobarzo,­ 2006). cos” – realmente semipúblicos ou pseu-
Na análise de Bauman (2001), no século dopúblicos – são muitas vezes caricaturas
da vida social, negando ou ocultando as
XXI, inverte-se o papel histórico da cidade: o
diferenças e os conflitos, tornando a so-
sentimento de “medo” está agora no coração ciabilidade mais clean e, em último termo,
das cidades. Na vida pós-industrial, urbana e negando-a. (Sobarzo, 2006, p. 95)
capitalista, nossa sociedade de muros precisa
forjar monstros do lado de fora para justificar A rua, por exemplo, tem perdido seu ca-
seu isolamento, seus privilégios e seu medo ráter multifuncional e de lugar de encontro, de
do outro (Debortoli, Martins e Martins, 2008). sociabilidade e de vida comum, e os espaços
Mais do que uma dimensão concreta, a “cultu- livres públicos são cada vez menos geridos e
ra do medo” é uma prática discursiva apoiada mantidos de modo a oferecer segurança e ludi-
por interesses hegemônicos dos meios políticos cidade. Esses espaços vêm sendo cada vez mais
econômicos e de comunicação de massa, que “privatizados”: ruas são fechadas por cancelas,
espetacularizam o “caos urbano” e apresen- praças e parques são gradeados e até recebem
tam um quadro distorcido da realidade. Essa bilheterias nas suas entradas, com a justifica-
“cultura do medo” reafirma o individualismo, tiva de ampliar a segurança (Albernaz, 2007).
o hedonismo e o consumismo, em detrimen- Em contraponto, o espaço apropriado por
to das interações sociais e do contato com a meio das práticas cotidianas é mais do que um
natureza, fazendo com que, cada vez mais, os espaço concreto: é percebido, vivido, subjetiva-
habitantes tornem-se indiferentes ao cuidado e do, ressignificado. Já não é espaço consumido,
à preservação dos espaços públicos. mas, sim, lugar afetivo e simbólico, relacionado
A expansão do capitalismo produziu à “experiência antropológica, poética ou mítica
grandes câmbios nos modos de vida, transfor- do espaço”. Certeau (2003, p. 172) destaca que
mando o tempo livre em tempo de consumo. A os “usuários” das cidades possuem a capaci-
consequência direta ocorre no espaço público, dade de superar a condição de meros consumi-
apropriado simbolicamente pelas grandes for- dores passivos, convertendo-se em “cidadãos”.
ças econômicas, que estimulam a progressiva Ao criar, diversificar e valorizar seus espaços
equiparação do conceito de “público” ao de públicos, a cidade converte-se em um espaço
“coletivo”, como se fossem equivalentes. A físico carregado de identidade, em lugar sim-
realidade brasileira evidencia esse tipo de dis- bólico de construção da cidadania (Castells,
curso sobre o espaço público “simbolicamente 2009). Assim, de fato, o conceito de cidadania
recuperado, higienizado e convertido em algo implica um desafio para as cidades: fazer com

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 643
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

que seus lugares – centrais ou periféricos –, ignorados.­O Brasil, por exemplo, tem enten-
seus bairros e seus espaços públicos tornem-se dido que as melhorias sanitárias aumentam a
produtores de sentido à vida cotidiana. expectativa de vida, implicando maior núme-
Construir cidades para as pessoas é ro de idosos. Na última década, por todo o
uma política necessária aos desafios do sé- País, espaços públicos receberam academias
culo XXI: “o custo de incluir a dimensão hu- populares para a prática de exercícios físicos,
mana é tão modesto, que os investimentos convidando os cidadãos a manter-se em for-
nessa área são possíveis a cidades do mundo ma. Em contrapartida, a população infantil
todo, independentemente do grau de desen- permanece desatendida, e os espaços e equi-
volvimento e de sua capacidade financeira” pamentos que lhe são destinados em nada
(Gehl, 2013, p. 7). Confirmando seu argumen- correspondem ao imaginário infantil e muito
to, observam-se esforços de reconhecimen- menos ao ideário lúdico, seguro e atrativo
to e inclusão de contingentes sociais antes aqui defendido.

Figura 1 – Balanços no Viaduto do Chá, Vale do Anhangabaú


São Paulo, 2013

Fonte: http://www.archdaily.com.br/br/01-118456/a-cidade-e-para-brincar-slash-basurama.

644 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

Repensando as cidades que lhe são apresentadas, influenciando sua


percepção espacial e criando um mundo onde
para as crianças o extramuros do condomínio são cercados de
perigos e monstros.
Se, nas sociedades pré-industriais, a vida acon- No contexto das metrópoles brasileiras,
tecia na rua, o processo de urbanização, ocor- observa-se que as crianças têm sua liberda-
rido a partir do século XIX, acompanhado do de de movimentos reduzida, além de serem
desenvolvimento de estudos sobre a criança, tolhidas no desenvolvimento de suas formas
criou a necessidade de destinar parte dos espa- particulares de perceber a cidade. Em prol de
ços urbanos à infância. A partir do pós-guerra, uma suposta segurança, vêm-se confinadas em
evidenciou-se a necessidade de apostar pela espaços reservados a elas: “infantis”, fecha-
ludicidade e pela infância na busca de um futu- dos, artificiais, homogêneos, supervisionados e
ro melhor do que o vivido naqueles anos.6 controlados por adultos (Aitken, 2014; Oliveira,
Na busca de um equilíbrio dinâmico en- 2004). Geralmente são espaços que se carac-
tre sociedade, espaço urbano e natureza, indis- terizam por relações comerciais e de consumo,
sociável de elementos como participação, edu- sem surpresas nem riscos, sem estímulos nem
cação e inovação, é válido considerar o lugar diversidade, que cerceiam a criatividade e a in-
das infâncias contemporâneas e a responsabi- fância em si.
lidade e o papel educador da cidade e do pró- Brincar é a forma de expressão da crian-
prio tecido urbano. Trata-se de colocar a cidade ça. Constitui sua primeira forma de aprendiza-
e seus espaços ao serviço de um projeto que gem, em que intervêm processos de criativi-
inclua as infâncias, não de forma “periférica”, dade, capacidade de racionalização e domínio
“adaptada”, mas especialmente planejada e da linguagem. Brincar constitui um fim em si
construída para as crianças, resgatando, assim, mesmo. Se, por um lado, a brincadeira é consi-
territórios do brincar (Dias e Ferreira, 2015). derada uma atividade cultural e antropológica,
Brincadeiras de crianças sempre fizeram biologicamente herdada, caracterizada como
parte da vida urbana. No passado, elas brin- espontânea, prazerosa e livre, na qual a apren-
cavam nos espaços urbanos, onde os adul- dizagem acontece, por outro lado, o que se vê
tos trabalhavam ou realizavam suas ativida- na nossa sociedade orientada para a produção
des. Como explica o psicopedagogo Tonucci é o “racionamento” e o “modelamento” do
(2005), há muito tempo, tínhamos medo do brincar, desnaturalizando o próprio caráter lú-
bosque. Era o bosque do lobo, da bruxa, do dico e gratuito da brincadeira (Lansky, 2012).
ogro. Era o lugar onde se podia perder, onde Notam-se o crescente desajuste do es-
podia acontecer qualquer coisa. Hoje, a cidade paço urbano para as necessidades infantis, a
tomou o lugar do bosque das fábulas infantis. ausência e/ou precariedade de espaços públi-
Principalmente para a criança que se encontra cos para o brincar livre, a escassez de espaços
na etapa de experimentar as possibilidades lúdicos, culturais e naturais, bem como a pouca
que a vida urbana oferece e se torna refém das atratividade que os existentes despertam nas
limitações que lhe são impostas e das imagens crianças (Oliveira, 2004). Mais ainda, é função

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 645
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

dos espaços públicos promover a igualdade de água, sons e aromas, sol, sombra e brisa e, se
oferta e de oportunidades a todas as crianças, possível, equipamentos lúdicos de qualidade
sem distinção socioeconômica: espaços de qua- (Dias e Ferreira, 2015). Nossa aposta é pelos
lidade que possibilitem o brincar livre, em segu- espaços lúdicos acessíveis e de qualidade, para
rança, em contato com o urbano e a natureza, que o brincar faça parte do cotidiano – a exem-
para a vivência do coletivo, da urbanidade e da plo do que acontece em países europeus –, e
cidadania (Dias e Ferreira, 2015). não apenas pontual ou esporadicamente, nos
finais de semana. Para tanto, é essencial uma
Uma política pública de equipamentos
mudança cultural nos modos de apropriação
lúdicos deve assumir, também, um papel
de redutor das desigualdades sociais e dos espaços públicos.
econômicas. Tanto a formação das elites No atual ritmo da vida urbana, que de-
quanto a da marginalidade não se expli- termina às crianças um cotidiano repleto de
cam apenas pelas oportunidades de edu- compromissos, é necessário considerar a limi-
cação, de saúde e de acesso ao trabalho.
tação de espaço e, também, de tempo para o
Explicam-se, também, pelas oportunida-
des de brincar. (Garcia, 1996, p. 121) lazer infantil. Para contornar essas restrições,
em termos urbanísticos e paisagísticos, deve-se
O brincar no espaço público fortalece os considerar a distribuição equitativa dos espaços
vínculos comunitários, além de ser uma impor- infantis no território da cidade, bem como sua
tante ferramenta na construção de uma cultura integração e adequação com a vizinhança: pró-
de paz. A função dos parques infantis é – ou ximos a residências, escolas infantis e de ensino
deveria ser – fomentar o bem-estar e o desen- fundamental e de equipamentos públicos volta-
volvimento físico, cognitivo, emocional e social dos para outras faixas etárias (quadras espor-
da criança, unindo seus benefícios de saúde, tivas, academia da terceira idade, etc.), favore-
lazer, cultura, educação, socialização e cida- cendo, ainda, as relações intergeracionais.
dania aos do tempo espontâneo, do riso e do Apesar de convidativo a todos, os espa-
risco. Sobretudo, é importante que estimulem ços lúdicos não devem ser planejados e organi-
a iniciativa, a curiosidade e a imaginação da zados apenas para atender aos interesses dos
criança, sem determinar ou limitar suas formas pais ou dos adultos, mas sim às necessidades
de apropriação, permitindo criações e transfor- e subjetividades das crianças. Esse processo
mações no seu uso (Lima, 1989). É essencial implica conhecer a fundo a comunidade, uma
que o interesse pelo espaço lúdico não se es- vez que deve ser fruto de uma planificação que
gote após algumas brincadeiras e com o passar realmente seja capaz de atrair a criança e sua
do tempo, prolongando-se pelo maior período família. A participação das crianças no pro-
possível, renovando-se através do convite à cesso contribui para fomentar sua autonomia,
fantasia e da interação com outras crianças. fazer-lhes protagonistas, colocá-las em diálogo
É difícil idealizar um ambiente público com outros cidadãos, adquirindo um conheci-
mais saudável, rico e estimulante do que um es- mento mais profundo e duradouro da cidade.
paço lúdico com a presença da paisagem e da O cuidado e o respeito pelas singularidades
natureza: areia, terra, árvores, flores, animais,­ socioculturais­ das comunidades, aliados às

646 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

características do seu entorno e paisagem, po- planejamento, entendendo o potencial dos


dem ser a chave para a criação de espaços que espaços públicos em tornarem-se espaços de
preservem sua identidade cultural e garantam desfrute e aprendizagem. Por mais limitados
sua apropriação. que sejam os recursos, é importante não su-
Urge, portanto, compreender que as bestimar as possibilidades das futuras áreas
áreas­lúdicas públicas podem ser diferentes infantis, já que intervenções mínimas podem
das soluções padronizadas e obsoletas gene- permitir excelentes experiências lúdicas que
ralizadas pelo Brasil afora, sem que isso pres- explorem aspectos sensoriais, emocionais e/
suponha investimentos econômicos maiores. ou simbólicos do espaço, que recordam que a
Basta dedicar interesse e criatividade ao seu cidade é para brincar.

Figura 2 – Espaços públicos lúdicos

Fonte: Gehl (2013, p. 159). Fonte: Gehl (2013, p. 228).

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 647
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Experiências Guardian, 2016b). Desde­a década de 1960,


essa situação começou a mudar a partir de um
de transformações planejamento urbano municipal com um inte-
urbanas humanas resse renovado pela vida pública, com ênfase
na cidade como lugar de encontro, contando
Algumas metrópoles passaram por significati- com o apoio do Centro de Pesquisa de Espaço
vas transformações na sua paisagem nas últi- Público da Escola de Arquitetura de Copenha-
mas décadas, revitalizando seus espaços, me- gue (Gehl e Gemzoe, 2002).
lhorando as condições para os pedestres e ci- Para Gehl, o espaço público poderia ti-
clistas e promovendo novos padrões inclusivos rar as pessoas do isolamento. Assim, em 1962,
de uso e práticas sociais, dando vez também a realizou-se a primeira experiência de excluir
idosos, jovens e crianças. Foram selecionadas os automóveis e as vagas de estacionamen-
quatro experiências bem-sucedidas de cidades to da principal rua de Copenhague, aberta
europeias e latino-americanas que desenvolve- para a conformação de novos espaços e usos
ram suas próprias políticas urbanas integradas: públicos.­O sucesso dessas intervenções no
Copenhague, Barcelona, Medellín e Curitiba. centro da cidade estimulou novas ações estra-
tégicas, realizadas ao longo das décadas se-
guintes: outras vias tornaram-se pedonais, di-
versas praças foram criadas e revitalizadas ao
Caminhar e pedalar
longo dessas vias, e os dezoito quarteirões da
em Copenhague área central de Copenhague foram liberados
dos estacionamentos. Para a reestruturação
Copenhague, capital da Dinamarca, com mais da mobilidade, foram fundamentais o desen-
de 1,2 milhão de habitantes, é um exemplo volvimento do transporte coletivo e a criação
destacado na Europa de renovação urbana de uma grande malha de ciclovias e do sistema
que humanizou a cidade. Após a Segunda público de bicicletas. A cultura ciclista e pe-
Guerra, com o crescimento da frota particular­ donal ganhou novo impulso com a crise mun-
e da circulação de veículos, passou a ser uma dial do petróleo da década de 1970. O projeto
cidade voltada para automóveis. Não se acre- preocupou-se também com a arborização, a
ditava na possibilidade de redução do seu uso melhoria do mobiliário urbano e do sistema de
nem de vida pública ao ar livre em seus es- iluminação noturna. Ademais, a zona portuá­
paços urbanos deteriorados. Pensava-se que o ria foi recuperada, e o rio Arhus, canalizado e
futuro estava em enormes blocos com apar- transformado em via para o tráfego de veículos
tamentos e complexos sistemas de tráfego. na década de 1930, foi reaberto e limpo entre
Entretanto, devido à falta de recursos,­esse 1996 e 1998, resultando em espaços públicos
cenário não se concretizou, e o desenvolvi- de recreação ao longo de seu curso (ibid.). Nos
mento de Copenhague tomou outra trajetória, últimos anos, outras intervenções vêm sendo
escapando das garras de concreto congestio- aplicadas em zonas mais periféricas do territó-
nadas do planejamento urbano moderno (The rio urbano e metropolitano.

648 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

Cinco décadas depois, Copenhague crianças é uma constante nos seus espaços
possui um modelo urbano exemplar, que con- públicos, tanto nos dedicados a elas quan-
tinua a manter o seu parque habitacional his- to nos demais, junto a outros grupos etários,
tórico, uso intensivo de bicicletas e extensa tornando-se o lúdico um bem comum. A cidade
zona pedonal. Impactantes resultados sociais conquistou uma vida pública mais versátil, o
traduzem-se no ressurgimento de uma cultu- desenvolvimento de uma nova cultura urbana e
ra ciclista para atividades diárias, perdida no a descoberta de novas oportunidades. Com um
pós-guerra, e atualmente cerca de 50% dos planejamento com ênfase no cidadão, Cope-
habitantes pedalam todos os dias em uma re- nhague atualmente transmite uma mensagem
de de ciclovias de 390 km; na presença plena clara a seus habitantes e visitantes: convida
do pedestre no espaço público, em passagem, à fruição de seus espaços públicos a partir de
descanso ou permanência; na ampliação do uma experiência inclusiva, mais vívida, mais lú-
período de realização de atividades ao ar livre, dica, da cultura ciclista e pedonal (ibid.; Gehl,
apesar das temperaturas baixas; no surgimento­ 2013), conferindo-lhe o título de uma das cida-
de uma cultura de cafeterias.­A presença de des mais “habitáveis” do mundo.

Figura 3 – Strøget, Copenhague

Fonte: http://www.visitdenmark.com.br/pt-br/dinamarca/nordic-star

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 649
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Figura 4 – Cultura ciclista, Copenhague

Fonte: http://www.visitdenmark.com/copenhagen/activities/copenhagen-two-wheels-0

Barcelona, posa’t guapa! pelas muralhas medievais. Com a demolição


destas, a cidade e o governo tiveram que con-
Barcelona, na Espanha, localizada às margens ceber e gerir a súbita redistribuição de uma
do Mediterrâneo e limitada pela serra de Coll- população transbordante. Foi uma decisão con-
serola e pelos rios Llobregat e Besòs, com 1,6 troversa e política, que levou ao radical plano
milhão de habitantes, é uma cidade densa e de expansão do engenheiro Ildefons Cerdà: um
compacta. Sua primeira remodelação urbana grande distrito em grelha, com blocos ortogo-
remonta ao século XIX: em meados da déca- nais, chanfrados nos cantos, chamado Eixample
da de 1850, era um centro industrial, liderado (literalmente, “expansão”). O plano Cerdà re-
principalmente pelo setor têxtil e com um porto presentou uma espécie de “libertação”, e fun-
movimentado. Sua densidade a levava à beira dou o conceito de “urbanização” norteado por
do colapso, com uma população de 187.000 um senso de igualdade e uma ideologia social
habitantes em uma área de 2 km , confinada
2 (The Guardian, 2016a).

650 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

No final do século XX, sua remodelação, Jogos Olímpicos­ a Barcelona, o processo de


desenvolvida a partir do espaço público e que renovação urbana constou de: estabelecimen-
inclui a arte e o lúdico, é emblemática na Euro- to de um plano diretor estratégico; reabilitação
pa e no mundo. No entanto, durante o período de mais de 150 espaços públicos tradicionais
franquista, seus espaços públicos foram negli- (praças, parques, jardins); implementação de
genciados, e a cidade foi tomada pelos automó- um novo mobiliário urbano para as ruas; rea-
veis, o que lhe impôs um crescimento intensivo valiação dos equipamentos urbanos; completa
e desordenado. A partir da década de 1980, a modernização infraestrutural. Foi realizada,
reconquista da democracia desencadeou uma ainda, a requalificação de sua área industrial,
avalanche de iniciativas e liberou uma geração então abandonada e deteriorada, e que, por
de arquitetos e urbanistas reprimida pela dita- sua localização, havia separado a cidade do
dura. Durante o mandato do prefeito Pasqual mar, devolvendo o contato entre Barcelona e o
Maragall, com grande apoio popular, o tecido Mediterrâneo (Bohigas, 1985).
urbano de Barcelona foi totalmente revitaliza- Nos últimos anos, a ênfase foi dada à re-
do segundo o “Modelo Barcelona”, idealiza- estruturação da mobilidade urbana, através de
do pelo arquiteto urbanista Oriol Bohigas. No expansão e melhoria do sistema de transporte
entanto, foram os Jogos Olímpicos de 1992 – coletivo intermodal e da política de restrição
como catalisador para uma reforma visionária, aos automóveis, além da implantação de ci-
com um planejamento estratégico-espetacular clovias e do sistema público de aluguel de bi-
específico – que criaram a base econômica pa- cicletas. Também foram eliminados viadutos e
ra a implantação de um planejamento de maior vias elevadas que impediam o desfrute da pai-
escala. Bohigas desenvolveu uma política urba- sagem. As intervenções disseminaram-se por
na ativa, que enfatizava mais os projetos que todo o território, tanto na escala do quarteirão
os planos e a legislação urbana. Também criou quanto na dos bairros, dos distritos, da cidade
um importante escritório de desenho urbano e dos municípios vizinhos. A nova política ur-
independente (Servei de Projectes­Urbans), di- bana voltada para os pedestres e seus encon-
vidido em dez distritos (Gehl e Gemzoe, 2002). tros criou refinados espaços públicos para ati-
Realizados em apenas uma década, os vidades sociais e recreativas. A recuperação de
pontos de partida do “Modelo Barcelona” fo- parques e praças, somada à transformação de
ram claros: remodelar a cidade, respeitando e áreas residuais, vem criando espaços multifun-
aproveitando suas próprias especificidades, e cionais e diversificados, cada um com sua iden-
recuperar os escassos espaços livres existentes tidade própria. Novas edificações e obras de
(Montaner, 1999). Em sua maioria, os espaços arte de autores prestigiados passaram a fazer
públicos foram criados a partir da demolição parte dos espaços públicos, levando a arte e o
de edifícios ou fábricas abandonadas e, em lúdico à rua. Desenvolveu-se, também, uma re-
menor grau, pela restrição de áreas anterior- de com cerca de 700 áreas lúdicas infantis, ao
mente dedicadas aos veículos. Além da im- mesmo tempo que foi sendo incorporada uma
plantação de quatro áreas olímpicas integra- nova cultura que manifesta evidente consciên-
das à cidade, que constituíram um legado dos cia do brincar como parte do cotidiano urbano.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 651
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Figura 5 – Parc de l’Estació del Nord, Barcelona

Fonte: http://andatori.blogspot.com.br/2011/02/barcelona-parque-de-la-estacio-del-nord.html

Figura 6 – Parc Diagonal Mar, Barcelona

Fonte: http://qxulus.blogspot.com.br/2013/12/parc-dels-tobogans.html

652 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

À medida que Barcelona foi se reinven- teve­Barcelona e, principalmente Curitiba, co-


tando e desenvolvendo um novo modelo a mo modelos nos quais se inspirar. Em 2004,
partir de seus espaços públicos, bem como da uma união de forças políticas e sociais pela paz
combinação de alguns megaprojetos urbanos e cidadania promoveu a revitalização urbana
espetaculares com centenas de criativas mi- através de ações combinadas, ou melhor, de
crointervenções urbanísticas e paisagísticas de cadeias de intervenções que “costuraram” a
reabilitação de espaços públicos, consolidou- cidade. Estas incluíram experiências radicais no
-se como uma Barcelona pós-Olimpíadas, di- planejamento urbano e formas participativas
nâmica e cosmopolita, com alta qualidade de de governo, com um porta-voz e intérprete da
vida urbana e uma atrativa paisagem arquite- comunidade nas intervenções propostas e atra-
tônica, artística e cultural. Barcelona conver- vés de “oficinas imaginativas” com os morado-
teu-se em um verdadeiro ícone de desenho res das comunidades. O urbanismo foi utilizado
urbano, que se destaca pela diversidade paisa- como ferramenta para promover a mobilidade
gística e cultural.­ social e a equidade. A chave para sua aborda-
gem foi o estabelecimento de um compromisso
com a esfera pública como um espaço compar-
Medellín: o ponto de inflexão tilhado, transformando os espaços públicos, an-
tes vistos como áreas de segregação e medo,
Com mais de 2,4 milhões de habitantes, em espaços onde as comunidades pudessem
Medellín,­na Colômbia, foi um campo de ba- conviver com qualidade (The Guardian, 2016d).
talha da guerra às drogas, marcada por anos As citadas ações combinadas incluíram
de violência, medo e desigualdade social, estratégias voltadas a acessibilidade e mobili-
plasmados na precariedade de seus espaços dade integrada, que implantaram um sistema
urbanos. À beira de um colapso, foi essa mes- intermodal adaptado à geografia da cidade,
ma situação que criou as condições de um re- incluindo: metrô (elevado e de superfície); me-
nascimento extraordinário, apagando a cisão trocable (teleférico), metroplús (BRT), micro-
entre a cidade reticulada no vale e os assen- -ônibus, ciclovias, pontes e passarelas, escadas
tamentos informais nos morros. Em menos de rolantes, além de prever a implementação do
uma década, Medellín tornou-se referência de VLT (veículo leve sobre trilhos). Outra estraté-
transformação urbana baseada no urbanismo gia foi a implantação de um sistema pré-pago,
social e inclusivo, além de ser modelo de cida- que viabilizou o fornecimento de serviços bási-
de educadora.­ cos a toda população. Foi importante a criação
O território de Medellín é marcado por da Empresa de Desenvolvimento Urbano (EDU),
topografia acidentada, que isolava suas co- com uma independência burocrática e equipes
munidades. Essa peculiar morfologia condicio- multidisciplinares atuando em diferentes seto-
nou as propostas arquitetônicas e urbanísticas res da cidade. Criou-se, ainda, o PUI (Projeto
que começaram a ser desenvolvidas ainda na Urbano Integral), um instrumento de interven-
década de 1990. Por ser uma experiência de ção urbana que abarca a dimensão física, so-
revitalização­ urbana mais recente, Medellín cial e institucional.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 653
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Figura 7 – Plaza Botero, Medellín, Colômbia

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pano_Plazo_Botero.jpg

Figura 8 – Parque de los Pies Descalzos, Medellín, Colômbia

Fonte: https://issuu.com/maurobrunelli/docs/apropiaci__n_del_espacio_p__blico_j

654 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

A região nordeste da cidade, caracteriza- anteriormente­hostil. Hoje é uma cidade que


da pelos bairros autoconstruídos mais densos se abre à vivência urbana e apresenta ao
e com maiores índices de violência, passou a mundo uma imagem arquitetônica, social e
ser considerada um laboratório urbano. Ali se cultural renovada.­
desenvolveram projetos urbanos integrais com
alto investimento público para melhorar as
condições de vida através de equipamentos
e espaços públicos, mobilidade e habitação.
Curitiba: novo paradigma
Os morros de favelas passaram de invisíveis à
urbanístico
condição de protagonistas de uma transforma-
ção urbana com enfoque social, que requereu Maior cidade do sul do Brasil, Curitiba, capital
metodologias transdisciplinares inovadoras do Paraná, possui mais de 1,8 milhão de ha-
(Castaño­Cárdenas, 2015). bitantes e é, sem dúvida, o exemplo nacional
A década passada trouxe uma nova mais paradigmático de planejamento urbano e
arquitetura expressa em obras de grande im- transformação territorial voltada para as pes-
pacto urbanístico e paisagístico nas áreas mais soas. Na década de 1960, a cidade passava por
carentes: especialmente relevantes foram os uma vertiginosa e caótica expansão: Brasília
projetos dos parques-bibliotecas, com design lançava uma sombra sobre o futuro do planeja-
ousado, que ajudaram a transformar também mento das metrópoles brasileiras. Com espaços
a imagem da cidade, e as diversas praças e públicos deteriorados, um tráfego problemático
parques com alto nível de desenho urbano, e o crescimento das favelas, que minavam a
equipamentos e mobiliário. A revitalização qualidade de vida urbana, Curitiba vislumbrava
das margens do rio Medellín, transformadas a abertura de novas vias expressas a partir da
num imenso parque linear, e cujas obras já demolição de edifícios históricos e da constru-
foram iniciadas, terá a maior parte do trânsi- ção de viadutos que se conectariam com o cen-
to veicular­rebaixada, possibilitando uma nova tro da cidade (Plano Agache).
e rica interação de pedestres e ciclistas com a No entanto, em 1965, o arquiteto urba-
natureza em um espaço público qualificado e nista Jaime Lerner participou da criação do
em escala metropolitana. Instituto de Planejamento Urbano de Curi-
Levando educação, cultura e arte para tiba (Ippuc), responsável pelo Plano Diretor
os espaços públicos, Medellín transformou-se da cidade, que rechaçou a proposta, dando
em cidade educadora: nos espaços públicos, início às primeiras intervenções: restrição ao
os usuá­rios são convidados a descalçarem-se, tráfego de automóveis no centro da cidade e
a sentirem os diferentes tipos de superfícies, substituição do crescimento radial por uma
a brincarem com fontes e espelhos d’água. expansão linear­ao longo de cinco corredores
Cerca de uma década depois de iniciadas es- de transporte. Cada corredor foi construído ao
sas políticas públicas, Medellín revitalizou seu lado de um bulevar central para o transporte
tecido urbano e sua paisagem, construindo público. Entretanto, as mudanças mais signi-
um novo espírito cidadão em uma sociedade­ ficativas aconteceram nos três mandatos de

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 655
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Lerner na prefeitura de Curitiba (entre 1971- Além disso, foram criadas dezenas de parques
1992), antes de ser eleito duas vezes governa- e bosques urbanos e, também, outros espaços
dor do Paraná (até 2002), ao pensar a cidade públicos. Os novos parques são notáveis por
de modo integral: mobilidade, espaço público, sua profusão de tratamentos arquitetônicos
sustentabilidade.­ e paisagísticos. Vários deles foram instalados
Já, em 1972, através do impedimento em áreas de antigas pedreiras desativadas,
do tráfego de veículos, foi criado em Curitiba como estratégia para impedir a degradação
o primeiro “calçadão” do Brasil, a Rua XV de e valorizar seu potencial ecológico e paisa-
Novembro. A obra foi realizada em 72 horas gístico (Rogers e Gumuchdjian, 2001). Se, em
para que não houvesse tempo de ser rejeitada 1971, Curitiba tinha 0,5m2 de área verde por
pelos comerciantes e paralisada. Com as no- habitante, 20 anos depois seus indicadores
vas ruas exclusivas para pedestres, diversas contam com um total cem vezes maior, a par-
praças no centro da cidade foram renovadas, tir de um sistemático programa de tratamen-
potencializando os encontros e as vivências. O to paisagístico, que incluiu a proteção do rio
plano de Curitiba se desenvolveu a partir da Iguaçu, o principal da cidade, para que não
implantação de um sistema pioneiro de trans- fosse canalizado. Essas transformações urba-
porte coletivo de massa, o Bus Rapid Transit nas criaram áreas verdes para convívio social
(BRT). O sistema conta com: vias exclusivas de e contato com a natureza.
ônibus, de configuração alongada e articula- As intervenções em mobilidade urbana e
da; terminais confortáveis e estações “tubo”, espaços públicos livres resultaram em uma alta
em plataformas elevadas, à altura do piso dos qualidade de vida urbana e no surgimento de
ônibus, permitindo acesso rápido, boas cone- um sentimento de pertencimento e orgulho da
xões, sistema de pré-pagamento e bilhete úni- população, que possibilita, ao curitibano, não
co. O BRT revolucionou a mobilidade urbana só o desfrute e a autoexpressão, mas também
de Curitiba, com uma considerável redução do o cuidado com seus espaços públicos, servindo
tempo de espera e de deslocamento. Foi im- de exemplo para o restante do País. Apesar de
plementada, ainda, uma complexa rede de ci- ainda hoje apresentar grande número de veí-
clovias, uma das primeiras do Brasil, articula­ culos particulares, Curitiba alcançou resultados
da com as zonas verdes da cidade (Gehl e surpreendentes, emergindo como referência
Gemzoe,­ 2002). mundial em sustentabilidade, mobilidade e
Com uma forte preocupação meio am- espaços públicos. Sua posição, como uma das
biental, criou-se o programa Green Exchange, metrópoles com mais qualidade de vida do País
através do qual os moradores trocam lixo por e líder entre as cidades sustentáveis (ibid.), foi
fichas, e estas por produtos. Hoje em dia, 90% resultado de iniciativas que conjugaram dese-
da cidade, ou seja, mais de 10.000 residentes, nho inteligente, ações de relativo baixo custo
participam do programa de reciclagem. En- e as oportunidades oferecidas pelo contexto
quanto a maioria das cidades acumula ater- e paisagem. Infelizmente, ao que tudo indica,
ros sanitários ao longo da periferia, Curitiba parece que os poderes públicos estão mais
recicla 70% do seu lixo (The Guardian, 2016c). empenhados em relegar a cidade ao descuido­

656 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

e à degradação do que em preservar e dar plo paradigmático de qualidade urbana e am-


continuidade­ao que fez de Curitiba um exem- biental para o Brasil e para o mundo.

Figura 9 – BRT, Curitiba

Fonte: http://inhabitat.com/transporation-tuesday-curitiba/

Figura 10 – Rua XV de Novembro, Curitiba

antes (anos 1960) depois (anos 2000)

Fonte: VIEIRA, 2010, p. 80; http://www.guiaturismocuritiba.com/2010/12/calcadao-da-rua-xv-rua-das-flores.html

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 657
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

Considerações finais ser a cidade do século XXI, estamos seguros de


como não deve ser. A única certeza reside na
necessidade de uma mudança de paradigma,
A partir dos processos de transformação urba- que pense a cidade para os seus cidadãos.
na aqui descritos – que incluíram reestrutura- Tal panorama suscita a necessidade de
ção, renovação, remodelação e revitalização –, reavaliar conceitos e modelos que se revela-
comprovamos a validade da hipótese proposta ram inadequados às necessidades urbanas. Ou,
de que é possível devolver à cidade sua huma- ainda, extremamente eficientes, mas nesse ca-
nidade, geralmente tomando a reestruturação so, em prol de objetivos que não atendem às
da mobilidade urbana como estratégia para aspirações atuais e muito menos à totalidade
permitir a articulação e, consequentemente, a urbana. Vivemos um momento de inflexão no
revitalização de seus espaços públicos. Cabe urbanismo mundial, principalmente no Brasil,
salientar, ainda, outros fatores comuns a esses com suas problemáticas adicionais, demandan-
exemplos: a valorização da relação de vizi- do do planejamento de modelos menos estáti-
nhança e comunidade, a ênfase à gestão terri- cos, menos influenciados por ideários predeter-
torial participativa, através de assembleias e de minados, mais abertos para aceitar e assimilar
debates públicos e a criação de algum tipo de questões mais fluidas, próprias de uma socie-
agência independente de planejamento urbano dade altamente diversificada e cambiante. O
e de projetos, com equipes multidisciplinares “neourbanismo” de Ascher, priorizando a com-
que articularam os trabalhos em conjunto às pacidade urbana, é um caminho que necessita
comunidades e aos governos locais. mais experiências para confirmar sua validade.
Quando centramos atenção na situação O “novo urbanismo”, preconizado por Gehl, é
brasileira, fica evidente que seu processo de ur- uma alternativa que propõe cidades mais hu-
banização resiste a abordagens generalizantes manas, povoadas por espaços para pessoas e
e simplificadoras. Entretanto, é possível afirmar aprendizagens. Essas propostas não foram aqui
que esteve marcado tanto por sua velocidade ressaltadas por definirem modelos de espaciali-
e intensidade, quanto pelas dificuldades em dades urbanas que se pretende meramente re-
controlá-lo mediante usuais instrumentos de plicar, mas por traduzirem princípios de ordem
planejamento urbano. O cenário atual inclui projetual capaz de resgatar o valor dos espaços
metrópoles dilatadas, com espacialidades des- públicos na vida urbana, abandonados e dete-
conectadas e descontextualizadas, que conso- riorados nas metrópoles brasileiras.
mem seus recursos naturais cada vez mais es- As promessas que justificaram a con-
cassos. A qualidade de vida urbana desvanece solidação do modelo industrial, racionalista e
diante das grandes distâncias a serem percorri- tecnológico de uma sociedade com mais tempo
das diariamente, do transporte de massa inefi- livre para lazer e recreação, para os encontros
ciente, que consome energia e tempo, e da de- e a convivência sociais e para o desfrute dos
manda por novas infraestruturas, que acrescen- espaços públicos urbanos se converteram em
ta problemáticas ambientais, entre tantas ou- uma falácia, e, na realidade, transformaram o
tras. Se ainda não sabemos ao certo como deve tempo dos cidadãos em tempo individualizado­

658 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

e de consumo, consolidando os shopping cen- dos espaços públicos a fim de fortalecer o pa-
ters como sua máxima expressão. Como conse- pel da cidade como fórum democrático e lócus
quência, nossas cidades apresentam expressiva de cidadania, ou seja, como uma “extensão da
carência quantitativa e qualitativa de espaços práxis urbana, da pólis (política), da civitas (ci-
públicos livres. Escasseiam os espaços de en- dadania) e da própria urbe (enquanto espaço
contro e convívio, agradáveis e acessíveis para social construído) a todo o espaço social e hu-
o conjunto da população, ratificando uma cul- mano” (Monte-Mór, 2006, p. 193).
tura que aprende desde cedo que os espaços Mesmo numa certa periferia do mundo
públicos são inseguros, degradados e que de- globalizado, podemos acreditar que muitos
vem ser evitados. Questiona-se, portanto, acer- urbanistas brasileiros tentam encontrar um ca-
ca das cidades que estamos criando, com am- minho para reestruturação e revitalização das
bientes hostis aos seus próprios habitantes, em nossas metrópoles e para lograrmos a constru-
especial aos idosos e crianças, tratados como ção de cidades mais humanas. Para tanto, par-
cidadãos de segunda categoria. timos do pressuposto de que o espaço público
Felizmente é possível notar que, com o livre e os espaços lúdicos são estruturantes
apoio de movimentos sociais, o espaço públi- para a revitalização urbana e que as crianças
co de algumas metrópoles vem passando por devem ser a escala primária de tal processo.
um momento de redescoberta e apropriação Pensar as infâncias, a educação e a construção
coletiva, vem sendo afirmado e ressignificado de espaços de convivência e de diálogo é o
como os potenciais lugares para uma mudan- principal caminho para cidades mais inclusivas,
ça cultural efetiva em prol do desenvolvimento educadoras e igualitárias.
de uma nova cidadania. A partir da análise dos Desse modo, apostamos em um planeja-
processos de transformação urbana vividos mento urbano mais humano, inclusivo, demo-
por Copenhague, Barcelona, Medellín e Curiti- crático e seguro, e que passa por: ser susten-
ba, pudemos comprovar a validade da hipóte- tável, integrando valores naturais e humanos;
se implícita nessa redescoberta e apropriação valorizar outras práticas sociais, outras culturas
coletiva. Essas experiências confirmaram a urbanas e a diversidade; priorizar o pedestre, o
eficácia de priorizar certos aspectos ineren- ciclista e os transportes coletivos sustentáveis;
tes ao planejamento urbano responsável por valorizar os espaços de permanência em detri-
intervenções com base em segurança (ruas e mento dos espaços de passagem; valorizar, re-
bairros multifuncionais, diversidade de usos, qualificar e criar novos espaços públicos livres,
desestimando a cultura do medo), sustentabi- recuperando espaços residuais e intersticiais;
lidade (compacidade, transporte coletivo sus- valorizar os aspectos ambientais, paisagísticos,
tentável), saúde (valorização da cultura ciclista históricos e culturais em cada espaço público;
e pedonal), e vivacidade (ambientes atrativos, incorporar a arte e o lúdico aos espaços urba-
agradáveis e acessíveis). nos, estimulando seu uso criativo; requalificar
Desse modo, apostamos em um planeja- e criar novos espaços lúdicos, para todas as
mento urbano mais humano, inclusivo, demo- crianças e suas famílias; articular os espaços
crático e seguro, objetivando a revitalização públicos com a cidade e em rede; fomentar a

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 659
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

apropriação dos espaços públicos, através dos espaço público por meio dos jogos e das brin-
processos de participação, criação, uso, identi- cadeiras, tanto na sua dimensão física quanto
ficação, cuidado e manutenção. Através da re- na simbólica, poderemos proporcionar, às in-
vitalização dos espaços públicos, fortalece-se fâncias e aos demais grupos etários, a possibi-
o papel da cidade como fórum democrático e lidade de interagir com o espaço, bem como a
lócus de cidadania. capacidade de realização da cidade que dese-
Em última análise, as metrópoles con- jamos construir: uma cidade de espaços edu-
temporâneas brasileiras revelam a necessidade cadores, com estética e dignidade para todos.
não somente de considerar a criança dentro Como planejadores urbanos, temos a oportu-
do planejamento urbano, mas também de re- nidade de projetar cenários, de (re)criar espa-
conhecer o potencial que os espaços lúdicos ços públicos como territórios lúdicos, enfim, de
têm de relação comunitária dentro do tecido assumir a utopia jamais como algo ilusório ou
urbano. A partir da cultura e da apropriação do impossível, mas sim como possibilidade real.

Marina Simone Dias


Universitat Politècnica de Catalunya, Escola Tècnica Superior d’Arquitectura de Barcelona. Barcelona,
Espanha.
marinasimonedias@yahoo.com.br

Milton Esteves Júnior


Universidade Federal do Espírito Santo, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo.
Vitória, ES/Brasil.
m.estevesg3@gmail.com

660 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

Notas
(1) Utilizamos o termo “metápoles” e “metapolitanos”, tal como Ascher (1998), para denominar
assentamentos urbanos em configurações expandidas, atomizadas, fragmentadas e
fragmentárias que ultrapassam e englobam as zonas metropolitanas stricto sensu.

(2) O conceito de “espaço público” admite inúmeras acepções. Assim mencionado, refere-se a uma
“categoria espacial” e a um enfoque epistemológico metacientífico. Quando referido como
“espaços públicos”, pressupõe contextualizações históricas e/ou físico-territoriais relativas a
distintas espacialidades, das quais derivam outras tantas conceituações como “espaços livres
públicos”, “espaços semipúblicos”, “espaços públicos, mas não civis”. Já o conceito de “espaço
livre” se refere aos espaços não construídos, desprovidos de edificações ou de coberturas.
Assim, o conceito associativo de “sistemas de espaços livres público” é mais amplo e engloba
espacialidades e instalações destinadas ao uso público, tais como ruas, largos, praças, parques,
passeios marítimos, quadras, etc. Dentre outros autores que abordam essas questões,
destacam-se: Hanna Arendt, Miranda Magnoli, Herman Hertzberger, Zygmunt Bauman, José
Guilherme Cantor Magnani, Richard Sennett.

(3) O modelo “fordista”, fundado por Henry Ford em 1903, baseava-se em linhas de produção que
atuavam em monobloco, em que, em uma ponta, entravam matérias-primas e, em outra, saíam
artigos prontos para o consumo. Esse modelo foi superado pelo “toyotismo”, baseado em
cadeias produtivas que operam de modo fragmentário em montadoras, distribuídas em diversas
localidades, selecionadas em função das melhores ofertas materiais, tecnológicas e econômicas,
recursos logísticos e de mobilidade e comunicação disponíveis.

(4) Não caberia aqui detalhar os conceitos como “países subdesenvolvidos ou periféricos”, que fazem
parte de regimes de representação regidos por juízos de valores estabelecidos por modelos
(tecnológicos, econômicos e sociais) discutíveis, que, via de regra, encerram preconceitos e,
portanto, estranhos ao ideário aqui defendido.

(5) No que se refere ao universo temático da topofilia, terrafilia e identidade territorial, destacam-se
os trabalhos desenvolvidos no Centro de Estudos do Território, Cultura e Desenvolvimento, por
autores como Zoran Roca, sistematizados e contextualizados na realidade brasileira em Moraes
(2012).

(6) A reconstrução de Amsterdã recebeu intervenções do arquiteto Aldo van Eyck, que trabalhou no
Departamento de Obras Públicas e projetou mais de oitocentos espaços infantis entre 1946-
1978, planejados para pequenas áreas residuais e pensados especificamente para cada terreno
e com mínimos elementos.

Referências
AITKEN, S. (2014). Do apagamento à revolução: o direito da criança à cidadania/direito à cidade.
Revista Educação e Sociedade. Campinas, v. 35, n. 128. pp. 629-982.

ALBERNAZ, P. (2007). “Reflexões sobre o espaço público atual”. In: LIMA, E. F. W. e MALEQUE, M. R.
(orgs.). Espaço e cidade – conceitos e leituras. Rio de Janeiro, 7Letras.

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 661
Marina Simone Dias, Milton Esteves Júnior

ASCHER, F. (1998). Metapolis: Acerca do futuro da cidade. Oeiras, Celta.

______ (2010). Os novos princípios do urbanismo. São Paulo, Romano Guerra.

AUGÉ, M. (1994). Não-lugares: introdução a uma antropologia da supermodernidade. São Paulo,


Papirus.

BAUMAN, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro, Zahar.

BOHIGAS, O. (1985). Reconstrucción de Barcelona. Barcelona, Mopu Arquitectura.

BORJA, J. e CASTELLS, M. (1998). Local y global: la gestión de las ciudades en la era de la información.
Madrid, Taurus.

BORJA, J. e MUXÍ, Z. (2003). El espacio público, ciudad y ciudadanía. Barcelona, Electa.

BRANDÃO, C. A. L. (org.). (2006). As cidades da cidade. Belo Horizonte, Editora UFMG.

CASTAÑO CÁRDENAS, N. (2015). El papel del arte en el proceso de transformación y configuración del
paisaje de los barrios informales de Medellín. Dissertação de mestrado. La Plata, Universidad
Nacional de La Plata.

CASTELLS, M. (2009). A questão urbana. Rio de Janeiro, Paz e Terra.

CERTEAU, M. de (2003). A invenção do cotidiano. Petrópolis, Vozes.

CHOAY, F. (2004). “El reino de lo urbano y la muerte de la ciudad”. In: MARTÍN RAMOS, A. (ed.). Lo
urbano en 20 autores contemporáneos. Barcelona, Edicions UPC.

DEBORTOLI, J. A. O.; MARTINS, M. F. A. e MARTINS, S. (org.). (2008). Infâncias na metrópole. Belo


Horizonte, Editora UFMG.

DIAS, M. S. e FERREIRA, B. R. (2015). Espaços públicos e infâncias urbanas: a construção de uma


cidadania contemporânea. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais–Anpur. Disponível
em: <http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/rbeur/article/view/5150>.
Acesso em: 17 dez 2015.

FORTUNA, C. (org.) (2001). Cidade, cultura e globalização. Oeiras, Celta Edições.

GARCIA, E. B. (1996). “Ação cultural, espaços lúdicos e brinquedos interativos”. In: MIRANDA, D. S.
(org.). O parque e a arquitetura: uma proposta lúdica. São Paulo, Papirus.

GEHL, J. e GEMZOE, L. (2002). Novos espaços urbanos. Barcelona, Gustavo Gili.

______ (2013). Cidades para pessoas. São Paulo, Perspectiva.

GUATTARI, F. (2006). As três ecologias. Campinas, Papirus.

HARVEY, D. (2004). Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural. São
Paulo, Loyola.

JACOBS, J. (2000). Morte e vida de grandes cidades. São Paulo, Martins Fontes.

LANSKY, S. (2012). Na cidade, com crianças. Uma etno-grafia especializada. Tese de doutorado. Belo
Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais.

LEFEBVRE, H. (2009). O direito à cidade. São Paulo, Centauro.

LIMA, M. S. (1989). A cidade e a criança. São Paulo, Nobel.

662 Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017
O espaço público e o lúdico como estratégias de planejamento urbano humano...

MONTANER, J. M. (1999). Barcelona 1979-2004: del desarrollo a la ciudad de calidad. Barcelona,


Ajuntament.

MONTE-MÓR, R. L. (2006). “A cidade e o urbano”. In: BRANDÃO, C. A. L. (org.). As cidades da cidade.


Belo Horizonte, Editora UFMG.

MORAES, J. R. (2012). A contribuição da topofilia e terrafilia na perspectiva de uma educação para


a cidadania. Dissertação de mestrado. Lisboa, Universidade Lusófona de Humanidades e
Tecnologias.

OLIVEIRA, C. (2004). O ambiente urbano e a formação da criança. São Paulo, Aleph.

ROGERS, R. e GUMUCHDJIAN, P. (2001). Cidades para um pequeno planeta. Barcelona, G. Gili.

SANTOS, M. (2006). A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo, Edusp.

SILVA, R. C. M. (org.). (2006). A cidade pelo avesso. Desafios do urbanismo contemporâneo. Rio de
Janeiro, Viana & Mosley.

SOBARZO, O. (2006). A produção do espaço público: da dominação à apropriação. Revista Geousp -


Espaço e Tempo. São Paulo, n. 19, pp. 93-111.

SOMEKH, N. (2010). “Apresentação”. In: ASCHER, F. Os novos princípios do urbanismo. São Paulo,
Romano Guerra.

TONUCCI, F. (2005). La città dei bambini. Un modo nuovo di pensare la città. Bari, Editori Laterza.

VILÀ, G. e GAVALDA, J. (2013). Efectos del urbanismo disperso y consecuencias para la sostenibilidad
social. Análisis de la Región Metropolitana de Barcelona. Cadernos Metrópole. São Paulo, v. 15,
n. 29, pp. 15-33.

THE GUARDIAN (2016a). Story of cities #13: Barcelona's unloved planner invents science of 'urbanisation'.
Disponível em: <http://www.theguardian.com/cities/2016/apr/01/story-cities-13-eixample-
barcelona-ildefons-cerda-planner-urbanisation>. Acesso em: 1º abr 2016

______ (2016b). Story of cities #36: how Copenhagen rejected 1960s modernist 'utopia'. Disponível
em: <http://www.theguardian.com/cities/2016/may/05/story-cities-copenhagen-denmark-
modernist-utopia>. Acesso em: 5 maio 2016.

______ (2016c). Story of cities #37: how radical ideas turned Curitiba into Brazil's 'green capital'.
Disponível em: http://www.theguardian.com/cities/2016/may/06/story-of-cities-37-mayor-
jaime-lerner-curitiba-brazil-green-capital-global-icon>. Acesso em: 5 maio 2016.

______ (2016d). Story of cities #42: Medellín escapes grip of drug lord to embrace radical urbanism.
Disponível em: <http://www.theguardian.com/cities/2016/may/13/story-cities-pablo-escobar-
inclusive-urbanism-medellin-colombia>. Acesso em: 13 maio 2016.

Texto recebido em 2/maio/2016


Texto aprovado em 29/jun/2016

Cad. Metrop., São Paulo, v. 19, n. 39, pp. 635-663, maio/ago 2017 663

Você também pode gostar