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Londrina
2004
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Londrina
2004
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COMISSÃO EXAMINADORA
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Londrina
2004
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Agradecimentos:
À família Matos, a minha tia Geni e aos meus avós Alice e Antônio.
Ao Prof. Dr. André Tsutomo Otta, Prof. Dr. Klemensas Rimgaudas Juraitis,
Profa. Dra. Santosh Shelly Sharma.
Professores e técnicos que colaboraram com o desenvolvimento dos trabalhos.
A minha orientadora Profa. Dra. Irinéa de Lourdes Batista.
Prof. Dr. Marcelo C. Tosin e Francisco Granziera Jr. depto de Engenharia Elétrica da UEL.
Prof. Dr. Jacobus W. Swarts, Prof. Dr. Ioshiaki Doi, Prof. Dr. V. Baranauskas,
Prof. Dr. Roberto Panepucci da UNICAMP.
Ao CAPES que viabilizou com a bolsa PET minha graduação, e as pessoas que
coordenaram e colaboraram com os trabalhos do grupo PET: Prof. Dr. Mario Goto, Profa.
Dra. Hiromi Iwamoto, Prof. Dr. Antonio Edison Gonçalves, Prof. Dr. Carlos Eduardo Laburú,
Prof Dr. Valdir A. Navarro, Prof Dr. Ivan Frederico Lupiano Dias.
Aos coordenadores do curso de especialização, pelo apoio material com cotas de cópias
das apostilas do curso elaborado na implementação da proposta deste trabalho.
6
A. M. de Rezende
K. MARX
GODOI, Ronaldo Rodrigues. Tópicos avançados de Ciência e Tecnologia aplicados ao
Ensino Médio: Física dos componentes dos computadores atuais e tendências
futuras. 2004. Monografia (Especialização Lato Sensu em Ensino de Física para o Novo
Ensino Médio) – Universidade Estadual de Londrina.
RESUMO
ABSTRACT
This work studies the Science Teaching and it tries to be come contemporary the High
School contents. We approached electronic technology, studying semiconductor physics as
a way to understand transistor functioning (due to importance that this device had on the
revolution of production means). We advanced approaching the problem of quantum gate
througth examples of devices that are in development phase and explaining advantageous
points of quantum logic, as cryptography application by the example of big numbers
factoring. We tried to defend the use of advanced Science and Technology on Secundary
Education as a way to carrying out the role of education in terms of individual preparation to
live with current world, motivating the students with contemporary subject and approach.
Over there devices functioning we appoached the manufacture process.
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.2.1 – (a) Simbolo de um transistor TEC, de canal n. (b) Forma geométrica dos
transistores TEC. (CCS, 2004).......................................................................................30
Figura 3.3.1 – Ilustração da formação de bandas através da superposição de estados
quânticos em uma rede cristalina (Christman, 1988, 19 p.)...........................................32
Figura 3.3.2 – (a) Bandas de Semicondutor; (b) Bandas de Isolante e (c) Bandas de
Condutor. (Halliday, 1993, 229-230 p.)..........................................................................33
Figura 3.4.1 – (a) Silício não dopado. (b) Silício dopado com Fósforo, tipo n pois um elétron
não participa da ligação covalente do material, contribuindo assim para condução. (c)
Silício dopado com Bóro, tipo p, pois falta um elétron ao Boro criando uma lacuna que
tem carga positiva e o tipo de condução no material é devido as lacunas. (Halliday,
1993, 235 p.)...................................................................................................................34
Figura 3.5.1 – (a) Símbolo Elétrico de diodo e (b) características geométricas de um diodo,
ou junção p-n. (CCS, 2004)............................................................................................35
Figura 3.5.2 – (a) Junção p-n em polarização direta. Representação simbólica do circuito e
das correntes existentes. (b) Junção p-n em polarização inversa e correntes exitentes.
(Halliday, 1993, 239 p.)...................................................................................................35
Figura 3.5.3 – (a) Tensão sem o diodo. (b) Circuito de tensão alternada. (c) Tensão com o
diodo. (Halliday, 1993, 239 p.)........................................................................................36
Figura 3.5.4 – (a) Transistor MOSFET com tensão negativa aplicada na porta – formação
de canal, com passagem de corrente. (b) Transistor MOSFET sem tensão aplicada a
porta – canal não formado, sem passagem de corrente................................................37
Figura 3.6.1 – (a) Primeiro transistor bipolar. (b) Primeiro circuito integrado desenvolvido
por J. Kilby em 1958. (c) Primeiro circuito integrado de tecnologia planar fabricado na
Fairchild. (Swart, 1999, 3-4 p.).......................................................................................38
Figura 3.6.2 – (a) Dimensões mínimas empregadas nas estruturas em CI’s. (b) Dimensões
empregadas nas estruturas dos Circuitos Integrados, do processador 286 ao Pentiun
II. (c) Evolução do número de dispositivos por CI. Note que os três gráficos estão em
escala logarítmica. (Swart, 1999, 8-10 p.)......................................................................40
11
Figura 3.6.3 – Ilustração de mapas desenhados com detalhes de todas as ruas e rios em
diversas fases tecnológicas. (Swart, 1999, 11 p.)..........................................................41
Figura 4.1.1 – Cristal de NaCl. (Christman, 1988, 56 p.)......................................................44
Figura 4.1.2 – (a) Identificação dos vetores e ângulos. (b) Redes de Bravais. (Christman,
1988, 29 p.).....................................................................................................................45
Figura 4.1.3 - Defeitos pontuais: A vacância, B átomo intersticial, C impureza e D impureza
intersticial. (Christman, 1988, 58 p.)...............................................................................47
Figura 4.1.4 – Defeitos (a) lineares, (b) planares e (c) volumétricos. (Swart, 1999,
Christman 1988, 197p.)..................................................................................................47
Figura 4.3.1 - Lâmina de semicondutor tipo p com orientação {111}...................................49
Figura 4.3.2 - Etapas na obtenção de lâminas, ou substratos, empregadas na
microeletrônica e na obtenção do circuito integrado......................................................50
Figura 4.3.3 - Reator de purificação do quartizito para silício de grau metalúrgico.
(Baranauskas, 1990, 1.3 p.)...........................................................................................51
Figura 4.3.3 – Sistema de purificação do silício de grau metalúrgico para silício de grau
eletrônico de pureza. (Baranauskas, 1990, 1.4 p.)........................................................51
Figura 4.3.4 - Obtenção de silício policristalino, de grau eletrônico de pureza, no reator
CVD. (Baranauskas, 1990, 1.5 p.)..................................................................................52
Figura 4.3.5 - (a) Quatro momentos do método CZ: (1)descida da semente; (2) encontro, na
descida, da semente com a superfície do silício derretido; (3) início da subida; (4)
término do processo de crescimento. (b) detalhes do equipamento de crescimento CZ.
(Baranauskas, 1990, 1.8 e 1.9 p.)..................................................................................53
Figura 4.3.6 – (a) Equipamento de crescimento FZ. (b) Detalhe da semente e da espira.
(Baranauskas, 1990, 1.10 e 1.11 p.)..............................................................................54
Figura 4.3.7 – (a) Desbaste e (b) serragem. (SWART, 1999, 232 p.)...................................55
Figura 4.3.8 – (a) Arredondamento das bordas da lâmina de silício. (b) polimento final da
superfície do substrato (lâmina). (SWART, 1999, 232 e 233 p.)...................................55
Figura 4.4.1 – Esquema de uma evaporadora (Morimoto, 1999, 2 p.).................................56
Figura 4.4.2 – Esquema de deposição por sputering. (Morimoto, 1999, 3 p.)......................57
Figura 4.4.3 – Taxa de deposição como função do inverso da temperatura. (Morimoto,
1999, 5 p.).......................................................................................................................59
12
Figura 4.4.4 – Diagrama dos tipos de reatores CVD. (Morimoto, 1999, 6 p.).......................60
Figura 4.4.5 – Reatores: (a) APCVD de processamento contínuo do tipo injetor de gás; (b)
APCVD de processamento contínuo do tipo pleno. (Morimoto, 1999, 6 p.)..................60
Figura 4.4.6 – Reatores LPCVD de parede quente (a) e fria (b). (Morimoto, 1999, 7 p.).....60
Figura 5.2.1 – Lâmina ou substrato tipo n limpo e isento de óxido e de impurezas. (CCS,
2004)...............................................................................................................................64
Figura 5.3.1 – Lâmina de silício oxidada. (CCS, 2004).........................................................65
Figura 5.4.1 – Lâmina de silício oxidada e coberta com o fotoresiste. (CCS, 2004)............67
Figura 5.4.2 – (a) Estufa onde o resiste sofre cura. (b) Fotoalinhadora. (CCS, 2004).........67
Figura 5.4.3 – Alinhamento da lâmina com a máscara e exposição a radiação UV. (CCS,
2004)...............................................................................................................................68
Figura 5.4.4 – Lâmina coberta com resiste revelado. (CCS, 2004)......................................68
Figura 5.5.1 – Regiões sem resiste devem ter o óxido removido. (CCS, 2004)...................69
Figura 5.5.2 – Lâmina livre de óxido nas costas e com aberturas na frente. (CCS, 2004).. 70
Figura 5.5.3 – Lâmina sem o resiste protetor. (CCS, 2004)..................................................70
Figura 5.6.1 – Diagrama esquemático genérico de um implantador iônico. (Baranauskas,
1990, 4.2 p.)....................................................................................................................72
Figura 5.6.3 – Implantação de íons: (a) Bóro na face e (b) Fósforo nas costas. (CCS, 2004).
........................................................................................................................................73
Figura 5.7.1 – Lâmina recozida e oxidada após implantação de íons. (CCS, 2004)............74
Figura 5.8.1 – (a) Cruzes de alinhamento, (b) verniers xy....................................................75
Figura 5.8.2 – Resultado da segunda corrosão. (CCS, 2004)..............................................75
Figura 5.9.1 – Resultado da oxidação de porta. (CCS, 2004)..............................................76
Figura 5.9.2 – Resultado da corrosão do óxido de fonte e dreno. (CCS, 2004)...................76
Figura 5.10.1 – (a) Esquema da evaporadora. (b) Foto da evaporadora utilizada. (CCS,
2004)...............................................................................................................................77
Figura 5.10.2 – Camada de alumínio depositada na face da lâmina. (CCS, 2004)..............77
Figura 5.10.3 – Circuito definido com separação dos contatos: fonte, dreno e porta. (CCS,
2004)...............................................................................................................................78
Figura 5.10.4 – Fotografia de um transistor de canal p, fabricado através das etapas
descritas. (CCS, 2004)...................................................................................................78
13
Figura 6.2.1 – Representação dos operadores lógicos: NOT, AND e OR; com suas
entradas e saídas. (Occidental Schools, 1982, 15 p.)....................................................81
Figura 6.3.1 – Circuitos lógicos NOT e AND.........................................................................82
Figura 6.3.2 – Circuito lógico OR...........................................................................................83
Figura 6.3.3 – Símbolo do transistor IRF9540 e imagem do dispositivo apontando qual
terminal é fonte (S), dreno (D) e porta (G). (Fairchild, 2002, 1 p.).................................84
Figura 6.3.4 – Figura do protoboard com o circuito NOT montado nele...............................85
Figura 6.3.5 – Montagem do circuito OR em um protoboard................................................86
Figura 6.3.6 – Montagem ampliada do circuito AND em protoboard....................................86
Figura 7.1 – Proposta de dispositivo quântico de funcionamento baseado em acoplamento
forte de par elétron-lacuna de cobre. (Wallraff, 2004, 163 p.).......................................91
Figura 7.2 – Circuito referente ao dispositivo da figura 7.1. (Wallraff, 2004, 164 p.)............91
Figura 7.3 – Proposta de Kane para dispositivo quântico de funcionamento baseado no
spin nuclear de dois átomos de Fósforo em substrato de silício. (Divincenzo, 1998, 113
p.)....................................................................................................................................92
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Sumário
ABSTRACT 8
LISTA DE FIGURAS 9
1 - INTRODUÇÃO 15
2 CONSIDERAÇÕES DIDÁTICAS 20
5 FABRICAÇÃO 62
7 COMPUTAÇÃO QUÂNTICA 87
8 CONCLUSÃO 94
REFERÊNCIAS 95
BIBLIOGRAFIA 98
16
1 - INTRODUÇÃO
2 CONSIDERAÇÕES DIDÁTICAS
indivíduos, e abre os horizontes destes indivíduos para profissões que eles normalmente
não teriam pensado exercer. Objetivá-se mostrar que a Física, a Matemática, a Química, as
Engenharias são carreiras que estão ao alcance destes indivíduos, pois são pessoas como
estes que exercem e estarão exercendo profissões dentro dessas áreas.
A proposta para educação na forma da Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96) e nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) tem como orientadoras as quatro premissas
apontadas pela United Nation Educational, Scientific and Cultural (UNESCO): aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a viver e aprender a ser (Brasil, 2002, 27 p.).
“Aprender a conhecer” (Brasil, 2002, 29 p.) remete a experiência educacional a
transformação do indivíduo pela sua capacitação para identificar e fazer uso dos meios de
compreensão da complexidade do mundo. Aprender a conhecer o universo da
manipulação da informação por meios automatizados (informática) pela compreensão física
dos princípios de funcionamento dos equipamentos (computadores) e de novas propostas
de dispositivos físicos é tema atual e concorda com os princípios desenvolvidos no PCN,
uma vez que, familiarizar o educando com a importância da Física na compreensão e,
principalmente, no desenvolvimento dessas ferramentas de produção é facilitar o caminho
de aprender a conhecer, dentro de uma perspectiva científica e tecnológica, social e
econômica – relacionada com o mundo da informação. O que acontece quando
começamos a fazer comparações entre a complexidade de seres vivos e a complexidade
dos computadores? Um cromossomo tem cerca de 10 7 moléculas (Hawking, 2001, p. 155-
171) de adenina, guanina, citosina e timina; cada par de moléculas pode ser encarado
como um bit – os chips de computadores tem cerca de 10 8 componentes. A consideração
destas grandezas da um parâmetro de comparação entre sistemas biológicos e sistemas
artificiais – uma enorme quantidade de considerações precisa ser feita para que nossa
comparação seja válida, mas de fato podemos representar completamente um organismo
vivo com uma quantidade de informação comparável a que podemos representar os
sistemas artificiais.
“Aprender a fazer” (Brasil, 2002, 29 p.) é dar recurso ao indivíduo para se tornar
produtivo, realizar coisas, e assim modificar sua situação social, econômica, cultural e
política. Aprender a conhecer leva a aprender a fazer dentro do mundo da ciência e da
tecnologia. É o que acontece, dentro da área de conhecimento que estamos abordando,
23
quando apresentamos o que é o computador por dentro, mostrando que toda lógica é
desenvolvida com um sistema de chaveamento bastante rudimentar, a princípio, e que vai
crescendo em complexidade com o número de dispositivos.
“Aprender a viver” (Brasil, 2002, 29 p.) com a situação presente: um mundo em que o
trabalho humano é cada vez menos necessário, devido a crescente capacidade das
máquinas em realizar tarefas cada vez mais complexas e portanto crescimento econômico
não significa geração de empregos. Aprender a viver num mundo onde máquinas desafiam
a condição humana de superioridade, e é preciso estar pronto para as novas questões, até
existenciais, que se apresentam.
“Aprender a ser” (Brasil, 2002, 30 p.) e aprender a viver estão ligados e compreender
a própria existência sendo crítico o bastante para desenvolver pensamentos e julgamentos
de valor buscando se tornar a pessoa que se deseja ser é uma das nossas perspectivas
quando a consciência da realidade científica e tecnológica é alcançada – com relação ao
conteúdo deste trabalho.
A organização do ensino médio em três áreas: Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias; Ciências Humanas e suas Tecnologias; e Ciências da Natureza, Matemática e
suas Tecnologias; tem como base a descompartimentalização de conhecimentos que
compartilham objetos de estudo, criando condições para o desenvolvimento da
interdisciplinaridade (entre disciplinas e entre áreas).
A aprendizagem de concepções científicas atualizadas do mundo
físico e natural e o desenvolvimento de estratégias de trabalho centradas
na solução de problemas é finalidade da área (Ciências da Natureza,
Matemática e suas Tecnologias), de forma a aproximar o educanto do
trabalho de investigação científica e tecnológica, como atividades
institucionalizadas de produção de conhecimento, bens e serviços (Brasil,
1999, p.33).
Como está dito acima e em concordância com o presente trabalho, ainda temos que:
Com esta compreensão, o aprendizado deve contribuir não só para o
conhecimento técnico, mas também para uma cultura mais ampla,
desenvolvendo meios para interpretação de fatores naturais, a
compreensão de procedimentos e equipamentos do cotidiano social e
profissional, assim como para a articulação de uma visão do mundo natural
e social. Deve se propiciar a construção de compreensão dinâmica da
nossa vivência material, de convívio harmônico com o mundo da
informação, de entendimento histórico da vida social e produtiva, de
percepção evolutiva da vida, do planeta e do cosmos, enfim, um
24
Luccas (2004, 126-127 p.) coloca que uma abordagem histórica e filosófica pode
aproximar o leitor do saber sábio. Por meio do conhecimento tanto da estrutura, da origem
e do desenvolvimento deste saber, quanto das articulações estabelecidas por ele no
decorrer da história. Essa questão da aproximação do leitor do saber sábio é um dos
pontos de proximidade entre o nosso trabalho e a posição, colocada acima, de Luccas,
entendendo que o saber sábio e o ambiente em que é produzido é o conhecimento
científico e tecnológico que queremos trabalhar (tópicos avançados de ciência e tecnologia)
no ensino médio.
O saber ensinado “encontra-se registrado no plano de aula do professor e trabalhado
em sala de aula com educandos. [...] Os elementos que constituem esse saber – professor,
aluno e saber – inter-relacionam-se num mesmo âmbito” (Luccas, 2004, p. 117-124). Os
processos que transformam o saber sábio em saber a ensinar e, este último em saber
ensinado, dentro de um conjunto de considerações pedagógicas estabelecidas dentro das
concepções de Chevallard, recebem os nomes de transposições didáticas (Luccas, 2004,
p. 117-124).
O conteúdo de trabalho em sala de aula, saber ensinado, sofre desgaste moral e
distanciamento da realidade científica (saber sábio). Este processo é combatido tanto pela
nova orientação dada pelo PCN como em Chevallard (2000, p.31).
A relevância do contexto proposto por Chevallard (transposição didática, saber sábio,
saber a ensinar, e saber ensinado) dentro do presente trabalho é percebida em dois
aspectos: (1) a identificação de que o conhecimento científico e tecnológico é produzido em
uma esfera – e que este tem uma distância técnica considerável do que se pode trabalhar
em sala de aula; (2) o conhecimento científico deve passar por um processo de adequação
pedagógica e social – sem perder sua qualidade (coerência com a ciência atual).
Chevallard (2000, p.31) afirma que para restabelecer a compatibilidade (ciência,
tecnologia, sociedade), uma vez que o saber sofre desgaste moral e científico, se torna
indispensável a instauração de uma corrente de saber proveniente do saber sábio
(universo da produção de conhecimento).
Definir saber sábio, saber a ensinar, saber ensinado e transposição didática, criando
um ambiente de relações compreensíveis no contexto deste trabalho, não significa
trabalhar preso a teoria de Chevallard, o que nos leva a utilizar tais termos, e parte dos
29
conceitos desenvolvidos por ele, é o fato que seu trabalho e esses termos se mostram
como um bom modelo para compreendermos o que estamos fazendo.
De qualquer forma o conhecimento (ciência ou tecnologia) após sua produção sofre
uma estruturação de maneira que possa ser revestido por uma forma lógica de
apresentação:
De acordo com Reinchenbach (1961), ocorre uma reconstrução
racional, que diferência o processo como o ser humano (cientista) produz
um determinado saber e como o cientista (ser humano) apresenta-o
formalmente a seus pares. Nessa discussão percebemos a existência de
dois momentos. Entre um e outro, há um processo de reelaboração
racional que elimina elementos emotivos e processuais, valorizando
elementos isentos de sentimentos e encadeados logicamente. Aqui de
certa forma há uma transposição – não didática – mas, diríamos, científica,
caracterizada por uma despersonalização e reformulação do saber. (apud
Pietrocola, 2001, p. 80)
(a) (b)
Figura 3.2.1 – (a) Simbolo de um transistor TEC, de canal n. (b) Forma geométrica dos transistores TEC.
(CCS, 2004).
Aqui dreno (drain), fonte (source) e porta (gate) são três contatos através dos quais se
obtém o funcionamento do dispositivo. Em um circuito integrado digital esses transistores
32
Quando se aproximam dois átomos, até o ponto de se ligarem como numa rede
cristalina, os estados quânticos de cada elétron do cristal se sobrepõem. Cada elétron
ocupa um estado quântico pois de acordo com o Princípio de Exclusão de Pauli: “dois
elétrons não podem ocupar o mesmo estado quântico”. O número de estados quânticos é
muito grande, da ordem do número de átomos na rede do cristal. Isto provoca uma alta
densidade de estados em determinadas regiões de energia, esta alta densidade de
estados em uma determinada região de energia é o que denominamos banda. Os elétrons
estão distribuídos em camadas, denominadas bandas, como a banda de valência e a
banda de condução. Observe a figura abaixo.
Entre as bandas existe um espaço livre de estados, ou seja, um salto de energia entre
uma banda e outra. Os materiais cristalinos são classificados em três tipos de acordo com
o tipo de bandas e o valor do salto de energia entre as bandas de condução e valência. Os
três tipos de sólidos de acordo com as características da estrutura de bandas são:
isolantes, semicondutores e condutores.
33
Figura 3.3.1 – Ilustração da formação de bandas através da superposição de estados quânticos em uma rede
cristalina (Christman, 1988, 19 p.).
Figura 3.3.2 – (a) Bandas de Semicondutor; (b) Bandas de Isolante e (c) Bandas de Condutor. (Halliday,
1993, 229-230 p.).
As tarjas cinza escuras representam níveis de energia (estados quânticos) que estão
ocupados e as tarjas cinza claro representam níveis de energia que estão vazios e podem
abrigar um elétron. Como podemos notar, no semicondutor a energia de gap (E g) é menor
que no isolante. No metal (condutor) a banda de condução encontra-se cheia pela metade.
Isto quer dizer que, no metal, os elétrons não precisam saltar para uma outra banda,
pulando uma região de energia que é proibida, para poderem conduzir. Esta diferença é o
que caracteriza um bom condutor (cobre), um semicondutor (silício) e um mal condutor
(diamante).
Object 10
(a) (b)
Figura 3.5.1 – (a) Símbolo Elétrico de diodo e (b) características geométricas de um diodo, ou junção p-n.
(CCS, 2004)
Mesmo quando a junção p-n não esta ligada a nenhuma bateria, forma-se
expontâneamente uma região carregada negativamente no semicondutor tipo p e uma
região carregada positivamente no semicondutor tipo n. Como pode ser observado na
figura abaixo. O nome desta região é zona de depleção. Ocorre que no semicondutor tipo
n, existem elétron que tem facilidade em mudar de banda e no semicondutor tipo p existem
lacunas sobrando. Conseqüentemente pode-se imaginar que isto provoque uma migração
dos elétrons do semicondutor tipo n para o semicondutor tipo p. A atração entre as cargas
de sinais diferentes faz com que em um determinado momento haja uma saturação e o
movimento de cargas cessa, se mantendo estável.
A primeira forma de se ligar a junção p-n a uma bateria é a polarização direta, onde o
terminal positivo da bateria se liga ao semicondutor tipo p e o terminal negativo se liga ao
semicondutor tipo n. Na polarização direta a zona de depleção se estreita, observe a figura
abaixo:
Object 16
(a) (b)
Figura 3.5.2 – (a) Junção p-n em polarização direta. Representação simbólica do circuito e das correntes
existentes. (b) Junção p-n em polarização inversa e correntes exitentes. (Halliday, 1993, 239 p.).
37
Figura 3.5.3 – (a) Tensão sem o diodo. (b) Circuito de tensão alternada. (c) Tensão com o diodo. (Halliday,
1993, 239 p.).
(a) (b)
Figura 3.5.4 – (a) Transistor MOSFET com tensão negativa aplicada na porta – formação de canal, com
passagem de corrente. (b) Transistor MOSFET sem tensão aplicada a porta – canal não formado, sem
passagem de corrente.
Caso a tensão na porta seja zero não há indução de canal e o circuito está aberto
como no dispositivo da figura 3.5.4 (b), acima.
O transistor também pode ser utilizado como amplificador de sinal e além dos
transistores de efeito de campo existem transistores com outros princípios de
funcionamento como os transistores bipolares.
Em 1947, na Bell Labs, é descoberto o efeito transistor por Bardeen e Brattain que é
explicado por seu chefe, William Schockley, em janeiro de 1948. O grupo ao qual
pertenciam estava tentando construir o transistor de efeito de campo que foi sugerido
teoricamente pela primeira vez por Lilienfiel em 1926 – ele queria modular a condutividade
39
de um semicondutor por meio de um campo elétrico e patenteou sua idéia, embora não
tenha tido sucesso na sua realização prática.
O prêmio Nobel de Física de 1956 é dado a Schokley, Brattain e Bardeen pela
invenção do transistor bipolar. A busca pelo transistor de efeito de campo continuou, sendo
que em 1952, I. Ross e G. Dacey demonstraram o primeiro JFET. Também em 1952 a Bell
Labs vende a licença para a tecnologia dos transistores. A Sony foi a primeira empresa a
fabricar um rádio totalmente transistorizado e a comercializá-lo, criando assim o mercado
de consumo para transistores.
O conceito de circuito integrado foi proposto em 1958 por J. Kilby, da Texas
Instruments, e a tecnologia planar nasce na Fairchild, em 1961. O termo planar se deve a
duas características: (1) os circuitos integrados utilizam somente uma das superfícies da
lâmina e (2) os antigos circuitos integrados tinham componentes de dimensões verticais
desprezíveis em relação as dimensões horizontais. Na tecnologia atual as dimensões
verticais e horizontais tem a mesma ordem de grandeza. Abaixo temos o primeiro
transistor, o primeiro circuito integrado e o primeiro circuito integrado de tecnologia planar.
Nestes 42 anos da tecnologia planar (1961-2003) ela passou por inúmeras evoluções e é
considerada a mais importante característica da microeletrônica.
(a) (b) (c)
Figura 3.6.1 – (a) Primeiro transistor bipolar. (b) Primeiro circuito integrado desenvolvido por J. Kilby em 1958.
(c) Primeiro circuito integrado de tecnologia planar fabricado na Fairchild. (Swart, 1999, 3-4 p.)
Em 1960 um grupo da Bell Labs, D. Kahng e M. Atalla, demonstraram o transistor de
efeito de campo (TEC), desenvolvido com tanto esforço. Era um transistor TECMOS, mas
apresentava baixa estabilidade o que fez com que mais dez anos se passassem antes de
40
seu uso comercial em larga escala. Atualmente mais de 85% do mercado semicondutor
corresponde a tecnologia C-MOS, na seção 3.1 abordaremos o significado desta sigla.
Há três gráficos, para os quais eu gostaria de chamar a atenção: (1) dimensões
mínimas empregadas nas estruturas em CI’s, (2) largura de linha dos CI’s dos
processadores 286 ao Pentium II e (3) evolução do número de dispositivos por CI.
(a)
10
Largura de linha em
1
micrometro
Industria
0,1 Desenvolvimento
ano
(b)
Industria
Pesquisa
1 286
386
486
Largura de Linha em
Pentium
Microm etros
0,1 Pentium II
0,01
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004
Ano
41
(c)
10
10
GSI
9
10
8
10
ULSI
com ponentes por pastilha
7
10
6
10
Núm ero de
VLSI
5
10
4
10
LSI
3
10
MSI
2
10
1
10
SSI
0
10
1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990
Ano
Figura 3.6.2 – (a) Dimensões mínimas empregadas nas estruturas em CI’s. (b) Dimensões empregadas nas
estruturas dos Circuitos Integrados, do processador 286 ao Pentiun II. (c) Evolução do número de dispositivos
por CI. Note que os três gráficos estão em escala logarítmica. (Swart, 1999, 8-10 p.).
Na figura 3.6.2(a) podemos notar uma redução significativa nas dimensões dos
dispositivos em desenvolvimento. Em 1965 a dimensão era de 12 m e em 1990 chega aos
0,3 m. Isto se deve aos avanços tecnológicos nos processos de fabricação, em particular
nos processos de fotolitográfia. O aumento da área, dos CIs, foi de 0,2 cm 2 em 1965 para 2
cm2 em 1990. A área dos CI’s – chips – está relacionada com a densidade de defeitos, com
a melhora na qualidade dos processos houve uma queda na densidade de defeitos e, do
ponto de vista da produção, se torna possível aumentar a área. A figura 3.6.2(c) mostra o
aumento no número de dispositivos por CI, dos 100 dispositivos em 1968 para os dez
milhões de dispositivos em 1990. Neste gráfico há menção das siglas que dão nome a
cada era correspondente dentro da eletrônica: SSI (Small Scale Integration), MSI (Medium
42
Scale Integration), LSI (Large Scale Integration), VLSI (Very Large Scale Integration), ULSI
(Ultra Large Scale Integration) e GSI (Giga Scale Integration). Atualmente estamos
entrando na era GSI.
Para ter algo com que comparar o nível de desenvolvimento na área de eletrônica,
observemos os mapas abaixo, com as possibilidades de redução. Em 1960 seria possível,
em uma pastilha de 1mm2, construir um mapa da UNICAMP com todas as ruas em escala.
Figura 3.6.3 – Ilustração de mapas desenhados com detalhes de todas as ruas e rios em diversas fases
tecnológicas. (Swart, 1999, 11 p.).
mapa da América do Sul com todos os rios e ruas em escala, poderia ser construída em
uma pastilha de 20 milímetros de lado.
A maior densidade de integração permite a redução do número de chips por
equipamento. Isto reduz drasticamente o consumo de energia, bem como os custos gerais
e de montagem. Eliminando grande parte das conexões entre os chips e aumentando a
confiabilidade dos sistemas. A tendência é que o projeto se resuma ao projeto do chip.
A SIA (Semiconductor Industry Association) dos EUA elaborou um relatório (The
National Technology Roadmap for Semiconductors) que é um mapa da estrada para o
futuro no desenvolvimento das tecnologias de semicondutores. Neste mapa ela estabelece
para o ano de 2012 a implantação de tecnologia de dimensões mínimas de 50nm
(50x10-9m). A partir deste ponto limitações, físicas e tecnológicas, impedem a fabricação de
transistores com comprimento de canal menor. De acordo com o trabalho “Evolução de
Microeletrônica a Micro-Sistemas”, do professor Jacobus W. Swart, novos conceitos físicos
devem ser propostos em substituição aos dispositivos TECMOS e bipolares. Entre as
propostas existentes estão os dispositivos de bloqueio Coulombiano e dispositivos
quânticos onde se controla o estado do elétron de um átomo.
44
Átomos em um sólido não estão imóveis, cada átomo vibra com pequena amplitude
sobre uma posição fixa de equilíbrio. Esta posição fixa dá aos sólidos uma estrutura que os
distingue dos líquidos e dos gases. Líquidos e gases tem moléculas livres que se
movimentam sobre distâncias grandes e sua estrutura não é fixa, tanto que não possuem
forma definida, assumindo a forma dos recipientes que os contém. No caso dos gases a
liberdade é ainda maior, além da forma, seu volume pode variar muito; o que não ocorre
com os sólidos.
De acordo com a configuração das posições de equilíbrio dos átomos, existem três
classes maiores de sólidos: cristalinos, amorfos e policristalinos. Cristais são sólidos onde
as posições dos átomos formam um modelo geométrico que é repetido exatamente igual
através do sólido, sem mudar a composição, dimensão ou orientação do arranjo atômico. A
estrutura geométrica, que repetida forma o cristal, é denominada célula unitária. Nos
sólidos amorfos não há estruturas geométricas que se repetem regularmente e nos sólidos
policristalinos há um grande número de pequenos cristais. Os pequenos cristais
apresentam estrutura cristalina com repetições de modelos geométricos. A menor estrutura
geométrica, que se repetida, forma o cristal recebe o nome de célula unitária. Quando os
sólidos são objeto de estudo ou cálculos, a estrutura cristalina (repetições de uma estrutura
semelhante) reduz enormemente o trabalho envolvido em muitos cálculos.
Na tabela periódica os elementos químicos são colocados da esquerda para direita
em ordem crescente de número átomico. Elementos da mesma coluna tem propriedades
químicas similares e os sólidos formados por eles tem propriedades físicas similares.
As substâncias cristalinas são essencialmente todos os metais, parte relevante das
cerâmicas e certos polímeros, que cristalizam-se quando solidificam. O cristal é descrito
por uma rede geométrica espacial definida por três vetores a, b e c e superposto a ela uma
base com os átomos constituintes desta rede. Como mostra a figura abaixo, para o cristal
de NaCl (sal de cozinha).
45
(a)
(b)
Figura 4.1.2 – (a) Identificação dos vetores e ângulos. (b) Redes de Bravais. (Christman, 1988, 29 p.).
47
Uma rede tridimensional do tipo hexagonal pode ser formada por rede hexagonais
bidimensionais planas, de modo que os pontos estão diretamente um sobre o outro, em
que a=bc e ==90º e =60º. No sistema trigonal os ângulos são diferentes de 90º, ou
seja, ==90º e a=b=c. A rede triclínica possui abc e 90º.
Os seguintes elementos apresentam rede cúbica de corpo centrado: Cr, Li, Ba, Nb,
Cs, W. Rede cúbica de face centrada apresentam os seguintes: Al, Cu, Au, Pb, Ni, Ag. E
cúbica simples o cristal CsCl. Rede tipo diamante é uma rede cúbica de face centrada e
base de dois átomos, que também pode ser vista como duas redes cúbicas de face
centrada entrelaçadas. Os semicondutores silício e germânio apresentam a mesma
estrutura cristalográfica do diamante. O GaAs também apresenta a mesma estrutura que o
diamante, porém a base é constituida por um átomo de Ga e outro de As. Quando esta
estrutura é composta por mais de um átomo diferente seu nome é ZincBlende, como é o
caso dos seguintes semicondutores: CdS, InAs, InSb, AlP, além do já comentado GaAs.
A estrutura cristalina tem forte influência sobre as propriedades dos materiais. A
estrutura do carbono por exemplo, na forma de diamante é dura e isolante, na forma de
grafite é mole e condutora.
Os metais nobres apresentam estrutura cúbica de face centrada, enquanto os metais
das colunas IIA e IIB da tabela periódica apresentam estrutura hexagonal (HCP –
Hexagonal Close-Packed). Os gases inertes solidificam a baixas temperaturas para formas
estruturas cúbicas de face centrada. Todos os metais alcalinos tem estrutura cúbica de
corpo centrado (BCC – Body Centered Cubic). O galium e o índio são tetragonais; Iodo,
oxigênio e enxofre são ortorrômbicos; e arsênio, antimônio, bismuto e mercúrio são
trigonais. Para muitos sólidos a base é grande e a estrutura é bastante complexa.
Desvios de uma estrutura ideal podem ser de quatro tipos: pontuais, lineares,
planares e volumétricos. Os defeitos pontuais podem ser de três tipos: (1) vacâncias, que
são espaços vazios na rede que deveriam ser ocupados por átomos; (2) átomos
intersticiais, que são átomos que ocupam posições entre pontos da rede (átomo fora de
lugar); e (3) impurezas que são átomos de tipo diferente dos átomos do cristal – as
impurezas podem ocupar lugares substitucionais na rede ou intersticiais. Na figura abaixo
podemos ver os principais defeitos pontuais.
48
Object 30
Figura 4.1.3 - Defeitos pontuais: A vacância, B átomo intersticial, C impureza e D impureza intersticial.
(Christman, 1988, 58 p.).
Os defeitos lineares podem ser: (1) deslocações de borda ou cunha, (2) deslocações
tipo parafuso, e (3) discordância de borda/parafuso. Os defeitos planares podem ser: (1)
falhas de empilhamento (stacking faults), (2) cristais gêmeos e (3) contorno de grão. Os
defeitos volumétricos podem ser precipitados de: (1) vacâncias, (2) impurezas. Estes
defeitos podem ser vistos na figura abaixo.
Object 34 Object 36
Figura 4.1.4 – Defeitos (a) lineares, (b) planares e (c) volumétricos. (Swart, 1999, Christman 1988, 197p.).
49
que pode ter diâmetro de 100 mm, por exemplo, o corte indica a orientação do cristal
e o tipo de material semicondutor da lâmina (tipo n e tipo p); é produzido um tarugo (objeto
de forma cilíndrica), crescido a partir de uma semente cristalina que é mergulhada em
silício derretido e retirada por processo de puchamento vertical.
Esse tarugo passa por um processo de desbaste e é serrado em finas lâminas que
passam por processos mecânicos e químicos de polimento para que o substrato (wafer ou
lâmina) apresente uma superfície mais lisa o possível. São necessárias varias etapas no
processo de preparação do substrato até obter-se um dispositivo eletrônico. Tais processos
podem ser acompanhados pela figura 4.3.2 abaixo.
O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de quartzo e quartzito de alta
qualidade. Como mencionado no capitulo 1, a obtenção de uma lâmina de silício começa
com a mineração do quartizito. Depois da mineração vem o processo de purificação na
obtenção de silício policristalino de grau eletrônico de pureza; a obtenção dos tarugos de
silício monocristalino e por fim a serragem e polimento das lâminas. Conforme esquema
abaixo.
A purificação até o grau metalurgico de pureza, 98%, é obtida através da
transformação química regida pela equação abaixo:
SiO2 + 2 C Si + 2 CO
51
Esse material, silício de grau metalúrgico de pureza (98%), é mais usado em ligas
metálicas e na produção de polímero do tipo do silicone. Na equação química acima o
quartizito é o SiO2 e a origem do carbono, que permite a liberação do silício, é o coque ou
carvão mineral misturado ao quartzito no forno de arco elétrico, que pode ser visualizado
na figura 4.3.3.
Mineração
Oxidação Foto-
Purificação até E Limpeza
gravação
o Grau
eletrônico
Metali-zação
Corrosão
Crescimento de
Monocristal de Silício e
Serragem para
Circuito
obtenção das Lâminas
Integrado
Fabricação do
Circ. Integrado
Object 40
Figura 4.3.3 - Reator de purificação do quartizito para silício de grau metalúrgico. (Baranauskas, 1990, 1.3 p.).
Si + 3 HCl SiHCl3 + H2
O gás SiHCl3 sofre destilação fracionada, para obter-se silício de grau eletrônico, sigla
GE, de pureza. O esquema do equipamento pode ser visto na figura abaixo:
Object 42
Figura 4.3.3 – Sistema de purificação do silício de grau metalúrgico para silício de grau eletrônico de pureza.
(Baranauskas, 1990, 1.4 p.).
53
Figura 4.3.4 - Obtenção de silício policristalino, de grau eletrônico de pureza, no reator CVD. (Baranauskas,
1990, 1.5 p.).
Uma vez obtido o silício policristalino, de grau eletrônico, este é colocado no
equipamento que fará o crescimento do tarugo de silício monocristalino. O método usado
pode ser o Czochralski (CZ), já mencionado anteriormente, ou o método de Fusão Zonal
(FZ). Existem várias diferenças nas características finais do silício crescido por cada um
dos métodos. O processo CZ é capaz de produzir lâminas de diâmetros maiores. Neste
método há contaminação do silício por carbono do grafite dos aquecedores e por oxigênio
das paredes de quartzo do cadinho onde é crescido o silício monocristalino. Observe a
figura 4.3.5(a) da semente sendo mergulhada no cadinho com o silício derretido em quatro
momentos diferentes e a figura 4.3.5(b) que mostra um desenho mais detalhado do
equipamento de crescimento CZ. Note que ao final do crescimento de um tarugo não deve
sobrar silício pois este pode solidificar e partir o cadinho.
(1) (2) (3) (4)
Object 48
(a)
54
Object 50
(b)
Figura 4.3.5 - (a) Quatro momentos do método CZ: (1)descida da semente; (2) encontro, na descida, da
semente com a superfície do silício derretido; (3) início da subida; (4) término do processo de crescimento. (b)
detalhes do equipamento de crescimento CZ. (Baranauskas, 1990, 1.8 e 1.9 p.).
No crescimento cristalino pelo processo de fusão zonal (FZ) – do inglês Floating Zone
– parte-se de um tarugo de silício policristalino de dimensões próximas ao tarugo
monocristalino desejado. No processo FZ existe uma espira aquecedora que força um
estrangulamento do tarugo policristalino, através do derretimento. Quando o silício
derretido solidifica-se, em contato com a semente monocristalina, cresce como um cristal
monocristalino. Observe a figura 4.3.6(a), onde vemos o equipamento FZ e 4.3.6(b) onde
temos o detalhe dos tarugos. Note que o processo de crescimento pode ser feito de cima
para baixo ou vice-versa.
55
(a) (b)
Object 54
Figura 4.3.6 – (a) Equipamento de crescimento FZ. (b) Detalhe da semente e da espira. (Baranauskas, 1990,
1.10 e 1.11 p.).
Object 56
(a) (b)
Figura 4.3.7 – (a) Desbaste e (b) serragem. (SWART, 1999, 232 p.).
Depois de passar por um polimento com Al 2O3 e glicerina a lâmina tem suas bordas
arredondadas como ilustra a figura abaixo.
(a) (b)
Figura 4.3.8 – (a) Arredondamento das bordas da lâmina de silício. (b) polimento final da superfície do
substrato (lâmina). (SWART, 1999, 232 e 233 p.).
Dispositivos VLSI empregam uma grande variedade de filmes finos. Esses filmes
podem ser isolantes, metálicos ou semicondutores e podem ser obtidos por crescimento
térmico, deposição física ou química. Nestes filmes características como alta adesão, baixo
estresse e boa cobertura de degrau são alguns dos principais requisitos. Cada ano essas
características vêm evoluindo com a melhoria nas técnicas e introdução de novos materiais
(Morimoto, 1999).
Na deposição física duas tecnologias são empregadas: a evaporação térmica que
ainda é utilizada em laboratórios de pesquisa; e o “sputering” que possui características
superiores. Ao aquecermos continuamente um determinado material que esteja no estado
sólido, este passa para o estado líquido (fusão) e posteriormente para o estado gasoso
(evaporação). A sublimação é o processo onde o material passa diretamente do estado
sólido para o estado gasoso. Na deposição por evaporação térmica tanto a evaporação
como a sublimação são empregadas. Observe a figura de uma evaporadora, abaixo:
características deste processo: (1) baixa cobertura de degrau e (2) extrema dificuldade em
depositar ligas e compostos metálicos.
A outra técnica de deposição física, o sputering, ou deposição anódica, é hoje o
principal método de deposição de filmes metálicos em processos de microeletrônica. Nesta
técnica há formação de um plasma entre dois eletrodos, os íons formados bombardeiam
um alvo com o material a ser depositado. Abaixo temos um esquema de deposição por
sputering.
Deposição química por fase vapor, do inglês chemical vapor deposition (CVD), é a
formação de um filme sólido não volátil sobre um substrato (lâmina) pela reação de gases
reagentes que contém os constituintes necessários a formação do filme. Os gases
reagentes são introduzidos numa camara de reação e são decompostos reagindo na
superfície aquecida para formar o filme fino. A reação ocorre não apenas sobre o substrato
(reação heterogênea) mas também ocorre no corpo do gás (reação homogênea). A reação
heterogênea é desejável e é ela que produz efetivamente o filme fino, enquanto a reação
homogênea é prejudicial ao processo provocando formação de partículas na câmara,
consumindo os reagentes, reduzindo a qualidade do filme e a taxa de deposição.
A deposição de filme por CVD pode ser controlada por dois processos distintos: (1) a
taxa de reação e (2) o transporte de massa. A taxa de reação se refere a velocidade em
que ocorrem as reações na superfície do substrato. Abaixo de uma certa temperatura a
deposição é limitada pela taxa de reação, acima desta temperatura o que limita a taxa de
deposição é o fluxo de gases reagentes até a superfície, ou seja, o transporte de massa.
Nos processos de deposição dominados pela taxa de reação o controle rígido da
temperatura sobre toda superfície da reação se faz necessário, pois o volume de reagentes
chega até esta superfície numa velocidade maior que o consumo dos reagentes, assim o
fluxo de gases fica relegado a uma importância menor que o controle da temperatura. Em
processos onde a taxa de reação é grande e o consumo dos reagentes é maior que a
chegada destes a superfície de reação, a taxa de deposição é limitada pelo transporte de
massa, ou seja, o fluxo de reagentes até a superfície de reação; nestes processos a
importância de um fluxo bem controlado sobre a superfície de reação é maior que o
controle da temperatura. Observe o gráfico da taxa de deposição como função do inverso
da temperatura, abaixo:
60
Figura 4.4.3 – Taxa de deposição como função do inverso da temperatura. (Morimoto, 1999, 5 p.).
Figura 4.4.4 – Diagrama dos tipos de reatores CVD. (Morimoto, 1999, 6 p.).
Object 64
Figura 4.4.5 – Reatores: (a) APCVD de processamento contínuo do tipo injetor de gás; (b) APCVD de
processamento contínuo do tipo pleno. (Morimoto, 1999, 6 p.).
(a) (b)
Figura 4.4.6 – Reatores LPCVD de parede quente (a) e fria (b). (Morimoto, 1999, 7 p.).
62
SiH4 + O2 SiO2 + 2 H2
63
5 FABRICAÇÃO
enxágüe em água as lâminas devem ser secas com jato de nitrogênio e colocadas em
caixas para que não sejam expostas ao ambiente do laboratório. As soluções que sobram
da limpeza são reservadas para posterior neutralização e descarte.
Abaixo temos uma figura do substrato limpo e pronto para iniciar o processo de
oxidação.
Object 68
Figura 5.2.1 – Lâmina ou substrato tipo n limpo e isento de óxido e de impurezas. (CCS, 2004).
5.3 Oxidação
calor
Si + O2 SiO2
calor
Si + H2O SiO2 + 2 H2
66
5.4 Litografia
(HMDS). Após aplicação do promotor de aderência, são gotejadas nove gotas do resiste
AZ1350J sobre a lâmina que é submetida a rotação de 7000rpm por 30s.
Figura 5.4.1 – Lâmina de silício oxidada e coberta com o fotoresiste. (CCS, 2004).
Object 72
(a) (b)
Figura 5.4.2 – (a) Estufa onde o resiste sofre cura. (b) Fotoalinhadora. (CCS, 2004).
Figura 5.4.3 – Alinhamento da lâmina com a máscara e exposição a radiação UV. (CCS, 2004).
Figura 5.5.1 – Regiões sem resiste devem ter o óxido removido. (CCS, 2004).
As aberturas no resiste mostram as regiões de óxido que devem ser removidas para
implantação do Boro. Note que o óxido nas costas da lâmina não esta protegido e por isso
será removido. A corrosão do óxido é feita por imersão da lâmina em uma solução de HF
(ácido fluorídrico) e NH4F (fluoreto de amônio). No processo de corrosão do óxido o HF vai
sendo consumido. A função do NH4F é liberar HF para manter a taxa de corrosão constante
através de uma concentração mais constante de HF. As reações que ocorrem com o óxido
(SiO2) e com os reagente: HF e NH4F, estão mostradas abaixo:
71
NH4F NH3 + HF
Figura 5.5.2 – Lâmina livre de óxido nas costas e com aberturas na frente. (CCS, 2004).
Após corrosão é feito enxágüe com água deionizada e remoção do resiste. Esta
remoção é realizada com banho em: (1) acetona fervente, (2)acetona fria e (3) isopropanol
frio. Resultando na lâmina abaixo.
Object 78
Figura 5.6.1 – Diagrama esquemático genérico de um implantador iônico. (Baranauskas, 1990, 4.2 p.).
Esses íons são acelerados por um tubo com campo elétrico constante para
adquirirem a energia necessária a implantação com o perfil de profundidade desejada. Um
sistema de varredura percorre toda área a ser implantada alterando a direção do feixe de
íons através de placas de deflexão eletrostática, que aplicam campos elétricos
perpendiculares as trajetórias do feixe. A câmara do alvo é mantida a pressão menor que o
bilhonésimo de atmosfera. Todo processo é controlado e monitorado por um sistema
automático. Na aplicação da técnica de implantação de íons há um bom controle da
profundidade de implantação pelo conhecimento da energia do íon implantado; alto
controle da quantidade de espécies dopantes implantadas através da medida da corrente
no alvo (substrato, lâmina); baixa quantidade de impurezas pois o processo é desenvolvido
em ultra-alto-vácuo, em ambiente seco, com seleção precisa dos dopantes; e pode-se usar
como proteção do substrato: a camada de óxido, nitreto, silício policristalino, metais ou
fotoresiste.
A colisão dos íons com o substrato provoca danos a estrutura cristalina do material.
Esses danos dependem da energia dos íons, da quantidade de íons e da massa dos íons
implantados. Na frenagem desses íons na matéria, dois processos ocorrem: (1) interação
74
do íon com os núcleos dos átomos do alvo (freamento nuclear), em que há mudança na
trajetória do íon, e (2) interação dos íons com a nuvem de elétrons dos átomos do alvo
(freamento eletrônico), em que não há mudança na trajetória dos íons.
O freamento nuclear é dominante para velocidades, dos íons, inferiores a velocidade
de Bohr (2,2x106m/s).
A implantação de íons, em nosso processo de fabricação, é realizada por meio de um
acelerador de particulas específico para esta finalidade. O GA-4204 EATON. São
implantados íons de Boro, para formação de regiões tipo p + nas áreas de fonte e dreno –
face da lâmina – e são implantados íons de Fósforo para melhorar o contato do substrato
formando regiões tipo n+ – nas costas da lâmina. A energia em cada implantação é, a
mesma, de 50Kev. A dose especifica aplicada de cada íons, Boro (B +) e Fósforo (P+) é, a
mesma, de 5x1015 íons por centímetro quadrado (cm 2). Para evitar que os íons entrem no
planos do cristal e sofram uma canalização, aumentando a profundidade de implantação, o
substrato é inserido em angulo de sete graus e girado sobre o eixo de 20 graus.
(a) (b)
Figura 5.6.3 – Implantação de íons: (a) Bóro na face e (b) Fósforo nas costas. (CCS, 2004).
para corrigir parte (que seja significante para o funcionamento dos dispositivos) desses
defeitos e ativar os dopantes procede-se ao recozimento da lâmina. Realizar oxidação logo
após implantação de íons, antes da recristalização por recozimento térmico, aumenta a
densidade de defeitos.
Em nosso processo as lâminas são introduzidas em forno a temperatura de 1000ºC
em atmosfera inerte de nitrogênio por 20 minutos, antes de começar o processo de
oxidação com fluxo de oxigênio por cinco minutos. Depois, inicia-se a oxidação úmida por
mais 100 minutos com fluxo de oxigênio e vapor d’água. Para terminar o processo as
lâminas permanecem no forno por mais 10 minutos em atmosfera de nitrogênio e são então
retiradas. O resultado pode ser visto abaixo.
Figura 5.7.1 – Lâmina recozida e oxidada após implantação de íons. (CCS, 2004).
marcações de alinhamento são figuras como cruzes de alinhamento ou verniers xy, como
mostra a figura abaixo.
Após cada corrosão é feita inspeção visual na lâmina para verificar se todo óxido foi
removido das regiões livres de resiste. Medidas das espessuras dos óxidos são realizadas
nos cacos da lâmina que foi clivada (e serve para aferição da qualidade dos processos).
Nos transistores TECMOS, fabricados por nós, um fino óxido na porta impede
paspagem de corrente por esta. Este óxido é o responsável pela característica básica
destes dispositivos, seu funcionamento através do acionamento pelo campo devido a
tensão aplicada na porta. O óxido que será formado tem espessura de 600 a 700 ângstrons
e é um óxido de melhor qualidade que os óxidos obtidos através de oxidação úmida.
Em forno a temperatura de 1000ºC as lâminas são introduzidas em atmosfera de
nitrogênio e permanecem nela por cinco minutos. Inicia-se a oxidação em oxigênio por
cinco minutos e nos 30 minutos subseqüentes além do fluxo de oxigênio é liberado uma
fração de tricloroetileno (TCE) – a função do TCE é reduzir a formação de cargas. A
finalização do processo se dá com cinco minutos de oxigênio puro e mais dez minutos de
nitrogênio. As lâminas são então retiradas e o resultado pode ser visto na figura abaixo.
Figura 5.10.1 – (a) Esquema da evaporadora. (b) Foto da evaporadora utilizada. (CCS, 2004).
As lâminas estão num suporte acima do alumínio onde este irá se depositar. As
características do processo exigem pressão inicial de 5x10 -7Torr (um Torr equivale a
1,31x10-3 atmosferas, e uma atmosfera equivale a 10 5 Pascal – o Pascal é a unidade do
sistema internacional de unidade para pressão e equivale a um Newton por metro
quadrado(N/m2)). Este vácuo é obtido com acoplamento de duas bombas. A primeira faz o
pré-vácuo até uma pressão de aproximadamente 10 -3Torr, e a segunda, uma bomba de
difusão leva a pressão até o valor desejado. Durante o processo de metalização a pressão
permanece aproximadamente constante com valor de 5x10 -5Torr. O resultado da deposição
pode ser visto abaixo.
Figura 5.10.3 – Circuito definido com separação dos contatos: fonte, dreno e porta. (CCS, 2004).
Além dos contatos na face da lâmina é depositado alumínio nas costas da lâmina.
Depois da aplicação do alumínio, que fica com espessutra de um micrômetro, a
lâmina deve passar por outro processo de aquecimento denominado sinterização. Esse
processo tem funções de melhorar o contato entre o alumínio e a lâmina e contribuir para
eliminação de cargas. A sinterização é feita sob aquecimento da lâmina a temperatura de
450ºC por 30 minutos em ambiente de nitrogênio e vapor d’água.
Finalizando o processo de produção do circuito integrado são realizadas medidas nos
dispositivos fabricados. Uma lâmina foi entregue ao CTI para que fosse clivada nos chips e
encapsulada. Cada chip contém dois transistores, dois flip-flop, um capacitor MOS e um
diodo. A figura abaixo é de um dos transistores do chip.
Figura 5.10.4 – Fotografia de um transistor de canal p, fabricado através das etapas descritas. (CCS, 2004).
80
Fonte: www.asciitable.com
82
Figura 6.2.1 – Representação dos operadores lógicos: NOT, AND e OR; com suas entradas e saídas.
(Occidental Schools, 1982, 15 p.)
Podemos notar que NOT é negação da entrada, AND só assume valor verdadeiro se
ambas entradas forem verdadeiras e OR assume valor verdadeiro se qualquer uma das
entradas tiver valor verdadeiro.
Os circuitos podem ser montados em protoboards, que são placas com circuitos
desenhados onde podemos inserir os componentes, de modo a obter os nossos próprios
circuitos.
84
Convencionamos que uma tensão de seis volts negativa representa o número 1 (um)
e uma tensão igual a zero volts representa o número 0 (zero). O LED representará a porta
de saída do circuito, se o LED estiver aceso a saída é 1 (verdadeiro) e se estiver apagado
a saída é zero (falsa). Aplicamos arbitrariamente 0 ou 1 em cada entrada, e os circuitos
iram se comportar como portas lógicas.
A fonte que utilizamos é uma fonte de corrente contínua com um pólo positivo e um
pólo negativo. Os LEDs também tem um pólo positivo e um pólo negativo. Para identificar o
pólo positivo basta observar qual das pernas do dispositivo (LED) é maior, a menor deve
ser ligada no pólo negativo da fonte.
Podemos observar abaixo o símbolo do transistor PMOS que estamos utilizando, é
um dispositivo de três terminais (pernas): source (fonte), drain (dreno) e gate (porta). Na
montagem dos circuitos é importante ligar a source no pólo positivo da fonte e o drain no
pólo negativo – esse é o sentido correto para o transistor, assim como o diodo que tem pólo
positivo e negativo. No desenho do transistor abaixo podemos notar qual terminal é porta, a
fonte e o dreno e podemos utilizar a figura como referência para a montagem do circuito.
85
Figura 6.3.3 – Símbolo do transistor IRF9540 e imagem do dispositivo apontando qual terminal é fonte (S),
dreno (D) e porta (G). (Fairchild, 2002, 1 p.).
O protoboard tem uma entrada para o positivo e outra para o negativo da fonte.
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Object 106
7 COMPUTAÇÃO QUÂNTICA
Para que tenhamos uma idéia dessas escalas de tempo estima-se que o universo
tenha cerca de 15 bilhões de anos.
Uma aplicação da fatoração de números grandes é a criptografia de mensagens que
viajam todos os dias pela internet, como números de cartões de créditos e outras
informações sigilosas. O algoritmo de Shor mostra que no dia em que um computador
quântico for ligado nenhuma mensagem criptografada classicamente será secreta.
A mecânica quântica governa os fenômenos físicos que ocorrem em uma escala
microscópica da ordem de ângstrons (10-10m). Num certo sentido a computação quântica
dá um caráter indeciso aos bits clássicos. Em vez de 0 ou 1, um qubit poderia ser ambos e
existir simultaneamente como uma combinação de todos os números de dois bits possíveis
quando se tem dois qubits. Adicionando um terceiro qubit, pode-se ter a combinação de
todos os números de três bits. Esse sistema cresce exponencialmente.
O interesse pela computação quântica teve início quando Feynman concluiu, em
1982, que os sistemas clássicos não seriam capazes de modelar eficientemente os
sistemas mecânicos quânticos e que estes só poderiam ser modelados utilizando outro
sistema quântico. Feynman sugeriu que computadores baseados nas leis da mecânica
quântica ao invés das leis da Física clássica poderiam ser usados para modelar sistemas
mecânicos quânticos.
Deutsch foi o primeiro a levantar o questionamento de uma real maior capacidade de
processamento dos computadores quânticos em relação aos clássicos em 1985. Foi ele o
primeiro a publicar um algoritmo quântico, o Problema de Dois Bits de Deutsch em 1989.
Até 1990, computação quântica era apenas uma curiosidade. Isto mudou quando, em
1994, Shor publicou o seu algoritmo para computadores quânticos que resolve o problema
de fatoração de números grandes. Outros algoritmos quânticos foram sendo propostos e
esforços no sentido de produzir um hardware quântico também aumentaram. Técnicas
como a ressonância magnética nuclear (NMR) e armadilha de íons são usadas com
sucesso no desenvolvimento de sistemas com 3 e 5 qubits. Atualmente a maioria das
pesquisas envolvidas em computação quântica concentra-se no desenvolvimento do
hardware, ou seja nas máquinas ou sistemas materiais.
No IBM´s Álmaden Reaserach Center: em agosto de 2000, o físico Isaac Chuang e
sua equipe do Centro de Pesquisa de Almaden, anunciaram para o mundo o
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Figura 7.1 – Proposta de dispositivo quântico de funcionamento baseado em acoplamento forte de par
elétron-lacuna de cobre. (Wallraff, 2004, 163 p.).
Figura 7.2 – Circuito referente ao dispositivo da figura 7.1. (Wallraff, 2004, 164 p.).
Figura 7.3 – Proposta de Kane para dispositivo quântico de funcionamento baseado no spin nuclear de dois
átomos de Fósforo em substrato de silício. (Divincenzo, 1998, 113 p.).
dopantes (Fóstofo), uma camada isolante e portas de metal. No entanto sua operação não
é a mesma que a de um transistor.
Os qubits no projeto de Kane são novamente os spins nucleares de um átomo de
Fósforo dentro do cristal de Silício. Fósforo no silício é um doador de elétrons, o que
significa que ele tem um elétron, em que na temperatura ambiente, se move livremente
através da rede do cristal, carregando corrente para a função de transistor. Mas a
temperatura de 100mK (cem mili Kelvin), este elétron esta fracamente ligado ao íon fósforo,
e seu spin representa o estado do qubit de spin nuclear. Então aplicando uma voltagem na
porta A (gate A, fig. 7.2), o elétron ligado pode ser polarizado, há uma interação entre o
elétron e o núcleo que determina a energia dos dois níveis do qubit de spin nuclear, e
portanto qual freqüência de onda de rádio é requerida para flipar (mudar de estado entre 0
e 1) o qubit. Então uma onda de rádio pode ser usada para mudar seletivamente o estado
somente do núcleo o qual o elétron esta polarizado. Outra porta J (gate J) influência a
sobreposição dos elétrons vizinhos, mediante um acoplamento indireto entre os qubits
representados pelos átomos de fósforo, permitindo qualquer operação necessária para
executar um algoritmo quântico.
A proposta de Kane enfrenta alguns obstáculos pois não existe tecnologia de
preparação de materiais que poça colocar átomos individuais de fósforo em seus lugares
adequados no interior de um cristal perfeito; também não existem cristais semicondutores
totalmente livres de defeitos ou camadas de óxidos igualmente perfeitas. Não apenas
tecnologias mais aperfeiçoadas serão necessárias mas uma melhor compreensão dos
processos fundamentais quânticos será necessária.
A proposta de Kane poderia ser implementada em cinqüenta anos de evolução
contínua dos processos tecnológicos e do conhecimento das propriedades de sistemas
quânticos.
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8 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
WALLRAFF, A.; SCHUSTER, D.L.; BLAIS, A.; FRUNZIO, L.; HUANG, R.-S.; MAJER,
J.; KUMAR, S.; GIRVIN, S. M. & SCHOELKOPT, R. J. Strong coupling of a single
photon to a superconducting qubit using circuit quantum electrodynamics. Nature.
Vol. 431. 162-167 p. September/2004.
WOLF, S.; TAUBER, R. N. Silicon Processing for the VLSI Era. Sunset Beach:
Lattice Press, 1999.
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BIBLIOGRAFIA