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Ivo Bucaresky
Anvisa e conselhos médicos: a regulação da cannabis no Brasil
Miriam Sanger
A história da cannabis
Yoav Giladi
Controle de Qualidade: como identificar um produto de qualidade
Fabricio A Pamplona
Apresentações, vias de administração e farmacologia
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Palestrante: Viviane Sedola é a liderança feminina de cannabis no Brasil e
fundadora da Dr. Cannabis, uma plataforma médica que oferece ferramentas tecnológicas
para promover o acesso à cannabis medicinal legal no Brasil. Em 2019, Viviane Sedola foi
homenageada pela revista High Times no evento Female 50 como uma das 50 mulheres
mais influentes do mercado de cannabis no mundo. Atua como CEO da plataforma
Dr. Cannabis, que possui mais de 3 mil médicos e 30 mil pacientes.
Resumo
A Dr. Cannabis foi criada no início de 2018 com o objetivo de combater um dos
maiores desafios que a cannabis enfrenta atualmente: a defasagem em relação às
informações sobre a planta. A consequência deste esforço em prol do conhecimento está
diretamente relacionado ao aumento no número de pessoas encontrando na cannabis uma
alternativa efetiva de tratamento.
Relatos sobre filhos com autismo que olharam nos olhos de suas mães pela
primeira vez, pessoas que, após anos convivendo com tremor essencial, conseguiram realizar
atividades simples como assinar papéis ou tomar café em uma xícara, famílias inteiras que
passam a viver com mais qualidade por terem deixado para trás os dias em que as
convulsões infantis ocorriam centenas de vezes por semana, são apenas algumas das
consequências observadas por quem utiliza a cannabis medicinal com sucesso. Melhora na
dor, ansiedade, insônia, náuseas, vômitos e muitos outros sintomas também estão entre os
relatos dos pacientes em tratamento médico com cannabis.
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A Cannabis medicinal no Brasil É fundamental entender este contexto histórico da cannabis para compreender a
O uso da cannabis é milenar e já acumula milhares de estudos e evidências científicas, quantidade de médicos prescritores da planta em atuação hoje. O sistema endonabinoide
clínicas e anedóticas que comprovam sua segurança e seu potencial terapêutico. ainda não é uma disciplina de estudo nas faculdades de medicina. Então, conclui-se que
mesmo aqueles médicos que vão se formar depois de 2020 não terão essa bagagem
Apesar de haver uma regulação da Anvisa desde 2015 permitindo sua utilização de conhecimento oriundo da universidade. Fica mais entendível o fato de os médicos
para tratamentos de saúde, até 2018 foram registrados no Brasil apenas cerca de 3 mil atuantes no Brasil atualmente, não se sentirem confortáveis em prescrever a cannabis
pacientes se beneficiando legalmente das propriedades terapêuticas da cannabis. e seus derivados. Felizmente, as informações necessárias para que estes profissionais
possam iniciar a terapêutica canábica já estão disponíveis e a Dr. Cannabis é uma grande
Segundo o IBGE/2013, 45% da população brasileira convive com pelo menos uma aliada nesta jornada.
doença crônica não transmissível. A atual literatura sobre cannabis sustenta que ela pode
ser uma alternativa para proporcionar mais saúde e qualidade de vida a esta grande A empresa conta com mais de 30 mil pacientes cadastrados, mais de 3 mil médicos
parcela da população. De acordo com esses dados, em 2018 menos de 0,001% dos e uma equipe pronta para dar suporte e acolhimento a ambos os públicos que tenham
pacientes que poderiam se beneficiar em diferentes níveis do uso terapêutico e/ou interesse em acessar e/ou prescrever legalmente produtos à base de cannabis.
compassivo da cannabis estavam tendo, de fato, acesso a ele.
Em 2020, a Dr. Cannabis criou o I Congresso Digital de Cannabis Medicinal - CNABIS,
Para além dos números, estas informações representam histórias de vida de evento online de caráter técnico-científico com uma trilha de conhecimento que visa a dar
pessoas e famílias inteiras que poderiam mudar para melhor. Isto porque as dores e doenças autonomia para o médico e oferecer informações capazes de amparar a prática clínica.
crônicas vêm respondendo positivamente aos tratamentos com cannabis medicinal.
Quadros de ansiedade, insônia, epilepsia, autismo, dor crônica, doenças Os médicos que prescrevem atualmente são pioneiros e buscaram ativamente este
neurodegenerativas, câncer, e uma lista longa de outras patologias apresentam indicação conhecimento, principalmente fora do país. O CNABIS oferece aos colegas de profissão
de uso. a oportunidade de aprenderem sobre a aplicação terapêutica da cannabis onde quer que
estejam para que possam se juntar ao time de profissionais pioneiros em prescrição de
cannabis.
“O CBD mudou a minha vida!”
Melissa Sayon, paciente com tremor essencial cadastrada na Dr. Cannabis A procura dos pacientes por tratamentos à base de cannabis cresce diariamente e é
maior do que a demanda de médicos pode suprir.
E é exatamente neste ponto que outro grande desafio no acesso à cannabis para uso
médico é apresentado: a legislação vigente exige a prescrição médica para tratamentos Viviane Sedola fez a curadoria do CNABIS e encontrou as maiores autoridades em
com derivados da cannabis, no entanto, apenas 0,2% dos médicos brasileiros prescrevem cada tema para compartilharem as evidências científicas e clínicas que vão apoiar os
atualmente. Ou seja, uma alternativa de tratamento multifacetada, segura, que possui médicos em sua jornada de conhecimento sobre a cannabis como ferramenta terapêutica.
regulação no Brasil e que poderia beneficiar quase metade da população brasileira, mas
há apenas algo em torno de mil médicos para atender a esta demanda. Como reconhecimento do seu trabalho, Viviane Sedola foi eleita uma das 50
mulheres mais influentes do mercado da cannabis no mundo, pela publicação pela
Contexto histórico da prescrição de cannabis High Times Magazine. Sendo a única latino-americana presente na lista. Essa projeção
Historiadores encontraram indícios de que a cannabis foi uma das primeiras plantas apresenta o trabalho bem desenvolvido e dedicado em torno da cannabis medicinal no
domesticadas pelo homem e servia para os mais diversos fins: religioso, têxtil, alimentar, e Brasil que vem sendo desempenhado pela empresária e coloca o país no mapa mundial
claro, o medicinal. Apesar disso, somente há 50 anos aprofundamos o entendimento que do mercado canábico.
temos sobre a cannabis e seus mecanismos de ação, pois apenas neste período o tema
foi estudado de forma minuciosa e nos apresentou dados ricos sobre a farmacologia da Ao decorrer das próximas páginas você será apresentado ao resultado do trabalho
planta e informações inéditas sobre o corpo humano. desempenhado por Viviane Sedola e sua equipe durante este evento pioneiro. Além de
ampliar os seus conhecimentos sobre o uso medicinal da cannabis e as evidências que o
Como consequência da pesquisa sobre cannabis, um sistema inteiro foi descoberto: sustentam.
o sistema endocanabinoide. Batizado, inclusive, em homenagem à planta que levou à
sua descoberta. Este sistema se comunica com todos os outros sistemas do organismo,
incluindo os sistemas imunológico e digestivo. E é através dele que o organismo se
mantém em equilíbrio.
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Muito prazer, CBD.
Pacificool ® é uma marca vinda do ensolarado estado da
Califórnia, pioneiro no cultivo e na evolução de produtos
à base de CBD vindos do Cânhamo. Saiba mais acessando
nosso site ou visitando nossa conta no Instagram.
Palestrante: Ivo Bucaresky é economista, foi secretário-executivo da CMED -
Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) e diretor da Anvisa -
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, tendo sido um dos responsáveis pelas primeiras
iniciativas da Anvisa no reconhecimento e regramento da Cannabis Medicinal. Desde de
2017 dirige a Orplavi Consultoria, empresa especializada em consultoria nas áreas de
inteligência regulatória e economia da saúde. Tendo inclusive trabalhado com empresas
da área de cannabis medicinal. Consultor em regulação sanitária, inteligência regulatória
e economia da saúde.
Resumo
A Anvisa - Agência Nacional Sanitária é o órgão responsável por avaliar a regulação,
o registro e as regras sobre medicamentos de uso excepcional no Brasil. Isso inclui a
criação e fiscalização das regras que implicam no acesso à cannabis medicinal no
país. Tanto os médicos prescritores quanto os pacientes estão sujeitos às normas da
Agência. Para a cannabis medicinal há características específicas, porém são apresentados
diferentes usos e benefícios para diversas patologias no Brasil e no mundo. Será
apresentado um breve histórico sobre a evolução regulação da cannabis medicinal no país
feita pela Anvisa, a regulação dos usos medicinais da cannabis no Brasil, o uso compassivo,
regras de registro de medicamentos tradicionais, fitoterápicos e produtos de cannabis,
os impactos das Resoluções da Diretoria Colegiada (RDCs) da Anvisa sobre o uso da
cannabis medicinal: RDC 17/2015; RDC 327/2019 e RDC 335/2020.
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Registro tradicionais: fitoterápicos e medicamentos convencionai O primeiro motivo é que as pesquisas são caras, um investimento que os laboratórios
e o mercado só fazem para medicamentos patenteados, que não é o caso da cannabis.
O segundo motivo é que já foi apresentado um grande conhecimento sobre a planta.
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de canabinoides, as indicações de uso, as patologias para as quais poderá ser utilizada e Ao mesmo tempo, neste período, a Anvisa identificou que em vários lugares do
as interações medicamentosas. Esses são alguns desafios nas pesquisas internacionais mundo o uso medicinal da cannabis era considerado legal. Além disso, foram
e que não consolidaram totalmente os padrões tradicionais exigidos para a indústria de encontrados inúmeros estudos e textos produzidos em décadas anteriores, que
medicamentos. começaram principalmente em Israel, provando que o uso da cannabis medicinal
É devido a essas questões que em todo o mundo há regulações específicas para a resultava positivamente em outras patologias e não apenas em pacientes com epilepsia
cannabis. A Anvisa seguiu os mesmos passos e criou uma nova categoria de Autorização infantil.
Sanitária para permitir que se possa ter produtos de cannabis nas farmácias brasileiras.
Não se trata de um registro, mas de uma flexibilização nas regras para permitir o acesso
aos tratamentos canábicos a quem precisa. REGRAS PARA A CANNABIS EM ALGUNS LUGARES DO MUNDO
Surge, então, uma análise interna na Anvisa para avaliar cada caso e a cannabis
foi o único em que a pressão foi impulsionada pela sociedade e levada para a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária.
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Foi uma decisão que melhorou o acesso em comparação ao período em que não
O uso compassivo acontece porque o médico prescritor ou o médico assistente do existiam regras. Mesmo assim, há casos que dificultaram o acesso dos pacientes ao
paciente acredita que determinado medicamento, mesmo sem o registro no Brasil, é muito tratamento, pois todo o processo - desde solicitar a autorização da Anvisa, seguido pela
importante para tratar tal diagnóstico. Então, é solicitada uma autorização específica da etapa de importação - chegou-se a uma espera de 70 a 80 dias.
Anvisa para importar o medicamento único, para o uso específico deste paciente. Esta é
a característica do uso compassivo que é diferente, por exemplo, de usos para pesquisas Embora com alguns desafios, a RDC17/2015 possibilitou a mais pessoas terem este
de produtos ainda não registrados no Brasil. tratamento e permitiu que os médicos prescrevessem produtos de cannabis para os
seus pacientes. O Conselho Federal de Medicina, inicialmente, criou regulações que
RDC17/2015: a permissão de uso compassivo da cannabis medicinal limitavam as possibilidades de quem poderia prescrever e a Anvisa precisou adotar um
método que, em muitos casos, precisava de uma autorização excepcional da diretoria da
“Define os critérios e os procedimentos para a importação, em caráter de excepcionalidade, de agência para que houvesse a prescrição. Essa análise acontecia caso a caso.
produto à base de Canabidiol em associação com outros canabinoides, por pessoa física, para uso
próprio, mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para tratamento de saúde”. Ainda há muito preconceito e dificuldade de acesso devido à falta de informação
e contínuas pressões de setores que querem limitar o acesso aos diversos usos da
Empresas no mundo inteiro estavam em busca da certificação da cannabis e muitas cannabis como medicamento. Mas em cinco anos, a partir da RDC17/2015, o mercado
já estavam produzindo medicamentos com extratos da planta no exterior e elaborando evoluiu, os pacientes e os médicos continuamente aprendem como utilizar os produtos
pesquisas clínicas e dossiês. A avaliação era de que cerca de um ou dois anos após a à base de cannabis, assim como a Anvisa tem entendido o que e como deve facilitar o
aprovação das regras mundiais seria possível solicitar registros também no Brasil. Assim, acesso a este tratamento.
os medicamentos seriam comercializados nas farmácias e disponibilizados para o uso
hospitalar. Não foi o que aconteceu.
“Hoje já são mais de 12 mil autorizações emitidas pela Anvisa e,
A cannabis se enquadra em uma situação muito específica e as agências sanitárias provavelmente, de 8 mil a 10 mil brasileiros estão fazendo uso
do país e do mundo criam regras particulares para permitir que os medicamentos com de medicamentos de cannabis com autorização da agência.”
extratos da planta sejam comercializados em seus países. Além disso ainda não existem
pesquisas clínicas consolidadas de maneira tradicional. RDC 327/2019 - A Autorização Sanitária para produtos de cannabis no Brasil
No Brasil, houve apenas um único caso de registro de medicamento à base de “Dispõe sobre os procedimentos para a concessão da Autorização Sanitária para a
cannabis pela Anvisa. Este medicamento não apresenta usos tão amplos referentes a fabricação e a importação, bem como estabelece requisitos para a comercialização, prescrição, a
todas as possibilidades que as patologias tratadas pela cannabis permitem, além de dispensação, o monitoramento e a fiscalização de produtos de Cannabis para fins medicinais, e dá
preços mais altos. Essa permissão aconteceu sem seguir as regras tradicionais para outras providências”
registro de medicamentos, tanto no Brasil quanto no exterior.
Diante de tantos desafios, dentre o que foi avaliado anteriormente e o não registro
Para garantir e facilitar o acesso à cannabis medicinal para os brasileiros, em 2015 foi de medicamentos a base de cannabis no Brasil, que facilitariam o acesso por parte da
aprovada a RDC17. A Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa faz referência ao uso população e que permitiria a venda nas farmácias, a Anvisa iniciou uma análise para
compassivo de produtos à base de cannabis, seguindo uma regra específica no país, até criar outra RDC.
porque a cannabis não tinha registro como medicamento em nenhum lugar do mundo
naquele momento. Ao final de 2019, foi comunicada a RDC327, em que consta a categoria de
Autorização Sanitária para produtos de cannabis no Brasil. Essa autorização está
Com essa resolução surgiu a possibilidade de permissão aos pacientes que fizessem o a um nível abaixo e não é equivalente a um registro tradicional, mas permite que
pedido de autorização da Anvisa e pudessem importar os produtos de cannabis do exterior produtos de cannabis entrem no Brasil. Eles recebem a classificação de produtos e não de
para seus próprios usos, a partir da prescrição médica. A autorização possuía 12 meses medicamentos e essa diferenciação acontece porque a Anvisa flexibilizou algumas
de validade e facilitou o acesso à cannabis medicinal, mesmo em um processo demorado regras de uso:
e caro, pois a importação de poucas unidades aumenta o custo do produto.
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1. Produto ou medicamento. As regras foram apresentadas para a entrada dos produtos no país e os
Como não será registrado como medicamento, este produto não poderá definir em prescritores não devem se sentir inseguros com as determinações da Anvisa em relação
sua propaganda ou em sua embalagem, que é um medicamento ou que tem ação às prescrições médicas. Na prática, a agência está permitindo que exista o produto em
medicamentosa. Ele não terá uma bula oficial, mas deverá conter um folheto informativo farmácias e hospitais, e todos os usos dos produtos de cannabis são equivalentes aos
sobre como é produzido e as possibilidades de uso. O médico prescritor é quem terá a usos de produtos off-label.
tarefa de definir qual tipo de formulação servirá ou não para o paciente e se ele precisa
deste tratamento. Produtos nas farmácias brasileiras
Uma das condições apresentadas na RDC335/2020 é a de que tanto médico
2. Apresentação do Certificado de Boas Práticas de Fabricação - CBPF. quanto paciente deverão preencher e assinar um termo de consentimento. Neste
Tradicionalmente, a Anvisa não aceita este documento em inglês ou elaborado documento é esclarecido que o produto ainda não passou por todas as exigências
por outras agências reguladoras. Para que a fábrica receba essa licença no Brasil, tradicionais para o registro de medicamentos na Anvisa e que, teoricamente, não
haverá a inspeção técnica feita por uma equipe da Anvisa, que avaliará se os processos apresenta todas as seguranças reconhecidas e exigidas, mas que o paciente, de livre
produtivos daquela fábrica seguem os padrões farmacêuticos que garantam a qualidade e espontânea vontade, concorda com que o médico receite aquele produto à base de
do que é produzido. Após a análise, será emitido o CBPF. A Anvisa é considerada como cannabis.
uma das agências sanitárias mais rígidas no mundo para assinar uma licença de CBPF.
Caso uma fábrica tenha um CBPF assinado na Europa, não significa que terá da Anvisa, Um fator importante é que a cannabis foi classificada assim como os produtos de tarja
porém se esse fabricante obtiver uma licença da Anvisa, provavelmente, o documento preta, que terão a necessidade de uma receita ou do tipo A ou do tipo B. Aqueles que
será aceito por qualquer lugar do mundo. forem produzidos com mais de 0,2% de THC terão receitas do Tipo A, enquanto os que
apresentarem menos de 0,2% de THC terão receitas do Tipo B. A farmácia deverá ter o
3. Produtos autorizados em seu país de origem. controle da prescrição médica, apresentada necessariamente no momento da compra e
A Anvisa está permitindo a entrada de produtos autorizados no exterior desde uma das cópias deste documento ficará retida pelo farmacêutico.
que continuem a ser apresentados estudos principalmente referentes a estabilidade.
Segundo a RDC327/2019, no pedido de Autorização Sanitária, a Anvisa irá analisar a RDC 335/2020 - Atualização e evolução da RDC17/2015 sobre uso compassivo de
apresentação de dossiês clínicos finalizados, ou seja, aqueles em que estejam nas fases cannabis medicinal
1, 2 e 3, tradicionais para os outros medicamentos. É necessário ter uma autorização do
país de origem, além de uma bibliografia que justifique os usos daquela formulação, seja “Define os critérios e os procedimentos para a importação de Produto derivado de Cannabis, por
na quantidade de CBD ou de THC, e permanece a exigência de vários outros estudos, pessoa física, para uso próprio, mediante prescrição de profissional legalmente habilitado, para
assim como acontece para os medicamentos tradicionais. tratamento de saúde”
4. Estudos de estabilidade como os apresentados para fitoterápicos. A RDC335/2020 evoluiu e aperfeiçoou as normas da RDC17/2015 para manter e
Os produtos de cannabis continuam seguindo as RDCs que abordam os fitoterápicos, facilitar o uso compassivo. Enquanto não houver produtos comercializados nas
os fitofármacos e os derivados vegetais, principalmente no que diz respeito aos estudo farmácias, permanecerá este modelo de uso da cannabis medicinal que deverá valer por
de estabilidade que garantem a qualidade do produto e que eles serão produzidos de muito tempo.
forma padronizada. A qualidade do produto é garantida quando, ao adquirir um lote do
produto hoje, o lote produzido daqui a alguns meses é equivalente em todos os fatores. A mais recente RDC simplificou as limitações nas quantidades de THC e CBD
Estes estudos de estabilidade são essenciais, uma vez que essa regra da Anvisa é que existiam. Portanto, se algum produto, versão ou forma farmacêutica, ou alguma
embasada nas possibilidades de produção de medicamentos à base de cannabis como formulação específica, com mais THC, por exemplo, ou com CBD, não estiver disponível
um medicamento fitoterápico. nas farmácias brasileiras, os médicos podem continuar prescrevendo o uso compassivo
e os pacientes mantém o processo de importação deste produto. Além disso, mesmo que
5. Formas de administração dos produtos. haja uma versão equivalente nas farmácias, mas o paciente estiver fazendo uso de um
Uma regra importante definida pela Anvisa é a de que só estarão disponíveis as produto específico, já esteja adaptado a ele e deseja continuar utilizando-o, mantem-se a
autorizações sanitárias de produtos para usos orais e nasais. Outras versões como importação pelo modelo do uso compassivo.
cremes, vaporizadores, supositórios ainda não serão fruto de autorização sanitária no
Brasil.
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CONCLUSÃO
Uma diferença na nova regra do uso compassivo é a de que as prescrições e Este processo de regulação da cannabis é diferente e está em evolução em todo o
autorizações são válidas por 24 meses e não apenas para 12 meses. Isso facilitou a mundo. Está sendo avaliada a permissão do uso de medicamentos da cannabis com
possibilidade de importação via planos de saúde, hospitais e associações de pacientes. algumas diferenças de se haverá e como será a autorização. Porém, é uma decisão
Outro ponto importante é que, enquanto o produto ainda não estiver registrado no Brasil, importante por se tratar de um medicamento bastante seguro, com eficácia em muitas
ele não será submetido ao controle de preço. Assim, indústrias, importadores e farmácias patologia e com amplos usos.
podem praticar valores que definirem.
É importante ressaltar que existe um produto com Autorização Sanitária da Anvisa nas
Para tornar o preço mais acessível dependerá de alguns fatores: pressão dos farmácias brasileiras. Avalia-se que no primeiro semestre de 2021 existirão vários outros
pacientes e dos prescritores para que não haja abuso; aumento no número de opções sendo comercializados, em opções tanto para os diversos usos e patologias, quanto em
de produtos existentes; maior número de autorizações indicando empresas diferentes. diferenciação de custo e qualidade. Com as opções que surgirão no mercado, o médico
Ou seja, aumenta-se a possibilidade de preços competitivos quando existirem outros vai ter maior liberdade ao prescrever.
produtos que forem genéricos dessa mesma prescrição, com vários laboratórios.
Para os médicos será importante que congressos como o CNABIS e outros eventos
Sendo classificado como produto genérico, não poderá haver marcas em sua de educação continuada sejam realizados para ampliar o conhecimento profissional, e
embalagem e será informado apenas o nome do laboratório que o produziu. Cada oferecer mais robustez para a indicação segura do uso da cannabis medicinal.
produto deverá conter a informação de formulação, quantos miligramas e qual a
porcentagem de THC ou CBD. Os médicos devem eliminar o preconceito contra a cannabis, além de ter segurança para
prescrever. A sociedade não deve se contaminar com as questões do debate da maconha
Os médicos farão a prescrição e, com o tempo, será definido quais os tipos de de uso recreativo, pois há o uso medicamentoso da cannabis. Apesar de, ainda, não se
produtos à base de cannabis serão produzidos. As diversas formulações serão ter finalizados todos os estudos químicos seguindo a metodologia tradicional, não quer
diferenciadas para cada uso, indivíduo e patologia. O ideal é que se tenha variedade dizer que o uso seja errado, pois há muitos medicamentos antigos que não passaram por
disponível no mercado para que exista amplo uso do produto. este processo e são utilizados até hoje. E não são apenas os fitoterápicos. Há também
muitos medicamentos sintéticos dos quais são conhecidas a eficácia e a segurança.
Neste sentido, papel do médico será ainda mais importante, pois uma medida
relevante e comunicada na RDC335/2020 é a de que somente os médicos poderão Para garantir a qualidade e ter um controle mais rígido, a Anvisa está criando um
prescrever. Por exemplo, não poderá ter prescrição de veterinários ou dentistas, somente modelo de fiscalização específico sobre estes produtos e fazendo análises para assinar as
os profissionais registrados no Conselho de Medicina estarão autorizados prescrever. Autorizações Sanitárias. Apesar de a regra ter sido flexibilizada na RDC327/2019, ela
É papel do médico entender a importância do uso de canabinoides, mais do que em foi feita com o bom senso e o rigor necessários para garantir a segurança e a qualidade
qualquer outro profissional. tanto para os médicos quanto para os pacientes. Portanto, serão disponibilizados
produtos bastante controlados e seguros.
Assim, a segurança será muito maior para médicos e pacientes. Como não haverá
uma bula da Anvisa ou um modelo padrão para ser seguido, o médico deverá ter uma A mensagem aos prescritores, pacientes e interessados na temática da cannabis
educação médica fortalecida para entender os diversos usos possíveis, quais são as medicinal é a de que o Brasil está evoluindo, não na velocidade desejada, mas há
melhores formulações, se a indicação é de líquidos ou cápsulas, se o tratamento será por continuidade da evolução sobre a possibilidade do uso da cannabis medicinal no país
versão oral ou nasal, qual é a melhor miligramagem, a relação e associação de CBD e e vale a pena continuar acompanhando e estudando. A cannabis tem múltiplos e bons
THC, entre outros aspectos. usos para melhorar a qualidade e até mesmo o tempo de vida dos pacientes.
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REFERÊNCIAS
RDC 327/2019 - A Autorização Sanitária para produtos de cannabis no Brasil
Consultado em agosto/2020
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Para melhor compreensão, a história da cannabis pode ser dividida em cinco etapas:
1. Cannabis nas Idade Antiga e Média
2. Cannabis na idade contemporânea
3. A guerra contra a cannabis
4. Anos de “pós guerra”: a redescoberta da Cannabis
5. Cientistas, pesquisadores e o ressurgimento da cannabis medicinal
6. Onda de legalizações
História da cannabis
Sob o reinado do imperador Shen-Nung, ainda na China, é criado o mundialmente
A cannabis sempre acompanhou a humanidade e foi uma das primeiras plantas a 2.737 a.C. conhecido chá. A ele se atribui a utilização pioneira da cannabis como medicamento
serem cultivadas, há milhares de anos. Existem mais de mil espécies de cannabis e na forma de infusão e a planta era indicada para mais de cem enfermidades.
personagens históricos importantes consumiram a planta com diferentes motivações: William
Shakespeare, em busca de inspiração; também na Inglaterra, a rainha Victoria usou para
combater dores menstruais; Abraham Lincoln, como relaxante, entre outros. A cannabis é descrita como “fonte de felicidade” e “planta libertadora” nos Atharva
2.000 -
Vedas (textos religiosos hindus) e mencionada na literatura indiana por seus efeitos
1.000 a.C.
ansiolíticos, além de ser usada para o tratamento de epilepsia, raiva e bronquite.
A cannabis também aparece na literatura há séculos, como no caso da obra Mil e Uma
Noites. Há muitos outros fatos interessantes sobre a cannabis e seria possível publicar um
grande compilado apenas sobre esse tema. A planta chegou ao Brasil na época do Brasil
Colônia, trazida pelos escravos africanos. 1.550 a.C. A planta é citada em papiros egípcios como tratamento contra inflamação.
“Apesar de ser o composto psicoativo mais utilizado no planeta 600 a.C. Corda de cânhamo é encontrada na Rússia
durante a história humana, não há um único registro de overdose
e esse é um fato importante a citar.”
22 23
Os assírios também usaram a cannabis e, a partir desse momento, Cannabis na Europa e nas Américas
a planta seguiu seu trajeto em direção à Rússia Moderna. A planta
450 a.C.
também despertou interesse nos gregos. Há registros de uso para o
tratamento de dores de dente e dores do parto.
A cannabis foi inserida e espalhada pela Europa sendo usada como
matéria-prima para as embarcações, com a confecção de cordas e
1.500
tecidos de cânhamo. Além disso, passa a ser usada como medicamento
psicotrópico.
Os ingleses a utilizaram para a produção de cordas e tecidos. Por
séculos, a Inglaterra, considerada uma grande produtora têxtil, adotou
100 a.C. o cânhamo para a produção de vestimentas. Há estudos que afirmam, O Rei da Inglaterra Henry VIII (1491-1547) obrigou fazendeiros a
inclusive, que cerca de 80% dos tecidos fabricados na idade média 1.533 cultivarem o cânhamo, destacando importância econômica da planta.
até os anos 1920 foram produzidos a partir do cânhamo.
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Agricultor Norte Americano
Outros fatos sobre a cannabis no Brasil Agricultor americano em frente à uma plantação de cânhamo, identificada como da
• Surge entre os escravos o termo “maconha”, que significa tabaco no dialeto angolano. espécie Cannabis Indica, devido à altura das plantas (maiores do que 1m60).
• A única proibição da utilização da cannabis entre os escravos era durante o trabalho, uma
vez que o consumo da planta, segundo relatos da época, tornava-os preguiçosos. Foi por
meio dos escravos africanos que os índios brasileiros conheceram a cannabis e começaram
a plantá-la.
• É possível observar que a palavra maconha é um anagrama da palavra cânhamo.
Cannabis e Indústria
1.789
O Início da Idade Contemporânea é marcado pela ascensão industrial da Produção de sabonetes em barra usados como produtos tópicos para queimaduras,
cannabis, quando o uso recreativo ou adulto tinha pouca relevância. alergias e outros. E extratos da cannabis envasados em garrafas de vidro e usados contra
tosse, enjoo e outros tratamentos.
A cannabis foi incluída na farmacopéia americana com indicação para o
1.850 tratamento de males como neuralgia, cólera, alcoolismo, gota. A extração
era feita a partir de espécies de Cannabis Indica.
1.930 Nos EUA, tem início a principal campanha contra cannabis, liderada por
Harry Jacob Anslinger, um alto funcionário do Governo Norte-Americano.
FONTE: Reprodução do palestrante
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Cigarros Índios Grimault A guerra contra a cannabis
Eram indicados para o tratamento de asma, eliminação de catarros e combate à insônia. No início do Século XX, a cannabis começa a ganhar destaque por seu lado B, devido
O anúncio publicitário dos cigarros produzidos com Cannabis Indica, publicado na Gazeta aos efeitos psicotrópicos.
Médica de São Paulo, em 1910, informa, em vocabulário de época:
“A dificuldade em respirar, a roncadura, os flatos, a aspiração sibilante acabam quasi logo, produz-se
uma expectoração abundantíssima, quasi sempre em pouco tempo, torna-se mais fácil, a respiração, Eclodiu a Revolução Mexicana e, para fugir da violência que se espa-
mais branda a tosse e um dormir reparatório afasta todos os symptomas assustadores que se tinham lhou pelo país, os mexicanos emigraram em massa para os Estados
manifestado”. Unidos da América. Eles levaram consigo a cultura da cannabis recreativa,
1.910 bastante disseminada entre a população local. Naquele momento, a
cannabis passou a ser chamada de “Marijuana” nos EUA e começou a ser
identificada e relacionada à classe pobre e imigrante da América.
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Mídia impressa Outros fatos sobre o período de guerra contra a cannabis
• Atribui-se à cannabis a total perda de consciência, da capacidade de discernimento e
Um jornal americano
publica reportagem sobre um um alto nível de dependência química, afirmações que as pesquisas atuais mostram
mexicano que, “enlouquecido ser falsas.
pela cannabis”, teria invadido • A motivação político e social faz surgir um enorme preconceito contra a cannabis e o
um hospital e esfaqueado seis estigma que está levando mais de 100 anos para serem desfeitos.
pessoas.
• Com o objetivo de desassociar a planta do estigma criado, recentemente, o mercado
prefere chamar a planta apenas de cannabis.
Foi lançado o Filme Reefer Madness - A loucura da maconha, A cannabis ressurgiu com o movimento sociocultural Beatnik e provou ser
1.950
amplamente divulgado e que em sua trama mostra, em especial, o mais forte que as decisões políticas.
1.936 quanto as mulheres enlouqueciam e se perdiam em orgias por causa
da planta, enquanto os homens se tornavam violentos e marginais, por
ficarem atordoados após o uso da cannabis.
O cientista israelense Raphael Mechoulam, com apoio do Governo de
Israel e da Universidade onde atuava, isolou e descreveu a estrutura de
1.960
dois dos canabinoides mais utilizados na medicina atual: THC e o CDB.
1.938 No Brasil, a criminalização da cannabis tem início sob o governo do então O Estado da Califórnia se tornou o primeiro a legalizar o consumo da
1.996 cannabis.
presidente Getúlio Vargas
30 31
Outros fatos “pós-guerra” contra a cannabis
• Até hoje a cannabis não foi legalizada na esfera federal nos EUA, fato que cria 1980
A cientista Allyn Howlett descobriu, nos EUA, o receptor humano de
desajustes impactantes em diversos sentidos. Por exemplo: um paciente não pode endocanabinoides, o CB1. O CB2 é descoberto em seguida.
se deslocar de um Estado para outro levando consigo o seu medicamento, pois é
proibido cruzar fronteiras com componentes da cannabis.
O Professor checo Lumír Ondřej Hanuš, químico analítico e principal
autoridade em pesquisa da cannabis, junto com William Anthony
• Os impactos também são observados nos negócios americanos relacionados à 1992 Devane, descobriu o endocanabinoide Anadamida, também
cannabis. Eles são obrigados a operar somente com cartão de débito ou dinheiro, pois conhecido como “a molécula da felicidade”; em seguida, descobre-se
estão proibidos de se vincular com bancos federais e a cartões de crédito. Um entrave outro endocanabinoide, denominado 2AG.
importante que - uma vez vencido - poderá abrirá um espaço enorme para a cannabis
em todos os países do mundo.
Assim, aconteceu o ressurgimento da cannabis como medicamento e foram
reforçados os seus benefícios para fins terapêuticos. A nova roupagem da cannabis e
Cientistas, pesquisadores e o ressurgimento da cannabis medicinal momento atual do uso desta planta destacam aspectos como o bem-estar, a medicina, os
O conhecimento acumulado ao longo de milênios começa a ser retomado e direitos do cidadão, a economia e outros pontos positivos.
reavaliado publicamente. Assim, acontece o ressurgimento da cannabis como medicamento e
benefícios para fins terapêuticos. A nova roupagem da cannabis destaca o bem-estar, a
medicina, os direitos do cidadão, a economia e outros benefícios, que retratam o momento PROFESSOR RAPHAEL MECHOULAM
atual do uso desta planta.
1930 Dois cientistas isolam o CBD, mas não estudam a sua estrutura.
1970 Professor brasileiro emérito da UNIFESP, Elisaldo Carlini descobre a FONTE: Reprodução do palestrante
relação entre o CBD e a redução de convulsões.
32 33
Ele conta que seu objetivo, revolucionário naqueles anos, ao voltar a estudar a planta, Uma visão moderna sobre a cannabis: Onda de legalizações
surgiu por meio da compreensão de que “Para entender a farmacologia e realizar estudos Com a base científica lançada, a cannabis passou a ser vista com outros olhos e
clínicos é necessária uma forte base química”. iniciou-se a onda de legalização que invade o planeta e que mantém avanços. Não poderia ser
diferente, uma vez que se pressupõe que o sistema endocanabinoide, descoberto em 1992,
está relacionado a todas as doenças humanas.
PROFESSOR LUMÍR ONDŘEJ HANUŠ
Entre os países que se destacam estão Uruguai (2013), Canadá (2018), EUA (cerca de 35
Estados, proibição em nível federal).
34 35
CONCLUSÃO
A medicina geralmente é a porta de entrada da cannabis na regulamentação dos países e
REFERÊNCIAS
hoje é possível observar um rápido crescimento do uso da planta, com destaque para os fins SUMLER, Byalan. High History: Cannabis in the Ancient World | High Times. 7 de Abril de
medicinais. Porém, é importante citar que o potencial econômico da cannabis recreativa, ou 2017.
de uso adulto, é até 10 vezes maior do que o da cannabis medicinal. Essa é uma informação Visitado em Agosto/2020.
a partir da experiência de Estados americanos como o Washington e o Colorado.
The People’s History. Volume 13, Number 2: Sept./Oct., 2000.
As pesquisas estão avançando rapidamente, mas não tão rapidamente quanto Visitado em Agosto/2020
gostariam os cientistas, como o Professor Mechoulam, e também, infelizmente, como os .
pacientes e suas família desejam. Todavia, lentamente as barreiras do estigma estão sendo MILLS, James H.. Cannabis Britannica: Empire, Trade, and Prohibition 1800-1928. 2005.
derrubadas mesmo que ainda haja um trabalho enorme a fazer. Certamente, a comprovação da
segurança do uso da planta, seja para fins medicinais ou recreativos, estão colaborando para NEWTON, David E.. - A Reference Handbook. 2013.
isso.
Filme: Ilegal, a Vida não Espera
O Coronavírus está ajudando a transformar cannabis em uma nova estrela da me-
dicina e pode-se relacionar com o famoso ditado “há males que vêm para o bem”. Os DEITCH, Robert - Hemp American History Revisited: The plant with a Divided History.
dispensários americanos foram considerados comércios essenciais durante a primeira 2003.
detecção de contaminações. Essas lojas especializadas em produtos canábicos não
participaram do fechamento global imposto nos EUA no primeiro período do isolamento. Carlini EA, Galduróz JCF, Noto AR, Nappo SA. I levantamento domiciliar sobre o uso de
drogas psicotrópicas no Brasil - 2001. São Paulo. CEBRID, 2002.
Além disso, em diferentes países, incluindo Israel e Brasil, estão sendo realizadas
RDC 327/2019 - A Autorização Sanitária para produtos de cannabis no Brasil
pesquisas para verificar se a cannabis pode, devido ao seu efeito antiinflamatório, ser
Consultado em agosto/2020
usada para evitar as tempestades de citocinas, provocadas pela COVID-19, e que agravam o
quadro do paciente infectado.
RDC 335/2020 - Atualização e evolução da RDC17/2015 sobre uso compassivo de
cannabis medicinal
A indústria de cannabis também vem sendo citada cada vez mais como uma
Consultado em agosto/2020
alternativa econômica para o momento pós-pandemia. Os números dessa indústria crescem
exponencialmente a cada ano e, de fato, trazem esperança como um apoio à recuperação
RDC17/2015: a permissão de uso compassivo da cannabis medicinal
da economia.
Consultado em agosto/2020
Alguns países declaram abertamente que essa é sua proposta, como é o caso Líbano que
recentemente legalizou o plantio da cannabis.
Outro aspecto do qual vai começar a se falar cada vez mais é a necessidade de promover
a reparação social frente aqueles que ainda pagam um preço muito alto, por vezes com prisão
perpétua, por terem, no passado, comercializado ou simplesmente utilizado a cannabis.
36 37
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Palestrante: Lumír Ondřej Hanuš é um químico analítico tcheco e uma das principais
autoridades no campo da pesquisa sobre cannabis. Trabalha com pesquisas sobre
cannabis há 50 anos e atualmente reside em Jerusalém. Realizou 30 anos de pesquisa no
Departamento de Higiene e Epidemiologia, além de ministrar aulas na Faculdade de
Medicina da Universidade de Palacký. De 1955 a 1990, conduziu pesquisas sobre cannabis
enquanto atuava com o preparo de extratos de cânhamo para uma farmácia do
hospital que eram usados no tratamento de pacientes do hospital. Professor Lumír foi um
dos responsáveis por isolar e descrever pela primeira vez a estrutura da anandamida, um
neurotransmissor canabinoide endógeno.
Resumo
A pesquisa sobre cannabis dos últimos 50 anos nos apresentou dados inéditos não só
sobre a planta, mas também sobre o corpo humano, as patologias que acometem a
população e evidenciou novas opções de tratamento para uma série de doenças.
O sistema endocanabinoide foi identificado através dessa pesquisa. Hoje, já se sabe sobre
sua importância para manter a homeostase do corpo.
Mesmo com todo o avanço, a pesquisa sobre cannabis ainda está em sua infância e existe
muito potencial a ser investigado e evidenciado para mundo.
Tipos de cannabis
Nos Estados Unidos é comum classificar a cannabis de três diferentes formas: com alto
THC, alto CBD e cânhamo. Também nomeadas em outros países como Sativa, Indica e
Ruderalis, respectivamente. No entanto, há apenas uma planta: a Cannabis Sativa, que
possui diferentes quimiotipos. As diferenças entre as classificações adotadas pelo mundo estão
apenas na relação e na quantidade de compostos contidos na planta Cannabis Sativa.
38 39
Eu corri e vi: era cannabis!” resultados do tratamento não sejam tão positivos quanto poderiam. Os efeitos psicológicos
A cannabis é uma planta muito antiga e erradicá-la é quase impossível, pois ela é capaz de da crença do paciente são fundamentais no processo de tratamento e melhora.
se adaptar e estar em qualquer lugar. Este fato, somado às evidências históricas encontradas
que remetem há milhares de anos, revela que ela foi usada desde a antiguidade. Fatos históricos
Acredita-se que a mais antiga aparição da cannabis é da República Checa, onde existem
A cannabis é uma planta dióica, ou seja, possui plantas masculinas e femininas. A floração evidências compatíveis com a planta. Na imagem abaixo é possível ver um tipo de rede que
feminina é a mais importante, pois é a partir dela que são extraídos os componentes que era preparada para o uso há cerca de 25 mil anos atrás.
servem para as aplicações possíveis da planta.
Tricomas são bastões com esferas no topo. São nestas esferas que os terpenos,
terpenoides e canabinoides se originam. Todos os compostos são fundamentalmente
importantes para tratamentos com cannabis.
A cannabis possui uma variedade de efeitos benéficos para a saúde e pode ser aliada no
tratamento de uma longa lista de patologias. No entanto, a planta é apenas metade da cura,
a outra metade é a crença de cura. Não acreditar que a cannabis pode ajudar faz com que os
40 41
Na Judéia, na cidade de Beit Shemesh, encontraram o túmulo de uma jovem mulher
e, em sua região abdominal, havia um feto. Ela provavelmente era muito jovem para dar
à luz e teve hemorragia. Junto ao corpo estava um material carbonizado que foi levado
ao laboratório do professor Lumír. Nos resultados de análise constatou-se a presença de
Delta 8 THC. Isso sugere que, já naquela época, a cannabis era utilizada como
medicamento.
Recentemente, os jornais israelenses publicaram a descoberta de altares onde havia FONTE: Reprodução do palestrante
resina e alguns outros compostos de cannabis em Tel Arad, Israel. Portanto, há 2.700
anos a cannabis foi usada também em Israel.
Heródoto de Halicarnasso escreveu que os Citas no século 5 a.C. (também há
cerca de 2.500 anos) aqueciam pedras e, sobre as pedras quentes, jogavam sementes de
cannabis. Eles cobriam suas cabeças com cobertores e inalavam a fumaça que se
formava. Após um tempo, ficavam intoxicados e uivavam como lobos.
42 43
GRANDES NOMES E DESCOBERTAS DA CANNABIS
44 45
O professor Shantavy enviou à imprensa suas notas de publicação sobre a estrutura do
Harry Anslinger - Em 1937 nos Estados Unidos, surgiu Harry canabidiol e mencionou que foi informado pelo professor Mechoulam que ele e sua equipe
Anslinger, que começou a proibição de cannabis com “Marihuana Tax também chegaram à mesma estrutura de canabidiol. No mesmo ano, o Professor Mechoulam
Act of 1937”. Foram produzidos filmes com informações equivocadas, publicou a estrutura do canabidiol e mencionou que o professor Shantavy havia, mais uma
afirmando que a cannabis era muito perigosa, o que não era verdade. vez, chegado à configuração absoluta deste composto.
A classificação da cannabis aconteceu dessa forma porque o tecido
de cânhamo competia com o algodão e as fibras sintéticas. Então, por Em 1964, Gaoni e Mechoulam elucidaram e estruturaram o Delta-9 THC. Naquele ano, o
interesses políticos e financeiros, acharam necessário proibi-la. professor Shantavy, na Tchecoslováquia, também publicou a descoberta da estrutura exata
deste composto psicoativo. Infelizmente, o professor Shantavy não foi reconhecido, mesmo
Houve um longo período de silêncio e em 1950 houve o renascimento
do uso da cannabis medicinal Tchecoslováquia. quando publicou em inglês, na Universidade de Acta. Então, professor Lumír busca sempre
informar ao mundo sobre os excelentes cientistas que fizeram parte da história da pesquisa
sobre cannabis.
46 47
Sistema endocanabinoide A expressão dos receptores CB1 está principalmente no cerebelo; e dos receptores CB2
Na Universidade de St. Louis, o cientista William Devane descobriu um receptor principalmente no baço. As Ilhotas de Langerhans têm também uma grande quantidade, isso
canabinoide no cérebro. Se trata de um composto enorme com 372 ácidos: o CB1. indica que os canabinoides (sejam endógenos ou exógenos) podem influenciar pacientes com
diabetes, por exemplo.
48 49
Os resultados mostraram que composto mais importante da cannabis - o THC - e o Após a descoberta dos receptores e dos endocanabinoides, verificou-se a existência de
composto cerebral - a anandamida - se ligam ao mesmo lugar do corpo e realizam as todo o sistema endocanabinoide. Um dos sistemas mais importantes do nosso corpo.
mesmas atividades. Foi descoberto também que a anandamida está em concentrações
picomolares no cérebro. E, de fato, tudo começou quando foram descobertos os compostos CBD e THC, depois a
anandamida, 2AG e os receptores canabinoides.
Mais tarde, o Dr. Devane saiu da equipe e realizou outros estudos com o professor Lumír.
50 51
Funcionamento do sistema endocanabinoide “Tudo o que a Anadamida faz, o THC faz também”
A analogia mais conhecida e propagada sobre o sistema endocanabinoide o exemplifica
com o receptor sendo uma fechadura e os canabinoides sendo a chave. Cannabis x Panaceia
Em comparação com o álcool e os cigarros, a cannabis é uma substância muito mais
Quando a chave entra na fechadura, começam todos os efeitos conhecidos e segura. Isso porque não há registros de óbitos pelo seu uso. Já pelo consumo de álcool e de
relacionados ao uso da cannabis, ou seja, começa o tratamento. cigarro as pessoas morrem o tempo todo.
Além disso, cultivar um mesmo quimiotipo em Israel, no Brasil, nos Estados Unidos ou
na União Soviética poderá resultar em medicamentos diferentes. Colhê-lo em diferentes
estágios de desenvolvimento também. De modo que é um desafio que esta padronização
seja realizada.
O maior desafio do tratamento com cannabis é que, muitas vezes, os pacientes a utilizam
e já na primeira vez acertam exatamente qual o tipo de cannabis precisam, mas esta não é
a realidade de todos. Muitos pacientes terão que mudar muitas vezes de cepas/ produtos/
concentrações de canabinoides para encontrar o tratamento adequado.
52 53
Efeito comitiva
A teoria do efeito comitiva, ou Entourage Effect, demonstra que o uso da planta inteira A cannabis também serve como medicamento órfão. Ou seja, em doenças raras
de cannabis pode ser mais seguro e eficaz por conta do efeito sinérgico entre todos os como Síndrome de Dravet, Tourette, Síndrome da Pessoa Rígida, Acalasia, Hipertensão
compostos derivados dela. intracraniana idiopática e, assim por diante, muitas vezes os médicos não podem ajudar
o paciente e é através da cannabis que o paciente é tratado, pelo menos paliativamente.
A sinergia é basicamente o trabalho em conjunto, ou seja, se tivermos dois compostos
ativos juntos, eles serão mais potentes do que se usarmos separadamente. Recentemente, os médicos Dr. Pacher e Dr. Kunos, do NIAAA, o National Institute of
Alcohol Abuse and Adiction do Instituto Nacional de Saúde, em Bethesda, mencionam
O efeito de comitiva em si tem uma proposta diferente, no entanto, hoje a em uma publicação que “provavelmente em um futuro próximo trataremos quase todas
expressão também é usada para caracterizar esta sinergia. Originalmente, o efeito comitiva as doenças com cannabis”. Eles apoiam esta forte declaração com uma longa lista de
foi descrito por Raphael Mechoulam indicando que ao usar um composto ativo exemplos, mesmo que ainda apenas in vitro ou in vivo em animais, porque os leis ainda
juntamente com um composto inativo, a atividade será maior do que apenas o composto restringem as pesquisas com cannabis em humanos em muitos países.
ativo sozinho.
Efeitos anti-câncer da cannabis
Idade x Uso da cannabis A cannabis se tornou muito popular com a história de Rick Simpson, que tratou seu
O núcleo cinza do cérebro, geralmente, está em desenvolvimento até os 25 anos. Por câncer de pele utilizando-a. A maior vantagem dos efeitos anti-câncer da cannabis é
este motivo o uso de canabinoides antes desta idade deve ser cuidadosamente avaliado que a planta combate as células cancerígenas e não prejudica as células saudáveis. O
pelo médico e pelos pais. Normalmente, quando as crianças possuem doenças refratária é princípio é a utilização da planta na ativação da apoptose, de forma que as células
mais fácil tomar esta decisão. No entanto, ao tratar um cérebro já desenvolvido (após os 25 cancerosas morram.
anos) não há relatos de resultados prejudiciais.
Canabinoides e endocanabinoides trabalham não só com os receptores CB1, CB2 e
Um dado relevante é que, felizmente, a maioria dos adolescentes que abusam da TRPV, como também de forma não conectada a eles. A planta pode oferecer benefícios
cannabis não se tornaram adultos psicóticos. ao tratamento oncológico influenciando a apoptose, a proliferação, a migração, além de
metástases e angiogênese.
Então, não significa que todos serão afetados desta forma, mas podem haver
quimiotipos prejudiciais para este grupo em especial. Hoje, sabe-se que ela atua melhor sobre glioma, câncer de mama, câncer de tireoide,
câncer de cólon e câncer de próstata. Portanto, pode ser um tratamento muito útil.
Anos atrás, a cannabis tinha entre 5% e 10% de THC. Hoje é possível encontrá-la com
até 30% deste composto. Comumente, esses tipos de cannabis possuem baixo CBD e O tratamento com cannabis não é apenas canabinoides
podem ser perigosos para o paciente do ponto de vista psicótico. Ao testar diferentes cepas de cannabis ricas em THC com concentrações de
canabinoides iguais, constatou-se que os efeitos em pacientes foram distintos. Isso
No caso de uma pessoa adulta mentalmente saudável não há perigo. O único ponto de significa que estes não são os únicos compostos provenientes da planta que são
atenção é o risco de superdose, que apesar de não ser prejudicial, é muito desconfortável. relevantes para tratamentos de saúde.
Consumidores recreativos quando consomem uma superdosagem chegam a Até agora foram identificados, em diferentes quimiotipos, 1.495 compostos na
chamar ambulância porque ficam com a sensação de que vão morrer. Se conseguirem cannabis. Dos quais 175 são canabinoides.
ficar calmos, quando o efeito passar, estarão bem.
Professor Lumír afirma não ser uma boa ideia o trabalho desempenhado por muitas
Para o uso medicinal não existe este risco, uma vez que as concentrações de empresas farmacêuticas, pois acredita que desta forma elas não conseguiram lucrar com
canabinoides são controladas e evidenciadas, garantindo que não haja uma sobredose. este mercado.
Além disso, eles podem ser administrados em óleos, cápsulas, supositórios, cremes e em
muitas outras apresentações que permitem ao médico e ao paciente controlar melhor a As empresas desenvolvem produtos sintéticos que mimetizam canabinoides puros.
dose. Por este motivo, a titulação da dose também se torna indispensável. Todavia, já foi provado - e essa prova começou com casos anedóticos - que durante a
preparação de drogas à base de cannabis existem muitos compostos com funcionamento
Também é muito importante entender qual paciente não deve receber o tratamento com melhor quando em conjunto do que o composto puro.
cannabis. O princípio básico é, antes de iniciar o uso, investigar minuciosamente se existem
contraindicações para o paciente ou patologia a ser tratada.
54 55
A Tikun Olam é uma empresa que produz onze quimiotipos com a proporção de THC O objetivo das pesquisas do Lumír Lab no momento é compreender amplamente sobre
para CBD de 20:1. Cada um desses quimiotipos é específico para uma doença e agem o tratamento da endometriose com cannabis, a partir de testes in vitro, depois testes in vivo
de diferentes formas em pacientes distintos. Isso porque cada pessoa possui cargas ge- e estudo clínico e, finalmente, o tratamento.
néticas individuais e, por este motivo, pacientes com a mesma patologia eventualmente
precisarão de diferentes cepas de cannabis. Ciência brasileira em destaque: Elisaldo Carlini
Em 2011, Charlotte Figi, uma criança de cinco anos de idade, foi diagnosticada
Autismo com epilepsia refratária por síndrome de Dravet. A família da menina descobriu que o
A dosagem ideal dos canabinoides é aquela que usa o mínimo de compostos para canabidiol a ajudava. Então, imediatamente esta possibilidade de tratamento com cannabis se
obter o máximo efeitos terapêuticos positivos. popularizou.
No caso do autismo, a cannabis reduz a ansiedade e a violência em crianças. Em Infelizmente, este ano (2020) Charlotte Figi faleceu em decorrência do coronavírus - que
Israel, algumas crianças diagnosticadas com a patologia são tão violentas que tornam-se acomete mais pacientes do que pessoas saudáveis - provavelmente porque ela já tinha
perigosas para os outros e para si. Há situações em que esses pacientes precisam ser uma pré-condição que somou-se ao Covid-19.
amarrados na cama para serem protegidas.
Há 40 anos, o professor brasileiro Dr. Elisaldo Carlini e professor Mechoulam
Com o uso da cannabis houve melhora significativa nestes casos. A maior parte dos estudavam o canabidiol em pacientes epiléticos e descobriram que ele é muito útil.
pacientes apresentaram resultados positivos nos ataques, agressões, automutilação, Infelizmente, naquele tempo ninguém estava interessado neste tema. Apenas quando
entre outros sintomas. Alguns deles não tiveram alterações, outros tiveram exacerbação. o caso de Charlotte Figi ganhou projeção midiática esta possibilidade de uso tornou-se
. popular.
Constatou-se também uma diferença entre a resposta do sexo masculino ou feminino.
No sexo masculino, os resultados foram melhores em todas as vezes. Eles usaram uma
variedade de cannabis com uma gama mais ampla de canabinoides. CONCLUSÃO
Considerando toda a pesquisa sobre cannabis, existem cerca de 177
Algumas das crianças com autismo avaliadas e que utilizaram a cannabis tornaram-se canabinoides. No entanto, existem também terpenos, terpenoides, flavonoides e glicosídeos
muito educadas. E mesmo aquelas que estavam em leitos de hospitais receberam alta flavonoides. Além de esteroides, polifenóis, outros compostos e também compostos ainda
com base na melhora apresentada. desconhecidos que não estão sendo estudados.
Lumir LAB É preciso estimular a pesquisa, pois através dela será possível encontrar tratamentos
Aposentado da Universidade Hebraica, o professor Lumir começou a trabalhar em seu em potencial que sejam eficazes e seguros para uma série de patologia que ainda não são
próprio laboratório: o Lumir Lab. Um laboratório desenvolvido com a empresa Asana, tratadas adequadamente.
que conta com instrumentos avançados para análise de vários níveis diferentes como
cromatógrafos líquidos, cromatógrafos gasosos, espectrometria de massa por Professor Lumír acredita que há um número crescente de pessoas interessadas em
cromatografia em fase gasosa. Tudo do mais alto nível para estudar canabinoides e trabalhar legalmente com cannabis. E se diz feliz por estar neste mercado há 50 anos.
terpenoides.
Os estudos em andamento são sobre endometriose, uma doença muito grave e “Uma pessoa que tem o dom para curar e ajudar não vende suas
dolorosa que afeta cerca de 10% das mulheres. Na Austrália, uma em cada nove habilidades por somas duras e não abusa de situações difíceis
mulheres convivem com a patologia. de pacientes gravemente doentes.”
Mulheres possuem receptores CB1 e PPAR no útero, no ovário há CB1, CB2, PPARs e Doentes graves, às vezes, gastam todo o seu dinheiro no mercado ilegal por algo que
FAAH. Ou seja, os órgãos reprodutivos femininos trabalham amplamente com receptores pode não ajudá-los. Para evitar este comportamento, é muito importante que a cannabis
canabinoides e endocanabinoides. seja legalizada para os pacientes. Desta forma, todos que necessitam dela poderão usá-la
adequadamente.
A endometriose geralmente ocorre como peritoneal, ovarial retovaginal (entre o reto e a
vagina) ou adenomiose (quando fica no útero). Isso justifica a importância da anandamida
e do 2AG para elas.
56 57
No entanto, é possível garantir a segurança e qualidade de um produto à
base de cannabis avaliando, pelo menos, cinco diferentes aspectos, são eles:
(1) agrotóxicos; (2) metais pesados; (3) mofos, bactérias e leveduras; (4) concentração
de canabinoides e (5) resíduos solventes. Em cada um destes fatores avaliados há
uma margem de permissividade. Quando os elementos inspecionados estão acima do
permitido considera-se o produto inadequado para consumo medicinal. Há, ainda, o
quinto - e mais importante- item de avaliação, que é exatamente a informação contida no
COA: a concentração de canabinoides.
1. Agrotóxicos
Os agrotóxicos são químicos utilizados no processo de cultivo para garantir que não há
insetos causando dano às plantas e, consequentemente, ao produto final. Apesar de
justificável, o uso de pesticidas pode resultar em resíduos alojados na flor de cannabis,
que permanecem na extração e chegam ao produto final.
Palestrante: Yoav Giladi é formado em biologia e possui vasto conhecimento no cultivo
da cannabis. Trabalhou no Departamento de Pesquisas de Fitopatologia da Organização Para avaliar a presença de agrotóxicos no produto é possível utilizar o LC-MS/MS -
de História Cultural. O pesquisador e cultivador israelita em sua mais recente publicação estudo de Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas. Nele são
elucidou a descoberta de uma nova doença que afeta as plantas de cannabis: um vírus apresentados os diferentes agrotóxicos inspecionados.
com DNA de fita única.
No exemplo abaixo pode-se observar que todos os produtos estavam abaixo do limite,
Resumo portanto estão livres de pesticidas e são seguro para serem receitados aos pacientes.
Diante do crescimento apresentado pelo mercado da cannabis medicinal nos últimos
anos, a oferta de produtos que possuem a planta em sua composição também aumentou. PESTICIDES
Entretanto, mais produtos disponíveis não significa necessariamente mais
qualidade. Por este motivo é fundamental que médicos, pacientes, fornecedores,
produtores e distribuidores sejam capazes de identificar quais elementos caracterizam
um produto à base de cannabis seguro. Este conhecimento confere mais autonomia na
hora de escolher a origem do produto que será utilizado em um tratamento de saúde. O
documento COA (Certificado de Análise) apresenta todas as informações sobre a
composição do produto.
Exigir este documento dos fornecedores de produtos à base de cannabis, bem como,
saber interpretá-lo tem como consequência um tratamento mais seguro, e possivelmente,
mais efetivo para o paciente.
Existem diversas técnicas para cultivar uma planta de cannabis adequada para uso
medicinal. Há também uma série de etapas entre a semente e o produto que será
prescrito pelo médico e consumido pelo paciente. As muitas fases deste processo FONTE: Reprodução do palestrante
implicam em mais chances de erros ao longo dele.
58 59
2. Metais pesados 3.2. Toxinas
O segundo ponto a ser observado é a presença de metais pesados como arsênio, A tolerância para toxinas em produtos à base de cannabis é muito baixa: seis partes por
cádmio, mercúrio e chumbo. Isso pode ocorrer devido ao cultivo de cannabis em solos bilhão. O monitoramento é feito por meio do LC-MS/MS em que são analisadas a presença
contaminados, rega realizada com água poluída ou em cultivos próximos a indústrias que por micotoxinas, aflatoxinas e ocratoxinas.
emitem gases poluentes, estações de trem e estradas. A poluição se propaga pelo ar,
contamina a flor da cannabis e se mantém no produto final. 4. Concentração de canabinoides
O aspecto mais desafiador da produção e análise dos produtos à base de cannabis é o
O solo é o fator determinante para um cultivo que resulte em produtos adequados e conteúdo de canabinoides.
seguros para consumo do paciente. Por este motivo, existem diversas limitações e
restrições no solo onde o cultivo de cannabis é permitido. Um exemplo é que, em Há uma grande variedade de tipos de cannabis, com diferenças morfológicas em
Israel, é obrigatório que o cultivo de plantas usadas para fins medicinais aconteça em solos suas respectivas aparências. Essas diferenças também ocorrem nas concentrações de
desintoxicados. canabinoides de uma planta.
Quando os níveis de metais pesados estão presentes em um grau maior que o permitido
em uma amostra de cannabis, ela é reprovada e todo o lote deve ser desqualificado para NATURAL VARIATION WITHIN THE CANNABIS PLANT
garantir a segurança do produto final. (Variações naturais das plantas de cannabis)
3.1. Fungos
Para monitorar patogenias em plantas, realiza-se um ensaio sobre coliformes. No
exemplo abaixo, a quantidade total de bactérias aeróbicas, coliformes, levedura e mofo,
estão abaixo do limite. Portanto, esta amostra foi aprovada.
60 61
HIGH THC EXEMPLE O potencial total de THC é a soma do THC já presente com o THC estimado que virá
(Exemplo de THC alto) com a descarboxilação, processo onde o THCA se transforma em THC.
Vale estar atento a este número, pois em alguns casos podem ser apresentadas
informações enganosas, nas quais a quantidade total de THC é copiada do valor de
THCA.
O potencial total de THC e de CBD sempre deve ser considerado em produtos à base
de cannabis.
Outro aspecto que vale mencionar são os números: “Potencial Total de THC” e
“Potencial Total de CBD”.
62 63
Nota-se também que o THC está presente. Ele sempre estará presente quando Esta amostra foi reprovada pela alta quantidade de etanol. Embora ela tenha
houver extração total da planta, pois é extraído junto com o CBD. Há também uma falhado, o motivo pela reprovação abre margem para discussão, pois sabemos que o
pequena quantidade de CBG. etanol não é uma substância tóxica. As pessoas o consomem em grandes quantidades.
Ou seja, não é tão perigoso quanto outras moléculas como o heptano e o hexano, nas
Como retratado anteriormente, o perfil canabinoide de cada planta pode variar. quais há potencial cancerígeno.
O COA de um produto à base de cannabis deve apresentar todas as informações
sobre seus canabinoides e concentrações, pois estes fatores influenciam diretamente Prestar atenção aos resíduos de solventes é muito importante, este fator também
as propriedades e aplicações terapêuticas do produto final. O certificado de pode desqualificar o uso de um produto à base de cannabis.
análise garante que os devidos testes foram realizados no lote que está sendo
prescrito/consumido. O que confere mais segurança ao médico e ao paciente. Por fim, é fundamental ter atenção ao armazenamento destes produtos, uma vez
que aspectos como armazenamento incorreto, erro na etiquetação e muitos outros,
5. Resíduos solventes têm a possibilidade de prejudicar a segurança do consumo, afetando diretamente os
Para garantir a segurança de um produto à base de cannabis é preciso se certificar resultados do tratamento.
de que não existam resíduos de solventes na planta.
Verificar com o fornecedor do produto à base de cannabis quais são as instruções
Resíduos de solventes são um bioproduto do método de extração da cannabis. Há para armazenamento correto tanto do produto lacrado, quanto após ter sido aberto
muitos métodos para fazer o extrato de cannabis. É possível usar diferentes tipos de também garante que não haja prejuízos na qualidade.
solventes, como por exemplo, Isopropanol e etanol. Estes químicos podem permanecer
no óleo após a extração.
SOLVENT RESIDUES
(Resíduos de solventes)
64 65
Palestrante: Fabrício Pamplona é cientista e empreendedor brasileiro de destaque
internacional, tendo empreendido duas startups na área de tecnologia e atuado como
Pesquisador Convidado do Instituto Max Planck de Psiquiatria (Alemanha) e como
Pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e como Diretor Científico da
Entourage Phytolab. Atualmente, está focado em desenvolver soluções de diagnósticos
voltadas ao sistema endocanabinoide e prescrição assertiva de canabinoides. Fabrício
possui background científico sólido em Psicofarmacologia, mais de 1800 citações no Google
Scholar e é Conselheiro do CNPQ, no âmbito de tecnologia e informação.
Resumo
As administrações de produtos à base de canabinoides são amplas. São diferentes
produtos, composições e expectativas em relação aos efeitos, dependendo da
farmacotécnica e a apresentação do produto. Assim, é importante que os médicos e
pacientes recebam orientações sobre as diferenças entre as vias de uso possíveis e as
aprovadas no Brasil; a farmacologia, a degradação e o metabolismo dos canabinoides.
A Medicina Personalizada surge como uma novidade no ano de 2020 e é possível aplicar
esse conceito em canabinoides com os produtos e as composições disponíveis no momento.
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A PLANTA DA CANNABIS E SEUS EXTRATOS Embora a folha da cannabis (imagem1) seja considerada um símbolo tradicional da
planta, ela é apresentada, principalmente, como um artefato de comunicação. Isso porque
os grandes princípios ativos, ou seja, os canabinoides como, por exemplo, o THC e o CBD,
estão presentes, em sua maior parte, nas flores e, mais precisamente, nas inflorescências
(imagem2), locais de maior concentração desses ativos.
Estes são os compostos produzidos pela planta e que não têm característica
metabólica primária. Isso significa que eles não são necessários para ela sobreviver,
FONTE: Reprodução do palestrante mas são utilizados, entre outros motivos, para a proteção contra insetos e atração de
polinizadores. A partir disso, surge a grande parte das vias bioquímicas, onde se
encontram a maior quantidade dos extratos considerados medicinais.
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Os benefícios da planta são apresentados e conhecidos por grande parte do Para realizar um controle de qualidade, existe uma análise - química ou fotoquímica,
mercado. Os produtos são disponibilizados, de maneira padronizada, previsível, e com chamado de Cromatograma (imagem). Este estudo tem como objetivo identificar o teor
efeitos confiáveis. Mesmo assim, surgiram originalmente os produtos sintéticos. Neste em que são percebidas algumas moléculas ou seus picos. No exemplo, está demonstrada
cenário, observa-se poucos medicamentos registrados no mundo em oposição à uma uma situação básica em que foram notadas as presenças de CBA, CBD, CBN, Delta 9
imensa variedade e disponibilidade de produtos à base de cannabis em diferentes países. ou THC, Delta 8 THC, e THCA. Porém, existem cromatogramas que apresentam várias
outras substâncias canabinoides como CBG, CBC, THCV, TCVD.
O motivo é que, do ponto de vista regulatório, há uma distinção em três principais
aspectos: o que é um produto à base de cannabis, o que é um suplemento alimentar de O cromatograma é o documento que confere maior certeza e segurança para paciente
cânhamo e o que é um medicamento. O desafio do uso terapêutico é, justamente, fazer e médico sobre a produção padronizada, ou composição muito semelhante, em cada
com que a complexidade da cannabis se transforme em matéria padronizada. lote de produtos à base de cannabis. Este é um ponto essencial quando se trata de usos
terapêuticos.
Medicamentos x Produtos x Suplementos alimentares
A principal diferença entre a classificação de Medicamentos, Produtos e/ou Suplementos
alimentares é o controle da produção.
Para obter estes documentos existe um controle de qualidade rígido que se inicia com
a matéria-prima e inclui, principalmente, estudos clínicos que garantam a eficácia e a
segurança do uso. Devido a isso, eles possuem efeitos previsíveis, uma designação
terapêutica e uma indicação na qual é possível afirmar para qual patologia o
medicamento é indicado, bem como, as instruções para determinar a posologia ideal para
uma determinada apresentação. Certamente há exceções pelos efeitos serem variantes FONTE: Reprodução do palestrante
em pessoas diferentes. A seguir serão demonstrados os marcadores mais comumente utilizados, mais
interessantes e que exigem atenção para entender o produto.
Controle de qualidade: macadores
O controle de qualidade está relacionado a uma série de fatores e o principal deles são Serão destacados os principais canabinoides: THC e CBD, e para entendê-los é
os chamados “marcadores”. Isso significa que, ao se produzir um produto farmacêutico preciso conhecer todos os demais, analisar um cromatograma ou averiguar a qualidade
que atenda à normativa regulatória, é necessário garantir que os teores declarados de do produto, bem como a produção, o cultivo e o armazenamento.
determinado princípio ativo estejam presentes na sua composição.
O CBD total que pode ser produzido por uma planta é a soma do CBDA (forma
ácida) com o CBD (forma neutra). Há uma conversão do CBDA em CBD ao longo do
processo de preparação de um produto ou medicamento que será usado por via oral, por
exemplo. Essa conversão acontece ao longo da carburação, durante a produção de um
CBD inalado. É importante lembrar que essa degradação também pode acontecer a partir
do armazenamento inadequado, conhecido como perda de estabilidade, da alteração ou
da composição deste produto ao longo do tempo.
FONTE: Reprodução do palestrante
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Importância dos cromatogramas e marcadores analisados
Ao se observar tantos pontos de um Cromatograma, nota-se a importância de garantir
a qualidade de produtos à base de cannabis dentro de uma regulamentação farmacêutica.
Por isso, a empresa produtora deve apresentar um controle de qualidade rígido em todas
as etapas da cadeia produtiva.
FONTE: Reprodução do palestrante Tem-se como exemplo da necessidade de uma regulação no setor o artigo Quality Traits
of “Cannabidiol Oils”: Cannabinoids Content, Terpene Fingerprint and Oxidation Stabi-
Para a produção de canabinoides ativos, há características que diferem o uso da lity of European Commercially Available Preparations (2018). O estudo fez a avaliação
cannabis por via oral e por via inalada. Como citado anteriormente, existem as formas de óleos de CBD comercialmente disponíveis na Europa. Dos 14 produtos analisados, 9
ácidas e neutras de canabinoides, e dentro das formas de uso, oral e inalada, é importante apresentaram concentrações de princípios ativos diferentes daquelas declaradas no rótulo.
citar a Descarboxilação. Este é o processo da perda de uma carboxila, o ácido carboxílico
orgânico, que resulta na conversão de THCA em THC, e de CBDA em CBD. Em uma regulamentação de alimentos ou suplementos alimentares estes pontos são
considerados mais simples, mas no mercado não regulado da cannabis não existe o
A forma ácida dos canabinoides (por exemplo, THCA e CBDA) é utilizada em controle neste sentido. Devido a isso, é tão importante uma regulação do setor para que
produtos de inalação com aquecimento, como os vaporizadores, onde é necessária a alta todas as empresas produtoras e as associações que produzem os chamados produtos
temperatura para que se converta o canabinoide na forma ativa. artesanais, tenham uma forma de caracterizar os seus produtos para garantir a
composição e a estabilidade.
Na forma neutra (THC ou CBD), o THCA pode ser ativo, mas para se obter o THC e o
CBD, que são usados na forma oral ou por qualquer via que não haja aquecimento durante Farmacocinética
o uso, é necessário submeter ao calor ao longo do processo de fabricação. As vias de administração podem apresentar diferentes efeitos e respostas nos
indivíduos. A imagem ilustra um estudo de farmacocinética em que é citado
A Descarboxilação acontece ao longo do tempo e é acelerada pela temperatura e por exclusivamente o THC e há o comparativo entre as vias mais típicas de uso de
diversas técnicas. Ao relacionar a dependência de tempo e temperatura, ao ser feita a canabinoides: inalada, intravenosa e oral.
descarboxilação no forno, é possível ter uma conversão muito mais efetiva de THCA
em THC, do que ao fazer em banho-maria, pela questão da temperatura mais baixa no No gráfico a seguir é possível notar que elas influenciam no tempo e no perfil de
segundo caso; também pode acontecer a degradação natural, em um processo muito resposta obtida pelos pacientes. O THC tem uma característica interessante pois, por seu
mais lento, de semanas ou meses. Ou seja, eventualmente, ao expor o canabinoide a uma efeito psicoativo, é possível perguntar para o indivíduo sobre a intensidade deste efeito.
temperatura de 150 graus, a degradação acontecerá em pouco minutos. Isso está demonstrado neste gráfico: no eixo vertical (Y) há o efeito psicoativo percebido
subjetivamente, ou seja, perguntado ao indivíduo ao longo das horas após a administração
do canabinoide.
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INTRAVENOSA THC 11-hydroxy-THC Carboxy-THC (THC-COOH)
INALADA Apresenta um pico agudo. Apresenta quase um pe- Demonstra pico mais alto e
ORAL Ele sobe muito rápido e queno pico, mas passa. tem efeito mais persistente.
desce abruptamente. Isso Este metabólito é bastante
significa que o THC per- relevante por ser psicoati-
manece pouco tempo no vo e muito potente.
sangue do indivíduo, e as
sensações passam igual-
mente rápidas.
Um fator que influencia no processo de absorção, distribuição, degradação e excreção de 11-t-THC (11-OH-THC)
uma substância no organismo é chamado Biodisponibilidade. No gráfico a seguir, o processo é Carboxy-THC (THC-COOH)
THC
11-t-THC (11-OH-THC)
Carboxy-THC (THC-COOH)
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Conclusão: há uma diferença notável entre os efeitos produzidos pelo uso do THC pela
THC 11-hydroxy-THC (11-OH-THC) Carboxy-THC (THC-COOH) as vias oral e inalada.
Passa por metabolismo Efeito maior do que o do THC, É gerado em quantidades
de primeira passagem, no representado pela curva mais bastante altas, mas é um Titulação de dose individualizada
fígado e, assim, gera alta. metabólito neutro e não
metabólito muito rápido. confere influência significati-
Representado pela curva va, ou pelo menos que se te-
mais mais baixa. nha conhecimento, de efeito
psicoativo ou qualquer outro.
Nota-se que as quatro curvas apresentam características distintas e, por hora, isso é o
suficiente a saber. A biodisponibilidade dos canabinoides varia de indivíduo para indivíduo.
FONTE: Reprodução do palestrante E apenas a informação de individualidade já sugere a necessidade de personalização
do tratamento, fator que justifica a Titulação Individual de Doses. Ou seja, para o médico
No estudo demonstrado pelo gráfico, é feita uma relação entre a produção de C a r b o x y - prescritor identificar a dose para o paciente, será necessário fazer experimentações e um
THC e de 11-hydroxy-THC, na via oral e na via inalatória. É demonstrada uma média, de ajuste caso a caso. Essa é uma ação bem típica da medicina canabinoide.
vários indivíduos ao longo do tempo:
A cinética química - velocidade das reações químicas e os fatores que as influen-
• Uso oral (linha superior): há uma proporção muito maior de 11-hydroxy-THC sendo
ciam - também se altera ao longo do tempo. Cada uma das curvas, em cada gráfico, é o
gerado e isso já é decorrente do processo de degradação acontecendo de forma mais
comportamento de um indivíduo e seis foram testados.
rápida, pelo fígado.
• Uso inalado (linha inferior): nota-se que o próprio THC tem mais efeito.
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C D
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que os indivíduos com um índice de massa corpórea inferior. É muito importante ter Degradação e metabolismo do CBD
atenção ao ajuste de doses. E para a necessidade de, eventualmente, administrar um Na degradação e metabolismo do CBD outros citocromos participam, ilustrados na
produto à base de cannabis também perceber que, ao longo do tempo, irá acontecer um imagem a seguir.
armazenamento naqueles indivíduos que possuem mais tecido adiposo.
Degradação e metabolismo
Anteriormente foi mencionada a produção de 11-hydroxy-THC e do Carboxy-THC
(THC-COOH), que são produzidos a partir do THC, por enzimas conhecidas como
Citocromos.
Como existem famílias de citocromos que degradam o THC e outras que degradam o
CBD, é possível individualizar e notar casos de indivíduos que têm sensibilidade para o THC
FONTE: Reprodução do palestrante e não têm para o CBD, assim como indivíduos que conseguem biodisponibilidade maior
para o CBD e não para o THC. Os fenômenos podem ocorrer de maneira distinta.
No caso da figura, está sendo destacado o Citocromo P, da família 2C9 (CYP2C9), que é Uma observação interessante, ao analisar uma cadeia completa de degradação
importante no metabolismo, na inativação inicial do THC. (imagem abaixo) de THC, seja pelo CYP2C9 ou seja pelo CYP3/A4, e depois pelo CY2C9, de
11-Hidroxy-THC em Carboxy-THC.
A degradação e a excreção de canabinoides são importantes para eliminação dessas
substâncias do organismo. É a velocidade na qual esse processo acontece que gera os
diferentes metabólitos e faz a quebra das curvas de distribuição observadas.
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Existe também a ação das glucuronidases. Essas enzimas também são diferentes Este é apenas um exemplo e que responderá a uma comum e importante dúvida:
dependendo do metabólito. É possível notar o 11-Hidroxy-THC sofrendo o processo para
inativação e eliminação pelo UGTIA9 e UGTIA10; e o Carboxy-THC sofrendo o mesmo
processo pelo UGTIA1 e UGTIA3. “A cannabis, em especial o THC, pode causar esquizofrenia?”
Interação medicamentosa É importante explicar primeiro que a esquizofrenia não é psicose e não é surto psicótico.
O conhecimento dessas nomenclaturas e siglas de superfamílias de enzimas é muito Ela é uma patologia crônica que acontece em certos indivíduos e que pode ser deflagrada
importante para o processo chamado Interação Medicamentosa, pois deve-se pelo uso crônico de canabinoides.
considerar essa possibilidade em tratamentos combinados entre canabinoides e outros
fármacos. Embora este seja um assunto direcionado, em geral, a farmacêuticos ou Em geral o que acontece é: um indivíduo que usa canabinoides e tem uma biologia
médicos especializados, é comum as pessoas não se atentarem a este detalhe, que faz suscetível a esse tipo de desbalanço, tem uma psicose aguda induzida por uso de drogas de
toda diferença nos tratamentos. abuso. Não é só a cannabis o motivo deste tipo de psicose. Por exemplo, a ingestão uso de
álcool pode causar a patologia, com menor probabilidade do que a cannabis.
No caso do CBD, é interessante citar que ele é um inibidor da mesma família de
citocromo que degrada o THC. Então, provavelmente este seja um dos pontos em que haja a Ou seja, se o indivíduo tiver um surto psicótico e ainda assim incorrer no uso crônico,
necessidade da utilização de uma composição entre CBD e THC para aumentar levemente existe uma chance de ele se tornar, de fato, um indivíduo com diagnóstico positivo para
o “tempo de meia vida”, ou seja, a disponibilidade do THC no organismo. esquizofrenia. Os números são variantes, porém se fala em algo de 20% dos indivíduos
que tiveram um surto e passaram a fazer o uso crônico da cannabis, apresentam o risco de
Relembrando que, por via oral, o 11-Hidroxy-THC tem mais efeitos psicoativos porque receber o diagnóstico dessa patologia.
possui uma intensidade maior do que o THC. Uma questão que surge: seria este o motivo
de pelo qual o CBD também balanceia os efeitos do THC por essa via? Por outro lado, o número de indivíduos que tem um surto psicótico com cannabis é
bastante baixo. Ao se contabilizar, muito menos de 1% dos usuários de cannabis apresentam
O CBD também, do ponto de vista farmacológico, pode reduzir a ansiedade que chance de, realmente, terem o diagnóstico positivo para esquizofrenia.
eventualmente é gerada pelo THC e a possibilidade ou uma chance de ocorrência de um
surto psicótico venha a acontecer em indivíduos suscetíveis, como será mencionado a Importante: em quem acontece, este é um quadro muito sério e deve ser observado.
seguir.
Se as pessoas com esse comportamento e que possuem uma base biológica tiverem a
Efeitos adversos individuais possibilidade de inalar um cigarro de maconha ou usar por via intravenosa ou oral, há chance
Comenta-se muito sobre a biologia, a fitoquímica e como é a planta da cannabis, de que haja um surto agudo, uma psicose aguda induzida por droga.
linha- gens, trações e métodos de cultivo diferentes. Fatores que resultam em produtos
completamente distintos. São retratados alguns aspectos biológicos do paciente, que Ainda na leitura do gráfico, ao lado esquerdo estão demonstrados pacientes com alto risco
também interferem na farmacocinética e na farmacodinâmica dos canabinoides. O gráfico a de sofrerem um surto psicótico. O alto risco, nesse caso, era uma variação psicológica, ou
seguir registra o estudo de como os efeitos adversos do uso destes compostos dependem seja, pessoas com ideações paranóides, pensamentos estranhos, mania de perseguição,
da biologia do indivíduo. ansiedade combinada. Cerca de 2% a 4% da população, em geral, apresenta este tipo de
comportamento.
À direita, estão os controles: pacientes que têm todos os outros dados demográficos
muito semelhantes e sem este mesmo alto risco de surto psicótico. Eles não apresentam risco
biológico para o desenvolvimento de esquizofrenia ou de surtos, existem os efeitos
psicoativos com intensidade um pouco menores, mas praticamente a mesma. No entanto,
eles não se sentem ansiosos e nem paranoides.
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Em vermelho está indicado o ativo utilizado: uma administração de 5% THC, quantidade Assim, a Medicina Personalizada consegue ajustar o tratamento da melhor maneira para
considerada moderada. Nesta mesma cor está ilustrada, primeiro, uma resposta de paranoia, o paciente. Isso inclui fazer um cruzamento entre a biologia da planta (ou dos canabinoides)
ou seja, em indivíduos que desenvolvem uma resposta de paranoia, de ansiedade (no meio), e do paciente. Cada paciente, devido à sua biologia e suas necessidades, terá a indicação
e também desenvolvem a sensação do popular “barato”, ou seja, um efeito psicoativo, uma de uma composição de produto e, eventualmente, um ajuste de dose pessoal, que poderá
certa euforia produzida e até procurada pelos aqueles que usam os canabinoides de maneira resultar melhor.
recreativa.
A ciência ainda não afirmou a possibilidade de fazer uma associação direta das respostas
Alertas a serem feito a partir deste estudo: em cada indivíduo com a composição das plantas. Os estudos estão em constante evolução
1. É possível determinar que não é todo paciente/pessoa que fizer o uso de canabinoides e hoje a ciência está pronta para relatar a ação do THC e do CBD, além dos metabólitos.
apresentará sintomas de ansiedade ou paranoia; Isso também poderá acontecer quando estes produtos forem registrados como herbais ou
fitoterápicos. Isto é, quando se tornarem mais padronizados, os produtos favorecerão tanto
2. As pessoas que entram em paranoia e sentem ansiedade, devem ter atenção a terapêutica, quanto a geração de dados nesta área. Por enquanto este ainda é um grande
porque elas podem correr o risco de terem surto psicótico agudo. Assim, pelas respostas desafio.
relatadas pelos indivíduos, é possível fazer uma triagem de quem deveria ou não fazer
o tratamento crônico. Estudo por perfil individual de DNA
Em estudo embasado na ideia de que em uma população heterogênea, formada por
Com estes dados, e outros não apresentados neste estudo, confirma-se a possibilidade pacientes com a mesma condição patológica, ao se realizar um perfil de DNA (DNA
de obter os efeitos positivos e terapêuticos do THC, sem ter grande parte dos seus efeitos profiling), é possível identificar as variantes genéticas naturais deste indivíduo por meio de uma
adversos, temidos pelas pessoas. sequência (rail) de DNA, muito comum na farmacogenômica. Dessa forma, nota-se que alguns
indivíduos apresentam ótimas respostas, outros não obtêm os resultados esperados, alguns
Naturalmente uma medicina personalizada terão a necessidade de ajustes de doses, e uma parte eventualmente terá efeitos indesejados.
A Medicina Personalizada é um estudo atual e novo, principalmente, para a terapêutica
canábica. Ela reconhece e reforça a existência de uma alta variação interindividual na Se for possível identificar a que grupo cada indivíduo pertence, o processo de tratamento
resposta aos canabinoides, além dos pontos: se tornará acelerado, a titulação de dose mais adequada e, em consequência, a ocorrência
de efeitos adversos será evitada. Este é o conceito fundamental da Medicina Personalizada.
1. A possibilidade de ajuste de dose e composição de tratamento personalizados;
Ao ser constatada essa heterogeneidade na população, a resposta esperada é: ao analisar
2. Diferenças no metabolismo de CBD, THC, metabólitos e de outros canabinoides raros um DNA profiling individual, será possível concluir informações, de acordo com a imagem a
com menos informações na literatura científica - que interferem na definição de dose; seguir.
84 85
MyCannabis Code Em termos de efeitos adversos, o MyCannabis Code analisa os polimorfismos
Para identificar os polimorfismos, os perfis individuais e suas respostas aos associados à ansiedade, a possível ocorrência de surto psicótico, a psicose aguda induzida por
canabinoides, Fabrício Pamplona, em conjunto com uma equipe multidisciplinar formada por drogas e a questão de dependência, que também é importante. Ao se tratar de canabinoides, a
especialistas em genética e em farmacogenômica, desenvolveu o MyCannabis Code após anos de dependência é polêmica, pois ela não é típica. Existe uma dependência que é avaliada por
estudo,. uma escala clínica de problemas com cannabis, conhecida como Marijuana Problems Scale,
também identificada por este teste. A ferramenta confere ao médico a possibilidade de avaliar
Para a concepção deste teste farmacogenético também houve a participação de o paciente ao longo do tempo.
profissionais da bioinformática, essenciais para interpretarem os dados de genótipo e
construirem um algoritmo, que além de traduzir a informação coletada, a transmitisse Nos resultados são retratados mais polimorfismo associados à dependência do que ao
garantindo o fácil entendimento para médicos e pacientes. metabolismo e aos efeitos adversos, mas isso não significa que a dependência é o fator
mais importante. Porém, de acordo com pesquisas realizadas ao longo dos anos, houve
Para a análise individual, o MyCannabis Code usa um cotonete longo (swab) para fazer sempre muito foco em pesquisa de canabinoides em dependência, e em prejuízos
uma raspagem na parte interna da bochecha e coleta o epitélio. Deste modo será identificado associados ao uso crônico. Não quer dizer que há mais polimorfismo realmente no
e amplificado o DNA. A partir da genotipagem usando a rail do DNA é possível rastrear os organismo humano. Eventualmente, outras variações genéticas associadas ao metabolismo
SNIPs, ou seja, os polimorfismos, as variações genéticas e identificar perfis associados às ou aos efeitos adversos vão estar disponíveis e será possível realizar um mapeamento ainda
diferentes respostas obtidas ao uso de canabinoides. As análises feitas são enviadas e são mais preciso. No resultado do teste ainda há informações detalhadas sobre qual o nucleotídeo
desenvolvidas em Portugal e, em breve, estarão disponíveis também no Brasil. e código genético alterado, que podem ser relevantes para alguns médicos.
A farmacodinâmica não implica no diagnóstico de patologias, ela simplesmente O MyCannabis Code busca apresentar os dados individuais de uma forma que possibilite o
transcreve a compreensão sobre o metabolismo e respostas individuais aos tratamentos melhor entendimento. Ele apresenta os segmentos: Metabolismo de THC, CBD e metabólitos;
indicados, principalmente, para os pacientes que irão fazer o uso crônico. É importante funções cognitivas; traços comportamentais e psicológicos, onde estão inseridas as questões
reforçar que essa área está impactando praticamente toda a farmacologia e não é uma de ansiedade, psicose e depressão; uso crônico de canabinoides e impactos deste uso diário,
exclusividade da farmacologia dos canabinoides. que é a associação direta à escala clínica de problemas relacionados ao uso de cannabis.
Embora ainda não seja acessível a todos, por não ser uma tecnologia barata, o A partir das diversas combinações de polimorfismos de cada uma dessas sessões, o
MyCannabis Code é um recurso terapêutico já existente e que pode ser utilizado por médicos paciente é identificado em diferentes perfis e é possível sugerir as composições, os limites
em breve, em particular, para doenças de difícil intervenção e para os tratamentos crônicos. de concentração permitidos, o uso ou não de THC, ou em uma proporção associada ao CBD,
O teste farmacogenético pode ser usado em qualquer indivíduo, de todas as faixas etárias. entre outros pontos de avaliação. Tudo isso de acordo com a probabilidade de ocorrência de
efeitos naquele indivíduo.
O produto resulta em relatórios importantes e pode ser útil mesmo antes do
desenvolvimento de uma patologia, como forma de prevenção. Desta forma, no futuro o São demonstradas as sugestões de doses iniciais e máximas recomendadas para o
paciente terá em mãos as possíveis aplicações desse tipo de substância. processo de titulação e é sinalizado se há alguma restrição para o metabolismo
associado à inalação ou ingestão por via oral, que geram metabólitos diferentes, portanto, algumas
Também é possível notar as ações que envolvem metabolismos de fase 1, de fase 2 e pessoas podem reagir melhor a uma e não tão bem por outra. Dessa forma, com a Medicina
também a Glicoproteína P - uma “bomba” que faz os canabinoides e outras substâncias Personalizada este ponto é demonstrado e o médico pode decidir pelo melhor tratamento.
serem transportadas para os tecidos e para as células. Ela é importante na fase
mencionada sobre a entrada em diferentes tecidos e em velocidades distintas. É observado
também o tempo que o canabinoide permanece no Sistema Nervoso Central, relacionado com a REFERÊNCIAS
atividade da Glicoproteína P, que é codificada pelo Gene ABCB1. Quality Traits of “Cannabidiol Oils”: Cannabinoids Content, Terpene Fingerprint and Oxida-
tion Stability of European Commercially Available Preparations
MyCannabis Code
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Majoritariamente, a cannabis chegou à Europa quando soldados de Napoleão estavam no
Egito e descobriram que grande parte da população fazia uso da planta, principalmente, de
forma recreativa. Então, a levaram para a Europa. Lentamente, os cientistas e os médicos
perceberam um enorme potencial medicinal na cannabis. Ela foi usada extensivamente na
Europa no Século XIX e início do Século XX. Em seguida, caiu em desuso.
Isso não era possível com a cannabis naquela época, pois os compostos ativos ainda não
tinham sido isolados em sua forma pura. Portanto, não era possível saber exatamente o que
estava sendo administrado.
Houveram trabalhos na Europa e nos EUA nos anos 1930 e no início dos anos 1940.
Palestrante: Raphael Mechoulam é um químico orgânico israelense e professor de Mas, então, todo o campo de pesquisa basicamente desapareceu porque, após a campanha
química medicinal na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel. Mechoulam é mais para proibição da planta, tornou-se ilegal trabalhar com a cannabis e, consequentemente, a
conhecido por seu trabalho de isolamento, elucidação da estrutura e síntese total do realização de pesquisas era impraticável.
delta-9-tetra-hidrocanabinol e do canabidiol. Mais conhecidos como THC e CBD,
respectivamente. E também pelo isolamento e identificação do sistema endocanabinoide. Seu O trabalho do professor Mechoulam com canabinoides começou na década de 1960.
trabalho científico sem precedentes lhe concedeu muitas honras e prêmios, incluindo o Prêmio
Israel (2000), NIDA Discovery Award (2011) e muitos outros, além de torná-lo candidato ao
prêmio Nobel. “Fiquei surpreso ao ver que no país onde era usada a morfina - isolada
do ópio - e a cocaína - amplamente conhecida e utilizada no Século XIX -
Resumo: a química canabinoide não era conhecida.”
A cannabis finalmente está ganhando força. Após anos desde as primeiras descobertas, o
professor Raphael Mechoulam continua na vanguarda. A pesquisa canabinoide iniciada por Quando não se sabe a química exata de uma substância, geralmente não é possível
ele pode ser dividida em três fases: a primeira são os canabinoides provenientes da planta, a ministrá-la como droga de grau farmacêutico e se aprofundar nas pesquisas científicas.
segunda são os endocanabinoides do corpo (como a anandamida) e o sistema da qual fazem
parte. Este sistema é composto por receptores, endocanabinoides e enzimas metabólicas, e Na década de 1960, Mechoulam e sua equipe isolaram muitos compostos da
recebe o nome de sistema endocanabinoide. Hoje, a pesquisa está em sua terceira fase com cannabis, incluindo o único composto que mostrou psicoatividade: o tetrahidrocanabinol, THC.
a descoberta de mais de 100 compostos semelhantes à anandamida que possuem ações Primeiramente, sua estrutura foi elucidada e, posteriormente, o composto foi sintetizado. O
específicas e potentes no corpo. Ainda pouco explorados, estes compostos podem trazer mesmo aconteceu com o canabidiol, CBD.
uma nova perspectiva aos tratamentos disponíveis atualmente e ao entendimento sobre o
funcionamento do próprio corpo humano. Foi então que ambos os compostos foram amplamente investigados, e hoje, muito se
sabe sobre eles. Nos últimos 20 anos, os estudos sobre a cannabis ganharam força. Como
resultado do trabalho da equipe de Raphael Mechoulam e de muitos outros que vieram na
Cannabis: A planta sequência, o THC e o CBD foram aprovados como medicamento em alguns países, como os
A planta cannabis vem sendo utilizada há cerca de 8 mil anos. Há dados sobre seu uso na EUA, e os extratos de cannabis têm sido utilizados legalmente em muitos outros, incluindo o
China, no oriente médio e na Índia há milhares de anos. No entanto, ela não chegou à Europa Brasil.
e às Américas de forma ampla até muito mais tarde. No leste, foi utilizada tanto como droga
recreativa quanto como agente medicinal.
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THC e CBD
A cannabis não produz CBD e THC. Ela produz compostos que são precursores. São eles: A única indicação do canabidiol aprovada nos EUA, por exemplo, é para certos tipos
o canabidiol ácido, CBDA; e o THC ácido, o THCA. São estes os compostos que a planta de epilepsia pediátrica. Embora seja amplamente utilizado como extrato no país, o CBD
produz. Eles não são estáveis e lentamente se convertem em CBD e THC. ainda possui aplicações inexploradas pelas regulações de diversos países, e que poderiam
beneficiar amplamente pacientes que convivem como uma série de doenças e sintomas.
“É uma pena! Pois o CBD não é tóxico, não causa efeitos colaterais e
tem muitos efeitos positivos. Por exemplo, diminui a ansiedade. E essa é
uma das razões pelas quais as pessoas utilizam-o. Pessoas que estão sob
estresse sabem que o canabidiol é capaz de reduzi-lo.”
Mercado da cannabis
Hoje o CBD está sendo vendido em um mercado que movimenta cerca de dois bilhões de
dólares por ano. Não apenas como um medicamento, mas também de outras formas, como
em bebidas e alimentos.
Professor Mechoulam acredita que o CBD deve ser administrado em quantidades exatas
e apoiado por boas investigações clínicas. Ele defende que é algo que precisa ser feito para
garantir a boa utilização do composto.
A cannabis não produz CBD e THC. Ela produz compostos que são precursores. São eles: Epilepsia: Pesquisas sobre cannabis no Brasil
o canabidiol ácido, CBDA; e o THC ácido, o THCA. São estes os compostos que a planta Publicado há 40 anos, um projeto de pesquisa que investigava o uso do canabidiol
produz. Eles não são estáveis e lentamente se convertem em CBD e THC. puro na epilepsia feito com um grupo em São Paulo liderado pelo Dr. Elisardo Carlini,
demonstrou que o CBD é um excelente agente antiepilético. No entanto, Raphael conta que ele,
Infelizmente, esses compostos - que são os produtos naturais reais - ainda não foram Dr. Carlini e a equipe ficaram desapontados ao ver que não houveram impactos diante
investigados minuciosamente porque não são estáveis. No entanto, as primeiras pesquisas dos resultados apresentados. Ou seja, mesmo com as evidências positivas obtidas, o CBD
já começam a surgir. não foi aprovado.
Muitas drogas quimioterapêuticas causam náuseas e vômito. Assim, o THC é usado Demorou mais 35 anos até que que isso ocorresse. Ele questiona:
principalmente como medicamento para diminuir ambos os sintomas em pacientes que
recebem quimioterapia. No entanto, este ainda é um campo de atuação limitado, no qual
o THC pode não ser uma droga tão relevante ou não apresentar todo o seu potencial “Por que tivemos que esperar por tanto tempo?
terapêutico. Poderíamos ter ajudado! O CBD poderia ter ajudado
milhares de crianças com epilepsia pediátrica.”
Já o canabidiol, ou CBD, não é psicoativo. Ou seja, não causa a psicoatividade pela qual
a cannabis é conhecida. Portanto, é amplamente utilizado, embora não esteja aprovado por Esta é a mesma situação que há hoje com muitos outros usos de canabidiol.
nenhum governo, exceto para o uso em epilepsia. Apesar do CBD não ter sido aprovado para
muitas outras indicações, os efeitos benéficos já são evidenciados por pesquisas. No caso da esquizofrenia, por exemplo, foi demonstrado na Alemanha que o CBD em altas
doses é um bom agente anti-esquizofrênico. Ainda assim, não foram tomadas providências
O canabidiol é considerado um excelente composto para o tratamento de várias doenças para regular este uso.
auto-imunes, como a artrite reumatóide. Também é um agente terapêutico em potencial para
diabetes tipo 1, mas infelizmente, essas aplicações não foram investigadas em humanos. Começando a descobrir o sistema endocanabinoide
Os canabinoides ácidos em sua forma estável são muito potentes. O CBD e o THC são
compostos com diversas aplicações possíveis. No entanto, esta é apenas uma parte da
história dos canabinoides.
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Foi demonstrado, por exemplo, que um destes compostos (ainda não nomeado) é
Por muitos anos, não se sabia como o THC funcionava e quais eram os seus mecanismos
capaz de reduzir danos cerebrais. Este composto produzido está intimamente relacionado à
de ação. Então, lentamente, as informações começaram a surgir mostrando que poderiam
anandamida e ao sistema endocanabinoide.
haver receptores para o THC no cérebro e no corpo.
Mechoulam descobriu que o corpo produz um composto, semelhante à anandamida, que
Na década de 1980, descobriu-se que existe um receptor específico para o THC no
diminui o dano da osteoporose.
cérebro (CB1) e, mais tarde, um no corpo (CB2). Eles existem porque o corpo produz
compostos que podem ativar e/ou bloquear estes receptores. É este o funcionamento: são
Após os 50 ou 60 anos de idade, homens e mulheres podem ter osteoporose, condição
produzidos quando necessário e pelo tempo que é preciso.
que ocorre quando os ossos não são construídos tão rápido quanto eles são destruídos.
Então, as pesquisas de Mechoulam buscaram por compostos no corpo que
Sistema endocanabinoide e vício
pudessem ativar esses receptores. Depois de vários anos de trabalho, dois compostos foram
O vício é considerado uma doença e o corpo geralmente trabalha para combater estados
encontrados. O primeiro foi chamado de anandamida, um composto que é geralmente
de patologias. Então, Mechoulam e sua equipe estudaram como o corpo luta contra o vício.
presente em quantidades muito baixas no nosso corpo, sempre que necessário. Quando há
a sensação de dor ou de ansiedade, por exemplo, o corpo começa a produzir anandamida.
O primeiro aspecto estudado foi a dependência da nicotina e, depois de muito trabalho,
Então, ela atua sobre o sintoma e em seguida é eliminada.
descobriu-se que o cérebro produz um composto, semelhante à anandamida, que tenta
bloquear o vício na substância. Essa é provavelmente uma das razões que fazem com que
A anandamida se liga ao receptor identificado no cérebro (CB1) e em outras partes
algumas pessoas que fumam fiquem viciadas e outras não. Ou seja, uma deficiência neste
do corpo. Em muitos aspectos, o THC mimetiza este produto natural, ou seja, ele imita a
mecanismo pode levar a aumento na probabilidade de adicção.
anandamida.
Um outro aspecto importante é que quando alguém para de fumar a nicotina, o humor é
Além da anandamida, há também o 2AG. Ambos apresentam diferenças, mas têm ações
alterado completamente. Este composto estudado bloqueia os efeitos da abstinência do
semelhantes. Embora o THC mimetize esses dois compostos, eles não são totalmente
vício, o que impacta também o humor.
paralelos a ele. O THC permanece no corpo por algumas horas e, portanto, existem efeitos
adversos relacionados ao seu uso.
O estudo inicial foi feito com o vício em nicotina. No entanto, há chances que hajam efeitos
benéficos também para o vício em opiáceos e em morfina.
Anandamida
A anandamida faz parte de um grande, novo e muito importante sistema biológico. Um
Este composto não bloqueia a dependência de opiáceos e, aparentemente, o corpo huma-
sistema que consiste em receptores canabinoides, endocanabinoides (como a anandamida)
no tem uma outra substância específica que bloqueia este tipo de dependência. No entanto,
e enzimas que quebram ou sintetizam os endocanabinoides após a utilização.
o composto apresentado como um efeito anti-vício e anti-abstinência para a nicotina também
possui ação anti-abstinência para os opiáceos.
Cientistas da NIH, em Washington, mostraram e publicaram que o sistema
endocanabinoide é um mecanismo bioquímico central e está, aparentemente, envolvido em
Há empresas estudando este o composto para desenvolver um tratamento eficaz que seja
quase todas as doenças humanas.
capaz de bloquear os sintomas de abstinência de dependência de opiáceos.
A publicação feita por Mechoulam e sua equipe sobre a anandamida já foi citada milhares
O que é o 301?
de vezes por seu envolvimento em um novo sistema que levará a novos medicamentos: o
O 301 é um derivado do ácido canabidiolico que não causa efeitos tóxicos. O ácido
sistema endocanabinoide. A anandamida, do ponto de vista químico, não é um composto
canabidiolico se decompõe rapidamente e, portanto, não foi feito muito trabalho sobre ele. O
muito complicado. É um ácido graxo ligado a um aminoácido. No corpo há cerca de 20 ácidos
professor Mechoulam e sua equipe conseguiram estabilizá-lo. Foi demonstrado que o 301 é
graxos e 20 aminoácidos, o organismo sabe como combiná-los adequadamente.
um medicamento anti-ansiedade e muito potente quimicamente. Então é provável que ele se
tornará um agente terapêutico importante.
Novas descobertas
No corpo, há cerca de 100 compostos que são intimamente relacionados com a
anandamida. Poucos deles são canabinoides, mas todos aqueles já investigados mostram
que estes ativos são de importância básica para o corpo.
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Sejam todos bem-vindos ao
I CONGRESSO DIGITAL DE CANNABIS MEDICINAL - CNABIS POCKET!
Esta obra faz parte dos Anais do I Congresso Digital de Cannabis Medicinal e foi
separada do conteúdo original para distribuição gratuita.
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Índice | CNABIS POCKET Joelber Manzoli dos Santos, Nilton César Nogueira,
Thainan Alves Silva, Elayne Costa e Eduardo Filho
Felipe Minari Utilização da cannabis sativa na medicina
Produção de Etanol celulósico a partir da tradicional chinesa
Cannabis
Bruna Corrêa, Tainá Toqueton e Luiz do Carmo
Rozilaine Silva
A influencia de fitocanabinoides
Revisão sistemática: CBD na artrite na esquizofrenia
Isabella Passoni
José Araújo, Otacílio Dantas, Luanne Souza,
Cannabis: modelagem por homologia Lívia Pimenta, Roberta Albuquerque e Katy Lísias
Victor Vinicius Transmissão do conhecimento cienfítico
Cannabis nas dores neuropáticas causadas através de mídias digitais
por neuplasias
Giovana Paloma da Silva Palma
Herbert Maracaípe
Uso da Cannabis para tremores em pacientes
Cannabis na agricultura familiar brasileira com Parkinson
Natalia Alves
Revisão sistemática: CBD na ansiedade
Helder Camilo
Análise de conhecimento:
Cannabis e seu uso na meidicina veterinária
Maria Luiza Saldanha
Uso de canabinoides em pacientes com
fibromialgia
Roberto Tobaldini
Cannabis no tratamento de Tourette
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Este resumo se propõe a estudar novas aplicações da Cannabis, e conhecendo as
complicações que este tema traz à tona, conclui que ao mesmo tempo que se mostra,
teoricamente, altamente viável, também necessita de mais estudos para a comprovação
deste procedimento. O autor busca visibilidade para novas aplicações da Cannabis, ao mesmo
tempo que se propõe a realizar as análises e estudos para tal.
Ahmad, em 2016 prova que a Cannabis é capaz de reter metais pesados como Chumbo
(Pb) e Níquel (Ni), mas seu potencial está além deste processo, ou seja, uma vez que for bem
administrado, os lucros provenientes da planta podem ser maiores. Sendo assim, uma das
aplicações onde ela pode ser útil é na produção de combustível reciclado, ou neste caso,
Etanol (Sun; Cheng, 2001).
Quando o assunto em foco é a Cannabis, ela se prova extremamente disposta, uma vez que
possui cerca de 44% em massa de Celulose, em contraste com apenas 37% de trigo e milho,
por exemplo (Sipos et al, 2010). Para a produção deste composto, se faz necessário realizar
um pré-tratamento da celulose, de forma a separar a celulose da lignina, aumentando assim a
taxa de fermentação (Zhu; Pan; Zalesny, 2010), para que logo em seguida a etapa de hidrólise
aconteça, quebrando as moléculas de celulose em açúcares menores (Hamelinck; Hooijdonk;
Faaij, 2004). A Cannabis, no entanto, possui algumas desvantagens, e entre elas com toda a
certeza podemos destacar a presença de psicoativos (THC, CBD etc.) que podem causar uma
reação não desejada na queima deste combustível.
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A literatura científica relata propriedades anti-inflamatórias do Canabidiol (CBD), A enzima ácido canabidiolico sintase (CBDA sintase), encontrada na planta Cannabis
revelando potencial no uso da substância para tratamento da artrite. Porém, até o sativa, tem a função de catalisar a ciclização oxidativa do ácido canabigerólico (CBGA). Essa
momento poucos estudos clínicos sobre os efeitos do CBD na artrite foram publicados. reação tem como resultado a produção de ácido canabidiolico (CBDA), considerado o
Os protocolos de estudo são o registro preliminar do delineamento metodológico de ensaios precursor do canabidiol (CBD), composto que apresenta propriedades farmacológicas em
clínicos, disponibilizando publicamente informações que indicam preditivamente a qualidade mamíferos, atuando como agente antioxidante e anti-inflamatório. Embora a enzima ácido
da evidência em produção. canabidiolico sintase da Cannabis sativa tenha grande importância nas áreas médicas e em
pesquisas científicas, a sua estrutura tridimensional não está presente no Banco de Dados de
O objetivo deste estudo foi verificar o perfil dos Proteínas (PDB), este que possui dados digitais de proteínas, enzimas e ácidos nucléicos de
estudos de protocolos de ensaios clínicos em andamento acesso aberto para todos.
envolvendo o uso de CBD para tratamento de artrites.
O objetivo deste trabalho é produzir conhecimento
Foi realizada um revisão sistemática por meio das bases Clinicaltrials.gov e Pubmed. ao nível molecular da enzima EC:1.21.3.8, através da modelagem
A última busca ocorreu em 13 em agosto de 2020, utilizando as palavras-chave Artritis, por homologia com o programa MODELLER.
Cannabidiol, Clinical trial, study protocol. Todos os protocolos foram lidos integralmente
durante o processo de triagem. Foram incluídos os protocolos de ensaios clínicos em que Inicialmente foi utilizada a estrutura primária da enzima alvo e a ferramenta BLAST, com
a condição clínica dos pacientes era algum tipo de artrite, e cujo tratamento para esta era o o propósito de encontrar estruturas proteicas já elucidadas e com a maior porcentagem de
CBD. Foram coletadas informações sobre: controle, medidas de desfecho primário, tamanho identidade na sequência de aminoácidos, registradas no PDB. A enzima de código PDB 3VTE,
amostral, randomização, cegamento, dose e duração do tratamento. RESULTADOS: Foram referente à tetrahidrocanabidiol sintase (THCA sintase) apresentou 83,98% de identidade,
identificados 6 protocolos de ensaios clínicos, com um total de 544 participantes, e média tornando-se apta para uso como molde.
de 90 indivíduos por estudo. Destes, 5 possuem delineamento randomizado, com o uso de
placebo no grupo controle e cegamento de pacientes e profissionais de saúde. Os ensaios No programa MODELLER, a sequência-alvo da enzima ácido canabidiolico sintase da
clínicos estão sendo realizados nos EUA (2), no Canadá (2) e na Dinamarca (2). Todos os Cannabis sativa foi alinhada com o molde tetrahidrocanabidiol sintase, gerando cinco
estudos utilizam a medida da intensidade da dor como desfecho primário, sendo a escala modelos. O melhor modelo obtido foi submetido à validação por meio do programa
visual analógica (VAS) utilizada em metade dos protocolos. Dois dos seis protocolos avaliam Procheck e análise dos ângulos diedros (φ e ψ) no diagrama de Ramachandran, o qual
o uso crônico do CBD sobre a artrite, enquanto 4 avaliam seu uso agudo. O CBD está sendo constatou que 91,9% dos resíduos de aminoácidos apresentavam-se na região favorável,
testado em dosagens diferentes, sendo a dosagem de 10 mg a mais utilizada (3). 7,9% na região adicionalmente favorável e apenas 0,2% na região proibida sendo esse um
resíduo de ácido aspártico que teve seus ângulos torcionais corrigidos através de uma
Os ensaios clínicos que avaliam atualmente os efeitos do CBD sobre a artrite ferramenta do Swiss-PDBViewer.
apresentam, em sua maioria, delineamento com grupo controle, alocação randomizada de
pacientes e duplo-cegamento. Outro aspecto relevante e aparentemente promissor na O modelo final apresentou mais de 90% de seus resíduos de aminoácidos na região
produção de novas evidências é a escolha de medidas de desfecho relacionadas a favorável, confirmando a boa qualidade do modelo ante aos parâmetros analisados. Por
processos dolorosos já utilizadas de forma ampla e padronizada em ensaios clínicos seu potencial de aplicação biotecnológica na produção de CBDA, molécula promissora no
envolvendo uso de analgésicos e anti-inflamatórios, e adoção de uma dosagem uniforme. tratamento de várias doenças, a obtenção da estrutura tridimensional da enzima em questão
pode auxiliar no seu melhor entendimento ao nível estrutural e bioquímico.
PALAVRAS-CHAVE: Artritis; Cannabidiol; Clinical Trial; Study Protocol
PALAVRAS-CHAVE: enzima; modelagem; estrutura
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O uso da Cannabis sativa como medicamento é bem mais remoto que pensamos. A Cannabis vem representando um grande potencial no mercado mundial diante dos
Antes mesmo da era cristã, na Ásia já se tinha relatos do uso dessa planta para usos seus benefícios medicinais, assim como pela alta produtividade e qualidade de suas fibras e
medicinais. Porém, a falta de embasamento teórico e de resposta concretas adiaram a sementes, além da versatilidade dos produtos obtidos através dessa matéria-prima.
constatação da Cannabis como medicamento até os anos de 1990 quando se descobriu os
receptores canabinóides no cérebro (ZUARDI, 2006). O objetivo desta pesquisa propõe discutir a importância desta cultura na
agricultura familiar brasileira, podendo emergir-se como uma nova
O objetivo deste estudo é de estabelecer a relação existente entre a commodity, indicando uma oportunidade de avanços tanto para
Cannabis sativa com a dor neuropática causada por neoplasias. a saúde pública, quanto para o agronegócio brasileiro.
Foram analisados 2 compostos (canabivarina, canabigerol) dentre os 60 que se encaixam De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, observou-se que mediante a análise
na categoria dos canabinoides existentes na planta de cannabis sativa. Esses compostos realizada em mais de 5 milhões de propriedades rurais de todo o Brasil, 77% dos
foram estudados e passaram por testes de seleção usando os softwares: PASS online, para estabelecimentos agrícolas do país pertencem a agricultura familiar. Além disso, a agricultura
avaliar suas atividades biológicas, sendo essa válida com a Pa acima de 0,700 e o GUSAR familiar é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população
que prevê uma toxicidade do composto expressando doses letais (DL50) em quatro vias de brasileira: 84% da mandioca, 67 % do feijão, 54 % do leite, 49 % do milho, 40 % de aves e
administração (oral, intravenosa, intraperitoneal, subcutânea), mimetizando o modelo animal ovos e 58 % de suínos (BRASIL, 2019).
em ratos.
No Nordeste, a agricultura familiar é responsável por 82,9 % da ocupação de
De acordo com o trabalho realizado com os programas citados é possível observar que mão-de-obra no campo. Nesse sentido, a introdução da cultura da cannabis deve
dentre os compostos pesquisados o canabigerol obteve um resultado ativo de potencializar o potencializar em caráter econômico e sustentável esse setor produtivo, pois países como
fator neurotrópico, fato que está intrinsicamente ligado a redução da dor neurotrópica causada Uruguai, Paraguai México, Colômbia, Canadá, entre outros, aderiram a implementação dessa
por neoplasias. cultura agrícola e somam resultados positivos provenientes da alta produtividade e qualidade
de suas fibras e sementes, além da versatilidade dos produtos obtidos através dessa
Sua validade de Pa é 0,873 de acordo com o PASS online e sua DL50 pela administra- matéria-prima (FRONTIER FINANCIALS GROUP, 2018).
ção intraperitoneal de 582,500 mg/kg, oral de 2813,00 mg/kg e subcutânea 1108,00 mg/kg
são consideradas administrações não toxicas, classificadas como classe 5 pela OECD. A O valor da produção de um hectare de Cannabis é, em média, de US$ 52.000 para
administração intravenosa de 91,930 mg/kg ou mais foi considerada toxica. Além disso, produção de sementes e US$ 31.000 para a produção de fibras (JOHNSON, 2018).
apesar de pouco estudada, a canabivarina possui, de acordo com o PASS online uma
probabilidade de ação antineoplásica de validade de Pa 0,858. A partir da análise destes dados é possível confirmar que o Brasil possui grande potencial
para o cultivo de Cannabis spp. para fins de uso medicinal e industrial, já que de acordo com a
De acordo com as pesquisas realizadas é possível concluir que alguns compostos variedade e a finalidade do cultivo, as áreas que receberam classificação de aptidão para o
canabinóides como o canabigerol e a canabivarina possuem potencial de ação na inibição da cultivo entre boa e ótima foram responsáveis por valores entre 70% e 95% do território nacional.
dor neuropática causada por neoplasias entre outras doenças. Para o cultivo de fibras, possui entre 80% e 95% de áreas. Para o cultivo de flores, este
percentual foi superior a 80% e para o cultivo e sementes superior a 70% (BARBOSA, 2019).
PALAVRAS-CHAVE: Dor neuropática, Cannabis sativa, neoplasias
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Ademais, o PL No 399, de 2015 que versa sobre o cultivo, processamento, pesquisa,
produção e comercialização de produtos à base de Cannabis spp. contemplam empresas e
associações de pacientes não incluindo, portanto, os agricultores familiares.
• Foi realizada uma revisão sistemática por meio das bases Clinicaltrials.gov e Pubmed.
• Foram incluídos os protocolos de ensaios clínicos em que ao menos uma das condições
clínicas dospacientes era ansiedade e que o tratamento para esta era o canabidiol.
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Embora diversos ensaios clínicos controlados randomizados para avaliação dos
efeitos do CBD sobre a ansiedade estejam em andamento, foram observadas limitações
que podem impactar na qualidade da evidência, tais como reduzido tamanho amostral e
heterogeneidade da dose de escolha. Por outro lado, observa-se a adoção de desfechos
primários relevantes na prática clínica, com escolha de instrumentos validados para
determinação do grau de ansiedade.
A Cannabis sativa (maconha) foi uma das primeiras plantas cultivadas pelo homem sem fins
alimentícios. Atualmente a utilização da maconha é um tema polêmico em todos os aspectos.
• Foram aplicados 100 (cem) questionários estruturados aos estudantes dos cursos
de graduação do CCA/UFPB.
• 66% dos participantes desconhecem o uso desta planta com o objetivo de potencializar a
produção animal.
• No que se refere à canabinoides sintéticos, apenas 4% afirmaram que esses são mais
seguros do que fitocanabinoides, 30% disseram que aqueles não são tão seguros
quanto fitocanabinoides e 64% não souberam responder.
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• Por fim, foi perguntado se médicos veterinários deveriam começar a discutir e
informar-se sobre a utilização de Cannabis Sativa para fins medicinais na Medicina
Veterinária, 93% responderam que sim, 3% afirmaram que veterinários não deveriam se
dedicar ao tema e 4% não souberam responder.
Frente a isso, é possível concluir que há muito a ser discutido e divulgado sobre a
utilização da Cannabis sativa como recurso terapêutico à comunidade acadêmica.
A fibromialgia é uma síndrome reumática caracterizada por dor muscular crônica difusa,
associada à fadiga extrema e distúrbios do sono. O presente estudo trata-se de uma revisão
da literatura que avaliou evidências científicas sobre o uso de canabinoides na analgesia da
dor crônica em pacientes com fibromialgia.
• Foram feitas buscas nas bases de dados PubMed, SciELO e Lilacs, usando os
descritores DeCS/MeSH: “cannabis” AND “fibromyalgia” e “medical marijuana” AND
“fibromyalgia”.
Com base nos artigos selecionados, observou-se que 92 pacientes estudados foram
submetidos ao tratamento durante 6 meses, sendo divididos em 2 grupos:
- Grupo I, com 26 pessoas, que usaram 26g de maconha medicinal por via oral ou inalada;
- Grupo II, com 66 pessoas, que usou dois extratos de cannabis diluídos em óleo:
Bedrocan (22% THC, <1% CBD) e Bediol (6,3% THC, 8% CBD) por via oral.
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Foi concluído, que apesar de haver limitações no estudo, devido à pequena amostragem
dos artigos revisados e a falta de comparação com grupo controle, percebe-se que o uso da
maconha medicinal tem resultado favorável na analgesia da dor crônica em pacientes com
fibromialgia, com poucos efeitos adversos.
Isso mostra a urgência por mais pesquisas nessa temática, visto que os canabinoides
oferecem um amplo espectro de benefícios.
O sujeito do estudo foi um paciente da faixa etária pediátrica, sexo masculino, 7 anos
de idade, portador de Síndrome de Tourette moderada. O tratamento com canabidiol e
tetrahidrocanabinol foi associado ao tratamento com medicações convencionais, e
progressivamente aumentada a dose do CBD/THC até a dose ideal para a criança, quando
então iniciamos o desmame das demais medicações. Durante o tratamento foram aferidas
variáveis clínicas para tiques motores e vocais, foco, qualidade do sono e comprometimento
global antes, após duas semanas de tratamento, e ciclicamente pelo período de 1 ano.
O tratamento com CBD + THC resultou em grandes melhorias no tocante aos tiques
motores e vocais, com ganho maior no início do tratamento, bem como no comprometimento
global e na qualidade de vida relacionada à saúde, sem causar efeitos adversos relevantes.
Os resultados fornecem evidências adicionais de que o tratamento com CBD + THC pode
ser eficaz no tratamento de pacientes com ST, em virtude da resposta apresentada pelo
paciente neste relato. É necessária uma investigação mais aprofundada e abrangente, com
maior número de casos e randomizada dos efeitos do CBD + THC.
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Por fim, apesar das inúmeras publicações que trazem os benefícios da
cannabis, a restrição a seu consumo e política de controle imposta no Brasil (fruto do
preconceito e desinformação) são uma barreira de acesso, além do interesse do mercado
que prima pela medicalização da vida e uso de moléculas e compostos sintéticos que sejam
economicamente altamente rentáveis.
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Conclui-se, portanto, que a ausência de efeitos psicoativos e na cognição demonstram
que os canabinoides podem, no futuro, ser uma importante opção terapêutica em transtornos
psiquiátricos. A ausência de efeitos psicoativos e na cognição o CBD parece ser o canabinoide
mais próximo de ter seus achados iniciais para a prática clínica.
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utilizadas pela equipe para combater inverdades numa época de julgamentos e duras críticas
ao uso de canabinóides.
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Conclui-se que o tratamento com canabinóides na doença de Parkinson pode ser utilizada
para discinesia provocada por levodopa, enquanto o uso para tremores deve ser testado em
cada tipo de evolução para obter eficácia. O aproveitamento do tratamento com cannabis em
Parkinson é melhor para sintomas não motores, como humor e sono, e na neuroproteção, como
forma de retardar a degradação dos neurônios dopaminérgicos e, consequentemente, o avanço
da doença (Martínez-Pinilla ET AL.).
Foi feita uma revisão de artigos experimentais in vivo ou in vitro, publicados a partir de 2015
e com boa pontuação pelo Scientific Journal Rankings (SJR). A temática envolve a doença
de Parkinson, tremores e suas causas, sintomas motores, o uso da canabis ou qualquer um
de seus compostos e suas variações sintéticas, para o mapeando das interações entre os
compostos e o sistema nervoso central. Segundo a pesquisa, quanto ao ∆9-THCV, há
melhora na marcha, movimentação e na discinesia provocada por levodopa (Espadas ET AL.;
Garcia ET AL.). Foi notado também a ação de redução da perda dos neurônios dopaminérgicos.
Quanto a cannabis medicinal e CBD, houve melhoras nos sintomas da doença, principalmente
na mobilidade, fadiga, bem estar emocional, atividades diárias, dor e sono (Lotan ET AL.).
Observa-se uma melhora principalmente em sintomas não motores e ação neuroprotetora, além
dos efeitos do tratamento utilizado para a doença atualmente.
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