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Universidade Federal da Paraíba - UFPB

Centro de Educação - Programa de Pós-Graduação em Ciências das Religiões


Curso de Mestrado/Doutorado em Ciências das Religiões
Disciplina: Ciências das Religiões - Professora: Dilaine Soares Sampaio
Integrantes-Grupo: Andréa Lima do Vale Caminha; Davi Jorge Duque Vanderlei; Gricia
Guedes do Nascimento; Márcio Carneiro de Albuquerque; Márcio Roberto Carvalho de Paula.
Temática: A Filosofia das Religiões

SÍNTESE
A presente síntese objetiva explicitar as ideias centrais dos textos: Filosofia da Religião,
de Scott Randall Paine (2013); O que é o “subalterno” em Filosofia da Religião, de
Purushottama Bilimoria (2016); e por fim, Filosofia da Religião: sua centralidade e atualidade
no pensamento filosófico, de João A McDowell (2011). Conclusivamente, procurou-se apreciar
as perspectivas dos autores em torno da filosofia das religiões, acreditando que tal tarefa já
encontrasse em grande medida realizada ao longo do texto. Didaticamente, optou-se pela
composição conforme verificado abaixo e ponderando a contribuição de cada autor.
Considerando a contribuição de Paine (2013) compreende-se que a centralidade de seu
texto é apresentar a relação histórica que houve entre religião e filosofia, onde sempre existiria
caminhos interligados, mesmo em perspectivas ora divergentes, ora convergentes e paralelas.
Buscando com isto as problemáticas que envolveram e ensejaram o nascimento da disciplina
Filosofia da Religião. No contexto histórico, dois fatores possibilitaram uma atenção maior dos
filósofos quanto a religião, quais sejam: primeiro, o estudo não seria mais em um viés
confessional, onde a filosofia era vista como defesa da religião, mas uma análise histórica,
linguística, antropológica e etc; segundo, estaria em conexão com primeiro, pelo que teríamos
novos universos religiosos, a exemplo, religiões orientais, as religiões extintas e as ágrafos.
Filosofia e Religião são termos que denotam diversas definições, mesmo sendo insuficiente
definir em absoluto, seria nas palavras de Scott “inteligível” não fazer isto. O autor apresenta a
filosofia como aspiração que irá reflexionar de forma “sinótica”, em que este campo de estudo
não está preocupado com saber tudo, mas saber algo sobre tudo.
O autor traz 4 parâmetros que define as religiões: existência de níveis superiores, além
dos nossos sentidos; a importância do transcendente; a relação foi interrompida ou perturbada
e o meio para interligar esse indivíduo seria a religião. No contexto histórico que antecede a
Filosofia da Religião vemos pelos menos três tentativas de realizar conexões entre religião e
filosofia, porém não lograram êxito. Filosofia é Religião; Filosofia e Religião e Filosofia na
Religião. Filosofia é Religião: Havia uma harmonia entre esses mecanismos de estudo, ao ponto
de não haver uma distinção entre elas. Um exemplo que podemos citar é contexto grego, onde
os filósofos não traziam pensamentos críticos quanto à fé, aqueles que assim faziam eram
minoria. Posterior a esta realidade já estamos em um contexto distinto, pelo que Filosofia e
Religião; sofre um afastamento, reforçando a distinção e distanciamento entre elas. Já terceira
e última seria a Filosofia na religião, pelo que a uma seria subserviente da outra.
No mundo moderno a filosofia passou a tomar outros rumos, pois era visto como um
objeto de estudo reflexivo e genérico, e algumas razões contribuíram para isso ocorrer: Cisma;
que quebra com hegemonia da Igreja e exclui assim a alegação de existência de uma única
religião verdadeira; Diversidade existente, novo ensinos resultam em novos entendimentos
quanto ao oriente; surgimento das ciências modernas, que via a religião como antiquada, porém
entendia a necessidade de ser estudada, pois precisava ser explicada de forma racional e
objetiva. A partir do século XVIII há um enfoque na crítica em relação à religião
fundamentando-se em quatro eixos: Discussão do Ser, sua transcendência (metafísica e
ontologia); Crenças, experiências religiosas(epistemologia); Problema do mal e livre arbítrio
(ética); Estruturas religiosas (fenomenologia e filosofia comparada das religiões).
Em resumo, a atual disciplina (Filosofia da Religião) está avançando/evoluindo em seus
aspectos. Alguns filósofos focam suas reflexões no objeto de crença ou práxis religiosa, outros,
no sujeito e sua experiência, considerados eixos que podem estar presentes em uma tradição
religiosa ou em várias. Em relação ao objeto de crença a avaliação será no campo natural,
entendendo o simbolismo possível de algo humano. Quanto ao sujeito (segundo eixo), os
filósofos fariam uma estruturação cognitiva e psicológica da experiência religiosa.
Considerando a contribuição de McDowell (2011) o autor busca ressaltar a centralidade
da filosofia das religião no pensamento filosófico. O texto parte de uma constatação: apesar de
estarmos imerso num tempo marcado pela secularidade, a religião é um fenômeno que se faz
presente na vida das pessoas do ponto de vista pessoal e público. Os estudos filosóficos
manifestam profundo interesse em estudar este fenômeno. A prova disso é o volume de
publicação sobre o assunto na Europa e nos Estados Unidos. De forma incipiente, no Brasil.
Neste sentido, a Religião pode ser compreendida inicialmente por meio da noção de homo
religiosus, A experiência religiosa se manifesta culturalmente por meio da profissão de fé dos
mitos e nas práticas cultuais dos ritos. Essa experiência é fundamental para se construir o
sentido para vida, indispensável para o ser humano criar um possível horizonte de superação da
contingência. Nesse sentido, não pode considerar a condição humana sem pensar a Experiência
religiosa de uma pessoa ou de um povo.
A reflexão filosófica da religião pode se pautar em dois aspectos. O primeiro trata do
transcendente e o segundo do fenômeno religioso em si mesmo enquanto dimensão da
existência humana. De um lado, encontramos a teologia filosófica que busca o princípio
transcendente e absoluto de toda a realidade. De outro, o foco é a realidade propriamente
humana se expressando por meio de diferentes experiências religiosas. A teologia filosófica,
que tem sua origem na filosofia clássica, discute a própria realidade divina. Com surgimento
do cristianismo, é possível identificar uma relação entre a teologia filosófica, centrada na
metafísica, com a teologia cristã, fundada na fé num Deus criador. Entre aproximações e
distanciamento dessas duas teologias, é possível identificar a existência de uma teologia natural,
fundada na razão, e uma teologia cristã, baseada na fé.
Com a virada linguística, podemos dizer que tanto Heidegger como Wittgenstein
apontam para a compreensão de que estão convencidos dos limites da linguagem para se
exprimir a experiência do mistério transcendente. Independente, dessas posições uma questão
se impõe: “A experiência religiosa atinge efetivamente uma realidade superior ou consiste em
um sentimento meramente subjetivo?” Assistimos um colapso das grandes narrativas. Esse
colapso gera, por um lado, a busca por um ponto firme em se possa obter segurança, criando
adesões a doutrinas religiosas de caráter meramente subjetivo. Por outro lado, o referido colapso
cria um anseio de transgressão em buscas de vínculos inéditos com o todo de maneira mística.
Nasce desses diferentes interesses pela problemática religiosa um pensamento filosófico no
mundo contemporâneo que valoriza o fenômeno religioso na cultura e na sociedade.
Considerando a contribuição de Bilimoria (2016), o texto busca revistar criticamente os
desdobramentos contemporâneos do etnocentrismo e eurocentrismo na esfera da Filosofia da
Religião, o foco da análise é a filosofia oriental, principalmente a indiana. Quem seria os
subalternos? Segundo o professor Billmoria são aqueles filósofos da religião apegados as
tradições europeias, tendo com isso toda sua análise comprometida com a premissa dos
colonizadores. Após iniciar o seu artigo fazendo uma breve conceituação básica da filosofia da
religião, Billimoria relata o descontentamento de Niniam Smart, cuja proposta de estudo dessa
disciplina que visava superar as lacunas do paradigma anterior que se restringia a estudar os
problemas da teologia natural, não dava devida atenção às diversas religiões existentes, tal
proposta consistiria em estabelecer uma abordagem estruturalista, o que ele chamou de
“sistemática comparativa”. O objetivo de Smart era superar o modelo anterior que era
colonialista, no entanto Billimoria pontua algumas limitações desse novo paradigma, a saber,
que a filosofia comparada fundamenta-se em dois dogmas: 1) religião comparada em si; 2)
teologia natural per-si. Ele contesta a ideia de que a comparação entre uma religião é outra
como algo possível e faz os seguintes questionamentos: È possível comparação? O que se
compara? Como é feto a escolha do que se comparar? Quais são as ferramentas metodológico-
epistemológicas utilizadas? Quem leva a cabo a organização do material?
Neste sentido e diante de tais questionamentos, A utilização da religião comparada
segundo Billimoria conduziu alguns estudantes e pesquisadores bem-intencionados a uma
tentativa de síntese das religiões ou/e tentativa de descrever uma religião primordial,
estabelecendo uma possível religião ideal. O que implicaria consequências epistemológicas. O
autor aponta para a escassez de escritos de indianos contribuiu para o método comparado,
portanto, o sistema comparativo tem a sua origem no colonialismo/imperialismo embora
tentasse romper com ele em outros momentos. Ressaltasse a proeminência das três religiões
monoteístas: o judaísmo, o islamismo e o cristianismo, que servirão como aferidores das outras
religiões. Em relação aos indianos cuja influência do país colonizador irá marcar toda a sua
visão no que tange a religiosidade indiana, os mesmos serão responsáveis pela divulgação
equivocada da religiosidade indiana (Billimoria chama isso de ocidentalização), isso objetivava
superar a imagem de país atrasado da Índia, logo, em certa medida o Oriente é um construto do
ocidente. Ao logo do artigo o professor vai elencando as dificuldades da comparação entre as
religiões, principalmente no que se refere ao conceito de verdade, bem e mal, que modelarão o
que ele chama de antiorientalismo protestante calvinista. Conclusivamente, Billimoria critica
veementemente o culto a razão dos iluministas e toda a tradição ocidental de supervalorizar sua
religião, filosofa em detrimento de um olhar que possa contemplar a diversidade de outros
povos no caso aqui citado o indiano.
Conclusivamente, compreende-se que Paine (2013), ressalta o percurso histórico da
filosofia das religiões no sentido dos embates ocorridos em função da compreensão de uma de
outra, bem como a tentativa de conciliá-las em um mesmo campo de estudos. Sua contribuição
parece situar-se diante da revelação de fases, processos e desdobramentos em torno da
disciplina. Compreende-se que MacDowell (2011), situa a filosofia da religião como um
empreendimento filosófico acerca dos fenômenos religiosos e ao mesmo tempo em relação ao
transcendente, sua contribuição parte de uma compreensão universal acerca do religioso a partir
de múltiplas manifestações locais. Bilimoria (2016) poderia ser situado diante da busca por
descentrar a filosofia das religiões no sentido de permitir a emergência de outros olhares em
torno do fenômeno religioso; ao mesmo tempo, o autor faz uma critica a forma como a
disciplina historicamente se constitui e questiona se é possível a existência de uma filosofia das
religiões comparada nos termos de uma perspectiva subalterna.

Referências

PAINE, Scott Randall. Filosofia da Religião. In: PASSOS, João Décio. USARSKI, Frank.
Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas, Paulus, 2013, p.101- 114.

BILIMORIA, Purushottama. O que é o “subalterno” em Filosofia da Religião. Numen: revista


de estudos e pesquisa da religião. Juiz de Fora, v. 14, n. 2, p. 13-57. Disponível em: . Acesso
em 15 jun. de 2016.

MAC DOWELL, João A. Filosofia da Religião: sua centralidade e atualidade no pensamento


filosófico. Revista Interações. Cultura e Comunidade. V. 6, n.10, jul/dez, 2011, p. 17-49.
Disponível em:. Acesso em 22 nov. de 2019.

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