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Prof.

João Pedro Marra Nogueira


Teoria Geral do Processo
A Constitucionalização do Direito Processual –

O fenômeno da constitucionalização do Direito Processual deve ser analisado


sob duas perspectivas fundamentais:

A primeira corresponde à incorporação de normas processuais ao texto da


Constituição Federal, inclusive como direitos fundamentais, presentes no art.
5º da CF/88, como o devido processo legal (artigo 5º, inciso LIV), o
contraditório (artigo 5º, inciso LV), a ampla defesa (artigo 5º, inciso LV), a
duração razoável do processo (artigo 5º, inciso LXXVIII), a inexigibilidade de
autoincriminação (art. 5º, LXIII), a vedação à prova ilícita (artigo 5º, inciso LVI),
o juiz natural (art. 5°, inciso XXXVII), dentre outros.

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A segunda perspectiva está ligada à análise das normas
processuais infraconstitucionais como reproduções dos
dispositivos constitucionais, demonstrando como o
diálogo entre processualistas e constitucionalistas se
intensificou.

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O “modelo constitucional do processo” traz como principal
característica o direito fundamental a uma tutela jurisdicional efetiva,
célere e adequada. Esse direito, garantido constitucionalmente pelo
art. 5º, XXXV, atua sobre o legislador e sobre o magistrado.
Legislador: ao obriga-lo a instituir procedimentos e técnicas
processuais que permitam a efetivação dos direitos materiais, que
podem ser prejudicados pelo grande número de procedimentos
ofertados pela estrutura jurisdicional (ex.: tutelas de urgência e
evidência, restrição de determinadas provas, meios de proteção de
direitos transindividuais etc.).
O mesmo pode- se dizer da facilitação do acesso ao Poder Judiciário da
população carente (ex.: assistência judiciária gratuita e dispensa de
advogado nos juizados especiais).

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Juiz: ao determinar a subordinação e a compreensão da
lei à Constituição, para que o processo seja conduzido
de modo a se obter uma tutela jurisdicional efetiva,
impedindo que, no caso concreto, as normas
processuais possam se afastar dos princípios e das
garantias constitucionais fundamentais.

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A reprodução das normas Constitucionais no CPC/2015 –
O Código de Processo Civil de 2015 é um marco para o
processo de constitucionalização do Direito Processual
brasileiro, uma vez que positivou de maneira expressa essa
tendência, já em seu artigo 1º.
Esse dispositivo demonstra que o legislador reconhece a
força normativa da Constituição e que, portanto, as normas
de Direito Processual Civil não devem ser compreendidas de
modo isolado, desconsiderando os mandados
constitucionais.

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As Normas do Direito Processual –
O Direito Processual possui regras de aplicação geral em todos os ramos do direito que
se dedicar a procedimentalizar, havendo, no entanto, normas de aplicação específica,
de acordo com cada um desses ramos (Direito Processual Penal, Militar, Civil,
Constitucional, Administrativo, do Trabalho e etc).
No entanto, dentre essas normas gerais, merece especial destaque as Normas
Fundamentais do Processo Civil, uma vez que o CPC/2015 dedicou seu 1º Título
(artigos 1 a 12) exclusivamente para tratar de suas normas fundamentais.
Essas normas fundamentais, dentre outros aspectos do referido código, em razão de
sua adequação constitucional e contemporaneidade, se aplicam subsidiariamente em
todas as matérias de caráter processual, inclusive no Direito Processual Penal e no
Direito Processual Militar (Citação por hora certa, art. 362, caput do CPP, que faz
menção à aplicação do CPC de forma complementar).

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De maneira geral, as Normas Gerais do Direito Processual se constituem por princípios e por regras.

Enunciado n. 370, FPPC:


Norma processual fundamental pode ser regra ou princípio.

Os princípios possuem aplicação geral, tem caráter de diretriz e abstrato, por outro lado, as regras tem
aplicação específica e direta.

Via de regra, tais princípios poderão ser encontrados na Constituição Federal (aplicação geral em todos
os ramos do direito) e nos Códigos infraconstitucionais (aplicação específica de acordo com a matéria),
como o Código de Processo Penal, o Código de Processo Civil, a Lei 9.099/95, Lei dos Processos
Administrativos, dentre outros.

É importante lembrar que o CPC/2015 tem aplicação subsidiária em diversos ramos do Direito, como no
Processo do Trabalho, Processo Administrativo e até mesmo no Direito Processual Penal.

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Princípio da Dignidade da Pessoa Humana –

Princípio basilar de toda aplicação e garantia de direitos dentro do Estado Democrático de Direito constituído pela
República Federativa do Brasil, sendo um princípio fundamental com previsão expressa no art. 1º, inciso III da
Constituição Federal.

Assegura que todos os direitos e garantias fundamentais existentes na CF/88 constituem um mínimo existencial aos
cidadãos brasileiros natos ou naturalizados, aos estrangeiros residentes no país e aqueles que aqui estejam em caráter
transitório, portanto compõem primordialmente o ser humano, não podendo ser violados.

Sendo um princípio de aplicação geral, previsto com fundamento da República, não se exclui sua aplicação das relações
processuais, sendo previsto expressamente no art. 8º do CPC/2015:

Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando
e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência.

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A norma, porém, não é de fácil aplicação:

a) o âmbito de incidência do princípio da dignidade da pessoa humana é ainda muito impreciso;

b) essa "promoção judicial da dignidade da pessoa humana" exige fundamentação específica e


relevante (art. 489, § 1º, I e II, CPC), pois há clara interferência do juiz no processo;

c) o CPC prestigia a autonomia da vontade das partes (art. 190); assim, essa promoção judicial da
dignidade da pessoa humana tem como um dos seus limites a liberdade processual das partes, a
quem se permite, preenchidos os pressupostos do exercício do poder de autorregramento
processual, não aceitar este comportamento mais ativo do órgão julgador; isso porque uma das
mais importantes dimensões da dignidade da pessoa humana é, exatamente, a liberdade, como
poder de regular a própria existência.

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Princípio do Devido Processo Legal –

Um dos mais basilares princípios de todo o Direito Processual, tem sua previsão
expressa no art. 5º, inciso LIV da Constituição Federal:
Art. 5º, LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal.

O princípio do devido processo legal é visto como base norteadora de todos os demais
princípios a serem observados no processo.

Isso se deve à sua importância no ordenamento jurídico, uma vez que tal princípio é
utilizado, inclusive, como uma espécie de limitador da administração pública, a fim de
que ela não aja com desrespeito aos direitos fundamentais reconhecidos nas relações
jurídicas de natureza privada.

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Processo é método de exercício de poder normativo.

As normas jurídicas são produzidas após um processo (conjunto de atos organizados para a produção de
um ato final).

As leis, após o processo legislativo; as normas administrativas, após um processo administrativo.

As normas individualizadas jurisdicionais, enfim, após um processo jurisdicional.

Nenhuma norma jurídica pode ser produzida sem a observância do devido processo legal. Pode-se,
então, falar em devido processo legal legislativo, devido processo legal administrativo e devido processo
legal jurisdicional.

O devido processo legal é uma garantia contra o exercício abusivo do poder, qualquer poder.

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