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HORIZONTE.TENDÊNCIAS E
DESAFIOS1
Be....Dice MartiJuo Guimarie.
Doutora em Sociol" pelo lrucituto Univa"li,,"o de Peeqaiau do
Riode Janeiro <IUPERJ). profeuon·acbunta do Departamento d.
Sociologia fi AntrvpologlA d. Faculdade de Noeofta Citnciu
Humana (FAFlCH) da Univenickde Fl'Cleral deMina c.nb
(lJI1MC).
1 INTRODUÇÃO
Desde que surgiram, no panorama
urbano brasileiro, as favel.. têm sido objeto de
atenção do poder público cujas açõu têm· pautado
por orientações dívereee: ora a deaocupação do
terreno é vista como a l!Ioluçio adequada,
acom panhada ou não de programu de laUta
urbanizados ou da conatrução de conjuntoa d. CDU
para abrigar as famili.., oro docid.... pela
pennonêncio do populoçio no local o urbonizoçio
da área ti, mais recentemente, a resularização do
espaço ti a legalizaçio da paue da terra pu.aram a
ser ccneideredea e.trat'sio od.quodo, porto do
equacionamento do problema. Ao mamo tempo,
esforços são de.envolvidos na tentativa de impedir
que novaa invUÕM ocorram, eem muito 8Uceaao,
entretanto.
o obj.tivo deoto trobolho , onoIi.ar,
de uma penpeetiva hi.8t6rica, a origlm ti evolução do
problema d.. CaveJ.. em uma cidade planej.da e o
comportamento do poder público frente o ..to
realidade. Atrav6ll de um breve hist6rico, procuro
recuperar como se deu o proee.lo de formação e
crescimento das favel... em Belo Horizonte 8 a
IElite b'aba1ho , tIIU Mitul'a preÜlaiMl' do. dAdo. d. uma peequiM
ruio ....... q.. venho reoIiaIldo ....... -"" da _ .....
popular em Balo HorizoD...d*o.,_da <riaçIo da cidade(I1ll1)
." h*. e que ronca CGII:Il (J apojo do CoDMJho N.cioul de
De.tenvoMmen&o CieGtUko e Tecnol6p:o (CNPq). W&Qia Maria de
Aralijo e Karla BiUwinho GOIIITa foram aaziliare. da peeqaia
participuam do MvantalUllto e an.6Iiee de d&d.~,
189~
-19i1O
FAVELA LOCALIZAÇÃO/BAIRRO EPOCA
Surgtmenrc I Remocão
Alto da Estação
Córrego do Leitão
Barroca
Praça Raul Soares
Pedreira Prado Lopes
Perrela
São Jorge (Morro d..
Pedraa)
Píndura Saía
ANO REMQÇAO
IFamília População
~=,.....__I-Ar-.-a-~-"""'---I
1971 1
1972 36 691 3 038
1973 54 1 143 4815
1974 56 645 2 818
1975(1) 31 1076 5273
1976 19 950 4 703
1977 21 1093 5 774
1978 32 2 270 10 564
1979 53 445 2 252
1980 46 414 1938
1981 40 127 601
1982 8 435 2 209
1983 4 23 151
TOTAL 421 9313 44136
P'oc....: CHlSBBl. RaI.IItbrio da. .tI~
di. Coord.lrnaç;to da Hablt.t.ç60 di!
tnr..tni.. 90cW di! Belo HoriaoGte. BeM Honaon.... 1971. 1913. 1914. 1916,
1911, !917. 1918, 1979, 1910, 1911, lil12. 1983
(l).D 1m, a1Im .... &rui. foruD tuIb6m remo'l'tdu Jn&a W fam1Jw.,.
"Ima kltal. 3 i'1'9 PN'OU (1\». MPOClLuMftln~qutMnm ..ir du c.....1aa.
A Cavela torna-se entio objeto de
abanção do governo do Estado que, entre outras
providênciu, cria um programa de urbanização de
fa"'el.., o que representou o reconhecimento implícito
do direito d. a população permanecer na área
in.adid..
O Prosrama de Deeenvolvimenee d.
Comunidad.. (PRODECOM) da Secretaria de E.tado
do Plan.jamonto o Coord.nação Gorai (SEPLANIMG)
pautava-.. por uma propoeta de planejam.nto
participativo implementado juntamente com aa
aallocíaçÕM comunitUias. Poe.uia cinco linh.. d.
prognun.. do.tinados ia Cav.l.. o áre.. periféric..,
entre oe quais o de urbanização legalização de
po..o da tarre., aâvidadea .m que .ra auziliado pela
CliISBEL -para CUIU' oe deelocam.ntoe de
população neceuários ia obra., mantendo,
entretanto, lU (amai.. na me.ma área. Também o
Ph",.jlllllento da Região M.tropolitana do Belo
Horizonte (PLAMBEL) 6rgão do Estado
.ncarregado do plan.jamonto da Região
Metropolitana de Belo Horizonte -foi eeicnede para
.IÜKJrar um projeto de lei de uso do .010 e
parcelamento e.pedal, destinado àl áreas de favela.
Se d. uma parte estava garantida a
porman6ncia cIaa fevel.. .m.tente. em áreu
Antlioo'" Conj1U1tura, Belo Horizonte, v.7, n. 2.3, maio/d . 1992
públicas e urbanizáveis, o crescimento da população
levou à continuidade do processo de invasão de áreas
e fonnação de novas favelas, só que em locais mais
distantes. O controle sobre as invasões nas áreas
centraie tor-nou-se maior, provocando o deslocamento
da população para novos lugares, em especial junto
aos centros de emprego indu.!Itrial -as cidades
vizinhas de Betim e Contagem . onde uma ampla
ârea em torno da Fábrica Italiana de Automóveis
(FIAT) foi invadida. Também surgiram favelas em
loteamentos periféricos não-ocupados e de
parcelamento muito antigo, cujos proprietários, em
geral, residiam no interior do Estado e se
desinteressaram dos terrenos em virtude da pouca
valorização.
o PRODECOM representou um
marco na política de favelas, quando pela primeira
vez se desenvolveu um. programa de urbanização da
área com a participação da população local não só na
fa.e de planejamento para escolha do que iria ser
feito mas, também, diretamente, através do trabalho
em mutirão, na realização das obras. Em três anos
de atividade, o PRODECOM atuou em 11 áreas de
favela, beneficiando, aproximadamente, 70 mil
pesso.. (quadro 3). O programa de legalização da
posse da terra, todavia, ficou no projeto apenaa e
previa, na época, a legalização de 1 200 low na Vila
Cernig 8 de 800 no Cafezal. Na realidade, a Vila
Cemig, primeira favela de Belo Horizonte cujos
moradores receberam o título de prcpriedede, .6
realizou seu processo de legalização em 1986.
Em 1984, o PRODECOM foi
deeecívedc por razões políticas devido à mudança de
governo, não deixando, entretanto, de existir. Cm
ano antes, em 1983, havia sido criado o Programa
Municipal de Regularização de Favel.. (PRÓ.
FAVELA) qUI teve o mérito de ee conetituir no
instrumento através do qual o poder público
reconhecia, de forma explicita, o diroito do favelado à
propriedade de aua moradia. Sua "IJUlamantação,
entretanto, eé veio a ocorrer quase doi! moa mais
tarde quando, sob pr...io doa movimento. populares
e da Paatoral de Favelaa, foi aaainado o Decreto a. 4
762, de 10/811984, momento em que foi extinta a
CmSBEL.
Atrev6a do novo Pro,rama, 8.1
flvelaa localizadu em tarrenoo públicoa e paasívei.
de urbanização foram decrltadu Setor Eepocia! (SE·
4) , paaaando .eue habitantoo a terem aaaegurado o
direito de permanecerem no local, salvo caao de
remoção neceasária devido riaca. ou realização de
obras de urbanizaçio. Neliee sentido, foi elaborada
uma legislação e um C6di1fO de Poatur.. Eapociaia
para e 88 áreas, pennitindo um parcelamento a um
padrão de urbanização diferonciadOl. Para
implementação do PRÓ.FAVELA, .m 1986 foi criada
a Companhia Urbanizadora de Balo Horizonte
<URBEL), 61'Jlão da Prefeitura Municipal encarregado
de todu as queatõea afetas àa rav.lu: urbanização,
regularização, titulação e até remoção, quando
necessária.
FAVELA
IOBRAS ItEALlZADAS(l)
1981
chAfanse., eaLU d'''p. aeeoo
V1'na. c:a1~manLo.
praça. lI\uro
..rnll'lO, 4feNpln
B.trT1lpln Santa
L_ 1981 eaLç._nto. ae.NO V\áno. muro
"00 .m_
ç.bana Pai TOlDAI 1982 6000
eanahuç.lo NeM
Catoul 197M!2 6000
cn.l&nton. aC*11OV\M\O.
:!Te.....I'l'ln. calçamento. rede de
"cua. lu:.. llwrunaç&o puillica,
poIto policiaI, limpeu pubhea.
elOCll MW"O .mlno. praça
CeIN' 198<>1' (213400
pr~.~eaIçamMlto,
qua.. NIO'O.Llwn. pUbltca,
aceNO .uno, e-..da. Muro
un_
1981 (21s OC() ~UM Mt"I'. eocn.
.'IOto e dNnaptD
F4Ib~
(981 6600
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c1nnquD. ca1ç&m. __Y\M\o.
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ronL*; COlnlNlnru. t:tbaruu.40'" da Belo Hortaonta IURBELl
(I, ~In
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Man.ano. Att,..\&.
ss 18.8
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1.,
'"
1., 1J
F'ontü: Fundaç.to (rablutD 8r...I-uo ~
GeoJUfta. Ea~U,uea
(1808), PraCeitura dlI Belo Hori.r.onte.ColDfU\bIa Urbaruaadoa da Be)oHonsonw Cl
"RB8Lt
,t l Pop~
eal.lm..da.
Em média. 90% das casas dispõem
de água, 93% têm luz elétrica e 70% esgoto, o que é
uma situação bem melhor do que a doa conjuntos
habitacionais da periferia da cidade, que não
dispõem desses serviçce.Nc entanto. há que se notar
que, apesar da melhoria do padrão de urbanização
nessu érees e da existência de serviços urbanos, a
qualidade de vida da população aotá aquém de um
padrão daoeJável, sela pela qualidade de eonstruçâ«
das cases, seja pelas condições de saneamento,
devendo-se rel!lsaltar que e8sa estratégia de moradia
tem-se revelado a única possível para um conjunto
Significativo da população.
Se houve melhoria nos padrõe. de
urbanização e atendimento de serviços básico., se o
programa de regularização de ue.. e do titulação
proaaepe, ainda que lentamente, garantindo a
propriedade, todas eseas açõee, no entanto, não
foram capazel de promover a integração du áreas de
favela à malha urbana. Estaa continuam eendo
difereneiadas, especialmente as localizada. na zona
4 REFEUNCIAS
BmLIOGRÁFIcAS
1 AFONSO. MariA -cio, AZEVEDO. Sú1Po do. Podor
públioo o IIlO'rimonto do Canladoo. ln:
POMPERMAYER, Malori COrt.), Mmrim'ntM "Xi'"
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Coreia. Rio do J_. 1982. <IX R Coral
elo Bruil· 1980 .1,'.3....14).
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RIodoJODOlro: IBGE, 1992.
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~do _ ooc:ial do lIelo_.lleIo
Horizol1te, 1972; 1973; 1974; 1976; 1978; 1977; 1978;
1979; 1980; 1981; 1982 O 1983.
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ooc:ial UIo iA bruilian Caftlu. ln: URBAN CHANGES
AND CONFLlCT CONFERENCI:. 8. 1991,la_"1r
(hIg.l. LaI1caetor(hIg.): ...... 1991.
6 CUNHA, Nolo S&liba. Uri>aIWooçAo do Ca..lao O balrroo do
periI'aria: CODOidanç/lOO IOb... a upori&Dcla do
PRODECOM om Bolo HorizoDto. ln: ENCONTRO
ANUAL DA ANPOCS. 6. 1982, FriburlIo· Fribw'J'''
ANPOCS. 1982.
sul da cidade, e, cada vez mais, identificadas como
áreas de criminalidade. Hoje faz parte da história
das grande. cídedee brasileiras a utilização das
favelas como redutos do tráfego de drogas e abrigo de
quadrilhas, sofrendo seus moradores dupla presaâc .
a do. marginais que ali vivem e da polícia que realiza
"batidas no morro" à procura de bendidce.
00 uma perspectiva da politica
pública é grando o do.aflo que hojo so coloca pera o
governo e a sociedade em geral o aumento crescente
da população dessas áreas e a deterioração da
qualidade de vida de eeue moradorea, sobretudo no
que diz respeite à pobreza o falta de segurança. A
neceslÔdade de políticas adequadas c"paz.. de
equacionar o problema, nu váriu dimecaões em que
ele 118 apresenta, ee faz cada vez mais W"J6nte a fim
de evitar poeetvel enfrentamento entre Cavelada.,
marginaia, policia e a população em goral.
7 GUIMARÃES, Berenic:e ~.
C.ArIM bamme ft
ba"'"""tl, lIelo Horimllte. cidado p1oDojada. Rio do
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Rio do JODOlro (IUPERJ). Sod....do BraaiIoira do
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8 LE VEN. MlchoI Morio. EItuclo do .la Caftlu o quetn>
balrroo ~do Bolo HorizoDto. PRAXIS. lIelo
HorIsoDto, p.llI-38. 1976.
9 MINAS GERALll. Socrataria elo PlaDojaD1Ollto o
CocmIoDoçIo GoraI. PRODECOM' Programa 110
~do ComW1ldadoL lleIo Horizonte.
1981.
10 MINAS GERAIS. Soc:ratoria do P\anojomonto o
Coordol1oçlo GoraI. PRODECOM Programa do
n...n?OI~
de Com·mjdede': trtI aIlDI de
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