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CONTOS DE FADAS: POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO

INFANTIL

Pedroso, Bruna Maria da Rocha Pereira


RU 1876098
Biazus, Kaciara Fernanda

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo reconhecer as possibilidades de
aprendizagem através dos contos de fadas nos estudos da educação infantil e
a sua importância para a formação da criança nos âmbitos educacionais,
emocionais e cognitivos. O artigo propõe um estudo através de uma pesquisa
bibliográfica com destaque para alguns autores consagrados no que se diz
respeito a leitura e o conto como Abramovich (2001), Coelho (1987 e 2001),
Hugo (2009), Bettelheim (2002) e outros. Também traz um breve histórico
sobre a educação infantil, o surgimento do conto de fadas e principais autores
do gênero literário. Os contos de fada apresentam-se como uma excelente
possiblidade a ser explorada na aprendizagem e na imaginação da criança, a
partir da construção do processo de aprendizagem que as estimule. Sendo
assim o professor tem papel fundamental nesse processo, por ser o mediador e
poder trazer infinitas possibilidades de aprendizagem.

Palavras-chave: Conto de fadas. Educação Infantil. Aprendizagem.


Criança. Professor.

1
Introdução

O presente trabalho pretende fazer um estudo a respeito da importância


dos contos de fadas na educação infantil, verificando a contribuição dos
mesmos no desenvolvimento social, emocional e cognitivo da criança.
Baseados na pesquisa bibliográfica, o artigo mostrará as origens dos contos de
fadas, sua repercussão na literatura infantil e toda a importância que exercem
para despertar o imaginário e o gosto pela apreciação da leitura desse tipo de
texto. No decorrer do estágio de observação na educação infantil pude
perceber o quão os contos de fadas têm sido duramente criticados ou deixados
de lado no processo de aprendizagem escolar, por acreditarem que são
permeados de estereótipos, onde a figura feminina é vista como serva e com
grande apelo ideológico, assim poucos professores fazem uso dos mesmos e
quando os utilizam, o fazem de forma inapropriada para a faixa etária, ou
apenas fazem o processo da leitura e não a contação da estória e não
conseguem realizar a prática pedagógica com êxito.
Assim surgiu a necessidade do presente artigo que é trabalhar
possiblidades de intervenção pedagógicas para os professores com o uso do
conto e como essas crianças podem aprender com eles. Debater a real
importância desta literatura para a formação de leitores, pois a criança desde o
seu nascimento ouvi histórias, alguém lê para ela e assim nessa atmosfera que
encontra em seu lar, consequentemente essa criança também se tornará um
leitor.
Ler para mim, sempre significou abrir todas as comportas para
entender o mundo através dos olhos dos autores e da vivência das
personagens.... Ler foi sempre maravilha, gostosura, insubstituível...
E continua, lindamente, sendo exatamente isso!
(ABRAMOVICH,1997, p.17).

Mas antes mesmo do processo de alfabetização e letramento há algo


mais nos contos, também classificados como contos de fadas, que são
tradições orais que são contadas de geração em geração, apresentam
elementos das narrativas orais de um tempo distante, quando não havia a
preocupação com a formação das crianças.

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BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Nem sempre a criança foi vista como um ser humano, onde ela tivesse
um papel atuante e lugar de destaque na sociedade, foi no processo da
Revolução Industrial, onde as mulheres tiveram que ir para as fábricas
trabalharem que surgiu a criação das creches, para que essas mulheres
tivessem onde deixar seus filhos, enquanto trabalhavam. Portanto pode-se
afirmar que a creche/escola foi criada apenas com a intenção de cuidar e
somente mais tardiamente é que sua função mudaria.
No ano de 1980 ocorreu um avanço em relação a educação infantil,
onde estudos foram realizados para discutir o papel da creche. No ano de !988
a Constituição Federal alega que é direito da família e dever do Estado que
toda criança tenha acesso a esse serviço.
No Brasil a faixa etária atendida pela educação infantil é de 0 a 5 anos
de idade.
O Estatuto da Criança e Adolescente, criado em 1990 também reafirmou
os direitos constitucionais da educação infantil no País.
Mais tarde em 1994 o MEC, publicou um documento denominado de
Política Nacional de Educação Infantil, este que estabeleceu algumas metas
para a educação infantil, tais como: melhorar a qualidade no serviço prestado,
ampliar o número de vagas, qualificar os profissionais da área, esta que
originou o documento por uma política de formação para os profissionais da
educação infantil.
Dessa forma a educação infantil passou a ser a primeira da etapa da
educação básica, depois seguida pelo Ensino Fundamental I e II e o Ensino
Médio.
Pode se concluir que a educação infantil é muito jovem ainda, só a partir da
década de 80 é que ela se iniciou e tinha outros objetivos, mas hoje deixou de
ser apenas o cuidar, mas também educar, sua principal função, onde a criança
é vista como ser humano, capaz de criar, inventar, raciocinar, descobrir e
aprender é na educação infantil que as crianças poderão desenvolver suas
competências, habilidades, emocionais, cognitivas e pessoais.

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BREVE HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL

  A palavra literatura vem do latim littera, que significa “letra”, portanto


trata-se de uma das manifestações artísticas do ser humano, que pode
representar comunicação, linguagem e criatividade, sendo considerada a arte
das palavras.
O vocábulo Fada tem origem no termo fatum, que vem do latim, cujo
significado é destino, fado e fatalidade. Essa palavra apresenta a possível
realização de um sonho ou de um ideal, é o que ocorre em muitos desses
contos, como o clássico Cinderela, a menina pobre, gata borralheira que tem o
sonho de ser uma princesa e acaba por encontrar o príncipe de sua vida, o seu
grande amor. Sua vida é transformada da noite para o dia por uma fada
madrinha. As fadas geralmente são belas mulheres, são vistas como seres
angelicais, benevolentes, mágicas e com poderes sobrenaturais de realizar
qualquer coisa, até mesmo os sonhos mais impossíveis, solucionar os
problemas reais que não conseguem achar solução.
Coelho (1987, p. 13) afirma: [...]

Narrativas sem a presença de fadas, via de regra se desenvolvem no


cotidiano mágico (animais falantes, tempo e espaço reconhecíveis ou
familiares, objetos mágicos, gênios, duendes etc.) e têm como eixo
gerador uma problemática social (ou ligada à vida prática concreta).
Ou melhor, trata-se sempre do desejo de auto realização do herói (ou
anti-herói) no âmbito socioeconômico, através da conquista de bens,
riquezas, poder material etc. Geralmente, a miséria ou a necessidade
de sobrevivência física é o ponto de partida para as aventuras da
busca. Eles se originam das narrativas orientais, e enfatizam a parte
material/sensorial/ética do ser humano: suas necessidades básicas
(estômago, sexo, vontade de poder), suas paixões do corpo.

Com o intuito de atingir as mais diferentes mentes, este artigo será


direcionado aos estudos dos contos de fadas e as possíveis adaptações para a
educação infantil, na qual o professor é o principal alvo, por ser o mediador
deste mundo das crianças, em um importante período de formação e
desenvolvimento, a infância, que é o principal alicerce na Educação Infantil.

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Antes de iniciarmos os estudos, é necessário conhecer a origem do
conto de fadas e conhecer alguns de seus precursores, que marcaram
gerações com suas mais belas obras.
Neste cenário podemos destacar que surgiu no século XVII, na França,
a primeira coletânea de contos infantis, organizada pelo poeta e advogado
Charles Perrault. As histórias de Perrault tinham origem na tradição oral e até
então não haviam sido escritas ou documentadas, sendo assim 8 estórias
foram contempladas: A Bela Adormecida no Bosque; Chapeuzinho Vermelho;
O Barba Azul; O Gato de Botas; As Fadas; Cinderela entre outras.  Assim
nasceu a Literatura Infantil como gênero literário, com Charles Perrault, mas
ela só foi amplamente difundida no século XVIII, a partir das pesquisas
linguísticas realizadas na Alemanha por dois irmãos Jacob e Wilhelm,
conhecidos mundialmente como Irmãos Grimm.
Através de suas pesquisas linguísticas, os irmãos Grimm encontraram
um acervo de estórias maravilhosas e assim surgiu uma nova coletânea de
contos, como: A Bela Adormecida; Branca de Neve e os Sete Anões;
Chapeuzinho Vermelho; A Gata Borralheira; O Ganso de Ouro; Os Sete
Corvos; Os Músicos de Bremen; A Guardadora de Gansos; Joãozinho e Maria;
O Pequeno Polegar e entre outros contos. Mas com a preocupação dos
costumes cristãos da época, eles resolveram realizar algumas alterações
nessas estórias, pois muitos delas retratavam a violência e a maldade, então
eles alteraram e criaram novas verões defendendo o carácter moral e o ideal
cristão.
Assim também ocorreu com outro autor da época, Hans Christian
Andersen, que também defendeu a ideologia dos irmãos Grimm e deu
continuidade a criar contos que ensinassem a boa moral, o caminho correto
para alcançar o céu, novamente carácter religioso que predominava na época,
permeava suas estórias, portanto algumas de suas obras são consideradas
tristes, como A pequena vendedora de fósforos, garotinha pobre, que não tinha
casa, morava na rua em um frio terrível, vendia fósforos para aqueles que
passavam pela rua, ignorada por todos, ela acaba morrendo de frio. A frase a
seguir dita pelo escritor dinamarquês afirma a sua fé cristã baseada em seus
contos: “A vida de cada pessoa é um conto de fadas escrito pelos dedos de
Deus”. Hans Cristian Andersen.

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Também não podemos deixar de destacar o precursor do gênero da
Literatura Infantil no Brasil, Monteiro Lobato, eternizado pela grandiosidade de
suas obras “Narizinho Arrebitado” e “O Sítio do Pica-Pau Amarelo” que marcou
gerações com suas lindas estórias. Lobato certa vez fez a seguinte afirmativa:
“Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar”.

Ao longo dos anos pode-se perceber que os contos foram sofrendo


alterações para passar valores humanos, ideais cristãos, cunho religioso e até
mesmo mostrar a eterna luta do bem contra o mal, mas onde o bem sempre
vence.
A seguir veja alguns contos de fada conhecidos mundialmente que são
considerados clássicos, que foram eternizados e contados de geração em
geração, muitos se tornaram produções para o cinema como animações
infantis e atualmente ganharam novas versões em filme, deixando de serem
apenas livros e desenhos animados.

Branca de Neve
Desenho Filme

Cinderela
Desenho Filme

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A Bela e a Fera
Desenho Filme

POSSIBILIDADE DE APRENDIZAGEM ATRAVÉS DOS CONTOS

Assim a criança é inserida nesse mundo do faz de conta, estórias com


personagens bons e ruins, aguçando a sua imaginação, criatividade, o lúdico,
novas descobertas, ideias, significados, cada criança se identifica com um
personagem determinado, aquele que desperta sua simpatia, e que faz com
que ela gostaria de poder viver aquela estória. “A criança se identifica como um
bom herói não por causa de sua bondade, mas porque a condição de herói lhe
traz um profundo apelo positivo”. (BETTELHEIM, 2002, p.18).
Os contos de fadas são portadores de mensagens importantes a mente
consciente, pré-consciente ou inconsciente, qualquer que seja o nível em que
funcionem. Lidando com problemas humanos universais, especialmente com

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os que preocupam o espírito da criança, as histórias falam ao seu ego
nascente, encorajando o seu desenvolvimento e, ao mesmo tempo, aliviam
tensões pré-conscientes ou inconscientes. Portanto o professor tem o papel
principal, faz o papel do mediador com objetivo de contribuir para criança o
conhecimento de aprender, que deve ser despertado. Através dos contos de
fadas, a criança adéqua o conteúdo do inconsciente às fantasias conscientes,
com a orientação do professor em sua didática, que desenvolva na criança a
vontade de aprender. Eles possuem a facilidade de se comunicar com os
pensamentos fantasiosos, mágicos e naturais das crianças. E por meio dos
contos de fadas podemos levar a criança a mundos que existem tão somente a
sua imaginação. Por isso os contos de fada não atraem somente crianças, mas
também adultos que são levados para dentro da estória e viver em um mundo
de fantasias.
Coelho (1987) afirma que, no universo maravilhoso, fazem parte os
contos de fadas e os de encantamento, com a diferença que ambos têm suas
problemáticas diferentes. As histórias dos contos de fadas trazem a realização
da existência e do interior do herói, diferente dos contos de encantamento, que
trazem satisfação do herói, no âmbito social e exterior. Os contos, por serem
de origem celta, trazem a etimologia da palavra fada que, no latim significa
fatum– fatalidade. Para Coelho (1987, p. 14) os contos de fadas significam: [...]

Com ou sem a presença de fadas (mas sempre com o maravilhoso),


seus argumentos desenvolvem-se dentro da magia feérica (reis,
rainhas, príncipes, princesas, fadas, gênios, bruxas, gigantes, anões,
objetos mágicos, metamorfoses, tempo e espaço fora da realidade
conhecida etc.) e têm como eixo gerador uma problemática
existencial. Ou melhor, têm com o núcleo problemático a realização
essencial do herói ou da heroína, realização que, via de regra, está
visceralmente ligada à união homem mulher.

É através de uma história que se pode descobrir outros lugares, outros


tempos, outros jeitos de agir e de ser, outras regras, outra ética, outro olhar
É ficar sabendo história, filosofia, direito, política, sociologia, antropologia, etc.
sem precisar saber o nome disso tudo e muito menos achar que tem cara de
aula (ABRAMOVICH, 1997, p.17).
Neste sentido, quanto mais cedo a criança tiver contato com os livros e
perceber o prazer que a leitura produz, maior será a probabilidade de ela
tornar-se um adulto leitor. Da mesma forma através da leitura a criança adquire

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uma postura crítico-reflexiva, extremamente relevante à sua formação
cognitiva.
O educador pode marcar a infância dessas crianças pelo encantamento
de forma tão significativa. Assim, ele deve levar essa literatura para dentro da
sala de aula através da contação e não somente pelo simples fato de ler e
mostrar meras figuras ilustrativas, o conto deve ser interpretado, fazer um
convite a criança para viajar nesse mundo de fantasias, fazer a contação com
entonação, encantamento, recursos visuais como fantoches, bonecos,
dramatizar e usar e emoção para que o leitor possa sentir e viver cada
acontecimento narrado. É por meio da leitura que essa criança encontrará
subsídios para resolver seus conflitos internos, trabalha o imaginário, esclarece
as suas próprias dificuldades e encontra meios para solucionar suas dúvidas e
anseios, também através da leitura a criança tem a oportunidade de
transformar, ampliar e enriquecer sua experiência de vida, a possiblidade do
encantamento, assim a criança interage com diversos textos trabalhados, a fim
de possibilitar o conhecimento do mundo em que vivem e assim favorecer a
construção do seu próprio conhecimento de mundo.
Segundo Abramovich (2001), é ouvindo histórias que se pode sentir
(também) emoções importantes, como a tristeza, a raiva, a irritação, o bem-
estar, o medo, a alegria, o pavor, a ansiedade, a tranquilidade, e tantas outras
mais, e ver profundamente tudo o que as narrativas provocam em quem as
ouve.
Todos esses sentimentos e sensações podem ser trabalhados com as
crianças a partir da relação que pode ser feito com as mais variadas
personagens desses contos como por exemplo: Branca de neve representa a
inocência, Cinderela pode representar a rejeição, Pinóquio representa a
mentira e a culpa, João e Maria podem representar abandono e rejeição,
Chapeuzinho Vermelho pode representar o medo e a desobediência, Patinho
Feio, como o próprio nome diz, a feiura, o preconceito e assim por diante.
Assim a criança aprende a lidar com seus sentimentos e frustrações,
aprende a superar e vencer obstáculos, a expressar suas emoções, como
resolver conflitos, trabalhar esses sentimentos negativos, tão presentes na
infância e que se faz necessário aprender a gerir a inteligência emocional.

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Coelho (2003), afirma que através dos contos de fadas é possível
despertar nas crianças o prazer em ouvi-las, e isso é importante para a
formação de qualquer criança, pois estimula a criatividade, a imaginação, a
brincadeira, a leitura, a escrita, a música, o querer ouvir novamente,
desenvolvendo dessa forma a oralidade nas crianças dessa faixa etária
Também conseguem aprender a diferenciar o bem e o mal, quem são os
heróis e vilões, torcem para o bem ganhar e ficam felizes quando o mal é
derrotado, podendo fazer uma associação aos seus sentimentos negativos
quando o vilão perde ou morre.
Hugo (2009) retrata que os contos de fadas exercem uma influência
muito benéfica na formação da personalidade, através da assimilação dos
conteúdos da estória as crianças aprendem que é possível vencer obstáculos e
saírem vitoriosos. Podemos trabalhar a relação do limite, estabelecer relação
com o que pode ou não ser feito, saber diferenciar o certo e o errado, tais como
se desobedecer aos ensinamentos e ordens de seus pais haverá
consequências, como no caso de Chapeuzinho Vermelho, que falou com um
estranho na floresta, quando a ordem de sua mãe era para não o fazer e o fim
da estória já conhecemos.
Também podemos trabalhar com os contos de fada que tudo tem, pois
tudo nessa vida tem um começo, meio e fim. Que não somos eternos e
invencíveis como os personagens dos contos e desenhos, assim a criança
aprende esse conceito e passa a ampliar a sua visão e percepção de mundo.
O professor também pode trabalhar a ética, valores humanos e
ensinamentos, através das lições que essas estórias nos passam, como não
mentir, não desobedecer e assim poder transmitir valores para formar adultos
felizes e éticos.
Através do conto de fadas na Educação Infantil também podemos
trabalhar a oralidade das crianças, estimular a fala, enriquecer o vocabulário,
promover competências cognitivas e raciocínio lógico.
Hugo (2009) alega que: os contos de fadas na literatura infantil abrem espaço
para o raciocínio lógico, para os questionamentos e a reflexão, envolvendo o
aguçar de sua inteligência, de sua sensibilidade artística e sonho com o real,
numa forma natural, onde a criança irá se adequando no seu convívio social,

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escolar e familiar, dando oportunidades à criança de encontrar significado para
a vida sem perder a sua essência de maneira prazerosa e descontraída.
Quando a criança se identifica com uma estória ela pede para que seja
recontada muitas e muitas vezes, sem se importar com a repetição, pois dessa
forma ela está aproveitando plenamente todo o contexto, conteúdo e tudo que
a estória tem para oferecer para ela e para seu mundo. Segundo Bruno
Bettelheim,
Quando as crianças pedem para que uma história seja relida várias
vezes, pode ser porque aquele conto está atuando em seu
inconsciente ajudando-a a resolver algum problema, que ela própria
pode até não ter identificado qual é. Se a criança não fica
entusiasmada pela história, isso significa que os motivos e temas não
despertaram nela uma resposta significativa nessa altura de sua vida.
O dia em que a criança perder temporariamente o interesse por esse
tipo de conto pode ser porque os problemas que a tinham feito
procurar a história foi substituído por outros, que podem encontrar
uma melhor expressão num outro conto, por esse motivo é que a
melhor opção é sempre ouvir a indicação da criança BETTELHEIM
(1980.p 26).

Um conto só era recontado repetidamente, e ouvido com grande


interesse, se satisfizesse as exigências conscientes e inconscientes de muitas
pessoas (BETTELHEIM, 2002, p.52).
Através da linguagem simbólica presentes nessas obras, o professor
pode explicar algumas questões na linguagem da criança que na linguagem
adulta não seria possível, assim essa característica tão importante vem auxiliar
a responder os porquês, esse que é inerente a criança, pois a educação infantil
é a fase de maior curiosidade e dos porquês, todos querem saber e entender
os reais motivos de determinadas situações.
Melanie Klein (1996) considera o simbolismo como “a base de toda
fantasia e de toda sublimação, assim como a base da relação do sujeito com o
mundo exterior e a realidade”.
Outra possibilidade para que o educador possa trabalhar através desses
textos é sobre o preconceito, o bullyng, algo que vem se tornando cada vez
mais crescente em nossa sociedade, sem levar em consideração raça, classe
social ou até mesmo faixa etárias, pode-se verificar que desde muito pequenos
as crianças já conseguem excluir, separar e mesmo que seja algo inconsciente
acabando praticando algum tipo de preconceito e gerando uma baixa
autoestima em alguns alunos. Com os textos podemos usar que não tem

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problema ser diferente, que cada um tem seu jeito, que todos merecem ser
respeitados e amados, ninguém é igual a ninguém, e quantos “patinhos feios”
ou “Joãos e Marias” devem ter dentro de nossas classes e através desses
contos podemos combater o preconceito, trabalhar a socialização e fortalecer a
confiança e aceitação.
Cabe ao professor trazer esse encantamento para a sala de aula,
também vale ressaltar que é necessário não somente realizar a contação da
história, mas também promover atividades relacionadas com a estória contada,
assim o aluno poderá refletir, interpretar, repensar, avaliar, entender, reagir,
compreender e diluir tudo aquilo que foi ouvido.
O professor é o mediador entre esses processos e cabe a ele verificar o
como a criança está interagindo com a estória contada, como ela absorve as
informações, como ela fará as comparações e paralelos ao seu mundo interior
e a sua volta, é necessário pensar no tempo da narrativa, para qual faixa etária
será contada, o lugar que será contada, favorecer o suspense, encantamento,
fazer uso de sons, onomatopeias, envolver a criança nessa contação, a fim de
que ela possa mergulhar no mundo da fantasias, onde tudo é possível.
O primeiro local onde pode ser desenvolvido o gosto pela literatura é
dentro da sala de aula, claro que os pais ou responsáveis também fazem parte
desse processo, de apresentar a literatura e contação de estória para seus
filhos. Mas o professor é peça fundamental para cativar seus alunos e torna-los
apaixonados para literatura, pois é na infância que a criança vê o livro como
algo mágico, encantador e cheio de surpresas e mistérios. Cabe a ele
despertar o interesse e fazer com que queiram mais e mais.

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Considerações finais

“Todas as vidas dos homens são contos de fadas


escritos pelo Dedo de Deus”. Hans Christian Andersen

Através do presente ao artigo pode se concluir que muito além de lindas


estórias, os contos de fada trazem infinitas possiblidades de aprendizagem,
através da contação, comprometimento e estudos.
Buscou-se através de referências teóricos ressaltar suas origens, como
se desenvolveu o conto de fadas e suas contribuições para as crianças na
educação infantil, esta que é a primeira etapa da Educação Básica. Também
buscou-se definir de modo sucinto a literatura, a origem da educação infantil no
Brasil, as origens dos contos de fadas, principais autores e suas contribuições.
Permitindo assim entender que a literatura infantil não é só abrir um livro
com imagens e ler, é necessário envolver a criança, criar o clima, suspense, o
encantamento e o favorecimento para despertar o lúdico, o imaginário, a
criatividade, é divertir e aprender. A escola continua a ser o melhor local para a
formação do leitor.
A criança não era vista como um ser crítico, pensante, ela não tinha
papel de grande destaque na sociedade e muito menos as obras literárias eram
escritas para elas. Mas aos longos dos anos essa realidade se transformou e a

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criança passa a ser sujeito histórico-crítico no processo de aprendizagem,
assumindo o papel principal.
A escola passa a ser fundamental nesse processo, onde a criança
poderá criar, crescer, desenvolver, socializar, sonhar, imitar, superar, vencer,
gerenciar as emoções, lidar com as frustrações, onde passa a desenvolver o
conhecimento intelectual e não somente o técnico. Portanto pode-se afirmar
que esse gênero literário é extremamente rico e amplo, que cabe ao professor
buscar didáticas novas e diferenciadas para levar este conteúdo a sala de aula.

Dessa forma entende-se que os contos de fadas são de extrema


importância no processo ensino aprendizagem e desenvolvimento na infância,
pois favorecem a socialização e o desenvolvimento das habilidades das
crianças.
Com isso pode-se afirmar que esses textos extremante ricos, com
conteúdo diversificados, desde de seu processo de criação, sabedoria popular,
transmissão de valores e ensinamentos que favorece as crianças em todos os
aspectos, e que desta forma possam se tornam adultos mais felizes, realizados
e que serão leitores e que formarão outros leitores.
Segundo Andersen, a própria vida é um conto de fadas maravilhoso.
Que assim seja, que cada educador possa escrever o seu conto de fadas e
deixar as suas marcas em seus alunos, a fim de que eles também possam
escrever outros lindo contos de fadas através de sua vida e existência, através
da magia e encantamento que eles transmitem que possamos construir um
mundo melhor, cheio de amor, fé e esperança.

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Referências
ABRAMOVICH, F. O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo:
Summus, 1999.

ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:


Scipione, 1997.

BETTELEIM, Bruno. A Psicanálise dos Contos de Fadas. Rio de Janeiro, Paz e


Terra, 1978. BETTELHEIM, Bruno. Psicanálise dos contos de fadas. Bertrand,
2007.

HUGO, V. Os contos de fadas: Mediando a formação da personalidade infantil.


2009. Disponível em: < http://www.Artigo.com/educação/

KLEIN, M. (1996) Amor, culpa e reparação e outros trabalhos (1921-1945).


Volume I das obras completas de Melanie Klein. Rio de Janeiro: Imago. (1921)
“O desenvolvimento de uma criança”, p.21-75.

OLIVEIRA, Patrícia. A contribuição dos contos de fadas no processo de


aprendizagem das crianças. Monografia apresentada ao Curso de graduação
em Pedagogia do Departamento de Educação da Universidade do Estado da
Bahia – UNEB.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. Rio de janeiro: Zahar, 1978.

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SILVA, Aurilene Andrade da. Floresta Fantasia. Ilustrações Waldeck-
Teresina, Halley, 2006.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. Tradução de Jefferson Luis


Camargo. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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