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Várias Histórias
b u Hamlet
éd S k .
ormosa e tonta
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Várias Histórias
2. Entre Santos
Foco narrativo: é uma narrativa dentro de narrativa. Há um discreto narrador em terceira
pessoa (“contava um padre velho”) que revela ter escutado desse padre velho “uma a entura
e traordin ria” introduzindo, assim, o narrador em primeira pessoa. No tempo em que era
capelão na igreja de São Francisco de Paula, acompanhou, numa noite, escondido num canto
do templo, o diálogo entre santos, que durante o dia eram pequenas imagens, estátuas que
naquele instante haviam descido de seus nichos na proporção humana (“Todos eles terrí eis
psicólogos, tinham penetrado a alma e a vida dos fiéis, e desfibravam os sentimentos de cada
um omo os anatomistas es alpelam um ad er”) Falavam das pessoas que vinham rezar
diante deles. S. João Batista e S. Francisco de Paula eram os mais ácidos. S. José lembra uma
adúltera que vinha pedir ajuda para se afastar da “lepra da lu ria”, mas que, enquanto
orava, rememorava momentos ardentes e acabou não realizando o pedido: “ omeçou
rezando bem, cordialmente; mas pouco a pouco vi que o pensamento a ia deixando para
remontar aos primeiros deleites”
Já São Francisco de Sales (imagem) acreditava que era preciso manter a
esperança no ser humano ao contar a história de um usurário muito avarento
(também chamado Sales) que cai em desespero quando sua esposa desenvolve
erisipela na perna (inflamação na pele causada por bactéria). Quem o conhecia
acreditava que sua agonia advinha das futuras despesas funerárias que teria,
mas Sales verdadeiramente amava a esposa. Com o intuito de salvá-la, pede a
intervenção do santo que tinha o seu nome, prometendo em troca uma perna de cera, afinal
pensava que era preciso “ on iliar a de o o om a algi eira”. Mas como Sales era um avaro,
pensou no gasto que teria e, embora estivesse desesperado com a possibilidade de perder a
esposa, tinha dificuldade em oferecer algo ao santo de sua devoção. Depois de muito pensar,
ilude-se por conveniência, acreditando que o espiritual é mais importante do que o material,
então se propõe a rezar 300 padres-nossos. Nesse momento, seu caráter materialista
mistura-se com o espiritualista, pois conclui ser mais lucrativo ainda rezar 300 padres-nossos
e 300 ave-marias. Em seguida, de 300 passa para 500, e de 500 para 1000: 1000 padres-
nossos e 1000 ave-marias. Fica, porém, perdido e maravilhado em seus números de tal forma
que não realiza o pedido.
No final, o narrador afirma ter adormecido, vindo a despertar já com o
dia claro, quando correu a abrir as janelas “para deixar entrar o sol, inimigo dos maus
son os” Então a narrativa do padre terá sido um sonho?
Observações:
▪ O senso comum nos faz ver que os homens devem acreditar nos santos, mas nesse
conto parece que os santos devem acreditar nos homens.
▪ Como regra, as principais frequentadoras da igreja são mulheres devotas e castas, mas
a mulher que se destaca na história é a adúltera que não consegue se livrar do seu
pecado.
▪ A igreja costuma receber doações de seus frequentadores, mas o avaro é o
personagem de destaque.
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▪ S. Francisco de Sales demonstra especial simpatia pelo Sales avaro, acreditando em
suas intenções.
▪ Destaca-se o caráter mercantilista da promessa de Sales, que faz o pedido ao santo
como se fosse uma transação comercial.
b
u .
b
u
. u
sen u se agarrado e .
a orrentado pelos ra os de u .
D Se erina un a ira outros
t o onitose t o res os
u b por ue
gastara todos os es dos de mangas ompridas b
uma rian a! u rian a
Tin a uin eanos e ela ad er u ue entre o nari e a o a do rapa a ia um
prin ípiode ras un ode u o b ...
Uma tarde de domingo (“ o era só um domingo rist o era um imenso domingo uni ersal”:
aqui o narrador suprime o caráter religioso do domingo, abrindo outras possibilidades...) em
que Borges se ausentara, Inácio pegara no sono, enquanto lia deitado na rede que havia em
seu quarto. “D Se erina sentiu o ora o ater-lhe com veemência e recuou. Sonhara de
noite com ele (...) Desde madrugada a figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como
uma tenta o dia óli a” Então se aproximara para dar um rápido beijo no jovem, no exato
momento em que ele sonhava estar beijando D. Severina (“A ui o son o oin idiu om a
realidade”). Mais tarde, na hora do jantar, D. Severina, “ alada e se era” aparece vestindo
um “ ale ue l e o ria os ra os” Assim foi todos os dias até o sábado seguinte, quando o
solicitador decidiu mandar o jovem embora. “Ele mesmo e lama s e es sem sa er ue
se engana: - E oi um son o! Um simples son o!”
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4. Um Homem Célebre
Temática - frustração artística: Pestana era um grande compositor de
polcas, mas queria ser compositor de um gênero considerado mais nobre.
Pestana, famoso compositor de polcas, sonhava compor uma música nos
moldes dos grandes compositores universais. Sentia-se frustrado por isso,
apesar do imenso sucesso fazia com as suas polcas. Decidiu então casar-se
com Maria, uma jovem cantora tuberculosa e amante da música como ele,
na esperança de encontrar a melodia que tanto procurava. Começa a
compor um noturno para homenagear a esposa, mas ao tocar a música, ela mesma a
identifica como sendo de Chopin. Maria morre tristemente em uma noite de Natal, enquanto
a vizinhança, para maior desespero do compositor, comemorava tocando suas famosas
polcas. Pestana passa a dedicar-se a um réquiem para esposa falecida, mas a composição não
evolui. Por razões financeiras e contra a própria vontade, continua entregando polcas para o
seu editor. Anos depois, sem saber que Pestana se encontrava gravemente doente, o editor
aparece para encomendar mais uma polca de ocasião, mas fica constrangido. Pestana insiste
em saber o motivo da visita. O editor revela que gostaria de uma polca para os
conservadores que chegaram ao poder. Pestana diz que, como deve morrer nos próximos
dias, fará também uma segunda, para quando os liberais retornarem. Foi a única piada de
sua vida. Morreu no dia seguinte “ em om os omens e mal onsigo mesmo”
6. A Causa Secreta
O conto inicia abruptamente, revelando três personagens em silêncio em uma
sala: Fortunato, Maria Luísa e Garcia, após haverem comentado três assuntos. Mas “tin am
falado também de outra coisa, além daquelas tr s oisa t o eia e gra e” que será explicada
mais adiante em flashback.
Garcia havia visto pela primeira vez Fortunato durante a apresentação de uma peça de
teatro, um “dramal o osido a a adas” Este dava uma atenção especial às cenas,
aparentando grande prazer. Vai embora justo quando a obra entra em sua segunda parte,
mais leve e alegre. Garcia decide segui-lo por várias ruas e nota que Fortunato “ia devagar,
cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em algum cão que dormia; o cão
ficava ganindo e ele ia andando.” Mais tarde, ainda estudante de medicina, Garcia volta a vê-
lo no episódio de um esfaqueado, para o qual Fortunato se mostra profundamente dedicado
durante o seu estágio crítico, vindo a tornar-se frio e indiferente quando a vítima melhora.
Garcia “possuía, em gérmen, a faculdade de decifrar os homens, de decompor os caracteres,
tinha o amor da análise, e sentia o regalo, que dizia ser supremo, de penetrar muitas camadas
morais at apalpar o segredo de um organismo” daí o interesse na figura de Fortunato.
Tempos depois, passam a se encontrar constantemente, o que acaba trazendo a amizade.
Um dia, Fortunato convida o amigo, agora médico, para jantar em sua casa e conhecer sua
esposa. Estreitada a relação, duas consequências surgem daí. A primeira é a atração
silenciosa entre Garcia e Maria Luísa, mulher do amigo, embora sem consequências. A
segunda é a casa de saúde que os dois homens pretendem abrir em sociedade. Nela,
Fortunato vai-se destacar como um ajudante atencioso, principalmente para os doentes que
se encontram no pior estágio de sofrimento. Para aprimorar suas técnicas, o personagem
dedica-se a dissecar animais (“o upa a-se nas horas vagas em envenenar e rasgar cães e
gatos”) Chocada com o sofrimento dos bichos, Maria Luísa pede intervenção a Garcia para
que que Fortunato abandonasse a prática. O momento mais chocante da narrativa é quando
Fortunato é flagrado vingando-se de um rato que segura amarrado pelo rabo, que
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supostamente teria roído um documento importante: de forma paciente vai cortando cada
uma das patas e até o focinho do animal, sempre aproximando-o do fogo, com cuidado para
que não morresse de imediato, possibilitando, assim, o prosseguimento do castigo. Maria
Luísa abandonava a cena no mesmo momento em que Garcia chegava. Garcia, então,
observa horrorizado o ato praticado por Fortunato, inclusive tentando interrompê-lo (eis a
razão do silêncio na sala no início do relato). A partir daí, a história se encaminha para o
desfecho. A mulher desenvolve tuberculose (tísica), e seu marido lhe dedica total cuidado,
especialmente no momento terminal. Durante o velório de Maria Luísa, Garcia sugere a
Fortunato que tire um tempo para descansar. Pouco tempo depois, este acorda e vai até o
local onde está a defunta e vê Garcia dando um beijo na testa da amada: “Garcia inclinou-se
ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo rebentou em soluços,
e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor
calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara, saboreou tranquilo essa
explosão de dor moral que foi longa, muito longa, deliciosamente longa”.
Observações
▪ Inversões de expectativa na história:
(1) No episódio do esfaqueado, o leitor espera a satisfação de Fortunato por ter conseguido
a recuperação do outro, mas ele se mostra aborrecido, ou seja, quando o outro sofre, ele é
feliz; quando o outro se recupera, ele fica triste.
(2) A finalidade da casa de saúde é tratar dos doentes, mas o objetivo oculto de Fortunato é
ver o sofrimento alheio.
(3) Quando Fortunato descobre o amor de Garcia por sua esposa, espera-se que ele
demonstre um sentimento de ciúme, raiva ou vingança, mas Fortunato sente prazer no
sofrimento de Garcia.
▪ Fortunato revela um comportamento sádico, pois é atraído pelas enfermidades físicas,
e Garcia é atraído pelas anormalidades psicológicas.
▪ Fortunato é fascinado pelo sofrimento do rato, e Garcia é fascinado pelo
comportamento anormal de Fortunato.
▪ Fortunato sente-se atraído por alguma anomalia
Garcia sente atração pela anomalia de Fortunato
O narrador observa Fortunato e Garcia
O leitor sente-se atraído pela história
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7. Trio em Lá Menor
Sendo trio um trecho musical para três vozes ou instrumentos, o título do conto
traz uma duplicidade de sentidos, pois significa também o conjunto das três
principais personagens: Maria Regina e seus pretendentes, Maciel (27) e
Miranda (50), entre os quais a moça oscila indecisa entre as qualidades de um
e de outro, tão diferentes entre si.
Neste conto, a música parece ser o fio condutor da narrativa (há a presença permanente da
sonata, como fundo musical durante todo o texto), na qual a personagem Maria Regina toca
uma sonata (que costuma ser dividida em quatro partes), como são os capítulos do conto.
Ainda: Segundo o compositor e professor Bruno Kiefer, nas escalas musicais, há tons maiores
e tons menores. Os tons maiores, como, por exemplo, lá maior (Lá M) ou dó maior (Dó M)
transmitem alegria, júbilo, são festivos, cheios, harmônicos. Já os tons menores, como lá
menor (Lá m) ou dó menor (Dó m), são tristes e traduzem sentimentos de melancolia e
tristeza.
Sequência dos capítulos
I - Adagio cantábile = andamento musical lento. Deriva de "ad agio" (comodamente).
São apresentados a personagem principal, Maria Regina e seus dois pretendentes, além da
avó, em uma sucessão de acontecimentos pausada, sem elementos excitantes.
II - Allegro ma non tropo = Alegre (Rápido), mas não muito
A trama intensifica-se: Maria Regina encanta-se com um ato nobre de Maciel (salva uma
criança de um atropelamento), mas durante a visita noturna, o rapaz a aborrece, enquanto
se percebe sua afinidade intelectual com Miranda que, no entanto, não lhe agrada
fisicamente.
III - Allegro appassionato = Alegre apaixonado
Destacam-se ainda mais as virtudes e defeitos dos rapazes e a indecisão da moça. Através da
imaginação fértil, ela compõe um monólogo interior, em que junta as qualidades dos dois (o
presente e o ausente) e elimina o que lhe desagrada em ambos, alcançando, assim, a
perfeição sonhada.
IV - Menuetto = F .D “ u” “ u ”
que a dança foi caracterizada por minutos.
Ante a indecisão de Maria Regina, os rapazes se afastam e ela fica só com suas
esquisitices. A partir de uma notícia de jornal sobre estrelas duplas que
parecem um só astro, Maria Regina mergulha em uma atmosfera de divagação
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e sonho, na qual a procura no céu e, não a encontrando, busca-a em si e acha-se, ela mesma,
a própria estrela dupla.
“Son ou ue morria ue a alma dela le ada aos ares oa a na dire o de uma ela estrela
dupla. O astro desdobrou-se, e ela voou para uma das duas porções; não achou ali a sensação
primitiva e despenhou-se para outra; igual resultado, igual regresso, e ei-la a andar de uma
para outra das duas estrelas separadas. Então uma voz surgiu do abismo, com palavras que
ela não entendeu:
— É a tua pena, alma curiosa de perfeição; a tua pena é oscilar por toda a eternidade entre
dois astros in ompletos ao som desta el a sonata do a soluto: l l l ”
8. Adão e Eva
Outro conto que apresenta uma história dentro da história:
“Uma sen ora de engen o na Ba ia pelos anos de mil sete entos e tantos tendo algumas
pessoas íntimas à mesa, anunciou a um dos convivas, grande lambareiro (guloso), um certo
doce particular. Ele quis logo saber o que era; a dona da casa chamou-lhe curioso. Não foi
preciso mais; daí a pouco estavam todos discutindo a curiosidade, se era masculina ou
eminina e se a responsa ilidade da perda do paraíso de ia a er a E a ou a Ad o ” Um dos
convivas, o Sr. Veloso, juiz de fora, apresenta uma narrativa enigmática e que vem de um
livro apócrifo da Bíblia. É um relato que inverte a história de Adão e Eva, apresentando a
criação do mundo como fruto da ação do Diabo, sendo que Deus ia consertando as falhas.
Dentro disso está a criação do homem e da mulher, que estavam dominados por instintos
ruins. O toque divino atribui-lhes alma, tornando-os sublimes, sendo levados para o Paraíso.
Inconformado com a destruição de sua obra, o Tinhoso convence a serpente a tentar Adão e
Eva a comerem o fruto proibido. O animal o atendeu, mas, por mais que insistisse, não obteve
sucesso. Satisfeito com o caráter de Adão e Eva, Deus os conduz para o caminho da glória.
Termina assim o relato que deixa a maioria pensando que tudo não passava de brincadeira
do seu narrador. No entanto, em meio a degustação do doce, o comentário final do juiz é
bastante interessante: “Pensando em reio ue nada disso a onte eu mas tam m D
Leonor, se tivesse acontecido, não estaríamos aqui saboreando este doce, que está, na
erdade uma oisa primorosa”
Observação final
O conto é uma paródia da criação do mundo, no qual se evidenciam algumas ironias:
- Frei Bento, que deveria ser o teólogo para resolver os casos religiosos, prefere não opinar e
apenas diz que toca viola;
- O juiz de fora responde que não haveria matéria para opinar sobre o assunto, mas é ele
quem vai contar a história, ou seja, emitir a principal opinião.
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9. O Enfermeiro
Procópio, o narrador em primeira pessoa, é um homem pobre do
Rio de Janeiro que aceita um emprego bem remunerado como
enfermeiro do rico Coronel Felisberto. O coronel vivia sozinho no
interior e se encontrava muito doente, com pouco tempo de vida
(“Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem
insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais
enfermeiros que remédios. A dois deles quebrou a cara.”) Por sorte, o protagonista se mostra
como o mais simpático que já havia sido contratado, o que agrada ao velho, permitindo uma
“lua-de-mel” que durou uma semana. “No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores,
uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias (...) A moléstia era
um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções
menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se
fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos
outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei
ocasião. Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou
da bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente,
e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a
pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.” As pazes voltaram, mas por
pouco tempo. As agressões retornam ainda mais graves, culminando com o episódio em que
o coronel atira uma moringa no rosto do enfermeiro. Este, cego com a dor, ataca o velho,
terminando por matá-lo esganado. Em seguida, oculta o crime, fazendo crer que foi morte
natural. Começa então o processo mais interessante do conto. O narrador sofre com o
remorso e passa a elogiar seu agressor como maneira de ocultar qualquer vestígio do crime.
Além disso, começa a arranjar desculpas em sua mente para aplacar sua consciência: “Crime
ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta
desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa ideia. (...) Considerei também que o coronel não
podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas
semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto
mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a
luta e a morte não foram apenas coincidentes?”
Mais tarde, quando o testamento do coronel se torna público, Procópio é informado que foi
feito herdeiro universal. Inicialmente, pensa em doar toda a fortuna aos pobres, mas depois
restringe a ideia e gasta apenas uma parte com os necessitados, além de erguer um túmulo
de mármore ao coronel.
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Observações:
1. Ao aceitar o emprego por “um om ordenado” Procópio busca melhorar de vida, mas o
resultado é a degradação que sofre com os maus tratos do coronel;
2. Procópio vai para a casa do coronel como enfermeiro a fim de ajudá-lo a sobreviver, mas
acaba causando a sua morte;
3. u u “ ”
revela o contrário;
4. Talvez a maior ironia do conto seja o fato de Procópio assassinar justamente o seu
benfeitor;
5. O coronel é a vítima, mas parece, aos olhos do público, o algoz;
6. Procópio é o assassino, mas parece a vítima.
10. O Diplomático
O tema dos sonhos e projetos não realizados é bastante frequente na
fase realista de Machado. Rangel era conhecido entre os amigos como
“o diplom ti o”, graças às boas maneiras e ao trato que tinha com as
pessoas. Porém era homem de sonhos gigantescos e ações minúsculas, quase nulas. Aos
quarenta e um anos ainda não havia casado, pois era um escrevente remediado e buscava
uma mulher de posição. Trata-se de um personagem preocupado com status e prestígio
social, mas não percebe que esse comportamento traz prejuízo para a sua vida. “De
imaginação fazia tudo, raptava mulheres e destruía cidades. Mais de uma vez foi, consigo
mesmo, ministro de Estado, e fartou-se de cortesias e decretos. Chegou ao extremo de
aclamar-se imperador, um dia, 2 de dezembro, ao voltar da parada no largo do Paço (...) Cá
ora por m todas as suas proe as eram ulas a realidade era pa ato e dis reto ”
“Aos uarenta anos desenganou-se das ambições; mas a índole ficou a mesma, e, não
obstante a vocação conjugal, não achou noiva. Mais de uma o aceitaria com muito prazer;
ele perdia-as todas à força de circunspecção. Um dia, reparou em Joaninha, que chegava aos
de eno e anos e possuía um par de ol os lindos e sossegados”
Mas, como é próprio de seu comportamento, vacila muito entre a ideia e a ação. Até que
surge um “ ura o” em meio a uma festa de São João, na casa de Joaninha: Queirós. Chega
de forma repentina, trazido por um amigo da casa. É jovem, bonito e muito carismático, por
isso angaria a atenção e a simpatia de todos os presentes, menos do protagonista, que
percebe a aproximação de Queirós e Joaninha. Por ironia, Rangel trazia em seu bolso uma
carta a Joaninha, na qual declarava o seu amor, mas faltou a coragem necessária para abordá-
la. Após a festa, vai embora derrotado: “Em casa, aonde chegou tarde, deitou-se na cama,
não para dormir, mas para romper em soluços. Só consigo, foi-se-lhe o aparelho da afetação,
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e já não era o diplomático, era o energúmeno, que rolava na cama, bradando, chorando como
uma rian a in eli de eras por esse triste amor do outono”.
Final: “o nosso namorado em uem ningu m pressentira nun a a pai o en o erta ser iu
de testemun a ao Queirós uando este se asou om Joanin a seis meses depois”
11. Mariana
u u uu
Evaristo e Mariana mantiveram uma relação intensa e profunda, que terminou graças à
pressão familiar, obrigando Mariana a se casar com Xavier. Mariana, então, fez juras a
Evaristo, revelando que seu amor não diminuiria por causa do casamento. Mais adiante,
através de um flashback, o leitor é informado da crise pela qual passara Mariana, inclusive
ao tentar suicídio por ter de romper com o amante. Evaristo é impedido de vê-la, então
decide partir para a Europa, desinteressando-se totalmente das coisas do Brasil. Pretendia
voltar em três ou quatro anos, mas foi se deixando ficar... Sem maiores explicações, Evaristo
retorna dezoito anos depois. Ao chegar, pergunta-se algumas vezes: “ ue ser eito de
Mariana?".
Diante disso, vai visitá-la. Ao chegar na casa da antiga amante, reconhece a sala e os móveis
do outro tempo e é tomado de uma intensa nostalgia. Ele a encontra sofrendo pela
enfermidade do marido, Xavier, doente terminal. Tal situação impede um contato mais
próximo. O doente durou ainda uma semana, e a reação de Mariana diante da morte de
Xavier, bem como as conversas de Evaristo com pessoas que eram íntimas do casal revelam
o grande amor que havia entre ambos. Pouco tempo depois, nota Mariana saindo da igreja
e percebe que ela finge não o haver visto.
“— Três vezes sincera* on luiu passados alguns minutos de re le o ”
Final: “Antes de um m s (Evaristo) esta a em Paris”.
*Sinceridade de Mariana:
1. No amor por Evaristo (início);
2. No amor pelo marido (depois);
3. Em aceitar o fim da relação com Evaristo.
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u b u u b d u .
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Foco narrativo: mistura 1ª e 3ª pessoas (ou um narrador em 3ª
pessoa que se intromete na narrativa).
Temática: orgulho e vaidade.
“U ” u u u u e linha, que
discutem sobre a importância do trabalho que cada um realiza na costura de um vestido. A
discussão continua até a chegada da costureira, que os utiliza para fazer um vestido para a
Baronesa ir ao baile. A agulha aproveita esse momento para se vangloriar de seu trabalho,
mostrando ao novelo que, sem ela, ele não conseguiria furar o tecido e avançar por ele para
compor as camadas do vestido. Mas, na hora de ir ao baile, o novelo destrata a agulha e seu
trabalho por ser ele que vai ao baile no vestido da Baronesa, enquanto a agulha fica na
caixinha de costura. Nesse momento, surge o alfinete, que sugere à agulha ficar quieta e
fazer seu trabalho sem reclamar, tornando-se igual a ele, um ser que fica onde o colocam, ou
seja, não abre caminho para ninguém.
Final: o narrador revela ter contado esta história a um “pro essor de melan olia” que
confessou, “abanando a cabeça: - Também eu tenho servido de agulha a muita linha
ordin ria”
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Várias Histórias
14. D. Paula
A protagonista, que dá nome ao conto, é uma boa senhora, moradora da
Tijuca, e que raramente sai de sua chácara. Contrariando o seu costume,
“ ”u u b
Venancinha, que havia brigado com o marido, Conrado. A razão do
desentendimento é revelada aos prantos pela jovem esposa à tia: o marido
desconfia que ela esteja tendo um caso e ameaçou separar-se. D. Paula, experiente e
habilidosa, consola Venancinha e em seguida vai ao escritório de Conrado buscar a
reconciliação do casal. Conrado está convicto de que existe algo: “Em relação à pessoa de
uem se trata a n o tin a d ida de ue eram namorados” D. Paula, então, faz a seguinte
proposta:
“— Você perdoa-lhe, fazem as pazes, e ela vai estar comigo, na Tijuca, um ou dois meses;
uma espécie de desterro. Eu, durante este tempo, encarrego-me de lhe pôr ordem no espírito.
aleu ”
Conrado aceitou. Ao sair, a protagonista comenta que o tal rapaz talvez nem merecesse
tamanha atenção. Conrado diz saber de que trata de um tal Vasco Maria Portela. Nesse
momento, D. Paula empalideceu e despediu-se rapidamente. Na sequência, ficamos sabendo
que o pai do jovem, de mesmo nome, era um diplomata aposentado e vivia na Europa:
“J se entende ue o outro as o o antigo tam m oi mo o e amou Amaram-se, fartaram-
se um do outro, à sombra do casamento, durante alguns anos (...). A aventura acabou; foi
uma sucessão de horas doces e amargas, de delícias, de lágrimas, de cóleras, de arroubos,
drogas várias com que encheram a esta senhora a taça das paixões. D. Paula esgotou-a
inteira e emborcou-a depois para n o mais e er”
De volta à Tijuca com a sobrinha, acontece o acaso do jovem Vasco aparecer pelas cercanias,
causando grande susto em Venancinha, permitindo à D. Paula perceber que a relação atingira
um nível perigoso. Venancinha, então, confessa com alguns detalhes que havia uma atração
de ambas as partes: “Não era um livro, não era sequer um capítulo de adultério, mas um
prólogo, — interessante e iolento ”
Aqui vale destacar a reação de D. Paula à confissão da sobrinha:
“D Paula in linada para ela ou ia essa narra o ue aí i a apenas resumida e oordenada
Tinha toda a vida nos olhos; a boca meio aberta, parecia beber as palavras da sobrinha,
ansiosamente, como um cordial. E pedia-lhe mais, que lhe contasse tudo, tudo. Venancinha
criou confiança. O ar da tia era tão jovem, a exortação tão meiga e cheia de um perdão
antecipado, que ela achou ali uma confidente e amiga, não obstante algumas frases severas
ue l e ou iu mes ladas s outras por um moti o de in ons iente ipo risia”.
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Depois de ouvir a confissão, a protagonista aconselha a menina sobre a necessidade de
manter a moral e respeitar o marido, mas ao mesmo tempo se delicia com tudo o que é
confessado, como se revivesse os pecados que experimentou em seu passado.
Seguem algumas observações retiradas da tese de mestrado de Renata de Albuquerque,
d “Dona Paula, de Machado de Assis: Um olhar sobre o feminino”
▪ O segredo governa o andamento do conto. Tudo é dito a portas fechadas, longe dos
ouvidos dos escravos; rostos inchados de chorar são preservados da luz; há muito o que
esconder e as personagens se esforçam por fazê-lo sem levantar suspeitas.
▪ Não é certeza de que a aventura de Paula tenha sido desconhecida ou esquecida pela
sociedade. O fato é que, trinta anos depois, Paula aparece restaurada, carregando no
nome o índi e de respeita ilidade ue l e on ere o “dona” ue uase sempre pre ede seu
nome nas referências do texto.
▪ Para Paula, restaurar Venancinha é restaurar a si mesma, social e moralmente.
▪ Ao repreender a sobrinha, D. Paula pondera que o problema era que Venancinha fora
“imprudente” A repreens o n o se dá pela infidelidade em si, mas porque ficou à mostra
da sociedade.
u u . u u u
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u u u u u u .
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u u u
u . u u
b u u u b .
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Várias Histórias
Conto alegórico em que o narrador em terceira pessoa apresenta o diálogo entre dois
personagens, Ahasverus e Prometeu. Vale destacar que a narrativa é um sonho de Ahasverus:
“Fim dos tempos. AHASVERUS, sentado em uma rocha, fita longamente o horizonte, onde
passam duas águias cruzando-se. Medita, depois sonha ai de linando o dia ”
Inicia-se o diálogo:
“AHAS E US — Chego à cláusula dos tempos; este é o limiar da eternidade. A terra está
deserta; nenhum outro homem respira o ar da vida. Sou o último; posso morrer. Morrer!
deli iosa ideia! ( )”
Como se vê, Ahasverus anseia pela morte, pois a longevidade deu a ele uma experiência
terrível a respeito da humanidade. Em seguida, ouve a voz de Prometeu e os dois conversam.
Ahasverus conta a sua história, e Prometeu também revela a sua, inclusive o fato de haver
criado os homens. Diante dessa revelação, Ahasverus fica indignado e faz com que Prometeu
volte para o seu castigo.
Prometeu, então, declara que “uma raça nova povoará a terra, feita dos melhores espíritos
da raça extinta; a multidão dos outros perecerá. Nobre família, lúcida e poderosa, será a
perfeita comunhão do divino com o humano. Outros serão os tempos, mas entre eles e estes
um elo é preciso, e esse elo és tu”. Ahasverus fica seduzido pela ideia de não ser mais o
rejeitado, mas o rei dessa nova raça. Diante desse futuro grandioso, Ahasverus mergulha em
devaneios, feliz com sua nova condição, esquecendo até o fato de estar morrendo. Quer
dizer, no seu íntimo (a história toda é um sonho da personagem), mesmo tendo vivido por
tantos milênios, ainda anseia pela vida, daí o título do conto. Na cena final, duas águias se
aproximam e refletem:
“Uma guia — Ai, ai, ai, deste último homem, está morrendo e ainda sonha
com a vida.
A outra. — Nem ele a odiou tanto, senão porque a amava muito ”
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Várias Histórias
“Amam-se umas às outras (as palavras). E casam-se. O casamento delas é o que chamamos
estilo ”.
Em seguida, o cônego se levanta e vai até a janela em busca de inspiração, realizando outros
afazeres. Enquanto isso, o cérebro, em processo inconsciente, segue trabalhando, embora o
protagonista não perceba:
“En uanto o nego uida em oisas estran as eles (substantivo e adjetivo) prosseguem em
busca um do outro, sem que ele saiba nem suspeite nada. Agora, porém, o caminho é escuro.
Passamos da consciência para a inconsciência, onde se faz a elaboração confusa das ideias,
onde as reminiscências dormem ou cochilam. Aqui pulula a vida sem formas, os germens, e
os detritos, os rudimentos e os sedimentos; é o desvão imenso do espírito. Aqui caíram eles,
à procura um do outro, chamando e suspirando. Dê-me a leitora a mão, agarre-se o leitor a
mim e es orreguemos tam m ” ( )
“Pro uram-se e acham-se. Enfim, Sílvio achou Sílvia. Viram-se, caíram nos braços um do
outro, ofegantes de canseira, mas remidos com a paga. Unem-se, entrelaçam os braços, e
regressam palpitando da in ons i n ia para a ons i n ia ” ( )
“ isto o nego estreme e O rosto ilumina-se-lhe. A pena, cheia de
comoção e respeito, completa o substantivo com o adjetivo. Sílvia
caminhará agora ao pé de Sílvio, no sermão que o cônego vai pregar um
dia destes” ( )
Gabarito:
1. B
2. C
3. B
4. B
5. E
6. D
7. B
8. D
9. C
10.A
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