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(1896)
Machado de Assis
*A abertura do
1. A Cartomante 3ª pessoa
conto cita a peça
Hamlet, tragédia
de Shakespeare.
Provinciana
Rita (30) “Formosa e tonta”
am
uma serpente, foi-se acercando
an
dele, envolveu-o todo, fez-lhe
tes
estalar os ossos num espasmo, e
pingou-lhe o veneno na boca.”
D. Severina
Costumava deixar os braços à mostra, não por provocação, mas “porque já
gastara todos os vestidos de mangas compridas”. Ela percebe o interesse do
jovem e pensa: “...uma criança!” Em seguida, o narrador comenta: “Criança?
Tinha quinze anos; e ela advertiu que entre o nariz e a boca do rapaz havia
um princípio de rascunho de buço.” Então começa a se sentir atraída
também...
Uma tarde de domingo (“Não era só um domingo cristão; era um
imenso domingo universal”: aqui o narrador suprime o caráter
religioso do domingo, abrindo outras possibilidades...) em que Borges
se ausentara, Inácio pegara no sono, enquanto lia deitado na rede que
havia em seu quarto. “D. Severina sentiu o coração bater-lhe com
veemência e recuou. Sonhara de noite com ele (...) Desde madrugada
a figura do mocinho andava-lhe diante dos olhos como uma tentação
diabólica”. Então se aproximara para dar um rápido beijo no jovem, no
exato momento em que ele sonhava estar beijando D. Severina (“Aqui
o sonho coincidiu com a realidade”). Mais tarde, na hora do jantar, D.
Severina, “calada e severa”, aparece vestindo um “xale que lhe cobria
os braços”. Assim foi todos os dias até o sábado seguinte, quando o
solicitador decidiu mandar o jovem embora. “Ele mesmo exclama às
vezes, sem saber que se engana: - E foi um sonho! Um simples sonho!”
3. Um Homem Célebre
3ª pessoa
3ª pessoa
O conto inicia abruptamente, revelando três
personagens em silêncio em uma sala: Fortunato,
Maria Luísa e Garcia, após haverem comentado três
assuntos. Mas “tinham falado também de outra coisa, além daquelas três, coisa tão
feia e grave”, que será explicada mais adiante em flashback.
Garcia havia visto pela primeira vez Fortunato durante a apresentação de uma peça
de teatro, um “dramalhão cosido a facadas”. Este dava uma atenção especial às
cenas, aparentando grande prazer. Vai embora justo quando a obra entra em sua
segunda parte, mais leve e alegre. Garcia decide segui-lo por várias ruas e nota que
Fortunato “ia devagar, cabisbaixo, parando às vezes, para dar uma bengalada em
algum cão que dormia; o cão ficava ganindo e ele ia andando.” Mais tarde, ainda
estudante de medicina, Garcia volta a vê-lo no episódio de um esfaqueado, para o
qual Fortunato se mostra profundamente dedicado durante o seu estágio crítico,
vindo a tornar-se frio e indiferente quando a vítima melhora. Garcia “possuía, em
gérmen, a faculdade de decifrar os homens, de decompor os caracteres, tinha o amor
da análise, e sentia o regalo, que dizia ser supremo, de penetrar muitas camadas
morais, até apalpar o segredo de um organismo”, daí o interesse na figura de
Tempos depois, passam a se encontrar constantemente, o que
acaba trazendo a amizade. Um dia, Fortunato convida o amigo, agora
médico, para jantar em sua casa e conhecer sua esposa. Estreitada a relação,
duas consequências surgem daí. A primeira é a atração silenciosa entre Garcia
e Maria Luísa, mulher do amigo, embora sem consequências. A segunda é a
casa de saúde que os dois homens pretendem abrir em sociedade. Nela,
Fortunato vai-se destacar como um ajudante atencioso, principalmente para os
doentes que se encontram no pior estágio de sofrimento. Para aprimorar suas
técnicas, o personagem dedica-se a dissecar animais (“ocupava-se nas horas
vagas em envenenar e rasgar cães e gatos”). Chocada com o sofrimento dos
bichos, Maria Luísa pede intervenção a Garcia para que que Fortunato
abandonasse a prática. O momento mais chocante da narrativa é quando
Fortunato é flagrado vingando-se de um rato que
segura amarrado pelo rabo, que supostamente teria
roído um documento importante: de forma paciente
vai cortando cada uma das patas e até o focinho do
animal, sempre aproximando-o do fogo, com cuidado
para que não morresse de imediato, possibilitando,
assim, o prosseguimento do castigo. Maria Luísa
abandonava a cena no mesmo momento em que
Garcia chegava.
Garcia, então, observa horrorizado o ato praticado por Fortunato,
inclusive tentando interrompê-lo (eis a razão do silêncio na sala no início
do relato). A partir daí, a história se encaminha para o desfecho. A mulher desenvolve
tuberculose (tísica), e seu marido lhe dedica total cuidado, especialmente no
momento terminal. Durante o velório de Maria Luísa, Garcia sugere a Fortunato que
tire um tempo para descansar. Pouco tempo depois, este acorda e vai até o local onde
está a defunta e vê Garcia dando um beijo na testa da amada: “Garcia inclinou-se
ainda para beijar outra vez o cadáver; mas então não pôde mais. O beijo rebentou em
soluços, e os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões,
lágrimas de amor calado, e irremediável desespero. Fortunato, à porta, onde ficara,
saboreou tranquilo essa explosão de dor moral que foi longa, muito longa,
deliciosamente longa”.
Observações
Inversões de expectativa na história:
(1) No episódio do esfaqueado, o leitor espera a satisfação de Fortunato por ter
conseguido a recuperação do outro, mas ele se mostra aborrecido, ou seja, quando o
outro sofre, ele é feliz; quando o outro se recupera, ele fica triste.
(2) A finalidade da casa de saúde é tratar dos doentes, mas o objetivo oculto de
Fortunato é ver o sofrimento alheio.
(3) Quando Fortunato descobre o amor de Garcia por sua esposa,
espera-se que ele demonstre um sentimento de ciúme, raiva ou
vingança, mas Fortunato sente prazer no sofrimento de Garcia.
Observação final
O conto é uma paródia da criação do mundo, no qual se evidenciam algumas
ironias:
- Frei Bento, que deveria ser o teólogo para resolver os casos religiosos,
prefere não opinar e apenas diz que toca viola;
- O juiz de fora responde que não haveria matéria para opinar sobre o assunto,
mas é ele quem vai contar a história, ou seja, emitir a principal opinião.
3ª pessoa
14. O Diplomático
O tema dos sonhos e projetos não realizados é bastante frequente na fase
realista de Machado. Rangel era conhecido entre os amigos como “o
diplomático”, graças às boas maneiras e ao trato que tinha com as pessoas.
Porém era homem de sonhos gigantescos e ações minúsculas, quase nulas.
Aos quarenta e um anos ainda não havia casado, pois era um escrevente
remediado e buscava uma mulher de posição. Trata-se de um personagem
preocupado com status e prestígio social, mas não percebe que esse
comportamento traz prejuízo para a sua vida. “De imaginação fazia tudo,
raptava mulheres e destruía cidades. Mais de uma vez foi, consigo mesmo,
ministro de Estado, e fartou-se de cortesias e
decretos. Chegou ao extremo de aclamar-se
imperador, um dia, 2 de dezembro, ao voltar
da parada no largo do Paço (...) Cá fora,
porém, todas as suas proezas eram fábulas.
Na realidade, era pacato e discreto.”
“Aos quarenta anos desenganou-se das ambições; mas a índole
ficou a mesma, e, não obstante a vocação conjugal, não achou noiva.
Mais de uma o aceitaria com muito prazer; ele perdia-as todas à força de
circunspecção. Um dia, reparou em Joaninha, que chegava aos dezenove anos e
possuía um par de olhos lindos e sossegados”.
Mas, como é próprio de seu comportamento, vacila muito entre a ideia e a ação.
Até que surge um “furacão” em meio a uma festa de São João, na casa de
Joaninha: Queirós. Chega de forma repentina, trazido por um amigo da casa. É
jovem, bonito e muito carismático, por isso angaria a atenção e a simpatia de
todos os presentes, menos do protagonista, que percebe a aproximação de
Queirós e Joaninha. Por ironia, Rangel trazia em seu bolso uma carta a Joaninha,
na qual declarava o seu amor, mas faltou a coragem necessária para abordá-la.
Após a festa, vai embora derrotado: “Em casa, aonde chegou tarde, deitou-se na
cama, não para dormir, mas para romper em soluços. Só consigo, foi-se-lhe o
aparelho da afetação, e já não era o diplomático, era o energúmeno, que rolava
na cama, bradando, chorando como uma criança, infeliz deveras, por esse triste
amor do outono”.
Final: “o nosso namorado, em quem ninguém pressentira nunca a paixão
encoberta, serviu de testemunha ao Queirós, quando este se casou com Joaninha,
seis meses depois”.
3ª pessoa
15. Mariana
O conto apresenta as mudanças por que
passou uma paixão no espaço de dezoito
anos, terminada melancolicamente pela
irremediável ação do tempo.
*Sinceridade de Mariana:
1. No amor por Evaristo (início);
2. No amor pelo marido (depois);
3. Em aceitar o fim da relação com Evaristo.
16. Viver!
Ahasverus é o “judeu errante”. Quando Cristo cumpria seu
calvário, parou para descansar em frente a porta de Ahasverus,
que o empurrou sem dó para que seguisse o seu caminho. Por
essa razão, recebeu o castigo de vagar pelo mundo sem encontrar
abrigo e ser desprezado até que o último homem desaparecesse.