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isbn: 978-85-518-0000-0
1ª edição, março de 2020.
2. Alguns exemplos são: Carta aberta dos professores do Norte e Nordeste sobre a BNCC, (http://
site.anpuh.org/index.php/bncc-historia/item/3149-carta-de-professores-do-norte-e-nordeste-so-
bre-a-bncc) Carta de repúdio à BNCC produzida pelo Fórum dos profissionais de História Antiga
e Medieval (http://site.anpuh.org/index.php/bncc-historia/item/3127-carta-de-repudio-a-bncc-pro-
duzida-pelo-forum-dos-profissionais-de-historia-antiga-e-medieval); Um manifesto pela História e
pelas experiências das culturas da Antiguidade (http://site.anpuh.org/index.php/bncc-historia/
item/3123-manifesto-do-gtha-sobre-a-bncc).
3. Disponível em http://site.anpuh.org/index.php/2015-01-20-00-01-55/noticias2/noticias-destaque/
item/3352-manifestacao-publica-da-anpuh-sobre-a-base-nacional-comum-curricular. Acesso em
21/04/2016.
4. Uma das principais críticas feita ao governo interino foi a remoção de especialistas em setores im-
portantes de todas as áreas do governo, assumindo pessoas sem o perfil técnico necessário. Tal
fato, prejudicou diversas políticas públicas que estavam em andamento, principalmente na área
da saúde, da ciência e da educação.
Referências Bibliográficas
ARNASON, J. P., RAAFLAUB, K. A., WAGNER, P. (eds). The Greek polis and the
invention of democracy: a political-cultural transformation and its interpretation.
Oxford, Wiley- Blackweel, 2013.
BENVENISTE, Émile. O vocabulário das instituições indo-européias. Tradução de
Denise Bottmann e Eleonora Bottmann. Campinas, 1995. Vol. 2.
BRASIL. Base Nacional Curricular Comum. Brasília, 2015.
BRASIL. Base Nacional Curricular Comum. Brasília, 2016.
BRASIL. Base Nacional Curricular Comum. Brasília, 2017.
CANFORA, Luciano. O mundo de Atenas. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
CHEVITARESE, André L.; CORNELLI, Gabriele; SILVA, Maria Aparecida de Oli-
veira (orgs.). A tradição clássica e o Brasil. Brasília: Archai-UNB/Fortium, 2008.
DABDAB TRABULSI, José Antônio. Participation directe et démocratie grecque –
Une histoire exemplaire? Besançon: Presses universitares de Franche- Comté, 2006.
À medida em que este livro se encaminha para o seu final, achei por
bem registrar o que pode ter sido o início de sua concepção: a Car-
ta Aberta que os professores de História Antiga e Medieval apresentamos
à sociedade quatro anos atrás. Segue-se o inteiro teor do documento:
Recife, 25 de novembro de 2015
Prezados colegas, desde o último mês de setembro, com a divulgação
da versão preliminar da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que
se encontra em consulta pública, é perceptível a ampliação das manifes-
tações contrárias à proposta. Através de eventos, fóruns e outros espaços,
os debates têm afirmado a insatisfação de diferentes setores da sociedade
com a construção da Base e com as orientações presentes na versão di-
vulgada. O componente curricular História, em especial, vem sofrendo
várias críticas de professores do Ensino Básico e Superior, e mesmo de
personalidades da educação, como o ex-ministro Renato Janine Ribeiro.
Entre os elementos presentes na versão da BNCC para o componen-
te História, um dos mais controversos é a exclusão das áreas de Anti-
ga e Medieval, que passam a ser conteúdos opcionais a serem definidos
pelos docentes. Tal orientação, no que pese a importância da defesa e
promoção da história Indígena, da história da África e mesmo da histó-
ria da América, pode ter resultados nefastos para o ensino de História,
Esta carta foi assinada pelos mais diversos profissionais das duas re-
giões3, muitos dos quais hoje são autores de capítulos deste livro, que
veio à luz quase quatro anos após o documento. Cabe, então, uma per-
gunta honesta: após tantas águas corridas, aquelas palavras ainda encon-
tram eco? Digo sem tergiversar: sim.
Encontramo-nos, todos os profissionais de História, mas ainda mais
especificamente aqueles que lidam com o ensino escolar, diante de uma
esquina delicada, que me traz à mente as palavras de Caetano Veloso e
Gilberto Gil, na voz singular de Gal Costa:
2. Disponível em https://anpuh.org.br/index.php/bncc-historia/item/3149-carta-de-professores-do-
-norte-e-nordeste-sobre-a-bncc Acesso em 17/02/2019.
3. Roberta Alexandrina da Silva (UFPA); José Maria Gomes de Souza Neto (UPE); Douglas Mota
Xavier de Lima (UFOPA); Adriana Zierer (UEMA); Silvia Siqueira (UECE); Serioja Mariano (UFPB);
Renan Birro (UNIFAP); Renato Pinto (UFPE); Marcus Baccega (UFMA); José Petrúcio de Farias
Júnior (UFPI); Priscilla Gontijo Leite (UFPB); Márcia Severina Vasques (UFRN); Sínval Carlos Mello
Gonçalves (UFAM); Verônica Aparecida Silveira Aguiar (UNIR); Joana Clímaco (UFAM); João Paulo
Charrone (UFPI); Pâmela Torres Michelette (UFPI); Bruno Gonçalves Alvaro (UFS); Marcelo Pereira
Lima (UFBA); Luciano José Vianna (UPE).
4. Divino, maravilhoso. Caetano Veloso, Gilberto Gil, 1968. Gravada por Gal Costa em seu lp homô-
nimo de 1969.
que não queria rodear-se de muralhas, mas sim fazer irradiar largamen-
te, livremente, indiscretamente mesmo, sobre todos os jardins da vizi-
nhança, um espírito, o seu espírito: isto é, um espírito de livre crítica e de
iniciativa em todos os sentidos.5
9. “A memória social e lutas históricas de determinados grupos, muitas vezes, não correspondem
à ortodoxia do pensamento histórico, que é apresentada em livros aprovados pelos organismos
oficiais do Estado”. MOERBECK, Guilherme. Caminhos possíveis para o ensino de História Antiga
na Educação básica: discussões preliminares. In BUENO, André; CREMA, Everton; ESTACHESKI,
Dulceli; NETO, José [org.]. Aprendizagens Históricas: debates e opiniões. União da Vitória/Rio de
Janeiro: LAPHIS/Edições especiais Sobre Ontens, 2018. p. 140.
10. BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2008, p. 17.
11. RÜSEN, Jorn. História Viva: Formas e funções do conhecimento histórico. Brasília: Ed. UNB,
2007, p. 107.
12. ARAÚJO, Ernesto Henrique Fraga. Trump e o Ocidente. In Cadernos de Política Exterior. Brasília:
Fundação Alexandre de Gusmão, ano III • número 6 • segundo semestre 2017, p. 346.
Os europeus de hoje não sentem mais que façam parte da mesma histó-
ria que seus antepassados, como sentiam até o começo do século XX. Já
13. “Em anos recentes, o brado “Deus vult” foi apropriado pela extrema direita na Europa e nos
Estados Unidos, e agora tornou-se um slogan para a extrema direita no Brasil. (…) No Brasil de
Bolsonaro, o novo governo e os grupos de extrema direita divulgam uma versão ficcionalizada
do Medievo europeu, insistindo que o período foi uniformemente branco, patriarcal e Cristão.
PACHÁ, Paulo. Why the brazilian far right loves the european middle ages. Pacific Standard Ma-
gazine, 18 de fevereiro de 2019. DIsponível em https://psmag.com/ideas/why-the-brazilian-far-
-right-is-obsessed-with-the-crusades?fbclid=IwAR3MiHYRyfwIsqgMaz-_eTcZbxL3bHg6r2hyTE-
60qfvnGGD_Z9nBr7Rh50o Acesso em 24/02/2019.
Esta genealogia, e as certezas que imbui, tem muito mais a ver com
as crenças religiosas do que com o conhecimento científico ou filosófi-
co; clara e declaradamente evoca um passado mítico sem reconhecê-lo
como tal, um produto das crenças, ideologias e contextos que o criaram.
Pelo contrário, afirma-se não ideológica, verdadeira, fática – logo, a úni-
ca digna de ser ensinada nas escolas.
Essa história, que se quer “quente” e “vívida”, é, em verdade, sinônimo
de exclusão, de um idealismo perverso e hegemônico que não reconhece
a diversidade nem como valor nem como dado da realidade, e que tem
se manifestado em associação a movimentos como o Escola sem Partido,
seja nas universidades, seja nas escolas.
Nesse ponto, desafios e perigos convergem diante de nós, pois como
bem colocou Guilherme, “a consciência da realidade é relevante na me-
dida em que se possa diferenciar fenômenos históricos reais dos fictícios, o
14. ARAÚJO, Ernesto Henrique Fraga. Trump e o Ocidente. In Cadernos de Política Exterior. Brasília:
Fundação Alexandre de Gusmão, ano III • número 6 • segundo semestre 2017, p. 345.