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Cana Engenharia Rural01
Cana Engenharia Rural01
Alternativa energética
Palhiço de cana,
fonte de energia renovável
Marco Lorenzzo Cunali Ripoli, Tomaz Caetano Cannavan Ripoli e Carlos Antonio Gamero *
em operação no Brasil 159 termelétricas momento, o palhiço vem sendo limitada- ainda, o impacto ambiental da queima
a biomassa, fornecendo uma capacida- mente aproveitado, pois é queimado em será totalmente anulado ao ocorrer uma
de instalada de 992 MW (equivalente a mais de 90% de sua quantidade, como precipitação pluviométrica. A chuva
8% do parque térmico de geração e a 1,4% operação de pré-colheita. “lava” a atmosfera, principalmente se for
de toda a capacidade instalada no país). O Brasil, que não vem conseguindo de média duração e de gotas pequenas.
Dessas, quatro usinas operavam com re- ampliar satisfatoriamente seu parque O custo de produção de energia elétri-
síduos de madeira (25,5 MW) e três com hidrelétrico, apresenta um potencial ca por co-geração está entre US$ 0,035
casca de arroz (14,4 MW). As demais uti- nada desprezível em relação à biomas- e US$ 0,045 por kWh, considerando-se o
lizavam o bagaço de cana-de-açúcar, sa vegetal. O binômio “energia de bio- preço da tonelada de bagaço combustí-
com amplo predomínio do Estado de São massa – controle ambiental” deveria ser vel em US$ 6,30, enquanto que a mesma
Paulo. meta prioritária das políticas energéti- energia comprada da rede oficial custa
No Estado de São Paulo, o setor gera cas e ambientais do governo. A cultura US$ 0,066. Os investimentos médios
para consumo próprio entre 1.200 e 1.500 canavieira hoje se insere perfeitamente para um sistema de co-geração, por kWh
MW, 40 usinas produzem excedentes de nesse contexto, pois apresenta grande instalado, situam-se entre US$ 900 e US$
158 MW, “e a luz que vem da cana já aju- potencial energético não aproveitado 1.150, inferiores aos observados em hi-
da a iluminar diversas cidades”. O poten- totalmente e, em decorrência, tem se drelétricas, e com a vantagem do menor
cial de geração de energia da agroindús- tornado agente causal de poluição am- prazo de instalação (Copersucar, 2001).
tria canavieira está em torno de 12 mil biental, mesmo que não seja o mais im-
MW – a potência total instalada no Bra- portante deles. A poluição ambiental RECOLHIMENTO É A QUESTÃO
sil é de 70 mil MW. Em 2002, em função causada pelos motores de combustão Atualmente, não resta nenhuma dúvi-
de novos projetos, mais 300 MW devem interna movidos a gasolina e, principal- da de que o palhiço é um material nobre
ser adicionados e, em curto prazo, o se- mente a óleo diesel, é muito maior do e de interesse econômico para as usinas
tor poderá contribuir com 4 mil MW adi- que a causada pela queima de biomassa do país. A grande questão que se discu-
cionais (Unica, 2003). No Brasil, apesar agrícola, como prática de pré-colheita. te é quanto ao melhor sistema para re-
da necessidade do país de buscar alter- Sobre a questão das queimadas causa- colher e disponibilizar esse material no
nativas, o governo tem oferecido tímido rem ou não poluição há, segundo estu- pátio da usina, sob o ponto de vista de
respaldo para tais iniciativas, nos últi- dos científicos, alguns pontos funda- eficiência energética dos sistemas, da
mos anos e atualmente. mentais que devem nortear qualquer quantidade de terra arrastada com o
O fato de o Brasil, em 2003, já abaste- discussão a respeito. O impacto ambien- material e em relação ao custo, posto na
cer 80% de suas necessidades de petró- tal da queima (de matéria vegetal ou de usina, em termos de R$/equivalente
leo não invalida a necessidade de busca combustíveis fósseis) depende do volu- energético, na forma de palhiço. A USP/
por outras opções que diversifiquem me de material lançado na atmosfera e ESALQ, a FCA/Unesp – Botucatu e o Gru-
nossa matriz energética, hoje calcada no do seu potencial poluidor. A queima de po Cosan S.A., em parceria, estão estu-
petróleo e nas hidrelétricas. Não há país uma certa quantidade de folhas secas, dando três sistemas de recolhimento do
no mundo – por sua localização, por sua quando muito, pode causar incômodo ao palhiço. Resultados parciais estão indi-
extensão territorial e pela tecnologia já vizinho; já a queima de 200 ou 300 pneu- cando que, em termos de “eficiência
desenvolvida e disponível (sem pagar máticos empilhados causará uma grave energética”, os sistemas de enfardamen-
royalties para multinacionais) – que deterioração da qualidade ambiental e, to, de recolhimento a granel e de colhei-
melhores condições possua para o apro- inclusive, poderá levar pessoas a inter- ta integral apresentam valores acima de
veitamento da energia de biomassa, prin- nações hospitalares por problemas res- 95%, ou seja, de cada 100 unidades de
cipalmente a proveniente da cana-de- piratórios e por alergia, principalmente. energia posta na usina, na forma de pa-
açúcar, já de grande importância socioe- Por outro lado, um regime de fluxo de lhiço, consomem-se, no máximo, 5 uni-
conômica para o país. Em um hectare de 300 veículos por hora numa rodovia, dades de energia na forma de óleo die-
canavial, pode-se obter em torno de deslocando-se a 80 ou 100km/h tem sel, em todas as operações envolvidas,
67.080 Mcal, assim distribuídos: 20,09% pouco efeito sobre o ambiente. Todavia, demonstrando a grande viabilidade, em
álcool, 40.03% bagaço e 39,88% palhiço 300 veículos deslocando-se em marcha termos de “eficiência energética”, de se
(Tabela 1). Este último é constituído por lenta por ruas estreitas de uma cidade, aproveitar essa biomassa.
ponteiros, folhas verdes e palhas, colmos com trânsito totalmente congestionado, A respeito da quantidade de terra ar-
não colhidos e/ou suas frações, mais ter- certamente irão deteriorar gravemente rastada, o que melhor resultado vem
ra agregada a esses constituintes. Até o a qualidade do ar da localidade. Mais apresentando é o enfardamento seguido
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FIGURA 1 | OPÇÕES DE SISTEMAS DE RECOLHIMENTO E DISPONIBILIZAÇÃO DO PALHIÇO PARA de. É importante, todavia, efetuar balan-
CO-GERAÇÃO OU PRODUÇÃO DE ÁLCOOL
ços energéticos, caso a caso.
Nesse novo cenário promissor para a
PALHIÇO NO TALHÃO agregação de valor, por meio do aprovei-
tamento do palhiço e do bagaço para co-
geração de energia ou produção de álco-
ENLEIRAMENTO COLHEITA ol a partir dessas biomassas, deve-se le-
(1,2 OU PASSADAS) INTEGRAL
vantar uma nova questão de interesse
direto dos fornecedores de cana-de-açú-
car. Atualmente, pelos métodos de paga-
ENFARDAMENTO A GRANEL
(CILÍNDRICO OU PRISMÁTICO)
mento de cana, a quantidade de matéria
(RECOLHEDORA PICADORA)
estranha vegetal que acompanha a ma-
CARREGAMENTO
téria-prima leva a um deságio no valor da
TRANSBORDO
(CARREGADORA DE CANA) tonelada da cana entregue. Ora, se o ba-
gaço passa a ser uma biomassa que per-
CARREGAMENTO mite agregação de valor para a usina,
(CARREGADORA DE CANA)
PRENSA porque os fornecedores não devem ser
TRANSPORTE ALGODOEIRA
beneficiados por tal incremento econô-
DESCARGA
(CARREGADORA DE CANA) mico? A questão não é simples, mas me-
TRANSPORTE rece ser discutida, para se chegar a um
ESPECÍFICO consenso, permitindo transferência de
ESTOCAGEM
renda a eles, em função do que for co-
gerado ou produzido, em álcool, a partir
DESENFARDAMENTO ESTAÇÃO DE
(TRITURADOR) dessa biomassa.
LIMPEZA DE CANA
1
Informação do fabricante.