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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO


RIO GRANDE DO SUL

DOUGLAS VOLKMER PORTELA

RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS: O SISTEMA DA TRÍPLICE


RESPONSABILIDADE PELOS ATOS DANOSOS AO MEIO AMBIENTE

Ijuí (RS)
2014
1

DOUGLAS VOLKMER PORTELA

RESPONSABILIDADE POR DANOS AMBIENTAIS: O TRÍPLICE SISTEMA DE


RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS LESIVOS AO MEIO AMBIENTE

Monografia final do Curso de Graduação em


Direito objetivando a aprovação no
componente curricular Monografia.
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio Grande do Sul.
DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e
Sociais.

Orientadora: Dra. Elenise Felzke Schonardie

Ijuí (RS)
2014
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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso pretende analisar o sistema da tríplice


responsabilidade que incide sobre aqueles que causam atos lícitos e ilícitos danosos ao meio
ambiente. Verifica-se que a legislação brasileira possui uma série de institutos para
salvaguardar o meio ambiente, seja por meio da responsabilização no “direito material”, seja
através dos instrumentos jurisdicionais (processuais) de tutela do meio ambiente. Para atingir
essa finalidade foi realizada uma revisão bibliográfica apresentando em um primeiro
momento a origem e a evolução histórica do direito ambiental, os conceitos de direito
ambiental e dano, além da interpretação do artigo 225, o fundamento constitucional de defesa
do meio ambiente. A responsabilidade ambiental, em suas três esferas, civil, criminal e
ambiental, foi analisada e em terceiro e último momento, abordam-se os instrumentos legais
que levam a característica da efetividade normativa ambiental, com ênfase a Ação Civil
Pública, Ação Popular e Ação Penal. Chega-se à conclusão, após a realização de pesquisas
bibliográficas sobre o assunto, que o meio ambiente dispõe de mecanismos constitucionais e
infraconstitucionais visando a sua devida proteção, não sendo por carência normativa a causa
da degradação do meio ambiente e, sim, pela irresponsabilidade e falta de consciência dos
seres humanos que devem ser informados e educados sobre a importância da manutenção de
um meio ambiente saudável para a sobrevivência de todos.

Palavras-chave: Atos Danosos. Danos Ambientais. Instrumentos Jurisdicionais. Meio


Ambiente. Tríplice Responsabilidade Ambiental.
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ABSTRACT

The present paper is a course conclusion work which aims to analyze the system of
triple responsibility that focuses on those who cause lawful and unlawful acts harmful to the
environment. It appears that Brazilian legislation has a number of institutions to safeguard the
environment, whether through accountability “material rights” or through the judicial
instruments (procedural) protection of the environment. To achieve this purpose a literature
review presenting at first the origin and historical evolution of environmental law, the
concepts of environmental rights and damage, including the interpretation of article 225, the
constitutional basis for protecting the environment. Thus, the environmental responsibility in
its three spheres, civil, criminal and environmental were analyzed and the third and last time
addressing it is the legal instruments that lead to characteristic of environmental regulatory
effectiveness, with emphasis on civil lawsuits, class action and action criminal. As a result,
after conducting literature searches on the subject, the environment has constitutional and
infra-constitutional mechanisms to protect their due, not by legislative grace being the cause
of environmental degradation and, yes, the irresponsibility and lack of awareness of people
who should be informed and educated about the importance of maintaining a healthy
environment for the survival of all.

Keywords: Lawful and Unlawful Acts. Environmental Damage. Jurisdictional


Instruments. Environment. Triple Environmental Responsibility.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 5

1 DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE .............................. 7


1.1 Evolução histórica da proteção do meio ambiente ........................................................... 7
1.2 Conceito de meio ambiente e de dano ambiental ............................................................ 18
1.3 O fundamento constitucional da proteção ambiental .................................................... 22

2 O TRÍPLICE SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS LESIVOS AO


MEIO AMBIENTE ................................................................................................................. 26
2.1 Responsabilidade administrativa ..................................................................................... 27
2.2 Responsabilidade criminal ................................................................................................ 29
2.3 Responsabilidade civil ....................................................................................................... 31
2.3.1 Responsabilidade civil subjetiva ...................................................................................... 34
2.3.2 Responsabilidade civil objetiva ....................................................................................... 34

3 INSTRUMENTOS JURISDICIONAIS DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE ..... 39


3.1 Da ação civil pública .......................................................................................................... 39
3.2 Da ação popular ................................................................................................................. 44
3.3 Da ação penal ..................................................................................................................... 46

CONCLUSÃO.......................................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 52
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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de conclusão de curso tem por objetivo a análise da tríplice


responsabilidade pelos atos lícitos e ilícitos danosos ao meio ambiente. O meio ambiente
sadio tem sido um tema de destaque nacional em razão de ter sido reconhecido legalmente
como direito fundamental de todo ser humano, bem de uso comum do povo e imprescindível
à sadia qualidade de vida e por esse motivo e importância foi o tema selecionado para ser
abordado nesse trabalho.

Para tanto, cabe observar que a humanidade desde os primórdios passou a se sustentar
baseada na deterioração dos recursos ambientais, gerando um grau de deterioração ambiental
que culminou com uma preocupação mundial sobre a tutela do meio ambiente. Diante disso, o
primeiro capítulo desse trabalho irá abordar a evolução histórica e legislativa das normas de
proteção ambiental, dando enfoque especial aos marcos históricos ocorridos no Brasil e no
mundo. Também nesse capítulo será abordado o conceito de meio ambiente e dano ambiental
na perspectiva de diversos autores, bem como será feita uma interpretação sobre o que dispõe
o fundamento constitucional de proteção ambiental, o artigo 225, da Constituição Federal de
1988.

Diante de atos lícitos e ilícitos danosos ao meio ambiente, a legislação ambiental


brasileira estabelece que a primeira forma de reparação seja a restauração, mas isso nem
sempre é possível, já que tais danos são de difícil reparação. Por esse motivo, a
responsabilidade pelos danos ambientais fica dividida em três esferas, a primeira é a de
medidas reparatórias, aplicada na esfera civil, e as outras duas são de medidas punitivas nas
esferas administrativas e penais, com imposição de multas e outras penas. A análise dessa
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tríplice responsabilidade será merecedora de atenção especial ao longo do segundo capítulo


desse trabalho.

No que se refere aos meios jurídicos ambientais de proteção ambiental, o legislador


em observação à delegação de que cabe ao Poder Público e a população a responsabilidade de
proteger o meio ambiente, normatizou alguns instrumentos que podem ser utilizados pelo
cidadão e certas entidades na defesa do ambiente. Finalmente no terceiro capítulo desse
trabalho será abordado três desses instrumentos jurídicos, Ação Civil Pública, Ação Popular e
Ação Penal, que são utilizadas como forma de conferir eficácia ao direito de defesa ao meio
ambiente.

De qualquer forma, o meio ambiente somente é preservado e cuidado como se deve


com ações articuladas por parte da sociedade e do Poder Público. Com o advento
principalmente da Constituição da República de 1988, o direito ambiental ganhou força,
visibilidade e efetividade. Porém, sabemos que muito ainda deve ser feito para que o meio
ambiente possa ser preservado e para que seja recompensada toda degradação sofrida, mas
isso depende principalmente de políticas públicas de cunho preventivo e educativo visando a
conscientização de todos sobre a importância da sua preservação para as atuais e futuras
gerações, conforme será visto ao longo da leitura desse trabalho.
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1 DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

O direito ao meio ambiente equilibrado é considerado, hoje, um direito fundamental, o


que demanda cuidado, proteção e, inclusive, prevenção para com o ambiente natural por parte
de toda a coletividade, conforme a determinação do texto constitucional brasileiro em seu
artigo 225.

O tema relacionado à degradação do ambiente em que se vive é de extrema


importância, haja vista que produz efeitos imediatos na vida das pessoas, ameaçando o bem-
estar e qualidade de vida.

Assim sendo, para a apreciação da responsabilidade nos casos de lesão ou ameaça de


lesão aos bens ambientais que constituem a flora, imprescindível a análise, primeiramente, da
origem e da evolução histórica dessa área do direito, bem como de alguns conceitos básicos a
ele inerentes.

1.1 Evolução histórica da proteção do meio ambiente

Na história recente, o direito ambiental passou por diversas transformações, tanto por
parte da sociedade, quanto por parte dos operadores jurídicos. Percebeu-se, com o passar dos
anos, a importância de se ter um meio ambiente devidamente preservado e equilibrado, sendo
este o objetivo mediato do Direito Ambiental, visto que o conceito de saúde não se resume à
ausência de enfermidades, mas também se relaciona ao bem-estar social e vida em condições
dignas.

Com efeito, algumas considerações sobre seu desenvolvimento merecem um


tratamento particularizado, uma vez que se constituem em marco histórico da origem e da
evolução legislativa do direito ambiental no Brasil e no mundo.
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No que se refere à propriedade, instituto jurídico de grande relevância para a sociedade


moderna, cumpre salientar que, nos primórdios, a propriedade privada de bens imóveis tinha
apenas finalidades de servir ao seu dono, sem ter o mínimo de preocupação com a sociedade.
O proprietário era livre para escolher, decidir e fazer o que mais lhe oportuno fosse, com
poderes plenos e ilimitados sobre seu bem:

[...] O direito de propriedade, sob a ótica tradicional, desenvolveu-se como uma


situação jurídica subjetiva complexa, tendo o proprietário particular no polo ativo e
todas as demais pessoas no polo passivo, as quais têm o dever de respeitar o
exercício das três faculdades básicas: uso, gozo e disposição. É visto como absoluto,
exclusivo e perpétuo, já que direcionado exclusivamente ao seu titular (proprietário),
que utilizava o bem quando, onde, como e enquanto lhe aprouvesse (ANJOS
FILHO, 2011).

Portanto, a ideia de que a proteção ao meio ambiente é um fator indispensável para a


sobrevivência do homem, só foi reconhecida muito recentemente, após atravessar crises
econômicas, problemas sociais e após a possibilidade de escassez dos recursos naturais não
renováveis. Mas esta posição não é unânime na doutrina.

Para Carli (2004, p. 33) “A proteção ambiental é encontrada nas mais antigas
civilizações, pois a ação predatória do homem sobre a terra é tão antiga quanto a sua
existência”.

Há que considerar que o direito ambiental brasileiro, surge do direito internacional em


razão das preocupações de alguns Estados em relação à forma como os recursos naturais
estavam sendo utilizados. Discorrendo sobre a evolução do direito ambiental no Brasil:

[...] A evolução do Direito Ambiental no Brasil e a respectiva proteção do meio


ambiente tem como ponto de partida as primeiras leis de proteção ambiental de
Portugal. Este país, assim como os demais, vinha protegendo seus recursos naturais
de depredação e degradação, assim sendo, quando o Brasil foi descoberto, já existia
uma significativa legislação de proteção ambiental (CARLI, 2004, p. 35).

Wainer (apud TOZADORI, 2010, p. 28) assim escreve sobre a evolução histórica da
legislação ambiental:

[...] Um estudo sobre a evolução histórica da legislação ambiental brasileira requer


um estudo simultâneo da história das principais normas jurídicas portuguesas, pois a
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este país estivemos subordinados jurídica, política e economicamente de forma


ininterrupta até o início do século XIX.

Nesse sentido, Antunes (2002, p. 367) ao discorrer sobre a origem do direito ambiental
brasileiro, diz que “a história do direito brasileiro está individualmente vinculada à História
do Direito Português”.

Ao tratar sobre o assunto, Milaré (2011) refere que “já se encontravam algumas
referências que denotavam a preocupação com o meio ambiente, como aquela p. ex., que
tipificava o corte de árvores de fruto como crime de injúria ao rei”.

Mesmo que sem nenhuma consciência conservacionista, visto que a primeira


preocupação era apenas de ordem econômica, constatou-se que, desde os primórdios, se
procurou proteger as nossas florestas, principalmente com a adoção de medidas de contenção
que, à época, se mostravam necessárias, uma vez que as construções de pontes, de casas, de
navios e de móveis, além da remessa de troncos para o exterior, exigiam um elevado consumo
de madeira, ainda mais em se tratando de carvão vegetal, que era a grande fonte de energia na
indústria de ferro, sendo necessária a queimada de madeiras para alimentar as caldeiras
existentes na época (CARLI, 2004, p. 36).

Ao tratar da origem da legislação ambiental no Brasil, Siqueira (2002, p. 114) refere


que “as principais leis relacionadas com o meio ambiente e que regiam o início de nosso país
foram as Ordenações Affonsinas (Dom Afonso IV)”.

Após as Ordenações Affonsinas, surgiu as Ordenações Manuelinas, a qual foi


compilada em 1514, fase em que os fatos mais importantes ocorridos no Brasil Colônia foram
os ataques dos franceses ao nosso território em busca de madeira, o que levou,
consequentemente, Portugal a criar as Capitanias Hereditárias, em 1530, com o fim de
defender sua extensão territorial (CARLI, 2004, p. 38).

As Ordenações Manuelinas se assemelhavam muito às Ordenações Affonsinas, sendo


compiladas para satisfazer aos caprichos do rei da época, Dom Manuel I, ao que foi
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definitivamente editada no ano de 1521 (LOPES; ARAÚJO; ALENCASTRO apud


TOZADORI, 2010, p. 29).

Visando à adequação das Ordenações Manuelinas à realidade das Colônias, em 1548,


houve a instituição do Governo Geral, com o objetivo de centralizar o poder, combater o
contrabando de pau-brasil e conter o ataque dos franceses no Maranhão, bem como dos
ingleses na Amazônia. Essas ordenações, em matéria de defesa do meio ambiente,
destacaram-se em termos conservacionistas, como na noção de zoneamento ambiental, na
proibição da caça em determinados lugares, assim como na obrigação de reparação do dano
ecológico, quando se atribuíam valores às árvores frutíferas abatidas (CARLI, 2004, p. 39).

Segundo Tozadori (2010, p. 29) “os dispositivos legais referentes ao meio ambiente
contidos nas Ordenações Manuelinas vigoraram em Portugal e no Brasil-colônia até o início
do século XVII”.

Para Carli (2004) a primeira lei de proteção florestal foi considerada somente no ano
de 1605, por meio do Regimento do Pau-Brasil, o qual exigia expressa autorização real para o
corte do pau-brasil, com a imposição de outras limitações para a exploração desse tipo de
árvore. Refere que, a partir desse marco legislativo, a legislação ambiental começou seu
grande desenvolvimento, com demonstração de preocupação das autoridades com o crescente
desmatamento da colônia e com os incêndios, com o fim de evitar a destruição das florestas.

Para Tozadori (2010, p. 30) o Regimento do Pau-Brasil se destacava pela:

Proibição do corte do pau-brasil sem expressa licença real ou do provedor-mor da


fazenda da capitania, em cujo distrito estivesse a mata que houvesse de cortá-lo, sob
pena de morte e confisco de toda a fazenda do infrator.

Ocorre que se descobriu que o regimento de proteção do pau-brasil tinha por objetivo
proteger a riqueza oriunda dessa madeira, ao invés de proteger a floresta existente
(TOZADORI, 2010).

Segundo Lopes, Araújo e Alencastro (apud TOZADORI, 2010, p. 29):


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No início do século XVII, durante o período denominado de União Ibérica, quando


Portugal esteve sob o domínio da Espanha (1580-1640), foram compiladas, pelo rei
Felipe I, as Ordenações Filipinas.

“Os trabalhos preparatórios da compilação filipina foram iniciados no ano de 1583,


sendo concluída no ano de 1595, com início de vigência apenas em 1603” (COSTA apud
TOZADORI, 2010, p. 29).
Registram-se vários marcos históricos de regimentos, alvarás e outras formas
legislativas demonstrando algumas medidas de proteção ambiental, como, por exemplo, a
expedição, em 1797, das Cartas Régias declarando de propriedade da Coroa todas as matas e
arvoredos que existiam à borda da costa ou dos rios que desembocassem imediatamente no
mar e por qualquer via fluvial que permitisse a passagem de jangadas transportadoras de
madeiras. Importante a menção de uma dessas Cartas Régias, a expedida em 13 de março de
1797, com grande preocupação com a defesa da fauna, das águas e dos solos, advertindo,
inclusive, sobre a necessidade de precauções para a conservação das matas no Brasil,
evitando-se que as mesmas viessem a ser destruídas (CARLI, 2004, p. 40).

Algumas ações visando à proteção do meio ambiente também datam desse período,
como descreve Carli (2004, p. 40):

[...] Outras medidas foram tomadas no campo administrativo, como a criação de


novos cargos de Juízes Conservadores, aos quais cabia a aplicação das severas penas
previstas na legislação. Estas penas eram de multa, prisão, degredo e até a pena
capital para os casos de incêndio dolosos.

Em 1799, foi criado o Regimento de Cortes Madeiras (SIQUEIRA, 2002, p. 114), o


qual, segundo Carli (2004, p. 41) “estabelecia rigorosas regras para a derrubada de árvores,
além de outras restrições ali previstas”.

Mesmo antes do período imperial, registra-se, no Brasil, um grande marco histórico na


crescente preocupação com o meio ambiente, qual seja a criação do Jardim Botânico, no
Estado do Rio de Janeiro, no ano de 1808, o qual era uma área de proteção ambiental,
considerado como a primeira unidade de conservação destinada à preservação das espécies, e,
também, à estimulação dos estudos científicos (CARLI, 2004, p. 41).
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Nesse sentido, manifesta-se Tozadori (2010, p. 31) ao dizer que “o Jardim Botânico do
Rio de Janeiro foi a primeira unidade de conservação do Brasil. Foi criada em 1808, destinada
a preservar espécies e estimular estudos científicos, além do caráter educativo”.

Sobre a importância da criação do Jardim Botânico no Brasil, Carli (2004, p. 41) assim
leciona:

[...] Ressalta-se a importância dessa medida para o Direito Ambiental Brasileiro,


pois a razão da criação dessa reserva já não era de caráter econômico, mas sim
conservacionista, ainda mais, que o Primeiro Parque Nacional criado do mundo foi o
de Yellowstone, nos EUA, em 1872. Eis porque a criação do Jardim Botânico foi
um passo memorável pelo seu aspecto ambiental. Evidentemente, a chegada de D.
João VI ao Brasil alterou profundamente a administração da Colônia e muitas
medidas protecionistas foram expedidas, sendo que duas delas merecem destaque: a
ordem de 9 de abril de 1909, que prometia liberdade aos escravos que denunciassem
contrabandistas de pau-brasil e o decreto de 3 de agosto de 1817, específico para o
Rio de Janeiro, que proibia o corte de árvores circundantes às nascentes do rio
Carioca.

Segundo Tozadori (2010, p. 32) “em 1829, foi registrada a primeira lei ordinária
voltada à preservação ambiental, proibindo a roçagem e a derrubada de matas em terras
devolutas”.

Em 1850, veio a lume a Lei nº 601, instituindo, pela primeira vez, o chamado princípio
de responsabilidade por danos ambientais, e, ainda, punindo a derrubada de matas e o uso de
fogo, ao que os infratores se sujeitariam ao despejo e perderiam as benfeitorias realizadas,
além da pena de prisão que poderia ser de dois a seis meses e com a aplicação de multa de
cem mil réis (SIQUEIRA, 2002, p. 115).

Discorrendo sobre esse diploma normativo, Carli (2004, p. 43) refere que:

Em um de seus artigos, para ser mais precisa, no artigo segundo, punia o dano pela
derrubada de matas e queimadas, responsabilizando o infrator civilmente, com o
pagamento de multa, e até com pena de prisão.

No ano de 1861, por ordem do Major Gomes Archer, após anos de desmatamento para
o plantio, principalmente, de café, foi determinado o reflorestamento da Floresta da Tijuca,
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sendo plantadas, em 13 anos, 100 mil mudas, com a maioria de espécies nativas do
ecossistema da Mata Atlântica (TOZADORI, 2010, p. 32).

Para Siqueira (2002, p. 115) essa ação foi determinada com o intuito de garantir o
suprimento de água para o Rio de Janeiro, que, à época, estava ameaçado pelos
desmatamentos das encostas dos morros, entendendo que essa ação era diretamente ligada à
preservação dos mananciais, com consequente garantia da existência de água potável para a
sociedade.

Em 1889, foi proclamada a República no Brasil, por meio de um grupo de militares


liderados pelo Marechal Deodoro da Fonseca, quando se deu início, então, a uma nova fase
política no país, vindo a ser promulgada, dois anos depois, em 1891, a primeira Constituição
da República, que vigorou até o ano de 1934, a qual era, por sua vez, omissa quanto à
proteção dos bens naturais, artificiais e culturais. Em 1916, surgiu o Código Civil, que vedou
as construções capazes de poluir ou inutilizar a água de poço ou a fonte alheia e em 1921,
através do Decreto nº 4.421, foi criado o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal –
IBDF, o atual Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, que
tinha como principal objetivo a conservação e o aproveitamento das florestas (CARLI, 2004).

No ano de 1911, foi criada, por meio do Decreto nº 8.843, a primeira reserva florestal
brasileira, localizada no Estado do Acre, que, hoje, é conhecida como Floresta Estadual do
Antimari. Ainda no que se refere à Constituição Federal de 1934, Tozadori (2010) também a
considera omissa em relação às questões ambientais, e acrescenta que ela apenas atribuía
competência à União para legislar sobre suas minas e terras.

Igualmente no ano de 1934, por intermédio do Decreto nº 24.643, surge o Código de


Águas, que tinha como principal objetivo o controle e o incentivo do aproveitamento
industrial das águas (SIQUEIRA, 2002, p. 116). Também nesse ano, em virtude do Decreto nº
24.645, foram estabelecidas regras de proteção aos animais e surgia o primeiro Código
Florestal, por meio do Decreto nº 23.793, dispondo sobre a guarda, preparo das lavouras,
realização de cortes, além de fixar crimes e contravenções (BARACHO JÚNIOR, 1999, p.
180).
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Sobre a Constituição Federal promulgada no ano de 1937, assim refere:

[...] A Constituição de 1937, no que se refere à matéria ambiental, estabeleceu em


seu artigo 16, inciso XIV, a competência privativa da União para legislar sobre os
bens de domínio federal, minas, metalurgia, energia hidráulica, águas, florestas, caça
e pesca e sua exploração (PORTO apud TOZADORI, 2010, p. 33).

O Código Penal de 1940 (Decreto-Lei nº 2.848, de 07/12/1940), em vigor até os atuais


dias, estabeleceu sanções para o indivíduo que causasse incêndios (o que incluía os incêndios
florestais), além de prever sanção àquele que comprometesse ou viesse a poluir as águas
(BARACHO JÚNIOR, 1999, p. 180).
[...] Em 1946, foi promulgada uma nova Constituição e a matéria ambiental veio
regulada no artigo 5º, inciso XV, letra l, o qual manteve a competência da União
para legislar sobre as riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, águas, energia
elétrica, florestas, caça e pesca (TOZADORI, 2010, p. 33).

Vejam-se ainda das palavras de Tozadori (2010, p. 33) sobre as leis ambientais:

[...] Na década de 60, importantes leis ambientais foram editadas. A Lei nº


3.924/1961 dispõe sobre a proteção de monumentos arqueológicos e pré-históricos.
Em 1962, a Lei nº 4.132, em seu artigo 2º, definiu o caso de desapropriação de terras
na hipótese de proteção do solo e preservação de cursos e mananciais de água, bem
como de reservas florestais.

A proteção dos recursos naturais compõe o ordenamento jurídico brasileiro desde o


ano de 1934, sendo que, embora haja uma enorme variedade de recursos protegidos, a
expressão meio ambiente somente veio a integrar uma norma jurídica brasileira pela primeira
vez em 1975, tendo, contudo, um significado mais profundo, não se reduzindo apenas a uma
abordagem econômica (BARACHO JÚNIOR, 1999, p. 181).

O desenvolvimento econômico advindo da industrialização aumentou os problemas e


as discussões sobre a proteção ao meio ambiente, conforme discorre Baracho Júnior (1999, p.
179) a respeito desse tema:

[...] A discussão de problemas ambientais só é possível em uma sociedade


industrializada, seja porque nelas a organização de interesses meta-individuais se
torna viável, seja porque os problemas ambientais se tornam mais acentuados com a
industrialização.
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Faz-se necessário registrar, ainda, uma importante inovação trazida ao mundo jurídico
no ano de 1965, qual seja, a possibilidade de ingresso em Juízo com Ação Popular, a qual tem
por objetivo oferecer ao cidadão a possibilidade de utilizar esse instrumento para proteção do
meio ambiente (TOZADORI, 2010, p. 33).

Para Baracho Júnior (1999, p. 184), as normas de proteção, de recuperação e de


melhoria ambiental passaram a refletir a partir da década de 70, mudanças na concepção do
que seja o meio ambiente. A própria definição legal demonstra essa mudança paradigmática.
O artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/1981 (Lei que instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente), entende o meio ambiente como “um conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas”.

Conforme Siqueira (2002, p. 119) a lei acima referida “é um dos marcos mais
importantes do Direito Ambiental Brasileiro. Introduziu, para o mundo do direito, o conceito
de meio ambiente, como objetivo específico de proteção em seus múltiplos aspectos”.

Para Tozadori (2010, p. 34) a década de 70 ficou marcada como o início da


preocupação ambiental no Brasil, mas o autor refere-se mais a década de 80, que foi quando
houve mudanças significativas. Em que pese esse entendimento, o autor assim dita o seguinte:

[...] Foi no início da década de 80 que a legislação sobre a matéria passou a


desenvolver-se com maior consistência e celeridade. Isso porque o conjunto de leis
até então existentes não se preocupava em proteger o meio ambiente de forma
específica, dele cuidando de maneira diluída, e na exata medida em que pudesse
atender à sua exploração pelo ser humano. Logo no ano de 1980 foi editada a Lei nº
6.803/80, que regula o zoneamento industrial nas áreas críticas de poluição.

Nesse mesmo sentido é a lição de Siqueira (2002, p. 118):

[...] Apesar da imensa gama de diplomas versando sobre itens ambientais citados
anteriormente, podemos citar que somente a partir da década de 1980 é que a
legislação sore a matéria passou a desenvolver-se com maior consistência e
velocidade.
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Para Baracho Júnior (1999, p. 184), as normas de proteção, de recuperação e de


melhoria ambiental passaram a refletir a partir da década de 70, mudanças na concepção do
que seja o meio ambiente. A própria definição legal demonstra essa mudança paradigmática.
O artigo 3º, inciso I, da Lei nº 6.938/1981 (Lei que instituiu a Política Nacional do Meio
Ambiente), entende o meio ambiente como “um conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas”.

Conforme Siqueira (2002, p. 119) a lei acima referida “é um dos marcos mais
importantes do Direito Ambiental Brasileiro. Introduziu, para o mundo do direito, o conceito
de meio ambiente, como objetivo específico de proteção em seus múltiplos aspectos”.

Em 1985, foi promulgada a Lei nº 7.347, que disciplina a Ação Civil Pública por
danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico (SIQUEIRA, 2002, p. 119).

Segundo Tozadori (2010, p. 35) a Lei nº 7.347/1985 é “um dos mais eficientes
instrumentos de defesa do meio ambiente”.

Já no ano de 1988, é de se registrar o grande marco histórico de proteção ambiental


estabelecido no nosso país, por meio da introdução, na nossa Constituição Federal, de um
capítulo específico dedicado ao meio ambiente, o artigo 225.

Siqueira (2002, p. 120) ao se referir sobre esse grande marco histórico na defesa do
meio ambiente natural, diz que “com a Constituição Federal de 05/10/1988, o progresso se fez
notável. A Carta Magna deu ao meio ambiente uma disciplina rica, dedicando à matéria um
capítulo próprio em um dos textos mais avançados de todo o mundo”.

Para Tozadori (2010, p. 37) “pela primeira vez na história das Constituições
Nacionais, o meio ambiente foi elevado à categoria de bem jurídico constitucional”. Ainda
segundo Tozadori (2010) “A Carta Magna de 1988 foi bem formulada ao colocar
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conjuntamente o Poder Público e a coletividade como agentes fundamentais na ação


defensora e preservadora do meio ambiente”.

Milaré (2011) afirma que a Constituição de 1988 poderia ser denominada “verde”,
devido ao destaque dado à proteção do meio ambiente e a considera um dos sistemas mais
abrangentes e atuais do mundo sobre tutela do meio ambiente. Para ele as Constituições
antecessoras nunca se preocuparam com a proteção do ambiente e essa conseguiu captar a
consciência nacional de que é preciso aprender a conviver de forma harmoniosa com a
natureza.

Santili (2005, p. 58) ao discorrer sobre a transversalidade do capítulo referente ao


meio ambiente esculpido na Constituição Federal, assim refere:

[...] O meio ambiente ecologicamente equilibrado, essencial à sadia qualidade de


vida, é um direito humano fundamental. Embora não esteja arrolado no artigo 5º da
Constituição entre os direitos e garantias fundamentais “explícitos”, a doutrina já
reconhece o seu caráter fundamental, baseada em uma compreensão material do
direito fundamental, cujo conteúdo invoca a construção da liberdade do ser humano.

Após um especial tratamento dado ao meio ambiente por parte de nossa Constituição
Federal, surgiu a necessidade de uma rápida adaptação da legislação ambiental vigente, sendo
exigida da mesma uma maior firmeza, visando à definição de infrações penais e
administrativas, com as consequentes responsabilizações (CARLI, 2004, p. 65).

Ainda segundo Carli (2004, p. 65) “Era preciso, portanto, elaboração urgente de uma
lei que ajustasse à nova ordem constitucional. Veio ao mundo jurídico, então, a Lei nº 9.605,
de 12 de fevereiro de 1998, denominada Lei dos Crimes Ambientais”.

Nos dizeres de Carli (2004, p. 67) sobre a tutela jurídica do meio ambiente:

[...] Na atualidade, a tutela jurídica do meio ambiente é uma exigência


mundialmente reconhecida, a evolução normativa que se desenvolve vem
determinada por um imperativo elementar de sobrevivência e de solidariedade; a
responsabilidade histórica das nações pela preservação da natureza para o presente e
o futuro, encontra-se, pois, profundamente impregnada pelos valores e direitos
assegurados na Constituição Federal, sendo que a legislação brasileira garante o
18

direito do cidadão ao meio ambiente sadio, que é um bem de uso comum do povo,
segundo o artigo 225 da Constituição.

Esse é um breve histórico da origem e do desenvolvimento da legislação ambiental


brasileira que, como se pode ver, sofreu significativas mudanças com o passar dos anos,
tornando-se um bem cuja propriedade recai sobre toda a coletividade, o que demanda a
atualização legislativa no sentido de se obter uma legislação adequada à prevenção e à
preservação do meio ambiente natural. Assim sendo, para o adequado estudo da matéria, faz-
se necessária, ainda, a análise de alguns conceitos básicos relacionados à matéria ambiental,
para posterior análise da tríplice responsabilidade pelos atos lesivos ao meio ambiente e os
instrumentos jurisdicionais de proteção ao meio ambiente.

1.2 Conceito de meio ambiente e de dano ambiental

Sobre o conceito doutrinário de meio ambiente, pode ser classificado como natural,
que integra elementos bióticos (flora e fauna), e elementos abióticos (água, solo e ar
atmosférico); cultural, que representa o patrimônio artístico, arqueológico, histórico,
paisagístico e turístico; artificial, que integra os espaços comunitários, edifícios, equipamentos
urbanos; e de trabalho, representado pelas normas de proteção ao trabalhador, com objetivo de
fornecer qualidade de vida (SCHONARDIE, 2003).

A Lei Federal nº 6.391/1981, que institui a Política Nacional do Meio Ambiente, em


seu artigo 3º, I, define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, obriga e rege a vida em todas as
suas formas”.

Sobre o conceito de meio ambiente Mazzilli (2007, p. 152) descreve:

O conceito legal e doutrinário é tão amplo que nos autoriza a considerar de forma
praticamente ilimitada a possibilidade de defesa da flora, da fauna, das águas, do
solo, do subsolo, do ar, ou seja, de todas as formas de vida e de todos os recursos
naturais, com base na conjugação do art. 225 da Constituição com as Leis nº
6.938/81 e 7.347/85. Estão assim alcançadas todas as formas de vida, não só aquelas
da biota (conjunto de todos os seres vivos de uma região) como da biodiversidade
(conjunto de todas as espécies de seres vivos existentes na biosfera, ou seja, todas as
19

formas de vida em geral do planeta), e até mesmo está protegido o meio que as
abriga ou lhes permite a subsistência.

O meio ambiente é um macrobem cuja titularidade pertence a todos sem distinção.


Além de incorpóreo e imaterial, é um bem de uso comum do povo. Dessa forma o
proprietário, público ou privado, não poderá dispor da qualidade do ambiente ecologicamente
equilibrado, de acordo com a Constituição. Não deve ser qualificado como patrimônio
público, e sim como um bem de interesse público, afeto à coletividade, entretanto, a título e
disciplina autônomo (CANOTILHO; LEITE, 2008).

Ao discorrer sobre a conceituação de meio ambiente, Silva (2002) refere que a palavra
“ambiente” indica a esfera, o círculo, o âmbito em que vivemos, já estando contida nela o
sentido da palavra “meio”. Consideração essa feita também por Fiorillo (2009) que afirma que
o termo meio ambiente costuma ser criticado por ser pleonástico e redundante, pelo fato de
ambiente já trazer em seu conteúdo a ideia de “âmbito que circunda”, sendo desnecessária a
complementação pela palavra meio. Troppmair (apud MIRRA, 2004, p. 9) define o meio
ambiente como “o complexo de elementos físicos, químicos e biológicos que interagem entre
si com reflexos recíprocos, afetando, de forma direta e visível, os seres vivos”.

Silva (2002, p. 20) ao tratar do conceito jurídico de meio ambiente, assim leciona:

[...] O ambiente integra-se, realmente, de um conjunto de elementos naturais e


culturais, cuja interação constitui e condiciona o meio em que se vive. Daí por que a
expressão meio ambiente se manifesta mais rica de sentido (como expressão de
valores) do que a simples palavra ambiente. Esta exprime o conjunto de elementos;
aquela expressa o resultado da interação desses elementos. O conceito de meio
ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a natureza original e
artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a
água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico,
paisagístico e arqueológico.

O conceito de meio ambiente acima exposto, por sua vez, é bastante amplo, uma vez
que compreendem três classes de elementos ambientais, quais sejam os naturais (como a água,
o ar, o solo, etc.), os culturais (os bens e valores integrantes do patrimônio artístico, estético,
paisagístico, etc.) e os artificiais (os que compõem o espaço urbano e rural construído ou
modificado) (SILVA, 2002, p. 21).
20

O conceito de meio ambiente é amplo, porque a Constituição Federal optou por um


conceito jurídico indeterminado ao se referir ao artigo 225 da Carta Magna, onde se visualiza
a expressão sadia qualidade de vida. Para Fiorillo (2009, p. 19) a Constituição Federal optou
por dois objetos de tutela ambiental, o imediato que se refere à qualidade do meio ambiente, e
o mediato, que é a saúde, o bem-estar e a segurança da população, expressos como qualidade
de vida.

Mirra (2004, p. 11) ao tratar sobre a discussão existente em relação à conceituação de


meio ambiente, é decisivo ao dizer o seguinte:

[...] Consciente do debate doutrinário sobre a matéria, o legislador federal, ao editar


a Lei nº 7.347/1985 concernente à Ação Civil Pública para a tutela dos interesses
difusos nela especificados, preferiu não deixar espaço para dúvidas e discussões a
respeito da amplitude do conceito de meio ambiente, para fins de proteção
jurisdicional. Tratou, desde logo, de dispor que se rege pelos dispositivos dessa lei a
Ação Civil Pública para a defesa, entre outros, do meio ambiente (inciso I) e de bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso III),
acrescentando, na sequência, também, a proteção da ordem urbanística.

Para dar seguimento ao tema proposto no presente trabalho, faz-se necessária, neste
momento, a conceituação do que seja dano ambiental, antes de se adentrar o exame dos tipos
de responsabilidades atualmente existentes.

Quanto ao dano ambiental, este é verificado quando da ocorrência de um prejuízo,


lesão ou ameaça de lesão aos elementos que integram o meio ambiente, considerado em todas
as suas formas, o qual acarreta consequências negativas no equilíbrio ecológico de
determinado habitat, assim como reflexos na queda da qualidade de vida humana
(SCHONARDIE, 2003, p. 26).

O conceito legal de dano ambiental vem indicado no artigo 3º, inciso II, da Lei Federal
nº 6.391/1981, que entende por “degradação da qualidade ambiental a alteração adversa das
características do meio ambiente”, distinguindo-a da poluição (STEIGLEDER, 2004, p. 121).

No inciso III do artigo acima referido, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente
trouxe o conceito de poluição:
21

Art. 3º – Para os fins previstos nesta, entende-se por:


[...]
III – poluição, a degradação da qualidade ambiental resultantes de atividades que
direta ou indiretamente:
a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais
estabelecidos.

Para Steigleder (2004, p. 122) a noção jurídica de dano ambiental também concerne ao
patrimônio histórico e cultural, e é um dano autônomo em virtude da degradação ambiental
que produz a terceiros, conceituando o dano ambiental lato sensu. Ainda segundo a autora os
danos lato sensu resultam sempre sobrepostos aos danos ecológicos puros e individuais, onde
em ambas estará sendo lesado o direito à manutenção a qualidade ambiental.

Nos dizeres de Mirra (2004, p. 89) (a palavra “dano ambiental” abrange não só os
prejuízos causados à natureza – qualificada pelo autor como dano ambiental stricto sensu) –,
mas também aqueles causados aos meios artificial e cultural.

Ainda nas palavras de Mirra (2004, p. 90) sobre o conceito de dano ambiental:

[...] O dano ambiental, segundo entendemos, consiste na lesão ao meio ambiente,


abrangente dos elementos naturais, artificiais e culturais, como bem de uso comum
do povo, juridicamente protegido. Significa, ainda, a violação do direito de todos ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito humano fundamental, de
natureza difusa.

Podemos ver aqui também outra definição de dano/impacto ambiental, prevista na


resolução 001/86 do CONAMA:

Artigo 1º – [...] considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades


físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente,
afetam:
I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população;
II – as atividades sociais e econômicas;
III – a biota;
IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V – a qualidade dos recursos ambientais.
22

O dano ambiental pode ser conceituado como uma lesão a um bem jurídico que pode
ser oriunda de um ato lícito ou ilícito. Salienta que quando ocorre uma lesão a um bem
ambiental como resultado de uma atividade praticada por pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, responsável direta ou indiretamente pelo dano, ocorre além da caracterização do
dano, a identificação do poluidor e do indenizador. Fiorillo (2009, p. 48) classifica os danos
em três modalidades: dano material, dano moral e dano à imagem em face dos bens
ambientais.

Com efeito, após a análise da história do direito ambiental e de alguns conceitos


básicos relacionados à matéria posta em exame, surge a necessidade de tecer alguns
comentários acerca da responsabilidade aplicada no direito ambiental, o que será feito, no
entanto, no capítulo que segue.

1.3 O fundamento constitucional da proteção ambiental

“A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 é a primeira Constituição


Brasileira em que a expressão ‘meio ambiente’ é mencionada” (MACHADO, 2012, p. 150).

Para trabalhar este tópico se faz imprescindível a citação do artigo 225, caput, da
Constituição Federal:

Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e
futuras gerações.

O presente artigo foi inserido em nossa Constituição Federal de 1988, no título da


ordem social, ao lado de seguridade social, saúde, educação, etc. A proteção do meio
ambiente ecologicamente equilibrado é tida, entre os brasileiros como direito fundamental
(CANOTILHO; LEITE, 2008).

Segundo Canotilho e Leite (2008, p. 103):


23

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é direito de terceira geração,


alicerçado na “fraternidade” ou na “solidariedade”. Nessa categoria, tem se direitos
que não se destinam especificamente à proteção dos interesses de um indivíduo, de
um grupo ou de um determinado Estado. Tem primeiro por destinatário o gênero
humano, mesmo num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo
em termos de existência concreta.

“O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado não se esgota no artigo 225,


caput, pois nesse dispositivo está apenas a sede de sua organização como direito autônomo e
de caráter genérico, a mãe de todos os direitos ambientais da Constituição Brasileira”
(CANOTILHO; LEITE, 2008, p. 103).

O artigo 225 é na verdade, uma síntese de todos os dispositivos ambientais que fazem
parte da Constituição. Síntese que não implica totalidade ou referência única. Pois seus
fundamentos ligam-se à própria proteção à vida e saúde, à salvaguarda da dignidade da pessoa
humana e à funcionalização ecológica da propriedade (CANOTILHO; LEITE, 2008).

Faz-se importante abordarmos aqui o desenvolvimento sustentável, que é a


compatibilização do desenvolvimento econômico-social com o equilíbrio do meio ambiente,
ou seja, explorar os recursos naturais, de forma moderada, nos limites da satisfação das
necessidades (SILVA, 2002).
A sua relevância decorre da necessidade de se criar parâmetros para uma política
ambiental que não bloqueie o desenvolvimento econômico, mas também não promova o
exaurimento de fontes naturais, preservando-as para gerações futuras (SILVA, 2002, p.26)

O presente artigo ainda refere que é direito de “todos”, uma interpretação restritiva,
leva a crer que apenas os brasileiros e estrangeiros residentes no País teriam direito. De modo
diferente, parece que a melhor compreensão seria a que engloba qualquer pessoa, residente ou
não, o benefício de tal direito. Não ampararia a norma constitucional o estrangeiro não
residente no País que fosse atingido pessoalmente, sofrendo danos ambientais? A tutela da
dignidade da pessoa, esta além da cidadania brasileira e demanda uma visão universalista da
atribuição de direitos (CANOTILHO; LEITE, 2008).
24

Já na interpretação de Machado (2012) o uso do pronome “todos” amplia a


abrangência da norma jurídica, pois como não particulariza quem tem o direito ao meio
ambiente equilibrado também não faz nenhuma exclusão. Para ele, esse direito é de cada
pessoa humana, independentemente da nacionalidade, raça, sexo, idade, estado de saúde,
profissão, renda ou residência. É um direito individual, mas que não se esgota numa só
pessoa, sendo direito de uma coletividade indeterminada, ou seja, o direito ao meio ambiente
é um direito transindividual de interesse difuso.

Ainda segundo Canotilho e Leite (2008) o direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado não é daqueles reservados especificamente aos brasileiros, como o de ser eleito
Presidente, pois vigora em nossa Constituição o princípio da universalidade, que para ser
excepcionado, requer expressão evidente e explicita do legislador constitucional, o que não se
observa no artigo 225.

Equilíbrio ecológico é o estado de equilíbrio entres os diversos elementos que formam


um ecossistema, vegetação, solo, ar, água, que pode ser desestabilizado pela ação humana,
seja por poluição ambiental, por eliminação ou introdução de espécies animais e vegetais.
Equilíbrio ecológico não é uma permanente imutabilidade das condições naturais. Mas sim a
harmonia entre os vários elementos que formam o ambientalismo (MACHADO, 2012).

Segundo Machado (2012, p. 153):

O caput do art. 225 é antropocêntrico. É um direito fundamental da pessoa humana,


como forma de preservar a “vida e a dignidade das pessoas” – núcleo essencial dos
direitos fundamentais, pois ninguém contesta que o quadro da destruição ambiental
no mundo compromete a possibilidade de uma existência digna para a humanidade e
põe em risco a própria vida humana. [...] Nos parágrafos do art. 225 equilibra-se o
antropocentrismo com o biocentrismo (nos §§ 4º e 5º e nos incisos I, II, III e VII do
§1º), havendo a preocupação de harmonizar e integrar seres humanos e biota.

A Constituição foi bem-formulada ao terem sido colocados juntos o Poder Público e a


coletividade como agentes indispensáveis na ação defensora e preservadora do meio
ambiente. Não é papel somente do Estado a tutela do meio ambiente, pois essa tarefa não
pode ser executada sem a cooperação do corpo social. O Poder Público e a coletividade
deverão defender e preservar o meio ambiente ecologicamente equilibrado, descumprindo a
25

Constituição tanto o Poder Público como a coletividade quando permitem ou possibilitam o


desequilíbrio do meio ambiente (MACHADO, 2012).
26

2 O TRÍPLICE SISTEMA DE RESPONSABILIZAÇÃO POR ATOS LESIVOS AO


MEIO AMBIENTE

A palavra responsabilidade é conceituada no Dicionário Luft (2004, p. 538) como


sendo “a obrigação de responder pelos próprios atos ou pelos de outrem ou condição ou
estado do que está sujeito a responder por certos atos e sofrer-lhes as consequências”.

Lemgruber (2013) sobre a responsabilidade:

O conceito de responsabilidade deve ser entendido, basicamente, como restituição


ou compensação de algo que foi retirado, por exemplo, de alguém, de povos
tradicionais ou da sociedade. A responsabilidade tem por finalidade restituir, reparar
ou ressarcir um dano gerado e surge nesse contexto de irreparabilidade e
imprevisibilidade do dano ambiental.

Ao tratar da origem do termo responsabilidade Luiz Júnior (2005) assim refere:

[...] A palavra responsabilidade tem sua origem etimológica no verbo latino


respondere, de spondeo, primitiva obrigação de natureza contratual do Direito
Romano, pela qual o devedor se vinculava ao credor nos contratos verbais, tendo,
portanto, a ideia e concepção de responder por algo.

Ainda segundo Luiz Júnior (2005) a responsabilidade, no campo jurídico, “amolda-se


ao conceito genérico de obrigação, o direito de que é titular o credor em face do dever, tendo
por objeto determinada prestação”.

Para Dall’Agnol (2005) responsabilidade é:

[...] A obrigação de responder por alguma coisa, revelando o dever jurídico em que
se coloca a pessoa, seja em virtude de contrato, seja em face de fato ou omissão que
lhe sejam imputáveis, para satisfazer a prestação convencionada ou para suportar as
sanções legalmente previstas.

Ocorre que, em termos de responsabilidade ambiental, a nossa Constituição Federal


reconhece três tipos de responsabilidades, quais sejam a administrativa, a criminal e a civil,
possuindo cada uma delas as respectivas sanções (SILVA, 2002, p. 300).
27

Sobre a tríplice responsabilidade:

[...] O instituto da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente, associado aos
instrumentos jurídico-administrativos e à responsabilidade penal ambiental, assim,
têm importante missão no cenário do princípio da responsabilização. “Essa tríplice
responsabilização deve ser articulada conjunta, coerente e sistematicamente, em um
verdadeiro sistema múltiplo de imputação ao degradador ambiental”
(CANOTILHO; LEITE, 2008, p. 187).

Nesse sentido, é o teor do artigo 225 da Carta Magna, conforme esta redação:

Art. 225 – [...]


§3º – As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados (BRASIL, 1988).

Para Fiorillo (2009, p. 61) o artigo 225 também consagrou a regra da cumulatividade
das sanções, visto que elas protegem objetos distintos e estão sujeitas a regimes jurídicos
diversos. Dessa forma, faz-se necessária a análise preliminar de cada uma delas, para verificar
seus conceitos e suas particularidades.

2.1 Responsabilidade administrativa

De acordo com a Lei nº 9.605/98, pode ser responsabilizado administrativamente


qualquer poluidor, pessoa física ou jurídica, do direito público ou privado, que por ação ou
omissão viole a tutela jurídica dos bens ambientais. As sanções administrativas são
penalidades impostas por órgãos vinculados de forma direta ou indireta aos entes estatais
(União, Estados, Municípios e Distrito Federal), nos limites de competências estabelecidas em
lei, com o objetivo de impor regras de conduta àqueles ligados à Administração no âmbito do
estado democrático de Direito (FIORILLO, 2009).

Lemgruber (2013) ao conceituar a responsabilidade administrativa diz:


28

A responsabilidade administrativa é objetiva, onde o poluidor é obrigado,


independente de existência de culpa, a responder, pagar multa e reparar danos
causados ao meio ambiente e a terceiros afetados pela sua atividade. Nela o Estado
também poderá ser responsabilizado solidariamente, visto que a ele cabe definir
padrões de qualidade adequados a garantir a proteção do meio ambiente.

Para Silva (2002, p. 301) a responsabilidade administrativa “resulta de infrações a


normas administrativas, sujeitando-se o infrator a uma sanção de natureza também
administrativa: a advertência, multa simples, interdição de atividade, suspensão de benefícios
etc.”.

Segundo Dall’Agnol (2005 s.p.) “é a que resulta da infringência de norma da


administração estabelecida em lei, regulamentos ou até mesmo por força contratual, impondo
um ônus ao contratado para com qualquer órgão público”.

Ela se fundamenta, principalmente, na capacidade que as pessoas jurídicas de Direito


Público têm de impor condutas aos administrados em razão do poder administrativo inerente a
todas as entidades estatais – União, Estados, Distrito Federal e Municípios –, nos limites de
suas competências institucionais (MEIRELLES apud SILVA, 2002, p. 301).

Ao tratar do assunto Fiorillo (2009, p. 65) assim leciona:

[...] As sanções administrativas, conforme doutrina tradicionalmente vinculada ao


denominado “direito público”, estão ligadas ao denominado poder de polícia
enquanto atividade da Administração Pública que, limitando ou disciplinando
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato em razão
de interesse público vinculado à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas
dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública
ou mesmo respeito à propriedade e aos direitos individuais e coletivos.

Todavia, é de se ressaltar que, em se tratando de tutela de bens jurídicos ambientais, o


poder de polícia inerente às entidades estatais não necessariamente estaria vinculado a
interesse público, mas, sim, interesse difuso, pertencente a pessoas indeterminadas
(FIORILLO, 2009, p. 67).
29

As sanções são aplicadas pela própria Administração, podendo ir desde uma simples
advertência à aplicação de multas, interdição de atividades e, inclusive, a suspensão provisória
do trabalho realizado (DALL’AGNOL, 2005).

Fiorillo (2009) acrescenta além das sanções citadas anteriormente a apreensão de bens,
destruição ou mesmo inutilização de produtos, suspensão de venda e fabricação de produtos,
embargo ou mesmo demolição de obras, embargo ou mesmo suspensão parcial ou total de
atividades e ainda restritiva de direitos.

Os valores arrecadados provenientes de multas por infração ambiental podem ser


revertidos para o Fundo Nacional do Meio Ambiente, Fundo Naval, fundos estaduais e
municipais visando resguardar a tutela jurídica dos bens essenciais à sadia qualidade de vida
(FIORILLO, 2009, p. 71).

2.2 Responsabilidade criminal

A responsabilização penal visa tutelar o bem jurídico do meio ambiente


ecologicamente equilibrado, abrangendo os eixos natural, artificial e cultural. Os crimes
ambientais se encontram prioritariamente na Lei nº 9.605/98, no Código Penal e Florestal, na
Lei de Contravenções Penais e nas Leis nº 6.453/77 e nº 7.643/87 (LEMGRUBER, 2013).

De acordo com Fiorillo (2009) a penalização da pessoa jurídica foi um dos avanços
trazidos pela Constituição Federal de 1988, visto que foi constatado que as grandes
degradações ambientais não ocorriam por conta de atividades singulares, desenvolvidas por
pessoas físicas, e sim de forma cooperativa. O autor salienta que a responsabilidade penal da
pessoa jurídica não é aceita de maneira pacífica, pois pondera-se que não há como haver um
crime sem a intervenção humana.

Canotilho e Leite (2008) relatam as dificuldades de admissão da possibilidade de


imputação penal de pessoas jurídicas nos tribunais superiores, e citam as palavras do Ministro
Relator Senhor Gilson Dipp, no julgamento de um recurso especial de Santa Catarina, no ano
30

de 2005, que marca o reconhecimento nos tribunais superiores da plena eficácia da norma
constitucional:

[...] Não obstante alguns obstáculos a serem superados, a responsabilização penal da


pessoa jurídica é um preceito constitucional, posteriormente estabelecido, de forma
evidente, na Lei ambiental, de modo que não pode ser ignorado. Dificuldades
teóricas para sua implementação existem, mas não podem configurar obstáculos para
sua aplicabilidade prática, na medida em que o direito é uma ciência dinâmica, cujas
adaptações serão realizadas com o fim de dar sustentação à opção política do
legislador (DIPP apud CANOTILHO; LEITE, 2008, p. 405).

Essa responsabilização é oriunda do cometimento de crime ou contravenção, ao que o


infrator ficará sujeito à pena de perda da liberdade ou pena pecuniária (SILVA, 2002, p. 304).

O Direito Penal age como recurso necessário da defesa social, visando à garantia da
existência pacífica entre os membros da coletividade e como instrumento de uma política que
atenda aos anseios sociais sem descurar das necessidades básicas da população
(DALL’AGNOL, 2005).

Diniz (2009, p. 23) refere o seguinte a respeito da responsabilidade penal:

[...] Pressupõe uma turbação social, ou seja, uma lesão aos deveres dos cidadãos
para com a ordem com a sociedade, acarretando um dano social determinado pela
violação da norma penal, exigindo para restabelecer o equilíbrio social investigação
da culpabilidade do agente ou o estabelecimento da antissociabilidade do seu
procedimento, acarretando a submissão pessoal do agente à pena que lhe for imposta
pelo órgão judicante, tendendo, portanto, à punição, isto é, ao cumprimento de pena
estabelecida na lei penal.

Em se tratando de matéria criminal, devido ao bem jurídico indisponível que a lei


penal tutela/resguarda, a responsabilidade figura-se como subjetiva, personalíssima, devendo
atender aos ditames gerais da teoria do delito, sendo o sujeito condenado apenas diante de
uma conduta que, além de violar ou contribuir para a violação de um bem jurídico tutelado na
esfera penal, tenha sua culpabilidade apurada (DALL’AGNOL, 2005).

Sobre a responsabilidade subjetiva, Fiorillo (2009, p. 43) traz o seguinte:


31

[...] Vai aos poucos tornando-se regra necessária apenas no campo penal, à medida
que é exceção na esfera cível. Isso porque a tendência mundial é a de efetivamente
buscar a justiça, o que implica ver a reparação do dano apenas pelos olhos da vítima.

Descreve Fiorillo (2009, p. 72) sobre a distinção entre o ilícito civil e ilícito penal:

[...] Tendo em vista a falta de instrumentos compatíveis com a finalidade de sanção


penal, tem o Estado procurado intervir apenas em situações que envolvam, em regra,
ofensas de maior vulto à segurança de toda coletividade. Sendo a sanção civil eficaz
para a proteção da ordem legal, se torna desnecessária a aplicação de sanção penal.
A distinção está atrelada essencialmente aos valores atribuídos a determinadas
condutas, em vista das circunstâncias da época, da potencialidade do dano objetivo e
do alarde social.

No que tange a responsabilidade criminal assim refere:

[...] É a obrigação que alguém tem de arcar com as consequências jurídicas do


crime. É o dever que tem a pessoa de prestar contas de seu ato. Ela depende da
imputabilidade do indivíduo, pois não pode sofrer as consequências do fato
criminoso (ser responsabilizado) senão o que tem a consciência de sua
antijuridicidade e quer executá-lo (ser imputável) (NORONHA apud
DALL’AGNOL, 2005, s.p.).

Ao tentar diferenciar a responsabilidades civil e criminal Diniz (2009, p. 24) assim


escreve:

[...] Na responsabilidade penal, o lesante deverá suportar a respectiva repressão, pois


o direito penal vê, sobretudo, o criminoso; na cível, ficará com a obrigação de
recompor a posição do lesado, indenizando-lhe os danos causados, daí tender apenas
à reparação, por vir principalmente em socorro da vítima e de seu interesse,
restaurando seu direito violado.

Assim, após a análise da responsabilidade administrativa e da responsabilidade


criminal, é de se fazer comentários acerca de responsabilidade civil, já que diretamente ligada
ao tema proposto no trabalho.

2.3 Responsabilidade civil


32

Instituída pelo artigo 14, §1º, da Lei nº 6.938/81, a responsabilidade civil tem a função
de reparar o dano ambiental autônomo, protegendo a qualidade dos ecossistemas,
independentemente de qualquer utilidade humana direta e de regimes de apropriação públicos
e privados, e possui uma função social que ultrapassa as finalidades punitiva, preventiva e
reparatória (STEIGLEDER, 2004, p. 177).

Nas palavras de Silva (2002, p. 313) a responsabilidade civil é “a que impõe ao


infrator a obrigação de ressarcir o prejuízo causado por sua conduta ou atividade”.

Diniz (2009, p. 34) define a responsabilidade civil da seguinte forma:

[...] A aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou


patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por
quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda ou, ainda, de
simples imposição legal.

Conforme Dall’Agnol (2005):

É a que se apura para que se possa exigir a reparação civil, uma forma de sanção
imposta ao agente ou responsável pelo ato ilícito. O Código Civil Brasileiro impõe
àquele que, por ação ou omissão, lesar direito de outrem, fica-lhe obrigado a reparar
o dano.

A responsabilidade civil pelos danos causados ao meio ambiente é do tipo objetiva, em


decorrência da obrigação de reparar os danos causados ao meio ambiente, sem ser exigido
qualquer elemento subjetivo para a configuração de responsabilidade civil (artigo 225, §3º).
Além disso, a responsabilidade civil é solidária, conforme aplicação do artigo 3º, da Carta
Magna (FIORILLO, 2009, p. 62).

Ferreira (apud STEIGLEDER, 2004, p. 178) salienta que:

A ideia que norteia a responsabilidade civil é a preocupação de evitar a


subexistência de um prejuízo injusto, impondo uma deslocação patrimonial do
lesante para o lesado. [...] Trata-se, portanto, de uma obrigação que nasce da lei e
33

não da vontade das partes, ainda que o responsável tenha desejado causar o prejuízo,
e sua principal função é reparadora.

Nesse sentido, Canotilho e Leite (2008, p. 188):

Verificam que o sistema de responsabilidade civil tem uma vocação preventiva, pois
além de trazer segurança jurídica, pela certeza da imputação, e fazer com que o
eventual poluidor evite o dano, contribuirá para a conscientização da preservação.

Entretanto, de acordo com Gutiérrez (apud STEIGLEDER, 2004) a responsabilidade


civil da época moderna, tecnológica, deve desempenhar funções no âmbito de ser instrumento
da regulação social, prevenindo comportamentos antissociais que impliquem em riscos,
tornando-se otimizadora da justiça social e da garantia dos direitos dos cidadãos; e no âmbito
da indenização da vítima, onde a responsabilidade deve objetivar a superação da desigualdade
entre a vítima, e o produtor do dano, diante da fragilidade e da impotência da vítima frente às
fontes modernas de danos tecnológicos, como danos nucleares e ambientais.

Para sua caracterização, é necessária a presença de alguns pressupostos, tais como uma
ação, comissiva ou omissiva, a ocorrência de um dano moral e/ou patrimonial e nexo de
causalidade entre o dano e a ação, já que a responsabilidade não poderá ocorrer sem o vínculo
entre a ação e o dano (DINIZ, 2009, p. 38).

A responsabilidade civil se fundamenta no interesse em restabelecer o equilíbrio


jurídico alterado ou desfeito pela lesão, com o fim de que a vítima possa pedir a reparação do
prejuízo ocorrido, com consequente retorno ao status quo ante ou sua conversão em
indenização equivalente (DINIZ, 2009, p. 23).

A responsabilidade civil no contexto contemporâneo tem o desafio de superar as


contradições da sociedade moderna, tornando-se um instrumento de desenvolvimento
sustentável, e tem a função de discutir a relação de apropriação dos recursos naturais,
mediante o reconhecimento da reparabilidade do valor intrínseco da Natureza, ampliando a
noção de dano. Dessa forma busca-se reparar a qualidade inerente dos elementos naturais,
indispensáveis ao equilíbrio ecológico do planeta, e à sobrevivência das futuras gerações,
humanas e não humanas (STEIGLEDER, 2004, p. 187).
34

De outro lado, encontra-se, na doutrina e na jurisprudência, dois tipos de


responsabilidade civil, a subjetiva e a objetiva, as quais possuem regras e pressupostos de
concretização específicos, conforme adiante se vê.

2.3.1 Responsabilidade civil subjetiva

A responsabilidade civil subjetiva encontra sua justificativa na culpa ou dolo por ação
ou omissão lesiva a determinada pessoa, sendo a prova de culpa necessária para que surja o
dever de reparar (DINIZ, 2009, p. 130).

Shallkytton (2010) sobre responsabilidade subjetiva traz o seguinte pensamento:

[...] É aquela que tem por base a culpa do agente, que deve ser comprovada pela
vítima para que surja o dever de indenizar. Segundo esta teoria, não se pode
responsabilizar alguém pelo dano ocorrido se não houver culpa. Não basta apenas
que haja o comportamento humano causador de dano ou prejuízo.
Segundo Luiz Júnior (2005) a teoria subjetiva traz esta observação:

[...] Tem na culpa seu fundamento basilar, só existindo a culpa se dela resulta um
prejuízo. Todavia, esta teoria não responsabiliza aquela pessoa que se portou de
maneira irrepreensível, distante de qualquer censura, mesmo que tenha causado um
dano. Aqui, argui-se a responsabilidade do autor quando existe culpa, dano e nexo
causal.

Na responsabilidade civil subjetiva, para que possa ocorrer à responsabilização pelo


ato praticado pelo agente é necessária à apuração de culpa, ou seja, tem que haver dolo ou
culpa, e também nexo de causalidade entre o dano e a ação do mesmo.

Considerando que a responsabilidade civil aplicada aos sujeitos que cometam danos ao
meio ambiente é considerada objetiva, ou seja, sem a necessidade de demonstração da
intenção deliberada do degradador de cometer o dano, faz-se necessária, neste momento, a
análise desse tipo de responsabilidade.

2.3.2 Responsabilidade civil objetiva


35

A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, a qual instituiu a Política Nacional do Meio


Ambiente, foi o grande marco legislativo em matéria ambiental na década de 80, instituindo
essa espécie de responsabilidade civil em matéria ambiental em seu artigo 14º, parágrafo 1º
(DALL’AGNOL, 2005).

Anteriormente aplicava-se a responsabilidade civil subjetiva por danos ambientais,


fundada no artigo 159 do Código Civil de 1916, pelo que era necessário demonstrar a ilicitude
ou atividade. Ainda, caso vislumbrava-se a ocorrência de mau uso da propriedade com a
produção de danos anormais, podia-se invocar a proteção dos direitos de vizinhança
(STEIGLEDER, 2004, p. 152).

Essa responsabilidade se funda no risco, no fato de o agente ter causado um prejuízo à


vítima ou a seus bens, sendo irrelevante o fato de se estar diante de uma conduta dolosa ou
culposa, uma vez que, para sua ocorrência, bastará a existência do nexo causal entre o
prejuízo e a ação do agente para que surja o dever de indenizar (DINIZ, 2009, p. 130).

Tem como pressuposto a existência de uma atividade que implique riscos para a saúde
e para o meio ambiente, impondo-se ao empreendedor a obrigação de prevenir tais riscos
(princípio da prevenção1) e de internizá-los em seu processo produtivo (princípio do poluidor-
pagador2) (STEIGLEDER, 2004, p. 196).

Esse tipo de responsabilidade civil teve por principal razão de surgimento a Revolução
Industrial, uma vez que, após essa ocorrência, houve exacerbado aumento do número de
acidentes, com consequente dificuldade de reparação devido à necessidade de demonstração
do trinômio dano, culpa e nexo de causalidade (FIORILLO, 2009, p. 42).

Ela veio a lume em virtude da insatisfação evidenciada com a teoria subjetiva, que era
incompatível com o impulso desenvolvimentista de nosso tempo, buscando técnicas hábeis

1
Por este princípio procura-se evitar que o dano ambiental ocorra, através de mecanismos extrajudiciais e
judiciais. É, portanto, a atuação antecipada para evitar danos, que, em regra, são irreversíveis.

2
Por este princípio o poluidor deve responder pelo prejuízo que causa ao meio ambiente. E a sua
responsabilização se dá em forma de pagamento que, por sua vez, pode consistir em uma prestação em dinheiro
mesmo, ou em atos do poluidor.
36

para o desempenho de uma mais ampla cobertura para a reparação dos danos ambientais,
surgindo, assim, a teoria objetiva (FIORILLO, 2009, p. 43).

Luiz Júnior (2005) diferencia dois tipos de responsabilidade civil objetiva, a pura e a
impura. Para o autor, a reponsabilidade civil objetiva pura é aquela que resulta de ato lícito ou
de fato jurídico, assim:

[...] Que resulta de ato lícito ou de fato jurídico, como alguém que age licitamente e,
mesmo assim, deve indenizar o prejuízo decorrente de sua ação. Neste caso, a lei
deve dizer, expressamente, que o indenizador deve indenizar independentemente de
culpa, como nos danos ambientais (art. 14, §1º, da Lei nº 6.938/81), nos danos
nucleares (art. 40, da Lei nº 6.453/77) e em algumas hipóteses do Código do
Consumidor.

A impura, por sua vez, é conceituada por Luiz Júnior (2005) como sendo a que:

Existe quando alguém indeniza, por culpa de outrem, como no caso do empregador
que, mesmo não tendo culpa, responde pelo ato ilícito de seu empregado (art. 1521,
III, do Código Civil, e Súmula 341 do Supremo Tribunal Federal).

Ainda segundo Fiorillo (2009, p. 44), sobre a Lei da Política Nacional do Meio
Ambiente, cita-se o seguinte:

[...] Anteriormente à Constituição Federal de 1988, a Lei da Política Nacional do


Meio Ambiente (Lei nº 6.938/81) já previa a responsabilidade objetiva do poluidor
em seu art. 14, §1º. Com a promulgação da Lei Maior, tal norma infraconstitucional
foi recepcionada, tendo como fundamento de validade o art. 225, §3º, porquanto este
não estabeleceu qualquer critério ou elemento vinculado à culpa como determinante
para o dever de reparar o dano causado ao meio ambiente. Consagrou-se, portanto, a
responsabilidade objetiva em relação aos danos ambientais.

Esse é o entendimento compartilhado por Dall’Agnol (2005):

[...] A própria Constituição Federal de 1988 incorporou a responsabilidade objetiva


ambiental proclamada pela legislação ordinária ao mencionar no parágrafo 3º do seu
artigo 225 que as condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente
sujeitarão os degradadores a reparar os danos causados, não fazendo qualquer
menção da existência de culpa na atuação do agente degradador.

Essa responsabilidade tem como fundamento o princípio da equidade, oriundo do


Direito Romano, o qual prevê que aquele que lucra com uma atividade deve responder pelo
37

risco ou pelas desvantagens dela resultantes, assumindo o agente, assim, todos os riscos, com
consequente fim da prática inadmissível da socialização do prejuízo e privatização do lucro
(DALL’AGNOL, 2005).

A responsabilidade pelo risco tem uma incidência ampla, pois se aplica tanto aos
danos gerados por atividades perigosas como àqueles desencadeados por atividades
profissionais quaisquer, pois parte da premissa de que quem exerce uma atividade econômica
deve arcar com todos os custos, incluindo os de prevenção e reparação a danos ambientais
(STEIGLEDER, 2004, p. 201).

Ela identifica-se entre os juristas nacionais e internacionais como sendo uma tendência
manifesta pela adoção da responsabilidade objetiva fundada na teoria do risco integral, que a
invocam com fundamento nos princípios do Direito Ambiental, argumentando no sentido de
que não deve haver margens de tolerância, dada a natureza metaindividual dos interesses em
jogo e sua tutela constitucional, apresentando maior grau de efetividade nos mecanismos de
proteção do meio ambiente (MONTENEGRO, 2005, p. 116).

Quanto à adoção da teoria do risco integral na seara ambiental, relata Steigleder (2004,
p. 199):

[...] Não é, todavia pacífica, sendo contraposta pela teoria do risco criado, cujo
diferencial mais evidente é a admissibilidade das excludentes de responsabilidade
civil-culpa exclusiva da vítima, fatos de terceiros e força maior – posto que tais fatos
têm o condão de romper o curso causal, constituindo por si mesmos, as causas
adequadas do evento lesivo. Essa teoria, alinhada com a teoria da causalidade
adequada tem no elemento perigo a sua noção central.

Assim sendo, uma vez constatada qualquer lesão ao meio ambiente natural, torna-se
indispensável que se estabeleça uma relação de causa e efeito entre o comportamento do
agente e o dano ocorrido, sendo que, no entanto, não é indispensável que seja evidenciada a
prática de um ilícito, bastando à demonstração da existência do dano para o qual exercício de
uma atividade perigosa exerceu influência causal decisiva (LUIZ JÚNIOR, 2005).
38

Finalizado o estudo das responsabilidades pertinentes aos crimes ambientais, vou


abordar alguns meios de defesa que o direito ambiental disponibiliza quando ocorre o dano ao
meio ambiente.
39

3 INSTRUMENTOS JURISDICIONAIS DE PROTEÇÃO DO MEIO AMBIENTE

Diante da ameaça ou da efetivação de um dano ambiental o Direito Processual


Ambiental oferecerá mecanismos de tutela, para a efetiva proteção do meio ambiente. Os
instrumentos processuais de proteção ambiental estão divididos nesse trabalho em duas
esferas jurisdicionais, a de natureza civil e natureza penal. Não será realizada a análise do
processo administrativo punitivo em função de infrações administrativo-ambientais. Os
instrumentos de natureza civil a serem abordados nesse trabalho, serão a Ação Civil Pública e
Ação Popular, e na esfera penal analisaremos a Ação Penal Pública. Mas existem outras ações
que podem ser utilizadas em defesa do meio ambiente como a Tutela Inibitória e
Assecuratória, Mandado de Segurança Individual; Mandado de Segurança Coletivo; Mandado
de Injunção; Ação Direta de Inconstitucionalidade, Ação Declaratória de Constitucionalidade,
além de medidas alternativas ao processo penal em razão de crimes ambientais.

3.1 Da ação civil pública

A Lei nº 6.938/81, ao definir a Política Nacional do Meio Ambiente e conceder


legitimação ao Ministério Público para a ação de responsabilidade civil contra o poluidor por
danos causados ao meio ambiente, estabeleceu em nosso país, uma hipótese de Ação Civil
Pública Ambiental (MILARÉ, 2011).

A Ação Civil Pública é o instrumento processual para a defesa dos interesses


metaindividuais relativos ao meio ambiente, bens e direitos de valor histórico,
turístico, artístico, estético, paisagístico, mais recentemente, também dos interesses
de deficientes físicos, investidores do mercado de capitais e direitos fundamentais
das crianças e dos adolescentes; ou seja, a Ação Civil Pública ampara aos que
interessam, não exclusivamente a um indivíduo, mas a toda a coletividade, esses
interesses meta ou transindividuais desdobram-se em direitos difuso, coletivo e
individuais homogêneos (MOTA; BARBOSA; MOTA, 2011).

Esta ação é considerada um importante instrumento de tutela do meio ambiente,


embora não seja um instituto que integre o Direito Ambiental. Foi regulamentada pela Lei nº
7.347/85 e amparada pelo artigo 129, inciso III da Constituição Federal de 1988, e tem a
finalidade de reger as ações de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao
40

consumidor e a bens e direitos de valor artístico, histórico, turístico e paisagístico


(SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO, 2007).

Com a entrada em vigor da Lei nº 8.078/90, que instituiu o Código de Defesa do


Consumidor, a lei de Ação Civil Pública teve seu alcance ampliado, como afirma Fiorillo
(2009, p. 473):

Com o advento do Código de Defesa do Consumidor, o campo de incidência da Lei


da Ação Civil Pública foi profundamente aumentado, através de dispositivos que
possibilitaram a defesa de outros interesses difusos (art. 110 do CDC), bem como
dos interesses individuais homogêneos (arts. 91 a 100 do CDC). Além disso, houve
por bem aclarar, no seu art. 6º, a possibilidade de cumulação da indenização por
danos morais e patrimoniais aos bens por essa lei protegidos.

Hoje, convivem dois sistemas de tutela processual em sede de jurisdição civil: um


destinado às lides individuais e outro destinado à tutela coletiva. Os conflitos individuais são
solucionados pelas regras do Código de Processo Civil, e as ações coletivas que tutelam sobre
o meio ambiente devem ser orientadas primeiramente pela Lei nº 7.347/85, e pelos demais
diplomas processuais (CANOTILHO; LEITE, 2008, p. 324).

Nas ações coletivas ambientais, promovidas com fundamento na lei de Ação Pública
Civil e no Código de Defesa do Consumidor, aplicam-se no que lhes couber suas regras
procedimentais e, em caso de lacunas dessas leis, pregam-se as regras do Código de Processo
Civil, conforme determinação do artigo 90 do Código de Defesa do Consumidor
(SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO, 2007, p. 188).

Segundo Canotilho e Leite (2008) os interesses difusos são de cunho transindividual,


de natureza indivisível, em que os titulares são pessoas indeterminadas ligadas por uma
circunstância de fato, enquanto os interesses coletivos embora também apresentem as
características de transindividualidade e indivisibilidade, tem a possibilidade de determinação
de seus titulares. A Lei nº 8.078/90 define os interesses individuais homogêneos como
decorrentes de “origem comum”, onde os titulares são pessoas individualizadas, determinadas
ou determináveis, expostas a uma mesma circunstância de fato, que podem ajuizar ações de
forma coletiva, para evitar a repetição de ações idênticas.
41

Por derradeiro, importante destacar, concordando com o Prof. Nelson Nery Júnior,
que é o tipo de tutela jurisdicional pleiteada que determina se um direito é difuso,
coletivo ou individual homogêneo. A reparação de um dano a um bem ambiental
será sempre difusa, dadas a indivisibilidade do seu objeto e a indeterminabilidade
dos seus titulares. Por outro lado, o fato de alguém pleitear individualmente a
reparação de um dano oriundo de poluição atmosférica, na verdade, configurará a
reclamação de pedido individual, não existindo a tutela do bem ambiental,
porquanto este constitui a causa de pedir remota da ação e não o seu objeto mediato.
Assim, se a tutela jurisdicional pretendida é a reparação de um dano ao meio
ambiente, então teremos proteção de um bem de natureza metaindividual
(FIORILLO, 2009, p. 475).

A Ação Civil Pública pode ter como objeto imediato a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, podendo haver condenação cumulativa de
forma que atenda ao princípio de reparação integral do dano. Nos casos de condenação
cumulativa, o juiz deve determinar que seja cumprida a prestação da atividade devida ou
cessada a atividade nociva, sob pena de execução específica ou multa diária. Nos casos de
condenação em dinheiro, a indenização será revertida ao Fundo de Defesa dos Direitos
Difusos (CANOTILHO; LEITE, 2008).

Sobre a interpretação do artigo 3º da Lei nº 7.347/85, que diz respeito ao pagamento


em dinheiro ou às obrigações de fazer e não fazer, Milaré (2011, p. 1417) leciona sobre o mau
emprego da disjuntiva ou:

Anote-se que, malgrado, o emprego da disjuntiva ou no texto do art. 3º, a sugerir


pedidos alternativos, nada obsta, diante do caso concreto, pleiteie o autor o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer cumulado com o pedido
indenizatório.

Sobre a legitimação ativa para propor a Ação Civil Pública, de acordo com Canotilho
e Leite (2008, p. 328):

Poderão ingressar com a Ação Civil Pública, o Ministério Público, a União, os


Estados, os Municípios e o Distrito Federal, as autarquias, as empresas públicas, as
fundações e as sociedades de economia mista, assim como as associações que
estejam constituídas há pelo menos um ano e incluam, entre as suas finalidades, a
proteção do meio ambiente.

Ainda sobre a legitimação ativa, Milaré (2011, p. 1419) assim refere:


42

Essa legitimação é concorrente e disjuntiva, no sentido de que todos estão


autorizados para a promoção da demanda e cada um pode agir isoladamente sem que
seja necessária a anuência ou autorização dos demais.
O Ministério Público tem a legitimidade ativa ad causam não exclusiva, mas
concorrente aos entes estatais e paraestatais, e nos casos que ele não seja parte integrante do
processo, deverá agir como fiscal da lei. Os autores esclarecem que o Ministério Público não
tem a função de criar uma consciência ambiental nas comunidades, ele apenas faz uso de suas
atribuições constitucionais para garantir a proteção dos direitos difusos e coletivos
concernentes à qualidade de vida e saúde da população (SCHONARDIE; PILAU
SOBRINHO, 2007, p. 189).

A Lei nº 11.448/2007 acrescentou ao rol dos legitimados a Defensoria Pública, que


passou a ter legitimidade para a propositura de Ação Civil Pública, desde que tal demanda
tenha por objeto a defesa dos necessitados, não cabendo, portanto à Defensoria a propositura
de Ação Pública com o objeto de tutelar o meio ambiente em si (MILARÉ, 2011).

O foro competente vem a ser a circunscrição territorial judiciária em que a causa deve
ser processada, no local onde ocorreu o dano, cujo juízo terá também competência funcional
para processar e julgar a causa (MILARÉ, 2011, p. 1432).

O inquérito civil é atribuição exclusiva do Ministério Público e tem como função


coletar material de suporte e provas para o ajuizamento da Ação Civil Pública. É uma peça
dispensável, pois de acordo com a convicção do promotor de justiça pode ser arquivada ou
ajuizada. Também caso o Ministério Público verifique no inquérito civil materiais indicativos
de crime, poderá promover simultaneamente Ação Civil Pública e Ação Penal Pública
(FIORILLO, 2009).

De acordo com Canotilho e Leite (2008) a instauração do inquérito civil público pelo
Ministério Público e o seu arquivamento não são fatores que impeçam que os demais
legitimados, como a União, os Estados, Municípios, Distrito Federal, autarquias, empresas
públicas, fundações e associações também possam ajuizar Ação Civil Pública considerando o
mesmo fato e visando à proteção do meio ambiente.
43

Por ocasião do inquérito civil, poderá ser firmado compromisso de ajustamento de


conduta, conforme preleciona o §6º do artigo 5º da Lei nº 7.347/85, que se mostra como um
instrumento de satisfação da tutela dos direitos coletivos, à medida que evita o ingresso em
juízo (FIORILLO, 2009, p. 477).
[...] §6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Sobre o compromisso de ajustamento de conduta, referem-se Canotilho e Leite (2008,


p. 329):

O compromisso de ajustamento de conduta corresponde, na verdade, a uma solução


extrajudicial de conflito, evitando assim, a propositura da Ação Civil Pública. [...]
Caso o termo firmado não abranja todos os elementos de interesse protegido,
remanescerá a possibilidade de ajuizar Ação Civil Pública.

Segundo Milaré (2011, p. 1448) a transação ou compromisso de ajustamento de


conduta pode não só evitar a propositura de Ação Civil Pública, como também por fim na
ação em andamento. Sobre esse tema Milaré (2011, p. 1450) relata:

Parte da doutrina tem entendido indispensável à medida, por razão até maior do que
a defendida para as hipóteses de arquivamento do inquérito civil e desistência da
ação. É que, nestes casos, sempre será possível a reabertura do procedimento ou a
repropositura de nova demanda, em havendo provas novas, pois a sentença que
homologa a desistência extingue o processo sem resolução do mérito. Na transação
judicial não, uma vez que esta induz a extinção do processo com resolução do
mérito.

A Lei nº 7.347/85 determina que sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos
limites da competência territorial do órgão prolator, exceto os casos que forem julgados
improcedentes por falta de provas. Na Lei nº 8.078/90 cada modalidade de interesse
metaindividual gera um tipo de efeito, os interesses difusos tem efeitos erga omnes, os
direitos coletivos em sentido estrito geram efeitos ultra partes, e em ambos é possível ajuizar
nova ação caso a demanda seja julgada improcedente por insuficiência ou falta de provas. Os
direitos individuais homogêneos têm efeitos erga omnes apenas nos casos em que a demanda
for julgada procedente (CANOTILHO; LEITE, 2008).
44

3.2 Da ação popular

Segundo Fiorillo (2009, p. 480) sobre a origem da Ação Popular, assim leciona:

A Ação Popular é um dos remédios jurisdicionais mais antigos e, mesmo com


marchas e contramarchas da história, podemos dizer que foi pioneiro na defesa dos
direitos coletivos lato sensu. [...] É característica nos regimes democráticos, e tem-se
notícia de sua existência no direito romano. [...] O direito defendido pela Ação
Popular era aquele que não correspondia ao indivíduo enquanto particular, mas sim
como membro da comunidade. Com isso nota-se que a Ação Popular em sua gênese
já se adaptava à proteção do meio ambiente.

A Ação Popular encontra-se expressa no artigo 5º, LXXIII, da Constituição Federal de


1988.

[...] LXXIII – Qualquer cidadão é parte legítima para propor Ação Popular que vise
anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade que o Estado participe, à
moralidade administrativa, ao meio ambiente, ao patrimônio histórico e cultural,
ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas e de ônus de
sucumbência.

A Ação Popular é um dos meios mais clássicos de defesa dos interesses difusos do
direito brasileiro, prestando-se à defesa de bens de natureza pública (patrimônio público) e
difusa (meio ambiente) o que provoca a adoção de procedimentos distintos (SCHONARDIE;
PILAU SOBRINHO, 2007).

Desta forma, quando tratar-se da defesa do meio ambiente, o procedimento a ser


seguido deverá ser o previsto na Lei da Ação Civil Pública e no Código de Defesa do
Consumidor que formam a base da jurisdição civil coletiva. Tratando-se de bem de natureza
pública, e sendo o ambiente abrangido entre os atos lesivos da administração pública, deverá
ser usado o procedimento previsto na Lei nº 4.717/65 (SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO,
2007).

Esta ação “é um instituto jurídico constitucional a ser exercido pelo cidadão e não por
associações ou pessoas jurídicas ou, ainda, pelo Ministério Público” (SCHONARDIE apud
ANTUNES, 2002, p. 190). Possui legitimidade ativa prevista no artigo 1º, §3º da Lei nº
45

4.717/65, isto é, qualquer cidadão que esteja gozando de seus direitos políticos poderá
interpor Ação Popular. Todavia o presente artigo determina que seja feita a prova da
cidadania por meio de título eleitoral ou outro documento equivalente a ele (SCHONARDIE;
PILAU SOBRINHO, 2007). No entanto, segundo Schonardie e Pilau Sobrinho (2007, p. 191)
“para fins de proteção de direito de natureza difusa como é o meio ambiente, tal dispositivo é
completamente descabido, pois estaria restringindo o conceito de cidadão à ideia política
impedindo de modo geral o livre acesso de brasileiros e de estrangeiros residentes no país”.

Segundo os ensinamentos de Fiorillo (2009, p. 483):

Esse conceito de cidadão só pode continuar servindo para os casos em que a ação
seja utilizada para proteger coisa pública (res nullius), uma vez que, nessas situações
é perfeitamente compreensível a relação entre o conceito de cidadão e a utilização
desse remédio constitucional.

Alegre (apud FIORILLO, 2009) conclui ainda, que a palavra cidadão, na linguagem
constitucional, não é sempre equivalente perfeito de eleitor, não existe relação necessária
entre cidadão e eleitor, porquanto, se houvesse, as Comissões da Câmara e do Senado, ou as
do Congresso Nacional, só poderiam solicitar depoimentos de autoridades e eleitores.
Insistindo na ideia de equivalência, somente o partido político, o sindicato, a associação ou o
eleitor poderiam representar ao Tribunal de contas contra ilegalidades, enquanto que qualquer
pessoa poderia dirigir às comissões parlamentares.

Desse modo, sendo todos os bens ambientais, nada mais coerentes que não só o eleitor
quite com a justiça eleitoral, mas todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país possam
ser considerados cidadãos para fins de propositura da Ação Popular Ambiental. Essa
interpretação está amparada nos dispositivos constitucionais do artigo 5º, caput, e LXXIII e
225, caput, da Constituição Federal de 1988 (SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO, 2007).

Podemos destacar que esta demanda, possuí como objeto imediato, a anulação do ato
lesivo ao meio ambiente e a condenação dos culpados pelo ato, inclusive o pagamento de
perdas e danos, alternativa ou cumulativamente, a retornar a situação ao statu quo ante, isto é
recuperar o meio ambiente degradado, retornando o mesmo ao seu estado anterior
(SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO, 2007).
46

A Ação Popular Ambiental ora estudada, tem como pressuposto de cabimento um ato
lesivo ao meio ambiente, não tendo como finalidade única a fiscalização da conduta dos atos
da administração, isso porque tendo o meio ambiente como seu objeto, transfere ao Poder
Público o dever de protegê-lo e preservá-lo, por conta do disposto no artigo 255, caput, da
Constituição Federal (FIORILLO, 2009).

Ainda segundo Fiorillo (2009, p. 486):

Poderá figurar no polo passivo qualquer pessoa responsável pelo ato lesivo ao meio
ambiente, de acordo com o conceito de poluidor estabelecido pela Política Nacional
do Meio Ambiente, além de inexistir vedação constitucional no tocante à questão.

Mota, Barbosa e Mota (2011) ao se referirem sobre a diferença entre a Ação Popular e
Ação Civil Pública:

[...] A distinção inicial entre as duas está na legitimidade para o ajuizamento: do


cidadão na Ação Popular; e dos entes indicados em lei, na Ação Civil Pública. O
objeto de ambas também se difere, pois a Ação Civil Pública presta-se à defesa de
todas as formas de interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. Por sua
vez, o objeto da Ação Popular é muito mais restrito: a defesa dos interesses difusos
ligados à moralidade, eficiência e probidade administrativa, além da tutela do meio
ambiente e do patrimônio histórico e cultural (art. 5º, LXXIII, da Constituição
Federal).

Como os autores acima explicam, umas das principais diferenças está na legitimidade,
que na ação popular é muito mais ampla, visto que qualquer cidadão poderá propor. Agora
será estudada a ação penal.

3.3 Da ação penal

A tutela processual penal do ambiente está disciplinada pela Lei nº 9.605/98, que num
primeiro momento especifica as condutas consideradas danosas ao meio ambiente, e num
segundo, regulamenta a Ação Penal e o procedimento penal a ser observado, na hipótese de
ocorrer crimes ambientais (SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO, 2007).

Nos crimes ambientais, a Ação Penal sempre será pública incondicionada, de


iniciativa exclusiva do Ministério Público, porque o bem jurídico dominante é o interesse
47

público, uma vez que está em jogo a tutela do meio ambiente, tido como um patrimônio
público a ser necessariamente assegurado, tendo em vista o uso coletivo (MILARÉ, 2011).

O autor ainda ressalta que a Constituição Federal, ao atribuir exclusivamente ao


Ministério Público a iniciativa e propositura da Ação Penal Pública, tornou os artigos 33 da
Lei nº 4.771/1965 (Código Florestal) e 32 da Lei nº 5.197/1967 (Proteção à Fauna), sem
efeito, e por isso, inconstitucionais, pois estes permitiam também a presente iniciativa às
autoridades policias e até administrativas (MILARÉ, 2011).

Aplica-se aos crimes ambientais conforme artigo 27 da Lei nº 9.605/98, os


dispositivos dos artigos 76 e 89 da Lei nº 9.099/95 (Juizados Especiais Criminais). Portanto,
aplica-se a transação penal, sem a formalização de denúncia por crime ambiental aos crimes
de menor potencial ofensivo, que consiste na proposta de aplicação imediata da pena restritiva
de direitos e multas, desde que tenha existido a anterior formação do dano ambiental.
Contudo, ainda existe a possibilidade da suspensão condicional do processo, quando depois
do oferecimento da denúncia pelo Ministério Público, e o recebimento desta pelo juiz, tenha
acontecido prévia reparação do ambiente e dos bens ambientais, sempre que possível,
provando o reparo por meio do laudo de constatação de reparação do dano ambiental
(SCHONARDIE; PILAU SOBRINHO, 2007).

Ainda segundo Schonardie e Pilau Sobrinho (2007, p. 195) sobre a suspensão


condicional do processo:

[...] O artigo 28 da Lei nº 9.605/98 introduziu modificações no artigo 89 da Lei nº


9.099/95. Assim, a possibilidade de suspensão condicional do processo, no caso de
crimes ambientais de menor potencial ofensivo, deve observar: I – a declaração de
extinção de punibilidade de que trata o §5º, do artigo 89 da Lei nº 9.099/95
dependerá de laudo de constatação de reparação do dano ambiental [...] II – Na
hipótese de o laudo de constatação comprovar não ter sido completa a reparação, o
prazo de suspensão do processo será prorrogado, até o período máximo previsto no
artigo 89, acrescido de 1 (um) ano, com suspensão do prazo prescricional; III – Que
no período de prorrogação não se aplicam as condições dos incisos II, III e IV do §1º
do artigo 89 [...] IV – Findo o prazo de prorrogação realizar-se novo laudo de
constatação de reparação de dano ambiental, podendo ser prorrogado nos termos do
inciso II; V – A declaração da extinção de punibilidade dependerá de laudo de
constatação que comprove que o acusado tomou as providências necessárias à
reparação do dano.
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Quanto à competência, segue os ensinamentos de Milaré (2011, p. 1490):

O regime de competência, seja de foro ou de jurisdição, não apresenta qualquer


diferença em relação às pessoas físicas ou jurídicas, salvo nos casos de competência
funcional por prerrogativa de função.

O perímetro territorial em que a Ação Penal deve ser processada é fixado, em regra,
pelo lugar em que se consumou a transgressão, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for
praticado o último ato de execução. Quando o limite territorial for incerto, entre dois ou mais
perímetros, por ter sido a transgressão consumada ou tentada nas divisas de dois ou mais
perímetros, a competência será firmada pela prevenção (MILARÉ, 2011).

Ainda segundo Milaré (2011, p. 1490) “Não sendo conhecido o lugar da infração, a
competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu, ou, em se tratando de pessoa
jurídica, pelo local de sua sede”.

No que se refere à fixação de competência, em razão do disposto no artigo 109, IV, da


Lei Maior, cabe a Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados em prejuízo de bens,
serviços, ou interesses da União, de suas entidades autárquicas ou empresas públicas. Quando
tratar-se de infração penal, a competência é sempre da Justiça Estadual, mesmo que a ofensa
atinja bem ou interesse da União, conforme reserva expressa constante do referido artigo 109,
IV (MILARÉ, 2011).

Vale lembrar que todas as transgressões e os crimes punidos, em abstrato, com pena
máxima não superior a dois anos serão de competência dos Juizados Especiais Criminais,
visto que vão estar envolvidos pelo conceito de infração penal de menor potencial ofensivo
(MILARÉ, 2011).

Como inexiste previsão legal, no Código de Processo Penal ou em legislação


específica, de procedimento especial para crimes contra o meio ambiente, o rito será o
comum, tanto no que diz respeito à pessoa física, quanto ao que consiste à pessoa jurídica. Em
qualquer dos casos, é o máximo da pena imposta que definirá o procedimento a ser seguido
(MILARÉ, 2011).
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A citação da pessoa jurídica obedecerá às regras do Código de Processo Penal, com a


única diferença de que se fará na pessoa de seu representante, segue os ensinamentos de Ada
Pellegrini:

A citação é ato indispensável à validade do processo, e o processo penal tem


requisitos de validade que podem ser mais rigorosos que os exigidos para a validade
do processo civil. A analogia não encontra aplicação nesse campo, e a citação da
pessoa jurídica deverá seguir as formas previstas no Código de Processo Penal (art.
351 e ss.) ou na Lei nº 9.099/95, conforme o caso (GRINOVER apud MILARÉ,
2011, p. 1496).

As provas destinadas à apuração dos crimes ambientais devem obedecer às regras


previstas nos artigos 155 a 250 do Código de Processo Penal. O exame de corpo de delito,
indispensável nos crimes que deixam vestígios, na impossibilidade de sua concretização
direta, poderá ser substituído pela prova testemunhal. Válida igualmente, nas infrações
praticadas na ilegalidade, a prova emprestada, derivada da Ação Civil Pública ou do inquérito
civil (MILARÉ, 2011).

Diante desta reluzente compreensão a respeito da Ação Penal, devemos enfatizar de


que a mesma possui competência relativa, ou seja, em razão do local onde ocorreu a infração.
Quando tratar-se de crime ambiental a ação será sempre pública incondicionada, pois o bem
jurídico dominante é o interesse público, e o seu rito será sempre o comum, quanto ao
procedimento da ação dependerá da pena máxima que for imposta.
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CONCLUSÃO

Este trabalho teve como objetivo o estudo da tríplice responsabilidade, aplicada aos
infratores que vierem a causar algum tipo de dano ao meio ambiente, levando-se em
consideração, principalmente, o caráter de indisponibilidade vinculado ao meio ambiente, que
não pode restar prejudicado, uma vez que está ligado diretamente à sobrevivência e qualidade
de vida dos seres.

Os atos danosos ao meio ambiente são questões que proporcionam inúmeras


abordagens pelos operadores do direito em razão das consequências advindas da sua prática,
que atingem as esferas administrativas, civil e penal. Uma vez ocorrido o dano, o responsável,
de uma forma ou de outra, tem que se responsabilizar pelo seu ato, independentemente da
proporção do dano causado. Portanto, fica claro que as responsabilidades nas três esferas não
se confundem por razão de suas diferentes finalidades, podendo, assim, o autor ter de
responder em mais de uma esfera pelo mesmo dano.

Através da pesquisa bibliográfica realizada, pode-se observar que este tema é de


grande importância, visto que cada vez mais está sendo percebida a importância fundamental
do meio ambiente, sendo visualizada a crescente preocupação com o mesmo. Atualmente, um
país que pretenda ter uma legislação avançada e moderna, dentro de padrões mundialmente
estabelecidos, necessita de normas jurídicas de proteção e de responsabilização em matéria
ambiental, já que o tema é discutido e analisado nos mais diversos países.

Na legislação brasileira esta preocupação veio refletida em artigos. O artigo 225 da


Constituição Federal, que diz que o meio ambiente é um bem de uso comum do povo e
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essencial à vida e impõe ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-


lo. E, também, no artigo 14, §1º da Lei nº 6.938/81, que obriga o poluidor, independentemente
da culpa, de indenizar ou reparar os danos causados. Para a aplicação do dever de reparação,
existem como visto ao longo deste trabalho, vários meios legais hábeis a serem utilizados
tanto por parte da sociedade quanto por parte de órgãos específicos. Em casos em que a
reparação não se mostre possível diante do caso concreto, terá o agente causador do dano que
pagar uma indenização em dinheiro destinada a um fundo especial com atribuição de utilizá-la
na reconstituição dos bens lesados.

Entretanto, alguns pontos ainda se mostram problemáticos no momento de apontar os


responsáveis pela poluição e fazê-los responder pelos danos causados. São os casos do nexo
de causalidade, onde há dificuldade de verificar especificamente quem é o responsável no
caso de haver mais de um poluidor; da dificuldade em apontar o poluidor tendo em vista que
nem sempre os efeitos da poluição aparecem de forma imediata; da divergência quanto
possibilidade de responsabilização do Poder Público nos casos de omissão na fiscalização; da
falta de fiscalização; da divergência quanto à possibilidade da penalização da pessoa jurídica;
e também da dificuldade da obtenção de provas nos casos de infrações.

Visto isso, percebe-se que o meio ambiente dispõe de mecanismos constitucionais e


legais visando a sua devida preservação, apesar de haver a necessidade de se atualizar o
instituto da responsabilização em suas áreas civil, administrativa e penal, visando alcançar um
Estado, interna e externamente, mais aparelhado e mais justo, do ponto de vista ambiental.
Além disso, a responsabilidade deve funcionar como um sistema auxiliar ou de retaguarda e
só deve ser acionado quando a ameaça de dano é iminente ou no caso em que a lesão ocorreu
e os outros mecanismos da tutela ambiental não responderam à imputação do agente.

Tendo em vista o exposto, resta a lição de que a melhor forma de se ter um meio
ambiente devidamente equilibrado e preservado, em condições de servir a todos, inclusive às
futuras gerações, conforme determinação constitucional é mediante a existência de uma
legislação adequada à atualidade, com dispositivos preventivos e repressivos à ocorrência de
danos ambientais.
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