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CORONAVÍRUS

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Taxa de mortalidade por Covid na Suécia é mais do que o dobro da


média mundial
Em tuíte, deputado Osmar Terra tenta deslegitimar estratégia de lockdown fazendo comparação enganosa

24.ago.2021 às 15h46

SÃO PAULO É enganoso o tuíte em que o deputado federal Osmar Terra


(https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/06/na-cpi-osmar-terra-cita-dados-falsos-sobre-projecoes-medidas-tomadas-por-outros-paises-e-mortes-em-

(MDB-RS) compara as taxas de mortalidade da Suécia com a de outros sete países “que
asilos.shtml)

fizeram lockdown (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/03/no-1o-de-abril-veja-mentiras-sobre-a-covid.shtml) repetidas


vezes”, de modo a sugerir que a estratégia liberal do primeiro seria eficiente para conter a
pandemia e alegar que o bloqueio não ajuda a reduzir o contágio.

Conforme verificado pelo Projeto Comprova (https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/taxa-de-mortalidade-por-


covid-19-na-suecia-e-mais-do-que-o-dobro-da-media-mundial/), dados mostram que a Suécia tem o maior número de

mortes por Covid-19 a cada 100 mil habitantes entre os países escandinavos (Noruega, Finlândia,
Dinamarca e Islândia), que adotaram medidas mais rígidas desde o início, e apresenta uma taxa de
mortalidade que é mais do que o dobro da média mundial. Pela mesma lógica utilizada no post,
outros países que adotaram o lockdown, como China e Nova Zelândia, apresentam taxas muito
mais baixas.

Além disso, a postagem do ex-ministro da Cidadania do governo de Jair Bolsonaro (sem partido)
ignora o fato de que alguns dos países citados mudaram de abordagem durante a pandemia, a
exemplo do Reino Unido, e que as medidas de confinamento são impostas e flexibilizadas em
diferentes momentos. Estudos que estimam o impacto das políticas públicas em diferentes países
levam em conta essas variáveis.
Osmar Terra durante a CPI da Covid
- Pedro Ladeira - 22.jun.2021/Folhapress

Embora não tenha aplicado o lockdown e tenha agido de forma menos restritiva que outros países
da Europa, a Suécia chegou a adotar medidas de prevenção e incentivou o distanciamento entre a
população. Em março de 2021, o país restringiu o número de pessoas em lojas e academias, assim
como o horário de fechamento de bares e restaurantes, que deveria ser até as 20h30.

A postagem de Osmar Terra foi classificada como enganosa nesta checagem porque usa dados
imprecisos e confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. O deputado foi
procurado pelo Comprova, mas não respondeu aos questionamentos.

COMO VERIFICAMOS?

A reportagem buscou informações sobre lockdown e a evolução da pandemia em reportagens e nos


sites oficiais do governo sueco. O mesmo ocorreu em relação aos outros países citados no tuíte.

As taxas de mortalidade foram analisadas por meio de duas plataformas: o Our World in Data,
mantido por pesquisadores da Universidade de Oxford, e o Coronavirus Resource Center, base de
dados da Universidade Johns Hopkins.

Além disso, a reportagem conversou com o epidemiologista, professor da Escola Superior de


Educação Física da UFPel (Universidade Federal de Pelotas) e coordenador do Epicovid-19, o maior
estudo epidemiológico sobre coronavírus no Brasil, Pedro Hallal.

Autor da postagem enganosa, Terra foi procurado por meio de sua assessoria de imprensa. A
reportagem perguntou qual foi o critério de escolha dos países que aparecem no tuíte e relatou o
fato de que a Suécia apresenta taxas de mortalidade mais altas que os países vizinhos e a média
mundial. Não houve resposta até a publicação desta checagem.

VERIFICAÇÃO

Taxas

A taxa de mortalidade da Suécia é realmente menor do que a dos sete países mencionados pelo
deputado em seu tuíte. Isso, no entanto, não quer dizer que o desempenho do país seja satisfatório
ou que o lockdown não funcione para reduzir o número de mortes pelo novo coronavírus.

De acordo com o Coronavirus Resource Center, a Suécia era o 38º país com mais óbitos por
habitante nesta segunda-feira (23), de um total de 182 países e territórios. A taxa de mortalidade
era de 142,61 a cada 100 mil pessoas.

Esse número, de fato, está abaixo de Bélgica (220,48), Itália (213,53), Reino Unido (197,44), Estados
Unidos (191,48), Espanha (176,60), Portugal (171,76) e França (169,21). Apesar de não ter sido citado,
o Brasil aparece em quinto, com 272,22 mortes por 100 mil habitantes.

Porém, a situação é desfavorável para a Suécia quando a comparação é feita com os seus vizinhos da
Escandinávia e com a média do planeta, como aponta o epidemiologista Pedro Hallal. Ele sustenta
que o caso da Suécia não deve servir de exemplo para ninguém.

Em artigo publicado na Folha (https://www1.folha.uol.com.br/colunas/pedro-hallal/2021/07/o-incrivel-fracasso-da-suecia-na-pandemia-de-


em julho, Hallal já alertava para o fato de a Suécia ter o pior desempenho no combate à
covid-19.shtml)

pandemia entre os cinco países escandinavos. O cenário é o mesmo até hoje.

À reportagem, Hallal criticou a comparação feita pelo deputado. De acordo com ele, a Suécia “é um
país historicamente muito melhor do que a média mundial, em tudo, e deveria ter resultados
parecidos com seus parceiros da região”, mas não é o que acontece.

Na realidade, a taxa de mortalidade por Covid-19 do país (1.452 por milhão de habitantes) é mais
que o dobro da média do planeta (567), como mostra uma consulta ao Our World in Data. Os
demais —Dinamarca (443), Noruega (149), Finlândia (160) e Islândia (87)— estão abaixo dessa
média.

A reportagem questionou Hallal se faz sentido separar os países em dois grupos —os que fizeram e
os que não fizeram lockdown em algum momento— e comparar as taxas de mortalidade para
avaliar a política, considerando ainda o dinamismo da pandemia. Um exemplo é o Reino Unido, que
apostou em uma estratégia mais flexível no começo de 2020 e depois mudou de ideia diante de
previsões catastróficas e do contágio em alta, passando a adotar medidas mais restritivas.

De acordo com ele, “qualquer cientista que interprete os dados leva isso em consideração” e que
ignorar esse tipo de questão constitui “erro primário”. Hallal alertou ainda que, da mesma forma, é
preciso considerar que a Suécia promoveu restrições e orientou algumas práticas para diminuir a
propagação do vírus ao longo do período.

Dois exemplos de estudos científicos nesse sentido foram publicados pela revista Nature Human
Behaviour, em novembro de 2020, e pela revista Science, em fevereiro deste ano. Ambos aplicam
métodos estatísticos para analisar as intervenções e interpretam os dados conforme o período
específico em que as ações são aplicadas pelos governos. Outra diferença é que o impacto é medido
a partir da taxa de transmissão do coronavírus, ou o “ritmo de contágio”, representado pelo termo
Rt, e não pela mortalidade.

Seguindo o mesmo critério de Osmar Terra, é fácil elaborar uma comparação em que a Suécia tenha
um desempenho mais de 200 vezes pior que outros países que fizeram “lockdown repetidas vezes”.
A China, por exemplo, tem uma taxa de mortalidade de 0,35 a cada 100 mil habitantes, e a Nova
Zelândia, de 0,53.

O site GZH informou neste mês que o epidemiologista Pedro Hallal cogita concorrer ao Senado no
ano que vem. “Ainda estou analisando, mas se concorrer será por algum partido de esquerda ou de
centro-esquerda, para contrapor as candidaturas de direita que estão postas”. Ele não está filiado a
nenhum partido político no momento, de acordo com o sistema oficial do TSE (Tribunal Superior
Eleitoral).

Sem lockdown

Até agora, a Suécia não fez lockdown, que é o bloqueio total de uma região. Embora não tenha uma
definição única, o lockdown é, na prática, a medida mais radical imposta por governos para que
haja distanciamento social e inclui o fechamento de vias e proibição de deslocamentos e viagens
não essenciais. Evidências científicas mostram que a adoção de lockdown funciona
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/05/estudo-demonstra-que-lockdown-e-eficaz-para-controle-de-covid-19-em-cidades-do-interior-

paulista.shtml) contra a Covid-19. Ele é diferente do isolamento social, que é, em princípio, uma sugestão
preventiva para que as pessoas fiquem em casa.

Ao contrário da Suécia, os demais países citados pelo deputado Osmar Terra (Reino Unido, França,
Portugal, Espanha, Itália, Bélgica e Estados Unidos) utilizaram lockdowns e toques de recolher
como forma de reduzir o ritmo de contágio em algum momento durante a pandemia. Apesar disso,
mesmo entre eles, existem diferenças em termos de duração, intensidade e adesão da população ao
confinamento.

Os países vizinhos da Escandinávia também foram ágeis em aplicar restrições e conter o


alastramento do vírus. Dinamarca e Noruega estiveram entre os primeiros países da Europa a
promoverem confinamentos, ainda em março de 2020, que se repetiram em outras ondas de
contaminação. A Finlândia e a Islândia, da mesma forma, fecharam restaurantes e outros
estabelecimentos. Essas medidas vieram acompanhadas de outras estratégias de mitigação, como
ampla testagem, rastreamento de contatos e isolamento de casos ativos.
Desde o início da pandemia, os suecos se tornaram um estudo de caso, renunciando a bloqueios e
mandatos. Checagem do PolitiFact, de 6 de agosto, esclarece que, em contraste com alguns de seus
vizinhos e os Estados Unidos, a sociedade sueca permaneceu amplamente aberta durante a
pandemia, e o governo respondeu principalmente com orientações, não ordens de permanência em
casa e quarentenas. Em geral, as máscaras também não foram recomendadas.

Reportagem da The New Yorker, de abril deste ano, traz o cenário do país ao longo da pandemia:
“enquanto bloqueios, toques de recolher e proibições de viagens estavam sendo implementados no
resto do mundo, restaurantes, lojas, bares, museus, creches e escolas primárias na Suécia
permaneceram abertos. As pessoas foram incentivadas a trabalhar em casa e a reduzir as viagens,
mas ambas eram opcionais. Máscaras não eram recomendadas e permaneceram raras”.

A pessoa por trás da resposta ao coronavírus da Suécia é Anders Tegnell, o epidemiologista-chefe


do país. A New Yorker destaca que a constituição sueca dá às agências governamentais uma
independência extraordinária, então, Tegnell e a agência de saúde pública lideraram grande parte
da resposta ao coronavírus e, constitucionalmente, o governo tem pouco poder para impor
restrições. Segundo a revista, Tegnell “costuma dizer que os bloqueios não são apoiados pela
ciência e que as evidências do uso de máscaras são fracas”.

Em uma entrevista à revista científica Nature, publicada em abril de 2020, Tegnell detalhou a
estratégia adotada pelo país: “Como sociedade, estamos mais focados em ‘dar um incentivo’,
continuamente lembrando as pessoas de colocar em prática as medidas [contra Covid-19], e
melhorando-as onde vemos no dia a dia que elas precisam ser ajustadas. Não precisamos fechar
tudo completamente porque seria contraproducente”, afirmou.

Tegnell introduziu a abordagem “light” do país à pandemia em março do ano passado, à medida que
os casos aumentavam. Lena Hallengren, ministra da pasta de Saúde e Assuntos Sociais, deu uma
entrevista à emissora Al Jazeera English, em 1 de agosto de 2020, e, quando perguntada sobre essa
abordagem e a diferença com outros países que adotaram o lockdown, disse que “a estratégia vem
sendo garantir que nós podemos prevenir o vírus de se espalhar na sociedade, proteger grupos
vulneráveis, mas também garantir que a nossa sociedade está funcionando, porque todo o tempo
nós precisamos de pessoas para trabalhar nos hospitais, precisamos de pessoas para trabalhar nas
casas de repouso, nas farmácias, nas ambulâncias [..] Nós não achamos possível que todo mundo
fique em casa por meses”.

Dessa forma, a estratégia do país para conter a disseminação do vírus tem como base a
“responsabilidade individual” de seus cidadãos. “As leis suecas sobre doenças transmissíveis
baseiam-se principalmente em medidas voluntárias —na responsabilidade individual. Afirma
claramente que o cidadão tem a responsabilidade de não espalhar uma doença. Este é o centro de
onde partimos, porque não há muita possibilidade legal de fechar cidades na Suécia usando as leis
atuais. A quarentena pode ser contemplada para pessoas ou pequenas áreas, como uma escola ou
um hotel. Mas [legalmente] não podemos bloquear uma área geográfica”, afirmou Tegnell, em abril
do ano passado.
Isso pode ser notado na página da agência de saúde do país, onde não há citações a lockdowns. Na
aba “diretrizes e recomendações para reduzir a disseminação de Covid-19”, há a indicação de
medidas que cada cidadão pode tomar por conta própria: “todos têm a responsabilidade pessoal de
prevenir a propagação da infecção. Você deve pensar em como pode evitar ser infectado, como deve
manter distância e como pode evitar infectar outras pessoas. Mostre consideração, especialmente
para as pessoas que pertencem a grupos de risco. Você deve manter distância de outras pessoas e
evitar lugares lotados. Isso é especialmente importante quando você passa um longo período com
alguém e quando você está dentro de casa”.

Críticas

Em junho do ano passado, diante de críticas crescentes sobre a posição da Suécia no combate à
pandemia, Tegnell admitiu que o país deveria ter adotado medidas mais contundentes de
isolamento social para conter a pandemia e que uma abordagem mais dura poderia ter evitado o
alto número de mortes registrado no país.

A abordagem adotada pelo país europeu foi criticada por integrantes da comunidade científica. Em
abril de 2020, em um artigo publicado no jornal sueco Dagens Nyheter, 22 pesquisadores
afirmaram que as autoridades públicas de saúde haviam falhado no combate à pandemia e que os
políticos deveriam interferir.

Matéria da Time, de outubro do ano passado, traz como título “a resposta sueca à Covid-19 é um
desastre. Não deveria ser um modelo para o resto do mundo”. A reportagem destaca que “os países
que fecharam as portas precocemente e / ou usaram testes e rastreamento extensivos —incluindo
Dinamarca, Finlândia, Noruega, Coreia do Sul, Japão, Taiwan, Vietnã e Nova Zelândia— salvaram
vidas e limitaram os danos às suas economias. Países que bloquearam tarde, saíram do bloqueio
muito cedo, não testaram e colocaram em quarentena de forma eficaz ou apenas usaram um
bloqueio parcial — incluindo Brasil, México, Holanda, Peru, Espanha, Suécia, EUA e o Reino Unido—
têm piorado quase que uniformemente nas taxas de infecção e morte”.

Artigo publicado na revista científica The Lancet destaca que “desde o início da pandemia, a
Agência de Saúde Pública da Suécia, Folkhälsomyndigheten, embarcou em uma abordagem de
imunidade de rebanho, permitindo que a transmissão da comunidade ocorresse relativamente sem
controle” e que “muitas vozes críticas foram levantadas sobre a resposta nacional da Suécia à Covid-
19 e seu fracasso em atingir seus objetivos de nivelar e encurtar as curvas de casos, hospitalizações
e mortes”.

Em entrevista à AFP, Julival Ribeiro, infectologista consultor da SBI (Sociedade Brasileira de


Infectologia) e diretor- geral do Hospital de Base do Distrito Federal, disse que “[É possível concluir]
que a estratégia não foi a estratégia correta. E, além disso, a Suécia é um país pequeno e você pode
até ter mais controle. [Mas] imagine países com milhões de pessoas. (…) Naquela época em que a
Suécia adotou essas medidas nós sabíamos pouco em relação à Covid-19. Mas o mundo mostrou que
o caminho para combater essa pandemia é aliar vacina, medidas restritivas e medidas preventivas”.
Em dezembro, os casos e hospitalizações eram mais altos do que desde os primeiros dias da
pandemia no país. As unidades de terapia intensiva em Estocolmo e Malmö, a terceira maior cidade
sueca, estavam lotadas. “Era exatamente esse desenvolvimento que não queríamos ver”, disse Björn
Eriksson, diretor de saúde e cuidados médicos de Estocolmo, durante uma coletiva de imprensa. A
confiança na agência de saúde pública havia caído de 68% em outubro para 52% em dezembro.

Um relatório também apontou que a Suécia fracassou em proteger idosos contra a Covid-19. A
estratégia adotada pela Suécia foi chamada de “imprudente e cruel”. Hallengren, em entrevista à Al
Jazeera English, afirmou que “não temos nenhuma prova de que se tivéssemos lockdown teríamos
prevenido isso de acontecer”.

Reportagem da BBC de dezembro mostra que a Suécia sofria com uma pandemia fora de controle,
UTIs lotadas e debandada de profissionais de saúde. O aumento exponencial no número de casos
fez com que o governo sueco mudasse sua estratégia em novembro, introduzindo restrições mais
duras às interações sociais. Foram proibidas reuniões de mais de oito pessoas em shows, palestras e
apresentações teatrais. Houve também um veto nacional à venda de álcool a partir das 22h em
bares e restaurantes. Em raro pronunciamento, até o rei sueco, Carl XVI Gustaf, criticou a estratégia
adotada pelo país no combate à pandemia Covid-19. “O povo sueco sofreu enormemente em
condições difíceis”, disse o monarca à emissora estatal SVT. “Acho que falhamos.”

No dia 18 de dezembro, como os hospitais já estavam preparados para uma onda pós-Natal, Tegnell
e a agência de saúde pública finalmente recomendaram o uso de máscaras, mas apenas no
transporte público e durante a hora do rush.

Em 8 de janeiro, a Suécia mudou sua legislação para conceder temporariamente ao governo o poder
de adotar medidas de restrição contra a Covid-19 em áreas determinadas e aplicar sanções e multas
caso elas sejam violadas, mas não estabeleceu que a população fique confinada em casa. Entre as
medidas permitidas estavam fechar lojas, centros comerciais e o transporte público e limitar o
número de pessoas em reuniões em locais públicos específicos.

Dessa forma, embora a Suécia tenha optado por não fechar as portas no início da pandemia, com
bares, restaurantes e lojas permanecendo abertos, restrições foram impostas depois.

Em março de 2021, o país restringiu o número de pessoas em lojas e academias, assim como o
horário de fechamento de bares e restaurantes, que deveria ser até as 20h30. Porém, em julho, o
governo flexibilizou as medidas. Uma publicação do Ministério da Saúde e Assuntos Sociais da
Suécia, de 26 de julho, traz uma lista de restrições que foram suavizadas no dia 15 do mesmo mês,
incluindo o aumento da capacidade do transporte público e o fim da proibição de acesso a
determinados espaços.

Apesar das críticas e das mudanças impostas, de modo geral, a estratégia do país permaneceu
intacta. A Suécia fechou suas fronteiras internacionais, incluindo as da vizinha Noruega, e permitiu
que a sociedade interna permanecesse aberta. Embora haja limites para o número máximo de
pessoas em reuniões sociais, são na forma de “recomendações”, em vez de leis rígidas aplicáveis ​por
meio de multas.

Uma investigação de um professor da Swedish Defence University, publicada em junho deste ano,
mostra que a avaliação de risco da agência de saúde sueca, a PHAS (Public Health Agency of
Sweden), em relação à propagação geral do coronavírus no país era excessivamente otimista até 10
de março de 2020, sendo consideravelmente mais positiva do que as avaliações de risco globais da
OMS (Organização Mundial da Saúde) e outros prognósticos de especialistas para Suécia.

Além disso, “havia uma recusa contínua da agência em mudar sua posição sobre as máscaras faciais
ou recomendar seu uso em locais confinados e lotados para o público. Isso ocorreu apesar das
evidências crescentes a favor desse equipamento de proteção. Como tal, a política de máscaras do
PHAS divergia da postura da OMS, ECDC (European Centre for Disease Prevention and Control) e
de outros grandes estudos científicos nesta área”.

A conclusão do estudo é que “no geral, essas descobertas podem explicar, pelo menos em parte, por
que a pandemia teve um impacto tão adverso na Suécia, em comparação com muitos outros países
desenvolvidos até agora”.

Segundo o portal Our World in Data, após o pico de novos casos na Suécia entre dezembro e janeiro,
que chegou a 32.485 diagnósticos positivos registrados em um único dia, houve uma queda
contínua até fevereiro, seguido de um novo período de alta. A partir do mês de abril, com o avanço
da vacinação, o número de casos ativos e de mortes pela doença despencou.

Atualmente, 51% da população sueca está totalmente vacinada e 67% receberam ao menos a
primeira dose. O país acumula 1,12 milhões de casos e 14.688 mortes desde o início da pandemia.

O autor

Osmar Terra (MDB) exerce o sexto mandato na Câmara dos Deputados, representando o Rio Grande
do Sul. Em 2016, foi ministro do Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer (MDB) e
ocupou a pasta da Cidadania já na gestão de Jair Bolsonaro, em 2019.

O deputado federal é formado em medicina e foi presidente do Grupo Hospitalar Conceição entre
1986 e 1989. Também ocupou o cargo de secretário da Saúde do Rio Grande do Sul de 2003 a 2010,
nas gestões de Germano Rigotto (MDB) e Yeda Crusius (PSDB).

Terra é um apoiador de Jair Bolsonaro e, seguindo o discurso do presidente, já negou a gravidade da


pandemia em diversas ocasiões. Chegou a afirmar que o distanciamento social não tinha eficácia
comprovada, que as mortes pelo novo coronavírus não Brasil não passariam o número de óbitos
por H1N1 e declarou que a pandemia terminaria em junho. Já em agosto, compartilhou imagens
antigas para criticar o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil.
A CPI da Covid apura se o deputado fez parte do chamado “gabinete paralelo”, um grupo externo ao
Ministério da Saúde que teria orientado o presidente Jair Bolsonaro com medidas negacionistas no
enfrentamento da pandemia. Ele aparece em destaque em uma reunião em que defensores de
tratamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19 sugerem um aconselhamento informal a
Bolsonaro.

Durante o depoimento à CPI, em junho deste ano, Osmar Terra chegou a mencionar a Suécia como
uma espécie de “case de sucesso” no controle da pandemia. Ele foi contestado pelos senadores e
posteriormente teve frases desmentidas por agências de checagem.

O Comprova já verificou outros tuítes do deputado envolvendo a Suécia em outubro do ano passado
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/10/e-enganoso-dizer-que-expor-a-populacao-ao-virus-e-melhor-para-acabar-com-pandemia-do-que-

vacinacao.shtml).
Na ocasião, ele defendeu que as pandemias acabam antes de as vacinas estarem
disponíveis e sugeriu que a Suécia havia debelado a pandemia através da estratégia de “imunidade
de rebanho”, o que não é verdade. O projeto ainda checou alegações enganosas de Osmar Terra em
outras duas (https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/osmar-terra-usa-dados-de-um-unico-hospital-para-dizer-que-covid-19-esta-
reduzindo-no-rs/) oportunidades.

POR QUE INVESTIGAMOS?

Em sua quarta fase (https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/06/projeto-comprova-coalizao-que-verifica-conteudos-falsos-inicia-quarta-fase-com-


33-veiculos.shtml), o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas públicas do

governo federal e eleições que viralizam nas redes. O post verificado aqui teve mais de 6,5 mil
interações no Twitter em menos de uma semana.

O post é danoso ao insinuar que a estratégia do lockdown, adotada pela maioria dos países para
combater a pandemia, é ineficiente.

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo
que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação
diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de
causar dano.

O Comprova fez esta verificação baseado em informações disponíveis no dia 24 de agosto de 2021.

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