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CORONAVÍRUS

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AMÉRICA LATINA
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Variante lambda avança na América do Sul enquanto mundo olha


para a delta
Cepa identificada no Peru parece mais resistente a vacinas, mas ainda não representa perigo

24.ago.2021 às 13h00

Patricia Pamplona (https://www1.folha.uol.com.br/autores/patricia-pamplona.shtml)


Samuel Fernandes (https://www1.folha.uol.com.br/autores/samuel-fernandes.shtml)

SÃO PAULO e SÃO LUÍS Se para o mundo a mais recente ameaça ligada à Covid-19 é a variante delta
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/08/variante-delta-torna-a-imunidade-de-rebanho-impossivel-dizem-cientistas.shtml), na América
do Sul as atenções se voltam para uma cepa bem menos conhecida: a lambda
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/05/variantes-do-coronavirus-sao-rebatizadas-com-as-letras-do-alfabeto-grego.shtml).

Identificada pela primeira vez em agosto do ano passado no Peru, a lambda foi classificada em
meados de junho como variante de interesse, ou seja, que deve ser estudada e acompanhada.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a cepa foi associada a taxas importantes de
transmissão comunitária em diversos países, enquanto havia também um crescimento da
incidência da Covid-19 nesses locais.
Profissionais de saúde cruzam ponte próxima de Arequipa, no Peru, para aplicar vacinação contra Covid em área remota;
país é o que mais sofre com a lambda - Diego Ramos - 2.jul.21/AFP

O mesmo relatório do órgão afirma que mais de 1.730 sequências da lambda originadas de 31 países,
territórios e áreas foram enviadas à Gisaid, plataforma que compila dados de genomas.

Ainda que não figure no topo das cepas consideradas mais perigosas, classificadas como variantes
de preocupação pela OMS (casos da alfa, beta, gama e delta), a lambda tem ganhado terreno na
América do Sul, onde sua incidência é significativa.

“Para ser uma variante de preocupação, é preciso ter uma circulação comunitária importante, e
neste momento [a lambda] não tem”, diz Jamal Suleiman, infectologista do Hospital Emílio Ribas.

Ele também afirma que, para ser uma variante de preocupação, a lambda precisaria ter diferenças
em relação a outras mutações em circulação, como uma maior capacidade de infecção, o que
aumentaria a sua propagação entre as pessoas, maior gravidade da doença ou ainda características
clínicas que comprometam outras esferas da pessoa que é infectada
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/07/um-ano-apos-alta-hospitalar-por-covid-60-dos-pacientes-sentem-sintomas-como-fraqueza-fadiga-e-

falta-de-ar.shtml),
como apresentações cutâneas ou neurológicas diferentes do que se viu até então em
outras cepas.
O país com a maior presença de lambda até o momento é, proporcionalmente, o Peru, com uma
incidência de 40% no acumulado —ou seja, desde a primeira vez que a cepa foi identificada no país.
De abril a junho, autoridades afirmaram que 81% dos casos de Covid-19 no país foram dessa
variante.

Na sequência vêm Chile (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/08/contra-variante-delta-do-coronavirus-chile-e-uruguai-ja-


aplicam-terceira-dose.shtml) (21%), Equador (11%) e El Salvador (3%), segundo dados do Outbreak Info,
iniciativa que compila informações genômicas do Gisaid, recolhidas de 172 países.

“Na Argentina, em certo momento, a lambda chegou a ser um terço [das infecções] na região
metropolitana de Buenos Aires”, diz Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica BR-MCTI,
um projeto de laboratórios que sequencia os genomas de amostras do Sars-Cov-2 no Brasil.

O relatório da OMS também mostrou que, desde a terceira semana de fevereiro de 2021, a presença
da lambda na Argentina vinha crescendo.

Já em recente relatório do Ministério da Saúde peruano, divulgado na última quarta-feira (18), a


lambda respondeu por mais da metade (54,7%) das amostras analisadas, seguida pela gama (15,9%),
identificada inicialmente no Brasil.

Essa combinação pode significar um cenário difícil, segundo alertou o coordenador do Laboratório
de Genômica Microbiana do Peru, Pablo Tsukayama, em entrevista à BBC News Mundo. “Os países
que tiveram essas duas variantes passaram de uma situação ruim para uma de descontrole, com
segundas ondas muito mais severas.”

Mas para Spilki, o ápice de transmissão por lambda em países como Peru e Argentina foi de abril a
julho deste ano e, atualmente, a taxa de infecção por essa variante está em declínio e existem
indícios do aumento do número de casos por delta (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/07/argentina-chega-a-100-mil-
mortos-em-meio-a-tentativas-de-combinar-vacinas-e-medo-da-delta.shtml).

A delta, identificada originalmente na Índia, está ligada a apenas a 1,9% dos casos no Peru. Ainda
assim, o ministro da pasta, Hernando Cevallos, alertou na última semana sobre a presença dessa
variante (https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2021/07/paises-que-acreditavam-ter-superado-pior-fase-da-covid-19-vivem-novo-pesadelo.shtml). “É
importante que tomemos consciência. Estamos frente a uma alta possibilidade de ter iniciado a
terceira onda em nosso país”, disse, segundo o jornal El Comercio.

Em queda até o fim de julho, a média móvel de casos no Peru chegou a aumentar no início deste
mês, já voltando a cair nos últimos dias. No domingo (22), a taxa foi de 1.191 novas infecções. A
média móvel de mortes vem no mesmo ritmo, e o índice chegou a 69 no mesmo dia.

Os números estão longe do pico de 874 óbitos e quase dez mil casos registrados em abril deste ano,
mas o surgimento de variantes é um novo obstáculo no avanço da pandemia.
No caso da lambda, a OMS apontou que as mutações presentes podem significar maior
transmissibilidade e aumento da resistência a anticorpos neutralizantes, aspecto ligado à eficácia
dos imunizantes. A organização alertava, porém, que mais estudos eram necessários para entender
esses pontos.

Uma pesquisa divulgada no início do mês, por sua vez, confirmou os receios da OMS de que a
lambda seria mais transmissível e resistente às vacinas. O estudo feito por pesquisadores japoneses
ainda depende de validação pelos pares.

Para a biomédica Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da rede Análise Covid-19, é importante


notar que, apesar dessa resistência, as vacinas testadas até o momento mostraram manter alguma
proteção, principalmente em casos graves. “É uma variante que precisa ser monitorada”, diz. “Mas
não parece ser algo como a delta, então é pouco provável que ela ganhe muito espaço.”

Dutra destaca ainda que o cerne do problema é a transmissão, já que as variantes competem entre
si dentro de um mesmo ambiente (https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/07/avanco-da-delta-no-brasil-cria-guerra-
biologica-entre-variantes-do-coronavirus.shtml), com as mais aptas se tornando prevalentes.

“Sabemos que é por conta da aceleração da transmissão que o risco de novas variantes surgirem
aumenta. Para contornarmos essa situação e construirmos nossa porta de saída da pandemia,
precisamos solidificar nosso caminho, com vacinação em massa e medidas não farmacológicas de
controle, como o uso de máscara e distanciamento físico.”

No contexto brasileiro, Fernando Spilki afirma que a lambda nunca se equiparou à situação da delta
ou da gama, outra variante que continua tendo grande proeminência no país. “Até o momento, a
gama foi, sem dúvida, a mais importante, agora temos uma escalada da delta
(https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/08/variante-delta-responde-por-61-das-amostras-de-virus-do-brasil-em-rede-internacional.shtml), mas
efetivamente a lambda nós não temos encontrado ao longo do tempo.”

Segundo dados da Rede Corona-ômica BR-MCTI, em 18 de agosto de 2021, existiam 29.447 genomas
sequenciados no país. Destes, somente 6 eram da lambda, enquanto a delta tinha 79 e a gama
contava com 17.507.

“Como tem poucos casos da lambda, não dá para tirarmos conclusões ainda [sobre os efeitos das
alterações nessa variante]”, afirma Luiz Henrique Nali, doutor em medicina tropical com ênfase em
virologia pela USP e professor da Universidade de Santo Amaro.

Ele explica que o Brasil tem pouca capacidade de rastreio das variantes que circulam no país e, sem
esses dados, é difícil entender o comportamento específico de cada uma delas.

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