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Ícaro Fernandes Teixeira
20171530032
● A construção da identidade brasileira: relações classe, raça, nação.
A construção da identidade brasileira perpassou uma constante tentativa em conciliar
diferente culturas e costumes de diferentes povos forçadamente miscigenados a partir do
modelo colonizador de escravidão que tinha por objetivo explorar, aculturar e dominar, como
exposto por Freyre, que define a colonização portuguesa como uma ‘criação local de
riquezas’ em contraponto a ‘extração de riquezas’. Esse processo se deu de forma coercitiva
de seu início aos dias atuais e estabelece hierarquias de raça e classe que estão intimamente
ligadas a esse processo civilizador de construção de uma identidade nacional.
Primeiramente, vale ressaltar o processo de hierarquização social estabelecida nas
relações interpessoais do mundo rural escravocrata que miscigenou os povos de forma
coercitiva e marginalizante, ou seja, refutando a harmonia apreendida por Gilberto Freyre em
sua obra, vale destacar a constante dominação dos corpos e das mentes enquanto
hierarquização e proibição de culturas, seja de ritos, linguagem, fé e costumes, que
estabeleceram uma forte tensão produzindo o sincretismo religioso e sobrevivência de
culturas alimentares e ritualísticas, seja na relação com o trabalho, pela luta de classes
racial-econômica constante no ambiente rural; Estabelecendo assim, o processo de
‘hibridização’ percebido pelo autor, mas que procuro definir como processo de aculturação
do modelo europeu de organização social, com heranças culturais, ou melhor dizendo
resquícios culturais que sobreviveram à coerção, como definido por Moura, nessa identidade
nacional e sociedade pluriétnica, o ideal escolhido foi o superior branco.
A reprodução do sistema era de forma extremamente desigual e favorecia uma classe
descendente de portugueses branco que detinha poder no campo pela dominação tradicional
familiar que se repercutiu na produção do coronelismo. Após a abolição da escravidão, houve
uma valorização do imigrante branco enquanto o negro fora delimitado à marginalidade
urbana sendo taxado de preguiçoso, ocioso e mau caráter, pois quem detinha os meios de
produção ainda era o homem branco, sendo assim restou os subempregos e trabalhos
equivalentes ao período escravocrata.
Sendo assim, essa herança de acultural produziu um olhar etnocêntrico da sociedade
brasileira por indivíduos branco, mulatos e negros segundo Clóvis Moura, pois há uma
necessidade de resguardo em grupo temendo a perda de posição social na sociedade
capitalista calcada no consumo estrutural pelas camadas marginalizadas. Esse camada por sua
vez, é reprimida de forma autoritária, buscando ‘equilíbrio social’ pelo Estado de forma a
conter forças subversivas ao estrato hierárquico sócio-racial, já que majoritariamente esta
camada descende de matrizes africanas, ou seja, há um punitivismo estatal histórico a cultura
negra e indígena, como as famosas lei contra vadiagem e lei contra charlatanismo, assim
como destruição e tomada de espaços de existência e resistência, como território de
quilombos e áreas indígenas, quanto repressões a desertores subversivos dessa ordem a fim
de quebrar esse estrato hierárquico, como criminalização do tráfico de drogas, furto e roubo,
como forma de reação à desigualdade na sociedade capitalista, que de acordo com o autor se
configuram como guetos invisíveis de extermínio negro - como colocado por Guerreiro
Ramos a aculturação se dá pela eugenia, controle de nascimentos e casamentos. Sendo assim,
a partir do discurso liberal da democracia racial, aprisiona negros discriminados e explorados
em sua realidade social meritocrática sem levar em consideração as tensões raciais históricas
e cotidianas da hierarquia racial brasileira.
Ademais, vale ressaltar o projeto de embranquecimento ideológico que deram
sustentação para as políticas de marginalização das populações negras durante o último
século. Sendo assim, Oliveira Viana adepto do darwinismo social, ou seja, análise da
sociedade enquanto sobrevivência das espécies, produz uma obra em que determina a
evolução do povo brasileiro calcada a tradição do pensamento político brasileiro de Euclides
da Cunha, ambos autores determinam a miscigenação como algo problemático para o
desenvolvimento da sociedade brasileira analisando os ‘tipos raciais’, sempre buscando
determinar uma identidade nacional, que diante de uma miscigenação tão complexa seria
muito difícil determinar um caráter físico-psicológico comum a todo brasileiro, considerando
as matrizes negra e indígena ainda que de forma categorizada em sua diversidade, há uma
generalização da raça sob o olhar de culturas ‘exóticas’. Sendo assim, para ele o projeto de
nação viria partindo do projeto de branqueamento da população seja pelo processo de
sobrevivência, seja na integração do Brasil com o mundo ocidental.
Sendo assim, Guerreiro Ramos expõe algumas contradições em entre biológico e
social, ou seja, primeiramente ele coloca algumas teses de branqueamento sociológicas como
teses meramente política a fim de desmistificar o extremo cientificismo da época utilizado
pelos autores, diante disso afirma que o branqueamento da população não é um processo
biológico e sim sócio-político atravessado pelo preconceito e contradição, assim como a
arianização da sociedade é apenas uma expressão de uma auto estima elevada que se baseia
em questões como racismo reverso e preconceitos infundados pelo contexto material social,
ou seja, para o autor, Oliveira Viana possui sua contribuição para sociologia por documentar
o preconceito no Brasil em seu caráter ideológico.
Finalmente, pode-se concluir que as relações de raciais e de classe no Brasil estão
intimamente interligadas e que o processo de colonização e estatização do território a fim de
se estabelecer uma produção econômica capitalista produziu não apenas um traumas
históricos, quanto um processo de marginalização de parte da sociedade, ou seja, segundo
Florestan Fernandes, a história social centrada no eixo econômico de exploração com
imposições políticas institucionais estruturais foi cunhada em contradição e combinação com
os diferentes processos de evolução produtivo capitalista, pode-se afirmar que esse projeto de
nação se encontra marginal comparado-o com o ‘mundo ocidental’; E só será compreendido a
partir do reconhecimento dos sujeitos peculiares e característicos desse sistema, definindo
que a sociedade de classes e a revolução burguesa se articula precariamente a partir desse
histórico, evidenciando assim suas maiores contradições.
Bibliografia
FAORO, Raymundo. (1958), Os donos do poder: formação do patronato político
brasileiro. Editora Globo.
QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O mandonismo local na vida política brasileira e
outros ensaios. “O coronelismo numa interpretação sociológica”.