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Educação Unisinos

13(2):135-146, maio/agosto 2009


© 2009 by Unisinos - doi: 10.4013/edu.2009.132.05

Educação Popular: uma história, um que-fazer1

Popular Education: A history, a what-to-make

Valéria Oliveira de Vasconcelos


valvasc2003@yahoo.com.br
Maria Waldenez de Oliveira
dmwo@power.ufscar.br

Resumo: O presente artigo tem como objetivo apresentar o histórico da Educação Popular na
América Latina (décadas de 60 à 90 do século XX), por meio de seus principais marcos, e de seu
processo de conformação no panorama brasileiro. Visa também apresentar um que-fazer dessa
Educação, permeado pelo diálogo e pela construção conjunta de saberes. Abordam-se alguns
pontos relevantes na construção de conhecimentos e nas práticas de Educação Popular, buscando
colaborar para sua precisão conceitual e delineamento metodológico. Para tanto, são discutidos
temas como: a transformação social, a autonomia e o compartilhamento de saberes, a formação
de educadores, desde os processos metodológicos e a tematização dos problemas, o papel do
educador, assim como as estratégias de ação, reflexão e avaliação. Pretendemos, com este
estudo, contribuir para o aprofundamento de estudos na área de educação em geral, atentando
principalmente para a urgência de iniciativas, escolares ou não, que visem a fortalecer os mais
diferentes processos de humanização.

Palavras-chave: Educação Popular, diálogo, autonomia, transformação social.

Abstract: The aim of this article is to introduce Popular Education in Latin America, its most
important achievements and how it has been constructed in the Brazilian context. It also aims
to present a “what-to-make” of this Education, based on dialogue and collective knowledge
construction. In order to do that, this paper presents a synthesis of the literature and a general
historical and thematic scenario on the Popular Education from 1960 to 1990. This article treats
some of the points to be considered on knowledge construction and Popular Education practices,
trying to contribute to its conceptual accuracy and methodological delineation. The following
items were discussed: social transformation; autonomy and knowledge exchange; educator’s
formation - its methodological processes and thematization problems; the educator’s role, as
well as action, reflection and evaluation strategies when considering this knowledge theory’s
limits and possibilities. This work intends to contribute to the development studies in the area
of education, concerning mostly the urgent need for initiatives, academic or not, which focuses
on strengthening the different processes of humanization.

Key words: popular education, dialogue, authonomy, social transformation.

1
“Que-fazer”, referência ao poema Canção Óbvia de Paulo Freire: “[...] o meu tempo de espera é um tempo de quefazer [...]” (Freire, 2000, p. 5),
Valéria Oliveira de Vasconcelos, Maria Waldenez de Oliveira

Introdução constante, e, sob seu crivo, fazemos Histórico


nossas escolhas metodológicas,
Várias são as concepções sobre de modo que nossos trabalhos se O período histórico compreen-
Educação Popular que encontra- constituam em experiência para dido, aproximadamente, entre 1959
mos na história da América Latina, todos os envolvidos e que os co- e 1964 é considerado por alguns o
e, não raramente, diferentes con- nhecimentos sejam construídos mais denso da Educação Popular no
cepções, por vezes antagônicas, coletivamente, num ir e vir ao Brasil. No entanto, uma análise do
estão presentes num mesmo perío- mundo, transformando-o. contexto histórico que antecedeu esse
do histórico. Neste artigo, não nos Nossa escolha pela Educação período indica que as preocupações
propomos o desafio de apresentar Popular, que trataremos aqui, não é com a educação “popular”, em senti-
a história da Educação Popular, apenas pedagógica, mas, sobretudo, dos diversos, já se colocava no cená-
mas o de mostrar sua trajetória política. Referindo-se às concepções rio político brasileiro. Nesse sentido,
por meio do garimpo de fatos e de Educação Popular, Hurtado (1992, se apresenta uma breve incursão
de textos, privilegiando a busca p. 43) alerta que: a esse contexto para, em seguida,
de acontecimentos, e das relações adentrarmos no período mencionado
entre eles, e de reconhecimento O termo – mais que a concepção – co- e avançarmos historicamente até a
do passado, na rede em que todas meça a ser aplicado como palavra de década de 90, do século XX.
as histórias dessa Educação se moda para referir-se a velhas fórmulas No final do século XIX, havia
convergem. que têm sido “inventadas” e induzi- um forte movimento para superar o
Nossa compreensão de Edu- das na América Latina por diversas isolamento, a miséria e a diversidade
tendências (e intenções).
cação Popular foi construída nos linguística em toda a América Latina,
estudos, nas experiências de pes- e tal esforço parecia poder alcançar
quisa e de trabalho solidário com Nosso entendimento de Educa- a resolução de tal situação, por meio
pessoas de classes populares. Desta ção Popular é o da educação como do acesso do maior número de pes-
abordagem, trataremos com maior processo de humanização, um ato soas a uma educação proporcionada
ênfase, na segunda parte do artigo. político, de conhecimento e de cria- pelos Estados Nacionais (Weinberg,
Somos pesquisadoras do Grupo de ção, que ocorre no diálogo entre seres 1984). O artigo 179, inciso XXXII,
Pesquisa Práticas Sociais e Pro- humanos, sujeitos de sua vida, e que, da Constituição de 1824, assegura-
cessos Educativos, criado em 1998, solidariamente, fazem e refazem o va “a instrução primária, gratuita,
no qual investigamos a educação mundo. Ao falarmos de Educação para todos os cidadãos” (Weinberg,
nas diversas práticas sociais, ou Popular, não estamos nos referindo à 1984)2. Segundo Lozano (1989), o
seja, a educação que acontece nas educação das classes populares, mas Brasil, como colônia submetida ao
relações entre pessoas, no cotidia- à educação com as classes populares, monopólio da coroa portuguesa,
no de nossas vidas. Nesse Grupo, com elas compromissada e com elas cresceu isolado do mundo e conviveu
formamos pesquisadores e reali- realizada, mediante o diálogo. Em apenas com Portugal, que proibia
zamos pesquisas e trabalhos com outras palavras: expressamente a importação e venda
grupos populares, com o objetivo A Educação Popular [...] é um de livros e a instalação de qualquer
de compreender esses processos compromisso com o povo frente ao tipografia. Durante a primeira metade
educativos do ponto de vista das conjunto de sua educação e não se do século XX, na América Latina, o
pessoas marginalizadas e desquali- reduz a uma ação centrada a uma discurso pedagógico liberal moderno
ficadas, num contexto de América modalidade educativa, tal como a continuava a defender a escolariza-
Latina. Por considerarmos que, na educação não formal, ou a um re- ção como um instrumento privilegia-
América Latina, há um processo de corte dos setores populares, tal como do de educar as massas e utilizava,
desumanização em curso, há mais os marginalizados, ou a um grupo como sinônimos, a educação básica,
de 500 anos, ainda atual e gritante, geracional, como os adultos, ou a estatal e universal, e a Educação
projetamos uma sociedade mais uma estratégia determinada, como Popular (Puiggrós, 1994).
justa e igualitária. Em nossos pro- a alfabetização rural (Puiggrós, Entre as décadas de 1930 e 1940,
jetos, o compromisso social é uma 1994, p. 13). os nacionalismos populares na Amé-
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2
O autor chama a atenção de que, implicitamente, estavam excluídos dessa educação todos aqueles que não eram considerados cidadãos, como
os escravos e os indígenas.

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Educação Popular: uma história, um que-fazer

rica Latina alargaram as bases do emergência de diversas organizações nais liberais e estudantis, importava
sistema educativo e estenderam as populares (Bezerra, 1984). atribuir um conteúdo revolucionário
modalidades propostas a setores Essa euforia inicial foi subs- às pressões dos movimentos popula-
tradicionalmente excluídos, com tituída, paulatinamente, por um res. Assim, analisa Bezerra (1994), a
objetivos principalmente volta- sentimento de frustração, por história da Educação Popular dessa
dos à capacitação de mão de obra conta da crise econômica que tais época está muito mais ligada às
(Puiggrós, 1994). Durante a fase políticas engendraram, caracteri- tentativas de afirmação política das
desenvolvimentista (entre finais da zado pela aceleração da inflação camadas médias da sociedade, por
década de 1950 e finais da década de e pela perda do controle de seus um lado, e aos objetivos de manter
1960), nasceram novos discursos que mecanismos, o que originou um o poder, por outro, do que propria-
antagonizaram com o discurso peda- acentuado aumento das reivin- mente à luta pela conquista de um
gógico liberal positivista moderno, dicações e manifestações das espaço político maior pelos setores
entre os quais os mais representativos classes trabalhadoras, assim como populares.
foram a pedagogia socialista cubana3 das manifestações estudantis. Os Nesse contexto político surgiram
e a pedagogia da libertação (apre- resultados da política desenvolvi- várias iniciativas educativas volta-
sentada nos projetos e escritos do mentista não eram tão promisso- das às camadas populares. Segundo
educador Paulo Freire, 1977, 1979a, res como seus dirigentes haviam Fávero (1983, p. 8), inicialmente,
b, 2000, entre outros). alardeado. A evolução dessa crise os escritos sobre cultura popular,
Durante o desenvolvimentismo no foi se fazendo notar e culminou no Educação Popular e educação de
Brasil – principalmente no governo governo seguinte, o do Presidente base faziam severas críticas à edu-
de Juscelino Kubitschek (1956- João Goulart (1962-1964), após a cação oficial praticada até então:
1961) – pôde-se notar uma ascensão renúncia de Jânio Quadros. Temos “Denunciavam-se como algo que
de expressões populares das quais como exemplo a inflação, que gira- ficava entre a elitização do saber e
despontaram inúmeras experiências va em torno de 30%, no governo de a manipulação populista das classes
educativas. Esse momento político Jânio Quadros, e chegou aos 80%, populares, através da escola e das
caracterizou-se por acelerar a ocu- no governo de João Goulart. campanhas de alfabetização e educa-
pação do espaço produtivo nacional Durante essa época, ocorreu uma ção de adolescentes e adultos”.
por meio do recurso estrangeiro, sem intensa movimentação política que Para Fávero (1983), os anos
a preocupação com o empresariado alguns setores denominaram de entre 1960-1964 foram particular-
nacional (Bezerra, 1984). resistência: mente críticos e criativos. Questio-
O caráter populista do governo nava-se o modo de ser brasileiro, de
se demonstrava por intermédio das Chamamos assim de resistência por- viver o momento da história desse
promessas de futuro melhor e do que entendemos que essa reação tinha país e de participar de sua cultura.
seu discurso, por meio do qual o origem nos setores do capital nacional A cultura popular – como uma for-
que tentavam resistir à consolidação
progresso do país traria frutos para ma de luta popular surgida nesse
da tomada dos lugares estratégicos
todos os cidadãos, tais como empre- do nosso potencial econômico pelo período histórico – subordinava
gos, melhores salários, educação e capitalismo internacional, financeira outra manifestação de movimento
saúde, o que representava a meta do e tecnologicamente mais poderoso de massas: a Educação Popular.
desenvolvimento. Além disso, eram (Bezerra, 1984, p. 19). Pretendia-se “transformar a cultura
reforçados os aspectos de liberdade brasileira e, através dela, pela mão
e democracia liberal, fato que, para Em 1963, havia claras tentativas do povo, transformar a ordem das
uma população que havia recen- de canalizar a crescente organização relações de poder e a própria vida
temente sofrido fortes restrições dos trabalhadores rurais e urbanos e do país” (Fávero, 1983, p. 9). Ana-
políticas, teve um significado muito demais movimentos populares para lisando esse momento da Educação
específico. O clima de liberdades essa resistência. Para setores da Popular, Brandão (1984, p. 34)
democráticas favoreceu, então, a classe média, sobretudo os profissio- pondera que:

3
Sobre esse tema, Weyh (2005) aponta três antecedentes históricos: os governos de Augusto César Sandino, na Nicarágua (1920), de Lázaro Cardenas 137
(1934-1940), no México e a Revolução Cubana (1959), em Cuba, sob o comando de Fidel Castro. Para esse autor, esses momentos são considerados
importantes marcos que “contribuíram para que os interesses das classes populares pudessem atingir um novo patamar, em busca da consolidação
de um modo diferente de fazer educação e política, em um continente marcado pela dominação colonialista” (Weyh, 2005, p. 4).

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Valéria Oliveira de Vasconcelos, Maria Waldenez de Oliveira

cionais a alfabetização e profi s- Em junho de 1964, Paulo Freire


Oscilando entre a vocação populista sionalização dos adultos, em vista foi preso e acusado de subversivo
e um compromisso de classe, a Edu- do plano de desenvolvimento do internacional, traidor de Cristo e do
cação Popular pretende significar não país. Com o objetivo de deflagrar povo brasileiro, entre outras levian-
apenas uma forma avançada de edu-
a extensão e aplicação do método a dades. Essa prisão durou setenta dias
cação do povo, mas um movimento
pedagógico e, depois, um movimento todo o território nacional, o gover- e, depois disso, cansado de viver
popular que incorpora um movimento no convidou Freire para coordenar sob vigilância rigorosa e de ter que
pedagógico. o Plano Nacional de Alfabetização, responder a inquéritos incessantes,
e, entre junho de 1963 e março de resolveu optar pelo exílio (Gadotti,
Ainda nesse período, o método 1964, desenvolveram-se cursos de 1989). Após um curto período na Bo-
de alfabetização do professor Paulo capacitação de coordenadores em lívia, mudou-se para o Chile, onde
Freire – cuja importância do trabalho quase todas as capitais dos estados. trabalhou no Plano de Educação em
e da extensa obra para a Educação Tal plano previa a instalação de Massa e também como professor da
Popular no Brasil e na América vinte mil círculos da cultura4 que Universidade de Santiago, dando
Latina é irrefutável – começou a atenderiam, nesse ano, a cerca de continuidade ao trabalho iniciado
ser difundido. Na época, metade dois milhões de alfabetizandos. e abruptamente interrompido no
dos 30 milhões de habitantes do Os programas de alfabetização de Brasil.
Nordeste brasileiro era formada por Freire baseavam-se no contexto Inúmeras experiências educativas
analfabetos (estes viviam na cultura em que viviam as pessoas da ca- concretizadas na América Latina,
do silêncio, conforme afirmava o mada popular e, deste, surgiam as naquele período, foram se articulan-
professor). palavras e os temas geradores que do progressivamente, concomitante-
Em 1963, Freire assumiu a norteavam o trabalho. Essas pala- mente a uma crescente participação
representação do Ministério da vras e temas codificavam o modo dos movimentos populares e de
Educação junto à Superintendência de vida dos oprimidos para serem, muitos grupos religiosos inspirados
do Desenvolvimento do Nordeste posteriormente, decodificadas, na linha renovadora surgida em Me-
(SUDENE), com a função de dis- associando-as, ao mesmo tempo, dellín5 e na Teologia da Libertação.
cutir com técnicos desse órgão e ao núcleo de questões existenciais O papel da Igreja, particularmen-
com técnicos americanos, da Uni- – relacionadas à vida das pessoas te a católica, foi decisivo na busca
ted States Agency for International – e também a políticas ligadas aos por formas democráticas de edu-
Development (USAID), a aprova- determinantes sociais das condi- cação e de alternativas à repressão
ção de projetos de educação para ções de vida (Gadotti, 1989). política que ocorria em diferentes
o Nordeste (Gadotti, 1989). No Com o Golpe Militar de 1964, países da América Latina (Parra et
decorrer desse período, o educador o movimento da Educação Popu- al., 1984).
aperfeiçoou seu método na cidade lar sofreu um grande impacto e Igualmente relevante foi o surgi-
de Angicos (RN), e a divulgação muitos dos intelectuais e políticos mento – dentro das próprias orga-
dos resultados do trabalho – tre- que compactuavam com sua ide- nizações populares – de instâncias
zentos trabalhadores alfabetizados ologia foram perseguidos, presos e formas de Educação Popular, tais
em quarenta horas – impressionou ou exilados. Desde antes do Golpe, como bibliotecas populares, centros
profundamente a opinião pública. esses movimentos já eram alvo das de formação obreira, grupos de tea-
Esses resultados chamaram a aten- críticas dos grupos de direita, que tro e música populares, cursos sindi-
ção do governo de João Goulart, os denominavam de comunistas e cais, jornais e boletins de informação
que tinha entre suas metas educa- subversivos. classista (Jara, 1994). Para o autor,

4
Essa metodologia se aplica em círculos de cultura, nos quais o professor vem a ser um coordenador de debates, os alunos são participantes, e todos,
juntos, colaboram para o descobrimento das verdades da sua realidade; refletem e atuam sobre estas: “[...] são escolas de socialização, de diálogo
sobre um tema de interesse, de reflexão em comum, de liberdade de palavras dentro de um grupo com um objetivo comum, de compromisso com
a realidade objetiva, de investigação, de criatividade e de liberdade” (Freire, 1979a, p. 7).
5
A conferência dos bispos latino-americanos, em Medellin (1968), colocou como desafios para a Igreja Católica, entre outros, os seguintes : (a)
138 presença dos pobres na Igreja, inspirados na frase do Papa João XXII: “A Igreja quer ser de todos, mas, de modo especial, dos pobres”; (b) a Igreja,
organizada em forma de paróquia ou de pequenas comunidades, deve oferecer um espaço para o desenvolvimento de relações intersubjetivas:
proximidade, conhecimento, amizade, fraternidade, luta em comum; (c) os leigos não são apenas destinatários da missão da Igreja, são também
sujeitos eclesiais; (d) Igreja evangelizadora é, ao mesmo tempo, militante e profética. Ela procura estar atenta à realidade, à organização da sociedade,
para anunciar a Boa-Nova (CNBB, 2006).

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tais programas foram impulsionados quer prática de agentes eruditos busca-se, na Educação Popular,
pela dinâmica de ascensão do movi- “comprometidos” e sujeitos po- a ampliação do conhecimento da
mento popular e tinham o objetivo pulares, onde há qualquer tipo realidade por todos os com ela en-
de compreender e orientar as ações sistemático de intercâmbio de volvidos.
das massas frente ao momento his- saber, a partir das próprias práti- Segundo Fasheh (1995, p. 37),
tórico em que viviam. Isso ocorreu, cas sociais populares; Educação Popular7:
com diferentes intensidades, em • Perde sua característica original
países como o Peru, o Equador, a de movimento emergente de educa- [...] tem como ponto de partida as
Bolívia, o Panamá, o El Salvador e dores e se redefine como um traba- condições e as experiências concre-
a Guatemala. lho político de mediação a serviço tas das pessoas, especialmente das
camadas oprimidas e excluídas da
Nos anos seguintes ao exílio de de projetos, sujeitos e movimentos
sociedade. Começa com aquilo que
Freire, a Ditadura Militar fez com populares de classe, ou então, mo- as pessoas têm, aquilo de que elas
que, no Brasil, o movimento da vimentos tendentes a isso. necessitam, o contexto social no qual
Educação Popular declinasse e, pra- vivem, as experiências pelas quais
ticamente, se extinguisse. Somente A história da Educação Popu- têm passado e as ações que podem
na década de 80, com o início da lar no Brasil, aqui abordada, está levar a cabo para transformar suas
abertura política, novas iniciativas profundamente marcada pelos mo- condições de vida.
começaram a despontar. Em resumo, mentos sociais e políticos do país.
nas últimas décadas do século XX A construção teórica e metodológica Partindo dessa citação, apresenta-
(entre os anos 60, até meados da da Educação Popular elaborou-se no mos a intencionalidade primeira da
década de 90), foi se conformando compromisso com a construção de Educação Popular, seu movimento
uma concepção de Educação Po- uma sociedade mais justa, articula- político de transformação social.
pular que, de acordo com Brandão do com a ação de construção desta
(1984, p. 36-37): sociedade, mediante uma prática Transformação social
emancipatória, libertadora, capaz
Ganhei sofrendo a certeza, de que o
• Propõe inicialmente uma teoria de propiciar aos educadores popu- mundo não é só meu. Mais que viver,
renovadora de relações homem/ lares uma práxis libertadora. Ela o que importa é trabalhar na mudança
sociedade/cultura/educação e uma sedimentou as bases de uma teoria (antes que o mundo apodreça) do
teoria que pretende fundar, a partir do conhecimento, a qual nos permite que é preciso mudar (Mello, 1980,
do seu exercício em todos os níveis compreender os processos de ensinar p. 385).
e modalidades da prática pedagógi- e aprender no diálogo entre os sujei-
ca, uma “educação libertadora”; tos de conhecimento, na superação Ao falarmos de transformação so-
• Realiza-se no domínio específi- da contradição educador-educando. cial, faz-se necessário apontar que a
co da educação com adultos das Sobre essa teoria e a partir das bases, realidade social é dinâmica e está em
classes populares e pouco a pouco dos objetivos, das características e permanente mudança. Entendendo a
se define como um trabalho polí- dos desafios do trabalho de Educa- educação, escolar ou não, como um
tico de libertação popular, através ção Popular, trataremos a seguir. processo plural por meio do qual os
também da educação e dos efeitos seres humanos vão construindo seu
de um trabalho conscientizador O que-fazer da Educação conhecimento e dando significado
com sujeitos, grupos e movimen- Popular6 ao mundo, pode-se inferir que toda
tos de classes populares; educação transforma. Não há ato
• Afasta-se de ser uma atividade Longe de representar unicamente educativo que não transforme, quer
apenas de escolarização popular um contraponto à educação formal, seja de maneira libertadora, quer
e busca meios de ser toda e qual- como já dito no início deste artigo, opressora.

6
As conclusões do Simpósio de Educação Popular organizado pelo CESO (Centro para el Estudio de la Educación en los Países en vías de Desarrollo),
que teve lugar na Holanda, em 1988, serviram como norteadoras desse apartado. Os principais tópicos levantados nesse documento foram aqui
aprofundados e desenvolvidos de maneira mais abrangente, de acordo com vários outros autores que trabalham nessa área (Educación Popular en
América Latina: La teoría en la práctica - in Gadotti e Torres, 1994). 139
7
Uma vez que esse autor apoia cientificamente seu trabalho (realizado com grupos populares na Palestina) nos princípios teóricos preconizados por
Paulo Freire, não se considera controvertido apresentar a Educação Comunitária e Educação Popular como diferentes terminologias para descrever
um mesmo fenômeno educativo.

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Valéria Oliveira de Vasconcelos, Maria Waldenez de Oliveira

Um ser humano que se conhece como um simples reflexo da luta de Construção da autonomia
mais, que se reconhece histórico e classes, mas como um avanço em no diálogo
social e que percebe as condições direção à análise de como a opressão
opressoras do contexto em que está social ocorre dentro do processo Um dos propósitos da Educação
inserido tem maiores possibilidades educativo como um todo8. Isso se Popular é lograr a autonomia da-
de libertar-se dessa opressão. A trans- identifica na citação a seguir: queles a quem se dirige o trabalho.
formação social deve ser entendida A autonomia é entendida como a
como um processo, necessariamente, Conscientizar não significa, de ne- ausência de dependência e se refere
de longo prazo e, ao mesmo tempo, nhum modo, ideologizar ou propor ao controle e à capacidade de deci-
diário. Importante também é enten- palavras de ordem. Se a conscientiza- são dos participantes frente à reso-
der que esse processo se insere na ção abre caminho à expressão das in- lução de suas próprias necessidades.
satisfações sociais é porque estas são
história da América Latina. Dessa Lográ-la, contudo, é uma meta que
componentes reais de uma situação
consciência histórica, decorre outro de opressão; se muitos dos trabalha- somente pode ser alcançada por
entendimento: não somos nós, edu- dores recém alfabetizados aderiram meio da abertura de espaços para
cadores populares do ano 2000 (ou ao movimento de organização dos o fortalecimento do poder popular
aqueles da década de 1960-1980), sindicatos é porque eles próprios per- (Garcia, 1984). Aquele que não
os pioneiros dela, nem somos os ceberam um caminho legítimo para acredita em sua própria capacidade
que têm a tarefa de concretizá-la por a defesa de seus interesses e de seus não se encontra em condições de agir
completo. “Paciência impaciente”, companheiros de trabalho (Weffort in autonomamente em busca de uma
alerta Freire (1977). Além desse as- Freire, 1980, p. 12). melhor qualidade de vida.
pecto, mesmo a transformação social A Educação Popular almeja que
avaliada por qualquer grupo ou setor Manfredi (1984) chama atenção as pessoas envolvidas no processo
social como prioritária, se levada a também para o caráter eminente- educativo se apropriem do co-
cabo por processos desumanos, torna- mente histórico da Educação Po- nhecimento produzido com a sua
se desumana. Não há fins libertadores pular, uma vez que suas atribuições vivência em experiências sociais e
que justifiquem meios opressores, devem ser construídas sempre em em reflexões fomentadas por elas.
novamente nos lembra Freire (1977). função das necessidades específicas A formação teórico-prática, que
A opressão e injustiça sociais foram contextualizadas num período histó- pretende desenvolver a Educação
construídas historicamente e somente rico e político. Popular, apoia-se fortemente no
dentro dessa perspectiva podem ser Por fim, ainda tratando da ampli- fato de que as camadas populares
transformadas. tude da questão da transformação devem adquirir a capacidade de
Origina-se aí a forte implicação social almejada pela Educação pensar por si mesmas (Jara, 1994).
política investida à Educação Po- Popular, é de suma importância ter À medida que refletem sobre sua
pular. Já que ela parte de programas em conta a articulação entre teoria e realidade e tomam consciência
nos quais a participação e a cons- prática. O discurso teórico utilizado dos diferentes condicionantes de
cientização populares são as molas na Educação Popular, talvez em sua vida, podem articular melhor
propulsoras, objetivam-se mudanças função, exatamente, dos limites que as possíveis ações em direção à
concretas na realidade social dentro impedem o alcance de uma mudança mudança desse contexto.
de um determinado momento histó- social efetiva, muitas vezes, não se Como afirma Garcia (1984, p.
rico, entendendo-se que essas mu- concretiza na prática. Para tanto, é 91), “o fundamental da Educação
danças se inserem em projeto social necessário revalorizar a prática para Popular é a autonomia popular no
maior e mais longo. Para Puiggrós descobrir suas próprias riquezas, e fazer e no dizer”. Essa autonomia
(1994), uma das maiores virtudes do projetar-se para além do discurso. se adquire com o aumento do poder
pensamento de Freire foi exatamente Somente dessa maneira pode-se das camadas populares e acontece
o de haver destacado a questão po- avançar rumo a estratégias mais quando as pessoas se encontram,
lítica nos processos educativos, não adequadas de ação. se reconhecem como iguais e se

140 8
Freire (1984, p. 137) afirma que: É preciso estarmos vigilantes com relação às insinuações feitas, às vezes, ingenuamente, às vezes, astutamente,
no sentido de nos convencer de que a alfabetização é um problema técnico e pedagógico, não devendo por isso, ser “misturada com a política”.
Esse pensamento permeia toda a obra de Freire, como se demonstra em outra passagem: [...] nós, educadores-educandos do Povo, devemos estar
cada vez mais claros com relação à nossa opção política e vigilantes quanto à coerência entre a opção que proclamamos e a prática que realizamos.
Claros no que diz respeito ao em favor de que e de quem trabalhamos, em educação.

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percebem analisando o mundo que de preocupação com uma relação ba-


as cerca. significado, por acreditar no ho- seada em trocas de conhecimentos e
Quanto maior a conscientização, mem e em suas possibilidades, por enriquecimento interpessoal. Entre-
acreditar que somente chego a ser eu
na concepção freiriana do termo, tanto, o que marca essa concepção,
mesmo quando os demais chegam a
maior a possibilidade de autonomia ser eles mesmos.
principalmente, é a crença em uma
das pessoas envolvidas no processo relação que parte da consciência
educativo: Esse diálogo, portanto, se contra- de nossa inconclusão como seres
põe à prescrição, em que um fala da humanos que somos, curiosos por
A conscientização implica que ul- saber mais e melhor:
realidade ao outro e há o predomínio
trapassemos a esfera espontânea de
apreensão da realidade para chegar- da sonoridade domesticadora das
[...] conhecer não é o ato, através do
mos a uma esfera crítica na qual a palavras desse falante. Esse modo
qual um sujeito transformado em ob-
realidade se dá como objeto cog- de educar não passa, em uma inter- jeto, recebe, dócil e passivamente, os
noscível e na qual o homem assume pretação simplista, de um monólogo. conteúdos que outro lhe dá ou impõe.
uma posição epistemológica. [...] A A esse tipo de educação, baseada na O conhecimento, pelo contrário, exige
conscientização é um compromisso transmissão de conhecimentos de um uma presença curiosa do sujeito frente
histórico (Freire, 1980, p. 26). professor que sabe a um aluno que ao mundo. Requer sua ação transforma-
não sabe, Freire (1977) dá o nome de dora sobre a realidade. Demanda uma
A Educação Popular, portanto, educação bancária, na qual a única busca constante. Implica invenção e
orienta-se para o incremento de reinvenção (Freire, 1979b, p. 11).
possibilidade de ação permitida aos
atividades que oportunizem às pes- estudantes é a de receber os depósitos,
soas ampliar seus conhecimentos, de Compartilhamento
guardá-los e arquivá-los. Nesse tipo
modo a fomentar, organizar e propi- de educação, é negada aos alunos a
de saberes
ciar para si, novas formas de resolver participação efetiva na construção
seus próprios problemas, de maneira Como o exposto, o conhecimento,
do saber; não há criatividade, não há
independente e reflexiva. Manfredi na Educação Popular, não é algo
transformação, enfim, não há saber,
(1984, p. 56) salienta que ela se re- passível de ser depositado por um
pois “Só existe saber na invenção, na
aliza por intermédio de práticas de grupo de detentores do saber em
reinvenção, na busca inquieta, impa-
educação articuladas com suas lutas outro que não o possui. A prática
ciente, permanente, que os homens
específicas e promovidas pelos seus educativa aponta para um processo
fazem no mundo, com o mundo e com
próprios intelectuais orgânicos9. de intervenção em que os distintos
os outros” (Freire, 1977, p. 66).
A Educação Popular não repre- saberes – do educando e do educador
Ademais, Freire (1979a) afirma
senta uma receita ou fórmula a ser – se contrapõem e se complemen-
que uma relação verdadeiramente
vendida às pessoas; o objetivo é que tam. O conhecimento, portanto, é
dialógica não é possível, se não
o conhecimento seja construído con- elaborado por meio desse processo
existe amor pelos educandos. As
juntamente, no diálogo. De acordo dialógico.
possibilidades do amor autêntico
com Jaspers (in Freire, 1979a, p. Essa relação, na busca de evitar
crescem na medida em que se su-
32), o diálogo é: formas de autoritarismo e domina-
peram os padrões senhor-escravo
ção, exige um novo tipo de educador.
(Freire, 1979a, p. 12)10.
[...] o caminho indispensável não Para Freire (1979b, p. 11):
Na relação educativa, o que Freire
somente para as questões vitais para
(1979b) chama de amor aparece
nossa ordenação política, senão em [...] no processo de aprendizagem,
todos os sentidos de nosso ser. So- também na concepção de diferentes somente aprende verdadeiramente,
mente pela virtude de acreditar, sem autores, em forma de respeito pelo aquele que se apropria do aprendido,
embargo, tem o diálogo estímulo e outro, de humildade com relação às transformando-o em apreendido,
limitações do próprio investigador,

9
Gramsci (1979, p. 3) afirma que cada grupo social, nascendo no terreno originário de uma função essencial no mundo da produção econômica,
cria para si, ao mesmo tempo, de um modo orgânico, uma ou mais camadas de intelectuais que lhe dão homogeneidade e consciência da própria
função, não apenas no campo econômico, mas também no social e no político.
10
Freire (1979a, p. 12), ao referir-se ao amor e à educação, afirma que “o encontro dialógico só se realiza com a presença imanente do amor, mas 141
um amor varonil capaz de um ato de valentia. Amar é difícil já que compromete a toda a existência; é um atuar de sujeitos, não de objetos; portanto
o covarde não é capaz de amar. Os homens amam porque se fazem presentes, se fazem sujeitos do ato de amar e este é um ato a mais que envolve
todo o ser, não é um mero ato de possessão. Se não há amor pelos educandos não poderá haver diálogo”.

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Valéria Oliveira de Vasconcelos, Maria Waldenez de Oliveira

social, bem como o dinamismo e a conhecimentos. Com isso, é desejá-


com o que pode, por isso mesmo, rein- complexidade que o caracterizam. vel que o educando, como sujeito da
ventá-lo; aquele que é capaz de aplicar Torna-se necessário enfocar a im- educação, envolva-se num processo
o aprendido-apreendido, às situações
portância da superação do conhe- de reflexão e de conscientização
existenciais concretas. Pelo contrário,
cimento parcial da realidade, bem sobre suas próprias experiências e
aquele que é “enchido” por outro, de
conteúdos cuja inteligência não perce- como das aparências, sem chegar à vivências:
be, de conteúdos que contradizem sua realidade em si. A constante refle-
própria forma de estar no mundo, sem xão e teorização, exigidas por essa O que se deve fazer é propor ao povo
que seja desafiado, não aprende. prática educativa, deve permitir a sua situação existencial, concreta,
transposição da aparência exterior presente, como um problema que, por
Dessa forma, é imperativo que o isso mesmo, o desafia e assim exige
em direção a suas causas internas,
dele uma resposta. Esta resposta,
educador valorize o conhecimento estruturais e históricas; precisa,
por sua vez, tende a ser dada não
do outro, e, principalmente, que também, buscar uma visão global da somente a nível intelectual senão de
parta dele para planejar um progra- realidade, mediante o entendimento ação. Isso se deve a que, ao propor-se
ma de trabalho. Essa concepção de de cada fenômeno particular que o uma situação existencial, concreta,
educador aproxima-se da visão de relaciona com a totalidade social, como um problema, sua tendência
intelectual orgânico, como denomina num momento histórico concreto é organizar-se reflexivamente para a
Gramsci (1979, p. 8): (Jara, 1994). captação do desafio. Ao organizar-se
A compreensão das manifestações reflexiva e criticamente, se orienta
O modo de ser no novo intelectual para a ação também crítica sobre o
do saber do outro é tarefa primordial
não pode mais consistir na eloquên- desafio (Freire, 1979a, p. 56).
nas relações interpessoais que se
cia, motor exterior e momentâneo travam no interior dessa perspectiva
dos afetos e das paixões, mas num Essa dialética entre teoria e prá-
metodológica. Como afirma Johnson
imiscuir-se ativamente na vida prá- tica é uma constante nos processos
tica, como construtor, organizador,
(in Martinic, 1994, p. 73) “o conheci-
educativos baseados na Educação
persuasor permanente, já que não mento que os camponeses têm de seu
Popular e, em função disso, sua
apenas orador puro. meio e das alternativas possíveis para
metodologia não pode apoiar-se em
sua melhor utilização é muito mais
modelos rígidos e pré-determinados.
É da relação estabelecida entre amplo que as possibilidades que têm
É preciso considerar que a metodolo-
esse intelectual orgânico e os grupos para poder adaptá-los”.
gia não é simplesmente um conjunto
populares, portanto, que ocorre a A Educação Popular necessita,
de técnicas, mas uma concepção
produção de conhecimentos: portanto, de todos os tipos de co-
nhecimento: os provenientes das de trabalho fortemente apoiada na
instituições acadêmicas, os emer- compreensão da relação ser humano
O elemento popular “sente”, mas
nem sempre compreende ou sabe: o gidos do saber e da cultura popu- – sociedade – cultura – educação.
elemento intelectual “sabe”, mas nem lar e aqueles advindos da relação Como afirma Vasconcelos (in Can-
sempre compreende ou sobretudo educando-educador. Essa formação dau, 1995, p.100):
“sente” [...] o erro do intelectual con-
compromete-se com um processo
siste em crer que ele pode saber sem Se a prática educativa é condicionada
permanente e sistemático, em que
compreender e, sobretudo, sem sentir pela situação histórica que caracteriza
e sem se apaixonar (não somente pelo são fundamentais os espaços para a a sociedade, num espaço e tempo
saber, mas pelo objeto do saber). [...] reflexão sobre sua prática. determinados, ela pressupõe uma
não se pode conseguir fazer política proposta que visa à manutenção ou
e história sem essa paixão, ou seja, transformação dessa mesma socieda-
sem essa conexão sentimental entre Formação de educadores de. Nesta perspectiva a metodologia
os intelectuais e o povo-nação (Piotte populares que se utiliza para concretizar essa
in Manfredi, 1984, p. 57). proposta necessariamente servirá a
essa mesma finalidade.
Além disso, os fenômenos sociais Processos metodológicos
nem sempre são como aparentam ser, A metodologia deve estar funda-
ou seja, a realidade social não é a A metodologia da Educação Po- mentada em uma concepção teórica
142 aparência social. Assim, no processo pular tem como ponto de partida a que a sustente. As técnicas, em si
de construção do conhecimento, é participação, mediatizada pelo diálo- mesmas, representam apenas instru-
preciso considerar essa opacidade go, com vistas à construção de novos mentos, dispositivos provocadores,

Educação Unisinos
Educação Popular: uma história, um que-fazer

acionadores de processos de reflexão Feuerbach, a prática (ou a práxis) é, ao A coerência entre os diferentes
e de análise, de construção coletiva mesmo tempo, fundamento do conhe- conteúdos é também um aspecto
de conhecimento, pontas da episte- cimento e o critério de sua verdade11. importante na Educação Popular.
mologia que as sustenta. O caráter Por fim, a metodologia em que No seminário realizado em Cuba (in
participativo de um projeto educativo se fundamenta a Educação Popular Gadotti e Torres, 1994, p. 300)12, edu-
se define, fundamentalmente, pela compromete-se com a procura de cadores populares de quinze países
organização e pela concepção global uma conceitualização organizadora latino-americanos e caribenhos dis-
do processo educativo, mais que das distintas dimensões da realidade cutiram variados temas relacionados
pela mera utilização de estratégias de um modo coerente e, além disso, ao assunto em questão. As seguintes
inovadoras. com a permanente rejeição ao secta- reflexões podem ser vistas em um
A estruturação metodológica rismo, já que a totalidade social não trecho do artigo desse seminário:
do trabalho parte da definição dos é sectária.
objetivos que pretendem ser atin- Uma contribuição interessante
gidos. Reiterando, os objetivos na A tematização na tarefa de articular conteúdos de
Educação Popular são construídos forma sistemática é o do denomi-
Apesar de a Educação Popular nado eixo temático, que é o eixo
com os participantes e não para eles,
não ter base em uma visão conteudis- articulador entre um ou vários temas
conformando-se em um processo
ta do processo ensino-aprendizagem, gerais e as particularidades. O tema
permanente de reflexão crítica da
a definição e organização de conte- geral ou temas gerais são as formu-
realidade.
údos são de suma importância para lações globais, e os eixos temáticos
Assim, os objetivos são estabe-
a consecução eficaz do trabalho. se mantêm durante todo o processo.
lecidos a partir de uma investigação
Não se refere, como já exposto, a
sobre os problemas levantados pelos Desse modo, podem-se ter melhores
um receituário a seguir rigidamente,
grupos populares (leitura de mundo), possibilidades de conseguir que os
mas a uma construção conjunta de
sobre as características intrínsecas processos de aprendizagem e produ-
diretrizes norteadoras do processo
que possuem as pessoas que o con- ção de conhecimento se inscrevam
educativo. Sua natureza deve ser
formam (sua maneira de ser e de estar realmente no dinamismo da lógica
sistemática e científica e, por conse-
no mundo, bem como em função do dialética. Para poder levar adiante
guinte, estar intimamente relaciona-
tempo que se dispõe para tal inter- essa alternativa, é necessário ter em
da aos objetivos propostos.
venção (Jara, 1994). conta a estruturação de uma proposta
Ao se definir um conteúdo, é es-
A metodologia precisa ser flexível coerente e factível.
sencial pensar, também, no tratamen-
o suficiente para atingir os objetivos to que se vai dar ao tema em questão,
A definição de um eixo temático
propostos. Uma educação diretiva é assim como em sua sistematização permite uma maior flexibilização dos
incompatível com a Educação Po- e aplicação dentro de uma realidade conteúdos, e atende, dessa forma, às
pular, já que elimina a possibilidade concreta. O conteúdo está, invaria- diferentes demandas surgidas no pro-
do diálogo, elemento crucial neste velmente, relacionado à problemáti- cesso ensino-aprendizagem. É preciso
processo educativo. ca levantada pelos grupos populares lembrar que o grupo beneficiário da
Os resultados da Educação Popular e direcionado a uma possibilidade Educação Popular não é homogêneo
são tão importantes quanto o proces- de ação. Com isso, o tratamento que – assim como não o é nenhum grupo
so; a metodologia precisa ser coerente social –, pelo contrário, se caracteriza
se dá a cada um desses conteúdos
por uma grande complexidade inter-
com o resultado que se pretende al- está vinculado à compreensão que
na. Reconhecer essa heterogeneidade
cançar. A avaliação desses resultados as pessoas envolvidas na atividade pode assinalar um lugar importante
se faz pela própria prática. tenham destes. Por essa razão, um para a Educação Popular como edu-
Como afirmou Marx (Marx e mesmo conteúdo pode ser abordado cação para a diferença.
Engels, 1984), em suas teses sobre de distintas formas.

11
Sobre esse tema, Vázquez (1977, p. 153) afirma que “Marx colocou a prática como fundamento do conhecimento ao repelir a possibilidade de
conhecer à margem da atividade prática do homem e ao negar também a possibilidade de um verdadeiro conhecimento se o objeto é considerado
como mero produto da consciência. Conhecer é conhecer objetos que se integram na relação entre o homem e o mundo, ou entre o homem e a
natureza, relação que se estabelece graças à atividade prática humana”. Mais ainda: “O critério de verdade está na prática, mas só se o descobre 143
numa relação propriamente teórica com a prática mesma“ (Vásquez, 1997, p.157).
12
Parte das conclusões do Seminário Educação Popular e Processos de Libertação na América Latina e Caribe, realizado em Havana, 1988 (in Gadotti
e Torres, 1994, p. 295-318).

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O papel do educador seres humanos, somos diversos e é um dos aspectos que diferencia
também inconclusos. Assim, por a Educação Popular da educação
Em função da herança de um tipo mais que saibamos sobre nós, sobre bancária. O agir do educador esta
de educação, centrada no saber do o outro, sobre o mundo, sempre pautado em sua sólida formação
professor e dirigida por este, é pre- haverá algo que desconhecemos teórico-prática e científica, que per-
ciso que tomemos sérios cuidados, (Brandão, 1984). Educador e edu- mite a coordenação de um processo
ao reportarmo-nos ao papel que cando assumem, nesse processo de educativo que construa cada vez
desempenha o educador na Educação conscientização e transformação, mais a autonomia dos educandos. A
Popular, tanto pelo risco do diretivis- tarefas específicas e diferentes. tarefa do educador, por conseguinte,
mo, como por seu oposto, ou seja, a Isso não quer dizer que o processo é orientar práticas educativas que
ausência completa de direção. educativo seja uma via de mão única: permitam desencadear em seus edu-
Freire (1977) criticava a educação do educador para o educando. Ambos candos uma visão mais integral dos
bancária, exatamente por centrar a aprendem com o conhecimento e o problemas que enfrentam, buscando
importância do ensino da figura do saber do outro. Existe, todavia, uma uma maior compreensão do contexto
professor. diferenciação entre seus papéis no plano social, político, econômico, histórico
A Educação Popular não é o oposto pedagógico e a ausência dessa distinção em que estão envolvidos, em direção
da educação bancária, o outro lado pode levar a um imobilismo por falta de à transformação dessa realidade. Seu
da moeda, ou seja, uma educação condução e de aportes ao processo. desafio é ajudar a unir, em uma mes-
centrada plenamente no educando, O educador, na Educação Popular, ma ação, dois aspectos: o subjetivo
que delega ao professor uma posição desempenha um papel fundamental, (individual e pessoal, existencial) e o
meramente figurativa. Entendê-la tanto no desenho metodológico, do grupo (necessidades grupais).
assim seria desvalorizar o saber de como em sua aplicação efetiva. Cabe Desse modo, a formação do edu-
um dos pólos da relação dialógica, a ao educador a responsabilidade por cador é de suma importância para
qual deve permear toda a atividade coordenar as reflexões do grupo e a sua atuação no campo da Educação
educativa. Sem um desses pólos, a organização do trabalho como um Popular. Coerentemente com a ação
possibilidade construção conjunta de todo. Sua função é ativa, não é me- esperada deste educador, sua forma-
conhecimentos fica bastante compro- ramente dar a palavra. Ele orienta o ção deve pautar-se na participação, no
metida. Nesse contexto, o educador é debate, questiona o que se afirma no conhecimento contextualizado da re-
quem detém conhecimentos teóricos e grupo, centra a discussão dentro do alidade, no respeito pela diversidade,
práticos fundamentais para o processo tema tratado, sintetiza o conjunto de na crítica e na autocrítica, na natureza
ensino-aprendizagem, estes recorta- opiniões e devolve-o ao grupo para ética das relações interpessoais e,
dos por suas histórias, experiências de seguir aprofundando os estudos e as principalmente, na reflexão sobre as
vida, classe social e escolaridade. reflexões (Jara, 1994, p. 109). ações. Segundo Gadotti e Torres:
A horizontalidade permeia o É importante sublinhar o caráter de
discurso da Educação Popular. É intervenção que tem qualquer experiên- A universidade não cumpre atualmente
necessário, entretanto, não confundir cia de Educação Popular. Isso significa esta função capacitadora com ênfase
horizontalidade com invisibilidade que se atua intencionalmente em uma na contextualização. Independente-
da diversidade. É exatamente a mente dos conteúdos que ensina, ela
realidade, com o fim de produzir mu-
não faz nem a crítica de sua teoria
consciência das diferenças de classe, danças ou resultados em uma direção
do aprendizado (o modo de produção
de escolaridade e de cultura que nos geralmente determinada com antecipa- do conhecimento), nem a crítica da
permite os movimentos necessários ção, e coletivamente. O educador atua racionalidade científica, a base em que
à horizontalidade. Tomar a todos de um modo especializado, conta com estão estruturadas as distintas profis-
como iguais (ou com um pensamento conhecimentos e métodos úteis para o sões. Isso não nega a eficácia de cada
único) é não perceber a diversidade desenvolvimento do trabalho proposto. profissão dentro dos limites da parcela
em que nossas visões de mundo são Essa atuação não indica que é mais, ou de conhecimentos que se adquire [...]
construídas. Colocar-se solidaria- que tem mais, mas possui um saber Somente quer dizer que com esse tipo
de conhecimento não se chega a uma
mente na construção de um projeto recortado pela técnica desenvolvida
transformação da realidade política
de sociedade não significa anular-se academicamente, que está à disposição que exija uma nova racionalidade e
nem anular o conhecimento que cada na intencionalidade da humanização de
144 um coloca à disposição nesse círcu- todos os envolvidos.
que seja capaz de superar essa frag-
mentação do conhecimento (Gadotti
lo, seja educando seja educador. A A maneira como se realiza a re- e Torres, 1994, p. 289).
igualdade está no fato de que, como lação entre educandos e educadores

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Educação Popular: uma história, um que-fazer

Ademais, existe, em geral, um mente. Metodologias e processos php?op=pagina&subop=1586; acesso


distanciamento entre setores da pedagógicos participativos recebem em: 16/02/2006.
FÁVERO, O. (org.). 1983. Cultura popular,
universidade e os setores populares. incentivos de setores populares e até
educação popular. Memória dos anos 60.
Estes últimos servem comumente de mesmo de políticas públicas, princi-
Rio de Janeiro, Edições Graal, 283 p.
laboratório para a realização de estu- palmente na área de educação, meio FASHEH, M. 1995. Aprendendo a sobreviver
dos científicos descolados do contexto ambiente e saúde. In: C. POSTER; J. ZIMMER (orgs.), Edu-
em que se encontram. Os resultados Cabe a nós – pesquisadores, in- cação comunitária no Terceiro Mundo.
alcançados poucas vezes extrapolam telectuais orgânicos, pessoas de co- Campinas, Papirus, 304 p.
o teórico e raramente trazem contri- munidades engajadas em processos FREIRE, P. 1977. Pedagogia do oprimido. 4ª
de participação e emancipação co- ed., Rio de Janeiro, Paz e Terra, 218 p.
buições efetivas para a mudança do
FREIRE, P. 1979a. Educación y acción cul-
quadro social do grupo. De acordo munitárias – fortalecer e aprofundar
tural. Bilbao, Zero S.A., 121 p.
com Giroux (1990, p. 266): “Se os o olhar sobre a Educação Popular, FREIRE, P. 1979b. ¿Extensión o comunicaci-
intelectuais universitários querem para que ela não se torne mais um ón? La conscientización en el medio rural.
desempenhar um papel ativo contra- elemento apenas do discurso na fala 8ª ed., Madrid, Siglo XXI ed., 109 p.
hegemônico no terreno da política das elites, para que ela não se torne FREIRE, P. 1980. Educação como prática
cultural, terão que deixar de lado sua apenas um elemento de discurso, da liberdade. 11ª ed., Rio de Janeiro, Paz
atitude de intelectuais solitários que muitas vezes presentes em ações e Terra, 150 p.
FREIRE, P. 1984. Quatro cartas aos ani-
se limitam a produzir crítica”. pseudo-participativas.
madores de Círculos de Cultura de São
Para esse autor, a formação de Na incompletude que caracteriza
Tomé e Príncipe. In: C.R. BRANDÃO
futuros educadores orienta-se no os seres humanos, os concretizadores (org.), A questão política da educação
sentido de uma pedagogia crítica: da Educação Popular têm um longo popular. 4ª ed., São Paulo, Ed. Brasiliense,
Uma pedagogia que questione e caminho a percorrer; não podem se p.136-196.
que ponha em relevo a importância contentar apenas com saber só o que FREIRE, P. 2000. Pedagogia da indignação:
de gerar expectativas; uma pedagogia já se sabe, mas precisam engajar-se cartas pedagógicas e outros escritos. São
em pesquisas e trabalhos consistentes Paulo, Editora UNESP, 136 p.
enraizada em uma linguagem de pos-
GADOTTI, M. 1989. Convite à leitura de
sibilidades que aporte as habilidades com vistas a saber e conhecer muito
Paulo Freire. São Paulo, Editora Scipio-
e conhecimentos com os quais seja mais. A conscientização crítica não
ne, 105 p.
possível visualizar um mundo me- é pensada ou dirigida apenas aos GADOTTI, M.; TORRES C.A. 1994. Educa-
lhor, que dê uma participação ativa setores populares, mas a todos que ção popular - Utopia Latino-Americana.
aos grupos subordinados no controle compartilham desse projeto. São Paulo, Cortez Editora, 339 p.
de suas próprias experiências e que Pretendemos, com a discussão GARCIA, P.B. 1984. Educação Popular:
aqui apresentada, lançar ao leitor o algumas reflexões em torno da questão
respeite seus desejos e ambições. Tal
desafio de fazer perguntas a si e aos do saber. In: C.R. BRANDÃO (org.), A
pedagogia aponta para um tipo de questão política da educação popular.
educação na qual o conhecimento e outros, e procurar ecos, de colocar-se
4ª ed., São Paulo, Editora Brasiliense,
o poder estejam vinculados à ideia em postura crítica e criativa e reiterar p. 88-121.
de que o optar pela vida consiste em o grande desafio de comprometer-se GIROUX, H.A. 1990. Los profesores como
entender as condições prévias ne- com os processos de humanização. intelectuales. Hacia una pedagogía crí-
cessárias para lutar por ela (Giroux, tica del aprendizaje. Barcelona, Paidós/
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GRAMSCI, A. 1979. Os intelectuais e a orga-
BEZERRA, A. 1984. As atividades em Educa- nização da cultura. 3a ed., Rio de Janeiro,
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gração dos projetos e redes que des- política da educação popular. 4ª ed., São polis, Vozes, 201 p.
pontam nos países latino-americanos Paulo, Editora Brasiliense, 198 p. JARA, O. 1994. El reto de teorizar sobre la
pode representar um eixo sustentador CANDAU, V.M. (org.). 1995. Rumo a uma práctica para transformarla. In: M. GA-
nova didática. 7a ed., Petrópolis, Vozes, DOTTI; C.A. TORRES (orgs.), Educação
para que os resultados da Educação
179 p. popular - Utopia latino-mericana. São
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micro em direção ao macrossocial.
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Valéria Oliveira de Vasconcelos, Maria Waldenez de Oliveira

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Valéria Oliveira de Vasconcelos


Universidade de Uberaba (UNIUBE)
Programa de Mestrado em
Educação/Instituto de Formação
de Educadores
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Maria Waldenez de Oliveira


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