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18 de outubro de 2006
2
Sumário
Preface 7
I Números Reais 9
1 Primeira Aula 11
1.1 Números Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1.1 Propriedades Aritméticas: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2 Segunda Aula 17
2.1 Caracterização de R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.1 R é um corpo ordenado completo . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1.2 Propriedades de Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.3 Algumas Notações Adicionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 O Axioma Fundamental da Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.2.1 Ínfimos e Supremos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3 Terceira Aula 23
3.1 Definição de Completeza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
3.2 Caracterização de R . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2.1 R é um corpo ordenado completo . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2.2 Q não é um corpo ordenado completo . . . . . . . . . . . . . . 25
3.2.3 Propriedade Arquimediana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
3
4 SUMÁRIO
4 Quarta Aula 29
4.1 Propriedade Arquimediana dos Números Reais . . . . . . . . . . . . . 29
4.2 Conjuntos Enumeráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2.1 Exemplos de Enumeração de Conjuntos de Interesse . . . . . . 31
5 Quinta Aula 37
5.1 Conjuntos Não-Enumeráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
6 Sexta Aula 43
6.1 Exercı́cios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
7 Sétima Aula 49
7.1 Limite de uma Seqüência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
7.1.1 Propriedades do Limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
7.2 Limites Infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
8 Oitava Aula 55
8.1 Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
8.2 Série de Termos Positivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
8.3 Teste da Comparação para Séries de Termos Não-Negativos . . . . . . 58
8.4 Critério de Cauchy para Séries . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
9 Nona Aula 61
9.1 Algumas Séries Especiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
9.2 Propriedades de Séries Convergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
9.3 Séries Absolutamente Convergentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
9.3.1 Testes de Convergência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
10 Décima Aula 69
10.1 Teste de Leibniz para Séries Alternadas . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
SUMÁRIO 5
Objetivo do Curso
Estudar o conjunto R dos números reais bem como as funções reais, em especial
com relação aos conceitos de convergência, continuidade, diferenciação e integração
(em uma variável).
Conteúdo Programático
• Números Reais
• Topologia da Reta
• Limites de Funções
• Continuidade
• A Derivada
• Integral de Riemann
Leituras Sugeridas
• Análise Real (livro-texto), Elon Lages Lima
7
8 SUMÁRIO
Estas notas de aula foram tomadas por Denise Valente dos Santos e por Tiago
Aécio Grangeiro de Souza Barbosa Lima, no curso da graduação do DMAT de
Análise I.
Parte I
Números Reais
9
Capı́tulo 1
Primeira Aula
O que é R?
Intuitivamente, associamos a cada número real um ponto de uma reta;
R ⇐⇒
1
O procedimento usado para se estender Z até Q é definindo uma classe de equivalência usando
pares ordenados, que satisfazem a igualdade através de um condicional, conhecido como “produto
dos meios pelos extremos” pelos alunos do secundário. A passagem não é complicada e pode ser
encontrada nos bons livros de álgebra.
11
12 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA
Diagrama:
Dedekind & Cantor
z}|{
N
|{z} =⇒ Z =⇒ Q =⇒ R
Axiomas de Peano
(x + y) + z = x + (y + z)
x + (−x) = (−x) + x = 0
a+b=a
para algum a, então b = 0 (em particular, daı́ decorre que o elemento neutro da
adição é unicamente determinado).
De fato, se a + b = a
Por P3.: −a + (a + b) = −a + a = 0
Por P1.: (−a + a) + b = 0
Por P3.: 0 + b = 0
Por P2.: b = 0
3
Essa operação pode ser definida como uma função s : R × R → R, definida por s(a, b) = a + b.
14 CAPÍTULO 1. PRIMEIRA AULA
x+y =0
então y = −x.
−x + x + y = −x + 0
0 + y = −x
y = −x
x+y =y+x
x.1 = 1.x = x,
x.y = y.x
i. Se xy = 0, então x = 0 ou y = 0
Segunda Aula
2.1 Caracterização de R
17
18 CAPÍTULO 2. SEGUNDA AULA
No caso (ii.) dizemos que x é positivo e no caso (iii.) dizemos que x é negativo.
Note que estas três propriedades nos permitem definir uma relação de ordem
em K, isto é, se x, y ∈ K escrevemos x > y (ou y < x) se x − y ∈ P. Observe que
se x, y são elementos quaisquer de K, exatamente uma das seguintes possibilidades
ocorre:
i. x = y,
ii. x < y,
iii. x > y, (Lei de Tricotomia)
1
De fato, a existência dessa tripartição muitas vezes não é possı́vel em muitos corpos, embora
pareça ser incrivelmente simples. Você poderia tentar verificar que o conjunto C dos números
complexos não permite uma tripartição disjunta como a definida aqui.
2.1. CARACTERIZAÇÃO DE R 19
Transitividade:
Se x ∈ K,
½
−x se x≤0
| x| =
x se x>0
• se x > 0, | x| = x > 0
• se x < 0, | x| = −x > 0
Intervalos
Propriedades do Módulo
ii. | x + y| ≤ | x| + | y|
| x + y|2 = (x + y)2
= x2 + 2xy + y 2
= | x|2 + 2xy + | y|2
≤ | x|2 + 2 | xy| + | y|2
= | x|2 + 2 | x| | y| + | y|2
= (| x| + | y| )2
2
| x + y| ≤ (| x| + | y| )2
Prova de iv.
Com efeito, a2 = b2 ⇒ a2 − b2 = 0 ⇒ (a − b)(a + b) = 0. Logo, a = b ou
a = −b.
Se x ≥ 0, dizemos que a ≥ 0 é raiz quadrada positiva de x se x = a2 . Note que
provamos
√ que a raiz quadrada positiva de x, se existir, é única. Escrevemos então
a = x.
3
Números que podem ser obtidos por contruções geométricas com régua não-graduada e com-
passo.
4
Prove.
Capı́tulo 3
Terceira Aula
23
24 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA
3.2 Caracterização de R
Ínfimos
• N = {1, 1 + 1, 1 + 1 + 1, . . .};
Note que os elementos 1, 1 + 1, 1 + 1 + 1, . . . são distintos dois a dois.
3.2. CARACTERIZAÇÃO DE R 25
De fato, se
|1 + 1 + 1{z+ . . . + 1} = 1| + 1 +
{z. . . + 1}
n m
com n 6= m,
0 = 1| + 1 +{z1... + 1} =⇒ absurdo!
m−n
p = 2k + 1
p2 = 4k 2 + 4k + 1
= 2(2K 2 + 2k) + 1 =⇒ ı́mpar!
p2 = 2q 2
4k 2 = 2q 2
q 2 = 2k 2
Logo, pelo mesmo argumento acima, q 2 é par, o que implica q par : contradição!
A propriedade P13. não vale em Q (Q não é completo no sentido definido
acima). Duvida?! Siga o exercı́cio abaixo!
26 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA
Exercı́cio. Seja A = {a ∈ Q | a2 < 2}. Prove que não existe x ∈ Q que é cota
superior mı́nima para A (ou seja, não existe supremo de A). Para isto, justifique os
passos abaixo:
2. Similarmente, dado x ∈ Q+ com x2 > 2, prove que existe y < x com y 2 > 2
(encontre y que satisfaça a afirmação: o y da sugestão anterior funciona?
Prove!)
4. Observe que Q = A ∪ B
• f > g se f − g > 0
Verifique que isto define uma ordem em R(x), e, portanto, R(x) é um corpo
ordenado.
3.2. CARACTERIZAÇÃO DE R 27
1
De fato, x > n pois x − n > 0. Logo, 1/x < 1/n .
28 CAPÍTULO 3. TERCEIRA AULA
Capı́tulo 4
Quarta Aula
29
30 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA
• Suponha que y > 0 (y ∈ R). Vamos provar que y não é cota inferior para X .
De fato, caso contrário, terı́amos
1
0<y≤ , ∀n∈N
n
e, portanto,
1
≥ n, ∀n∈N
y
isto é, 1/y seria cota superior para N =⇒ absurdo! (por i.)
Observação: Um corpo ordenado K que satisfaça às propriedades i., ii. e iii.
é dito ser um Corpo Arquimediano.
Note que provamos que um corpo ordenado completo é arquimediano (o in-
verso, no entanto, não é obrigatoriamente verdade: um corpo pode ser arquimediano
sem ser completo).
Exemplo: Q é arquimediano mas não é completo;
Já R(x) não é arquimediano (em particular, não é completo).
f :A→B
Note que,
A ∼ A,
A ∼ B ⇒ B ∼ A,
A ∼ B e B ∼ C ⇒ A ∼ C.
Logo, “cardinalidade”, no sentido definido aqui, é uma relação de equivalência1 .
• infinito, enumerável se A ∼ N;
Exemplo. Z ∼ N.
De fato,
N : 1 2 3 4 5 ...
Z : 0 1 −1 2 −2 ...
Segue que Z é enumerável.
1
Diz-se que uma relação é de equivalência se ela apresenta como caracterı́sticas a simetria, a
reflexividade e a transitividade. Outro exemplo de relação de equivalência é a igualdade (verifique!).
2
Embora possa parecer recursivo, essa definição é suficiente para definir um conjunto infinito.
3
Aqui, o livro-texto não faz distinção entre conjunto finito e infinito enumerável, definindo
conjunto enumerável se ele for finito ou puder fazer bijeção com N.
32 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA
X = {x1 , x2 , x3 , ...}.
f (g(y1 )) = f (g(y2 )) =⇒ y1 = y2
Exemplo: N × N é enumerável.
N × N = {(m, n) | m, n ∈ N}
Note que f é injetiva: se 2m1 3n1 = 2m2 3n2 , pela unicidade da fatoração,
(m1 , n1 ) = (m2 , n2 ). Do que já provamos anteriormente, f sendo injetiva, segue
que N × N ∼ N.
Teorema 5. Se X e Y são no máximo enumeráveis, então X × Y é no máximo
enumerável.
é no máximo enumerável.
Demonstração.
X1 Ã x11 x12 x13 . . .
X2 Ã x21 x22 x23 . . .
X3 Ã x31 x32 x33 . . .
.. .. .. .. ..
. . . . .
X ∼I∼N⇒X ∼N
Exemplo: Q é enumerável.
Q = Q+ ∪ {0} ∪ Q−
(a, b) → a/b
4
Para provar tal afirmação, usamos o método da diagonal de Cantor, que será o assunto da
próxima aula.
36 CAPÍTULO 4. QUARTA AULA
Capı́tulo 5
Quinta Aula
ai = 1 se cii = 0
ai = 0 se cii = 1
37
38 CAPÍTULO 5. QUINTA AULA
1
Escreva mais claramente os detalhes.
5.1. CONJUNTOS NÃO-ENUMERÁVEIS 39
Teorema 9. R é não-enumerável.
I1 ⊃ I 2 ⊃ I 3 ⊃ . . . ⊃ I n ⊃ . . .
então c ∈
/ Im(f ), já que para c = f (n), terı́amos c ∈
/ In .
Construção dos In :
Tome I1 = [a1 , b1 ], com f (1) < a1 .
• Se f (2) ∈
/ I1 , defina I2 = I1
• Se f (2) ∈ I1 , então
· ¸
a1 + f (2)
– se a1 < f (2), tome I2 = a1 ,
2
· ¸
f (2) + b1
– se a1 = f (2), tome I2 = , b1
2
• Se f (n + 1) ∈
/ In , ponha In+1 = In
• Se f (n + 1) ∈ In então
· ¸
an + f (n + 1)
– se an < f (n + 1), tome In+1 = an ,
2
· ¸
f (n + 1) + bn
– se an = f (n + 1), tome In+1 = , bn
2
Demonstração. Basta provar que todo intervalo aberto (a, b), com a < b, é não-
enumerável. De fato, vamos provar que (a, b) tem a mesma cardinalidade de R.
Lema 1. Dados a, b ∈ R com a < b, existe c ∈ Q tal que a < c < b. Dizemos que
Q é denso em R.
2
Escreva os detalhes!
3
Observe que f (g(y)) = y, ∀ y ∈ (−1, 1) e g(f (x)) = x, ∀ x ∈ R.
4
O caso em que a e b são racionais é mais elementar ainda: tome a média geométrica entre eles.
5.1. CONJUNTOS NÃO-ENUMERÁVEIS 41
É claro que
∞
[
Im = R
m∈ Z
Demonstração. (*)
Sexta Aula
6.1 Exercı́cios
Exercı́cio. Seja A subconjunto de R um conjunto limitado inferiormente. Provar
que existe o ı́nfimo de A.
logo,
−c ≤ a, ∀a∈A
ou seja, −c é cota inferior para A
x ≤ a, ∀a∈A ⇐⇒ −a ≤ −x
43
44 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA
Temos ainda,
c ≤ −x ⇐⇒ x ≤ −c
−c = inf(A)
A ∪ B = Q+
1. Dado x ∈ A, existe y ∈ A tal que x < y (prova que não pode haver uma cota
superior para A em A. Se tal cota existir ela terá que pertencer a B).
Tome y = (2x + 2)/(x + 2).
Suponha, por contradição, que existe c = sup (A), e que c ∈ A. Como c é cota
superior para A, isso contradiz 1. Logo c ∈ B 2 .
Mas por 2. existe y < c , com y ∈ B.
Conclue-se que y também é cota superior para A.
Assim, c não é a menor cota superior para A, contradizendo c = sup (A).
1
Escreva os detalhes.
2
y ≥ a, ∀ a ∈ A, pois se houvesse a ∈ A satisfazendo y < a =⇒ y 2 < a2 < 2 =⇒ y 2 < 2
e, ao mesmo tempo, y 2 > 2 =⇒ contradição!
6.1. EXERCÍCIOS 45
1. c ∈ C
2. c ∈ D
3. c2 = 2
Demonstração. Prove!
Exercı́cio. Um número real x é algébrico se existirem a0 , a1 , . . . , an ∈ Z, não todos
nulos, tais que
a0 + a1 x + . . . + an xn = 0
Complete os detalhes.
46 CAPÍTULO 6. SEXTA AULA
Parte II
Convergência de Sequências e
Séries
47
Capı́tulo 7
Sétima Aula
49
50 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA
Como α−² não é cota superior para X , existe um termo xn0 tal que α−² < xn0 .
Como a seqüência é não-decrescente,
α − ² < x n 0 ≤ xn o + 1 ≤ . . . ≤ α + ²
Termos Destacados
1. D é infinito:
2. D é finito:
Se D = {n1 , n2 , ..., nk } é um conjunto finito, chame de N1 o maior elemento
de D. Como xN1 não é destacado, existe N2 > N1 tal que xN2 > xN1 . Como
xN2 não é destacado, existe N3 > N2 tal que xN3 > xN2 , e assim por diante.
Assim, obtemos uma seqüência crescente
Em ambos os casos vemos que (xn ) admite seqüência monótona. Como (xn ) é
limitada, esta seqüência monótona também é limitada e portanto converge para o
teorema anterior.
M −1
Dado M , existe n tal que an > M . Para ver isso, basta tomar n > .
d
Portanto a seqüência (an ) não é limitada.
1
iii. Se 0 < a < 1, então > 1. Vamos provar que lim an = 0.
a
1
Seja dado ² > 0. Considere M = .
²
µ ¶ n0
1 1
Por ii., existe n0 tal que > ou an0 < ².
a ²
Como 0 < a < 1, temos
0 < ... < a3 < a2 < a
Logo,
0 < an < ² para n > n0 =⇒ | an − 0| < ², n > n0
E isto é o mesmo que
lim an = 0
52 CAPÍTULO 7. SÉTIMA AULA
Teorema 13. Suponha que lim xn = L1 e lim yn = L2 . Então lim(xn +yn ) = L1 +L2 .
²
Demonstração. Dado ² > 0, tome n1 tal que | xn − L1 | < para n > n1 , e tome
2
²
n2 tal que | yn − L2 | < para n > n2 . Seja n0 = max(n1 , n2 ). Temos então para
2
n > n0 ,
² ²
| (xn + yn ) − (L1 + L2 )| = | (xn − L1 ) + (yn − L2 )| ≤ | xn − L1 |+| yn − L2 | < + = ²
2 2
Portanto lim(xn + yn ) = L1 + L2 .
isto é,
| yn − L| < ² ∴ lim yn = L
7.2. LIMITES INFINITOS 53
0 ≤ | xn yn | ≤ M. | xn |
Oitava Aula
8.1 Séries
Seja (an ) uma seqüência
P de números reais. Entendemos pela seqüência de somas
parciais da série an a seqüência (Sn ) definida por (Sn ) = a1 + a2 + ... + an , isto é,
S1 = a1
S2 = a1 + a2
S3 = a1 + a2 + a3
.. .. ..
. . .
Se a seqüência de somas parciais (Sn ) converge, com lim (Sn ) = S, dizemos que a
n→∞
X∞
P
série an é convergente e escrevemos an = S (S é chamado soma da série). Se
n=1 P
Sn não converge, dizemos que a série an é divergente.
X∞
Exemplo: A série (−1)n = 1 − 1 + 1 − 1 + 1 − 1 + . . . é divergente. A seqüência
n=0
das somas parciais é (Sn ), onde
S1 = 1
S2 = 0
S3 = 1
.. .. ..
. . .
S2k−1 = 1
S2k = 0
.. .. ..
. . .
55
56 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA
k
S2k ≥ 1 + (*)
2
1
Para o caso k = 1, temos S2 = 1 + , sendo verdadeira portanto a afirmação.
2
k−1
Suponha então que S2k−1 ≥ 1 + . Queremos provar que (*) vale.
2
1 1
S2k = S2k−1 + + ... + k
2k−1
| + 1{z 2}
2k−1 1
≥
k
=
2 2
1
Logo, S2k ≥ S2k−1 + .
2
k−1
Pela hipótese de indução, S2k−1 ≥ 1 + , e daı́,
2
k−1 1 k
S2k ≥ 1 + + =1+
2 2 2
k
Como S2k ≥ 1 + , a seqüência (S2k ) não é limitada, e portanto a seqüência
2
P1
(Sn ) não é limitada; conseqüentemente diverge.
n
58 CAPÍTULO 8. OITAVA AULA
P 1
Exemplo: Se P > 1, a série converge. De fato,
nP
1 1 1 1 1 1 1 1
1+ P
+ P
+ P
+ + + + + ... + +...
|2 {z 3 } |4 5P {z 6P 7P} |8 {z 15 }
P
1 1 µ ¶2 µ ¶3
≤ 2. P = P −1 ≤ 4. 1 = 1 1
≤ 8. P =
1
2 2 4P 2P −1 8 2P − 1
X∞ µ ¶n
P 1 1
Vemos que as somas parciais de são limitadas por 1+ =
nP n=1
2P −1
1 1
(Veja que se P > 1 =⇒ P −1 < 1 e faz sentido, portanto, o limite
1 2
1 − P −1
2
anterior).
P 1
Portanto é convergente.
nP ∞
X 1
Observação: Se 0 < P < 1, diverge por comparação com a série harmônica:
n=1
nP
1 1 X 1
≥ ⇒ =∞
nP n nP
P 1 P 1
Exercı́cio. Mostre que a série diverge e se P > 1, converge
n. log n n.(log n)P
P1 P 1
(use argumentos similares àqueles usados para investigar e ).
n nP
P
Proposição 1. Se an é convergente, então lim an = 0.
8.4. CRITÉRIO DE CAUCHY PARA SÉRIES 59
Nona Aula
61
62 CAPÍTULO 9. NONA AULA
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 2 (k − 1)
bn = 1+1+ 1− + 1− 1− +. . .+ 1− 1− ... 1 − +
2! n 3! n n k! n n n
µ ¶µ ¶ µ ¶
1 1 2 (n − 1)
+... + 1− 1− ... 1 −
n! n n n
Veja que bn é uma soma de parcelas positivas, de modo que o número de
parcelas cresce com n, e cada parcela também cresce com n: logo bn é crescente.
Mas
1 1
bn ≤ 1 + 1 + + . . . + ≤e
2! n!
Assim, bn é limitada e crescente, logo convergente. Como bn ≤ e, ∀ n =⇒ lim bn ≤ e.
Fixe k < n, temos
µ ¶ µ ¶µ ¶ µ ¶ µ ¶
1 1 1 1 2 1 1 (k − 1)
bn ≥ 1+1+ 1− + 1− 1− +. . .+ 1− ... 1 −
2! n 3! n n k! n n
Fazendo n → ∞
1 1 1
lim bn ≥ 1 + 1 + + + ... +
2! 3! k!
Logo,
e
z µ }| ¶{
1 1 1
lim 1 + 1 + + + . . . + ≤ lim bn
k→∞ 2! 3! k!
Como
lim bn ≥ e ∧ lim bn ≤ e =⇒ lim bn = e
1 1 1
Seja sn = 1 + 1 + + + ... + .
2! 3! n!
Para n ≥ 1,
1 1 1
e − sn = + + + ...
(n + 1)! (n + 2)! (n + 3)!
· ¸
1 1 1
= 1+ + + ...
(n + 1)! (n + 2) (n + 3)(n + 2)
· ¸
1 1 1 1
< 1+ + + + ...
(n + 1)! (n + 1) (n + 1)2 (n + 1)3
1 1 1 (n + 1) 1
= · ¸= =
(n + 1)! 1 (n + 1)! n n!n
1−
(n + 1)
9.2. PROPRIEDADES DE SÉRIES CONVERGENTES 63
1 1
(*) 0 < e − s10 < < 7 (Veja como o erro cai rapidamente a medida
10!10 10
que se somam mais termos à série!).
Teorema 17. O número e é irracional.
p
Demonstração. Suponha que e = , p, q ∈ N. Considere (*) com n = q.
q
1 1
0 < e − sq < ⇐⇒ 0 < q!(e − sq ) <
q!q q
Mas,
p
q!e = q! = (q − 1)!p ∈ N
q
e µ ¶
1 1 1
q!sq = q! 1 + 1 + + + . . . + ∈N
2! 3! q!
Logo,
q!(e − sq ) ∈ N
Mas 0 < q!(e − sq ) < 1 =⇒ absurdo!
P 1
Considere a série . Veja que
n2
1
n2 − 100n − 70 = n2
1 n2 − 100n − 70
n 2
9.3. SÉRIES ABSOLUTAMENTE CONVERGENTES 65
¯ ¯
¯ 1 ¯
¯ 2 ¯
¯ ¯
e quando n → ∞, essa razão tende para 1. Em particular ¯ n − 100n − 70n ¯ é
¯ 1 ¯
¯ 2
¯
n
limitada.
P 1 P 1
Logo, como 2
é absolutamente convergente, 2
é absolu-
n n − 100n − 70
tamente convergente.
¯ ¯
¯ an+1 ¯
Teorema 19 (2. Teste de d’Alembert). Se an 6= 0 e existe c < 1 tal que ¯ ¯ ¯≤c
a ¯
P n
para todo n suficientemente grande, então a série an é absolutamente convergente.
¯ ¯
¯ an+1 ¯
Demonstração. Por hipótese, existe n0 tal que ¯¯ ¯ ≤ c para n ≥ n0 .
an ¯
Segue naturalmente que
| an0 +1 | ≤ c | an0 |
| an0 +2 | ≤ c | an0 +1 | ≤ c2 | an0 |
| an0 +3 | ≤ c | an0 +2 | ≤ c3 | an0 |
.. .. ..
. . .
k
| an0 +k | ≤ c | an0 |
∞
X P
Como 0 < c < 1, a série geométrica ck é convergente e, portanto, | an0 | ck é
k=0
convergente1 .
Pelo teste da comparação,
∞
X
an0 +k
k=0
P∞
é absolutamente convergente (pois k=0 | an0 +k | é convergente). Isto é,
∞
X ∞
X
an é absolutamente convergente à an é absolutamente convergente.
n=n0 1
1
Nós já haviamos comentado que a série geométrica é usada frequentemente como critério de
comparação para saber se uma determinada série converge ou diverge. Comentamos também que,
embora essa comparação não seja explicita em alguns casos, ela de fato existe. Eis aqui um exemplo
disso.
66 CAPÍTULO 9. NONA AULA
¯ ¯
¯ an+1 ¯
Corolário 3 (Teste da Razão). Suponha que an = ¯
6 0, ∀ n e que lim ¯ ¯=L
n→∞ an ¯
existe. Então
P
i. Se L < 1, an é absolutamente convergente
P
ii. Se L > 1, an é divergente
¯ ¯
¯ an+1 ¯
Demonstração. i. Se L < 1, seja L < c < 1. Então ¯¯ ¯ ≤ c, para n suficiente-
an ¯
mente grande. Logo, o resultado segue do teste de d’Alembert.
¯ ¯
¯ an+1 ¯
¯
ii. Se L > 1, existe n0 tal que ¯ ¯ ≥ 1 para n ≥ n0 . Temos então que
an ¯
| an0 +1 | ≥ | an0 |
| an0 +2 | ≥ | an0 |
| an | ≥ | an0 |
P
se n ≥ n0 , portanto não é verdade que lim an = 0, e daı́ segue quean diverge.
p
Teorema 20 (3. Teste de Cauchy). Suponha
P que existe 0 < c < 1 tal que n
| an | ≤ c,
para n suficientemente grande. Então an é absolutamente convergente.
Demonstração.
P Existe n0 tal que | an | ≤ cn para
P n ≥ n0 . Comparando com a série
2 n
geométrica c (0 < c < 1), vemos que | an | converge (pois é monótona e
limitada).
p
Corolário 4 (Teste da Raiz). Suponha que lim n | an | = L existe. Então:
P
i. Se L < 1, an é absolutamente convergente.
P
ii. Se L > 1, an é divergente.
p
Demonstração. i. Se lim n | an | < 1, então tomando L < c < 1 (por exemplo,
L+1 p
= c), temos que n | an | ≤ c para n suficientemente grande e o resultado
2
segue do teste de Cauchy.
p p
ii. Se lim n | an | > 1, então existe n0 tal que n | an | ≥ 1 para
P n ≥ n0 . Segue
que | an | ≥ 1 para n ≥ n0 . Logo não é verdade que lim an = 0, e an diverge.
Exercı́cio. Prove utilizando algum dos testes anteriores que as seguntes séries são
convergentes.
P n!
1.
nn
P an
2.
n!
P nk
3. , com a > 1
an
Exercı́cio. Comprove que para a série
1 1 1 1 1 1 1
(sn ) = 1
+ 0 + 3 + 2 + 5 + 4 + 7 + ...
2 2 2 2 2 2 2
o teste da raiz mostra que a série é convergente, enquanto que o teste da razão é
inconclusivo 3 .
3
Isso é um indicativo de que, talvez, o teste da raiz seja mais “forte” do que o teste da razão...
68 CAPÍTULO 9. NONA AULA
Capı́tulo 10
Décima Aula
S2 ≤ S4 ≤ S6 ≤ ...
ou seja, S2n é crescente. Temos também que
≤0
z }| {
S2n+1 = S2n−1 −a2n + a2n+1 ≤ S2n−1
S1 ≥ S3 ≥ S5 ≥ ...
ou seja, S2n+1 é decrescente.
Veja que (S2n ) é limitada superiormente por a1 .
69
70 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA
P (−1)n+1
Exemplo: é condicionalmente convergente.
n
P
Estimativa
P Para o Erro da Aproximação de an por uma Soma Parcial,
com an Satisfazendo a Hipótese do Critério de Leibniz
∞
X
Seja S = (−1)n+1 an , com an ≥ 0 e lim an = 0. Se an+1 ≤ an , então | S − Sn | ≤
n=1
an+1 .
Ou seja, o erro da aproximação de S por Sn é menor ou igual a an+1 , caso (Sn )
satisfaça o critério de Leibniz.
10.1. TESTE DE LEIBNIZ PARA SÉRIES ALTERNADAS 71
De fato:
Sn = a1 − a2 + a3 − a4 + ... + an−1 − an
S = a1 − a2 + ... + an−1 − an + an+1 − an+2 + ...
S − Sn = an+1 − an+2 + an+3 − an+4 +...
| {z } | {z }
≥0 ≥0
S − Sn ≥ 0
S − Sn = an+1 − an+2 + an+3 − an+4 + an+5 +...
| {z } | {z }
≤0 ≤0
S − Sn ≤ an+1
∞
X P
Dada uma série S = an , então se ϕ : N → N é uma bijeção, a série bn ,
n=1 P
onde bn = aϕ(n) , é dita um rearranjo da série an .
X (−1)n+1 1 1 1 1 1
Exemplo: Considere a série = 1− + − + − +... . A
n 2 3 4 5 6
1 1 1 1 1 1 1 1 P (−1)n+1
série 1 + − + + − + + − + ... é um rearranjo de .
3 2 5 7 4 9 11 6 n
Quanto vale o limite da série rearranjada?
X∞
(−1)n+1
Chame S = .
n=1
n
1 1 1 1 1 1 1
S = 1− + − + − + − + ...
2 3 4 5 6 7 8
S 1 1 1 1 1
= − + − + − ...
2 2 4 6 8 10
S 1 1 1 1 1
= 0+ +0− +0+ +0− +0+ − ...
2 2 4 6 8 10
3S 1 1 1 1 1
= 1 + − + + − + ...
2 3 2 5 7 4
X X
an 6= aϕ(n) !!!
Vejamos então condições para isso não acontecer.
72 CAPÍTULO 10. DÉCIMA AULA
P P P
TeoremaP 21. P
Se an é absolutamente convergente e bn é um rearranjo de an ,
então bn = an .
Se m = max{ϕ(1), ϕ(2), ..., ϕ(n)} =⇒ {ϕ(1), ϕ(2), ..., ϕ(n)} ⊆ {1, 2, ..., m}
Temos que dado n, existe m tal que tn ≤ sm .
P
Se s = an , então como sm ≤ s, ∀ n, do exposto acima segue que tn ≤ s.
Logo, (tn ) é seqüência monótona limitada, daı́ convergente: se t = lim tn , temos
t≤s
P P
Como an é um rearranjo de bn (via ϕ−1 ) , temos que s ≤ t. A única
possibilidade é, então, s = t.
Considere agora o caso geral.
Chame pn a parte positiva de an e qn a parte negativa de an , isto é,
½ ½
an se an ≥ 0 0 se an ≥ 0
pn = qn =
0 se an < 0 −an se an < 0
Observe que pn , qn ≥ 0.
X∞ X∞ ∞
X
Temos que an = pn − qn .
n=1 n=1 n=1
Demonstração. Fixe α ∈ R.
Seja n1 o menor inteiro tal que P1 + ... + Pn1 ≥ α.
Seja n2 o menor inteiro tal que P1 + ... + Pn1 − Q1 − ... − Qn2 < α.
Seja n3 o menor inteiro tal que P1 + ... + Pn1 − Q1 − ... − Qn2 + P(n1 +1) + ... + Pn3 ≥ α.
Seja n4 o menor inteiro tal que P1 + ... + Pn1 − Q1 − ... − Qn2 + P(n1 +1) + ... + Pn3 −
Q(n2 +1) − ... − Qn4 < α.
P P
É possı́vel fazer isso em cada etapa, pois pn = ∞ e qn = ∞.
De fato, caso contrário terı́amos uma das seguinte situações:
P P
i. pn < ∞ e qn = ∞
Se isso ocorresse, então sendo tn = p1 + ... + pn e un = q1 + ...qn , lim tn existe
e lim un = ∞. Logo, lim(tn − un ) = −∞, P tn − un = Sn = a1 + ... + an e daı́ segue
que lim Sn = −∞, contradizendo que an converge.
P P
ii. pn < ∞ e qn < ∞
P P P P P
Se ocorresse, terı́amos | an | = (pn + qn ) = p n + qn e | an | seria
absolutamente convergente, contradição!
73
74 CAPÍTULO 11. DÉCIMA PRIMEIRA AULA
P P
iii. pn = ∞ e qn < ∞
Análogo ao caso i.
P P
Desta forma obtemos um rearranjo bn da série an :
b1 = p1
.. .. ..
. . .
b n1 = pn1
.. .. ..
. . .
bn1 +1 = −q1
.. .. ..
. . .
bn1 +n2 = −qn2
bn1 +n2 +1 = pn1 +1
Vamos provar que se tn é a n-ésima soma parcial deste rearranjo, então lim tn = α.
Verifique que
0 ≤ tn2 +n3 − α < pn3
0 ≤ tn4 +n5 − α < pn5
Se i é ı́mpar :
Se i é par :
½
Se i é ı́mpar : tni +ni+1 ≤ tn ≤ tni−1 +ni
(***)
Se i é par : tni−1 +ni ≤ tn ≤ tni +ni+1
¯ ¯ ¯ ¯ ¯ ¯
| tn − α| = ¯ tn − tni−1 +ni + tni−1 +ni − α¯ ≤ ¯ tni +ni+1 − tni−1 +ni ¯ + ¯ tni−1 +ni − α¯
(ver (***)). Segue que | tn − α| ≤ | ui+1 − ui | + | ui − α|.
²
Daı́, dado ² > 0, existe K1 tal que se i, j > K1 , | uj − ui | < . Em particular
2
²
| ui+1 − ui | < se i > K1 (pois (ui ), sendo convergente, é de Cauchy).
2
²
Existe K2 tal que se i > K2 , | ui − α| < .
2
² ²
Seja i > max (K1 , K2 ) = k. Se N > nk−1 + nk e se n > N , | tn − α| < + ,
2 2
o que implica que
| tn − α| < ²
P P
Exercı́cio: Expanda o raciocı́nio para bn = ∞ e bn = −∞.
¯ ¯
¯ an+1 ¯
6 0, ∀ n) é tal que lim ¯¯
Teorema 23. Se (an ) (an = ¯ = L então lim √
n a = L.
an ¯
n
√ n
Logo, lim n an = e lim √
∴ n
= e.
n!
√
Exemplo: se xn > 0, ∀ n, e lim xn = a, prove que lim n x1 ...xn = a.
Seja an = x1 ...xn . Temos que
an+1 an+1
= xn+1 =⇒ lim = lim xn+1 = a
an an
√ √
Logo, lim n an = a, isto é, lim n x1 ...xn = a1 .
1
Ou seja, a média geométrica de todos os termos da sequência tende ao limite da sequência.
Parte III
Topologia da Reta
77