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CONCRETO ARMADO I - CAPÍTULO 1

Departamento de Engenharia de Estruturas – EE-UFMG

Fevereiro 2015

MATERIAIS
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1.1 – Histórico

O material composto concreto armado surgiu há mais de 150 anos e se trans-


formou neste período no material de construção mais utilizado no mundo, devido
principalmente ao seu ótimo desempenho, economia e facilidade de produção. Abaixo
são citadas algumas datas históricas, em termos do aparecimento e desenvolvimento
do concreto armado e protendido, conforme Rusch (1981).

1824 – O inventor inglês Joseph ASPDIM recebeu a patente de um produto que vinha
desenvolvendo desde 1811, a partir da mistura, queima e moagem de argila e pó de
pedra calcária retirado das ruas. Este novo material pulverulento recebeu o nome de
cimento portland, devido à semelhança do produto final com as pedras encontradas
na ilha de Portland, ao sul da Inglaterra.

1848/1855 – O francês Joseph-Louis LAMBOT desenvolveu no sul da França, onde


passava suas férias de verão, um barco fabricado com o novo material, argamassa
de cimento e areia entremeados por fios de arame. É considerado o inventor do ferro-
cimento (argamassa armada) que deu origem ao hoje conhecido concreto armado. O
processo de fabricação era totalmente empírico e acreditando estar revolucionando a
indústria naval, patenteou o novo produto já em 1848, apresentando-o na feira inter-
nacional de Paris em 1855. Infelizmente sua patente não fez o sucesso esperado
sendo superada pelas patentes posteriores de outro francês, Monier.
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1861 – O jardineiro (paisagista) e horticultor francês Joseph MONIER foi na realidade


o único a se interessar pela descoberta de seu compatriota Lambot, vendo neste bar-
co a solução para os seus problemas de confinamento de plantas exóticas tropicais
durante o inverno parisiense. O ambiente quente e úmido da estufa era favorável ao
apodrecimento precoce dos vasos feitos até então de madeira. O novo produto além
de bem mais durável apresentava uma característica peculiar: se o barco era feito
para não permitir a entrada de água seguramente não permitiria também a sua saída,
o que se encaixava perfeitamente à busca de Monier. A partir desta data começou a
produzir vasos de flores com argamassa de cimento e areia, reforçada com uma ma-
lha de aço. Monier além de ser bastante competente como paisagista, possuía um
forte espírito empreendedor e viu no novo produto grandes possibilidades, passando
a divulgar o concreto armado inicialmente na França e posteriormente na Alemanha e
em toda a Europa. Ele é considerado por muitos como o pai do concreto armado. Em
1875 construiu no castelo de Chazelet, nos arredores de Paris uma ponte de concreto
armado com 16,5 m de vão por 4m de largura.

1867 – Monier recebe sua primeira patente para vasos de flores de concreto com ar-
maduras de aço. Nos anos seguintes consegue novas patentes para tubos, lajes vi-
gas e pontes. As construções eram construídas de forma empírica mostrando que o
inventor não possuía uma noção clara da função estrutural das armaduras de aço no
concreto.

1877 – O advogado, inventor e abolicionista americano Thaddeus HYATT publicou


seus ensaios com construções de concreto armado. Hyatt já reconhecia claramente o
efeito da aderência aço-concreto, da função estrutural das armaduras, assim como da
sua perfeita localização na peça de concreto.

1878 - Monier consegue novas patentes fundamentais que dão origem a introdução
do concreto armado em outros países.

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1884 – Duas firmas alemãs FREYTAG & HEISDCHUCH e MARSTENSTEIN & JOS-
SEAUX, compram de Monier os direitos de patente para o sul da Alemanha e reser-
vam-se o direito de revenda para toda a Alemanha.

1886 – As duas firmas alemãs cedem o direito de revenda ao engenheiro G. A.


WAISS, que funda em Berlim uma empresa para construções de concreto segundo o
“Sistema Monier”. Realiza ensaios em “Construções Monier” e mostra através de pro-
vas de carga as vantagens econômicas de colocação de barras de aço no concreto,
publicando estes resultados em 1887. Nesta mesma publicação o construtor oficial
Mathias KOENEN, enviado aos ensaios pelo governo Prussiano, desenvolve baseado
nos ensaios, um método de dimensionamento empírico para alguns tipos de “Cons-
truções Monier”, mostrando que conhecia claramente o efeito estrutural das armadu-
ras de aço. Deste modo passa a existir uma base tecnicamente correta para o cálculo
das armaduras de aço.

1888 – O alemão C. W. F. DÖHRING consegue uma patente segunda a qual lajes e


vigas de pequeno porte têm sua resistência aumentada através da protensão da ar-
madura, constituída de fios de aço. Surge assim provavelmente pela primeira vez a
ideia da protensão deliberada.

1900 – A construção de concreto armado ainda se caracterizava pela coexistência de


sistemas distintos, geralmente patenteados. O professor da Universidade de Stuttgart
Emil MÖRSCH desenvolve a teoria iniciada por Koenen e a sustenta através de inú-
meros ensaios realizados sobre a incumbência da firma WAISS & FREITAG, a qual
pertencia. Os conceitos desenvolvidos por Mörsch e publicados em 1902 constituem
ao longo do tempo e em quase todo o mundo os fundamentos da teoria de dimensio-
namento de peças de concreto armado.

1906 – O alemão LABES concluiu que a segurança contra abertura de fissuras con-
duzia a peças antieconômicas. Koenen propôs em 1907 o uso de armaduras previ a-
mente distendidas. Foram realizados ensaios em vigas protendidas relatadas por
BACH em 1910. Os ensaios mostraram que os efeitos danosos da fissuração eram

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eliminados com a protensão. Entretanto Koenen e Mörsch reconheceram já em 1912


uma perda razoável de protensão, uma vez que o concreto encurta-se com o tempo,
devido à retração e deformação lenta.

1928 - O francês E. FREYSSINET já havia usado a protensão em 1924. Entretanto só


em 1928 desenvolveu um processo empregando aços de alta resistência protendidos,
capazes de provocar tensões de compressão suficientemente elevadas e permanen-
tes no concreto. Estuda as perdas devido à retração e deformação lenta do concreto
e registra várias patentes sobre o sistema Freyssinet de protensão. É considerado o
pai do concreto protendido.

1.2 – Viabilidade do concreto armado

O concreto armado é um material de construção composto, constituído de concre-


to e barras de aço nele imersas. O funcionamento conjunto dos dois materiais só é
viabilizado pelas três propriedades abaixo:
· Aderência aço-concreto – esta talvez seja a mais importante das propriedades
uma vez que é a responsável pela transferência das tensões de tração não absor-
vidas pelo concreto para as barras da armadura, garantindo assim o perfeito fun-
cionamento conjunto dos dois materiais;
· Coeficientes de dilatação térmica do aço e do concreto praticamente iguais –
esta propriedade garante que para variações normais de temperatura, excetuada
a situação extrema de incêndio, não haverá acréscimo de tensão capaz de com-
prometer a perfeita aderência aço-concreto;
· Proteção da armadura contra a corrosão – Esta proteção que está intimamente
relacionada com a durabilidade do concreto armado acontece de duas formas dis-
tintas: a proteção física e a proteção química. A primeira é garantida quando se
atende os requisitos de cobrimento mínimo preconizado pela NBR 6118:2014 que
protege de forma direta as armaduras das intempéries. A proteção química ocorre
devido à presença da cal no processo químico de produção do concreto, que en-
volve a barra de aço dentro do concreto, criando uma camada passivadora cujo

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“ph” se situa acima de 13, criando condições inibidoras da corrosão. Quando a


frente de carbonatação, que acontece devido à presença de gás carbônico (CO2)
do ar e porosidade do concreto, atinge as barras da armação essa camada é des-
passivada pela reação química do (CO2) com a cal, produzindo ácidos que abai-
xam o “ph” desta camada para níveis iguais ou inferiores a 11.5, criando as condi-
ções favoráveis para o processo eletroquímico da corrosão se iniciar. A corrosão
pode acontecer independentemente da carbonatação, na presença de cloretos
(íons cloro Cl -), ou sulfatos (S --
).

1.3 – Vantagens do concreto armado

· Economia – é a vantagem que juntamente com a segunda a seguir, transforma-


ram o concreto em um século e meio no material para construção mais usado no
mundo;
· Adaptação a qualquer tipo de forma ou fôrma e facilidade de execução – a produ-
ção do concreto não requer mão de obra especializada e com relativa facilidade
se consegue qualquer tipo de forma propiciada por uma fôrma de madeira;
· Estrutura monolítica – (monos – única, litos – pedra) esta propriedade garante à
estrutura de concreto armado uma grande reserva de segurança devido ao alto
grau de hiperestaticidade propiciado pelas ligações bastante rígidas das peças de
concreto. Além disso, quando a peça está submetida a um esforço maior que a
sua capacidade elástica resistente, ela ao plastificar, promove uma redistribuição
de esforços, transferindo às peças adjacentes a responsabilidade de absorver o
esforço;
· Manutenção e conservação praticamente nulas – a ideia que a estrutura de con-
creto armado é eterna não é mais aceita no meio técnico, uma nova mentalidade
associa à qualidade de execução do concreto, em todas as suas etapas, um pro-
grama preventivo de manutenção e conservação. Naturalmente quando compara-
do com outros materiais de construção esta manutenção e conservação aconte-
cem em uma escala bem menor, sem prejuízo, no entanto da vida útil das obras
de concreto armado;

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· Resistência a efeitos térmico-atmosféricos e a desgaste mecânico.

1.4 – Desvantagens do concreto armado

· Peso próprio – a maior desvantagem do concreto armado é seguramente o seu


grande peso próprio que limita a sua utilização para grandes vãos, onde o concre-
to protendido ou mesmo a estrutura metálica passam a ser econômica e tecnica-
mente mais viáveis. A sua massa específica é dada pela NBR 6118:2014 como
2500 kg/m3;
· Dificuldade de reformas e demolições - hoje amenizada com tecnologias avança-
das e equipamentos modernos que facilitam as reformas e demolições;
· Baixo grau de proteção térmica – embora resista normalmente à ação do fogo a
estrutura de concreto necessita de dispositivos complementares como telhados e
isolamentos térmicos para proporcionar um conforto térmico adequado à constru-
ção;
· Fissuração – a fissuração que é um fenômeno inevitável nas peças tracionadas de
concreto armado, devido ao baixo grau de resistência à tração do concreto, foi por
muitas décadas considerada uma desvantagem do material. Já a partir do final da
década de setenta, este fenômeno passou a ser controlado, baseado numa redis-
tribuição das bitolas da armadura de tração, em novos valores de cobrimentos mí-
nimos e até mesmo na diminuição das tensões de serviço das armaduras, pelo
acréscimo das mesmas. Cabe salientar que a fissuração não foi eliminada, ape-
nas controlada para valores de aberturas máximas na face do concreto de tal for-
ma a não comprometer a vida útil do concreto armado e também a estética.

1.5 – Concreto

O concreto é uma mistura em proporção adequada (traço) dos materiais ci-


mento, agregados (areia e brita) e água resultando em um novo material de constru-
ção, cujas características do produto final diferem substancialmente daquelas dos
materiais que o constituem.

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Elementos de concreto simples estrutural – elementos estruturais produzidos


com concreto sem nenhuma armadura, ou quando a possui é em quantidades inferi-
ores aos mínimos estabelecidos nesta norma.

Elementos de concreto armado – elementos estruturais produzidos com concreto


cujo comportamento estrutural depende da perfeita aderência aço-concreto e onde
não se aplicam alongamentos iniciais nas armaduras, antes da materialização desta
aderência.

Elementos de concreto protendido – elementos estruturais produzidos com con-


creto onde parte da armadura é previamente alongada por equipamentos especiais
de protensão com a finalidade de, em condições de serviço, impedir ou limitar a fis-
suração e os deslocamentos da estrutura e propiciar o melhor aproveitamento de
aços de alta resistência no ELU ( estado limite último).

Armadura passiva – qualquer armadura que não seja usada para produzir forças
de protensão, ou seja, armadura utilizada no concreto armado.

Armadura ativa (de protensão) – armadura constituída por barras, fios isolados ou
cordoalhas, destinada a produzir forças de protensão, isto é, armaduras com pré-
alongamento inicial.

Estados limites da NBR 6118:2014 (itens 3.2 e 10.3)

· Estado limite último (ELU) – estado limite relacionado ao colapso, ou a qual-


quer outra forma de ruína estrutural, que determine a paralisação do uso da es-
trutura.
1. estado limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como
corpo rígido;
2. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura
no seu todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais;

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3. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura


no seu todo ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem;
4. estado limite último provocado por solicitações dinâmicas;
5. estado limite último de colapso progressivo;
6. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutu-
ra, no seu todo ou em parte, considerando exposição ao fogo, conforme a
NBR 15200;
7. estado limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutu-
ra, considerando ações sísmicas, de acordo a NBR 15421;
8. outros estados limites últimos que eventualmente possam ocorrer em ca-
sos especiais.

· Estados limites de serviço (ELS)


1. Estado limite de formação de fissuras (ELS-F) – estado em que se inicia a
formação de fissuras. Admite-se que este estado limite é atingido quando
a tensão máxima de tração na seção transversal for igual a fct,f , já definida
anteriormente como a resistência característica à tração do concreto na
flexão.
2. Estado limite de abertura das fissuras (ELS-W) – estado em que as fissu-
ras se apresentam com aberturas iguais aos máximos estabelecidos nesta
norma.
3. Estado limite de deformações excessivas (ELS-DEF) – estado em que as
deformações atingem os limites estabelecidos para utilização normal es-
pecificados nesta norma.
4. Estado limite de vibrações excessivas (ELS-VE) – estado em que as vi-
brações atingem os limites estabelecidos para utilização normal da cons-
trução.

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1.8 – Ações

Conforme a NBR 6118:2014 na análise estrutural deve ser considerada a in-


fluência de todas as ações (designada genericamente pela letra F) que possam pro-
duzir efeitos significativos para a segurança da estrutura em exame, levando-se em
conta os possíveis estados limites últimos e os de serviços. Embora a norma espe-
cífica para ações e segurança nas estruturas seja a NBR 8681:2003, a norma NBR
6118:2014 traz em seu item 11 os conceitos necessários à determinação das ações
e seus coeficientes de ponderação. As ações são classificadas, conforme a NBR-
8681:2003 e a NBR 6118:2014, em permanente, variáveis e excepcionais.

1.8.1 – Ações permanentes

Ações permanentes são as que ocorrem com valores praticamente constan-


tes durante toda a vida da construção. Também são consideradas permanentes as
ações que crescem com o tempo, tendendo a um valor limite. As ações permanen-
tes devem ser consideradas com seus valores representativos mais desfavoráveis
para a segurança (NBR 6118:2014).

1.8.1.1 – Ações permanentes diretas

As ações permanentes diretas são constituídas pelo peso próprio e pelos pesos
dos elementos construtivos fixos e das instalações permanentes (NBR 6118:2014).
· Peso próprio (avaliado com a massa específica do concreto armado)
· Peso dos elementos construtivos fixos e de instalações permanentes (avaliado
conforme as massas específicas dos materiais de construção correntes com ba-
se nos valores indicados pela NBR 6120:1980, versão corrigida de 2000)
· Empuxos permanentes (consideram-se como permanentes os empuxos de terra
e outros materiais granulosos quando forem admitidos não removíveis)

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1.8.1.2 – Ações permanentes indiretas

As ações permanentes indiretas são constituídas pelas deformações impostas


por retração e fluência do concreto, deslocamentos de apoio, imperfeições geométri-
cas e protensão (NBR 6118:2014).

· Retração do concreto - a deformação específica de retração do concreto pode


ser calculada conforme indica o anexo A da NBR 6118:2014.
· Fluência do concreto - as deformações decorrentes da fluência do concreto po-
dem ser calculadas conforme indicado no anexo A da NBR 6118:2014.
· Deslocamentos de apoio - os deslocamentos de apoio só devem ser considera-
dos quando gerarem esforços significativos em relação ao conjunto das outras
ações, isto é, quando a estrutura for hiperestática e muito rígida.
· Imperfeições geométricas – na verificação do estado limite último das estruturas
reticuladas, devem ser consideradas as imperfeições geométricas globais e lo-
cais do eixo dos elementos estruturais da estrutura descarregada.
· Momento mínimo - o efeito das imperfeições locais nos pilares pode ser substitu-
ído em estruturas reticuladas pela consideração do momento mínimo de 1 a or-
dem
· Protensão - a ação da protensão deve ser considerada em todas as estruturas
protendidas, incluindo, além dos elementos protendidos propriamente ditos,
aqueles que sofrem a ação indireta da protensão, isto é, de esforços hiperestáti-
cos de protensão.

1.8.2 – Ações variáveis

1.8.2.1 – Ações variáveis diretas

As ações variáveis diretas são constituídas pelas cargas acidentais previstas


para o uso da construção, pela ação do vento e da água, devendo-se respeitar as
prescrições feitas por Normas Brasileiras específicas (NBR 6118:2014).

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· Cargas acidentais previstas para o uso da construção - cargas verticais de uso


da construção; cargas móveis, considerando o impacto vertical; impacto lateral;
força longitudinal de frenação ou aceleração; força centrífuga.
· Ação do vento - os esforços devidos à ação do vento devem ser considerados e
recomenda-se que sejam determinados de acordo com o prescrito pela NBR
6123:1988 - versão corrigida 2:2013, permitindo-se o emprego de regras simpli-
ficadas previstas em Normas Brasileiras específicas.
· Ação da água - o nível d'água adotado para cálculo de reservatórios, tanques,
decantadores e outros deve ser igual ao máximo possível compatível com o sis-
tema de extravasão.
· Ações variáveis durante a construção - as estruturas em que todas as fases
construtivas não tenham sua segurança garantida pela verificação da obra pronta
devem ter, incluídas no projeto, as verificações das fases construtivas mais signi-
ficativas e sua influência na fase final.

1.8.2.2 – Ações variáveis indiretas

· Variações uniformes de temperatura

A variação da temperatura da estrutura, causada globalmente pela variação da


temperatura da atmosfera e pela insolação direta, é considerada uniforme. Ela de-
pende do local de implantação da construção e das dimensões dos elementos estru-
turais que a compõem. De maneira genérica podem ser adotados os seguintes valo-
res (NBR 6118:2014):
a) para elementos estruturais cuja menor dimensão não seja superior a 50 cm,
deve ser
considerada uma oscilação de temperatura em torno da média de 10ºC a
15ºC;
b) para elementos estruturais maciços ou ocos com os espaços vazios inteira-
mente fechados, cuja menor dimensão seja superior a 70 cm, admite-se que
essa oscilação seja reduzida respectivamente para 5ºC a 10ºC;

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c) para elementos estruturais cuja menor dimensão esteja entre 50 cm e 70 cm


admite-se que seja feita uma interpolação linear entre os valores acima indi-
cados.

· Variações não uniformes de temperatura

Nos elementos estruturais em que a temperatura possa ter distribuição significa-


tivamente diferente da uniforme, devem ser considerados os efeitos dessa distribui-
ção. Na falta de dados mais precisos, pode ser admitida uma variação linear entre
os valores de temperatura adotados, desde que a variação de temperatura conside-
rada entre uma face e outra da estrutura não seja inferior a 5ºC (NBR 6118:2014).

· Ações dinâmicas

Quando a estrutura, pelas suas condições de uso, está sujeita a choques ou vi-
brações, os respectivos efeitos devem ser considerados na determinação das solici-
tações e a possibilidade de fadiga deve ser considerada no dimensionamento dos
elementos estruturais, de acordo com a seção 23 da NBR 6118:2014.

1.8.3 – Ações excepcionais

No projeto de estruturas sujeitas a situações excepcionais de carregamento,


cujos efeitos não podem ser controlados por outros meios, devem ser consideradas
ações excepcionais com os valores definidos, em caso particular, por Normas Brasi-
leiras específicas (NBR 6118:2014).

1.8.4 – Valores das ações

1.8.4.1 – Valores característicos

Os valores característicos Fk das ações são estabelecidos na NBR-


6118:2014 em função da variabilidade de suas intensidades.

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Para as ações permanentes Fgk (a letra g será usada para ações permanen-
tes), os valores característicos devem ser adotados iguais aos valores médios das
respectivas distribuições de probabilidade, sejam valores característicos superiores
ou inferiores. Esses valores são definidos na NBR-6118:2014 ou em normas especí-
ficas, como a NBR-6120:1980, versão corrigida de 2000.

Os valores característicos das ações variáveis Fqk (a letra q será usada para
ações variáveis), estabelecidos por consenso em Normas Brasileiras específicas,
correspondem a valores que têm de 25% a 35% de probabilidade de serem ultra-
passados no sentido desfavorável, durante um período de 50 anos. Esses valores
são aqui definidos ou em normas específicas, como a NBR-6120:1980, versão corri-
gida de 2000.

1.8.4.2 – Valores representativos (NBR 6118:2014)

As ações são quantificadas por seus valores representativos, que podem ser:

· os valores característicos conforme definido acima;


· valores convencionais excepcionais, que são os valores arbitrados para as ações
excepcionais;
· valores reduzidos, em função da combinação de ações, tais como:

1. verificações de estados limites últimos, quando a ação considerada se


combina com a ação principal. Os valores reduzidos são determinados a
partir da expressão y oFk , que considera muito baixa a probabilidade de
ocorrência simultânea dos valores característicos de duas ou mais ações
variáveis de naturezas diferentes;
2. verificações de estados limites de serviço. Estes valores reduzidos são
determinados a partir de y 1Fk , que estima um valor freqüente e y 2Fk ,
que estima valor quase permanente, de uma ação que acompanha a
ação principal.

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é admitida como sendo o valor que tem apenas 5% de probabilidade de não ser
atingido pelos elementos de um dado lote de material.

1.8.7.2 – Valores de cálculo

1. Resistência de cálculo - a resistência de cálculo fd é dada pela expressão:

fk
fd = (1.18)
γm

Onde g m é o coeficiente de ponderação das resistências.

2. Resistência de cálculo do concreto - a resistência de cálculo do concreto


fcd é obtida em duas situações distintas:
· quando a verificação se faz em data j igual ou superior a 28 dias

f ck
f cd = (1.19)
γc

· quando a verificação se faz em data j inferior a 28 dias

f ckj f ck
f cd = = β1 (1.20)
γc γc

sendo b 1 a relação (fckj / fck ) dada por:

é 28 ù
s ê1- ú
êë t úû
β1 = e (1.21)

Onde: s = 0,38 - para concreto de cimento CPIII e IV;


s = 0,25 - para concreto de cimento CPI e II;

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s = 0,20 - para concreto de cimento CPV-ARI;


t - é a idade efetiva do concreto, em dias.

1.8.7.3 – Coeficientes de ponderação das resistências

As resistências devem ser minoradas pelo coeficiente:

gm = gm1 . gm2 . gm3 (1.22)

Onde:

gm1 - é a parte o coeficiente de ponderação das resistência g m , que consi-


dera a variabilidade da resistência dos materiais envolvidos.

gm2 - é a parte do coeficiente de ponderação das resistência g m , que consi-


dera a diferença entre a resistência do material no corpo-de-prova e na
estrutura.

gm3 - é a parte co coeficiente de ponderação das resistência g m , que con-


sidera os desvios gerados na construção e as aproximações feitas em
projeto do ponto de vista das resistências.

1.8.7.3.1 - Coeficientes de ponderação das resistências no ELU

Os valores para verificação no estado limite último (ELU) estão indicados na


tabela 1.10.

1.40
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Tabela 1.10 – Valores dos coeficientes g c e g s


(Tab. 12.1 da NBR 6118:2014)

Concreto Aço
Combinações
gc gs

Normais 1.4 1.15


Especiais ou de
1.2 1.15
construção

Excepcionais 1.2 1

1.8.7.3.2 - Coeficientes de ponderação das resistências no ELS

Os limites estabelecidos para os estados limites de serviço (ELS) não neces-


sitam de minoração, portanto g m = 1.

1.8.7.3.3 – Valores finais das resistências de cálculo do concreto e do aço

Para um concreto classe C20, por exemplo, cuja resistência característica fck
= 20 MPa = 200 kgf/cm2= 2 kN/cm2, a resistência de cálculo é fcd = (fck / g c) = (2 /
1,4) = 1,429 kN/cm2 (g c conforme tabela 1.10). O valor da tensão de pico, quando se
usa o diagrama parábola-retângulo, a ser considerado nos cálculos deve ser afe-
tado pelo coeficiente de Rüsch resultando no valor final de cálculo σc = fc = 0,85fcd =
0,85 x 1,429 = 1,214 kN/cm2, independentemente do tipo de seção e da classe do
concreto.

Por facilidade nos cálculos, normalmente se utiliza o diagrama retangular


simplificado de tensões no concreto, com altura y = λ X e tensão constante e igual a
σc = fc = αc fcd quando a largura da seção transversal não diminui no sentido da li-
nha neutra para a borda mais comprimida. Caso contrário, como por exemplo, seção

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circular, a tensão constante deve ser σc = fc = 0,9 αc fcd. Os parâmetros λ e αc, que
serão vistos no capítulo 2 desta apostila, são dados por:

λ = 0,8 αc = 0,85 fck ≤ 50 MPa

λ = 0,8 – (fck – 50) / 400 αc = 0,85 [1 – (fck – 50) / 200] fck > 50 MPa

O valor σc = fc não aparece na NBR 6118:2014, mas de agora em diante nes-


ta apostila será adotado o valor fc para representar a resistência final de cálculo do
concreto.

Para um aço CA 50, por exemplo, cuja resistência característica ao escoa-


mento fyk = 50 kN/cm2 = 500 MPa = 5000 kgf/cm2, a resistência de cálculo é fyd =
(fyk / g s =1,15) = 4348 kgf/cm2 ≈ 435 MPa = 43,48 kN/cm2 ≈ 43,5 kN/cm2.

Tabela 1.11 – Valores finais de cálculo para os concretos e aços usuais

Valores finais de cálculo para os concretos do grupo I - fc (kN/cm2)


αc = 0,85

C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50

1,214 1,518 1,821 2,125 2,429 2,732 3,036

Valores finais de cálculo para os concretos do grupo II - fc (kN/cm2)


αc = 0,85 [1 – (fck – 50) / 200]

C55 C60 C65 C70 C75 C80 C85 C90

3,256 3,461 3,650 3,825 3,984 4,129 4,258 4,371

Valores de cálculo para os aços - fyd (kN/cm2)

CA 25 CA 50 CA 60

21,74 43,48 52,17

1.42

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