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Ministério da Educação

Universidade Tecnológica Federal do Paraná


Campus Curitiba - DAMAT

Cálculo 4B - Teoria: Semana 1


Prof. Dr. Jorge Luis Torrejón Matos

Atenção:

• Material desenvolvido pelo professor Jorge Luis Torrejón Matos exclusivamente para fins didá-
ticos e ser usados em cursos relacionados a Cálculo 4B.

• É proibida a reprodução total ou parcial.

• A elaboração foi feita a partir das referências que constam no final do documento.

CURITIBA
4 de Agosto de 2020

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Análise de Fourier
Introduziremos alguns conceitos prévios de análise de Fourier, tais como séries de Fourier, transfor-
mada de Fourier e convolução. Maiores detalhes podem ser encontrados em Almira [1], Gonzalez [3],
Saenz [6], Torrejón [7] e Kreyszig Vol.2 Ed.9 [5].

Séries de Fourier
Definição 1. Seja o conjunto:

 Z b 
2 2
L ([a, b]) = f mensurável : |f (t)| dt < ∞ .
a

Com produto interno definido por

Z b
hf, gi = f (t)g(t)dt, ∀f, g ∈ L2 ([a, b]).
a

E cuja norma é definida da seguinte maneira

Z b
2
kf k = hf, f i = |f (t)|2 dt, ∀f ∈ L2 ([a, b]).
a

Definição 2. Dizemos que f , g ∈ L2 ([a, b]) são ortogonais, f ⊥g, se hf, gi = 0.


Definição 3. Dizemos que um subconjunto S ⊂ L2 ([a, b]) é ortonormal se, ∀f, g ∈ S,

0 se f 6= g
hf, gi =
1 se f = g.
Definição 4. Dado um subconjunto M ⊂ L2 ([a, b]) não vazio, definimos:

M ⊥ = {g ∈ L2 ([a, b]) : g⊥f, ∀f ∈ M }


Definição 5. Dizemos que o subconjunto S ⊂ L2 ([a, b]) é ortonormal completo se,
• S é um conjunto ortonormal.
• S ⊥ = {0}.
Dada as difinições mencionadas a cima, apresentamos o seguinte resultado:
Proposição 1. Se {fk }k∈N for um conjunto ortonormal completo, então {fk }k∈N é uma base orto-
normal de L2 ([a, b]). Assim, para cada f ∈ L2 ([a, b]), temos que f possui uma única representação
dada por:


X ∞
X
f= hf, fk i fk e kf k2 = |hf, fk i|2 , (1)
k=1 k=1

onde {hf, fk i}k∈N são conhecidos como coeficientes de Fourier.

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Ortogonalidade do Sistema Trigonométrico


Proposição 2. O seguinte conjunto, chamado de “Sistema Trigonométrico”, constitui uma base
ortonormal para L2 ([a, b])

( √    √   )
1 2 2t − a − b 2 2t − a − b
√ ,√ cos kπ ,√ sen kπ .
b−a b−a b−a b−a b−a
k∈N

com produto interno

Z b
hf, gi = f (t)g(t)dt, ∀f, g ∈ L2 ([a, b]).
a

Corolário 0.1. Para a = −L e b = L, temos a base ortonormal de L2 ([−L, L]) como sendo

  π 
1 1  π  1
√ , √ cos k t , √ sen k t
2L L L L L k∈N

com produto interno

Z L
hf, gi = f (t)g(t)dt, ∀f, g ∈ L2 ([−L, L]).
−L

Demonstração:

Pela definição de produto interno, basta observar que, ∀n, m ∈ N:


  π 
1  π  1
1. √ cos n (·) , √ cos m (·) =
L L L L
Z L 
1  π   π  0, n 6= m
= cos n t cos m t dt =
L −L L L 1, n = m
  π 
1  π  1
2. √ sen n (·) , √ sen m (·) =
L L L L
Z L 
1  π   π  0, n 6= m
= sen n t sen m t dt =
L −L L L 1, n = m
 
1  π  1  π 
3. √ sen n (·) , √ cos m (·) =
L L L L
Z L
1  π   π 
= sen n t cos m t dt = 0
L −L L L

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1 1  π  √ 2 Z L  π 
4. √ , √ cos n (·) = cos n t dt = 0
2L L L 2L −L L

1 1  π  √ 2 Z L  π 
5. √ , √ sen n (·) = sen n t dt = 0
2L L L 2L −L L
  Z L
1 1 1
6. √ , √ = 1 dt = 1
2L 2L 2L −L

O item (6) é trivial, os itens (4) e (5) podem ser verificados facilmente. Portanto, podemos reduzir
a expressão acima da seguinte maneira, ∀n, m ∈ N:
Z L  π   π  
0, n 6= m
1. cos n t cos m t dt =
−L L L L, n = m
Z L  π   π  
0, n 6= m
2. sen n t sen m t dt =
−L L L L, n = m
Z L  π   π 
3. sen n t cos m t dt = 0.
−L L L

Assim, basta provar só os 3 itens expressos a cima. Com efeito, sabemos que:

 π   π  1h  π   π i
cos n t cos m t = cos (n − m) t + cos (n + m) t
L L 2 L L
 π   π  1 h  π   π i
sen n t sen m t = cos (n − m) t − cos (n + m) t
L L 2 L L
 π   π  1 h  π   π i
sen n t cos m t = sen (n − m) t + sen (n + m) t (2)
L L 2 L L
Portanto, mostramos o item (1) para n 6= m

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L
1 Lh 
Z  π   π  Z
π   π i
cos n t cos m t dt = cos (n − m) t + cos (n + m) t dt
−L L L 2 −L L L
Z π
 π π  L
x = t ⇒ dx = dt = [cos ((n − m)x) + cos ((n + m)x)] dx
L L 2π −π
Z π Z π 
L
= cos ((n − m)x) dx + cos ((n + m)x) dx
2π −π −π
 π  π 
L sen ((n − m)x) sen ((n + m)x)
= +
2π (n − m) −π (n + m)
  −π
L sen ((n − m)π) − sen ((n − m)(−π))
=
2π (n − m)
 
sen ((n + m)π) − sen ((n + m)(−π))
+
(n + m)
 
L sen ((n − m)π) + sen ((n − m)π)
(sen(−x) = −sen(x), ∀x ∈ R) =
2π (n − m)
 
sen ((n + m)π) + sen ((n + m)π)
+
(n + m)
   
L sen ((n − m)π) sen ((n + m)π)
= +
π (n − m) (n + m)
   
L 0 0
(sen(kπ) = 0, ∀k ∈ Z) = +
π (n − m) (n + m)
= 0.

Para n = m:

L
1 Lh 
Z  π   π  Z
π   π i
cos n t cos m t dt = cos (n − m) t + cos (n + m) t dt
−L L L 2 −L L L
Z π
 π π  L
x = t ⇒ dx = dt = [cos ((n − m)x) + cos ((n + m)x)] dx
L L 2π −π
Z π Z π 
L
= cos ((n − m)x) dx + cos ((n + m)x) dx
2π −π −π
Z π 
L
(n = m) = 1 dx + 0
2π −π
L
= [2π] = L.

O item (2) verifica-se de forma análoga ao item (1) usando a segunda igualdade de (2). Assim, iremos
verificar o item (3)
Para n 6= m

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L
1 Lh
Z  π   π  Z  π   π i
sen n t cos m t dt = sen (n − m) t + sen (n + m) t dt
−L L L 2 −L L L
Z π
 π π  L
x = t ⇒ dx = dt = [sen ((n − m)x) + sen ((n + m)x)] dx
L L 2π −π
Z π Z π 
L
= sen ((n − m)x) dx + sen ((n + m)x) dx
2π −π −π
( −π −π )
L cos ((n − m)x) cos ((n + m)x)
= +
2π (n − m) π (n + m) π
 
L cos ((n − m)(−π)) − cos ((n − m)π)
=
2π (n − m)
 
cos ((n + m)(−π)) − cos ((n + m)π)
+
(n + m)
 
L cos ((n − m)π) − cos ((n − m)π)
(cos(−x) = cos(x), ∀x ∈ R) =
2π (n − m)
 
cos ((n + m)π) − cos ((n + m)π)
+
(n + m)
   
L 0 0
= +
2π (n − m) (n + m)
= 0.

Para n = m:

L
1 Lh
Z  π   π  Z  π   π i
sen n t cos m t dt = sen (n − m) t + sen (n + m) t dt
−L L L 2 −L L L
Z π
 π π  L
x = t ⇒ dx = dt = [sen ((n − m)x) + sen ((n + m)x)] dx
L L 2π −π
Z π Z π 
L
= sen ((n − m)x) dx + sen ((n + m)x) dx
2π −π −π
Z π 
L
(n = m) = 0 dx + 0
2π −π
= 0.

De (1) da proposição 1 temos que para cada f ∈ L2 ([−L, L])

  ∞    π    π 
1 X 1 1
f (t) = A0 √ + Ak √ cos k t + Bk √ sen k t (3)
2L k=1
L L L L

com

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  Z L
1 1
A0 = f, √ =√ f (t)dt
2L 2L −L
  π  Z L
1 1  π 
Ak = f, √ cos k (·) =√ f (t) cos k t dt
L L L −L L
  Z L
1  π  1  π 
Bk = f, √ sen k (·) =√ f (t)sen k t dt, ∀k ∈ N.
L L L −L L

A0 Ak Bk
Para a0 = √ , ak = √ e bk = √ , ∀k ∈ N, obtemos:
2L L L
Z L
1
a0 = f (t)dt
2L −L
1 L
Z  π 
ak = f (t) cos k t dt
L −L L
Z L
1  π 
bk = f (t)sen k t dt, ∀k ∈ N. (4)
L −L L

As fórmulas de (4) chama-se de “fórmulas de Euler”.

Assim, substituindo (4) em (3) obtemos a seguinte série trigonométrica

X∞ n  π   π o
f (t) = a0 + ak cos k t + bk sen k t . (5)
k=1
L L

Portanto, obtemos à seguinte definição:

Definição 6. Seja a função f (t), t ∈ (−L, L). A série trigonométrica (5), que representa f (t),
chama-se de “série de Fourier” de f (t) se os coeficientes da série segue as “fórmulas de Euler” (4).

Observação 1. Pela proposição 1 temos que, para cada f ∈ L2 ([−L, L]), a representação mediante
a série trigonométrica (5) de f (t) necessariamente é a série de Fourier.

Observação 2. Certamente, para cada f ∈ L2 ([−L, L]), f pode ser visto como uma função real de
variável real, mensurável, quadrado integrável e 2L-periódica. Ou seja:

 Z L 
2 2
L ([−L, L]) = f : R → R mensurável : f (t + 2L) = f (t), ∀t e |f (t)| dt < ∞ .
−L

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Referências
[1] J. M. Almira, Matemáticas para la recuperación de señales., Grupo Editorial Universitário (Gra-
nada), 2005.

[2] D. Andrade, Transformada de Laplace.

[3] G. Gonzalez, Séries de Fourier, Transformadas de Fourier y aplicaciones. Divulgaciones Mate-


máticas v. 5 (1997), p. 43 - 60.

[4] E. Kreyszig, Matemática superior para engenharia Vol.1 - Ed.9, LTC.

[5] E. Kreyszig, Matemática superior para engenharia Vol.2 - Ed.9, LTC.

[6] R. A. Saenz, Notas de aula: Análisis Real: Primer curso., http://fejer.ucol.mx/cursos/2004-


20/analisis_I/texto.html, 2004.

[7] J. L. Torrejón, Aproximação numérica à convolução de Mellin via mistura de exponenciais.,


Ph.D. thesis, Instituto de Matemática e Estatística - Universidade de São Paulo, 2015.

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