Você está na página 1de 191

ÍNDICE

ÍNDICE
Pág.
1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO
1.1 – Vetor Tensão .............................................................................. 1
1.2 – Igualdade de Tensões Tangenciais ............................................ 3
1.3 – Representação Tensorial ............................................................ 4
1.4 – Representação Através do Círculo de Mohr .............................. 5
1.5 – Caso Particular Importante ....................................................... 7
1.6 – O Estado Geral de Tensão ......................................................... 8
1.7 – Complementação ........................................................................ 13
1.8 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 15

2 – TEORIAS DE RESISTÊNCIA
2.1 – Introdução .................................................................................. 27
2.1.1 – Falha de Materiais Policristalinos ................................ 29
2.2 – Teoria da Máxima Tensão Normal ............................................ 30
2.3 – Coeficiente de Segurança ........................................................... 31
2.4 – Tensão Equivalente .................................................................... 32
2.5 – Teoria da Máxima Tensão Tangencial (TRESCA) .................... 32
2.6 – Teoria da Energia de Distorção (Von MISES) .......................... 35
2.7 – Observação Sobre o Invariante I1 .............................................. 36
2.8 – Falha de Materiais Dúteis ......................................................... 39
2.9 – Um Caso Importante .................................................................. 39
2.10 – Teoria de MOHR-COULOMB ................................................. 41
2.11 – Teoria de COULOMB- MOHR Modificada ............................. 44
2.12 – Exercícios Resolvidos .............................................................. 47

3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA
3.1 – Introdução .................................................................................. 54
3.2 – Cálculo das Tensões Normais .................................................... 55
3.3 – Cálculo da Deflexão ................................................................... 58
3.4 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 60

4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA


4.1 – Analogia da Membrana ............................................................. 70
4.2 – Torção Uniforme em Perfis de Parede Fina .............................. 72
4.3 – Perfis de Seção Aberta ............................................................... 74
4.4 – Perfis de Seção Fechada ............................................................ 77
4.5 – Seções Multi-Celulares .............................................................. 79
4.6 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 82

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS III


ÍNDICE

5 – CENTRO DE CISALHAMENTO
5.1 – Introdução .................................................................................. 87
5.2 – Flexão em Perfis de Parede Fina .............................................. 88
5.3 – Tensões de Cisalhamento em Perfis de Parede Fina de
Seção Aberta ............................................................................. 91
5.4 – Seção I Duplamente Simétrica ................................................... 93
5.5 – Estudo de uma Seção em C com Eixo de Simetria ..................... 95
5.6 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 99

6 – VIGAS CURVAS
6.1 – Introdução .................................................................................. 104
6.2 – Cálculo da Tensão Normal ........................................................ 104
6.3 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 109

7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA


7.1 – Introdução .................................................................................. 114
7.2 – Cilindro Espesso Sobre Pressão Interna ................................... 117
7.3 – Cilindro Espesso Sobre Pressão Externa ................................. 117
7.4 – Tensões Longitudinais ................................................................ 118
7.5 – Máxima Tensão Tangencial ....................................................... 118
7.6 – Cilindros Compostos .................................................................. 119
7.7 – Interferência ............................................................................... 120
7.8 – Complementação ........................................................................ 122
7.9 – Cilindro de Parede Fina Como Caso Particular de Cilindro
Espesso ...................................................................................... 123
7.10 – Força de Arranque ................................................................... 124
7.11 – Auto-Fretagem ......................................................................... 125
7.12 – Exercícios Resolvidos .............................................................. 128

8 – CARREGAMENTO DINÂMICO
8.1 – Princípio de D’Alembert ............................................................ 135
8.2 – Carga de Impacto ....................................................................... 136
8.3 – Fator Dinâmico Para Corpos em Queda Livre ......................... 137
8.4 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 139

9 – DISCOS QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE


9.1 – Cálculo das Tensões Radiais e Circunferenciais ....................... 145
9.2 – Caso de um Disco Sólido ........................................................... 147
9.3 – Disco com Furo Central ............................................................ 148
9.4 – Disco e Eixo Acoplados com Interferência ................................ 150
9.5 – Tensões Combinadas de Rotação e Térmica ............................. 150
9.6 – Exercícios Resolvidos ................................................................ 155

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS III


ÍNDICE

10 – FLAMBAGEM
10.1 – Colunas Sob Carga Excêntrica ................................................ 163
10.2 – Equilíbrio Elástico Estável e Instável ...................................... 167
10.3 – Carga Crítica – Diferentes condições de extremidades .......... 169
10.4 – Tensão Crítica .......................................................................... 170
10.5 – Travejamento ........................................................................... 174
10.6 – Seção Composta ....................................................................... 176
10.7 – Processo Ômega ...................................................................... 177
10.8 – Colunas Carregadas Excentricamente .................................... 178
10.9 – Exercícios Resolvidos .............................................................. 180

APÊNDICES
Apêndice I – Momentos de Inércia em Relação a Eixos Inclinados ... 189
Apêndice II – Noções Sobre Dimensionamento de Vigas ................... 196
Apêndice III – Flexão Assimétrica – Equações Gerais ...................... 201
Apêndice IV – Discos em Rotação com Resistência Uniforme ........... 207
Apêndice V – Tensões Radiais em Barras de Forte Curvatura .......... 210
Apêndice VI – Cilindro Espesso Enrolado com Arame ...................... 214
Apêndice VII – Esfera de Parede Espessa .......................................... 218
Apêndice VIII – Ensaio de Deflexão em Flexão Assimétrica ............. 222
Apêndice IX – Ensaio de Flexão em Viga de Forte Curvatura ........... 227
Apêndice X – Ensaio de Cilindro Espesso .......................................... 230
Apêndice XI – Ensaio de Flambagem ................................................. 233

RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS III


Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

1. NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

1.1 - VETOR TENSÃO

Objetivos:

- Definir vetor tensão e suas componentes


- Definir e identificar estado triplo de tensão
- Introduzir convenções relacionadas às tensões

Para definir vetor tensão, vamos supor um corpo elástico, vinculado


isostaticamente, em equilíbrio. Sob a ação de um sistema de forças ele se deforma. Em um
plano cuja normal é "n", aparecerão forças internas necessárias para manter o equilíbrio da
parte isolada do corpo (porção da esquerda), Figura 1. A distribuição destas forças é qualquer.
Imaginemos um ponto P, situado neste plano e uma área ∆A, ao seu redor. Nesta área atuarão
forças que serão equivalentes a uma resultante e a um momento (Figura 1). A resultante e o
momento dependerão do plano que contém P. Para cada plano teremos uma resultante e um
momento, normalmente diferentes.

Figura 1

Vamos indicar por Mn e Fn o sistema equivalente dependente do plano cuja


normal é "n". Ao quociente da força resultante pela área chamaremos de tensão média. Se a
área ∆A vai diminuindo a tendência do binário, Mn, é desaparecer, pois o braço de alavanca
do binário tende a se anular. No limite vamos obter o vetor tensão que será definido como:
Tn = lim∆Α →0 (Fn / ∆Α )

A força Fn pode ser decomposta em suas componentes Fnn e Fnt Figura 2. Vamos
definir tensão normal como:
σ n = lim∆Α →0 (Fnn / ∆Α )
e tensão tangencial como:
τ n = lim∆Α →0 (Fnt / ∆Α )

Página 1
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Figura 2

Caso seja adotado um sistema referencial prévio, de tal forma que um de seus
eixos coincida com a normal ao plano e os outros estejam no próprio plano, a força Fnt será
decomposta dando, por conseguinte, duas tensões tangenciais (Figura 3).

Figura 3

Os materiais obedecem mais às componentes do vetor tensão do que o próprio


vetor. Assim, para cada plano passante por P, o vetor tensão dará origem a três componentes:
uma tensão normal e duas tangenciais. Mas, para se definir um estado triplo de tensão, é
necessário o conhecimento das tensões que atuam em três planos mutuamente perpendiculares
através do mesmo ponto. Lembremos, fazendo uma analogia, que para se definir um estado
plano, é necessário o conhecimento das tensões que atuam em dois planos perpendiculares
através do ponto.
A identificação de um estado triplo de tensão é feita quando as tensões atuantes
nos três planos perpendiculares através do ponto, não podem estar situadas em um mesmo
plano. Já no estado plano, todas as tensões atuantes nos dois planos perpendiculares que
definem o estado plano através do ponto, estão situadas num mesmo plano.
A Figura 4 indica as tensões atuantes em três planos perpendiculares através do
mesmo ponto. As seis faces são definidas pelas direções de suas normais. Uma face positiva é
aquela cuja normal está no sentido positivo do eixo coordenado. Os eixos x, y e z, seguem a
regra da mão direita.
Uma tensão normal σx na direção x, atuante na face positiva, é positiva quando
seu sentido coincide com o sentido de x positivo. Se a mesma tensão atua em uma face
negativa, ela é positiva quando seu sentido coincide com o sentido de x negativo. Todas as
tensões normais apresentadas na Figura 4 são positivas. O índice da tensão normal

Página 2
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

corresponde ao do eixo paralelo a ela. Assim, σx é uma tensão normal à face cuja normal é x.
As tensões normais são positivas se são trativas.
As tensões tangenciais, τ, possuem dois índices. O primeiro designa a normal ao
plano sobre o qual atua e o segundo, o eixo coordenado ao qual é paralela. Assim, τxy é uma
tensão tangencial que atua no plano x, na direção y. Uma tensão tangencial atuante em uma
face positiva será positiva quando seu sentido segue o do eixo coordenado do segundo índice.
Se esta tensão atua em uma face negativa, será positiva quando seu sentido segue o sentido
contrário ao eixo coordenado do segundo índice. Todas as tensões tangenciais indicadas na
Figura 4 são positivas.

Figura 4

1.2 - IGUALDADE DAS TENSÕES TANGENCIAIS

Objetivo:
- Demonstrar a igualdade das tensões tangenciais.

τxy = τyx
τxz = τzx (1.1)
τyz = τzy
Imaginemos um estado complexo de tensões definido abaixo, Figura 5.

Figura 5

Para demonstrarmos a igualdade das tensões tangenciais, imaginemos um


elemento, como o abaixo (Figura 6) onde foram colocadas somente as tensões que produzem
momentos em relação à x:

Página 3
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Figura 6

A somatória dos momentos em relação à x fornece:


dy dy dz dz
τ yz dxdz . + τ yz dxdz . − τ zy dxdy . − τ zy dxdy . = 0 ∴ τ yz = τ zy
2 2 2 2

Analogamente:

τxy = τyx
τxz = τzx

1.3 - REPRESENTAÇÃO TENSORIAL.

Objetivos:

- Definir tensor tensão.


- Enunciar as propriedades da matriz.
- Representar, matricialmente, os estados triplos, duplo e mono-axial de
Tensão.
- Identificar na matriz, as tensões normais principais.

A matriz tensor tensão é definida do seguinte modo: em cada linha se colocam as


tensões atuantes em um dos três planos que definem o estado de tensão: 1ª linha - plano x; 2ª
linha - plano y; 3ª linha - plano z. As tensões em cada coluna são colocadas conforme suas
direções, mantendo sempre a ordem: direção x, y e z. Por exemplo: 1ª linha e 3ª coluna,
tensão τxz - atua na face x, na direção z. 3ª linha e 2ª coluna, tensão τzy - atua na face z, na
direção y.

Assim teremos:
σ x τ xy τ xz
T = τ yx σ y τ yz (1.2)
τ zx τ zy σ z

Como as tensões tangenciais são iguais duas a duas - equação (1.1), a matriz é
simétrica em relação a sua diagonal principal.

Página 4
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Em um estado plano de tensões, as tensões atuantes em uma face (y, por exemplo)
são todas nulas. Isto implica na matriz em se ter uma linha e uma coluna nulas:

σx 0 τ xz
T= 0 0 0
τ zx 0 σ z

Este mesmo raciocínio pode-se estender ao estado mono-axial de tensão, onde


teremos, unicamente, uma tensão normal, que será principal.

0 0 0
T=0 0 0
0 0 σz

) pode
Pode ser demonstrado que, em qualquer estado de tensão em um ponto, um elemento
ser orientado de forma que as tensões tangenciais se anulam sobre suas faces.

As três direções assim obtidas são chamadas direções principais e as tensões


normais, segundo estas direções, são denominadas de tensões normais principais (t.n.p.). Elas
são representadas, simbolicamente, por σ1, σ2, σ3 e entre elas é válida a condição seguinte:

σ1 ≥ σ2 ≥ σ3

Assim, nas faces onde atuam as tensões normais principais (t. n. p.), as tensões
tangenciais são nulas.
A identificação de uma t.n.p., na matriz do tensor tensão, é feita considerando o
fato de serem nulas as tensões tangenciais atuantes na mesma linha (mesma face). Isto implica
em se anularem as tensões tangenciais atuantes em uma linha e em uma coluna (igualdade das
tensões tangenciais). Logo a t.n.p. ficará no cruzamento destas:

σx 0 0
T= 0 σ y τ yz
0 τ zy σ z

1.4 - REPRESENTAÇÃO ATRAVÉS DO CÍRCULO DE MOHR

Objetivos:

- Esboçar e interpretar os círculos de Mohr para o estado triplo.


- Representar graficamente o estado triplo, pelas suas t.n.p.
- Definir tensões tangenciais principais (t. t. p.) através dos círculos de Mohr
- Determinar as intensidades das tensões tangenciais principais utilizando
propriedades do círculo de Mohr.
- Calcular a tensão tangencial máxima em problemas tridimensionais.

Página 5
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Os estados planos e mono-axial de tensão são casos particulares do estado triplo


onde uma ou duas tensões normais principais são nulas. A representação gráfica para o estado
triplo consiste em três círculos cujas interseções com o eixo horizontal, definem as tensões
normais principais (Figura 7).

Figura 7

Pode-se demonstrar que as condições de tensão em qualquer plano que passe


através de um ponto, estão também incluídas na área hachurada entre o círculo maior e os
outros dois (Figura 7). No estado plano, uma das t.n.p. coincide com a origem e no mono-
axial, coincidem duas. Dadas as três t.n.p. do estado triplo, pela combinação duas a duas,
construímos os três círculos de Mohr correspondentes. Os raios destes três círculos de Mohr
são as tensões tangenciais principais (t.t.p.) que são representadas por: τ1,2, τ1,3 e τ2,3 (Figura
7).

σ1 −σ 2
τ 1,2 =
2
σ1 −σ3
Suas intensidades são: τ 1,3 = (1.3)
2
σ 2 −σ3
τ 2 ,3 =
2
A t. t. p., τ1,3 , será sempre a de maior intensidade. As tensões normais que
atuam nos planos das t. t. p. são:

σ2 +σ3
AO = , plano de τ 2,3
2
σ +σ3
OB = 1 , plano de τ 1,3 (1.4)
2
σ +σ2
OC = 1 , plano de τ 1,2
2

) Onulaestado plano de tensão é um caso particular do estado triplo onde uma t.n.p. é
É preciso observar que nem sempre a tensão tangencial máxima do estado plano,
já estudado, corresponde à tensão tangencial maior do estado triplo. Acontece que agora
nossos conceitos são mais amplos. Por uma questão didática, quando se estudou o estado
plano, falou-se em somente um círculo de Mohr, quando na realidade são três. Por isto, o
conceito de tensão tangencial máxima ficou incompleto. Se verificarmos, na Figura 7, o plano

Página 6
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

em que atua a tensão tangencial principal (t.t.p.), τ1,3, faz ângulos de 45º com os planos onde
atuam σ1 e σ3 respectivamente. A1ém disto, esta tensão está situada no mesmo plano de σ1 e
σ3. Logo sua direção será a interseção destes dois planos (Figura 8). Analogamente para τ1,2 e
τ2,3 (Figura 9).

Figura 8

Figura 9
São dois os planos que satisfazem as condições acima descritas; eles são
perpendiculares entre si. Em um atua a t.t.p. positiva e no outro a negativa.
Interessa-nos somente a intensidade e a direção desta tensão e não o seu sentido.
Por isto colocamos a seta nas duas extremidades do segmento (ela tanto pode estar em um
sentido como no outro).

1. 5 - CASO PARTICULAR IMPORTANTE


Objetivo:
- Determinar as t.n.p. de um estado triplo, quando se conhece uma delas, sem
o desenvolvimento da equação do terceiro grau, utilizando as propriedades
do estado plano de tensões.
A maioria dos casos que encontramos em engenharia, a posição de um dos planos
principais e a t.n.p. que nele atua podem ser encontrados previamente. Então as duas t.n.p.
restantes podem ser determinadas utilizando-se as propriedades do estado plano (Figura 10).
Com efeito:

Figura 10

Página 7
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

As tensões normal e tangencial que atuam no plano inclinado podem ser


calculadas, através das equações de equilíbrio da estática, projetando as forças na direção
normal ao plano e sobre o próprio plano. É claro que a força atuante na direção “z” não
alterará as equações acima. É como se ela não existisse. Assim procedendo, obteremos as
mesmas equações para “σn” e “τn” encontradas para o estado plano. Estas equações podem
ser também interpretadas através do círculo de Mohr já estudado em “estado plano de
tensões”. Resumindo, o estado de tensão da Figura 10 fica assim:
σz é uma t.n.p..
O estado plano σy, σx e τxy fornecerá as outras duas t.n.p.
O plano θ da Figura 10 é um dos planos paralelos à z, ou seja, paralelos a uma
direção normal principal. Os planos x (θ = 0º) e y (θ = 90º) também são. Assim os pontos
situados no círculo de Mohr determinado por σx, σy e τxy, representam valores de σ e τ
atuantes em planos θ, paralelos a uma direção normal principal (z): planos que giram em
torno de z.
Do exposto acima podemos concluir que:

) Cada ponto da circunferência que passa por σ e σ (Figura 7) corresponde a


1 3
valores de σ e τ que atuam em planos paralelos à direção 2. Analogamente para as
outras circunferências.

Os pontos situados na área hachurada (Figura 7) correspondem a valores de σ e τ


que atuam em planos inclinados em relação às direções principais 1, 2 e 3.

1.6 - O ESTADO GERAL DE TENSÃO EM UM PONTO

Objetivos:
- Calcular as tensões normal e tangencial atuantes em um plano, quando se
conhecem as tensões atuantes em três planos perpendiculares através do
ponto.
- Definido o estado de tensão através de um ponto, calcular as tensões
normais principais (t.n.p.).
- Definir o elipsóide das tensões.
- Definir planos e tensões octaédricas e calculá-las em função das t.n.p.

Através do diagrama do corpo livre (Figura 11), onde são colocadas as tensões
atuantes em três planos perpendiculares através do ponto, pretende-se determinar a tensão
normal e tangencial atuantes em um plano cuja normal é "n", através do mesmo ponto.

Dados:
face x: σx , τxy , τxz
face y: τyx , σy , τyz
face z: τzx , τzy , σz

Página 8
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

^
n, x = α , cos α = l
^
n, y = β , cos β = m
^
n, z = γ , cos γ = n
face ABC = dA
face OAB = dA.n
face OBC = dA.l
face OCA = dA.m

Pede-se:
σn e τnt

Figura 11

G G
Seja T o vetor tensão que atua no plano “n”. A direção de T não coincidirá com
G
a de "n", necessariamente. Quando isto acontecer, "n" será uma direção normal principal e T
será a própria t.n.p., pois, neste caso, sua projeção sobre o plano será nula (as tensões
G
tangenciais atuantes na face serão nulas). As componentes de T nas direções x, y e z são:
Tx , Ty e Tz, respectivamente.
Como o elemento está em equilíbrio, são válidas as equações da estática. Assim:
∑ Fx = 0
Tx .dA = σ x .dA.l + τ yx .dA.m + τ zx .dA.n

simplificando e lembrando-se que:


τyx = τxy , τzx = τxz
temos:
Tx = σ x .l + τ xy .m + τ xz .n
ana log amente :
(1.5)
T y = τ yx .l + σ y .m + τ yz .n
Tz = τ zx .l + τ zy .m + σ z .n

Página 9
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

G G G
Vetorialmente, podemos escrever, lembrando que i , j e k são os unitários das
direções x, y e z respectivamente:
G G G G
T = Tx .i + Ty . j + Tz . k
G G G G
O unitário da normal “n” é: N = l .i + m. j + n.k
G
Sendo σn, a projeção de T sobre “n”:
G G
σ n = T .N = Tx .l + T y .m + Tz .n (1.6)

Por outro lado:


T 2 = σ n2 + τ nt2

Logo:
τ nt = T 2 − σ n2 (1.7)

A intensidade do vetor T é:

T = Tx2 + T y2 + Tz2 (1.8)

As equações (1.5) são gerais e válidas para qualquer plano “n”


G mesmo que este
seja o plano onde atua uma tensão normal principal. Neste caso, o vetor T coincidirá com a
normal e não teremos tensões tangenciais. Façamos então T = σp e assim:
Tx = σ p .l
T y = σ p .m
Tz = σ p .n

As equações (1.5) tornam-se: σ p .l = σ x .l + τ xy .m + τ xz .n


ou:
( σ x − σ p ).l + τ xy .m + τ xz .n = 0
τ yx .l + ( σ y − σ p ).m + τ yz .n = 0 (1.9)
τ zx .l + τ zy .m + ( σ z − σ p ).n = 0

Resolvendo (1.9) para calcular um dos cosenos diretores, por exemplo, l, temos:

0 τ xy τ xz
0 (σ y − σ p ) τ yz
0 τ zy (σ z − σ p )
l=
(σ x − σ p ) τ xy τ xz
τ yx (σ y − σ p ) τ yz
τ zx τ zy (σ z − σ p )

A solução trivial 0,0,0 não serve pois l2 + m2 + n2 = 1.

Página 10
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Uma solução não trivial para as direções dos cosenos dos planos principais
existirá somente se o denominador for nulo.
Este sistema terá uma solução diferente de zero, se o determinante dos
coeficientes de 1, m e n for nulo. Logo:

(σ x − σ p ) τ xy τ xz
τ yx (σ y − σ p ) τ yz =0 (1.10)
τ zx τ zy (σ z − σ p )

O desenvolvimento deste determinante dará origem à equação cúbica abaixo:

σ 3p − ( σ x + σ y + σ z ).σ 2p + ( σ x σ y + σ x σ z + σ y σ z − τ xy2 − τ xz2 − τ yz2 ).σ p − ( σ x σ y σ z −


σ xτ yz2 − σ y τ xz2 − σ z τ xy2 + 2τ xy τ xz τ yz ) = 0

(1.11)

Pode ser demonstrado que as três raízes da equação (1.11) são reais, pois a matriz
é real e simétrica. Estas serão os valores das tensões normais principais. Levando cada valor
em troca na equação (1.9) e acrescentando ainda a relação l2 + m2 + n2 = 1, pois no sistema
de equações lineares e homogêneas (1. 9) uma equação é combinação linear das outras duas,
obtém-se três conjuntos de cosenos diretores que localizarão as normais aos três planos onde
atuam as tensões normais principais. Como a matriz (1.10) é simétrica, as três direções
principais são sempre tri-ortogonais. Concluímos que:

) principais.
Existem três planos, mutuamente perpendiculares, onde atuam as tensões normais
É evidente que as t. n. p., que são as raízes da equação cúbica (1.11), são
determinadas pela natureza do estado de tensão em um ponto e não dependem do
sistema de referência admitido.

Assim, ao girarmos o sistema original, x, y, z, os valores dos coeficientes da


equação (1.11) não deverão alterar-se. Devido a isto, estes coeficientes são chamados de
invariantes do estado de tensão.

São eles:

I 1 = σ x + σ y + σ z = σ 1 + σ 2 + σ 3 = σ ` x +σ ` y +σ ` z
I 2 = σ xσ y + σ x σ z + σ y σ z − τ xy2 − τ xz2 − τ yz2 = σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3
σ x τ xy τ xz
I 3 = τ yx σ y τ yz = σ 1σ 2σ 3
τ zx τ zy σ z

Se I3 = 0, uma das raízes da equação (1. 11) será nula. Neste caso, o estado de
tensão é plano.
Se I2 = I3 = 0, duas raízes da equação (1.11) serão nulas. O estado de tensão
correspondente é monoaxial.

Página 11
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Se os eixos de referência, x, y e z, coincidem com as direções das tensões normais


principais, as equações (1.5) continuam sendo válidas com as seguintes modificações:
σ x = σ1
σ y = σ 2 , τ xy = τ xz = τ yz = 0
σz =σ3
T
T x = σ 1 .l l= x
σ1
Ty
Logo: T y = σ 2 .m m=
σ2
T
T z = σ 3 .n n= z
σ3

Mas: l2 + m2 + n2 = 1

T x2 T y2 T2
Teremos então: + + z =1
σ 12 σ 22 σ 32
Se Tx, Ty e Tz são considerados como as coordenadas das extremidades do vetor
tensão, o lugar geométrico das extremidades do vetor é um elipsóide (Figura 12), cujos semi-
eixos são as tensões normais principais. Este elipsóide é denominado de elipsóide das tensões.

Figura 12

Pode-se concluir, examinando a Figura 12, que duas das t. n. p. são as tensões
normais máxima e mínima no ponto. A outra t.n.p. é intermediária em valor.
Um caso particular de tensões é o das chamadas tensões octaédricas. Em primeiro
lugar, vamos definir planos octaédricos como sendo aqueles cujas normais fazem ângulos
iguais com as direções normais principais. São em número de oito (Figura 13). As tensões que
atuam nos planos octaédricos são as tensões octaédricas. Logo:

Página 12
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Figura 13

l 2 + m2 + n2 = 1 ∴ 3l 2 = 1 ∴ l = ±1 3=m=n
Tx = σ 1 ( 3 3 ), T y = σ 2 ( 3 3 ), Tz = σ 3 ( 3 3 )
G G
σ oc = T .N (1.12)
3 G G G 3 G G G
σ oc = ( σ 1 i + σ 2 j + σ 3 k ). (i + j + k )
3 3
3 1
σ oc = ( σ 1 + σ 2 + σ 3 ) = ( σ 1 + σ 2 + σ 3 )
9 3
Como σ 1 + σ 2 + σ 3 = I 1 , um invariante:

1 1
σ oc = I 1 = (σ x +σ y +σ z )
3 3
G 3 G G G
T= ( σ 1i + σ 2 j + σ 3 k )
3
3 (1.13)
T= σ 12 + σ 22 + σ 32
3
τ oc = T 2 − σ oc2
1
τ oc = ( σ 1 − σ 2 )2 + ( σ 2 − σ 3 )2 + ( σ 3 − σ 1 )2
3

1.7 - COMPLEMENTAÇÃO

Objetivos:

- Definir cisalhamento puro no estado triplo


- Definir estado de tensão hidrostático.

O estado de cisalhamento puro existe se um sistema particular de eixos Oxyz pode


ser determinado satisfazendo a seguinte condição: σx = σy = σz = 0. Este sistema particular de
eixos existe, se, e somente se, o primeiro invariante das tensões, I1 = 0.

Página 13
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

Matricialmente:
0 τ xy τ xz σx τ xy τ xz
τ yx 0 τ yz ou τ yx σ y = −σ x τ yz
τ zx τ zy 0 τ zx τ zy 0

Em ambos os casos, I1 = 0.
Por definição, um estado é hidrostático se:
σx = σy = σz = -p , e todas as tensões tangenciais desaparecem.

Matricialmente:
−p 0 0
0 −p 0
0 0 −p

Um estado de tensão qualquer pode ser separado em um estado de cisalhamento


puro mais um estado de tensão hidrostático.
De fato:
σ x τ xy τ xz −p 0 0 (σ x + p ) τ xy τ xz
τ yx σ y τ yz = 0 − p 0 + τ yx (σ y + p ) τ yz
τ zx τ zy σ z 0 0 −p τ zx τ zy (σ z + p )
(Estado hidrostático) (Cisalhamento Puro)

Desde que:
(σ x + p ) + (σ y + p ) + (σ z + p ) = 0

Ou:
1 1
p = − ( σ x + σ y + σ z ) = − .I 1
3 3

BIBLIOGRAFIA

HIGDON e outros. Mecânica dos Materiais. 3ª ed. Guanabara Dois

FEODOSIEV, I. Resistencia de Materiales .Editorial Mir. Moscou.

DALLY & RILEY. Experimental Stress Analysis. McGraw-Hill. 2ª ed.

Página 14
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 1.1 – (Para recordar estado plano de tensão)

Determinar as tensões normal e tangencial que aparecem no cordão de solda do


tubo de parede fina indicado abaixo.

Dados:
Diâmetro médio do tubo = 30 cm
Espessura da parede = 0,8 cm
Pressão interna aplicada = 100 kgf/cm2
N = 30000 kgf; T = 800000 kgf.cm.; Ângulo da solda = 30º
Tensão normal admissível no cordão de solda = 900 kgf/cm2
Tensão tangencial admissível no cordão de solda = 600 kgf/cm2

Solução:
A=π . Dm . e = 75,36 cm2 , Ip = π.(Re4 - Ri4)/2 = 16980 cm4

Análise de um ponto na face externa:


Calculando a tensão normal devido a N temos:
30000 kgf
σN = = 398
75 ,36 cm 2
Calculando as tensões devido a pressão interna p temos:

p .R kgf σc kgf
σc = = 1876 σl = = 938
e cm 2 2 cm 2
Tensa~o resultante :
kgf
σ y = 398 + 938 = 1336
cm 2
kgf
σ x = 1876
cm 2

Cálculo da tensão tangencial resultante devido ao torque:


T .r 800000.15 ,4 kgf
τ xy = = = 726
Ip 16980 cm 2

Círculo de Mohr:
726
OC = 1606 R = 775 senθ =
θ = 70 D
775
σN = OC + R cos 50 = 1606 + 775 cos 50 = 2104 > 900
τ N = R sen 50 = 775 sen 50 = 594 < 600

Página 15
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

A solda não suporta o carregamento !!!

Página 16
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.2

Para os pontos A e B da peça indicada abaixo, da seção quadrada sob torção-


solicitação axial, pede-se:

1 - definir os estados de tensão de A e B.


2 - tensões normais principais.
3 - tensão tangencial principal maior.

T = 500 kgf.cm P = 1000 kgf


Lado a = 2cm α = 0,208

Solução:

1) σN= P/A τA=T/α.a.b2


σN= 250 kgf/cm2 τA= 300 kgf/cm2

2) B: σ1=250 , σ2=σ3=0 , A: σ1=450 , σ2=0 , σ3=-200

3) B: τ1,3=125 A: τ1,3=325

Página 17
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.3

Para o eixo de seção circular maciça indicado abaixo, sob T = 1000 kgf.cm, pede-se:

1 - definir o estado de tensão do ponto A.


2 - matriz do tensor tensão de A.
3 - círculos de Mohr de A.
4 - cálculo das tensões normais principais de A.
5 - cálculo das tensões octaédricas de A.

Raio = 2 cm
Ip = 25,12 cm4
τxy = -80 kgf/cm2

Solução:

1)

0 −80 0
2) −80 0 0 3)
0 0 0

4 ) σ1=80 ; σ2=0 , σ3=-80

5) σOCT=0 τOCT= 65,6

Página 18
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.4

Um vaso cilíndrico de ferro fundido com diâmetro médio de 0,2 m possui paredes
de espessura h = 10 mm. A pressão dentro do vaso é p = 4 MN/m2. O vaso é também
comprimido por forças N = 200 kN. Determinar o estado de tensão de um ponto situado
próximo à face interna.

Solução:

p .R 4.0 ,1
σC = = −3
= 40 MN / m 2 σ L = 20 MN / m 2
h 10.10
200.10 3
σN =− = −32 MN / m 2 , σ 1 = 40 , σ 2 = −4 , σ 3 = −12 ( MN / m 2 )
0 ,2.π .10.10 −3

- 12 0 0
0 −4 0 τ 1,3 = 26 MPa
0 0 40

Página 19
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.5

Um anel de aço de seção circular é encaixado contra um eixo de um material


rígido, sem pressão de contato. Se o anel é resfriado de 40º C, pede-se definir o estado de
tensão de um ponto do anel em contado com o eixo.

Solução:

Para o anel:

E = 2.106 kgf/cm2 α= 125.10-7 /ºC


ν = 0,3 d= 1,6 cm A= 2 cm2

p .R 20
σ= =p = 12 ,5 p ε = α∆t deformação circunferencial do anel = ε tens
x
o~ es
e 1,6
1 p kgf
125.10 -7 .40 = 6
( σ + 0 ,3 p ) = 6
( 12 ,5 + 0 ,3 ) p = 78 2
2.10 2.10 cm
kgf kgf
σ = 976 ,6 2 , σ 1 = 976 ,6 , σ 2 = 0 ,σ 3 = −78 ( 2 )
cm cm

Página 20
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.6

Para a viga esquematizada ao lado, pede-se:

1 - definir os estados de tensão de A e B.


2 - representação matricial de A e B.
3 - tensões normais principais de A e B,
4 - tensão tangencial principal maior de A e B.

Dados: α = 0,232; η = 0,859

Solução:

σ N = 167 kgf / cm 2 → σ = N / A = 1000 / 2.3 = 167 kgf / cm 2


 2.3 3 MY 80.20.1,5
M
σ B = 533 → I = →σ = = = 533kgf / cm 2
12 I 4,5
 σ = 0
 A
 τ B = .0

V VM s 80 ( 2.1,5.0,75) = 20 kgf / cm 2
τ A = 20 → τ A = =
 b.I 2.4,5
 τ = T / α .a.b 2 = 480 / 0,232 .3.4 = 172,4
T A
τ B = 0,859 .τ A = 149

1)

0 0 0 0 0 149
2) A : 0 0 − 192 ,4 , B: 0 0 0
0 − 192 ,4 167 149 0 700

 σ 1 = 293 ,2  σ 1 = 730
 
3) Aσ 2 = 0 ; B σ 2 = 0 .
σ = −126 ,2  σ = −30
 3  3

4) A: τ1,3=210 B: τ1,3= 380

Página 21
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.7

Definir o estado de tensão do ponto A da Figura abaixo, calculando as tensões


normais principais deste ponto. O cubo é feito de material deformável e o anteparo de
material rígido.

Coeficiente de Poisson do material do cubo = 0,3


p = 600 kgf/cm2

Solução:

1
εx = 0 ∴ ( σ x − ν ( σ y + σ z )) = 0 ∴ σ x = −180
E
σ1 = 0 , σ 2 = −180 , σ 3 = −600 (kgf/cm 2 )

 G 3 G 3 G 3 G G G
σ oct = ( 0i − 180 j − 600 k ). (i + j + k )
 3 3 3
σ oct = −260 kgf / cm
2

τ = 253,8 kgf / cm 2
 oct

Página 22
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.8

Definir o estado de tensão para o ponto A do sistema abaixo, calculando as


tensões normais principais para este ponto. Determinar ainda as tensões octaédricas de A.

p = 600 kgf/cm2
Coeficiente de Poisson = 0,4

Solução:

σx= σz
1 1
εx = 0 =
E
[ ]
σ x − ν (σ z − 600 ) = [σ x − νσ z + 240 ]
E
σ x = −400 ∴ σ 1 = σ 2 = −400 , σ 3 = −600( kgf / cm2 )

G G G 3 G G G
σ oct =
3
3
(−400 i − 400 j − 600 k .
3
)
i + j+k ( )
σ oct = −466 ,7
τ oct = T 2 − σ 2 oct = 228752 − 466 ,7 2 = 104 ,6

Página 23
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.9

Um eixo de cobre é ajustado sem pressão dentro de uma camisa de aço. Após, é
aplicada uma pressão de 500 kgf/cm2 contra o eixo. Pede-se:

1 - definir o estado de tensão para os pontos A e B.


2 - determinar a tensão tangencial principal maior para A e B.
3 - determinar as tensões octaédricas de A e B.

Módulo de elasticidade do cobre = 1.106 kgf/cm2. Coeficiente de Poisson = 0,33


Módulo de elasticidade do aço = 2.106 kgf/cm2. Coeficiente de Poisson = 0,30
Raio externo = 10,5 cm
Raio interno = 10,0 cm

Solução:

1)

Página 24
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

1 1
ε cA = ε cB ∴
1.10 6 [− P − 0 ,33(− P − 500 )] = 2.10 6 [20 P − 0 ,3(− P)]
−1,34 P + 330 = 20 ,3 P
P = 15 ,25 kgf / cm2

Para o ponto A temos: Para o ponto B temos:


σ1 = σ2 = -15,25 kgf/cm2 σ1 = 305 kgf/cm2 , σ2 = 0
σ3 = -500 kgf/cm2 σ3 = -15 ,25 kgf/cm2

Cálculo das tensões octaédricas e da tensão tangencial máxima para o ponto A.

1 G G G G 1 G 1 G G G
l=m=n= T = (-15,3i - 15,3j - 500k ). N= ( i + j + k)
3 3 3
G G 1
σ oct = T .N T= ( 15 ,3 ) 2 .2 + 500 2 = 289 kgf/cm 2
3
− 15 ,3 − 15 ,3 − 500
σ oct = = −177 τ oct = T 2 − σ oct 2
τ oct = 228 kgf/cm 2
3
τ 1,3 = 242 ,5 kgf/cm 2

Analogamente para o ponto B temos:

σ oct = 96 ,7 kgf / cm2


τ oct = 148 ,4 kgf / cm2
τ 1,3 = 160 kgf / cm2

Página 25
Unidade 1 – NOÇÕES SOBRE ESTADO TRIPLO DE TENSÃO

¾ Exercício 1.10

Um anel de latão de 130 mm de diâmetro externo encaixa-se perfeitamente dentro


de um anel de aço de 130 mm de diâmetro interno, quando a temperatura dos dois anéis é de
10ºC. Sabendo-se que a temperatura dos anéis é aumentada para 50º C, determinar:
1 - estado de tensão de A e B.
2 - tensões normais principais de A e B.
Dados: Espessura do anel de aço = 3 mm
Espessura do anel de latão = 6 mm

E ν α
Latão 103 GN/m2 0,33 20,9.10-6/ºC
Aço 200 GN/m2 0,30 11,7.10-6/ºC

65
σc = −p = −10 ,83 p
5

65
σc = p = 21,67 p
3

Solução:

δL = variação do raio do latão


δA = variação do raio do aço
δ L + δ A = R( α L − α A )∆t
δ L = R.ε L , δ A = R.ε A

p −
1
9
(− 10 ,83 + 0 ,33) + 1 9 (21,67 + 0 ,30 ) = (20 ,9 − 11,7 ).10 −6 .40
 103.10 200.10 
p = 1,74 MN / m 2

σ1 = 0 MPa σ1 = 37,7 MPa


σ2 = -1,74 MPa σ2 = 0 MPa
σ3 = -18,8 MPa σ3 = -1,74 MPa

Página 26
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

2. TEORIAS DE RESISTÊNCIA

OBJETIVOS:

- Definir material frágil e dútil.


- Definir coeficiente de segurança.
- Definir tensão equivalente.
- Definir a teoria da máxima tensão normal.
- Definir a teoria da máxima tensão tangencial.
- Definir a teoria da energia de distorção
- Definir a teoria de Coulomb-Mohr.
- Aplicar, convenientemente, as diversas teorias de resistência, ao
dimensionamento de peças.

2.1 - INTRODUÇÃO

A ruína, destruição ou falha de uma estrutura pode-se processar de três maneiras


diferentes: perda de estabilidade, deformação excessiva ou porque, em um determinado ponto
da peça, as tensões atingiram um valor tal que a mesma não tem mais condições de suportar.
É do estudo deste último tipo de falha que tratam as teorias ou critérios ou hipóteses de
resistência. Chamaremos esta falha de falha estrutural. A estrutura não cumpre mais as
condições para as quais foi projetada.
Até agora estudamos casos de dimensionamento envolvendo peças sujeitas a um
estado de tensão mono-axial (tração ou compressão) ou a um estado bi-axial simples
(cisalhamento puro). Nestes casos, o problema do estabelecimento da segurança é intuitivo;
basta determinar a tensão que produz a falha, seja por tração ou compressão ou corte, e afetar
os resultados de um coeficiente de segurança, obtendo deste modo, um critério para
apreciação da medida do perigo de falha. Vejamos agora o caso em que o ponto mais
tensionado da peça está sujeito a um estado de tensão qualquer. Com o auxílio do estudo feito
em “Noções sobre estado triplo de tensões”, podemos calcular as três tensões normais
principais que atuam neste ponto: σ1, σ2 e σ3. Quais os valores das tensões limites, σ1,lim, σ2,lim
e σ3,lim que se desenvolverão quando o material estiver na iminência de falha? Responder a
esta pergunta significa achar os valores seguros de σ1, σ2 e σ3. O problema é muito complexo.

) A dificuldade relacionada com a elaboração de uma teoria de resistência está na


insuficiência de nossos conhecimentos sobre os processos internos que têm lugar no
material.

A física do estado sólido não nos brinda, até o momento, com a possibilidade de aprofundar o
micro mecanismo da deformação plástica e ruptura, até onde requerem os cálculos práticos.
Assim, a maneira mais garantida de resolver este problema consiste em ensaiar um corpo de
prova com a proporção das tensões principais dadas até a sua ruína (ruptura ou início de
escoamento) e estabelecer os valores seguros de σ1, σ2 e σ3. Este método deve ser
abandonado por exigir um ensaio para cada combinação possível de tensões normais
principais. Além disto, estes ensaios são complicados, pois exigem máquinas e dispositivos
sofisticados. Resulta ser necessário dispor de uma teoria ou hipótese que discrimina, de uma
maneira arbitrária, mas com bom senso, o fator responsável pela falha, sem recorrer toda vez
à ensaios trabalhosos, limitando-se ao conhecimento dos resultados dos ensaios de tração e

Página 27
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

compressão do material da peça. Tais fatores poderiam ser tensões (normal ou tangencial),
deformações e até mesmo energia de deformação.

) Rigorosamente falando, a cada material corresponde uma teoria própria.


Entretanto, referindo-se a materiais isótropos, pode-se dizer que é possível reuni-los
em dois grandes grupos: materiais frágeis e dúteis.

Em virtude disto, várias hipóteses serão formuladas, de acordo com os tipos


diferentes de falha do material empregado.
Certos materiais não se enquadram em nenhuma das teorias conhecidas (concreto
armado, madeira). Sua resistência é calculada através de fórmulas empíricas estabelecidas
pelas normas brasileiras.

) A validade do critério ou hipótese se verificará pela comparação com o


comportamento real do material, através de ensaios, sob solicitação combinada,
realizados em laboratório.

Sob o ponto de vista físico, os materiais isótropos podem sofrer dois tipos
principais de destruição ou falha:

1- destruição frágil, característica dos materiais frágeis e dos maciços


pulverulentos (areia, argila, etc.). Para estes materiais, a destruição se verifica quando há
separação de umas partículas das outras. A tensão normal trativa é a principal responsável por
este tipo de falha.

2- destruição dútil, característica dos materiais dúteis. Consiste no deslizamento


de partículas do material, segundo planos preferenciais e é acompanhada de grandes
deformações. A tensão tangencial é a principal responsável por este tipo de falha.

Um material é frágil quando a análise de seu diagrama tensão deformação


apresenta, praticamente, a fase elástica (admite-se até 5% de alongamento) como resultante de
todo o ensaio. O material não possui escoamento nem fase plástica; sua ruptura acontece logo
após o regime elástico. Exemplos de materiais frágeis: ferro fundido, concreto, vidro,
cerâmica, tijolo, etc..
Um material é dútil quando a análise de seu diagrama indicar uma apreciável
deformação plástica antes de sua ruptura. Exemplo: todos os metais, de modo geral. Podemos
ter dois casos:

1- material dútil com escoamento definido: o diagrama tensão deformação possui


o patamar horizontal (Fig. 14). Exemplo: todo aço para concreto armado classe A (CA-50A,
etc.).

2- material dútil sem escoamento definido: o diagrama tensão deformação não


possui o patamar horizontal. Neste caso, o final da fase elástica é definido pela tensão (limite)
de escoamento convencional que corresponde para a maioria dos aços à tensão obtida através
de uma deformação residual de 0,2%. Exemplo: todo aço para concreto armado classe B (CA-
60B, etc.) (Fig. 16). Uma característica comum aos materiais dúteis é que eles possuem limite
de escoamento a tração igual ao limite de escoamento à compressão. Já os materiais frágeis
possuem o limite de ruptura a compressão maior do que o limite de ruptura a tração.

Página 28
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

A Figura 14 apresenta um diagrama tensão deformação de um aço dútil com


escoamento definido. O diagrama cheio é o convencional, que é mais usualmente empregado.
O pontilhado é o diagrama real ou verdadeiro, que por enquanto não apresenta maior interesse
para este estudo. No diagrama convencional a área do corpo de prova é considerada constante,
para efeito de cálculo de tensão, durante todo o ensaio. Na realidade, a área da amostra varia
(diminui) para cada incremento de carga aplicado. Na confecção do diagrama real este fato é
levado em consideração e obtém-se o diagrama pontilhado indicado na Figura 14.
A Figura 15 apresenta diagramas de material frágil e dútil (sem escoamento
definido). A Figura 16 indica como se obtém o limite de escoamento convencional para um
aço sem escoamento definido.
A fragilidade e ductilidade de um material dependem dos seguintes fatores:
temperatura, velocidade de aplicação de carga e estado de tensão que o solicita. Um material
pode ter um comportamento dútil à 20ºC e frágil à -20ºC. Algumas vezes ocorre a falha do
tipo combinada: em certas regiões ocorre destruição por separação de partículas e em outras
por deslizamento, em uma mesma seção.

2.1.1 - Falha de Materiais Policristalinos

Completando o estudo feito anteriormente, podemos afirmar que a resistência de


um material policristalino isótropo pode ser definida por duas características: pela sua
resistência à separação de partículas e pela sua resistência ao deslizamento de planos
cristalográficos (cisalhamento).
Todo material cristalino possui estas duas resistências internas. Se a resistência ao
deslizamento é maior do que a resistência à separação de partículas - materiais frágeis - a
ruptura ocorre por termos ultrapassado as forças de coesão, neste caso não ocorre deformação

Página 29
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

apreciável. O fator principal responsável pela ruptura é a tensão normal de tração que provoca
separação de partículas. Verificamos isto no ensaio de tração de uma amostra de material
frágil (ferro fundido, por exemplo). Já no ensaio de compressão de uma amostra de material
frágil (ferro fundido), como não ocorrem tensões normais de tração responsáveis pela
separação de partículas, o corpo de prova rompe-se por cisalhamento à 45º, aproximadamente,
oferecendo maior resistência - sua resistência ao cisalhamento é maior que sua resistência à
separação de partículas. Isto justifica o fato de que, para os materiais frágeis, a tensão de
ruptura à compressão é maior do que a tensão de ruptura à tração.
No ensaio de torção de uma amostra de material frágil, a ruptura ocorre também
por separação de partículas à 45º com o eixo da peça, onde acontece a tensão normal principal
positiva maior (faça a experiência com um pedaço de giz). O círculo de Mohr para o ensaio de
torção (cisalhamento puro) acusa que a tensão tangencial maior é igual, numericamente, à
tensão normal principal máxima que atinge o limite de ruptura à tração no instante da fratura
da peça. Logo, para os materiais frágeis, a tensão tangencial que causa ruptura à torção é igual
ao limite de ruptura à tração do mesmo material.
Se a resistência à separação é maior do que a resistência ao deslizamento -
materiais dúteis - a falha ocorrerá por cisalhamento. O fator principal responsável pela falha é
a tensão tangencial. Então o deslizamento ao longo de planos inclinados se inicia em primeiro
lugar. Durante o escoamento, no ensaio de tração de materiais dúteis, observa-se o
aparecimento de bandas de deslizamento a 45º com o eixo da peça, em todas as direções. O
círculo de Mohr do ensaio de tração indica que à 45º com a direção da carga ocorre a maior
tensão tangencial, justificando a falha por deslizamento. Analogamente, no escoamento do
ensaio de compressão de materiais dúteis, observam-se bandas de deslizamento à 45º em
todas as direções. É a 45º que ocorre a maior tensão tangencial, confirmando a falha por
cisalhamento. Considerando o material como isótropo podemos assumir, para os materiais
dúteis, que o limite de escoamento à tração é igual ao limite de escoamento à compressão. Os
ensaios de laboratório confirmam esta afirmativa.
Finalizando, podemos dizer que toda teoria de resistência é estabelecida a partir de
um dos fatores citados anteriormente (tensão, deformação ou energia), ignorando os outros, e
está vinculada aos resultados dos ensaios de tração e compressão. Uma teoria tenta prever a
falha de um material, sob um estado complexo de tensões, fundamentada em um fator
arbitrário, regida pelos resultados dos ensaios de tração e compressão, que na realidade são
ensaios monoaxiais.
Para o estudo que faremos a seguir, adotaremos as seguintes convenções:

Syt - limite de escoamento à tração (materiais dúteis).


Syc - limite de escoamento à compressão (materiais dúteis).
Sut - limite de ruptura à tração (materiais frágeis).
Suc - limite de ruptura à compressão (materiais frágeis).

2.2 - TEORIA DA MÁXIMA TENSÃO NORMAL

Esta teoria apresenta somente interesse histórico.


Suas previsões não concordam com as experiências e seus resultados não são
conservativos.

) A teoria da máxima tensão normal estabelece que a destruição ocorre quando a


maior tensão normal principal iguala a tensão de ruptura (ou escoamento) do
material.

Página 30
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Se a destruição for um escoamento (material dútil), a teoria prevê falha quando:

σ1 = Syt ou σ3 = Syc (2.1)

Se a destruição for uma ruptura (material frágil), a falha ocorrerá quando:

σ1 = Sut ou σ3 = Suc (2.2)

Esta teoria não deve ser aplicável aos materiais dúteis, pois conduz a erros
grosseiros. Aos materiais frágeis, em alguns casos, ela pode proporcionar resultados
satisfatórios.

Vamos estudar o caso da torção pura (Figura 17-b):


Neste caso:
σ1 = τmáx = -σ3 e σ2 = 0; a teoria da máxima tensão normal prevê que a peça
falha à torção quando τmáx = Syt. No entanto, os resultados experimentais mostram que a peça
solicitada deforma permanentemente quando a tensão tangencial máxima atinge cerca de 60%
do limite de escoamento a tração. Esta é uma das razões de não se recomendar esta teoria
(Figura 17).

Figura 17

2.3 - COEFICIENTE DE SEGURANÇA

Antes de enunciar a próxima teoria vamos ampliar o conceito de coeficiente de


segurança. Suponhamos conhecido um determinado estado de tensão. Aumentando
proporcionalmente todas as componentes deste estado de tensão, isto é, modificando-o de
modo que ele permaneça semelhante, vamos chegar, cedo ou tarde, na iminência de falha do
material. Coeficiente de segurança é o número que informa quantas vezes devem-se aumentar,
simultaneamente, todos os componentes do estado tensional dado para que ele se transforme
no estado tensional limite (iminência de falha).

) Se dois estados de tensão têm o mesmo coeficiente de segurança, eles são


igualmente perigosos.

Deste modo, podemos comparar diversos estados tensionais segundo seu grau de
perigo, através do coeficiente de segurança. O coeficiente de segurança de uma peça é o
coeficiente de segurança de seu ponto mais perigoso.

Página 31
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

2.4 - TENSÃO EQUIVALENTE OU DE COMPARAÇÃO

Suponhamos conhecido um determinado estado de tensão, através de suas tensões


normais principais. Tensão equivalente a este estado de tensão (σeq), é a tensão que deve ser
aplicada a uma barra tracionada para que seu estado de tensão seja igualmente perigoso ao
estado de tensão do ponto dado; a amostra tracionada e o ponto têm o mesmo perigo de falha.
A tensão equivalente é obtida, em função das tensões normais principais, através de uma
teoria de resistência. Deste modo, pode-se considerar resolvido o problema da medida do
perigo de um estado de tensão. A Figura 18 abaixo, ilustra o que foi dito.

Figura 18

O ponto A, apresenta o mesmo perigo que o ponto B.

O coeficiente de segurança do ponto B obtém-se através da expressão:


S yt
n= (2.3)
σ eq
Este é também o coeficiente de segurança do ponto A.

Em dimensionamento, muitas vezes é usada a tensão admissível, cuja expressão é:


S yt
S yt = (2.4)
n
A sua utilização dispensa o conhecimento do limite de escoamento e do
coeficiente de segurança.

A expressão de dimensionamento fica a seguinte:


S yt
σ eq = S yt = (2.5)
n

2.5 - TEORIA DA MÁXIMA TENSÃO TANGENCIAL OU DE TRESCA

) A maior tensão tangencial que aparece no ponto mais tensionado de uma peça, não
deve exceder à metade do limite de escoamento a tração, obtido através de um ensaio
de tração realizado com o mesmo material da peça.

Página 32
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Esta teoria é comprovada, experimentalmente, somente para materiais dúteis.


De acordo com o seu enunciado sua expressão analítica é:
σ1 −σ3 S yt
τ max = τ 1,3 = ≤ (2.6)
2 2
Simplificando: σ1 - σ3 ≤ Syt
Nesta teoria a tensão equivalente é expressa assim:
σeq = σ1 - σ3
e o coeficiente de segurança (expressão 2.3)
Syt
n=
σeq
Representando a teoria, através do processo gráfico de Mohr, conclui-se que todos
os estados de tensão, representados por círculos, que estão situados na região hachurada,
satisfazem a esta teoria, ou seja, a teoria declara como seguros (Figura 19).

Figura 19

É importante lembrar que Syt /2 é a intensidade da tensão tangencial máxima que


acontece no momento do escoamento de uma amostra tracionada (observar o círculo de Mohr
da Figura 20). Com base nisto, a teoria da máxima tensão tangencial pode ser enunciada
assim: "a tensão tangencial máxima, no ponto mais perigoso, não pode ultrapassar a tensão
tangencial máxima que ocorre no momento do escoamento no ensaio de tração".
Assim:
τmáx (peça) ≤ τmáx (ensaio de tração)

Figura 20 (amostra tracionada, no momento do escoamento)

Página 33
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Esta teoria estabelece que o escoamento a torção ocorre quando: Ssy = 0,5 Syt,
onde Ssy é a tensão tangencial de escoamento a torção. Conforme já relatamos, os resultados
experimentais mostram que: Ssy = 0,6 Syt; resultado muito próximo ao fornecido pela teoria de
Tresca. Neste caso esta teoria é conservativa, ou seja, mais segura.
Para materiais dúteis sujeitos a um estado plano de tensões, a teoria estabelece
como contorno limite aquele que é indicado na Figura 21, ou seja, ABCDEF.

Figura 21

Com efeito:
Se σa e σb são as tensões normais principais do estado plano e se ambas são
positivas ou negativas, uma delas é uma tensão principal σ1 (se ambas forem positivas) ou σ3
(se ambas forem negativas). No primeiro caso, a menor tensão normal principal é σ3 = 0 e no
segundo, a maior tensão normal principal é σ1 = 0.

Se σa > 0, e σb > 0, implica em:


σ1 = σa = Syt, σ2 = σb e σ3 = 0 → σeq = σ1 = σa = Syt
ou
σ1 = σb = Syt, σ2 = σa e σ3 = 0 → σeq = σ1 = σb = Syt
o que resulta no trecho ABC do primeiro quadrante (Figura 21).

Se σa < 0, e σb < 0, temos:


σ1 = 0, σ2 = σb , σ3 = - Syt = σa = - Syc → σeq = σ3 = σa = -Syt
ou
σ1 = 0, σ2 = σa , σ3 = - Syt = σb = - Syc → σeq = σ3 = σb = -Syt
o que resulta no trecho DEF do terceiro quadrante (Figura 21).
No segundo e quarto quadrantes, onde uma das tensões (σa ou σb) é positiva e a
outra negativa, a tensão intermediária é nula. As tensões σa ou σb serão as tensões extremas.
Como elas têm sinais opostos, a expressão da teoria será:

σ a + σ b = cte = S yt → σeq = σa - σb = Syt

Deste modo obtêm-se os segmentos de reta AF e CD da Figura 21.


Para a teoria da máxima tensão normal o contorno é o quadrado BB'EE'
representado na Figura 21.

Página 34
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

2.6 - TEORIA DA ENERGIA DE DISTORÇÃO (VON MISES)

Antes de definirmos a teoria, vamos determinar a energia de deformação unitária


(por unidade de volume) absorvida por um elemento sob três tensões normais principais.
Lembremos ainda que a energia é numericamente igual ao trabalho realizado contra o
elemento. Esta energia é a soma da energia absorvida na direção 1, com a energia absorvida
na direção 2, com a energia absorvida na direção 3.
Suponhamos um elemento sob três tensões normais principais, Figura 22.
Vamos calcular:
• Força na direção 1: • Deformação na direção 1:
F1 = σ1 dy dz ε1 =
1
[σ 1 − ν (σ 2 + σ 3 )]
E
• Alongamento sofrido pelo elemento na direção 1:
dx
∆dx = [σ 1 − ν (σ 2 + σ 3 )]
E
Lembrando que o trabalho é calculado multiplicando a metade da força pelo
deslocamento (pois a força é proporcional ao deslocamento), o trabalho realizado por F1 é:
1
W1 = dx dy dz σ 1 [σ 1 − ν (σ 2 + σ 3 )]
2E

W1 =
dx dy dz
2E
[
σ 1 − ν (σ 1 σ 2 + σ 1 σ 3 )
2
]
Do mesmo modo, os trabalhos realizados por F2 e F3 são:

W2 =
dx dy dz
2E
[
σ 2 − ν (σ 1 σ 2 + σ 2 σ 3 )
2
]
W3 =
dx dy dz
2E
[
σ 3 − ν (σ 1 σ 3 + σ 2 σ 3 )
2
]
O trabalho total, que é igual à energia de deformação absorvida, é:

W = W1 + W2 + W3 =
dx dy dz 2
2E
[
σ 1 + σ 2 + σ 3 − 2ν (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 )
2 2
]

Figura 22

Este trabalho é armazenado no material como energia de deformação, e como dx


dy dz representa o volume do elemento, a energia de deformação unitária (por unidade de
volume) é:

Página 35
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

U =
W
=
1
dV 2 E
2
[ 2 2
]
σ 1 + σ 2 + σ 3 − 2ν (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 ) (2.7)

Esta energia calculada (expressão 2.7) é a soma das energias responsáveis pela
variação de volume e pela variação de forma do elemento. Calculemos o valor da energia de
distorção: a expressão (2.7) é válida para quaisquer valores das tensões normais principais,
inclusive para o caso particular em que σ1 = σ2 = σ3 = + p, chamado de despressurização
uniforme (ou tração hidrostática). Os círculos de Mohr, para este estado particular de tensão,
se reduzem a um ponto situado sobre o lado positivo do eixo dos σ . Para qualquer plano que
passe pelo ponto, o estado tensional é sempre o mesmo, e não existe tensão tangencial. Um
elemento assim solicitado sofre somente deformação volumétrica. Não há variação de forma
(ou distorção), pois não existe tensão tangencial atuante. Assim, particularizando a expressão
(2.7), obtemos a fórmula para cálculo da energia de deformação volumétrica:

3(1 − 2ν ) 2
UV =
1
2E
(
3 p 2 − 2ν 3 p 2 =) 2E
p (2.8)

onde UV , é a energia de deformação unitária volumétrica (responsável pela variação de


volume do elemento).

2.7 - OBSERVAÇÃO SOBRE O INVARIANTE I1.

Vamos mostrar que quando o invariante I1 = 0, um elemento sob tensão não sofre
deformação volumétrica e toda sua energia armazenada só provoca variação de forma ou
distorção.

Figura 23

As dimensões dx, dy e dz do elemento da Fig. 23 variam como resultado de sua


deformação, assumindo os valores: dx (1 + ε1) , dy (1 + ε2) e dz (1 + ε3). Consequentemente o
volume do elemento sofrerá um incremento que será expresso pela diferença:
∆V = dx dy dz (1 + ε1) (1 + ε2) (1 + ε3) - dx dy dz.
Desprezando o produto das deformações, que são valores pequenos em comparação
com as deformações à primeira potência, obtemos: ∆V = dx dy dz (ε1 + ε2 + ε3)

A variação unitária de volume, e, é igual à soma das deformações lineares


correspondentes aos três eixos:

∆V
e= = ε1 + ε2 + ε3 (2.9)
V

Página 36
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Substituindo as deformações já calculadas anteriormente e simplificando, obtemos:


1 − 2ν
e= (σ 1 + σ 2 + σ 3 ) (2.10)
E
A expressão entre parêntesis é o invariante das tensões I1. Logo, se I1 = 0, e = 0.
Consequentemente o elemento não sofre variação de volume; somente distorção ou variação de
forma. Exemplos disto estão representados nas fig(s) 24b, 24c e 24d.

) I = 0 define o cisalhamento puro para o caso do estado triplo de tensão.


1

Vamos usar a seguinte identidade para mostrar que um estado de tensão qualquer
pode ser decomposto numa despressurização uniforme mais um cisalhamento puro:

σ1 +σ 2 +σ3 σ1 −σ 2 σ1 −σ3
σ1 = + + (direção 1)
3 3 3

σ1 +σ 2 +σ3 σ1 −σ 2 σ 2 −σ3
σ2 = − + (direção 2)
3 3 3

σ1 +σ 2 +σ3 σ1 −σ3 σ 2 −σ3


σ3 = − − (direção 3)
3 3 3

Logo o estado de tensão dado por σ1, σ2 e σ3 na Figura 22 é equivalente à


superposição de quatro estados tensionais (Figura 23):

σ1 +σ2 +σ3
σm =
3

Figura 24

Figura 24a - despressurização uniforme, que envolve deformação puramente


volumétrica.
Figura 24b - cisalhamento puro nas direções 1-2.
Figura 24c - cisalhamento puro nas direções 1-3.
Figura 24d - cisalhamento puro nas direções 2-3.

Página 37
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Os três casos de cisalhamento puro referidos acima, correspondem à distorções puras


nas direções 1-2, 1-3 e 2-3, respectivamente. Nestes casos há somente variação de forma do
elemento. Deste modo, a energia de distorção unitária (responsável pela variação de forma do
elemento) é a diferença entre a energia de deformação unitária (2.7) e a energia de
deformação volumétrica unitária (2.8) onde:

σ1 +σ2 +σ3
p= =σ m
3

Logo:
3(1 − 2ν )
2
σ + σ 2 + σ 3 
Us =
1
2E
[
σ 1 + σ 2 + σ 3 − 2ν (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 ) −
2 2 2

2E
] . 1
3 
 

onde Us é a energia de distorção unitária do elemento.

Finalmente após simplificações:

Us =
(1 + ν ) [σ 2
+ σ 2 + σ 3 − (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 )
2 2
] (2.11)
1
3E

Aplicando a expressão (2.11) ao caso do ensaio de tração, na iminência do


escoamento (limite elástico), obtemos:

σ1 = Syt , σ2 = σ3 = 0

Logo: U s =
(1 + ν ) .S 2
(2.12)
yt
3E
Vamos agora enunciar a teoria da energia de distorção ou de Huber-Hencky-Von
Mises:

) "Aà energia
energia de distorção unitária, no ponto mais perigoso da peça, não deve exceder
de distorção unitária no limite elástico, no ensaio de tração."

Assim:
(1 + ν ) [σ 2
+ σ 2 + σ 3 − (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 ) ≤
2 2
] (13+Eν ) .S 2
1 yt
3E

[σ ]
1
+ σ 2 + σ 3 − (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 ) 2 ≤ S yt
2 2 2
Simplificando: 1 (2.13)

Neste caso a tensão equivalente é:

σ eq = [σ 1 + σ 2 + σ 3 − (σ 1σ 2 + σ 1σ 3 + σ 2σ 3 )]2
1
2 2 2
(2.14)

Para o estado plano de tensão onde σa e σb são as tensões normais principais, a


expressão da teoria torna-se:

(σ )
1
+σb σ a σ b 2 ≤ S yt
2 2
a − (2.15)

Página 38
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

A representação gráfica em função de σa e σb, é uma elipse, conforme indicado na

Figura 25.

Figura 25

2.8 - FALHA DE MATERIAIS DÚTEIS

Vamos resumir os resultados das três teorias já definidas e compará-los com os


resultados experimentais. A teoria da máxima tensão normal somente apresenta interesse
histórico. Sendo σa e σb as tensões normais principais do estado plano e estabelecendo como
eixo horizontal o de σa e vertical o de σb as três teorias fornecem os gráficos apresentados na
Figura 25. Os resultados de laboratório indicam que a teoria da energia de distorção prevê
escoamento com grande precisão nos quatro quadrantes. Esta teoria é a mais exata. A teoria
da máxima tensão tangencial proporciona resultados mais conservativos, pois seu gráfico
representativo está dentro da elipse da teoria de Von Mises.
Pode-se observar que a teoria da máxima tensão normal coincide com a teoria da
máxima tensão tangencial no primeiro e terceiro quadrantes. No entanto, o gráfico da teoria
da máxima tensão normal é externo ao da elipse de Von Mises no segundo e quarto
quadrantes. Pode ser muito perigoso usar a teoria da máxima tensão normal, pois ela pode
prever segurança quando na realidade não existe.
Normalmente o projetista usa a teoria da máxima tensão tangencial quando as
dimensões não precisam ser tão perfeitas; se é necessário um tamanho aproximado, ou se os
coeficientes de segurança são conhecidamente generosos. A teoria da energia de distorção
prevê falha mais acuradamente, e ela deve ser usada quando a margem de segurança está
restrita a limites muito estreitos ou quando a causa real de falha está sendo investigada.

2.9 - UM CASO IMPORTANTE

Vamos estudar o caso de uma viga solicitada a momento fletor, força normal,
cortante e momento torçor, simultaneamente, Figura 26. No ponto mais afastado da linha
neutra da seção transversal, provavelmente o mais perigoso, atuarão σ originado por M e N; e
τ devido a T (τV = 0), Figura 27. Este ponto está sob um estado plano de tensão onde só existe

Página 39
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

uma tensão normal, Figura 27. Suas tensões normais principais podem ser obtidas através de
propriedades do círculo de Mohr, Figura 28.

Assim:

Figura 26 Figura 27 Figura 28

σ
σ1 = + raio (2.16)
2
σ2 =0
σ
σ3 = − raio (2.17)
2
1 2 2
raio = σ + 4τ (2.18)
2
A tensão equivalente correspondente a teoria da máxima tensão tangencial é:
σeq = σ1 - σ3 .
Após substituição de (2.16), (2.17) e (2.18) nesta expressão obtém-se:
2 2
σ eq = σ + 4τ (2.19)

Do mesmo modo, substituindo (2.16), (2.17) e (2.18) na expressão da tensão


equivalente correspondente a teoria de Von Mises,

2 2
σ eq = σ 1 + σ 3 − σ 1σ 3 , obtém-se:

2 2
σ eq = σ + 3τ (2.20)

A utilização das fórmulas (2.19) e (2.20), neste caso que ocorre muito em
engenharia, facilita o cálculo das tensões equivalentes uma vez que não há necessidade do
cálculo das tensões normais principais.
Se a barra tem seção circular e está sujeita à torção-flexão, um ponto de sua
periferia, mais afastado da linha neutra (onde a tensão normal é maior), está sob uma tensão
M
normal igual à: σ = (2.21)
W

Página 40
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Onde W é o módulo de resistência a flexão, cuja expressão é:


I
W =
y max
Para a seção circular:
π R4 π R3
W = = (2.22)
4R 4

A tensão tangencial que atua neste mesmo ponto é:


TR π R4
τ= , onde I p =
Ip 2

Então:
2TR 2T 4T T
τ= = = = (2.23)
πR 4
πR 3
2π R 3
2W

Substituindo os valores de (2.21) e (2.23) em (2.19) obtém-se, para eixos de seção


circular:
2 2
M   T  1
σ eq = σ + 4τ =   + 4
2 2
 = M 2 +T2 (2.24)
W   2W  W

Substituindo os valores de (2.21) e (2.23) em (2.20) obtém-se, para eixos de seção


circular:
1
σ eq = σ 2 + 3τ 2 = M 2 + 0 ,75T 2 (2.25)
W

As expressões (2.24) e (2.25) permitem o cálculo das tensões equivalentes


correspondentes à teoria da máxima tensão tangencial e energia de distorção, respectivamente,
em função dos esforços. É bom lembrar que elas só valem para eixos de seção circular sob
torção-flexão.

2.10 - TEORIA DE MOHR-COULOMB

Suponhamos que dispomos de uma máquina de ensaios que permita aplicar


qualquer estado de tensão e alterar, proporcionalmente, todas as componentes deste estado de
tensão. Chegará um determinado momento em que este estado de tensão estará na iminência
de falha do material (escoamento ou ruptura). Representemos, graficamente, pelo processo de
Mohr, este estado de tensão através de seu círculo de Mohr maior (sem preocuparmos com a
tensão normal principal intermediária), em função de σ1 e σ3, Figura 29.
Realizemos outro ensaio sobre uma amostra do mesmo material com uma nova
combinação de t. n. p., até chegar na iminência de falha. Construamos o maior dos círculos de
Mohr correspondente.
Procedendo do mesmo modo vamos conseguir um conjunto de círculos de Mohr
para os estados de tensão na iminência de falha ou estados de tensão limites. Construamos a
envolvente comum a todos estes círculos de Mohr, Figura 29.

Página 41
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Figura 29

A teoria de Mohr diz o seguinte:

) situar-se
"O círculo de Mohr maior, correspondente ao ponto mais perigoso da peça, não deve
fora da envolvente dos círculos obtida experimentalmente."

A forma da envolvente depende das propriedades do material e é uma


característica sua.

) Apreocupação
teoria de Mohr baseia-se numa constatação puramente experimental, sem qualquer
de explicar o fenômeno da ruína.

Para determinar a envolvente é necessário conhecer o ponto Mo, Figura 29. Este
ponto está sob um estado de despressurização uniforme. A realização deste ensaio é muito
difícil, além do mais, a realização de outros ensaios laboratoriais, para se construir a
envolvente, implica em se ter aparelhos caros e sofisticados. Assim, torna-se necessário
resolver o problema de como construir a envolvente dos círculos de Mohr quando se dispõe
de um número limitado de ensaios. Os ensaios mais simples são o de tração (círculo de Mohr
de centro O3 na Figura 29) e compressão (círculo de Mohr de centro O2 na Figura 29). Pode-
se também realizar o ensaio de torção (círculo de Mohr de centro O na Figura 29). Todavia
seu círculo de Mohr contribui pouco para a determinação da envolvente, pois se encontra
muito perto dos dois primeiros.
O mais simples é aproximar a envolvente com a tangente comum aos círculos de
Mohr de tração e compressão (Figura 30). Surge assim uma nova teoria baseada na de Mohr.
É a teoria de Mohr-Coulomb, pois foi Coulomb quem primeiro teve esta idéia. A tangente
comum recebe o nome de reta de Coulomb. Esta teoria se aplica bem aos materiais frágeis e
maciços pulverulentos. A teoria de Coulomb se confunde com a da máxima tensão tangencial
para o caso de materiais dúteis. Seu enunciado é o seguinte:

) "Haverá falha se o maior círculo de Mohr, do ponto mais perigoso da peça, cortar a
reta tangente aos círculos de Mohr representativos do ensaio de tração e compressão
realizados com o mesmo material da peça".

Página 42
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Com o objetivo de desenvolver a expressão teórica da teoria, consideremos um


estado geral de tensão e representemos seu círculo de Mohr maior, através do conhecimento
de σ1 e σ3. Se este estado de tensão corresponder a um estado limite, de acordo com
Coulomb, a reta tangente aos círculos de Mohr de tração e compressão tangenciará também o
círculo de Mohr que passa por σ1 e σ3 Figura 30.

Figura 30

Da geometria da Figura 30 temos que o triângulo CVL é semelhante ao DZL.

Logo:
DZ CV DZ + ZL CV + VL
= , ou, = (2.26)
ZL VL ZL VL

Mas:
S uc  σ 1 − σ 3 
DZ = −  (2.27)
2  2 

 σ + σ 3  S uc
ZL =  1 + (2.28)
 2  2
S ut  σ 1 − σ 3 
CV = −  (2.29)
2  2 

 σ + σ 3  S ut
VL =  1 − (2.30)
 2  2

Substituindo (2.27), (2.28), (2.29) e (2.30) em (2.26) e simplificando, obtemos:

S ut
σ1 − .σ 3 = S ut (2.31)
S uc

S ut
Fazendo = K , e substituindo em (2.31), temos:
S uc

σ 1 − Kσ 3 = S ut (2.32)

A tensão equivalente é:

Página 43
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

σ eq = σ 1 − Kσ 3 (2.33)

A representação gráfica desta teoria, para o estado plano de tensão, onde σa e σb


são as tensões normais principais, é o hexágono indicado na Figura 31.
Esta teoria é a que deve ser usada no dimensionamento de materiais frágeis. Para
os materiais dúteis ela se confunde com a teoria da máxima tensão tangencial.

Figura 31

2.11 - TEORIA DE COULOMB MOHR MODIFICADA OU TEORIA DE MOHR MODIFICADA

A teoria de Coulomb foi elaborada através da simplificação da teoria de Mohr.


Nela, a envoltória de todos os círculos de Mohr maiores, obtidos em ensaios de laboratório,
foi reduzida a uma reta tangente aos círculos de Mohr do ensaio de tração e compressão no
instante de ruptura. Ela é conhecida também como a teoria do atrito interno e é baseada em
ensaios de laboratório sem se preocupar com um agente especial causador da falha, como
acontece com as teorias da máxima tensão normal, máxima tensão tangencial e energia de
distorção. A reta tangente passa a ser uma característica mecânica do material a ser
dimensionado.
A teoria de Coulomb-Mohr estabelece que a ruptura ocorre para qualquer situação
que produza um círculo de Mohr maior tangente ou secante à reta de Coulomb (reta tangente
aos círculos de Mohr de tração e compressão obtidos no instante de ruptura). Conforme já foi
deduzida, a expressão da tensão equivalente (ou equação do contorno limite) para esta teoria
é:
σ eq = σ 1 − Kσ 3 = S ut (2.34)
S ut
Onde σ1, σ2 e σ3 são as tensões normais principais e K = .
S uc

Esta expressão pode também ser escrita:


σ1 σ3
− =1 (2.35)
S ut S uc

Página 44
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Para o uso das expressões (2.34) e (2.35) os valores de Sut e Suc são tomados em
módulos. Se o material é dútil, a expressão (2.34) é a mesma da teoria da máxima tensão
tangencial.

Figura 32

Analisando a Figura 32 observamos que as teorias da máxima tensão normal e


Coulomb-Mohr coincidem nos 1º e 3º quadrantes, e diferem nos 2º e 4º. Os pontos
representativos de ensaios de laboratório bi-axiais, realizados até a ruptura indicam, no 4º e 2º
quadrantes (ou seja: uma tensão normal principal positiva e a outra negativa), para o estado
plano, que a teoria de Coulomb-Mohr é por demais conservativa, pois os pontos caem fora
dela e a teoria da máxima tensão normal não é confiável até certo ponto, pois os pontos caem
dentro de seu contorno limite. Já no 1º e 3º quadrantes as duas teorias coincidem e qualquer
uma delas pode ser usada para prever a ruptura de materiais frágeis satisfatoriamente.
Observemos a linha σB/σA = -1, na Fig. 32 que representa o ensaio de torção
pura onde: σA = σ1 = -σB = -σ3 = τmáx. A sua interseção com a reta da teoria de Coulomb-
Mohr, representa a tensão equivalente para esta teoria: σeq = σ1 - (Sut/Suc) σ3 = Sut
τmáx = σ1 = -σ3 ∴ τmáx (1 + Sut/Suc) = Sut
Como (1 + Sut/Suc) é maior do que 1, τmáx < Sut.
Já a teoria da máxima tensão normal fornece que: σA = σ1 = τmáx = Sut e este
resultado é confirmado pelos ensaios de laboratório a ponto de ser anotado como uma das
características dos materiais frágeis (τmáx de cisalhamento no ensaio de torção, no instante de
ruptura, é igual a Sut, limite de ruptura à tração).
Assim, a teoria de Coulomb-Mohr foi modificada para prever falha de acordo com
o resultado experimental obtido através do ensaio de torção e de outros indicados na Figura
32, onde a teoria da máxima tensão normal, no 4º quadrante, se aproxima dos resultados
experimentais vale dizer, quando σB = σ3 > - Sut. Esta teoria de Coulomb-Mohr modificada
ou simplesmente teoria de Mohr modificada, assimila no 2º e 4º quadrantes um pedaço da
teoria da máxima tensão normal e reajusta a teoria de Coulomb-Mohr de modo a se aproximar
mais dos resultados experimentais visando refletir melhor o comportamento real dos materiais
frágeis no instante da ruptura.

Página 45
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

A teoria de Mohr modificada mostra, na Fig.32, não ser tão conservativa quanto a
teoria de Coulomb-Mohr, mas é mais trabalhosa para prever a ruptura. Quando se quer
determinar a dimensão da seção transversal de uma peça cujo ponto mais perigoso está no 4º
(ou 2º) quadrante, é necessário usar o processo de tentativas. Ela não difere no 4º quadrante
da teoria da máxima tensão normal até que σB = σ3 se torne inferior a - Sut. A expressão da
tensão equivalente (ou a equação do contorno limite da teoria) é:

Se: σB = σ3 > - Sut e σA = σ1 ≥ 0

então: σeq = σA = σ1 = Sut (2.36)

Para: σB = σ3 ≤ -Sut e σA = σ1 ≥ 0

 S − S ut 
então: σ eq = σ 1  uc  − Kσ 3 = S ut (2.37)
 S uc 

Equação da reta que passa pelos pontos:

Sut, - Sut ; 0, - Suc


S ut
K= , Sut > 0 , Suc > 0.
S uc

BIBLIOGRAFIA

FEODOSIEV, V. I., Resistencia de Materiales., Editorial Mir. Moscou. 3ª ed.

SHIGLEY, J. Edward., Elementos de Máquinas., Vol. I., Livros Técnicos e Científicos


Editora S.A., Rio de Janeiro, 1ª ed.

SILVA Jr., Jayme F. da, Resistência dos Materiais. Ao Livro Técnico S.A., Rio de Janeiro.,
2ª ed.

STEPHENS, R.C. , Strength of Materials. , Edward Arnold Ltd., London. , 1ª ed.

Página 46
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 2.1

Um prisma de cobre A, é colocado dentro de um recipiente rígido B. Contra o


prisma é aplicada uma pressão “p”. Pede-se:
1- Isolar um elemento de A e determinar sua tensão equivalente, em função de
“p”, usando a teoria da máxima tensão tangencial.
2- Determinar “p” de modo a não haver falha no conjunto.

Módulo de Tensão de escoamento


Coeficiente de Poisson
elasticidade (kgf/cm2) admissível (kgf/cm2)
A cobre 1 x 106 0,33 800

Solução: 1)

Y
p

A p B
A B X

2) ε xA = 0
1
(− σ − 0 ,33(− p )) = 0 ⇒ σ = 0 ,33 p
E
σ 1 = 0 , σ 2 = −0 ,33 p , σ3 = −p
σ eq = σ 1 − σ 3 = p = 800

p ≤ 800 kgf/cm2

Página 47
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

¾ Exercício 2.2

Um anel composto é constituído por um anel de latão de 25 cm de raio interno e


0,25 cm de espessura e por um de aço de 25,25 cm de raio interno e 0,5 cm de espessura. Se
sobre a superfície interna do anel de latão atua uma pressão “p” , pede-se:
1- Determinar, em função de “p”, a tensão equivalente, usando Von Mises, no
ponto A. Este ponto pertence ao anel de latão e fica próximo à superfície de contato.
2- Determinar, em função de “p”, a tensão equivalente, usando Von Mises, no
ponto B. Este ponto pertence ao anel de aço e fica próximo à superfície de contato.
3- Determinar o maior valor de “p” para que não haja escoamento nem em A e
nem em B.

Módulo de Tensão de escoamento


Coeficiente de Poisson
elasticidade (kgf/cm2) admissível (kgf/cm2)
aço 2 x 106 0,30 1200
latão 1 x 106 0,33 800

Solução:

( p − P)
Para o pto A: σ cA = x 25 = 100 ( p − P)
0 ,25
P
Para o pto B: σ cB = x 25 ,25 = 50 ,5 P
0 ,5
⇒ εxA = εxB
1 1
ε xA =
1x10 6
100[( p − P ) + 0 ,33 P = ε]B
x =
2 x10 6
[ 50 ,5 P + 0 ,3 p]
∴ p = 1,25 P ou P = 0,8 p

1) Pto A: σ1 = 20 p , σ2 = 0 , σ3 = -0,8 p
σeqA = 20,41 p ⇒ 20,41 p ≤ 800 ⇒ p ≤ 39,2 kgf/cm2

2) Pto B: σeqB = 40,41 p ⇒ 40,41 p ≤ 1200 ⇒ p ≤ 29,7 kgf/cm2

3) Então: pad ≤ 29,7 kgf/cm2

Página 48
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

¾ Exercício 2.3

Entre duas pranchas fixas paralelas A e B está fortemente presa uma barra de aço
com forma de paralelepípedo cujos lados são: a = 0,04 m, c = 0,02 m e l = 0,06 m. Sabe-se
que durante a compressão com as forças P = 100 kN, a pressão da barra sobre as pranchas é p
= 40 x 106 N/m2. Pede-se:
1- Deformação volumétrica.
2- Encurtamento na direção Y.
3- Energia de distorção unitária de um elemento qualquer da barra.
4- Verificar se o ponto está dimensionado (Von Mises).
5- Calcular a variação de volume da barra.

Dados: E = 2 x 105 MN/m2 , ν = 0,30 , Syt = 120 MN/m2

Desprezar as forças de atrito entre a barra e as pranchas.

Solução:

σy = -125 MN/m2

1 − 2ν
1) ε v =
E
(σ1 + σ2 + σ3 ) ⇒ ε v = −3,2 x10 −4
2) ε y = −5 ,65 x10 −4 , ∆ y = −3 ,39 x10 −5 m

5) ∆V = −158 x10 −10 m 3

N .m ( σ1 + σ 2 + σ 3 )
3) U = 35562 , p = = −55
m3 3
N .m N .m
U v = 9075 3 , U s = U − U v ⇒ U s = 26487
m m3
MN MN
4) σ eq = 110 ,6 < 120
m2 m2

Página 49
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

¾ Exercício 2.4

Um anel de cobre de 400 mm de diâmetro externo encaixa-se perfeitamente dentro


de um anel de aço de 400 mm de diâmetro interno. Se a temperatura do sistema é aumentada
de 100 ºC, pede-se:
1- Definir o estado de tensão dos pontos A e B (o ponto A pertence ao anel de
cobre e está próximo à superfície de contato; o ponto B pertence ao anel de aço e está próximo
à superfície de contato).
2- Determinar as tensões normais principais de A e B.
3- Se a tensão admissível do aço é 1200 kgf/cm2 e a do cobre é 800 kgf/cm2 qual
será o aumento de temperatura permitido para não haver falha no sistema? Usar a teoria da
máxima tensão tangencial.

Módulo de Coeficiente de
Coeficiente de Poisson
elasticidade (kgf/cm2) dilatação (α /ºC)
aço 2 x 106 125 x 10-7 0,30
cobre 1 x 106 165 x 10-7 0,33

Solução: 1)

2) δaço - variação do raio do aço ; δcobre - variação do raio do cobre

δ aço + δ cobre = R(α cobre − α aço ).∆ t


p  1  20  1  20 
20.10 −3.40.10 −7 .100 = 20.10 −3   + 0 ,3  −  − + 0,33  ⇒ p = 8,76 kgf / cm 2
10 6  2  0 ,8  1  0,6 

σcobre = -292 kgf/cm2 ; σaco = 219 kgf/cm2

Aço: (B) Cobre: (A)


σ1 = 219 σ1 = 0
σ2 = 0 σ2 = - 8,76
σ3 = - 8,76 σ3 = - 292

Página 50
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

3) Para o aço: σ1 = 25.p , σ2 = 0 , σ3 = - p


Para o cobre: σ1 = 0 , σ2 = - p , σ3 = -33,33.p

Aplicando a teoria da máxima tensão tangencial, temos que:


padotado = 24 kgf/cm2

Assim:
24  1  20  1  20 
40 x10 −7 . ∆t =  + 0 ,3  −  − + 0 ,33 
10 6  2  0 ,8  1  0 ,6 
∆t = 274º C

¾ Exercício 2.5

Determinar as dimensões da peça de seção retangular, indicada abaixo, engastada


em P, sabendo-se que seu lado maior vale três vezes o menor. Pede-se ainda:
1- Confeccionar os diagramas dos esforços (fletor e torçor).
2- Isolar a seção mais solicitada com todos os esforços solicitantes (desprezar o
esforço cortante).
3- Aplicar a teoria de Coulomb-Mohr e determinar o valor de “b”, lado menor da
seção, adotando um coeficiente de segurança igual a dois.
4- Aplicar a teoria de Coulomb-Mohr modificada e calcular “b”, com um
coeficiente de segurança igual à dois.
Dados:
α = 0,267 , Sut = 400 kgf/cm2 , Suc = 900 kgf/cm2

Página 51
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

Solução:

1)

2)

Página 52
Unidade 2 - TEORIAS DE RESISTÊNCIA

My  76 x 1,5b  50 ,67
3) σ 1A = =   x 12 =
3 
I  b x27 b  b3
 95 x 0 ,5b  190
σ A2 = σ B =  3 
 x 12 = 3
 3b x b  b
T 240 300
τb = = ≅ 3
α ab 2
0 ,267 x3b xb 2
b
190 300
Pto. B: σb = , τb =
b3 b3

mín
(
σ max = 95 ± 95 2 + 300 2 . ) b1
3
σ max ≅
410
b3
220
σ mín ≅ −
b3
Coulomb-Mohr:
1 506 ,8 507
σ eqB = σ 1 + Kσ 3 = [410 − 0 ,44(− 220 )] = ≅ 3
b3 b3 b

σ eqA =
[50 ,7 + 190] ≅ 241 < 507
b3 b3 b3
507
= 200 ∴ b = 1,36 cm
b3

4) Coulomb-Mohr Modificada:
220
− > −200
b3
410
= 200 ∴ b = 1,27 cm
b3

Verificando:
220
− = −107 > −200 (Confirma)
(1,27 )3

Página 53
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

3. FLEXÃO ASSIMÉTRICA

OBJETIVOS:

- Definir plano do carregamento.


- Definir traço do plano do carregamento (t.p.c.).
- Definir flexão assimétrica.
- Definir vetor momento fletor.
- Deduzir a fórmula para cálculo da tensão normal em flexão assimétrica.
- Posicionar a linha neutra.
- Determinar a deflexão total.
- Calcular a tensão normal máxima em seções simétricas e assimétricas.
- Solucionar exercícios sobre flexão assimétrica envolvendo o cálculo da
tensão normal máxima e da deflexão.

3.1 - INTRODUÇÃO

Para a dedução das expressões de flexão simples, foram feitas as seguintes


considerações:

a) A peça possui um plano de simetria que contém todo carregamento externo.


b) A viga permanece simétrica em relação ao plano de atuação dos momentos e
flexiona e deflete neste plano.

Para prosseguirmos vamos introduzir algumas definições úteis para o bom


entendimento da matéria:
Chama-se plano do carregamento ao plano que contém todo carregamento da
viga. Pode-se ter um ou mais planos de carregamentos. Traço do plano do carregamento
(t.p.c.) é a interseção do plano do carregamento com a seção transversal. Em flexão simples, o
t.p.c. é um eixo de simetria (um dos eixos centrais de inércia da seção).

) Quando o t.p.c. não coincide com um dos eixos centrais de inércia da seção
transversal, tem-se definida uma flexão assimétrica.

Neste caso, é mais fácil trabalhar-se com o vetor momento fletor do que com o
binário de flexão. O vetor momento fletor é perpendicular ao plano do binário correspondente,
tem sua intensidade e seu sentido segue a regra da mão direita Fig. 33. É sempre
perpendicular ao t.p.c. e passa pelo centro de gravidade (ponto G), pois toda redução de
esforços é feita em relação a este ponto, Fig. 34.

) É bom lembrar que em flexão simples a direção do vetor momento fletor coincide
sempre com a linha neutra, conforme se observa na Figura 34.

Página 54
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

Figura 33

Figura 34

Como ilustração, observemos a Fig. 35, onde temos seções com dupla simetria e com
simetria simples. Em todos os casos o binário fletor que flexiona a viga, atua em um plano
vertical de simetria que corta a seção segundo um eixo central de inércia. Nestes casos, a
direção do vetor coincide com a da linha neutra e a fórmula de flexão simples é aplicada.

Figura 35

3.2 - CÁLCULO DAS TENSÕES NORMAIS

Vamos estudar agora o caso de uma seção simétrica ou não, onde o t.p.c. não
coincide com os eixos centrais de inércia da seção (Fig. 36).

Figura 36

Página 55
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

Como o plano do carregamento não é de simetria, não podemos induzir que a viga
tenha sua flexão nele, ou que a direção do vetor momento coincida com a linha neutra, como
acontece em flexão simples.
Vejamos as condições sob as quais a linha neutra irá coincidir com o eixo do vetor
momento, ou seja: que a linha neutra seja perpendicular ao t.p.c.. Vamos aplicar as equações
de equilíbrio da estática. Lembremos que, em relação à linha neutra, a tensão normal varia
proporcionalmente. Desse modo:
σ = Cy
∑ F = 0 , C ∫ ydA = 0
x (3.1)

∑ M = M , C ∫ y dA = M
z
2
(3.2)

∑ M = 0 , C ∫ yzdA = 0
y (3.3)

A equação (3.1) nos leva a conclusão que o eixo neutro passa pelo centro de
gravidade da seção, ponto G.
A equação (3.2) nos leva a expressão para cálculo da tensão normal em flexão
simples. E finalmente, a equação (3.3) nos fornece que o produto de inércia em relação aos
eixos yz, é nulo, ou seja, os eixos yz são centrais de inércia. Deste modo concluímos que:

) "Amomento
linha neutra da seção transversal só irá coincidir com a direção do vetor
se yz forem eixos centrais de inércia da seção. Neste caso, o binário
coincidirá com um eixo central de inércia e a linha neutra será o outro. A fórmula
para cálculo da tensão normal será a mesma usada em flexão simples. O t.p.c. será
perpendicular a linha neutra."

Se o vetor momento não coincide com um dos eixos principais de inércia, Fig. 37
o projetamos sobre estes eixos. Para cada componente do vetor M, por exemplo, Mz, o binário
correspondente coincide com um eixo central de inércia e o vetor Mz, com o outro eixo e a
expressão de flexão simples poderá ser aplicada. Do mesmo modo, My coincidirá com um
eixo central de inércia e seu binário com o outro. Aplicando o princípio da superposição, a
expressão de flexão simples será duplamente usada.
Vamos estabelecer uma convenção de sinais para o momento fletor:

) MO binário fletor, M , será positivo se tracionar o sentido positivo de y. Igualmente,


z
(binário) será positivo quando tracionar o sentido positivo de z. 0 par yz deverá
y
ser orientado previamente .

Figura 37

Página 56
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

Na Fig. 37 tanto o Mz quanto o My são negativos. Aplicando o princípio da


superposição, obtemos a expressão para cálculo da tensão normal:

Mz My
σ =− .y − z (3.4)
Iz Iy

Linha neutra:
Mz My
σ =0 → y=− z
Iz Iy
Mas:
Mz = Mcosθ e My=Msenθ
M cos θ M sen θ y I
y=− z , tgβ = = − z tgθ (3.5)
Iz Iy z Iy

Da expressão (3.5) concluímos que o t.p.c. e a linha neutra são perpendiculares,


somente quando:
a) Iz e I y são iguais e então, β = θ e o círculo de Mohr para momentos de inércia é
um ponto. Exemplos: seções circulares e anulares, seções quadradas maciças e
vazadas etc.
b) θ igual a zero. Neste caso, M é igual a Mz e tem-se uma flexão simples.
c) θ é igual a 90º. Caímos no caso "b", onde M é igual a My.

) Quando a seção não possui simetria, a determinação da tensão máxima se faz


localizando o ponto mais afastado da linha neutra.

Para isto confecciona-se a seção em escala, estabelece-se a linha neutra e busca-se


o ponto mais afastado desta. Tomando-se as coordenadas deste ponto em relação aos eixos
centrais de inércia e substituindo-as na fórmula de flexão, determinamos a intensidade da
tensão normal máxima. As coordenadas do ponto mais afastado da linha neutra podem ser
obtidas também analiticamente. A Fig. 38 mostra o procedimento gráfico.

Figura 38

Página 57
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

3.3 - CÁLCULO DA DEFLEXÃO

Para calcular a deflexão em flexão assimétrica, projetamos a carga P sobre os


eixos centrais de inércia e por superposição calculamos a deflexão total, Fig. 39.

Deste modo:
P. cos θ .l 3 P. sen θ .l 3
δy = , e , δz =
3 EI z 3 EI y
onde:
δ = δ y2 +δ z2 , olhar Figura 40.
δz Iz
tgβ ' = = tgθ (3.6)
δy Iy
A linha neutra foi definida pela expressão (3.5):
y I
tgβ = = z tgθ
z Iy

Como o ângulo θ é o mesmo (Fig. 37), concluímos que: β ' = β


Ou seja: a deflexão total é perpendicular à direção da linha neutra (Fig. 40).

Figura 39

Figura 40

Página 58
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

BIBLIOGRAFIA

TIMOSHENKO, Gere. Mecânica dos Só1idos. Vol. 2. 1ª ed., Livros Técnicos e


Científicos Editora.

BEER, Ferdinand P. Resistência dos Materiais. 1ª ed., McGraw Hill.

FEODOSIEV, V. I. Resistencia de Materiales. Editorial Mir. Moscou.

Página 59
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 3.1

Uma viga em balanço tem seção triangular e está sujeita a uma carga concentrada
P na extremidade livre. Determinar:

1 - Linha neutra.
2 - Tensões normais nos pontos A e C da seção do engastamento.
3 - Deflexão total na extremidade livre.
Dados: P = 4 kN, h = 120 mm, b = 75 mm, L = 1,25 m, M = 5000 N.m
E = 200.109 N/m2
Seção triangular
Ix = bh3/36 Iy = hb3/36 Pxy = b2h2/72

Solução:

I x = 3 ,6.10 6 mm 4 , I y = 1,4.10 6 mm 4 , Pxy = 1,1.10 6 mm 4


Do circulo de Mohr mostrado no final do problema temos :
I max = 4.10 6 mm 4 , I min = 0 ,94.10 6 mm 4 ,α = 22,4 D

5000. cos 22 ,4 5000. sen 22 ,4


1 )σ = 6 −12
.v − 6 −12
.u = ( 1155 ,7 v − 2027 u ).10 6
4.10 .10 0 ,94.10 .10
L.N → v = 1,75u

2)Para o ponto A temos :


v = 8,3 cm e u = -0,7 cm
Logo σ A = 110 ,11 MN/m 2

Para o ponto C temos :


v = -5,6 cm e u = -3,1 cm
Logo σ C = −1,88 MN/m 2

3 )Para a deflexa~o temos :


Pv = P. cos 22 ,4 D = 4000. cos 22 ,4 = 3698 N
Pu = P. sen 22 ,4 D = 4000. sen 22 ,4 = 1524 N
Pv .l 3 3698.1,25 3
δv = = 15 −12
= 3 ,01.10 − 3 m
3 E .I 3 . 200 . 4 . 10 .10
Analogamente para δ u temos : δ u = 0 ,0053 m
∴δ = (3,01.10 − 3 ) 2 + 0 ,0053 2 = 0 ,0061 m = 6,1 mm

Página 60
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

Página 61
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

Página 62
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

¾ Exercício 3.2

Uma viga de madeira formada pela associação de duas vigas de seção retangular
2 x 10 cm, está bi-apoiada, tem 2 m entre os apoios, é solicitada, ao longo de todo o
comprimento, por uma carga “q” uniformemente distribuída, situada em um plano vertical
que passa pelo centro de gravidade da seção. Pede-se:

1 - Eixos centrais e momentos centrais de inércia.


2 - Expressão da tensão normal.
3 - Linha neutra.
4 - Determinar o valor máximo de “q” se:
Limite de ruptura à tração da madeira = 140 kgf/cm2

Solução:

1 ) I x = 973 ,33 cm 4 , I y = 53 ,33 cm 4 , Pxy = −160 cm 4


I u = 1000 ,4 cm 4 , I v = 26 ,33 cm 4 , α = 9,6 D

Temos que o momento máximo é dado por:


q . l 2 q .200 2
M max = = = 5000 q kgf. cm
8 8

5000 q . cos 9 ,6 5000 q . sen 9 ,6


2)σ A = .v + .u
1000 ,4 26 ,3
σA = ( 4 ,928 v + 317
, u )q

3 ) L. N temos:
( 4 ,928 v + 317
, u )q = 0
v = -6,4326u

4)Analisando o ponto A temos :


u(A) = 1,6 cm
v(A) = 8,8 cm
σ A = 94 q = 140
q = 1,49 kgf / cm ou 149 kgf / m

Em seguida está mostrada a Figura com os eixos, o ponto analisado tudo em


escala . Mostrado ainda o círculo de Mohr utilizado para o cálculo de Iu e Iv.

Página 63
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

Página 64
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

¾ Exercício 3.3
Uma viga bi-apoiada de 4 m de vão está sujeita a uma carga uniformemente
distribuída “q”, situada em um plano vertical passando pelo centro de gravidade da seção
composta indicada na Figura abaixo. Pede-se:

1 - Eixos centrais e momentos centrais de inércia.


2 - Expressão da tensão normal.
3 - Linha neutra.
4 - Determinar o valor máximo de “q” com coeficiente de segurança 2,5,
sabendo-se que, para o material da viga, Syt = 300 MN/m2.
Dados:
Cantoneira:
Dimensões: 89.64.7,9 mm, A = 1148 mm2
Ix1 = 391.103 mm4, Iy1 = 912.103 mm4, Px1y1 = 349.103 mm4.
Chapa: 200.10 mm
Solução:

Em seguida temos o desenho em escala mostrando os eixos, a linha neutra e o


ponto analisado. Bem como o círculo de Mohr utilizado para o cálculo de Iu e Iv.

(
1) I x = 391.10 + 83,8 .1148 .2 +
3 2

12
)
10.200 3
= 23,6.10 −6 m 4

(
I y = 912.10 3 + 29,5 2.1148 .2 +
12
)
200.10 3
= 3,8.10 −6 m 4

( )
Pxy = 349.10 3 + 29,5.83,8.1148 .2 = 6 ,4.10 −6 m 4
OC = 13,7.10 −6 R = 11,8.10 −6
I max = I u = 25,5.10 −6 m 4 I v = 1,9.10 −6 m 4
Fazendo o círculo de Mohr estabelecendo x e y no círculo,encontramos
u e v através de uma rotação horária à partir de x igual à :
6 ,4
sen2θ = θ = 16 ,4 horário à partir de x → localiza u
11,8

Mmáx = ql2 /8 = 2q (N.m)


A partir da orientação dos eixos u e v da Figura podemos calcular a tensão
normal como se segue:

 2 q cos 10 , 2 2 q sen 10 , 2 
σ = − v − u  . 10 6 → LN → v = − 2 , 4 u
 25 , 5 1,9 
xA = − 94 mm , y A = − 100 mm → u A = − 61 , 94 mm , v A = − 122 , 47 mm
6
300 . 10
Voltando na expressão da tensão :σ A = 21 q . 10 3
= → q = 5714 , 8 N / m
2 ,5

Página 65
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

24.5

Página 66
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

¾ Exercício 3.4

Para o eixo maciço de aço, ABCDE, indicado abaixo, com limite de escoamento
admissível igual a 900 kgf/cm2, pede-se:

1 - Diagrama de momento fletor.


2 - Diagrama de momento torçor.
3 - Raio do eixo, usando Von Mises.

Solução:

Temos que:
1 π .R 3
σ eq = M 2 + 0 ,75T 2 = S yt → W=
W 4

Analisando os pontos B, C e D temos :


Para o ponto B temos M 2 + 0 ,75T 2 = 49180 ,8
Para o ponto C temos M 2 + 0 ,75T 2 = 47319 ,6 , onde M = M 12 + M 22

Para o ponto D temos M 2 + 0 ,75T 2 = 45526 ,8


∴ Dimensionaremos o eixo pelo ponto B :
B 1 4
σ eq = .49180 ,8 = 900 = ( 49180 ,8 )
W π .R 3
R = 4 ,11 cm

Página 67
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

2e3-

4−
∑M B =0
Va.350 − 24,26.250 + 300.100 = 0
Va = −68,38
∑M A =0
Vb.350 + 300.250 − 24,26.100 = 0
Vb = −207 ,35

Página 68
Unidade 3 – FLEXÃO ASSIMÉTRICA

¾ Exercício 3.5

A engrenagem em C aciona em D uma polia com velocidade constante. Para as


trações indicadas nas correias, calcular:

1 - A força P no dente da engrenagem.


2 - Diagrama de momento fletor.
3 - Diagrama de momento torçor.
4 - Diâmetro do eixo AB, usando Von Mises, sabendo que: S yt = 100 MPa .

Solução:

1 − T D = (200 − 100).80.10 −3 = 8 N.m


T C = H .120.10 − 3 = 0,12 N.m
T D = T C ⇒ 8 = 0,12 H ∴ H = 66,67 N
H 66 ,67
P.cos 20 D = H ∴ P = D
= = 70,945
cos 20 0,94
P = 70,945 N

V = P sen 20 º = 24,26 N

Dos diagramas:

M D = 20,82 N x m
M C = 8,33 N x m
4
σ eq = 3 20,82 2 + 0,75.8 2 = 100 x 10 6
πR
R = 0,00654 m = 6 ,54 mm

Página 69
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

4. TORÇÃO UNIFORME EM PERFIS DE PAREDE FINA

OBJETIVOS:

- Determinar as leis de variação da tensão cisalhante e do momento


torçor em função dos conceitos formulados pela analogia da
membrana.
- Definir perfis de parede fina de seção aberta e fechada.
- Determinar a lei de variação de tensão cisalhante, proveniente de um
torque, para um perfil de parede fina de seção aberta, usando a
analogia da membrana.
- Determinar a lei de variação de tensão cisalhante, proveniente de um
torque, para um perfil de seção fechada de parede fina, usando a
analogia da membrana.
- Determinar o ângulo de torção para ambos os tipos de perfis.
- Dimensionar os dois tipos de perfis sob torção-flexão, usando as
teorias de resistência e impondo as condições de resistência e rigidez.

4.1 - NOÇÕES SOBRE A ANALOGIA DA MEMBRANA

Existem, em mecânica, problemas que diferem em sua essência física, mas podem
ser expressos pelas mesmas equações diferenciais. Devido a isto, é possível estabelecer
analogias entre ambos.
Em alguns casos, a solução de um problema, ou seja, o estabelecimento de uma
relação entre suas variáveis, exige a integração de uma equação diferencial em derivadas
parciais de grande complexidade e para a qual só é possível conseguir soluções aproximadas.
Em compensação, a natureza física de um segundo problema, análogo ao outro em sua
expressão analítica, permite uma interpretação simples das relações que ligam as mesmas
variáveis. Isto possibilita estabelecer as leis que regem o primeiro problema. Um exemplo do
problema complexo é o problema da torção. Sua solução exata deve-se a Saint Venant. Neste
problema, a denominada analogia da membrana, devido à Prandtl (1903), permite determinar
com facilidade a distribuição das tensões de cisalhamento na seção de um eixo sob torção, por
analogia.

) Pode-se demonstrar que a equação diferencial que rege o comportamento da


superfície elástica de uma membrana deformada, uniformemente carregada, de
mesmo contorno da seção transversal de um elemento sujeito ao torque, tem a
mesma forma que a equação que determina a distribuição das tensões cisalhantes
através da seção de uma barra sujeita à torção.

A membrana é fixada por seus bordos e submetida a uma pressão interna


uniforme. Experimentalmente, esta membrana é obtida considerando um furo, com o contorno
da seção sob torção a estudar, em uma placa. Sobre este furo é colada a membrana elástica
através de seus bordos. Por meio de uma pressão de ar adequada, forma-se a superfície da
membrana deformada e através de micrômetros e outros instrumentos de medição pode-se
obter a geometria desta superfície, em particular, as curvas de níveis, declividade máxima e
volume (Figura 41).

Página 70
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Figura 41 - Analogia da membrana

As analogias são as seguintes:

) 1- a tangente a uma curva de nível, em qualquer ponto da membrana, dá a direção


da tensão de cisalhamento no ponto correspondente da seção transversal da barra
sob torção (Figura 41).
2- a declividade máxima da membrana, em qualquer ponto, é proporcional à
intensidade da tensão de cisalhamento no ponto correspondente da barra sob
torção (Figura 41).
3- o volume compreendido entre a membrana deformada e o plano que passa pelo
seu contorno, é proporcional ao momento torçor suportado pela barra.

No caso elementar da seção circular, verifica-se que a declividade máxima maior,


α, ocorre em todos os pontos da periferia e é nula no centro do círculo. Esta declividade
máxima manifesta-se na direção do meridiano. Portanto, a tensão de cisalhamento é máxima
nas bordas e nula no centro (Figura 42).

Figura 42 - Seção circular sob torção

Página 71
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

No caso da seção retangular, verifica-se, analisando a membrana deformada, que


no meio dos lados maiores ocorrem as maiores declividades, α, e, portanto são os pontos de
máximas tensões de cisalhamento. Nos cantos e no centro de gravidade, a declividade é nula e
a tensão de cisalhamento é zero (Figura 43).

Figura 43 - Seção retangular sob torção

No caso de seções vazadas de parede fina, a membrana deformada apresenta uma


declividade α praticamente constante ao longo da espessura, ou seja, as tensões de
cisalhamento se distribuem uniformemente através da espessura do eixo sob torção (Figura
44).

Figura 44

Nos outros casos, a forma da superfície da membrana deformada é facilmente


imaginada para uma dada seção transversal da barra sob torção. Assim, as conclusões
qualitativas relativas à distribuição das tensões cisalhantes na seção sob torção, podem ser
tiradas imediatamente.

4.2 - TORÇÃO UNIFORME EM PERFIS DE PAREDE FINA

No dimensionamento de vigas, em estrutura metálica, na construção de máquinas,


no projeto de aeronaves, muitas vezes, é necessário calcular a torção em perfis de parede fina.
Nestes, a espessura é cerca de um décimo da dimensão média de sua largura ou altura.
Estes perfis se dividem em abertos e fechados. Na Figura 45 os perfis 1, 2, 3 e 4
são exemplos de perfis de seção aberta ou perfis abertos e os outros fechados. A diferença é
que nos perfis fechados a seção transversal encerra um contorno.

Página 72
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Figura 45 - Seções transversais abertas e fechadas.

A natureza da distribuição das tensões cisalhantes de torção na seção transversal


da barra de parede fina é estabelecida de modo simples utilizando-se os conhecimentos
adquiridos no estudo da analogia da membrana. Imaginemos uma placa plana com um furo
cuja configuração é semelhante a do perfil em estudo. Sobre o furo estiquemos (colando pelas
bordas) uma membrana elástica (uma película de sabão, por exemplo). Se aplicarmos uma
pressão uniforme sob a membrana, ela se deforma de maneira distinta de acordo com o perfil
fechado ou aberto, Fig.46.

) Quando se trata de um perfil fechado, a área interior ao perfil não está vinculada
com a placa, mas presa na própria membrana e se desloca sob pressão juntamente
com ela (Figura 46-b e Figura 44).

Já na seção aberta, composta de retângulos, a superfície da membrana deformada


toma o aspecto da superfície de uma meia cana (Figura 46-a). Isto determina a diferença entre
as formas da membrana deformada para os casos de perfis de seção aberta e fechada.

Figura 46 - Membrana deformada em perfis fechado e aberto.

Para a seção aberta composta por retângulos podemos assumir uma distribuição
linear para as tensões cisalhantes, Figura 46a. A declividade da membrana é maior nas laterais
da parede, diminui linearmente até zero no centro, e volta a crescer linearmente, em sentido
contrário até a outra lateral da parede.
Para os perfis de seção fechada, a declividade da membrana é constante e a
distribuição das tensões é uniforme através da espessura da parede, Figura 46b.

Página 73
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

4.3 - PERFIS DE SEÇÃO ABERTA

No estudo de torção em barras de seção retangular, verificamos que quando a


relação a/b, lado maior pelo lado menor, tende para o infinito (aproximadamente 10), os
valores de α e β tendem simultaneamente para 1/3, Tabela 1.

• Tabela 1 - Valores dos coeficientes α, β e η.

a/b 1 1.5 1.75 2 2.5 3 4 6 8 10 ∞


α 0.208 0.231 0.239 0.246 0.258 0.267 0.282 0.299 0.307 0.313 0.333
β 0.141 0.196 0.214 0.229 0.249 0.263 0.281 0.299 0.307 0.313 0.333
η 1.000 0.859 0.820 0.795 0.766 0.753 0.745 0.743 0.742 0.742 0.742

Façamos uma adaptação nas fórmulas para a seção retangular quando a relação
a/b tende para o infinito: (lado maior → s; lado menor → δ)
3T
Assim: τ max = (4.1)
sδ 2
3T l
ϕ= (4.2)
G sδ 3

onde: δ é a espessura do perfil de parede fina, e s o comprimento da linha


mediana do contorno, de cada retângulo que compõe a seção transversal.

Vamos analisar o caso de várias barras de parede fina, com as seções transversais
indicadas na Figura 47, sujeitas ao mesmo momento torçor. Usando a analogia da membrana
para determinar a distribuição das tensões tangenciais, concluímos que sendo o mesmo o
valor do momento torçor em cada barra, será também igual o volume compreendido entre a
superfície deformada e o plano do contorno. A declividade máxima maior da membrana será a
mesma em cada caso, ou seja: desde que o perfil possa ser transformado em um retângulo fino
a forma da seção transversal anterior não tem importância. Qualquer que seja ela, este perfil,
para efeito de torção, suporta o mesmo torque e possui a mesma tensão cisalhante máxima
que o perfil de seção retangular de parede fina desenvolvido através do perfil anterior.

Figura 47 - Seções transversais abertas submetidas ao mesmo torque.

Página 74
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Quando se trata de um perfil de parede fina composto como o representado na


Figura 48, que não pode ser transformado em um único retângulo, procede-se da seguinte
maneira:

) “O momento torçor T, pode ser interpretado como sendo a soma de momentos


parciais que nos surgem diferentes ramos da seção, cada um aplicado no centro de
gravidade de cada retângulo fino”.

T = T1 + T2 + ... (4.3)

Figura 48 - Seção transversal aberta composta.

hh

Figura 49 - Ângulo de giro constante

) Odistorce,
deslocamento angular é único para todos os ramos, ou seja: a seção não se
todos os retângulos giram de um mesmo ângulo que é o ângulo que gira a
seção total.

3 T1 l 3 T2 l 3 Ti l
Assim: ϕ = = = ... =
G s1 δ 1 G s2 δ 2
3 3
G si δ i3
Usando as propriedades de fração:
3 l ( T1 + T2 + ...)
ϕ=
(
G s1 δ 13 + s2 δ 32 + ... )
Página 75
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Finalmente:
3T l
ϕ= (4.4)
(
G s1 δ + s2 δ 32 + ...
3
1 )
A expressão (4.4) permite determinar o ângulo de torção em perfis de parede fina
de seção aberta quando se conhece o torque aplicado, o comprimento da barra, o módulo de
Coulomb G do material e as características geométricas da seção transversal.

Para o tramo de ordem i é válida a seguinte expressão:


3 Ti
τi = (4.5)
si δ i2
Por outro lado temos que:
ϕG
Ti =
3l
(s δ )
i i
3
(4.6)

Substituindo (4.6) em (4.5) e simplificando, temos:


ϕ Gδi
τi = (4.7)
l

) Dada parede.
expressão (4.7) concluímos que a tensão cisalhante é proporcional à espessura
Deste modo a maior tensão cisalhante ocorrerá no ramo retangular de
maior espessura.

Substituindo (4.4) em (4.7) e simplificando obtém-se:


3T δ i
τi = (4.8)
∑ si δ i3
A expressão (4.8) permite calcular a tensão cisalhante em um ramo qualquer i, em
função do momento torçor e das características geométricas da seção transversal. Para se
obter a maior tensão cisalhante na seção transversal, é só substituir δ i por δ max , na expressão
(4.8).
No estudo realizado acima não se levou em consideração o efeito do fator de
concentração de tensão que aparece nos ângulos reentrantes devido a carregamento dinâmico
ou fadiga (para materiais dúteis).

Define-se:
1
It =
3
∑s δ i i
3
como o momento de inércia à torção para perfis abertos de
parede fina.
It
Wt = como o módulo de resistência à torção.
δ max
T Tl
Deste modo: τ max = ; ϕ=
Wt G It

Página 76
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

4.4 - PERFIS DE SEÇÃO FECHADA

A analogia da membrana nos fornece que as tensões cisalhantes provenientes do


momento torçor têm distribuição uniforme através da espessura da parede e são paralelas à
linha mediana do contorno para os perfis de seção fechada.

Considerando um tubo de parede fina de seção fechada sob um torque T (vetor


momento dirigido segundo x, para baixo) e chamando de τ 1 a tensão de cisalhamento atuando
através da espessura δ 1 e τ 2 a tensão cisalhante relacionada com a espessura δ 2 , seccionando
este tubo segundo 1-2, Figura 50, retirando uma porção e colocando as tensões
correspondentes nas faces 1 e 2 de forma a manter o equilíbrio temos (Figura 50):

∑F x =0
τ 1 δ 1 dx − τ 2 δ 2 dx = 0
(4.9)
τ 1 δ 1 = τ 2 δ 2 = constante

Denominando de fluxo cortante corrente q ao produto τ δ , verifica-se que ele é


constante durante todo o contorno da seção transversal.

Figura 50 - Fluxo cisalhante constante

Figura 51 - Dedução da expressão de Bredt-Batho

Página 77
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Para se determinar a tensão cisalhante, analisemos na Figura 51 a área elementar


δ.ds onde ds é um elemento da linha mediana do contorno. Nesta área atuam tensões
cisalhantes tangentes à linha mediana que vão originar uma pequena força dF = τ. ds.δ. Esta
força contribui com uma parcela de momento torçor dT = dF. OA onde OA é perpendicular à
direção da força. Assim:
dT = dF O A = τ ds δ O A
(4.10)
T = ∫ τ ds δ O A = τ δ ∫ O A ds

Onde: τ δ = constante = q
AO. ds é igual a duas vezes a área do triângulo de base ds e altura OA.

Como a integral varre todo o contorno tem-se: ∫ O A ds = 2 A *


(onde A* é a área compreendida pela linha mediana do contorno.)
Substituindo em (4.10) e explicitando a tensão cisalhante:
T
τ= (4.11)
2A* δ
essa expressão é devida à Bredt-Batho.

) A tensão cisalhante máxima ocorrerá no local da seção de menor espessura.


O termo Wt = 2 A * δ min é chamado de módulo de resistência à torção para perfis
fechados de parede fina.
T
τ max = (4.12)
Wt
Para cálculo do ângulo de torção façamos uma comparação entre a energia
potencial do tubo expressa primeiramente em termos do torque T e do ângulo ϕ, em seguida
em função de τ.
1
U= Tϕ (4.13)
2
Para calcular a energia potencial em função de τ , isola-se um elemento do tubo de
volume dV = ds dx δ sob cisalhamento puro, Figura 52.

Figura 52 - Elemento diferencial do tubo

Página 78
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

A energia potencial acumulada neste elemento é:

τ 2 dV τ 2 ds δ dx
dU = =
2G 2G
l δ
U=
2G ∫ τ 2 δ ds
δ
l 2 2 ds
U= τ δ ∫
2G δ
T
Mas: τδ =
2 A*
lT 2 ds
Logo: U = ∫
8( A ) G δ
* 2
(4.14)

Igualando (4.13) e (4.14), simplificando:

Tl Tl
ϕ= =
  GI t
G
( )
 4 A* 2 

 ds 
 ∫ 
 δ 

Onde: I t =
4 A*( ) 2

é o momento de inércia à torção para perfis de seção fechada.


ds
∫δ
Tl
Logo: ϕ = (4.15)
GI t

4.5 - SEÇÕES MULTI-CELULARES

Seja a seção multi-celular composta de duas células, conforme Figura 53.

Figura 53 - Seção multi-celular

Página 79
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Denominando de:

A*1 a área compreendida pela linha mediana do contorno correspondente a célula 1;

A*2 a área compreendida pela linha mediana do contorno correspondente a célula 2;

T1 a parcela do momento T resistida pela célula 1;

T2 a parcela do momento T resistida pela célula 2;

τ1 a tensão cisalhante na célula 1;

τ2 a tensão cisalhante na célula 2;

ϕ1 o ângulo de torção relativo a célula 1;

ϕ2 o ângulo de torção relativo a célula 2;

De acordo com Bredt:


T1 = 2 A1* δ 1τ 1 ; T2 = 2 A2* δ 2τ 2

l T1 ds l q ds
ϕ1 =
4G A1 *2 ∫δ = * ∫
2G A1 δ

l T2 ds l q ds
ϕ2 =
4G A *2 ∫δ =
2G A2* ∫ δ
2

T
pois: q =
2 A*

) Supondo a hipótese de que não há distorção, deve-se ter o mesmo ângulo de torção ϕ
para cada célula.

ϕ = ϕ1 = ϕ2 (4.16)

Mas: T = T1 + T2 = 2(A1*τ 1 δ 1 + A2*τ 2 δ 2 )

T = ∑ 2qi Ai (generalizando) (4.17)

As equações (4.16) e (4.17) permitem resolver o problema. A equação (4.16)


fornece ϕ 1 = ϕ 2 , logo:

1 q ds 1 q ds
* ∫
= * ∫
A1 1 δ A2 2 δ
mas q = τ s = constante:

Página 80
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

qds
∫ δ = ∫ τ ds = constante
* *
(4.18)
A A

Logo:

T = ∑ Ti = ∑ 2 qi Ai*

∫ τ ds = constante (4.19)
A*

As equações (4.19) permitem resolver o problema de seção multi-celulares, pois


determinando q, calcula-se as tensões cisalhantes em cada célula.

BIBLIOGRAFIA

BEER, F. P. J., RUSSEL, E., Resistência dos Materiais, McGraw Hill.

FEODOSIEV, V. I., Resistencia de Materiales, Editora Mir, Moscou, 1972.

MIRANDA, R. P. C. e outros, Torção, São Paulo.

TIMOSHENKO, GERE, Mecânica dos Sólidos, vol 2, Livros Técnicos e


Científicos Editora S.A., Rio de Janeiro, 1984.

Página 81
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 4.1

Encontrar a tensão tangencial máxima e o ângulo de torção unitário para a barra


de seção transversal abaixo.
Dados: T = 600 N.m; G = 77,5 GPa

Solução:

T .δ max T .δ max
τ max = =
1 It
3
∑ si .δ i 3
1
It =
3
∑ si .δ i 3 = (10-3)4.(97,5 . 93 + 97,5 . 93 + 191 . 53) = 55343 x 10-12

600 .9 .10 −3 N
τ max = −12
= 97 ,6 x10 6 2 = 97,6 MPa
55343 .10 m

ϕ T 600
θ= = = = 0,14 rad/m
l G . I t 77 ,5 .10 .55343 .10 −12
9

Página 82
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

¾ Exercício 4.2

Para a viga de parede fina de seção fechada, engastada e livre, indicada abaixo, de
comprimento l = 3,0 m, yt = 520 MPa, n = 2,00, G = 77,5 GPa, determine P e ϕ usando Von
Mises.

Solução:

T = 0,8 P
M = 3P
V=P
200 .300 3 − 192 . 288 3
I= = 6 ,78 x 10 −5 m 4
12

* Para o ponto mais afastado da linha neutra:

My 3 P . 150 . 10 −3
σ= = = 6637 ,2 P
I 6 ,78 . 10 −5
T 0 ,8 P
τ= = = 1156 ,9 P
2 A * δ 2 .196 . 294 .10 −6 .6 . 10 −3

520 .10 6
σ eq = σ 2 + 3τ 2 = 6933 P = ∴ P = 37 ,5 KN
2

* Para o ponto situado na descontinuidade:

M y 3.P.144.10 −3
σ= = = 6371 P
I 6 ,78.10 − 5

Página 83
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

T 0 ,8 P
τ= = = 1735 ,4 P
2 A * δ 2 . 196 . 294 . 10 −6 . 4 .10 −3

V Ms P (200 .6 .147 ) .10


−9

τ= = = 325 P
bI 8 .10 −3 .6 ,78 .10 −5
τ res = ( 325 + 1735 ,4) P = 2060 ,6 P

520.10 6
σ eq = σ + 3τ = 7302,5 P =
2 2
∴ P = 35,6 KN (adotado)
2
Tl
ϕ=
G It
4 .(196 .294) . 10 −6 ( )
2
4 ( A *)
2 2

It = = = 6 ,256 .10 −5
ds 212 ,3
∫δ
ds  196 .2 294 .2 
∫δ =
 6
+
4 
 = 212 ,3

3 . 35600 .0 ,8
ϕ= = 0,018 rad
77 ,5 .10 9 . 6 ,256 .10 −5

¾ Exercício 4.3

Um perfil U é associado de duas maneiras para trabalhar à torção: (a) e (b).


Sabendo que: S yt = 1400 kgf/cm2
G = 0,8 x 106 kgf/cm2
l=3m
Usando Von Mises, pede-se para (a) e (b):
1- Maior torque que pode ser aplicado.
2- Ângulo de torção calculado com o torque acima.
3- Calcular a força no cordão de solda para a associação (b).

Cotas em (cm):

Página 84
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Solução:

• Para a maneira (a):

∑ siδ i 3
( )
= 10 ,2 .0 ,2 3 .2 + 10 .0 ,4 3 = 0 ,8 cm 4
3 Tδ max 3 T .0 ,4
τ max = = = 1,49 T
∑ si δ i
3
0 ,8

σ eq = σ 2 + 3τ 2 = τ 3 = 1,49 T 3 = 1400 ∴ T = 541 kgf x cm

3T l 3 .541 . 300
ϕ= = = 0,76 rad
G ∑ siδ i 3
0 ,8 .10 6 .0 ,8

• Para a maneira (b):

A* = 10 . 10 = 100 cm2
T T
τ max = = = 0 ,025 T
2 A * δ min 2 .100 .0 ,2
σ eq = σ 2 + 3τ 2 = 0 ,025 T 3 = 1400 ∴ T = 32331,6 kgf x cm
ds 1 40
∫δ = (10 + 10 + 10 + 10 ) = = 200
0 ,2 0 ,2

Tl 32331,6 . 300 . 200


ϕ= = = 0,061 rad
  0 ,8.10 6 .4.100 2
 4 A* 2 
G 
 ds 
 ∫ 
 δ 

Força no cordão de solda:

F = τ .δ . l = [0 ,025 .(32331,6 )] .0 ,2 . 300

F = 48497,4 kgf

Página 85
Unidade 4 – TORÇÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

¾ Exercício 4.4

O material do tubo abaixo possui S yt = 800 kgf/cm2. Pede-se:


a) Maior torque que pode ser aplicado ao tubo usando Von Mises.
b) O número de rebites necessários para suportar o torque.
Dados: D = 20 cm
δ = 0,1 cm (espessura)
∅rebite = 0,8 cm
τ rebite = 900 kgf/cm2
G tubo = 0,8 x 106 kgf/cm2
l = 200 cm
c) Ângulo de torção.

Solução:

T T T
a) τ = = ⇒ τ 3 = 800 ∴ 3 = 800
2 A * δ 2 .π .10 .0 ,1
2
2.π .10 2 .0 ,1

T ≅ 29000 kgf x cm

 29000 
b) F = τ .δ . l =   .0 ,1 . 200 ≅ 9238 kgf (I)
 2 .π .10 2 .0 ,1
π .0 ,8 2
( ) o
( )
F = n .τ reb . Areb = n .900 .
o

4
( )
= n o .452 ,16 (II)
9238
Fazendo (I) em (II): n o = = 21 rebites
452 ,6

( )
2
4 ( A *) 4 . π . 10 2
2

c) I t = = = 628 cm 4
ds 2.π . 10
∫δ 0 ,1
Tl 29000 . 200
ϕ= = ∴ ϕ = 0,0115 rad
G I t 0 ,8 .10 6 .628

Página 86
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

5. CENTRO DE CISALHAMENTO

OBJETIVOS:

- Definir o problema do centro de cisalhamento.


- Enunciar as propriedades do centro de cisalhamento.
- Determinar a distribuição das tensões cisalhantes em perfis de parede fina
de seção aberta com um eixo de simetria.
- Determinar o centro de torção para os perfis mais usados na prática de
engenharia.
- Dimensionar vigas sob flexão, cortante e torção, levando em consideração
a redução das cargas ao centro de torção.

5.1 - INTRODUÇÃO.

Quando vigas em balanço de seção transversal com dupla simetria são construídas
e testadas em laboratório, os valores das deformações e tensões experimentais concordam
bastante com os resultados teóricos. Mas se tomarmos uma seção em cantoneira, como
indicado na Fig. 54a, tal concordância não se verifica. Nossa teoria prevê que, sob uma carga
vertical passando pelo centro de gravidade (C) a viga fletirá para baixo, da posição inicial
para a posição pontilhada (seção da extremidade livre). A experiência, no entanto, mostra a
seção frontal fletida e torcida, como na Fig. 54b.

Figura 54 a Figura 54 b

Esta discrepância entre a teoria e a prática foi notada e descrita antes de 1900, mas
permaneceu sem solução até 1922, quando Weber, na Alemanha publicou a teoria do centro
de cisalhamento. A explicação de Weber consistiu em um exame do equilíbrio da viga em
balanço, destacada do seu engastamento, com os respectivos esforços reativos. Ele mostrou
que a resultante de todas as tensões tangenciais que atuam na seção, não passava pelo seu
centro de gravidade. Para seções com dupla simetria, o centro de gravidade contém a
resultante de todas as tensões tangenciais. Porém, para muitas seções assimétricas, a resultante
das tensões cisalhantes não passa pelo centro de gravidade da seção, embora tenha a
intensidade e a direção coincidentes com a de P, carga externa aplicada.

Página 87
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

5.2. FLEXÃO EM PERFIS DE PAREDE FINA

Para que se compreenda melhor a natureza do problema do centro de


cisalhamento, vamos estudar o caso da viga I (Fig. 55a) em balanço, com mesas desiguais,
mas tendo em z, um eixo de simetria. Os eixos yz, são centrais de inércia.

Figura 55a Figura 55b

Supondo que P produza flexão em torno de z (eixo neutro), em qualquer seção


transversal reativa da viga (seção do lado do engastamento), haverá tensões normais e
tangenciais provenientes de M e V. A resultante das tensões normais é M e a resultante das
tensões tangenciais é V = P, cuja linha de ação, na seção reativa, passa pelo ponto S, sobre o
eixo z. É preciso lembrar que na seção reativa, as tensões cisalhantes só acontecem onde
existe material (retângulos 1,2 e 3 Fig. 55b). Em geral, o ponto S não coincide com o centro
de gravidade. Tal ponto (S) é denominado centro de torção ou centro de cisalhamento ou
centro de flexão da seção. Se o plano que contém P não passar por S haverá, além da flexão,
torção na viga. Como o perfil de parede fina tem baixa resistência à torção não se pode
desprezar este fenômeno. Deste modo, a carga P pode estar situada em qualquer ponto na face
frontal, no entanto as tensões cisalhantes na face reativa produzem uma resultante V = P que
passará sempre por S. A flexão sem torção acontecerá quando a direção da carga aplicada
passar por S.
Vamos localizar o centro de torção para a seção da viga da Fig.55a. Podemos
considerar a seção da viga como composta por três retângulos: as duas mesas (1 e 2) e a alma
(3), Fig. 55b. Se não ocorre torção, todos os retângulos sofrem flexão juntos no plano xy,
tendo a mesma curvatura durante a flexão (por hipótese não existe torção na seção). O
momento fletor que cada parte suporta é proporcional ao momento de inércia em relação à z,
de cada retângulo:

M1 M 2 M
= = 3 =d2y/dx2=1/ρ
EI1 EI 2 EI 3

onde M1, M2 e M3 são os momentos atuantes nas partes 1,2 e 3, respectivamente,


e I1, I2 e I3 , os respectivos momentos de inércia de cada retângulo, em relação à z .

Como I3 é muito pequeno comparado à I1 e I2, pode ser desprezado.


Deste modo, o carregamento de flexão e cortante fica suportado apenas pelas
mesas 1 e 2.

Página 88
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

M1 M 2
Logo: =
I1 I2
M I1 M I2
M1 = e M2 = (5.1)
I1 + I 2 I1 + I 2
onde M = M1 + M2 é o momento fletor total.
V1 e V2 nas mesas são proporcionais aos respectivos momentos fletores.
V I1 V I2
Logo: V1 = e V2 = (5.2)
I1 + I 2 I1 + I 2
onde V = V1 + V2 = P .
A linha de ação de V, na face reativa, posiciona S.
Seja:
h - distância entre os centros de gravidade das mesas 1 e 2.
h1- distância de S ao centro de gravidade da mesa 1.
h2- distância de S ao centro de gravidade da mesa 2.
S - centro de torção, ponto por onde passa V, resultante de V1 e V2.

Os dois sistemas representados nas Fig. 56a e 56b são equivalentes, pois possuem
a mesma resultante, V, e o mesmo momento em relação ao ponto S:

(a) (b)
Figura 56

O sistema da Fig. 56b é constituído por apenas uma força V passante por S. Ele é
equivalente ao sistema da Fig. 56a, ou seja; faz o mesmo efeito que o sistema da Fig. 56a.

) Podemos definir S como sendo o ponto da seção por onde passa a resultante de todas
as tensões cisalhantes que atuam na seção transversal.

Para qualquer posição da carga P na face frontal, na seção reativa vamos sempre
encontrar uma força cortante equilibrante, passando por S.
Como: V = V1 + V2
Igualando a soma dos momentos em S à zero: V1h1 - V2h2 = 0
Usando a equação (5.2):

Página 89
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

h1 I 2
= (5.3)
h2 I1
h = h1 + h2 (5.4)

Deste modo, usando as equações (5.3) e (5.4), localizamos o centro de


cisalhamento da seção I com mesas desiguais.
Se o eixo y for também de simetria: h1 = h2 = h/2

) NoC. Assim,
caso de dupla simetria o centro de torção, S, coincide com o centro de gravidade
seções com dupla simetria têm sempre o centro de torção coincidente com o
centro de gravidade. Neste caso, se a direção de P passa pelo ponto C, como C
coincide com S, haverá flexão sem torção.

No caso particular da Fig. 55a, em que uma das mesas é retirada (seção em T), é
fácil verificar que V passará pelo centro de gravidade da mesa que restou (ou V1 = 0 ou V2 =
0) e este ponto será o centro de cisalhamento (Fig. 57).

) AsQualquer
seções que possuem um eixo de simetria têm o centro de torção sobre este eixo.
carga cuja direção passar por este ponto (S), ainda que atue em direção
inclinada pode ser decomposta em duas componentes, uma na direção de z e outra
paralela a y. A primeira produzirá flexão no plano xz, tendo y como eixo neutro, sem
torção; a segunda componente dará flexão sem torção, pois passa por (S), no plano xy
tendo z como eixo neutro.

Figura 57 - Caso particular em que uma das mesas da seção H é retirada.


O centro de cisalhamento é o centro de gravidade da mesa restante.

) Quando a carga não passa pelo ponto (S), podemos reduzi-la à (S), centro de torção,
e ela poderá ser substituída por um binário e uma carga passante por (S). A carga
que passa por (S), dará flexão sem torção e o binário torção pura. Assim, aplicando o
princípio da superposição de esforços, a viga estará sujeita à flexão e torção.

) Odepende
ponto (S), centro de cisalhamento, é uma característica geométrica da seção e não
do carregamento. Para qualquer posição da seção transversal, o centro de
torção permanece o mesmo, como ocorre com o centro de gravidade.

Página 90
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

) muito
Para seções maciças e vazadas fechadas, o centro de cisalhamento está, geralmente,
próximo ao centro de gravidade. Como essas seções têm grande resistência à
torção, podemos desprezar os efeitos da torção se a carga for aplicada no centro de
gravidade (o momento torçor é muito pequeno e a resistência à torção é grande). Já
os perfis de parede fina abertos são pouco resistentes à torção e neste caso é de
fundamental importância o conhecimento do centro de cisalhamento, para levar em
consideração o efeito da torção, caso o carregamento não passe por (S).

5.3 - TENSÕES DE CISALHAMENTO EM PERFIS DE PAREDE FINA DE SEÇÃO


ABERTA.

Estes perfis têm espessura muito pequena comparada com a largura ou qualquer
dimensão da seção transversal (em torno de 1/10). E como perfis de seção aberta têm baixa
resistência à torção. É de fundamental importância a localização do centro de torção destes
perfis. Eles são largamente usados em estruturas.
Vamos estudar uma viga cuja seção transversal tenha uma linha mediana do
contorno (ou linha média) mm, de uma forma qualquer Fig. 58a. Os eixos yz são centrais de
inércia e P é paralela à y. Caso P atue em (S), não haverá torção na viga, somente flexão em
torno de z, sendo z a linha neutra. As tensões normais de flexão serão:

My
σ=
I

Figura 58

Imaginemos o elemento da Fig. 58b, cortado entre duas seções separadas de dx e


tendo comprimento s, medido sobre a linha mediana a partir da borda livre. F1 é a resultante
das tensões normais que atuam na face da esquerda. F2 é a resultante das tensões normais que
atuam na face da direita. Como na face da direita o momento fletor é maior, F2 > F1, para
haver equilíbrio estático, tensões cisalhantes devem atuar na face paralela à face livre, dando

Página 91
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

uma resultante VH. Estas tensões são paralelas às superfícies do elemento, que são livres de
tensões, e são acompanhadas de tensões cisalhantes complementares que atuam nas faces
frontais.
Como os momentos nas seções frontais da Fig. 58b são M e (M+dM), as forças
resultantes F1 e F2 são:

My My
F1 = ∫ σ dA = ∫ ∫
s
dA = δ ds
A A I 0 I
onde dA = δ ds
( M + dM ) y ( M + dM) y
F2 = ∫ σ dA = ∫ dA = ∫0
s
(δ ds)
A A I I
onde A é a área da seção transversal entre a borda livre e o plano longitudinal b-b a
uma distância s a partir da extremidade livre.

O somatório das forças na direção longitudinal do bloco da Fig. 58b fornece:


( dM) y( dA) dM
VH = F2 − F1 = ∫ I
= ∫ y( dA)
I A
A

dM
Mas: VH = τδ dx e =V
dx
V MS
Logo: τ = (5.5)

A equação (5.5) fornece a tensão de cisalhamento em um ponto qualquer da seção
b-b (Fig. 58a) distante de s da borda livre.

) Assuperfície
tensões cisalhantes são uniformes através da espessura e atuam tangentes à
da viga. Estas tensões aparecem na seção transversal a uma distância s a
partir da borda livre. As tensões na seção transversal fluem em um sentido contínuo
como mostra a Fig. 58a, paralelas à linha mediana do contorno, mm.

A equação (5.5) é idêntica a equação obtida no estudo da distribuição das tensões


cisalhantes verticais que ocorrem em uma viga devido a variação do momento fletor. Seus
termos têm significados iguais.
s
MS = ∫ ydA
0
é o momento estático, em relação à linha neutra, da área da seção
transversal definida de s variando de zero a s.
δ é a espessura da seção no ponto onde se deseja calcular a tensão cisalhante.

) Como já foi dito, as tensões cisalhantes fluem de maneira contínua na seção


transversal e na linha neutra elas têm o mesmo sentido que o da força cortante V.
Assim, conhecido o sentido de V é possível determinar o sentido de todo o fluxo das
tensões cisalhantes.

) Anuloequação (5.5) mostra que nas extremidades (bordas) da seção o momento estático é
e consequentemente, a tensão cisalhante. Ela varia de modo contínuo entre as
bordas e alcança seu valor máximo na linha neutra.

Página 92
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

5.4 - SEÇÃO I DUPLAMENTE SIMÉTRICA.

A equação (5.5) pode ser usada no cálculo das tensões de cisalhamento nas
flanges dos perfis I e C e outros tipos. A Fig. 59 explica a existência das tensões cisalhantes
nas flanges, através do estudo do equilíbrio de um elemento da flange separado por duas
seções adjacentes e por uma seção longitudinal. A Figura 59 representa uma viga I em
balanço. Como P atua para baixo, a flange superior está tracionada e a inferior comprimida.
Como T2 > T1, pois o momento na seção 2 é maior do que na seção 1, deve haver uma força
cortante Fc que atua como indicado na Figura para manter o equilíbrio do elemento. Esta faz
aparecer uma força cortante complementar lateral H1. Assim, o elemento está em equilíbrio. O
sentido de H1 determina o sentido das tensões cisalhantes na flange superior. Do mesmo
modo, as forças de compressão C2 e C1 que atuam no elemento correspondente da aba
inferior, exigem a existência da força cortante Fc que faz aparecer H2. Assim, as tensões de
cisalhamento têm o sentido de H2, na flange inferior. Devido ao fato da flange superior ser
tracionada e a inferior comprimida, as tensões cisalhantes têm sentidos opostos em uma e
outra flange.

Fig. 59 - Forças cortantes nas flanges de uma viga em balanço

As intensidades das tensões cisalhantes nas flanges é determinada pela equação


(5.5). Orientando s a partir da extremidade livre da direita, Fig. 60, obtemos:

VM S V∆ sh Vhs
τ= = = (5.6)
∆I 2I∆ 2I

A intensidade da tensão cisalhante nas flanges é diretamente proporcional à


distância a borda livre da mesma (s).

Na Fig. 61 representamos a variação da tensão cisalhante e seu sentido.

Página 93
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

Fig. 60 - O eixo s é sempre orientado a partir da borda livre.

Fig.61- Representação da variação da tensão cisalhante nas flanges e na alma.


A resultante de todas as tensões tangenciais na alma dá uma força igual à V.
Estas tensões são as únicas que têm direções verticais (direção de V).

) Podemos concluir que as tensões cisalhantes caminham das bordas da flange inferior
para dentro; em seguida sobem a alma e finalmente seguem para fora na flange
superior Fig. 61. O fluxo é sempre contínuo em qualquer seção estrutural e serve para
determinar o sentido das tensões. Se a força cortante atua, por exemplo, para baixo,
sabe-se que o cisalhamento na alma é neste sentido e isto define o sentido das tensões
cisalhantes nas flanges.

Na Fig. 62, vemos que a resultante de todas as tensões de cisalhamento na seção é


uma força vertical (as tensões horizontais produzem forças que se anulam não dando
resultante). A resultante passa pelo centro de gravidade C, que para as seções I (com dupla
simetria) é também o centro de torção S. O centro de torção é o ponto por onde passa a
resultante de todas as tensões cisalhantes que atuam na seção transversal.

Página 94
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

Fig. 62 - Em uma seção com dois eixos de simetria, o centro de torção S coincide com o
centro de gravidade.
5.5. ESTUDO DE UMA SEÇÃO C COM UM EIXO DE SIMETRIA.
Vejamos o caso de uma seção C com um eixo de simetria, posicionado como eixo
neutro, em balanço, sob uma carga vertical P, Fig. 63. Vamos estudar o que ocorre em uma
seção reativa (equilibrante). Na Fig. 63, verificamos que nas flanges aparecerão tensões
cisalhantes que caminham continuamente seguindo o sentido da tensão cisalhante do cortante
na alma (como já estudamos para o perfil I). Estas tensões dão origem às forças: H, V e H,
Fig. 63.
O valor da tensão cisalhante na flange é (Fig. 64):

V s V s h  Vhs
τ= ∫
I∆ 0
Y( ∆ds) = ∫   ( ∆ds) =
I∆ 0  2  2I
(5.7)

onde: ∆ - espessura da flange.


δ - espessura da alma.
s - tem origem na borda livre (Fig. 64) e situa-se na linha mediana do
contorno.

Fig. 63 Fig. 64

Página 95
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

A força horizontal resultante em cada flange é:

Vhb Vhb 2 ∆
H = τ m ed ( á r e a ) = (b ∆ ) =
4I 4I

Assim, as tensões cisalhantes, na face reativa, formam o sistema de forças abaixo


(Fig. 65a) que é equivalente ao sistema da (Fig. 65b), pois ambos têm a mesma resultante e o
mesmo momento em relação ao mesmo ponto que é o centro da alma. Para isto é necessário
que:
Vh 2 b 2 ∆ h 2b 2 ∆
V . e = Hh = , donde: e = (5.8)
4I 4I

Fig. 65 a Fig. 65 b

Fig. 65 - Os sistemas das Figuras 65a e 65b são equivalentes: têm a


mesma resultante e o mesmo momento em relação ao meio da alma.

Como o sistema da Fig. 65b é composto de uma só força excêntrica, V, passante


por S, este ponto é o centro de cisalhamento, pois é o ponto por onde passa a resultante de
todas as tensões cisalhantes atuantes na seção. Assim, S, localiza o centro de torção de uma
seção C simétrica: ele está sobre o eixo de simetria a uma distância “e” do meio da alma,
contrária à boca do perfil. O ponto S está fora da seção. Este ponto é uma característica
geométrica dela e não depende do carregamento nem da posição da seção.
Se o carregamento não passar por S, em cada seção reativa haverá uma força
cortante V passando por S. Isto fará com que a viga seja submetida à torção e flexão. Ela terá
flexão simples se as forças atuantes tiverem suas direções passando todas por S. Toda vez que
as forças forem paralelas à Y, passando fora de S, elas poderão ser substituídas por um
sistema de forças equivalentes formado por forças que passam por S e por um conjugado de
torção. Teremos uma combinação de flexão e torção atuando sobre a viga. Se as cargas atuam
na direção de Z passando por S e pelo centro de gravidade, a flexão é simples em torno de Y.
Se as cargas são inclinadas elas podem ser decompostas em cargas paralelas aos eixos Y e Z,
estaticamente equivalentes as anteriores, que serão analisadas como nos casos precedentes
(Fig. 63).
A Fig. 66 representa a distribuição das tensões cisalhantes em uma seção C.
Verificamos que o fluxo é contínuo e na alma ele tem o sentido das tensões cisalhantes do
cortante V.

Página 96
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

Fig. 66- Distribuição das tensões tangenciais através do perfil C


A integração das tensões tangenciais através da alma dará uma força vertical igual a V.

) Nos casos em que a seção é formada por dois elementos retangulares, de parede fina,
que se cruzam, as tensões de cisalhamento originam duas forças que se cortam na
junção dos dois elementos. Este ponto é o centro de torção, pois ele é o ponto por
onde passa a resultante de todas as tensões cisalhantes que atuam na seção (Fig. 67).

Fig. 67 - Seções formadas por dois elementos de parede fina que se cruzam.

No caso de uma seção em Z o procedimento é o seguinte: representamos o fluxo


contínuo das tensões cisalhantes (Fig. 68a) e substituímos estas tensões pelas forças
correspondentes (Fig. 68b). A resultante das forças nas flanges é 2H atuando no centro de
gravidade da seção (Fig. 68b). Combinando esta resultante com a força cortante na alma (V)
obtemos a resultante R na seção (Fig. 68b). Como R passa pelo centro de gravidade, este
coincide com o centro de cisalhamento (Fig. 68c).

Página 97
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

Fig. 68 - O centro de torção de uma seção em Z coincide com seu centro de gravidade.

A Fig. 69 apresenta o centro de torção de alguns perfis usados em estrutura.

Fig. 69 - Centro de torção de alguns perfis.

) Naas tensões
resolução de exercícios é mais conveniente trabalhar-se com a seção ativa, onde
têm o mesmo sentido dos esforços correspondentes. O que ocorre na seção
reativa (equilibrante), em termos de tensões, ocorre na seção ativa, somente que nesta
as tensões têm os sentidos dos esforços aplicados enquanto que na outra (reativa) têm
sentidos opostos.

Assim, para se compreender melhor o fenômeno do centro de torção, usamos a


seção reativa, mas na resolução de problemas é mais conveniente o trabalho com a seção
ativa.

BIBLIOGRAFIA

BEER - RUSSEL, Resistência dos Materiais. 3ª ed, Makron Books, 1996, SP.

HIGDON e outros, Mecânica dos Materiais, 3ª ed, Guanabara Dois, 1981, RJ.

SINGER, F., Resistencia de Materiales, Harper-Row Publishers Inc. 636 p.,


1971. Madrid.

TIMOSHENKO-GERE, Mecânica dos Sólidos, Vol. II, Livros Técnicos e


Científicos Editora. 1984. 450 p., RJ.

Página 98
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 5.1

Para a seção H de mesas desiguais, isolada do engastamento com todos os


esforços solicitantes, indicados abaixo, pede-se:

1 - Localizar o centro de cisalhamento.


2 - Determinar as parcelas de M = 20000 kgf.cm, que atuam em 1 e 2.
3 - Determinar as parcelas de V = 200 kgf, que atuam em 1 e 2.
4 - Determinar o torque T que age no perfil e τmáx proveniente deste torque.

Solução:

1 − I 1 = 153 cm 4 , I 2 = 33 cm 4
h1 I 2
= → h1 = 0 ,216 h2 , h1 + h2 = 25
h2 I 1
Logo : h1 = 4 ,44 cm e h2 = 20 ,56 cm

MI 1
2 − M1 = = 16452 kgf.cm e M 2 = 3548 cm
( I1 + I 2 )

3 − Do mesmo modo :
V .I 1
V1 =
( I1 + I 2 )
V1 = 165 kgf e V2 = 35 kgf

4 − T = V.braco = 200(15,00 - 4,44) = 2122 kgf.cm


1
It =
3
∑ s i .δ i3

T .δ max
τ max =
It
I t = 12 ,46 cm 4 e τ max = 160 kgf / cm 2 para todos os retângulos.

Página 99
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

¾ Exercício 5.2

Verificar se o sistema abaixo está dimensionado, usando Von Mises. Em caso


afirmativo, calcular o coeficiente de segurança. Desprezar o esforço cortante da secção.
Calcular o ângulo de torção na seção livre.
Dados:
P = 100 Kgf
G = 0,8.106 kgf/cm2
Syt = 3.000 kgf/cm2

Solução:

( 15.17. ,5 + 5.0 ,5.0 ,25 )


c= = 6 ,46 cm
( 15.1 + 5.0 ,5 )
( 14 ,5.13 + 0 ,5.6 3 )
Iy = = 10 ,21 cm4
12
braç o do torç or= 6,46 - 0,25 = 6,21 cm
T = 100.6,21 = 621 kgf.cm
6210. ,5.3
τI = 3 3
= 60 ,1 kgf / cm2
( 6 .0 ,5 + 14 ,75.1 )
100 .100 .3
σI = = 2938 ,3 kgf / cm2
10 ,21
σ eq = σ 2 + 3 τ 2 = 2940 kgf / cm2
T .l 100 .621
ϕ= = = 0 ,015 rad
G. I t 0 ,8 .10 6 .5 ,17

Página 100
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

¾ Exercício 5.3

Para a viga abaixo, impedida de torcer nas extremidades e bi-apoiada a flexão, pede-se:
1 - Diagrama de momento fletor.
2 - Diagrama de esforço cortante.
3 - Diagrama de momento torçor.
4 - Verificar se o sistema está dimensionado calculando o coeficiente de
segurança em caso afirmativo.
Syt = 2000 kgf/cm2, usar Von Mises.

4 − I x = 3181,33 cm 4
1 1
It =
3
∑ si .δi 3 = ( 12.1 3 .2 + 21.0 ,8 3 )
3
I t = 11,58 cm 4

Nivel I
σ = 461 kgf/cm 2
T .δ 13330.1
τT = = = 1151,12 kgf/cm 2
It 11,58
σ eq = σ 2 + 3τ 2 = 2043 kgf/cm 2

Nivel II
σ = 419 kgf/cm 2 τ T = 921 kgf/cm 2
VMs 1333( 12.1.10 ,5 )
τV = = = 66 kgf/cm 2
b.I 0 ,8.3181,33
921 + 66 = 987 < 1151,12

Como σeqI > 2000 ; o sistema não está dimensionado!!

Página 101
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

¾ Exercício 5.4

A viga bi-apoiada abaixo tem suas extremidades impedidas de torcer. Todo o


carregamento situa-se no plano vertical que passa pelo meio da alma (A - A). Pede-se:

1 - Diagrama de momento fletor.


2 - Diagrama de momento torçor.
3 - Tensão equivalente no ponto X da seção I-I, aplicando Von Mises.

Solução:

1e 2

Página 102
Unidade 5 – CENTRO DE CISALHAMENTO

3-

b 2 h 2 ∆ 4 ,6 2 .19 2 .1
e= = = 1,48
4I 4.1291

Braço = 1,48 cm, I = 1291 cm4

1 3 1 3 3
It = ∑ si .δi = ( 4 ,6 .1 .2 + 19 .0 ,8 )
3 3
I t = 6 ,3 cm4

 M = 51700 kgf.cm

I  V = 517 kgf
T = 517.1,48 = 765 kgf.cm

Nivel I
51700.10
σ= = 400 kgf / cm2
1292
T .δ 765 .1
τT = = = 121 kgf / cm2
It 6 ,3
σ eq = σ 2 + 3τ 2 = 451,6 kgf / cm2

Nivel II
765 .0 ,8
τT = = 97 kgf / cm2
6 ,3
VMs 517 .5 .1.9 ,5
τV = = = 24 kgf / cm2
b. I 0 ,8 .1292
97 + 24 = 121
II
σ Ieq > σ eq
σ Ieq = 451,6 kgf / cm2

Página 103
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

6. VIGAS CURVAS

OBJETIVOS:

- Definir vigas de forte curvatura.


- Determinar a posição da linha neutra em vigas de forte curvatura.
- Aplicar as equações de equilíbrio da estática e determinar a fórmula da
tensão normal.
- Determinar a tensão normal resultante sob flexão-solicitação axial.

6.1 – INTRODUÇÃO – NOTAÇÕES

A distribuição das tensões normais em uma viga curva é determinada baseando-se


nas seguintes considerações:

1- A peça possui um plano vertical de simetria que contém todo carregamento


externo.
2- As seções planas permanecem planas após a deformação. As fibras neutras
mantêm seus comprimentos originais. Assim, as fibras situadas à igual
distância da linha neutra, alongam e encurtam de uma mesma quantidade e
experimentam tensões iguais através da largura da seção.
3- O módulo de elasticidade, E, é o mesmo para tração e compressão.
4- O material trabalha dentro do regime elástico.

) Ao contrário do que ocorre com as vigas retas, encontraremos que o eixo neutro de
uma viga curva não passa pelo seu centro de gravidade. As tensões normais
possuem uma lei de distribuição não linear, em relação à linha neutra.

Notações:
ro - raio da fibra mais externa.
ri - raio da fibra mais interna.
c0 - distância do eixo neutro à fibra mais externa.
ci - distância do eixo neutro à fibra mais interna.
r - raio do eixo centroidal.
r - raio do eixo neutro.
h - espessura da seção.
e - distância dos eixos neutro e centroidal.
ρ - distância do centro de curvatura a uma fibra qualquer.
h – altura da seção transversal. Se r ≤ 5.h → viga de forte curvatura.

6.2 – CÁLCULO DA TENSÃO NORMAL

Para iniciar, definiremos o elemento abcd pelo ângulo φ. Um momento fletor M


(positivo no sentido indicado, ou seja, de diminuir a curvatura) faz com que a seção bc gire de
dφ, passando para b'c' (Fig. 70). O eixo Y tem origem na linha neutra (C) e é positivo no
sentido do centro de curvatura (O). A deformação de uma fibra à distância ρ do centro O é:

Página 104
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

b
a b' σ
b

-

h
G
Co ro
LN C e
y y
M
Ci +
d c c' r r-
y ρ
φ
ri

O O
Figura 70

∆l ( r − ρ ) dφ
ξ= = (6.1)
l ρφ

A tensão normal correspondente é:


E(r - ρ ) dφ
σ =ξ E= (6.2)
ρφ
r − ρ =Y

 E dφ  Y
σ = .
 φ  ρ

Equação de uma hipérbole, pois a parte entre colchetes é constante.


Desde que são nulas as forças externas atuantes na seção (resultante do binário M
é nula - flexão pura), a resultante das forças normais na seção deve ser nula:

E dφ (r - ρ ) dA
∫ σdA = φ ∫ ρ
=0

ou
E dφ  dA 
 r ∫ − ∫ dA  = 0 (6.3)
φ  ρ 
Resolvendo as expressões entre parênteses:
dA A
r∫ − A=0 , r= (6.4)
ρ dA
∫ ρ
Esta importante equação é usada para localizar o eixo neutro em relação ao centro
de curvatura da seção transversal.

Página 105
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

) Esta equação indica que os eixos neutro e centroidal não são coincidentes.
Determinemos a distribuição das tensões normais na seção.
Equilibremos o momento externo aplicado, através do momento interno resistente:

E dφ (r - ρ ) 2 dA
∫ (r − ρ ).(σdA) = φ ∫ ρ
=M

Mas:
( r − ρ ) 2 = r 2 − 2 rρ + ρ 2 , logo:
E dφ  dA  E dφ   dA  
M = (r 2 ∫   − r ∫ dA + ∫ ρdA − r ∫ dA ) = r  r ∫ − ∫ dA  + ∫ ρdA − r ∫ dA
φ  ρ  φ   ρ  

Como r é constante, comparando os dois primeiros termos entre parênteses com a


equação (6.3) verificamos que eles desaparecem e finalmente teremos:

E dφ
M = (−r ∫ dA + ∫ ρ dA)
φ
A primeira integral é a área da seção e a segunda é igual à r .A (momento estático
de toda área em relação a um eixo passante por 0, centro da curvatura), logo:

E dφ E dφ
M= ( r − r ).A = .e.A (6.5)
φ φ
Finalmente, tirando o valor de E.dφ/φ da equação (6.2) e substituindo na
expressão de M acima, teremos:

M .y M.y
σ= = pois: (6.6)
A.e.(r − y ) A.e.ρ
r − r = e > 0 ⇒ a linha neutra fica situada, sempre, entre o centro de gravidade e o centro
de curvatura da seção transversal.
r−ρ = y
ρ =r−y

) Esta equação mostra que a distribuição das tensões normais é hiperbólica.


As tensões máximas ocorrem nas fibras internas e externas e são:

M .ci M .co
σi = , σo =
A.e.ri A.e.ro

Estas equações foram demonstradas para flexão pura, que não é o caso mais
comum. Normalmente, tem-se uma carga excêntrica.

Página 106
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

) sob
Neste caso esta carga deve ser reduzida ao centro de gravidade da seção transversal
consideração, e devemos trabalhar como se tivéssemos uma carga cêntrica mais
uma flexão pura.

Deste modo, em adição às tensões normais de flexão, aparecem tensões normais


uniformemente distribuídas sobre a seção (carga cêntrica) que deverão ser adicionadas
algebricamente às tensões normais de flexão para se ter a tensão total nos diversos pontos.
A seção ideal de uma viga curva pode ser projetada relacionando as tensões nas
fibras mais internas e mais externas, com as tensões limites da tração e compressão do
material. No caso de materiais dúteis (Syt = Syc) as tensões nas fibras mais internas e mais
externas deverão ser iguais para se aproveitar ao máximo o material e a seguinte relação deve
ser satisfeita:
ci ri
=
co ro

Finalizando, podemos dizer que uma viga é de forte curvatura se r /h ≤ 5 e para


tais vigas a fórmula geral para cálculo da tensão normal é:

N M .y
σ= ± (6.7)
A A.e.(r − y )

Se r /h > 5, podemos supor a viga reta e usar a seguinte fórmula conhecida:

N M .y
σ= ± , que é a fórmula para viga reta, já usada anteriormente.
A I
O erro que se comete, neste caso, não excede à ± 7%.

No estudo da distribuição das tensões normais nas vigas de forte curvatura, nós
ignoramos a tensão normal radial que ocorre devido à compressão mútua das fibras do
material. Ela não tem maior importância para as vigas curvas do que para as vigas retas como
pode ser determinado em experiências em modelos construídos com materiais frágeis. Elas
são particularmente elevadas em seções cujas larguras variam bruscamente (vigas I).
É permitido calcular as tensões tangenciais nas seções transversais de uma viga
curva (devido ao cortante) usando a expressão da tensão tangencial para vigas retas:

V .M s
τ=
b.I

Página 107
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

Fórmulas para a determinação da linha neutra em barras de forte curvatura.

BIBLIOGRAFIA

BELYAEV, N. M., Strength of Materials., 1ª ed., Editorial Mir. Moscou.

SHIGLEY, Joseph Edward., Elementos de Máquinas., Vol. 1, Livros Técnicos e


Científicos Editora S.A.

Página 108
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 6.1

Para a viga de forte curvatura abaixo, pede-se:


a - valor máximo de P sabendo que S yt = 1400 kgf / cm2
b - diagrama das tensões normais de flexão e tensões normais de solicitação axial,
indicando as intensidades das tensões .

Solução:

a )linha neutra
d2
r=
4( 2 r − 4 r 2 − d 2 )

r = 8 cm , d = 8 cm → r = 7,464 cm
M = 12P , e = r - r = 0,536 , A = 50,24 cm 2
P My
σ = ±
A Aeρ
y A = +3 ,464 cm yB = - 4,536 cm

Logo :
σ A = 0 ,406 P e σ B = −0 ,148 P
σA > σB ∴ 0,406P = 1400 P = 3448 kgf

b)

Página 109
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

¾ Exercício 6.2

Para a viga de forte curvatura abaixo, sabendo que P = 10 kN, determinar as


tensões normais em A e B.

Solução:
1
r = 100 + 90 = 130 mm
3
0,5h
r= = 127 mm
r2 r2
ln − 1
h r1
r2 = 190 mm , h = 90 mm , r1 = 100 mm
e = r - r = 130 - 127 = 3 mm
M = -(100 + 30)10 - 3 P = −1300 N.m

Solicitação axial: P ( comp )


P 10000
σ =− =− = −2 ,8 MPa
A 80.90
( 10 − 3 )2
2
Flexão Pura
M = - 1300 N. m
yA =127 - 100 = 27 mm
yB = - (190 - 127) = -63 mm

My
σ=
Aeρ
−1300 .27 .( 10 −3 )
σA = = −32 ,5 MPa
40 .90 .3 .100 .( 10 −3 )4
−1300 .( −63 ).( 10 −3 )
σB = = +40 ,0 MPa
40 .90 .3 .190 .( 10 −3 )4

Página 110
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

σ RA = −32 ,5 − 2 ,8 = −35 ,3 MPa


Tensões resultantes:
σ RB = 40 ,0 − 2 ,8 = 37 ,2 MPa

¾ Exercício 6.3

Uma viga curva de raio interno 15 cm tem seção indicada baixo. Está sujeita a um
momento fletor M. Pede-se “x” de modo que e a tensão de flexão na fibra mais interna tenha o
mesmo módulo que a tensão da fibra mais externa.

Solução:

5.x.2,5 + 15.5.12,5
c=
5 x + 15.5
12,5 x + 937,5
c=
5 x + 75
A 75 + 5 x
A = 75 + 5 x , r= =
35 20 (2,798 + 0, 288 x)
5ln + x ln
20 15
yi ρ
= i
y0 ρ0

 75 + 5 x 
 − 15
 2,798 + 0, 288 x  15
= = 0, 429
 75 + 5 x  35
35 − 
 2,798 + 0, 288 x 
(35(2,798 + 0, 288 x) − 75 − 5 x).0, 429 = 75 + 5 x − 15(2,798 + 0, 288 x)
x = 15, 472 cm

Página 111
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

¾ Exercício 6.4

Para a viga curva da Figura abaixo, pede-se determinar as tensões normais


resultantes, máxima e mínima, na seção BB. O valor de P e 1800 kgf.

Solução:

1) Seção CD analisada como viga reta :


* Localização do C.G.
c = 2 ,5
A = 15 ,625 cm2
I L .N = 81,4 cm4
 1800 .15 .2 ,5
σ = = 829 ,2 kgf / cm2
My  C
81,4
σ= 
I σ = − 1800 .15 .5 ,0
D = −1658 ,5 kgf / cm2
 81,4

2) Seção CD analisada como viga de forte curvatura

r < 5h
15 < 37 ,5 → viga de forte curvatura
r = 15
r = 14,684
e = r - r = 0,316 , A = 15,625 cm2
yC = +2 ,184 cm , yD = −5 ,316 cm , M = + 1800.15
 1800 .15 .2 ,184
σ = = 955 ,4 > 829 ,2
P My  C
15 ,625 .0 ,316 .12 ,5
σ= + 
A Aeρ σ = − 1800 .15 .5 ,316 = −1453 ,5
 D 15 ,625 .0 ,316 .20

Página 112
Unidade 6 – VIGAS CURVAS

3) Seção BB:

M = 54000 Kgf.cm
y1 = +2,184 cm → ρ 1 = 12,5 cm
y 2 = −5,316 cm → ρ 2 = 20,0 cm

My 54000.2,184
σ1 = = ≅ +1911,7
Aeρ 15,625.0,316.12,5
My 54000.(−5,316 )
σ2 = = ≅ −2906 ,4
Aeρ 15,625.0,316.20

P ≅ 1800 kgf ( trac. )


σ P = 115,2

Tensões resultantes

σ 1R = 2027 kgf / cm2


σ R2 = −2791 kgf / cm2

Página 113
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

7. - CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

OBJETIVOS:

- Definir cilindros de parede espessa.


- Deduzir as equações de Lamé.
- Determinar as tensões radiais e circunferenciais em cilindros compostos
usando o princípio da superposição.
- Determinar as tensões longitudinais.
- Deduzir a expressão da tensão de interferência.

7.1 – INTRODUÇÃO

Definimos um cilindro de parede espessa quando a espessura de sua parede for


maior do que a décima parte do seu raio interno. No tratamento teórico de cilindros de parede
fina, admite-se que as tensões circunferenciais são constantes através da espessura da parede,
e também, que não há variação de pressão através desta, e ainda, que a tensão radial é
desprezível em face das outras tensões (Fig. 71). Nenhuma destas considerações é válida para
cilindro espesso, no qual a variação da tensão circunferencial e radial indica-se na Fig. 72,
seus valores sendo dados pelas equações de Lamé (1795-1870):

B B
σH = A+ e σr = A−
r2 r2
Exemplos de aplicação: vasos de pressão, cilindros hidráulicos, sistemas de
dutos, tubulações deformáveis, etc.

Figura 71 – Cilindro fino sujeito à pressão interna

Figura 72 - Cilindro espesso sujeito à pressão interna

Página 114
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

O desenvolvimento da teoria para cilindros espessos, é indicado para seções


afastadas das extremidades, desde que, a análise da distribuição das tensões em torno das
juntas (extremidades), é particularmente complexa. Assim, para seções centrais o sistema de
pressão que é normalmente aplicado, é simétrico e todos os pontos dos elementos anulares da
parede do cilindro, deslocarão da mesma quantidade, dependendo do raio do elemento. As
tensões cisalhantes não devem existir sobre as superfícies interna e externa do anel, já que as
cargas de pressão não tendem a forçar os anéis a rodar um em relação ao outro.
Consequentemente, não haverá tensão cisalhante nos planos transversais e as tensões em tais
planos, serão as principais.

) Um cilindro de parede espessa pode ser considerado como constituído por uma série
de anéis concêntricos – cilindros de parede fina concêntricos

Desenvolvimento da teoria de Lamé. (1833)

Considere o cilindro espesso da Fig. 74. As tensões atuantes em um elemento


de comprimento unitário, e raio r são as da Fig. 73. A tensão radial aumenta de σr para σr +
dσr, através da espessura elementar (todas as tensões foram consideradas positivas, ou seja, de
tração).
Uma vez que se supõe o anel como um cilindro de parede fina, a tensão σH
pode ser considerada uniforme através da espessura do anel.
Projetando as forças atuantes na direção radial, temos:

Figura 73 Figura 74


(σ r + dσ r ) . (r + dr ) . dθ . 1 − σ r . r dθ . 1 = 2σ H . dr . 1 . sen
2
dθ dθ
Para pequenos ângulos: sen ≅ radiano
2 2
Desprezando as quantidades de segunda ordem:
r dσ r + σ r dr = σ H dr
dσ r
σr +r =σH
dr

σH −σr = r r (7.1)
dr

Página 115
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

A equação (7.1) não pode ser integrada diretamente, pois tanto σH como σr são
funções de r. Apelemos para uma equação de deformação.

) Verifica-se, cuidadosamente, por medições, que a deformação axial é uniforme. As


seções transversais planas, antes do carregamento, permanecem planas e paralelas
após a aplicação das pressões internas. Deste modo, a deformação longitudinal, εL,,
é constante através da espessura do cilindro.

1
εL = [σ L − ν σ r − ν σ H ]
E
1
= [σ L − ν (σ r + σ H )] = cons tan te
E
ou seja, εL , não depende de r.

Considerando que a tensão longitudinal, σL, é constante através da parede do


cilindro, em pontos distantes das extremidades, temos:

σ r + σ H = cons tan te = 2 A (7.2)

Substituindo σH em (7.1),
dσ r
2A −σ r −σ r = r
dr

Multiplicando por r e organizando:

dσ r
2σ r r + r 2 − 2 Ar = 0 ,
dr
d
dr
(
σ r r 2 − Ar 2 = 0)

Deste modo, integrando, σ r r 2 − Ar 2 = cons tan te = − B .


B
σr = A− 2 (7.3)
r

e da equação (6.2):
B
σH = A+ (7.4)
r2

) termos
As equações acima determinam as tensões radial e circunferencial a um raio em
das constantes de integração A e B. Para uma determinada condição de
r

pressão, haverá sempre duas conhecidas condições de tensão (normalmente tensão


radial) que permitirão a determinação das constantes de integração e
consequentemente, a avaliação das tensões.

Página 116
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

7.2 - CILINDRO ESPESSO SUJEITO À PRESSÃO INTERNA "P", E PRESSÃO EXTERNA NULA.
(FIG. 75)

As duas conhecidas condições de tensões determinam as constantes de Lamé A


e B. Assim, para:

r = R1 ; σ r = − P ; r = R2 ; σr = 0
A pressão interna é considerada negativa, pois produz compressão nas paredes
do cilindro e a convenção de tensão normal adotada, torna compressão negativa.
Substituindo as condições acima na equação (7.3).

Figura 75 – Seção transversal do cilindro

B B
− P = A− ; 0 = A−
R12 R22

PR12 PR12 . R22


A= 2 ; B= 2
(
R2 − R12 ) (
R2 − R12 )
B PR12  R22  PR12  r 2 − R22 
• σr = A− = 1 − = (7.5)
r2 (
R22 − R12 ) 


r2  ( 
)
R22 − R12  r 2 

PR12  R22  PR12  r 2 + R22 


• σH = 2 1 + 2  = (7.6)
(
R2 − R12  )r  ( 
)
R22 − R12  r 2 

Estas equações produzem a distribuição de tensões indicada na Fig. 72, com os


valores máximos de ambas, σH e σr no raio interno. O ponto mais perigoso será o da face
interna (r = R1) onde σH é máximo e σr = –P.

7.3 - CILINDROS SUJEITOS À PRESSÃO EXTERNA P, E PRESSÃO INTERNA NULA.

Examinando a Fig. 75 e aplicando as condições de contorno, supondo agora


que P atua somente na face externa, teremos:

Para r = R1, a tensão radial é nula.


Para r = R2, a tensão radial vale - P.

Resolvendo o sistema, obteremos finalmente:

Página 117
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

PR22  R12 
σH = − 1 ± 2  (7.7)
r (
R22 − R12 )  r 

essa expressão será muito usada no cálculo da interferência. Toda a tensão


circunferencial é negativa e novamente o ponto mais perigoso é, normalmente, o da face
interna (r = R1).
Se na expressão (7.7) fizermos R1 tender para zero, o cilindro se transformará
em um eixo maciço e a expressão (7.7) ficará:

σ H = σ r = −P (7.8)
Assim, para um eixo sob pressão externa P, σH = σr = -P, para qualquer ponto
da seção transversal (independente de r).

7.4 - TENSÕES LONGITUDINAIS

Considere agora a seção transversal de um cilindro espesso, fechado nas


extremidades e sujeito a uma pressão interna P1 e a uma pressão externa P2 (Fig. 76).
Supor: P1 > P2.

Figura 76 – Seção longitudinal do cilindro

Para haver equilíbrio horizontal (isolando a tampa do cilindro):


(
P1 .π R12 − P2 .π R22 = σ L .π R22 − R12 )
Onde σL é a tensão longitudinal constante estabelecida nas paredes do cilindro.
P1 R12 − P2 R22
σL = (7.9)
R22 − R12
Pode-se mostrar que esta constante tem o mesmo valor da constante "A" das
equações de Lamé. Isto pode ser verificado para o caso em que se tem somente pressão
interna, fazendo P2 = 0, na equação (7.9).
Para a combinação de pressão interna e externa a relação σL = A, também é
aplicada.

7.5 - MÁXIMA TENSÃO TANGENCIAL

Já foi dito que as tensões em um elemento num ponto da parede do cilindro,


são tensões normais principais.

Página 118
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

Segue-se, deste modo, que a máxima tensão tangencial em um ponto vale:


σ1 −σ3
τ max =
2
σ H −σ r
deverá ser então: τ max =
2
desde que σH é, normalmente, de tração, enquanto que σr é de compressão, e ambas excedem
à σL em intensidade.
Assim:
1  B   B 
τ max = A+ 2 −A− 2 
2  r   r 
B
τ max = (7.10)
r2
O maior valor de τmáx normalmente ocorre no raio interno onde r = R1.

7.6 - CILINDROS COMPOSTOS

Nos tubos que devem ser submetidos a pressões internas muito elevadas, como
por exemplo, os tubos de canhões, é em geral necessário aumentar muito a sua espessura para
que se possa aumentar relativamente pouco a pressão interna. Em vez disto, pode-se criar um
estado inicial de tensões no tubo que conduza a uma solução mais favorável.
Do esboço de distribuição de tensões indicado na Fig. 72, é evidente que há
uma grande variação da tensão circunferencial, através da parede de um cilindro espesso, sob
pressão interna. O material do cilindro não é, deste modo, usado o mais vantajosamente
possível. Para obter uma distribuição de tensão circunferencial mais uniforme, os cilindros
são, freqüentemente, montados com interferência, um tubo exteriormente ao outro. Quando o
tubo externo contrai por resfriamento, o tubo interno é levado a um estado de compressão. Por
sua vez, o tubo externo é levado a um estado de tração. Se o cilindro composto for sujeito a
uma pressão interna, a tensão circunferencial resultante será a soma algébrica da tensão
proveniente da pressão interna e das tensões originadas, pelo resfriamento, como indicado na
Fig. 77; deste modo, é obtida uma melhor distribuição para a tensão circunferencial resultante.

Figura 77 - Cilindros compostos - efeitos combinados de pressão interna e interferência

) Odividir
método de resolução de cilindros compostos construídos de mesmo material é o de
o problema em três efeitos separados:
a) pressão de interferência somente no cilindro interno
b) pressão de interferência somente no cilindro externo
c) pressão interna no cilindro completo (Fig. 78)

Página 119
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

Para cada condição de carregamento, haverá dois valores conhecidos para as


tensões radiais, que tornarão possíveis a determinação das constantes de Lamé, para cada
caso:

Figura 78 – Método de resolução de cilindros compostos

Condição a): r = R1, σr = 0


r = Rc, σr = -P
Condição b): r = R2, σr = 0
r = Rc, σr = -P
Condição c): r = R2, σr = 0
r = R1, σr = -P1

Assim, para cada condição, a tensão circunferencial e radial podem ser


avaliadas, e se aplica o principio da superposição, isto é, as várias tensões são então
combinadas algebricamente para produzirem as tensões no cilindro composto sujeito a
interferência e pressão interna, simultaneamente. Na prática, isto significa que o cilindro
composto suporta uma maior pressão interna antes de ocorrer falha.

Figura 79 - Distribuição das tensões radial e circunferencial através das paredes do cilindro
composto

7.7 - INTERFERÊNCIA

No projeto de cilindros compostos, é importante relacionar a diferença no raio


dos cilindros acasalados, com as tensões que serão produzidas. A diferença de raio na
superfície comum é chamada de interferência. Normalmente, quando o processo de

Página 120
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

interferência é usado, o cilindro externo é aquecido até deslizar livremente sobre o cilindro
interno, proporcionando a junção requerida, no resfriamento.
Considere o cilindro composto da Fig. 80, de materiais diferentes.

Figura 80 - Interferência em cilindros compostos

Seja "p" a pressão estabelecida na junção dos dois cilindros no ajustamento.


Sejam as tensões circunferenciais na junta do tubo interno e externo, resultantes da pressão p,
σHi (compressão) cilindro interno e σH0 (tração) cilindro externo.

Então se:
δ0: deslocamento radial do cilindro externo
δi: deslocamento radial do cilindro interno (Fig. 80)
rc: raio da superfície comum

lembrando que a deformação circunferencial é igual à deformação radial; para o cilindro


externo:
δ0
= ε H0
rc
a deformação circunferencial ao raio rc do cilindro interno é:
δi
= ε Hi
rc
(negativo, pois é um decréscimo de diâmetro).

Interferência: = δ 0 + δ i
= rc ε H 0 − rc ε H i

( )
= ε H 0 − ε H i rc ,

sinal menos, pois a deformação εHi é negativa (– x – = +).

Considerando extremidades abertas,


σ L = 0,

Página 121
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

σH ν0
εH = 0
− (− p ), σr = −p
0
E0 E0 c

σH νi
εH = i
− (− p ), σr = −p
i
Ei Ei c

onde E0 e ν0, Ei e νi , são módulos de elasticidade e coeficientes de Poisson dos dois tubos.

Então, a interferência é:
 1 
δ 0 + δ i =  (σ H + ν 0 p ) − (σ H + ν i p ) rc
1
(7.11)
 E0 Ei 0 i

onde rc é o raio inicial nominal das superfícies acasaladas.

σHi sendo de compressão mudará seu sinal negativo para positivo, quando seu valor for
substituído. A interferência, baseada no diâmetro, será duas vezes o valor determinado,
bastando trocar rc por dc.
Se os tubos são do mesmo material:
rc
E
(
σ H0 − σ Hi = δ 0 + δ i ) (7.12)

A temperatura “t” a qual o cilindro externo deve ser aquecido antes de ser
encaixado contra o cilindro interno é determinada pela relação:

α . rc . t = δ 0 + δ i
α → coeficiente de dilatação linear do material do cilindro externo

7.8 - COMPLEMENTAÇÃO

As expressões (7.5) e (7.6) podem ser escritas simultaneamente:

PR12  R22 
σr = 2 .  1 ∓ 2  (7.13)
H (
R2 − R12  r  )
Façamos R2 tender para o infinito; separando os termos, podemos escrever a
equação (7.13) como se segue:
PR12 PR12 R22
σr = 2
H (R2 − R12 ) ∓ r 2 . R22 − R12
PR12
Mas, como R2 tende para o infinito, R22 − R12 ≅ R22 e, ( ) ( ) tende para
R22 − R12
zero.
Logo:
PR12
σr = ∓ (7.14)
H r2

Página 122
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

Observando a equação (7.14), verificamos que se r ≥ 4R1 as tensões serão 1/16


das tensões máximas (6 %), que ocorrem para r = R1.
Assim, R2/R1 ≥ 4, podemos considerar espessura infinita e as tensões (para r =
R2) não dependem mais da forma do contorno, pois seus valores, para estes pontos mais
afastados, são muito pequenos.
Esta circunstância é de suma importância na prática, pois permite determinar,
com suficiente exatidão, a distribuição de tensões em peças que correspondam aos casos tais
como os que são mostrados na Fig. 81 ou similares, sempre que a distância entre o centro de
um furo e a borda do outro seja igual ou maior que quatro ou cinco vezes o raio dos mesmos.

Figura 81

A expressão (7.14) permite concluir que quando a espessura do cilindro tende


para o infinito a tensão radial, em qualquer ponto da face interna (r = R1), será igual à
circunferencial com o sinal trocado ( σ H = + P e σ r = − P ), e todos os pontos se encontram
em estado de cisalhamento puro (quando não existem tensões axiais).
Para este caso acima, a expressão para cálculo da tensão equivalente, usando a
teoria da máxima tensão tangencial é: σeq = 2P, para r = R1 (7.15).

7.9 - CILINDROS DE PAREDE FINA COMO CASO PARTICULAR DE CILINDRO ESPESSO

Tomemos a expressão (7.6) para cálculo de σH, em cilindros espessos sob


pressão interna:
PR12  R22 
σH = 2
(R2 − R12 ) 1 + r 2 
Para r = R1:
PR12 R12 + R22 P (R12 + R22 )
σH = 2 . =
R2 − R12 R12 (R22 − R12 )
Considerando o cilindro como de parede fina de espessura “e”, podemos usar
as simplificações abaixo:

R12 + R22 ≅ 2 R12


R1 + R2 ≅ 2 R1
R2 − R1 = e
Substituindo na expressão acima e simplificando:

Página 123
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

P 2 R12 PR1
σH = =
2 R1 e e

(Expressão já conhecida para cálculo de σH em cilindros de parede fina.)


Para a tensão longitudinal (P2 = 0) a expressão (7.9) fica assim:

PR12 PR12 PR12 PR1


σL = = = =
R2 − R1
2 2
(R1 + R2 )(R2 − R1 ) 2 R1 e 2 e
(Expressão já conhecida para cálculo de σL em cilindros de parede fina).

7.10 - FORÇA DE ARRANQUE OU DE ACOPLAMENTO ELÁSTICO, SOB MESMA


TEMPERATURA.

Quando existe interferência radial entre um eixo e uma chapa (ou entre dois
cilindros), a força aplicada axialmente para retirar o eixo da chapa é denominada força de
arranque elástico.

Esta força pode ser calculada como indicado na Figura 82.


Seja:
P – pressão de interferência gerada inicialmente
N – força normal entre as superfícies do eixo e da chapa acasaladas.
N = P.2.π.Rc.h ; D = 2.Rc
Rc – raio da superfície de contato
h – comprimento de eixo em contato com a chapa (no caso em questão,
espessura da chapa)
F – força de atrito entre eixo e chapa que deve ser vencida pela força aplicada
(esta deve ser igual ou superior à F)
F = µ.N
µ – coeficiente de atrito entre as superfícies em contato

Assim: F = 2.µ.π.P.Rc.h

Figura 82

Página 124
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

7.11 - AUTO-FRETAGEM

Já vimos que a parte mais tensionada de um cilindro de parede espessa é sua


superfície interna (r = R1). Segue-se que, se a pressão interna é aumentada suficientemente, o
escoamento do cilindro pode ocorrer nesta região. Felizmente um considerável volume de
material elástico envolve a área escoada. Se a pressão é aumentada ocorre uma penetração
plástica que aprofunda através da parede do cilindro e pode ser que todo o cilindro venha a
escoar, dependendo desta pressão interna.
Se a pressão é tal que a penetração plástica ocorre somente parcialmente na
parede do cilindro, com a retirada desta pressão, a zona elástica externa tende a voltar às suas
dimensões originais, mas é impedida de fazê-lo pela deformação permanente estabelecida no
material escoado. O resultado é que o material elástico é mantido em um estado de tensão
(empurrado para fora), enquanto o material interno é conduzido a uma compressão residual.
Este processo é denominado de auto-fretagem e tem o mesmo efeito que a interferência de um
tubo contra o outro sem as complicações decorrentes do procedimento de interferência.
Assim, o cilindro pode suportar uma pressão interna maior, pois as tensões residuais de
compressão na face interna ocorrem antes que esta região experimente tensões de tração
provenientes da pressão interna aplicada ao final, pois o processo de auto-fretagem antecede a
aplicação da pressão interna final. Quando esta é aplicada, a tensão circunferencial resultante
diminui na região interna do cilindro em virtude da tensão de compressão residual proveniente
do processo de auto-fretagem. Por esta razão, os canos de armas de fogo e outros vasos de
pressão são freqüentemente pré-tensionados, com este procedimento, antes do serviço.
Teorias de falha - critério de escoamento.
A teoria da máxima tensão tangencial é normalmente usada para
dimensionamento de cilindros de parede espessa.

Logo:
Syt
[τ max ] no cilindro =
2
A tensão tangencial máxima no raio interno do cilindro é dada por:
σ H −σ r
τ max =
2
O cilindro falha se:
Syt σ H −σr
= ∴ Syt = σ H −σ r
2 2
onde σH e σr são as tensões circunferencial e radial no raio interno do cilindro e
Syt é o limite de escoamento do material do cilindro. Para os materiais frágeis a teoria da
máxima tensão normal é usada. A falha acontece quando:
Sut = σH max
Teoria plástica - pressão de colapso.

Considere o cilindro da Fig. 83, sujeito a uma pressão interna P1 de intensidade


suficiente para provocar o escoamento a um raio Rp. Para os materiais dúteis o escoamento
ocorrerá quando: Syt = σH - σr
Mas da equação de equilíbrio já deduzida anteriormente, temos:

Página 125
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

dσ r
σ H −σr = r (projeção das forças na direção radial)
dr
dσ r dσ r S yt
S yt = r ∴ =
dr dr r

Figura 83

Integrando: σ r = S y t lnr + constante

Mas, σ r = − P3 para r = R p ∴ constante = - P3 − S y t ln R p

Logo:
 r 
σ r = S y t  ln  − P3

(7.16)
 Rp 

Da equação de equilíbrio dada acima temos:

σH = Syt + σr
  r 
∴ σ H = S y t 1 + ln  − P3 (7.17)
 R 
 p 

Estas equações fornecem as tensões circunferencial e radial através da zona


plástica em termos da pressão radial estabelecida na interface elástico-plástica. Vamos
determinar P3. O cilindro da Fig. 83 pode ser considerado como um cilindro composto por um
tubo interno plástico e um tubo externo elástico sob uma pressão interna P3.

Na porção elástica, na face interna, podemos escrever que:

P3 R p2  R p2 − R22 
σr =  
R22 − R p2  R p2 

P3 R p2  R p2 + R22 
σH = 2  
R2 − R p2  R p2 
σ −σ r P R2
Logo: H = 23 2 2
2 R2 − R p

Página 126
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

Aplicando a teoria da máxima tensão tangencial:


Syt P3 R22
=
2 R22 − R p2

A pressão radial na interface elástica é:


Syt
P3 =
2R 2
(R 2
2 − R p2 ) (7.18)
2

Substituindo P3 em (7.16) e (7.17), as tensões na zona plástica serão:


 
σ r = S y t ln
r

1
R p 2 R22
R 2
2 − R (
2
p  ) (7.19)
 
e:
  
σ H = S y t  1 + ln
r
Rp  2R 2
(
 − 1 R22 − R p2  ) (7.20)
  2 
A pressão necessária para o completo colapso plástico do cilindro é dada pela
equação (7.16) quando r = R1 e Rp = R2 com P3 = P2 = 0.

Para o colapso:
R1
σ r = − P1 = S y t ln (7.21)
R2
Com o conhecimento desta pressão de colapso a pressão de projeto pode ser
determinada dividindo ela por um coeficiente de segurança adequado.

Syt
A pressão de escoamento inicial =
2R 2
(R 2
2 − R12 ) (7.22)
2
onde: Rp = R1.
Finalmente, a pressão interna necessária para causar escoamento a um dado
raio Rp é dada por (7.19) , quando r = R1, isto é:

 
σ r = − P1 = S y t ln
R1

1
R p 2 R22
R (
2
2 − R 2
p  ) (7.23)
 

BIBLIOGRAFIA

BELYAEV, N.M., Strength of Materials., 2ª ed., Mir Publishers. Moscou.

FEODOSIEV, V.I., Resistencia de Materiales., Editorial Mir. Moscou. 1972.

HEARN, E.J., Mechanics of Materials., lª ed., Pergamon Press Ltd. Gt. Britain
(Page Bras Ltd, Norwich).

HIGDON e outros, Mecânica dos Materiais., 3ª ed., Guanabara Dois S.A., Rio de
Janeiro - RJ., 1981.

Página 127
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 7.1

Um cilindro espesso, de 100 mm de raio interno e 150 mm de raio externo, é


sujeito a uma pressão interna de 60 MN/m2. Determinar as tensões circunferenciais e radiais,
na face interna e externa do cilindro e também as tensões longitudinais, sabendo-se que o
cilindro é fechado nas extremidades.

Solução:

σ rR 1 = − P = -60 MN / m2

σ rR 2 = 0

60.100 2 150 2 
σ HR1 =  1 +  = 156 MN / m2
2 
150 2 − 100 2
 100 
60.100 2
 150 2 
σH =
R2
1 +
2  2 
 = 96 MN / m2
150 − 100  150 
2

P R2 60 . 100 2
σL = 2 1 2 = = 48 MN / m2
R2 − R1 150 2 − 100 2

Ponto na face interna:

σeq = σ1 - σ3 = 216 MN / m2

Página 128
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

¾ Exercício 7.2
Calcular o diâmetro externo de um cilindro sujeito a uma pressão interna de 500
atmosferas, se o coeficiente de segurança é dois (2). O raio interno é 5 cm.

Syt = Syc = 5000 kgf/cm2.

Solução:

σ rR 1 = − P = −500 = σ 3
500 . 25  25 + R 2
σ HR1 =   = σ 1
R 2 − 25  25 
σ eq = σ 1 − σ 3 = S yt = 2500
σ 1 + 500 = 2500 → σ 1 = 2000

(
500 25 + R 2 )
= 2000 → R = 6,45 cm ∴ φ = 12,9 cm
(R 2 − 25 )
¾ Exercício 7.3

Um tubo de bronze de 60 mm de diâmetro externo e 50 mm de furo é


encaixado justo, dentro de um tubo de aço de 100 mm de diâmetro externo. Quando o
conjunto se encontra a uma temperatura de 15ºC os dois tubos são livres de tensão. O
conjunto é então aquecido à 115ºC.
Calcular a pressão radial induzida entre as superfícies acasaladas e a tensão
circunferencial térmica induzida nas superfícies interna e externa de cada tubo.

E ν α
Aço 200 GPa 0,30 12 x 10-6 / ºC
Bronze 100 GPa 0,33 19 x 10-6 / ºC

Solução:

δ 0 + δ i = 30 x10 −3 x100(19 − 12 )x10 −6 = 21x10 −6 m

30 x10 −3  1 1 
21x10 −6 =
10 9  200 (2,1 + 0,3 ) − 100 (− 5,55 + 0,33 ) p
 

p = 10,9 MN /m2

30 2  25 2 
σ Hi = − p  1 + 2  = −5 ,55 p ⇒ σHi = -60,5 MN /m2
30 2 − 25 2  30 

30 2  50 2 
σ H0 =p 2  1 + 2  = 2 ,1 p ⇒ σH0 = 22,9 MN /m2
50 − 30 2  30 

Página 129
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

¾ Exercício 7.4

Determinar a pressão “p” (máxima) entre o tubo de concreto e o núcleo rígido e a


pressão “P” (máxima), aplicada na face externa do tubo de concreto para que a tensão
equivalente na face interna do tubo não exceda à S ut = 4 kgf / cm 2 .
Usar Coulomb Mohr.

Dados: S uc = 20 kgf / cm 2 ; Coeficiente de Poisson do tubo: 0,16

Solução:

Ponto isolado pertencente ao tubo situado


na superfície de contato:

σr = -p (pressão de contato entre tubo e núcleo rígido)


 5 p 8P 
σ H = σ HP + σ Hp =  − 
 3 3 
1 1  5 p 8 P  
ε Hr = 0 →
1
(σ H − υσ r ) =  −  − 0 ,16 (− p ) = 0
E E  3 3  
p = 1,47 P
P = 0 ,68 p
σ H = 1,67 p − 1,81 p = −0 ,14 p
σ 1 = 0 , σ 2 = −0 ,14 p , σ 3 = − p
Aplicando Coulomb-Mohr:
4
σ eq = σ 1 − kσ 3 = 0 − (− p ) = 4 ⇒ p = 20
20
p = 20 kgf / cm2
P = 13,6 kgf / cm2

Página 130
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

¾ Exercício 7.5

Um tubo composto é feito pelo aperto de um tubo de 100 mm de diâmetro


interno e 25 mm de espessura contra outro de 100 mm de diâmetro externo e 25mm de
espessura. A interferência radial é de 0,01 mm. Se ambos são de aço, calcular a pressão radial
estabelecida na superfície de contato, durante a interferência.
Após, uma pressão P = 60 MN/m2 é aplicada na face interna do conjunto. Fazer
a distribuição da tensão radial e circunferencial para os dois casos.

Módulo de elasticidade do aço: 208 GN/m2.


Coeficiente de Poisson: 0,3

Solução:

pR12  R2  p .50 2  75 2 
σ H0 =  1 + 22  = 2  1 + 2  = 2 ,6 p
R 22 − R12  R1  75 − 50 2 50
  

p .50 2  25 2 
σ Hi =− 2  1 + 2  = −1,67 p
50 − 25 2  50 

R
δ0 + δi = (σ H 0 − σ Hi )
E
50.10 −3
0 ,01.10 −3 = 9
(2 ,6 p + 1,67 p ) → p = 9 ,74 MN / m 2
208.10

Distribuição das tensões: (cilindro interno)

σ Hi = −1,67 p = −16 ,3 MN / m 2

9 ,74.50 2  25 2 
′ =−
σ Hi  1 + 2  = −26 MN / m 2
50 2 − 25 2  25 

Distribuição das tensões: (cilindro externo)

σ H 0 = 2 ,6 p = 25 ,3 MN / m 2

9 ,74.50 2  75 2 
σ ′H 0 =  1 + 2  = 15 ,6 MN / m 2
75 2 − 50 2  75 

Página 131
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

• Apliquemos a pressão P = 60 MN / m2 na face interna, sem interferência:

60.25 2  75 2 
σH =  1 + 2 
75 2 − 25 2  r 

σH 25 = 75 MN /m2
σH 50 = 24,4 MN /m2
σH 75 = 15 MN /m2

 75 2 
σ r50 = 7 ,5 1 −  ⇒ σr 50 = -9,4 MN /m2
 50 2 

Página 132
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

¾ Exercício 7.6

Uma barra de aço é introduzida sob pressão, em uma prancha também de aço.
Determinar a força que se deve aplicar à barra, em direção axial, para retirá-la da prancha.
Dados:
Módulo de elasticidade do aço: 2 x 106 kgf/cm2
Coeficiente de atrito: 0,25
D = 60 mm, h = 100 mm, interferência radial = 0,03 mm

Solução:

f- força de atrito entre


a barra e a prancha
P≥ f
P ≥ µ p2π R h
Cálculo de p:
R
δ0 + δi = (σ H 0 − σ Hi )
E

Eixo maciço (R1 = 0)


σ Hi = − p

Chapa de aço (R2 → ∞)


σ H0 = + p
3
0 ,003 = 6
( p + p ) → p = 1000 kgf / cm 2
2 x10

P ≥ 0,25 . 1000 . 2 . 3,14 . 3 . 10

P ≥ 47124 kgf

Página 133
Unidade 7 – CILINDROS DE PAREDE ESPESSA

¾ Exercício 7.7

Um cilindro espesso de raio interno 300 mm e externo 500 mm, é sujeito a uma
pressão interna P que cresce gradualmente. Determinar o valor de P, para:

1- o material do cilindro começar a escoar.


2- o escoamento prosseguir até o meio da espessura da parede.
3- o material do cilindro sofrer colapso total.

Dado: Syt = 600 MN/m2

Solução:

1) Usando a equação (7.18) fazendo Rp = R1 , P3 será P1. Assim:


P1 =
600
2
(500 2 − 300 2 ) ⇒ P1 = 192 MN / m2
2 x500
(pressão atuante na face interna que dará inicio ao escoamento do material do
cilindro).

2) Rp = (R1+R2)/2 = (300+500)/2=400mm
600
2(
Pmédio = 5002 − 4002 ) ⇒ Pmédio = 108 MN / m2
2 x 500
(pressão na interface elástico-plástica).

Usando a equação (7.16) fazendo r=R1 , e P3 = 108:


R1 300
σ r = S y t ln − 108 = 600 ln − 108 = −280 ,6 MN / m 2
Rp 400

P1 = 280,6 MN / m2

3) Usando a equação (7.21), substituindo os valores temos:


300
σ r = 600 ln = −306 ,5 MN / m 2
500

P1 = 306,5 MN / m2 (pressão de colapso total)

Página 134
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

8. CARREGAMENTO DINÂMICO

OBJETIVOS:

- Definir carregamento dinâmico.


- Aplicar o princípio de D’Alembert.
- Conceituar carga estática equivalente.
- Definir fator dinâmico.
- Deduzir a expressão do fator dinâmico para corpos em queda livre.
- Resolver exercícios envolvendo carregamento dinâmico.

8.1 - PRINCÍPIO DE D’ALEMBERT

Até o presente momento, estudamos a ação de cargas estáticas sobre as peças


estruturais. Estas variam sua intensidade de zero ao valor definitivo muito lentamente de
modo que as acelerações que nestas condições recebem os elementos das estruturas são
desprezíveis. No entanto, as cargas podem apresentar caráter dinâmico, variando em função
do tempo com grande rapidez. Suas ações são acompanhadas de vibrações nas estruturas e
seus elementos, e de deflexões apreciáveis.

) Estas cargas dão origem a tensões que podem ser de intensidades muitas vezes
maiores que as tensões correspondentes a cargas estáticas.

O cálculo das peças estruturais sob cargas dinâmicas é muito mais complexo que
o cálculo sob cargas estáticas. A dificuldade reside em que, por um lado, os esforços e as
tensões provenientes de cargas dinâmicas, são obtidos por métodos mais complicados e por
outro, os processos que determinam as características mecânicas dos materiais sob
carregamento dinâmico, são mais complexos. Muitos materiais dúteis, sob carregamento
estático, se comportam como frágeis sob carregamento dinâmico. Em caso de cargas variáveis
repetidas, a resistência mecânica do material decresce.

) O método geral de cálculo sob carregamento dinâmico se baseia no princípio de


D’Alembert da mecânica teórica. Segundo este princípio, qualquer sólido em
movimento pode ser considerado em estado de equilíbrio instantâneo se, as forças que
atuam sobre ele, seja acrescentada a força de inércia, igual ao produto de sua massa
por sua aceleração e dirigida em sentido oposto ao da aceleração.

Por isto quando se conhece a força de inércia, pode-se empregar sem limitação
alguma, o método das seções e aplicar as equações de equilíbrio para cálculo dos esforços.
Quando é difícil a determinação da força de inércia, como no caso de impacto,
emprega-se o princípio da conservação da energia para cálculo dos esforços, tensões e
deformações.

) Para todos os casos tratados nesta apostila, consideraremos que as características


mecânicas dos materiais continuarão as mesmas sob carregamento estático e
dinâmico, o que nem sempre é verdade (velocidade de aplicação de cargas muito
elevada).

Página 135
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

8.2 - CARGA DE IMPACTO: CARGA ESTÁTICA EQUIVALENTE

As tensões e deformações geradas durante uma carga de impacto dependem da


velocidade de propagação da onda de deformação através do volume do corpo que recebe o
impacto (corpo golpeado). Em nossos exemplos desprezaremos este fato e vamos admitir que
o comportamento do corpo sob carregamento estático e dinâmico seja o mesmo (o que é
verdade para velocidades de propagação da onda de deformação não muito elevadas). Assim
podemos imaginar uma carga lentamente aplicada ao sistema que produza a mesma
deformação que acontece no instante do impacto que é a deformação máxima que ocorre,
chamada deformação ou deflexão dinâmica.
Vejamos o que acontece com a viga em balanço da Figura 84a abaixo, sobre a
qual cai do repouso um bloco de peso W em sua extremidade livre. A variação da deflexão da
extremidade livre em função do tempo é indicada na Figura 84b onde, ∆ é a deflexão máxima
sofrida pela viga no instante de impacto. A outra deflexão, δ , é a deflexão estática resultante
quando a viga e o bloco finalmente entram em equilíbrio. É a deflexão que seria obtida se o
bloco W fosse colocado lentamente sobre a extremidade livre da viga.

) A carga P, aplicada lentamente na extremidade da viga produz a mesma deflexão


máxima ∆ ocorrida no momento de impacto. Esta carga é chamada de carga
estática equivalente (equivalente ao impacto, pois produz deflexões e tensões
idênticas as que ocorrem no instante de choque), Figura 84c.

Figura 84

Conforme já dissemos, vamos admitir que o material se comporte igualmente sob


carregamento estático e dinâmico. Assim, a energia de deformação da viga em (a) e (c) é a
mesma. Ela é igual ao trabalho realizado contra a viga. Vamos denominar de energia efetiva a
parcela da energia aplicada que realiza trabalho de deformação. Parte da energia aplicada se
perde na forma sonora, na forma de calor e até de deformação local.
Logo podemos equacionar:
[Energia efetiva aplicada] = [Trabalho realizado pela carga estática equivalente]
Em muitas aplicações a energia efetiva aplicada é considerada igual, à favor da
segurança, à energia aplicada. É difícil medir a parcela da energia aplicada dissipada nas
outras formas de energia.
Como a carga estática equivalente é proporcional à deflexão da viga, o trabalho
P∆
realizado por ela é igual a:
2

Página 136
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

Se a energia é devida a uma variação de velocidade de um corpo em movimento


η mv 2
ela pode ser escrita:
2
onde η é a parcela da energia aplicada que realiza trabalho de deformação. Muitas vezes
η = 1, a favor da segurança.

Se a energia aplicada é proveniente de um corpo em queda livre (partindo do


repouso) que se choca contra uma estrutura deformável elasticamente, a energia efetiva
aplicada é:
η W ( H + ∆)
onde W é o peso do corpo em queda livre, H a distância vertical até o sistema e ∆ a deflexão
dinâmica do sistema.

Para um carregamento dinâmico de torção, a energia efetiva aplicada gera um


torque dado por:

2
onde T é o momento torçor aplicado lentamente (carga ou esforço estático equivalente) que
produzirá o mesmo ângulo máximo de rotação θ do momento de choque.

Definimos como fator dinâmico ou de impacto a relação entre a carga estática


equivalente e a carga W. Pelo fato de haver proporcionalidade entre carga e deflexão, o fator
dinâmico também é igual ao quociente entre a deflexão dinâmica (∆) e a deflexão estática
(δ ). Assim:
P ∆
Fator dinâmico (F.D.) = =
W δ

8.3 - CÁLCULO DO FATOR DINÂMICO PARA CORPOS EM QUEDA LIVRE (TODA ENERGIA
POTENCIAL GRAVITACIONAL SE TRANSFORMA EM ENERGIA DE DEFORMAÇÃO η = 1)

Supondo a viga da Figura 84 com um comprimento l, momento de inércia I e


módulo de elasticidade E, podemos escrever:

Wl 3 Pl 3
δ = e ∆=
3EI 3EI
Energia efetiva aplicada:

P∆
W(H + ∆ ) =
2

3EI 3EI
Mas: W = 3 δ e P= ∆
l l3
Substituindo na equação da energia acima, P e W e simplificando:
∆ 2H
= F . D. = 1 ± 1 +
δ δ
O sinal negativo não serve, pois significaria um fator dinâmico menor do que um,
ou seja, tensões e deflexões menores que as provenientes do carregamento estático da mesma
carga (absurdo).

Página 137
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

Finalmente:
P ∆ 2H
= = F . D. = 1 + 1 +
W δ δ
Esta expressão deve ser usada quando se conhece a altura de queda H, o peso W e
quando η = 1.

• Observações:
2H
1- A unidade sob o radicando pode ser ignorada se ≥ 10 , o erro não excederá a 5%.
δ
2H
2- Investigações apuradas confirmam que o erro não excede a 10 % se ≤ 100 .
δ

3- Se H = 0, F.D. = 2 ao aplicar subitamente a carga, as tensões e as deformações são


duas vezes maiores que as que ocorrem no caso da ação estática da mesma carga.

4- O método da energia foi desenvolvido considerando as seguintes restrições a mais:

* as tensões estão abaixo do limite de escoamento do material;


* os corpos após o impacto não se separam;
* a massa que golpeia é considerada pequena em relação à massa da barra que recebe
o golpe.

5- Se o impacto ocorre a elevadas velocidades, a deformação do corpo que recebe o


impacto não possui tempo suficiente para se distribuir através de todo ele e uma
tensão local de considerável intensidade ocorrerá, cuja intensidade poderá exceder a
tensão de escoamento do material, na região de impacto. Exemplo: uma viga de aço
sendo golpeada por um martelo de aço – grande parte da energia cinética é
transformada em energia local de deformação. Fenômeno similar ocorre mesmo a
baixas velocidades de impacto, se o corpo que recebe o impacto for muito rígido.

6- Se a carga W é aplicada lentamente em um sistema, a força transmitida a ele é W e


não depende do material do sistema ou de seu tamanho. No caso de uma carga de
impacto a carga P depende da aceleração que o corpo que recebe o impacto possuirá,
ou seja, P depende do tempo durante o qual a velocidade do corpo varia. A
aceleração é função da flexibilidade da barra que recebe o impacto. Quanto maior a
flexibilidade, isto é, quanto menor o módulo de elasticidade e maior o comprimento
da barra, maior é a duração do impacto e menor a aceleração e a força P. Devido a
isto, molas são colocadas no sistema que recebe o impacto. Além disto, as vigas são
posicionadas de modo a trabalharem à flexão com a menor inércia de sua seção
transversal.

BIBLIOGRAFIA

BELYAEV, N. M., Strength of Materials, 2a edição, Mir Publishers, Moscou.


HIGDON e outros, Mecânica dos Materiais, 3a ed., Guanabara Dois S.A., R.J., 1981.
STIOPIN, P., Resistencia de Materiales, Mir Publishers, Moscou, 1968.

Página 138
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 8.1

Um corpo de peso Q move-se para cima com aceleração a. Determinar a tensão


máxima no cabo, desprezando o peso deste.

Solução:

Q a a
Nd = Q + .a = Q(1 + ) - F.D. = (1 + )
g g g
Nd Q a a
σd = = (1 + ) = σ est (1 + ) = σ est .FD
A A g g
σ d ≤ S yt
A - Área da seção do cabo.

Página 139
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

¾ Exercício 8.2

Uma mola helicoidal de passo estreito, de comprimento l = 30 cm, com raio R = 2


cm (da espira) e raio r = 0,2 cm (do arame), e com n = 10 espiras, suporta sobre seu extremo
uma massa de peso Q = 1 kgf e gira no plano vertical em torno de uma articulação imóvel,
realizando 200 revoluções por minuto. Determinar a tensão tangencial máxima, no arame da
mola, e o deslocamento máximo do peso Q, sabendo-se que o módulo de Coulomb é 8.105
kgf/cm2. Desprezar o peso da mola.

Solução:

a
Q d = Q( 1 + ) → 1 , a = ω 2 ( l + ∆l d )
g
D3 n
∆l = 8.Q . 4 . = 0 ,25Q d
d d

d G
π .n
ω= = 21 rad/s
30
a = ω 2 ( l + ∆l d ) = 21 2 ( 30 + 0 ,25Q d ) → 2

 21 2 ( 30 + 0 ,25Q d ) 
2 → 1 ⇒ Q d = 1.1 + 
 980 
16,3
Q d = 16 ,3 kgf → F.D. = = 16 ,3
1

T d = 16 ,3.2 = 32 ,6 kgf.cm
V = 16,3 kgf
32 ,6.0 ,2 16 ,2
τd = + = 2723 kgf/cm 2
3,14 3 ,14.0 ,2 2
.0 ,2 4
2
σ eq = σ 2 + 3τ 2 , σ =0
σ eq = τ d 3 ≤ S yt
∆l d = 0 ,25.Q d = 0 ,25.16 ,3 = 4 cm

Página 140
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

¾ Exercício 8.3

Analisemos a resistência de uma haste de conexão AB unindo duas rodas de um


sistema a vapor. A roda motora O1 é que transmite o torque do mecanismo a vapor. A haste de
conexão é fixada às rodas nos pontos A e B com a ajuda de articulações de pinos cilíndricos.
AO1 e BO2 são ambas iguais a r. O diâmetro das rodas é D (raio R) e o comprimento da haste
é l. A velocidade do sistema é v, constante.
Pede-se a tensão máxima de flexão na haste.
Dados numéricos:
ω = 30 rad/s
l = 150 cm
r = 50 cm
peso específico do material: 7,86 gf/cm3
aceleração da gravidade: 981 cm/s2
seção retangular de 10 x 4,5: 45 cm2
módulo de resistência à flexão: 75 cm3

Solução:

γ = 7 ,86 gf / cm3 = 7 ,86 .10 -3 kgf / cm3


g = 981 cm / s2

Cálculo de q (peso próprio)


q = volume.γ = 45 . 1 . 7 ,86 . 10 −3 = 0 ,354 kgf / cm .

Cálculo da força de inércia :


0 ,354 2 0 ,354 2
q1 = .ω r = .30 .50 = 16 ,24 kgf / cm
981 981
q total = 16 ,24 + 0 ,354 = 16 ,59 kgf / cm
ql 2 16 ,59 .150 2
Mmax = = = 46659 kgf.cm
8 8
M 46659
σd = y= 3
.5 = 622 kgf / cm2
I 4 ,5.10
12

Página 141
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

¾ Exercício 8.4

Um eixo está submetido a uma carga de impacto de torção. Ele tem 180 cm de
comprimento e 5 cm de diâmetro. Calcular a tensão tangencial máxima do eixo, no momento
de impacto.

W = 4,5 kgf
e = 15 cm
h =10 cm
G = 850000 kgf/ cm2
Toda a energia de queda realiza trabalho de deformação.

Solução:

δ -deflexão sob o ponto de aplicação de W


ϕ -ângulo de torção do eixo

δ = ϕ . 15 → T = 4,5 . 15 = 67,5 kgf.cm


Tl 67 ,5 . 180 . 2
ϕ est = = = 2,3.10 − 4 rad
GI p 0,85 . 10 6 . π . 2,5 4
δ est = 2,3.10 − 4 . 15 = 3,5 . 10 -3 cm
2H 2.10
F .D. = 1 + 1 + =1+ 1+ = 76 ,6
δ 3,5.10 − 3
P = 4,5 .76,6 = 344,7 kgf
∆ = 3,5 . 10 - 3 .76,6 = 0,27 cm
67,5 . 2,5 . 2
τ d = 76 ,6 . = 211 kgf/cm 2
π . 2,5 4

σ eq = 3 . 211 = 365,5 < 2000

Página 142
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

¾ Exercício 8.5

Um peso de 2 kgf cai do repouso, de uma altura de 2 cm sobre o meio de uma


viga de alumínio de seção 3 cm por 1 cm. A extremidade direita da viga de 2 m apoia-se
contra uma mola helicoidal de constante igual a 20 kgf/ cm. Supondo-se que toda energia de
queda realiza trabalho de deformação, pede-se:

a) a carga estática equivalente


b) o fator dinâmico
c) a tensão máxima de flexão na viga, no momento do impacto,
d) a porcentagem de energia absorvida pela viga e pela mola, no momento de impacto.

Módulo de elasticidade do Al: 0,7. 106 kgf/cm2


L = 2 m, h = 2 cm, W = 2 kgf

Solução:
δ - deflexão total sob W = δV +δmeioMola
Para cálculo de δV a mola é considerada rígida e para cálculo de δmola a viga é
considerada rígida.

2 . 200 3 .12 1
a )δ = 6 3
+ = 1,9 + 0,025 = 1,925 cm
48 . 0,7 . 10 . 3 .1 2 . 20
2 .2
b)F.D = 1 + 1 + = 2,75
1,925
c) P = 2 . 2,75 = 5,5 kgf
1 .100 . 0,5
σ d = 2,75. .12 = 550 kgf/cm 2
3 . 13
1
d )U V = . 5,5 . 1,9 . 2,75 = 14,36 kgf.cm
2
δ mola = 2.0,025 = 0,050
1
UM = . 1 .2,75 . 0,050 . 2,75 = 0,188 kgf.cm
2

Página 143
Unidade 8 – CARREGAMENTO DINÂMICO

¾ Exercício 8.6

A Figura abaixo representa um esmeril com dois rebolos abrasivos nas


extremidades do eixo movido por correias, através de uma roldana central. Quando são
atingidas 2400 rpm, o rebolo de 6 in é travado, causando uma parada instantânea. Determinar
a máxima tensão tangencial e o ângulo de torção do eixo.

Módulo de Coulomb do material do eixo: 11,5.106 psi


Peso específico do material do rebolo: 0,07 lb/in3
Aceleração da gravidade: 386 in/s2

K = 0,5. I. ω2; I = 0,5. m. r2

Solução:

1 2 1
U= Iω = Tϕ
2 2
1 1 3 0,07  2
I = mr 2 =  π . 4 2 . .  . 4 = 0 ,055
2 2 4 386 
2
1  3 ,14 . 2400 
U= ( 0 ,055 )  = 1737 lb.in
2  30 
Tl 12 . T
ϕ= =
GI p π
11,5 . 10 6 . . 0,5 4
2
1 12 . 2
1737 = .T 2 .
2 11,5 .10 6 . π . 0,5 4
T = 18079 lb.in
18079 . 12 . 2
ϕd = = 0 ,19 rad
11,5 .10 6 . π . 0,5 4
Tr 18079 . 0,5 . 2
τd = = = 92078 lb/in 2
Ip π . 0,5 4

Página 144
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

9. DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE


GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

OBJETIVOS:

- Definir volantes.
- Determinar a força de inércia.
- Determinar as expressões para cálculo das tensões radiais e
circunferenciais em discos que giram à grande velocidade.
- Determinar o aumento do raio em discos em rotação.
- Determinar as tensões em discos em rotação com interferência inicial.

9.1 - DETERMINAÇÃO DA DISTRIBUIÇÃO DAS TENSÕES RADIAIS E


CIRCUNFERENCIAIS EM UM DISCO DE ESPESSURA CONSTANTE

Disco sujeito a uma rotação uniforme ω , com pressões atuantes em suas faces
interna e externa.

Figura 85 - Forças atuando em um elemento de um disco em rotação.

Consideremos um elemento de um disco de raio r (Fig. 85).

Considerando espessura unitária temos:

volume do elemento: rdθ .dr .1 = r dθ dr


massa do elemento: ρ r dθ dr
força de inércia: mω 2 r = ρ r dθ drω 2 r = ρ r 2 ω 2 dθ dr
ρ é a massa específica do material do disco.

Página 145
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

Comentários sobre as forças da Fig. 85:

1 - As forças σH.dr.1, são iguais em intensidade, pela simetria rotacional; mas


não têm a mesma direção. Não dependem de θ, somente de r.
2 - As forças radiais são diferentes por duas razões: primeira, as áreas são
diferentes; segunda, as tensões são, provavelmente, diferentes. Estas forças também só
dependem de r.
3 - Como σH e σr só dependem de r, toda diferencial que aparece é total e não
parcial.

A equação de equilíbrio da estática, segundo a direção radial fornece:



2.σ H .dr . sen + σ r .r .dθ − (σ r + dσ r )(. r + dr ).dθ = ρ .r 2 .ω 2 .dθ .dr
2
dθ dθ
como dθ é pequeno, sen = radiano
2 2
Simplificando:
dσ r
σ H −σ r − r = ρ .r 2 .ω 2 (9.1)
dr

) Sequando
há um movimento radial ou deslocamento do elemento de uma quantidade “s”,
o disco gira, a deformação radial elementar é dada por:

ds 1
dε r = = (σ r − υσ H ) (9.2)
dr E

A deformação circunferencial no raio r é:


s 1 (9.3)
εH = = (σ H − υσ r )
r E
1
s= (σ H − υσ r ).r
E

Diferenciando:
ds 1 r  dσ υdσ r 
= (σ H − υσ r ) +  H −  (9.4)
dr E E  dr dr 

Igualando (9.2) e (9.4) e simplificando:


dσ H dσ r
(σ H − σ r )(. 1 + υ ) + r − υr =0 (9.5)
dr dr
Substituindo (σH - σr) da equação (9.1),

Página 146
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

 dσ r  dσ H dσ r
r + ρr 2ω 2 .(1 + υ ) + r − υr =0
 dr  dr dr
dσ H dσ r
+ = − ρrω 2 .(1 + υ )
dr dr
Integrando,
ρr 2ω 2
σH +σr = − .(1 + υ ) + 2.A (9.6)
2
onde 2A é a constante de integração conveniente.
Subtraindo da equação (9.1),
dσ r ρr 2ω 2
2σ r + r =− .(3 + υ ) + 2 A
dr 2
dσ r 1 d 2
2σ r + r
dr
= .
r dr
r σr ( )
 ρr 2 ω 2 
dr
(
d 2
)
r σ r = r −
2
.(3 + υ ) + 2 A
 
ρr 4 ω 2 2 Ar 2
r 2σ r = − .(3 + υ ) + −B
8 2
onde -B é a segunda constante de integração conveniente.
B ρω 2 r 2
Assim: σ r = A − 2 − (3 + υ ). (9.7)
r 8
e da equação (9.6):
B ρω 2 r 2
σ H = A + 2 − (1 + 3υ). (9.8)
r 8

9.2 - CASO PARTICULAR DE UM DISCO SÓLIDO

Para um disco sólido, a pressão no centro é dada para r = 0.

) aParamenosigual
r a zero, as equações acima fornecerão valores infinitos para as tensões,
2
que B seja nulo. Isto é B = 0; e então B/r = 0 que dá a única solução finita.

Para o raio externo R a tensão radial deve ser zero desde que não existem
forças externas aplicadas.
Deste modo, da equação (9.7),
ρω 2 R 2
σ r = 0 = A − (3 + υ ).
8
ρω R2 2
A = (3 + υ ).
8
Substituindo nas equações (9.7) e (9.8), as tensões radial e circunferencial a um
raio r, em um disco sólido, são dadas por:

Página 147
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

σ H = (3 + υ).
ρω 2 R 2
8
− (1 + 3υ)
ρω 2 r 2 ρω 2
8
=
8
[
(3 + υ).R 2 − (1 + 3υ).r 2 ] (9.9)

ρω R ρω r ρω 2
( )
2 2 2 2
σ r = (3 + υ). − (3 + υ) = (3 + υ). . R2 − r2 (9.10)
8 8 8

Tensões máximas:

) Noas tensões
centro do disco, onde r = 0, as equações acima produzirão valores máximos para
radiais e circunferenciais que serão as tensões máximas no disco e iguais
à:

ρω 2 R 2
σH = σ rmáx = (3 + υ ). (9.11)
máx
8
Na face externa do disco, onde r = R, as equações fornecem:
ρω 2 R 2
σ r = 0 ; σ H = (1 − υ ). (9.12)
4
A distribuição completa das tensões radiais e circunferenciais, através do raio
do disco, está indicada na Fig. 86.

Figura 86 - Distribuição das tensões em um disco sólido em rotação.

9.3 - DISCOS EM ROTAÇÃO COM FURO CENTRAL

As equações gerais de tensões para um anel em rotação podem ser obtidas do


mesmo modo que aquelas para um disco sólido em rotação:

B ρω 2 r 2
σr = A− − (3 + υ ).
r2 8
B ρω 2 r 2
σH = A + 2 − (1 + 3υ ).
r 8
Supondo o disco somente em rotação, sem pressão interna ou externa, as
condições de contorno requeridas podem ser substituídas simultaneamente para determinar os
valores apropriados para as constantes A e B.

Página 148
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

• Para r = R1, σr = 0
B ρω 2 R12
0 = A− − (3 + υ ).
R12 8

• Para r = R2, σr = 0
B ρω 2 R22
0 = A− − (3 + υ ).
R22 8

ρω 2 R12 R22
B = (3 + υ ).
8
e,
ρω (R12 + R22 )
2
A = (3 + υ ).
8
Substituindo:

ρω 2  R12 R22 
σ r = (3 + υ ). R + R −
2
1 2
− r22
2 (9.13)
8  r 
ρω 2   2 R12 R22  
σH = (3 + υ ) R1 + R2 +  − (1 + 3υ )r 2  (9.14)
2

8  r2 
  

As tensões máximas ocorrem para r = R1:


ρω 2 ρω 2
σ H máx =
8
[(3 + υ )(R 2
1 )
+ R22 + R22 − (1 + 3υ )R12 = ] 4
[(3 + υ )R 2
2 + (1 − υ )R12 ] (9.15)

Quando o valor do raio interno se aproxima de zero, a tensão circunferencial


máxima aproxima-se de:
ρω 2
σ H máx = (3 + υ )R22
4
isso é duas vezes o valor obtido no centro de um disco sólido em rotação, à mesma
velocidade. Assim, a realização de um pequeno furo, no centro de um disco sólido, dobra o
valor da máxima tensão circunferencial devido à própria rotação.

Na face externa r = R2:


ρω 2
σ H mín =
4
[(3 + υ )R 2
1 + (1 − υ )R22 ]
Tensão radial máxima:

ρω 2  R12 R22 
σ r = (3 + υ ).  R1 + R2 −
2 2
2
− r2 
8  r 
dσ r
quando =0,
dr

Página 149
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

d  2 R12 R 22 
0= R
 1 + R 2
2 − 2
− r2
dr  r 
2
0 = R12 R 22 3 − 2r (9.16)
r
r = R1 R 2
4 2 2

r= ( R1 R 2 )
Substituindo na equação original:
ρω 2 ρω 2
σ r máx = (3 + υ ).
8
[R
2
1
2
2 ]
+ R − R1 R2 − R1 R2 = (3 + υ ).
8
[R2 − R1 ]2 (9.17)

Figura 87 - Distribuição das tensões em um disco vazado em rotação

9.4 - DISCO E EIXO ACOPLADOS COM INTERFERÊNCIA

Os discos rotativos possuem um furo central circular para permitir a sua


montagem, com interferência, em um eixo. A pressão de interferência gerada pela montagem
deve ser suficiente para que o disco não se solte do eixo durante o movimento de rotação e
não deve ser muito elevada para não criar grandes tensões no disco.
No instante do acoplamento disco-eixo sob pressão, a velocidade de rotação é
nula e o conjunto comporta-se como um cilindro composto em que o cilindro interior é o eixo
e o exterior o disco. A montagem pode-se realizar com o aquecimento do disco. A
interferência radial será a diferença entre o raio do eixo e o raio interno do disco. Como o
conjunto é tratado como um cilindro composto (ω = 0) pode-se calcular a pressão de contato
conhecendo-se a interferência radial.
Quando o disco acoplado com interferência contra o eixo ficar solto no eixo, o
que ocorre a uma velocidade particular “ω” deixa de haver interferência. Isto corresponde a
anular a pressão de contato inicialmente estabelecida pelo ajuste.

9.5 - TENSÕES COMBINADAS DE ROTAÇÃO E TÉRMICA EM DISCOS UNIFORMES E


CILINDROS ESPESSOS

Se um componente é livre de expandir-se e sua temperatura varia


uniformemente, a expansão ocorre sem o aparecimento de tensões térmicas. No caso de discos
sujeitos a gradientes térmicos, uma parte do material tende a expandir-se mais rapidamente do

Página 150
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

que a outra experimentando, cada uma, diferença de temperatura e como resultado são
desenvolvidas tensões térmicas.
Suponhamos um disco, inicialmente sem tensão, sujeito a uma variação de
temperatura, T, a uma rotação uniforme, ω, com pressões atuando em suas faces interna e
externa. seja R1 e R2 seus raios interno e externo, Fig. 88. Imaginemos um elemento deste
disco, de raio genérico r, espessura dr e largura unitária, formado pelo ângulo central dθ, Fig.
89. As tensões radiais e circunferenciais e a força de inércia foram estabelecidas neste
elemento. A força de inércia aparece devido ao movimento do disco. Sua presença permite
considerarmos o mesmo em estado de equilíbrio instantâneo (princípio de D’Alembert).

Calculemos estas forças:

Figura 88 Figura 89

Força de inércia = volume x massa específica x aceleração


( )
F = rdθ 1dr ( ρ ) ω 2 r = ρω 2 r 2 dθdr
força radial na face interna = σ r rdθ 1
força radial na face externa = (σ r + dσ r )(r + dr )dθ 1
força circunferencial = σ H dr1

Comentários sobre as forças:

As forças circunferenciais são iguais em intensidade pela simetria rotacional,


mas não têm a mesma direção. Não dependem de θ mas de r. Elas são iguais através da
espessura dr.

As forças radiais nas faces interna e externa são diferentes pois as áreas
também o são e as tensões são, provavelmente, diferentes. Elas dependem somente de r.

Como todas as forças dependem somente de r, toda equação diferencial que


aparece é total e não parcial.

Estabeleçamos a equação de equilíbrio da estática na direção Y:


ΣFY=0

Página 151
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE


2σ H dr sen + σ r rdθ − (σ r + dσ r )(r + dr )dθ − ρ r 2ω 2 dθdr = 0
2
como dθ é pequeno e expresso em radianos então sen(dθ/2) = dθ/2, em radianos.

Simplificando dθ e desprezando o produto de infinitésimos:


dσ r
σH −σr − r = ρ r 2ω 2 (9.18)
dr
Como ocorre um movimento radial (ou deslocamento do elemento de uma
quantidade “s”) quando o disco gira, a deformação radial será:

Figura 90

ds 1
εr =
dr E
[
= (σ r − νσ H ) + Eα T ] (9.19)

onde o termo EαT é a tensão térmica.

α é o coeficiente de dilatação térmica linear do material do disco.


E é o módulo de elasticidade.
ν é o coeficiente de Poisson.
T variação de temperatura.

A deformação circunferencial é:
s 1
εH =
r E
[
= (σ H − νσ r ) + Eα T ] (9.20)

Diferenciando (9.20) e igualando com (9.19), pois, a deformação radial é igual


à circunferencial, temos:
ds 1   dσ dσ r dT  
= (σ H − νσ r + Eα T) + r  H − ν + Eα   (9.21)
dr E   dr dr dr  

A função que fornece a variação da temperatura com o raio “r” deve ser
conhecida (função T).
Igualando (9.19) e (9.21) e simplificando:

Página 152
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

dσ H dσ r dT
(σ H − σ r )(1 + ν ) + r −νr + α Er =0 (9.22)
dr dr dr
Substituindo o valor de σH-σr da equação (9.18) em (9.22) temos:
dσ r dσ H dσ r
(1 + ν ) r  dT
+ ρω 2 r 2  + r −νr + α Er =0
dr  dr dr dr
dσ H dσ r dT
+ = −(1 + ν ) ρω 2 r − Eα
dr dr dr

integrando:
ρω 2 r 2
σ H + σ r = −(1 + ν ) − Eα T + 2A (9.23)
2
onde 2A é a constante de integração conveniente.
(9.23) - (9.18) fornece:
dσ r ρω 2 r 2
2σ r + r = −(3 + ν ) − Eα T + 2A
dr 2
Mas:
1 d 2 dσ r
r dr
( )
r σ r = 2σ r + r
dr

Logo:
ρω 2 r 2
1 d 2
r dr
( )
r σ r = −(3 + ν )
2
− Eα T + 2A

integrando:
ρω 2 r 4 2 Ar 2
r 2σ r = − (3 + ν ) − Eα ∫ Trdr + −B
8 2
onde -B é a constante de integração.

Calculando σr:
B ρω 2 r 2 Eα
σ r = A − 2 − (3 + ν ) − 2 ∫ Trdr (9.24)
r 8 r

Eliminando σr em (9.23) e (9.24) calculamos σH:


B ρω 2 r 2 Eα
σ H = A + 2 − (1 + 3ν ) − Eα T + 2 ∫ Trdr (9.25)
r 8 r

As equações (9.24) e (9.25) fornecem as variações das tensões radiais e


circunferenciais, em função de “r”, para discos de espessura constante sob pressão, rotação e
variação de temperatura.

Página 153
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

Observemos que:
B
σr = A− é a equação de Lamé, para a tensão radial, aplicada à cilindros
r2
de parede espessa sob pressão (interna e ou externa).

B  ρω 2 r 2 
σr = A− − ( 3 + ν ) 
r2  8 

permite o cálculo de σr para discos em rotação sob temperatura constante. O


termo entre colchetes aparece como conseqüência da rotação do disco.

B ρω 2 r 2  Eα 
σ r = A − 2 − (3 + ν ) −  2 ∫ Trdr 
r 8 r 
permite o cálculo de σr para discos em rotação sob variação de temperatura. O
termo entre colchetes aparece como resultado da variação de temperatura.

Análise idêntica pode ser feita para o cálculo da tensão circunferencial.


A solução de (9.24) e (9.25) é conseguida quando se conhece a relação de T
com r, ou seja, de que forma a temperatura varia através do raio do disco.
Devido ao processo como (9.24) e (9.25) foram deduzidas, os efeitos devido a
pressão, rotação e térmico podem ser considerados simultaneamente e os valores de A e B são
encontrados pelas condições de contorno.
Para uma variação de temperatura de forma linear de T = 0, para r = 0, ou seja,
se:
T = kr, então, se não houver rotação:
B Eα kr
σr = A− − (9.26)
r2 3
B Eα kr
σH = A+ 2 +2 (9.27)
r 3

Nas aplicações práticas onde a temperatura é mais elevada na parte interna do


disco de parede espessa do que na parte externa, as tensões térmicas são positivas na
superfície externa e de compressão na interna. Este fato é considerado como favorável nas
aplicações em cilindros de parede espessa sob pressão interna, pois tende a reduzir as tensões
de tração elevadas na superfície interna provocadas pela pressão interna.

BIBLIOGRAFIA

DEN HARTOG, J. P., Advanced Strength of Materials, McGraw-Hill Book


Company, U.S.A., 1952.

HEARN, E. J., Mechanics of Materials, 1ª ed., Pergamon Press Ltd., Gt. Britain
(Page Bros. Ltd., Norwich).

FEODOSIEV, V. I., Resistencia de Materiales, Editorial Mir, Moscou, 1992.

Página 154
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 9.1

Determinar a tensão circunferencial no raio interno e externo de um disco de


aço de 300 mm de diâmetro, tendo um furo central de 100 mm de diâmetro, sabendo-se que é
feito para rodar a 5000 rpm. Qual é a posição e a intensidade da máxima tensão radial?

Dados:
Massa específica do aço: 7470 kg/m3
Coeficiente de Poisson: 0,3
Módulo de elasticidade: 208 GN/m2

Solução:
π .n
R1 = 50 mm; R2 = 150 mm; ω = = 524 rad / s
30

ρω 2   2 R12 .R22  
σH = (3 + υ ). R1 + R2 +
  − (1 + 3υ ).r 2 
2

8  r2 
  

σ H50 =
7470.524 2
8
[ ( )
(3,3). 0 ,05 2 + 0 ,15 2 + 0 ,15 2 − 1,9.0 ,05 2 ]
σ H50 = 39 MN / m 2 ; σ H150 = 11 MN / m 2

r = R1 .R 2 = 0 ,087 m ; σ H87 = 24 MN / m 2

ρω 2  R12 .R 22 
σ r = (3 + υ )  R12 + R 22 − − .r 2  ; σ r87 = 8 ,4 MN / m 2
8  r 2

• Para r = 50 mm ⇒ σ 1 = 39 MN / m 2 , σ 2 = σ 3 = 0

• Para r = 87 mm ⇒ σ 1 = 24 MN / m 2 , σ 2 = 8 ,4 MN / m 2 e σ3 =0

• Para r = 150 mm ⇒ σ 1 = 11 MN / m 2 , σ 2 = σ 3 = 0

σ eqmax = σ 1 − σ 3 ⇒ σeqmax = 39 MN / m2 (r = 50 mm)

• Cálculo de ∆R = s na face interna:


s 1 50.10 −3
= (σ H − υ .σ r ) ∴ s = 9
(39 − 0 ,3.0 ).10 6
R E 208.10

s = 9,4.10 –6 m ⇒ s = 9,4.10 –3 mm

Página 155
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

¾ Exercício 9.2

Um disco sólido de aço, de 300 mm de diâmetro e de espessura constante, tem


um anel de aço de 450 mm de diâmetro externo e mesma espessura acoplado a ele. Se a
tensão de interferência é reduzida a zero quando a velocidade de rotação atinge 3000 rpm,
calcular:
a) a pressão radial na interface, quando parado.
b) a diferença de diâmetro entre as superfícies acasaladas, disco e anel, antes
da montagem.

Dados:
Massa específica do aço: 7470 kg/m3
Coeficiente de Poisson: 0,3
Módulo de elasticidade: 207 GN/m2

Solução: (à 3000 rpm anel e eixo giram sem interferência)

Aumento do raio do eixo:


ρω 2
σH =
8
[(3 + υ ).R 2
− (1 + 3υ ).r 2 ]
σH =
150 7470.314 2
8
[ ]
3 ,3.0 ,15 2 − 1,9.0 ,15 2 = 2 ,9.10 6 N / m 2
R R
s eixo = (σ H − υ .σ r ) = .σ H ; σr =0
E E
0 ,15
s eixo = 9
.2 ,9.10 6 = 2 ,1.10 −6 m
207.10

Aumento do raio interno do anel:

ρω 2   2 R12 .R22  
σH = (3 + υ ). R1 + R2 +  − ( + υ )
2 2
1 3 .r 
8   r 2  
[ ]
(3,3).(0 ,15 2 + 0 ,225 2 .2 ) − 1,9.0 ,15 2 = 33,7.10 6 N / m 2
2
7470.314
σ H150 =
8
0 ,15
s anel = 9
.33 ,7.10 6 = 2 ,4.10 − 5 m (σ r = 0 )
207.10
interferência radial = (R1 + sanel) – (R + seixo); (R1 = R)
interferência radial = 2,4.10 –5 – 2,1.10 –6 = 2,19.10 –5 m
interferência diametral = (2,19.10 –5).2 = 4,38.10 –5 m

R
Pressão de contato: δ 0 + δ i = 2 ,19.10 −5 = (σ H 0 − σ Hi )
E
0 ,15
σ Hi = − p , σ H 0 = 2 ,6 p ⇒ 2 ,19.10 −5 = ( 2 ,6 + 1 ). p
207.10 9
p = 8,4 MN / m2

Página 156
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

¾ Exercício 9.3

Um disco de aço de 3 in de raio interno e 15 in de raio externo, é acoplado


contra um eixo, também de aço, e a interferência radial, quando parado, é de 0,003 in. Pede-
se:
a) velocidade angular, w, para a qual a interferência desaparece como
resultado da rotação.
b) tensão circunferencial na face interna do disco com a velocidade acima.

Dados:
E = 30.106 lbf/in2 γ = 0,28 lbf/in3
ν = 0,3 g = 386 in/s2 ρ = γ/g

Solução:

δ 0 + δ i = 0 ,003 in , ρ = γ / g = 0,28 / 386

Quando o conjunto girar à velocidade ω:


sd - se = 0,003 in (d – disco; e – eixo)

Cálculo de sd à velocidade ω - sem interferência:

ρω 2   2 R12 .R22  
σH = (3 + υ ). R1 + R2 +  − (1 + 3υ ).r 2 
2

8  r2 
  
0 ,28.ω 2
σ H3 =
386 . 8
[ ( ) ]
(3,3). 3 2 + 15 2 .2 − 1,9.3 2 = 0 ,136 ω 2
3
sd = .0 ,136 ω 2
30.10 6

Cálculo de se à velocidade ω - sem interferência:


0 ,28.ω 2
σ H3 = [(3,3)..9 − 1,9.9] = 0 ,00114 ω 2
386 . 8
3
se = .0 ,00114 ω 2
30.10 6
δ 0 + δ i = 0 ,003 = sd - se

3.ω 2
.( 0 ,136 − 0 ,00114 ) = 0 ,003
30.10 6
ω ≅ 472 rad / s

Página 157
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

¾ Exercício 9.4

Determinar a velocidade angular máxima, w, que um disco de aço de 150 mm


de raio externo e 50mm de raio interno pode girar, sem escoar, sabendo-se que o material do
disco possui: Syt = 500 MN/m2. Usar a teoria da máxima tensão tangencial e considerar o
ponto mais perigoso como o ponto mais interno (r = R1). Trabalhar com quatro casas decimais
após a vírgula.

Dados:
ρ = 7470 kg/m3
ν = 0,3
E = 207.109 N/m2

Solução:

r = R1 ⇒ σ Hmax
Ponto mais perigoso ocorre para:
r = R1 ⇒ σ r = 0

7470.ω 2
σ 50
H =
8
[ ]
(3,3).(0 ,05 2 + 0 ,15 2 .2) − 1,9.0 ,05 2 = 141,93 ω 2

Ponto na face interna:


σ 1 = 141,3 ω 2 , σ 2 = σ 3 = 0

σ eq = σ 1 − σ 3 = 141,93 ω 2 = 500.10 6

ω ≤ 1877 rad / s

Página 158
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

¾ Exercício 9.5

Determinar a tensão circunferencial que aparece na face interna de um rotor


com ranhuras, com as dimensões indicadas abaixo, quando ele gira a 1800 rpm.

Dados:

γ = 0,28 lbf/in3
ν = 0,3
g = 386 in/s2

Solução:

γ
dF = dm . a n = dV . .ω 2 .r
g
γ γ .ω 2 .b
dF = r .dθ .dr .b. .ω 2 .r = .r 2 .dr .dθ
g g
(b – largura do disco)
26 2π
γ .ω 2 .b 2π .γ .ω 2 .b  26 3 − 16 3 
F= ∫∫
16 0
g
.r 2 .dr .dθ =
g

 3


F γ .ω 2  26 3 − 16 3 
p= = .  = 7238 lb / in 2
2π .16.b 16.g  3 
B ρ .ω 2 .r 2
σ r = A − 2 − ( 3 + υ ).
r 8
σr = 0 para r = 4”
σr = 7238 para r = 16”
A − 0,063 B = 169,9
A − 0,004 B = 9956 ,9
B = 0,17.106 ; A = 10620
B ρ .ω 2 .r 2
σH = A+ − ( 1 + 3.υ ).
r2 8
0,17.10 6 0,28 . 16 . 188,5 2
σ H4 = 10620 + − 1,9.
16 386 . 8

σ H4 = 21139 lb / in2

Página 159
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

¾ Exercício 9.6

Um pequeno disco de aço, inicialmente sem tensão, de raio interno 0,2m e


externo 0,3m, é sujeito a uma distribuição de temperatura da forma T = a + b.ln(r), para
assegurar fluxo constante de calor através da parede do cilindro. As tensões são dadas pelas
fórmulas abaixo:
B ETα
σr = A− 2 −
r 2(1 − ν )
B ETα E bα
σ = A+ − −
2 (1 − ν ) 2 (1 − ν )
H 2
r
Se a temperatura na superfície interna e externa é mantida à 200ºC e 100ºC,
respectivamente, determinar a máxima tensão circunferencial que acontece na parede do
cilindro.
Para o aço:
E = 209 GN/m2, ν = 0,3, α = 11.10-6/ºC

Solução:

Cálculo de “b”.
T = a + blnr
200 = a + bln(0,2)
100 = a + bln(0,1)
b = -249
αE/2(1-ν) =11.10-6 .209.109 /2.09 = 1,6.106
Condições de contorno:
Para r = 0,3, σr =0 e T = 100
Para r = 0,2, σr =0 e T = 200
B = -11,5.106 e A = 0,32.108
Entrando com esses valores na expressão de σH temos:

Tensão circ. na face interna = -180MN/m2


Tensão circ. na face externa = 140MN/m2

¾ Exercício 9.7

Determine as expressões para as tensões radiais e circunferenciais


desenvolvidas em um disco sem furo de raio R, quando sujeito à um gradiente térmico da
forma: T = kr.
Determine a posição e a intensidade das máximas tensões que ocorrem no
disco de 150 mm de diâmetro quando a variação de temperatura é 150ºC.
E = 206,8GN/m2, α = 12.10-6/ºC
Usar as expressões (9.24) e (9.25).

Página 160
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

Solução:
B Eα
r2 r2 ∫
σr = A− − Trdr

B Eα
σ H = A + 2 + 2 ∫ Trdr − α ET , mas:
r r
r3
∫ = ∫ =
2
Trdr K r dr k , a constante de integração será assimilada por A
3
logo :
B α EKr B α EKr
σr = A− 2 − e σH = A+ 2 + − α EKr
r 3 r 3
Como as tensões no centro do disco não são infinitas (r=0) , B deve ser zero e
B/r2 =0 .
Outra condição:
σr =0 para r =R.
0 = A - αEKR/3 → A = αEKR/3
Substituindo e simplificando:
σr = αEK(R - r)/3 e σH = αEK(R - 2r)/3
A variação das duas tensões com o raio é linear e em ambos os casos os
valores máximos ocorrem no centro:
σrmáx =σHmáx = αEKR/3 = 12.10-3. 206,8.109 .K .0,095/3
Mas:
T = Kr
Para r = 0, T = 0 no centro do disco.
Para uma variação de temperatura de 150º C, o valor de T para r =R é 150º.
Logo :
150 = K.0,095 K = 2000 º/m, logo:
Tensão circ. máxima = tensão radial máxima = 124MN/m2
Quais seriam os valores das tensões se a temperatura do centro do disco for
30ºC, a variação de temperatura 150ºC e o gradiente térmico dado por:
T = a+br?
ar 2 br 3
∫ Trdr = ∫ ( a + br )rdr = +
2 3
A constante de integração será assimilada por A
Então:
B Eα  ar 2 br 3 
σr = A− 2 − 2  + 
r r  2 3 
B Eα  ar 2 br 3 
σH = A+ + 2  +  − ETα
r2 r  2 3 
onde T = a + br
Na face interna do disco, r = 0, T = 30ºC
30 = a+b.0, a = 30
Na face externa: T = 30+150 = 180
180 = a+b(0,095)
150 = 0,095.b, b = 2000
Substituindo e lembrando que B/r2 = 0; A = 161,5.106
Resp. Tensão radial no centro = 124,3MN/m2
Tensão circ. no centro = 124,3MN/m2

Página 161
Unidade 9 – DISCOS DE ESPESSURA CONSTANTE QUE GIRAM À GRANDE VELOCIDADE

¾ Exercício 9.8

Determine as expressões para as tensões desenvolvidas em um disco com furo


sujeito a um gradiente térmico da forma: T = -kr. Qual é a máxima tensão circunferencial e
radial neste caso se os diâmetros interno e externo são 80mm e 160mm, respectivamente? A
temperatura no raio externo é -50ºC.
E = 206,8GN/m2, α = 12.10-6/ºC

Solução :

B αE
r2 r2 ∫
σr = A− − Trdr

B αE
σ H = A + 2 + 2 ∫ Trdr − α ET
r r
r3
T = − Kr ∴ ∫ Trdr = − K + constante
3
A constante será assimilada por A, logo :
B α EKr
σr = A− 2 +
r 3
r = R2 = 80, T = -50

Resp.

Tensão circ. na face interna = -33,98MN/m2


Tensão circ. na face externa = 28,46MN/m2

Página 162
Unidade 10 – FLAMBAGEM

10. FLAMBAGEM

OBJETIVOS:

- Deduzir as expressões que permitem o cálculo da deflexão, da carga


crítica e das tensões normais, em uma coluna bi-rotulada sob
carregamento excêntrico.
- Definir os diferentes tipos de equilíbrio.
- Definir flambagem.
- Definir carga crítica.
- Definir, identificar e comparar as diferentes condições de extremidades.
- Determinar como se faz um dimensionamento prático de colunas.
- Definir o processo ômega.
- Solucionar exercícios sobre os diversos tópicos acima.

10.1 - COLUNAS SOB CARGA EXCÊNTRICA: CÁLCULO DA DEFLEXÃO E DAS


TENSÕES MÁXIMAS

Neste nosso estudo, denominaremos de escora, coluna e pilar, uma peça que
trabalha essencialmente à compressão, sem fazer distinções. Vamos iniciar o estudo com uma
coluna excêntrica, e extrapolando a excentricidade para zero, caímos no estudo de um pilar
sob carga axial cêntrica que é o caso mais comum.
Seja uma coluna bi-rotulada, fina e longa (esbelta) sujeita a uma carga paralela
a seu eixo, mas aplicada excentricamente com uma excentricidade e. Esta é medida a partir do
centro de gravidade (G) da seção transversal. O plano xy é plano de simetria do pilar e este,
defletirá neste plano, em torno do eixo z, eixo de menor inércia. (Fig. 91).

Figura 91

Página 163
Unidade 10 – FLAMBAGEM

O momento fletor a uma distância x da articulação inferior será:


M = P (e + y )

Para determinarmos o sinal de M, damos à coluna uma rotação de 90º no


sentido horário e a tratamos como se fosse uma viga (tração nas inferiores, M positivo).

d2y M
Mas: 2
=− (10.1)
dx EI

d 2 y − P (e + y )
Logo: 2
= = −k 2 (e + y )
dx EI

P
Onde: k = ⇒ se kl/2 > 0,1, a escora será considerada esbelta.
EI

d2y
Assim: 2
+ k 2 y = −k 2 e
dx

A solução desta equação diferencial é:


y = C 1 sen ( kx ) + C 2 cos ( kx ) − e (10.2)
onde C1 e C2 são constantes arbitrárias a serem determinadas pelas condições
de contorno.
Deste modo:

y = 0 para x = l e x = 0.
0 = C 1 .0 + C 2 .1 − e ∴ C 2 = e (10.3)
0 = C 1 . sen ( kl ) + e cos ( kl ) − e

e[1 − cos ( kl )]
C 1 . sen ( kl ) = e[1 − cos ( kl )]∴ C 1 =
sen ( kl )

 kl 
ou: C 1 = e . tg   (10.4)
2
Substituindo (10.3) e (10.4) em (10.2) obtemos:
  kl  
y = tg  . sen (kx) + cos (kx) − 1 . e (10.5)
 2 
Esta fórmula permite determinar o valor da deflexão y em qualquer ponto do
pilar, conhecidos os valores de: x, e, P, E e l.

A deflexão máxima ocorre no meio do pilar, para x = (l/2) e é dada por:


  kl   kl   kl  
δ = e.tg  . sen   + cos   − 1
 2 2 2 

Página 164
Unidade 10 – FLAMBAGEM

  kl  
 1 − cos  2     kl  
 
δ = e. = e. sec   − 1 (10.6)
  kl    2 
 cos   
 2 

Façamos um estudo detalhado da equação (10.6):

Para P = 0, a deflexão δ é nula. Selecionemos uma excentricidade e1 e tracemos


graficamente P x δ obtendo uma curva, Fig. 92. Selecionemos outra excentricidade e2 > e1 e
façamos como anteriormente. Analisando a Fig. 92 verificamos que δ cresce com P, mas não
de modo linear. Para um mesmo valor de δ a curva de e2 > e1 fornece valores menores para P,
ou seja, quanto maior a excentricidade, menor a carga P que provoca a mesma deflexão. A
deflexão cresce muito quando P se aproxima do valor Pc e todas as curvas,
independentemente do valor de e, se tornam assintóticas à horizontal traçada por Pc. A
deflexão δ se torna infinita quando P for igual a Pc. Dizer que a deflexão se torna infinita é o
mesmo que fazer kl/2 = π/2, pois sec (π/2) = ∞.

kl π P l π
Logo: = ∴ c . =
2 2 EI 2 2
π 2 .E .I
ou: Pc = (10.7)
l2

Figura 92

) reversível
Toda deflexão δ verificada dentro da fase elástica, para colunas excêntricas, é
desde que P < P , e que as deflexões não sejam grandes.
c

Quando P ≥ Pc, a coluna excêntrica se torna instável provocando o


aparecimento de grandes deformações e de aumento considerável da tensão, causando a ruína
da coluna. É preciso ter em mente que todas as deformações verificadas no estudo da Fig. 92

Página 165
Unidade 10 – FLAMBAGEM

são pequenas, pois a expressão da linha elástica que originou todas as fórmulas é válida para
pequenas deformações somente. Se estas não são pequenas, deve ser usada a expressão exata
da linha elástica e, para grandes deformações, o limite de proporcionalidade será,
provavelmente, ultrapassado.

) superposição
Pelo fato de não haver linearidade entre P e δ, não se pode aplicar o princípio da
para cálculo das deflexões.

A análise da expressão (10.6) mostra que quando e = 0, δ será nula, a não ser
quando P se aproxima de Pc - teremos uma indeterminação.

) Como todas as curvas tendem assintoticamente para a reta horizontal a partir de P ,


independente do valor de e, por menor que seja, concluímos que a carga P , que c
c

flamba uma coluna excêntrica, flamba também uma coluna cêntrica. A diferença
fundamental reside nos valores das deflexões. A coluna com carga cêntrica,
permanece com a forma reta, estável, até que P se aproxima de Pc. Quando P ≥ Pc,
ela flamba bruscamente sem aviso prévio, provocando muitas vezes, uma ruína
catastrófica.

A coluna sob carga excêntrica já sofre deflexões elásticas para valores de P <
Pc. Estas deflexões serão tanto maiores quanto maior for a excentricidade e, finalmente,
podemos afirmar que não existe na prática colunas com excentricidade nula. Sempre existirá
uma pequena excentricidade originada por algum defeito do pilar, pela presença de alguma
carga transversal que produz momento, por algum defeito na fabricação, etc..
Observando a Fig. 92, o momento fletor máximo verifica-se para x = l/2 (maior
braço de alavanca da carga P) e vale:

 kl 
M máx = P (e + δ ) = P. e . sec   (10.8)
2

Aplicando o princípio da superposição para cálculo das tensões, podemos


P M
escrever: σ máx = + máx .Yc
comp A I
Yc: distância de G à fibra mais comprimida

 P M 
σ máx = − + máx .Yt 
tração  A I 

Yt: distância de G à fibra mais tracionada


I: momento de inércia em torno do eixo em que se processa a flexão. No nosso
caso, eixo z.

Página 166
Unidade 10 – FLAMBAGEM

10.2 - EQUILÍBRIO ELÁSTICO ESTÁVEL E INSTÁVEL: CARGA CÊNTRICA OU


CONCÊNTRICA

Em um sistema que se encontra em estado deformado, o equilíbrio entre cargas


externas e tensões internas, originadas por elas, pode não só ser estável como instável.
O equilíbrio elástico é estável quando o corpo deformado, por qualquer desvio
pequeno de seu estado de equilíbrio, tende a regressar ao estado inicial, e o faz depois de
eliminar a influência exterior que perturbou o estado de equilíbrio original. O equilíbrio
elástico é instável, quando o corpo deformado, uma vez retirado de seu estado original, por
alguma influência, continua deformado em direção ao desvio provocado e depois de retirada a
influência, não regressa mais ao estado inicial. Entre os dois estados de equilíbrios, encontra-
se o estado transitório denominado crítico. Durante o estado crítico, o corpo deformado se
encontra em equilíbrio indiferente; pode conservar a forma dada a ele originalmente, mas
também pode perdê-la em virtude de uma influência insignificante.
A Fig. 93 mostra, através de uma analogia mecânica, os três tipos distintos de
equilíbrio elástico. Em a) se indica um equilíbrio elástico estável, em b) um instável e em c)
um estado de equilíbrio transitório ou crítico. A posição B é obtida pela aplicação de uma
força externa, provocando um desvio pequeno do estado de equilíbrio original. Em a) a esfera
volta à sua posição original; em b) ela não retorna mais à posição inicial e em c) ela fica
indiferentemente em qualquer posição.

Figura 93

O que ocorre com uma coluna sob carga cêntrica pode ser enquadrado neste
estudo. Na Fig. 94, se a carga P for menor do que Pc, se uma pequena força lateral F for
aplicada e removida sobre a coluna bi-articulada carregada, ela vibrará levemente em torno de
sua posição original de equilíbrio e após certo tempo voltará à sua configuração reta original
(Fig. 94a). No entanto, se a carga P for igual à Pc, após o afastamento da força F perturbadora,
a coluna ficará na configuração ligeiramente curva causada pela aplicação de F (Fig. 94b). A
intensidade da curvatura lateral vai depender da intensidade do valor de F. A coluna ficará em
equilíbrio em um número infinito de configurações levemente fletidas. A coluna está em
equilíbrio transitório, neutro, crítico ou indiferente. Caso P seja maior que Pc uma
configuração reta será teoricamente possível. Esta configuração reta é precária, pois uma
pequena perturbação resultará em colapso. Após uma pequena força perturbadora F ser
aplicada e removida, a coluna se deformará intensamente e poderá até entrar em colapso
devido às tensões de flexão atingirem o limite de escoamento do material da coluna (Fig.
94c).

Página 167
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Figura 94 - Configurações de uma coluna articulada nas extremidades


(a) Estável, (b) Neutra, (c) Instável.
Na Figura 95 está indicada a relação entre P e δ, deflexão do meio da coluna.
Se P < Pc, trecho 0-1, a coluna será reta e estável. Em P = Pc, a coluna, teoricamente, pode ser
reta, porém seu equilíbrio é precário. Temos o ponto de bifurcação. Para P > Pc, duas
configurações são possíveis - uma reta, ramo 1-2 e uma curva - ramo 1-3. A configuração reta
é instável e a mais leve perturbação fará com que a coluna, repentinamente, passe à
configuração curva (representado por P’ P” no diagrama P - δ). Trabalhando com a equação
diferencial exata para a linha elástica, é possível obter-se uma configuração curva de
equilíbrio para valores maiores do que Pc. Para P = 1,015 Pc, pode-se demonstrar que δ é da
ordem de 10% de l, comprimento da coluna. Neste caso pode haver ruína por escoamento.
Não será possível aumentar a carga além da carga crítica pois na realidade nenhuma coluna é
perfeitamente reta e homogênea na forma da seção transversal e propriedades. É impossível
aplicar cargas axiais exatamente cêntricas. Deste modo a carga crítica, Pc, representa o limite
máximo de P para o qual uma configuração reta é possível.

Figura 95
A carga cuja superação origina a perda da estabilidade da forma original da
coluna é denominada de carga crítica, Pc. Se P > Pc, conforme já dissemos, a peça perde a
estabilidade e se flexiona, flamba. A forma reta deixa de ser estável.

) Denomina-se flambagem ao fenômeno responsável pela passagem da peça da forma


estável para a forma instável de equilíbrio elástico.
Denomina-se carga de flambagem ao valor P = Pc, cuja superação ocasiona a perda
de estabilidade.

Página 168
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Quando a carga aplicada alcança o valor crítico (ou o supera) ela provoca o
aparecimento da forma instável de equilíbrio, que está ligada ao crescimento ilimitado das
tensões e deformações o que eqüivale à ruína da estrutura. A destruição da forma reta é brusca
e é originada por flexão com pequenas tensões de compressão, muito abaixo das tensões de
compressão máximas que a peça poderia suportar sob compressão simples.
O problema principal reside no cálculo da carga crítica, que não pode ser
superada. Esta carga já foi calculada no capítulo anterior e é a mesma que flamba uma coluna
sob carga excêntrica, conforme já comentamos.

10.3 - CARGA CRÍTICA PARA PILARES CARREGADOS CENTRICAMENTE COM


DIFERENTES CONDIÇÕES DE EXTREMIDADES

Vamos definir comprimento efetivo de uma coluna ou comprimento de


flambagem. Para isto tomemos várias colunas com condições diferentes de extremidade, todas
elas de mesmo comprimento l, e façamos um esboço de suas linhas elásticas após a
flambagem, Fig. 96.

Figura 96
Todas as curvas apresentam pontos de inflexão ou de curvatura nula que são
pontos de momentos nulos e que podem ser identificados como rótulas, pois a articulação ou
rótula satisfaz a esta condição. Vamos definir comprimento de flambagem como sendo a
distância entre dois pontos de inflexão da linha elástica da coluna deformada e designaremos
por le. É o comprimento da coluna deformada que tem o mesmo comportamento da linha
elástica da coluna bi-rotulada deformada que consideraremos aqui como sendo o caso
fundamental (le = l ). Assim, a expressão para cálculo de Pc de uma coluna bi-rotulada pode
ser ampliada para calcular o Pc de uma coluna qualquer, desde que, em lugar de l,
comprimento real, coloquemos le = α.l, onde α é o coeficiente de flambagem, função das
diversas condições de extremidades. O comprimento de flambagem é também o comprimento
de uma coluna bi-rotulada que tem a mesma carga de flambagem que uma coluna dada.

π 2 EI
Assim: Pc = 2
(10.9)
le
Onde le = α.l .

Página 169
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Condições de extremidades α
Bi-rotulada 1
Bi-engastada 0,5
Rotulada e engastada 0,7
Livre e engastada 2

Os casos acima citados são os quatro casos fundamentais. A dedução do valor


do coeficiente de flambagem para a condição de rotulada e engastada ficará a cargo do aluno.
Nas aplicações práticas é conveniente usar coeficientes de flambagem
superiores aos teóricos (consultar livros de Estruturas Metálicas) devido aos desvios das
condições teóricas e à dificuldade de concretizar um engastamento perfeito. Na Fig. 96 estão
os coeficientes de flambagem para as diversas condições que normalmente ocorrem na
prática. Além dos quatro casos fundamentais, aí aparecem mais dois casos. Os valores de le
levado às expressões (10.6), (10.8) e (10.9) permitem calcular as deflexões, momento fletor
máximo e carga de flambagem ou crítica para as diferentes condições de extremidades.
Finalizando, podemos dizer que às vezes o comprimento de flambagem é
obtido através de ensaios de laboratório, e quando há dúvidas, deve-se usar α = 1, à favor da
segurança (exceção feita para a coluna engastada e livre).

10.4 - TENSÃO CRÍTICA PARA COLUNAS CARREGADAS AXIALMENTE


(COLUNAS CÊNTRICAS)

Uma coluna cêntrica está sujeita à compressão simples até que se verifica o
fenômeno da flambagem, que é súbito. Além disso, a tensão que provoca flambagem é bem
inferior à tensão de escoamento à compressão.
Podemos escrever que:
Pc π 2 EI
σc = =
A l e 2 .A

Vamos definir raio de giração de uma seção, em relação a um eixo, como a raiz
quadrada do quociente entre o momento de inércia da seção, em relação a este eixo, e a área
da seção. Tem a dimensão de um comprimento.
Ix A 1
ix = ∴ = 2
A I x ix
Logo:
π 2E π 2E π 2E
σc = = =
2 A  le 2  2
le      le 
 i2   
I   i 

O índice de esbeltez, λ, é a relação entre o comprimento de flambagem e o raio


de giração da seção. É um parâmetro adimensional e é o mais importante de todo estudo de
flambagem.
l
λ= e
i

Página 170
Unidade 10 – FLAMBAGEM

) Oextremidades
índice de esbeltez contém informações sobre o comprimento da peça, condições de
e inércia da seção, simultaneamente.

Deste modo podemos escrever que:

) π 2E
σc = 2
λ
(10.10)

Esta equação recebe o nome de equação de Euler, que foi o matemático quem
primeiro a deduziu e ela governa todo dimensionamento elástico de colunas
cêntricas.

Sua validade se restringe ao regime elástico pois é originada da equação


diferencial da linha elástica. Deste modo, o valor máximo de σc não pode exceder ao limite de
proporcionalidade (σp) do material do pilar.
π 2E
σc ≤σ p ∴ ≤ σp
λ 2

Na igualdade definimos o índice de esbeltez limite:

π 2E E
= σ p ∴ λ lim = π .
λ lim
2
σp

Para λ > λlim, σc < σp e, portanto é válida a expressão de Euler.

Analisando a expressão (10.10), concluímos que na fase elástica a única


característica mecânica que intervém no cálculo da tensão crítica (ou tensão de flambagem), é
o módulo de elasticidade do material do pilar. E este é constante à temperatura ambiente para
as diferentes ligas de um mesmo metal. Logo, um aço especial, mais caro, não resiste mais à
flambagem do que um aço comum, pois ambos têm o mesmo módulo de elasticidade. A
expressão (10.10) é a equação de uma hipérbole. Dela concluímos que um aumento do índice
de esbeltez provoca um grande abaixamento no valor da tensão crítica: peças muito esbeltas
(elevado λ) flambam a uma carga crítica muito baixa.
Voltando à expressão (10.9) que originou a expressão (10.10), verificamos que
um maior momento de inércia induz a uma maior carga crítica. Os metais são vendidos pelo
seu peso, que é função da área de sua seção transversal. Podemos ter seções de mesma área e
de diferentes inércias – consequentemente, mesmo peso e mesmo preço. Como Pc varia
proporcionalmente com a inércia, devemos usar, para resistir à flambagem, seções que têm
maior inércia. Por exemplo: em vez de uma seção circular maciça, uma vazada de mesma
área; do mesmo modo, uma retangular vazada, etc.. Assim, por motivos econômicos, as
colunas devem ter o valor maior possível de seu raio de giração mínimo. A seção circular
vazada é a ideal, mas possui o inconveniente da sua ligação ser difícil (a não ser que seja
soldada). Os perfis associados podem conduzir a boas seções.

A Fig. 97 apresenta a curva σc x λ para um aço carbono comum.

Página 171
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Figura 97

Para λ ≥ λlim a equação de Euler é usada. Para valores de λ < λlim, a equação de
Euler conduz a valores muito elevados para a tensão crítica. O valor de Pc fica limitado pela
tensão de escoamento do aço, que corresponde à linha horizontal, Syc. A ligação entre o trecho
horizontal (σc = Syc) e a hipérbole de Euler, é feita por uma zona intermediária ou de
transição. Para valores de λ ≤ λ1 a coluna falha por esmagamento, no caso de materiais
frágeis, e escoamento, no caso de dúteis, e para qualquer valor de λ, σc é sempre o mesmo e
igual a Syc. A zona intermediária é chamada de região das fórmulas empíricas ou das fórmulas
obtidas em laboratório. A ligação de B a C, pode ser uma reta ou uma equação do 2º grau,
dependendo do material.
O dimensionamento de uma peça à flambagem só pode ser feito com o
conhecimento das equações σc = f (λ), para as diferentes regiões.
As Figuras 98 e 99 apresentam as curvas σ c x λ para o aço de construção (MR
240) e para as madeiras brasileiras, respectivamente; σ c é a tensão admissível, ou seja, a
tensão crítica dividida por um coeficiente de segurança adequado.

Figura 98

Página 172
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Alguns autores simbolizam a tensão crítica por σfl em vez de σc. Assim, tensão
crítica ou tensão de flambagem são termos sinônimos.

Figura 99

No caso da Fig. 99, podemos complementar que em tabelas fornecidas pelas


normas brasileiras, encontram-se os valores do módulo de elasticidade, do índice de esbeltez
limite, e da tensão de compressão admissível para todas as madeiras brasileiras.
De acordo com o índice de esbeltez, podemos classificar as colunas (Fig. 97)
em:
Longas - λ ≥ λlim
Médias - λ1 ≤ λ < λlim
Curtas - λ < λ1

De um modo geral, devemos utilizar as colunas longas ou esbeltas quando


temos confiança nas condições de extremidades reais, pois uma pequena variação de λ
provocará uma diminuição muito grande no valor da tensão crítica. As colunas médias são as
mais utilizadas e as condições de extremidades já não afetam tanto o cálculo da tensão crítica.
A fórmula para dimensionamento de uma coluna cêntrica é:
P P
=σc ou =σc
A A

quando se impõe um coeficiente de segurança. Como σc depende de λ, o valor de P será


limitado pelo comprimento da peça, pelas suas condições de extremidades, pela sua inércia e
pela área de sua seção transversal. Todo dimensionamento começa pelo cálculo do índice de
esbeltez, parâmetro mais importante no estudo da flambagem.
Analisando a Fig. 100, podemos concluir que um aço especial é o mais próprio
para ser empregado no regime inelástico de dimensionamento à flambagem, pois ele possui σp
mais elevado e Syc maior. Consequentemente para um valor λ* do índice de esbeltez, vamos
ter um σc maior para o aço especial - maior resistência à flambagem (Fig. 100).
No dimensionamento à flambagem, devemos sempre trabalhar com um
coeficiente de segurança, n, que pode variar de acordo com a região de cálculo. A falha na
região elástica se dá de modo brusco, sem as comodidades de um aviso prévio, como ocorre
com a falha pelo escoamento.
σc
Assim: σ C =
n

Página 173
Unidade 10 – FLAMBAGEM

onde n é o coeficiente de segurança adotado.


É importante observar que o coeficiente de segurança para as colunas longas, é,
de um modo geral, maior do que para as colunas médias. O motivo é que as colunas longas
são mais sensíveis a cargas excêntricas e à falta de linearidade do que as colunas médias.
Freqüentemente, as condições de vínculo diferem nas duas direções principais.

Figura 100

10.5 - TRAVEJAMENTO: SEÇÃO SIMPLES

) Podemos aumentar a capacidade de carga de uma coluna, colocando suportes ao


longo de seu comprimento, Este procedimento é chamado de travamento,
travejamento ou contraventamento.

Desde que o momento de inércia em torno de z é menor do que em torno de y,


a flambagem ocorrerá no plano que contém y (Fig. 101) e devemos colocar um suporte lateral
na coluna, neste plano (Fig. 102). Isto, na realidade, implica na diminuição do comprimento
de flambagem da coluna em torno de z (em relação à coluna não travada). Consequentemente,
aumenta-se a capacidade de carga da coluna, tornando-a mais resistente (Fig. 102). A
vinculação travamento é considerada como uma articulação. Para verificar o eixo em torno do
qual se processará a flambagem, não basta observar somente a inércia da peça. O parâmetro
que definirá a flambagem será o índice de esbeltez. O eixo em torno do qual se processará a
flambagem será o que tiver maior índice de esbeltez (λ). Este índice de esbeltez maior será
chamado de índice de esbeltez crítico. Uma peça ideal para trabalhar a flambagem é aquela
que possui λy = λz, sendo y e z, os eixos centrais da inércia da seção. A condição ideal de
flambagem é então definida pela igualdade: λy = λz.

Página 174
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Figura 101

Esta igualdade conduz ao dimensionamento mais eficiente, pois as tensões que


correspondem aos dois modos possíveis de flambagem são iguais; é só observar a curva de
flambagem do material. Exemplo: seção circular maciça e vazada, seção quadrada, etc.. Neste
caso, não há necessidade de fazer travamento. A seção é utilizada o mais economicamente
possível. Finalizando, podemos dizer que o travejamento diminui o índice de esbeltez em
torno do eixo onde é colocado, pela modificação do comprimento de flambagem, e,
consequentemente, aumenta a resistência da peça.

) Oquestão,
travamento evita o movimento do ponto C apenas em um plano. No caso em
este plano é YX (Fig. 102).

Figura 102

Página 175
Unidade 10 – FLAMBAGEM

10.6 - TRAVEJAMENTO: SEÇÃO COMPOSTA (PERFIS COMPOSTOS)

Os perfis compostos, formados pela associação de perfis simples, são,


inicialmente, travados um ao outro, de forma que o sistema se comporte como se fosse uma
peça única e poderá (o conjunto) ser também travejado lateralmente, caso haja necessidade.
Os perfis compostos poderão ter ligação contínua ou descontínua. A ligação contínua poderá
ser feita por solda, ao longo de todo o comprimento do perfil (Fig. 103a), ou por chapas
transversais, formando um perfil fechado (Fig. 103c). Neste caso, ao calcular as
características geométricas da seção transversal, a seção da chapa deve ser considerada. A
ligação descontínua é formada por chapas transversais com certo espaçamento: travessas.
Neste caso, a seção transversal da chapa não é incluída nos cálculos das características
geométricas do conjunto (Fig. 103b e Fig. 103d).
Nos perfis compostos com ligação descontínua, os esforços de cisalhamento
provocam deformações nas chapas de ligação e diminuem a eficiência do perfil composto.
Todavia este fenômeno não será aqui considerado, pois nossa abordagem é puramente teórica
e tem por finalidade introduzir o estudante neste assunto. No curso de Estruturas Metálicas
este fenômeno será estudado em profundidade.

Figura 103

Vamos ver agora, o caso de dois perfis em canal, com ligação descontínua,
formando um pilar (Fig. 104).

Figura 104

Página 176
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Para assegurar que as seções trabalhem juntas, como uma simples unidade, elas
são unidas por ligações descontínuas. O trabalho destas seções compostas é garantido desde
que seja providenciada uma fixação suficientemente forte. A distância “b” que separa as duas
partes (Fig. 104) é determinada pela condição ideal de flambagem: λz = λy que pode ser
resumida, no caso em questão, por: Iz = Iy , pois não há travamento externo. Na prática, o
momento de inércia em relação ao eixo perpendicular ao reticulado (y) deverá ser maior, pois
a ligação não pode assegurar o trabalho das duas metades como o faz a seção contínua única.
Ou seja, a flexibilidade do pilar em relação ao eixo livre (y), é maior devida à cedência
elástica das talas ou treliças. O índice de esbeltez será então calculado tomando-se os
momentos de inércia das duas seções em relação à z ou y. Após calcula-se a tensão crítica (σc)
que multiplicada pela área da seção transversal total, dará a carga crítica admissível que o
pilar pode suportar. O funcionamento simultâneo de ambas as colunas de seção em canal só
será possível se elas forem presas uma à outra por reticulados, placas ou travessas (Fig. 104).
A distância “a” entre as ligações (travessas) deve assegurar que nenhuma das colunas de
seção em canal flexione em torno do eixo de menor inércia (eixo y1). Esta condição é
satisfeita se o índice de esbeltez de cada coluna de comprimento “a” e raio de giração imín = iy1

Figura 105

for menor que o índice de esbeltez de todo o conjunto (Fig. 105).

a
≤ λ ( do conjunto ) (10.11)
i mín

A expressão (10.11) permite o cálculo do maior valor de “a” . Na realidade o


que se impõe é que a flambagem do conjunto ocorra antes da flambagem de cada perfil
individual.

10.7 - PROCESSO ÔMEGA

O coeficiente de flambagem ômega (ω) é definido pela relação:


σ comp
ω= (10.12)
σc
onde:
σ comp - tensão de escoamento admissível à compressão simples
σ c - tensão crítica admissível

Página 177
Unidade 10 – FLAMBAGEM

A relação (10.12) é sempre maior que um (> 1). O coeficiente adimensional


ômega (ω), pela própria definição, é função do índice de esbeltez e as normas fornecem
tabelas, para alguns tipos de aço e outros materiais, relacionando o índice de esbeltez (λ) com
ômega (ω). A expressão (10.12) pode ser transformada do seguinte modo:

σ comp
Pc = σ c . A = .A (10.13)
ω

Pela expressão (10.13) observamos que o dimensionamento à flambagem é um


dimensionamento a compressão simples desde que seja “corrigida” a tensão admissível à
compressão, pelo coeficiente ômega (ω). O processo ômega facilita o dimensionamento
quando se conhecem as tabelas, λ x ω, fornecidas pelas normas.

10.8 – COLUNAS CARREGADAS EXCENTRICAMENTE

Sob o ponto de vista prático é impossível não se ter pequenas excentricidades


na aplicação de cargas cêntricas. Estes efeitos foram considerados no estabelecimento das
equações empíricas e incorporados nos valores admissíveis das tensões. Existem casos, no
entanto, onde uma coluna é carregada excentricamente durante seu uso. A Fig. 106 mostra
uma situação onde uma coluna é excentricamente carregada em torno do eixo X – X por uma
carga não axial, através de um braço preso ao lado da coluna. É possível estender as
considerações teóricas que estabeleceram a equação de Euler, levando em conta a
excentricidade da carga. A equação resultante é conhecida como fórmula da secante (já
deduzida e usada no começo da unidade). É uma equação de uso, algumas vezes complicado,
e soluções diretas às vezes não são possíveis.
Um método alternativo de projeto pode ser obtido considerando a ação de uma
força central Fo e uma força excêntrica F, aplicadas separadamente (princípio da superposição
de cargas). Os esforços na coluna são considerados como os de uma carga cêntrica (Fo+F) e
um momento (Fe). As tensões provenientes da carga axial e do momento são consideradas
como aditivas algebricamente e não devem exceder à tensão crítica admissível.
Assim:
( F + Fo ) + Fec ≤ σ (10.14)
c
A I

No entanto a tensão admissível para uma coluna é uma função de seu índice de
esbeltez, enquanto que a tensão admissível à flexão não está relacionada com este índice. Para
levar em consideração esta condição, os membros do lado esquerdo da equação (10.14) serão
divididos pelas tensões admissíveis que lhes correspondem: tensão de compressão da
solicitação axial, dividida pela tensão crítica admissível; tensão de compressão de flexão,
dividida pela tensão admissível à flexão. O membro do lado direito será dividido pela tensão
crítica admissível e a equação (10.14) se transforma na equação abaixo:

( F + Fo ) / A + Fec / I ≤1 (10.15)
σc σf

Esta equação tem o nome de fórmula da interação.

Página 178
Unidade 10 – FLAMBAGEM

Onde:
(Fo+F)/A é a tensão axial aplicada.
σ c é a tensão crítica admissível se somente atua força axial (cêntrica).
Fec/I tensão de flexão aplicada.
σ f tensão de flexão admissível se atua somente flexão pura.
σ f = 0 ,6 S yt esta relação pode ser usada quando não se conhece o valor da
tensão admissível à flexão.

Figura 106

A equação (10.15) pode ser escrita da seguinte forma caso haja flexão
simultânea em torno de XX e YY, os dois eixos centrais de inércia:

(F + Fo ) / A  Fec / I   Fec / I
+  +   ≤1 (10.16)
σc  σ f  X  σ f  Y

A equação acima é sugerida pela AISC.

É recomendável que o termo


(F + Fo ) / A ≤ 0 ,15
σc

O índice de esbeltez usado para cálculo da tensão crítica admissível é o maior


índice de esbeltez, independente do eixo em relação ao qual se processará a flexão.

BIBLIOGRAFIA

BEER, Ferdinand P. J, RUSSEL, Resistência dos Materiais, McGraw Hill.

BELYAEV, N. M., Strenght of Materials, Editorial Mir, Moscou.

PFEIL, Walter, Estruturas de Aço, Vol. 1, 4ª ed, Livros Técnicos e Científicos S.


A.

PSARENKO e outros, Manual de Resistencia de Materiales, Editorial Mir,


Moscou.

SILVA Jr., Jayme F., Resistência dos Materiais, Ao livro Técnico S. A.

Página 179
Unidade 10 – FLAMBAGEM

EXERCÍCIOS RESOLVIDOS

¾ Exercício 10.1

Os cabos esticados, BD e BC, evitam deslocamento do ponto B no plano xz.


Sabendo-se que a altura do perfil I é de 4,5m e que o mesmo é engastado em A, em todas as
direções, pede-se o valor de P admissível.

Dados:
Ix = 2000 cm4, Iy = 142 cm4, A = 29 cm2
Para λ ≥ 105:
σc = 10363000 / λ2 (kgf/cm2)
Para λ < 105:
σc = (1200 – 0,023 λ2) (kgf/cm2)
Valores de α:
coluna bi-rotulada: 1
coluna bi-engastada: 0,5
coluna engastada e livre: 2
coluna engastada e rotulada: 0,7

Solução:

0 ,7.450 2.450
λy = = 142 ,35 , λx = = 108 ,4
142 2000
29 29

142,35 > 108,4 ⇒ 142,35 = λ crítico

10363000
σc = = 511,4 kgf / cm 2
142 ,35 2

Pc = 511,4 . 29 ⇒ P = 14831 kgf

Página 180
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.2

Uma coluna de alumínio de seção transversal retangular tem comprimento L e


extremidade engastada B. A coluna suporta uma carga cêntrica em sua extremidade. Na
extremidade A da coluna existem duas placas lisas de cantos arredondados que impedem essa
extremidade de se movimentar em um dos planos verticais de simetria da coluna, mas não
impede movimento na direção de outro plano.

a) Determinar a relação a/b entre os lados da seção transversal que corresponde


à solução de projeto mais eficiente contra a flambagem.
b) Determinar a seção transversal mais eficiente sabendo-se que:
L = 50 cm, P = 2000 kgf e adotar um coeficiente de segurança igual a “2”.

Solução:

Condição do problema: λz = λy

0,7.l 2 . l . 12
λz = = (I)
ba 3 2a
12ab
2.l 2. l . 12
λy = = (II)
ab 3 b
12ab
2
Fazendo (I) = (II): a = b
4

1ª hipótese: λy = λz = λ > 64

2. l . 24 122,5 7170000 2000


λ= = → =
4a a  122,5 
2
4a
2.  a.
 a  2
122,5
a = 1,3 cm → λ= = 94,2 > 64
1,3
(Confirma região elástica)

Página 181
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.3

Uma coluna com extremos articulados, é construída com um perfil U. Uma


carga P atua paralela ao eixo, à 2 cm do centro de gravidade da seção.
Determinar, para P = (1/3) Pc:
a) Deflexão máxima
b) Tensão máxima de tração e compressão

Características geométricas da coluna:


A = 21,8 cm2
Iy = 54,9 cm4
Ix = 1360 cm4
largura da aba = 5,74 cm
altura da seção = 20,3 cm
l = 300 cm
E = 2,1 x 106 kgf/cm2

Solução:

1 π 2 EI ( 3,14 ) 2 .2100000.54 ,9
a) P = Pc ⇒ Pc = =
3 l2 ( 300 ) 2
1
Pc = 12643 kgf → P = Pc = 4214 kgf
3
S yc = 1200 kgf ; Pesc = 1200.21,8 = 26160 Kgf > 4214 kgf
 kl  kl 300
δ = e sec − 1 ; = 0 ,006. = 0 ,9 ; sec (0,9)rad = 1,6
 2  2 2
δ = 2 (1,6 – 1) ⇒ δ = 1,2 cm

b) Braço do momento no meio da coluna = 2 + 1,2 = 3,2 cm

Mmáx = P (e + δ) = 4214 . 3,2 = 13485 kgf . cm

4214 13485 . 1,45


σA =− − ⇒ σA = - 549 kgf / cm2
21,8 54 ,9
4214 13485 .( 5 ,74 − 1,45 )
σB =− + ⇒ σB = + 860 kgf / cm2
21,8 54 ,9

Página 182
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.4

A lâmina de aço indicada na Figura abaixo, bi-engastada, faz parte de um


sistema regulador de refrigeração. O projeto requer que um aumento de temperatura de 40ºC
faça com que a lâmina encoste em A ou B. Qual deve ser o comprimento da lâmina?
Seção transversal da lâmina = 0,1 x 0,5 cm
Coeficiente de dilatação térmica do aço = 2 x 10-5 / ºC
Módulo de elasticidade do aço = 2,1 x 106 kgf/cm2
Supor trabalho na região elástica (λ > 105).

Solução:

π 2 EI
σc = 2
; σ t = E .ε t ; ε t = α .( ∆t ) → σ t = E .α .( ∆t )
A le

Logo: σ c = σ t
I = 4,1.10 -5 cm4; A = 0,05 cm2
π 2 EI 3,14 2 .4 ,1.10 −5 .4
E .α .( ∆t ) = ⇒ −5
2.10 .40 =
A ( 0 ,5 . l ) 2 0 ,05 . l 2
l = 6,4 cm

α .l 0 ,5.6 ,4
λ= = = 111,7 > 105
I 4 ,1.10 − 5
A 0 ,05
(Confirma trabalho na região elástica)

Página 183
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.5

Uma coluna bi-rotulada tem comprimento de 3,5 m e é formada por quatro


tábuas de 30 x 120 mm de seção transversal. Determinar a carga crítica admissível para cada
uma das formas abaixo.

Solução:

σ comp = 85 kgf / cm 2 ; λ lim = 64 ; E = 94250 kgf / cm 2

π 2E
λ ≥ 64 ; σ c =
4.λ 2
 (λ − 40 ) 
λ < 64 ; σ c = σ comp 1 − 
 3(λ lim − 40 ) 

Forma a) I =1728 cm4 , i = 3,46 → λ = 101 > 64 → σ c = 23

Pc = 3312 kgf

Forma b) I =3672 cm4 , i = 5,05 → λ = 69,3 > 64 → σ c = 48 ,9

Pc = 7072 kgf

Página 184
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.6

A armação de liga de alumínio, conectada por pinos, suporta uma carga


concentrada P. Admitindo que a flambagem possa ocorrer apenas no plano da armação,
determinar o valor de P que provocará instabilidade no sistema. Supor que o elemento
trabalha dentro do regime elástico. Os membros têm seção quadrada de 5 x 5 cm. O módulo
de elasticidade do alumínio é: 0,7 x 106 kgf/cm2.

Solução:

sen 38º
Σ Fx = 0 → X sen 54º - N sen 38º = 0 ∴ X =N = 0 ,76 N
sen 54º
Σ Fy = 0 → P - N cos 38º - X cos 54º = 0 ∴ P = 1,2 N

Página 185
Unidade 10 – FLAMBAGEM

AB:
238 12
λ AB = = 165 > 64
5
7170000
σc = 2
= 263 kgf / cm 2 ; X = 263 . 25 = 6575 kgf
165
X = 0,76 N → N = 8651 kgf; P = 1,2 N → P = 10381 kgf

BC:

177 12
λ BC = = 123 > 64
5
7170000
σc = 2
= 474 kgf / cm 2 ; N = 474 . 25 = 11850 kgf
123
P = 1,2 N → P = 14220 kgf

Padotado = 10381 kgf e AB trabalha no limite e BC trabalha com folga!

Página 186
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.7

A coluna AB com ligação tipo pino e garfo, em A e B, é constituída por um


perfil U de alumínio com as características abaixo. Ela tem 3m de comprimento e é travada ao
meio em torno do eixo X. Pede-se:

a) Índice de esbeltez em torno de X (plano YZ).


b) Índice de esbeltez em torno de Y (plano XZ).
c) Carga crítica de AB (coeficiente de segurança 2).
d) Valor de P máximo, adotado um coeficiente de segurança 2.

Perfil U:
Ix = 5,61 cm4
Iy = 22,8 cm4
A = 6,16 cm2

0 < λ < 64, σc = 3150 - 22.λ (kgf/cm2)


λ ≥ 64, σc = 7170000 / λ2 (kgf/cm2)

Valores de α:
coluna bi-rotulada: 1
coluna bi-engastada: 0,5
coluna engastada e livre: 2
coluna engastada e rotulada: 0,7

Solução:

0 ,5.300
λy = ⇒ λy = 78
22 ,8
6 ,16

1.150
λx = ⇒ λx = 157
5 ,61
6 ,16
157 > 78 e 157 > 64
7170000
σc = = 145 ,5 ⇒ X = 145,5 . 6,16 ⇒ X = 896 kgf
2.157 2

P – X . cos 60º = 0 ⇒ P = 448 kgf

Página 187
Unidade 10 – FLAMBAGEM

¾ Exercício 10.8
Determinar a maior carga P que pode ser suportada, com segurança, por um
perfil I, de aço, que forma uma coluna de 4,5m de comprimento de flambagem nas duas
direções. A excentricidade ocorre em torno de XX e vale 20 cm (a carga P está aplicada sobre
o eixo YY).

Dados:
A = 94,8 cm2, iX = 13,16 cm, iY = 4,98 cm, WX = 1058 cm3
2
Para: λ ≥ 105, σ c = 10363000 / λ kgf / cm2
2
Para: λ < 105, σ c = (1200 - 0,023λ ) kgf / cm2

Solução:

Flambagem em torno do eixo de menor inércia:

450
λY = = 90 ,36 < 105 , σ c = 1200 − 0 ,023(90 ,36 ) = 1012 ,2 kgf/cm 2
2

4 ,98

Método da interação:

A tensão de flexão admissível é conhecida e vale : 1400 kgf/cm2.

Pc (0 ,011) Pc (0 ,019 )
+ ≤1 Pc ≤ 41795 kgf
1012 ,2 1400

Método da secante:

Dados:

S yc = 1400 kgf / cm 2 ; E=2.106 kgf/cm2

  Pc 450  
 20 sec .
 1  2.10 6 .16418 2  
 
Pc . + ≤ 1400
 94 ,8 1058 
 
 
 

Pc ≤ 46435 kgf

Página 188

Você também pode gostar