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ESTRUTURAS DE BETÃO I

FOLHAS DE APOIO ÀS AULAS

MÓDULO 1
INTRODUÇÃO AO COMPORTAMENTO DAS ESTRUTURAS
DE BETÃO ARMADO

Coordenação: José N. da Camara

Ano Lectivo 2012/2013


Introdução

Estes apontamentos têm como objectivo facilitar o acompanhamento das aulas e


correspondem, em geral, à sequência e organização da exposição incluindo, ainda, a
resolução de problemas. São apontamentos de síntese que não dispensam a consulta
dos restantes apontamentos da disciplina e da bibliografia.

Estes apontamentos foram elaborados com base em textos anteriores da disciplina


para os quaiscontribuíram os docentesque têm vindo a leccionar o Betão Estrutural,
muito especialmente o Prof. Júlio Appleton que foi, nesta escola, nos últimos 30 anos,
o responsável por esta área da engenharia de estruturas.

No ano lectivo 2008/2009 adoptaram-se no ensino integralmente as normas europeias


(Eurocódigos), já aprovados na versão definitiva (EN). No entanto, estamos num
período de transição, pois não houve ainda uma aprovação formal, sendo possível
utilizar, no âmbito profissional, em alternativa, a regulamentação nacional (REBAP –
Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-Esforçado) ou a regulamentação
europeia (Eurocódigo 2 – Projecto de Estruturas de Betão).

Deve-se, no entanto, realçar que o essencial do ensino do betão estrutural é a


transmissão do conhecimento sobre as características do comportamento
estrutural e fundamentação dos modelos de cálculo, aspectos que se repercutem
depois, naturalmente, nas prescrições normativas, com algumas variações.

Refira-se que, sendo esta disciplina integrada na área da engenharia de estruturas,


é fundamental que os alunos tenham uma boa percepção do comportamento das
estruturas, em geral, e, de uma forma “quase imediata”, das estruturas isostáticas.

No ano lectivo 2012/2013 os docentes são:

José Manuel da Camara (Responsável da Disciplina)


João Fernandes de Almeida
João Sérgio Cruz

IST, Setembro de 2012


ÍNDICE

1. COMPORTAMENTO DO BETÃO ESTRUTURAL ............................................................... 1

1.1. ELEMENTO DE BETÃO SEM INCLUSÃO DE ARMADURAS ........................................................ 1


1.2. ELEMENTO DE BETÃO ARMADO ......................................................................................... 3
1.3. CÁLCULO DAS TENSÕES NUMA SECÇÃO APÓS FENDILHAÇÃO .............................................. 4
1.4. CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO ............................................................. 8
1.5. DIFERENÇA DO COMPORTAMENTO SECÇÃO/ESTRUTURA..................................................... 9

2. CONCEITO DE SEGURANÇA NO DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS ................ 10

2.1. OBJECTIVOS DE SEGURANÇA NA ENGENHARIA ESTRUTURAL EM GERAL ............................. 10


2.2. FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES
ÚLTIMOS ................................................................................................................................... 12
2.3. FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS LIMITES
DE UTILIZAÇÃO .......................................................................................................................... 14

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 1.1 .................................................................................................. 18


ALÍNEA A) .................................................................................................................................. 20
ALÍNEA B) .................................................................................................................................. 21

3. MATERIAIS ......................................................................................................................... 22

3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS BETÕES ...................................................................................... 22


3.1.1. Tensões de rotura do betão ................................................................................. 22
3.1.2. Módulo de elasticidade do betão ......................................................................... 23
3.1.3. Valor característico da tensão de rotura do betão à compressãofc ..................... 23
3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS ARMADURAS ............................................................................... 23
3.2.1. Classificação das armaduras para betão armado ............................................... 24
Estruturas de Betão I

1. Comportamento do Betão Estrutural

Notações:

f – resistência do material
fc – tensão de rotura do betão à compressão
fct - tensão de rotura do betão à tracção
Ec – módulo de elasticidade do betão
fy – tensão de cedência do aço
fu – tensão de rotura do aço
Es – módulo de elasticidade do aço

1.1. ELEMENTO DE BETÃO SEM INCLUSÃO DE ARMADURAS

Considere-se a viga de betão simples ilustrada na figura seguinte, bem como os


diagramas de esforços correspondentes a uma carga pontual genérica P aplicada a
meio vão.
P

0.50

0.20
5.00

P/2 P/2

DEV
P/2
(+)

(-) P/2

DMF

(+)

PL/4

Como se sabe, o maior momento flector ocorre a meio vão, estando, na hipótese de
comportamento elástico, esta secção sujeita ao seguinte diagrama de tensões
normais:

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 1


Estruturas de Betão I

σ2 M×y M
Tensões: σ = Ic ; σmáx = W c
h/2
G
I
M em que W c = y (módulo de flexão)
máx
h/2
3 2
bh 2 bh
σ1 Para uma secção rectangular, W c = 12 × h = 6
y

Para um determinado nível de carga P ocorrerá uma fenda, em princípio próximo da


secção de meio vão (por ser a secção mais esforçada) e, na sequência a rotura da
viga.

Na figura seguinte podem observar-se os diagramas momentos-curvaturas e carga-


deslocamento que ilustram o comportamento desta viga, desde o início do
carregamento até à rotura, verificando-se que esta é frágil.

a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento

M P

EI (rigidez de flexão)

1/ R δ

Este comportamento resulta da lei de comportamento do material betão:


σ

(20 a 80 MPa)
fc Índice c – “concrete”

fc – tensão de rotura do betão à compressão


Ec (≈30 GPa)
fct – tensão de rotura do betão à tracção
Ec – módulo de elasticidade do betão
≈ 3.5‰ ε
f ct (2 a 5 MPa)
Através da análise da relação constitutiva do betão pode concluir-se que este é um
material que possui um bom comportamento e resistência à compressão, com uma
resposta “quase linear” para níveis de tensões baixos a médios, e uma baixa
resistência à tracção (da ordem de 1/10 a 1/15 da resistência à compressão). Esta
última característica é responsável pela fendilhação do betão armado e, neste caso de
betão simples, pela rotura.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 2


Estruturas de Betão I

Cálculo do momento de fendilhação

Admite-se fct = 2.0 MPa


M M×v bh2
σ= W = I e Wc = 6 (para uma secção rectangular)
c c

Deste modo, o momento de fendilhação pode ser calculado pela expressão:

0.20 × 0.502
Mcr = fct×W c = 2 × 103× = 16.7 kNm
6

A carga P que provoca o início da fendilhação está associada ao momento de


fendilhação podendo ser calculada, para esta estrutura e carregamento, através da
seguinte relação:
PL 4Mcr 4 × 16.7
Mcr = 4 ⇒ P = L = 5
= 13.4 kN

Conclusão: Uma viga de betão simples não explora, minimamente, a capacidade


resistente do material em compressão, pois a máxima tensão que se
pode mobilizar é igual, ou da mesma ordem de grandeza, da resistência à
tracção. O comportamento fica, assim, associado a uma baixa
capacidade de carga, condicionada pelo aparecimento de uma fenda, e a
uma rotura frágil.

Solução: Introduzir um material com boa resistência à tracção nas regiões onde é
necessário, ou seja nas zonas traccionadas das peças ⇒ Ao faltar a
capacidade do betão para resistir à tracção mobilizam-se as armaduras de
aço. Evita-se a rotura frágil e explora-se muito melhor a capacidade
resistente do betão à compressão, pois passa a haver a possibilidade de
equilibrar compressões elevadas com tracção nas armaduras. Tem-se,
assim, o Betão armado (betão +armaduras de aço).

1.2. ELEMENTO DE BETÃO ARMADO

Armaduras de aço: material dúctil com bom comportamento à tracção, mas


também àcompressão, e que permite, pela sua disposição em varões, um bom
envolvimento pelo betão.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 3


Estruturas de Betão I

fu
(200 a 800 MPa) fy Índice y – “yeld” (cedência)

Es (≈200 GPa)
fy ≈ fy
+ -

2.5 a 10% ε

fy

Com a introdução destas armaduras no betão obtém-se um comportamento conjunto


com boa ligação entre os materiais e extremamente eficiente em termos da resposta
estrutural. De facto, com o aparecimento das fendas,as tracções passam para as
armaduras o que permite garantir o equilíbrio na secção para cargas muito superiores.

Nas figuras seguintes podem observar-se diagramas tipo, de momentos-curvaturas


médias e carga-deslocamento, respectivamente, para elementos e estruturas de betão
armado, desde o início do carregamento até à rotura. Verifica-se que, com o início das
fendas (1), há alguma perda de rigidez mas que a capacidade resistente máxima só se
atinge para cargas superiores depois de verificada a cedência das armaduras (2) e
explorada, depois, a ductilidade (3).

Ao longo desta disciplina analisar-se-ão estas características do comportamento e o


seu enquadramento nas disposições regulamentares para assegurar os níveis de
segurança e de qualidade de comportamento necessários.

a) Diagrama momento-curvatura b) Diagrama carga-deslocamento

M I P
II
(2) (3) (2) (3)
(1) - fendilhação do betão
(1) (1)
(2) - cedência das armaduras
(3) - rotura

1/ R δ

1.3. CÁLCULO DAS TENSÕES NUMA SECÇÃO APÓS FENDILHAÇÃO

Para se compreender o comportamento global acima descrito comecemos por analisar


a resposta ao nível de uma secção de betão armado, tomando-se a secção
apresentada.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 4


Estruturas de Betão I

Admita-se:
2
As = 10.0 cm
d 0.50
d = 0.45 m (altura útil da armadura)

Ec = 30 GPa

0.20 Es = 200 GPa

(i) Avaliação simplificada da quantidade de armadura mínima necessária para


substituir o papel das tensões de tracção no betão quando se forma uma
fenda.
(Análise em Estado não fendilhado - Estado I – desprezando as
armaduras)
A força de tracção no betão quando se forma a fenda deve, então, ser
menor que a força máxima passível de ser absorvida pelas armaduras, tal
que:

σ
Fc

h 1
Fs≥ Fct⇔ As, min× fy≥ b × 2 × 2 fct⇔

Fct h/2 ⇔ As, min≥ 0.2 × 0.5 × 2×103× 1


3 × 10 = 1.25 cm
4 2
4 400×10

b fct
2 2
(Refira-se que a armadura admitida é de As = 10cm >> 1.25cm )
(antes de fendilhar)

(ii) Cálculo do estado de tensão na secção imediatamente após a fendilhação


do betão

Hipóteses consideradas paro o denominado Estado II

− O betão não resiste à tracção


− As secções mantêm-se planas após a fendilhação
εc σc
(Fc)
(-)
x
LN
d M cr
z
(+)
εs σs (Fs)

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 5


Estruturas de Betão I

Cálculo da posição da linha neutra

Através da determinação do centro de gravidade da secção homogeneizada,

∑Ai xi bx × x/2 + As× Es/Ec× d


⇔x bx + As×
Es  x Es
x= = = bx × + As× ×d⇔
∑Ai bx + As× Es/Ec  Ec  2 Ec

Es bx2 Es bx2 Es
⇔ bx2 + As× ×x= + As× ×d ⇔ = As× (d - x)
Ec 2 Ec 2 Ec
(equação que traduz a igualdade de momentos estáticos)

Para a secção em estudo,

0.2x2 200
2 = 10×10 x 30 (0.45 - x) ⇔ 0.1x + 6.67×10 x - 0.03 = 0 ⇒ x = 0.143 m
-4 2 -3

x 0.143
z(braço das forças resultantes) = d - 3 = 0.45 - = 0.40 m
3

Cálculo da tensão no betão (σc)

Mcr 16.7
Por equilíbrio: Mcr = Fs× z = Fc× z =16.7 kNm ⇔ Fc = z = 0.40 = 41.8 kN

σc× x × b 2Fc 2 × 41.8


Fc = ⇔σc = bx = = 2923 kN/m2≅ 2.9 MPa
2 0.20 × 0.143

Cálculo da tensão nas armaduras (σs)

Fs 41.8
Fs = σs× As⇔σs = A = = 41800 kN/m2 = 41.8 MPa
s 10 × 10-4

Cálculo das extensões máxima no betão e nas armaduras (εc e εs)


σc
ε = E =
2923
= 0.097×10-3≅ 0.1‰
σ = E ×ε⇒
 c
c 30×106
ε σs 41800
 s = E =
s 200×106
= 0.2‰

εc x d-x 0.45 - 0.143


ou = d - x ⇒εs = x εc= × 0.097×10-3 = 0.2‰
εs 0.143

εc = 0.1‰ -2.9

(-)
0.143
LN
M = 16.7 kNm

(+)
εs = 0.2‰ 41.8

ε σ [MPa]

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 6


Estruturas de Betão I

Cálculo da curvatura

1 εc + εs 0.1×10-3 + 0.2×10-3
R = d = 0.45 = 6.67×10-4 m-1

Antes da fendilhação,
2.0 εc
(-)
σc 2.0
εc = = = 6.67×10-5
Ec 30×103
M = 16.7 kNm

1 2 × 6.67×10-5
(+)
R= =2.67×10-4 m-1
0.5
2.0 εc
σ [MPa]

Verifica-se, assim, que, para esta secção e com esta armadura, se verifica uma perda
1/RII
de rigidez, quando se perde a participação do betão traccionado, de: 1/R ≅ 2.5 .
I

Estas curvaturas podem ser directamente calculadas dividindo o momento pelas


rigidezes homogeneizadas, se for o caso, nos referidos Estados I e II, tal que:

1 M
Estado I sem considerar as armaduras: R = E I
c c c

1 M
Estado I com consideração das armaduras: =
RΙ Ec IΙ

1 M
Estado II: =
RΙΙ Ec IΙΙ

M I
II
E c IΙ

Ec IΙΙ
E c IΙ

1 /R

Ic, IΙ e IΙΙ, são respectivamente, a inércia de secção só de betão, de betão e armaduras


homogeneizada no betão em situação não fendilhada (valor de IΙ ≈ Ic) e fendilhada (IΙΙ),
sem considerar o betão à tracção.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 7


Estruturas de Betão I

1.4. CÁLCULO DO MOMENTO DE CEDÊNCIA DA SECÇÃO

Em estado II (secção fendilhada sem participação de betão à tracção) a linha neutra é


invariável, pelo que, a um acréscimo do momento flector irá somente corresponder um
aumento de curvatura com consequente aumento de tensões, i.e., com o braço entre
as resultantes das forças de compressão e tração a se manter constante.
εc σc1 σc2
(-)

LN

(+)
εs σs1 σs2
M1 M2 > M1

A continuação da aplicação do momento M conduz, portanto, ao aumento das tensões


nas fibras, podendo, para níveis superiores de carga, o betão entrar numa região de
comportamento não linear.
σc 1 σc2
Fc Fc

LN LN

z1 M1 z2 M2
M 1 < M2

F s1 F s2

A variação do braço é, no entanto, pouco significativa (z1 ≅ z2), pelo que a avaliação do
momento de cedência se pode fazer tomando para a força F a força correspondente à
cedência das armaduras, tal que:

My ≅ z × Fy com Fy = Asfsy

Cálculo do momento de cedência da secção

σs = fy = 400 MPa⇒Fy = 400×103× 10×10-4 = 400 kN


z = 0.40m ⇒My = 0.4 × 400 = 160 kNm

Verifica-se que, para esta secção, a diferença entre os momentos de fendilhação e de


cedência é significativa, de 16.7 kNm para 160 kNm, o que mostra bem o papel das
armaduras.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 8


Estruturas de Betão I

1.5. DIFERENÇA DO COMPORTAMENTO SECÇÃO/ESTRUTURA

As estruturas são compostas por inúmeras secções sendo que só algumas fendilham.
Nestas secções há uma perda de rigidez brusca (aumento de deformação significativo)
que, como mostra o gráfico a), corresponde à passagem do Estado I ao II. No entanto,
considerando o comportamento médio num elemento estrutural (por exemplo,um troço
de viga, com um comprimento igual à altura), como se ilustra no gráfico b) vai-se
verificar uma diminuição mais gradual da rigidez média. Este efeito de atenuação da
importância da perda de rigidez, a quando da fendilhação, é ainda mais notório,
quando se analisa a resposta da estrutura no seu conjunto.

a) Secção b) Elemento

σ I
II M I
II
(2) (3) My (2) (3)
My
(1) (1) R
Mcr Mcr

M M
ε 1 /R

De facto, ao nível da deformação global da estrutura, não se chega a notar um


aumento pontual da deformação. Verifica-se, isso sim, uma diminuição da rigidez para
cargas superiores ás do início do processo de formação de fendas (zona do diagrama
carga-deslocamento de (2) para (3)) – ver figura seguinte.
P
(2) (3)

(1)

δ
Para um certo nível de carga a zona da viga passível de ter fendas é aquela em que
os esforços sejam superiores aos de início da fendilhação, como se mostra na figura
seguinte.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 9


Estruturas de Betão I

Região onde ocorre


DMF fendilhação para Pmáx

Mcr

Mmáx

Refira-se que, como referido anteriormente, à medida que se verifica o incremento de


carga as tensões nos materiais aumentam até que se atinge, em princípio na secção
mais esforçada, a cedência do aço, ou seja o momento de cedência - (ponto (2) dos
diagramas). Este nível de carga corresponde, “grosso modo”, à capacidade máxima da
carga, verificando-se, a partir daí, só um ligeiro aumento de carga, associado a um
grande aumento de deformações. É a zona de comportamento associada ao
comportamento na rotura à flexão do betão armado.

2. Conceito de Segurança no Dimensionamento de Estruturas

2.1. OBJECTIVOS DE SEGURANÇA NA ENGENHARIA ESTRUTURAL EM GERAL

Há dois objectivos fundamentais a considerar pelos engenheiros de estruturas para


assegurar, à sociedade em geral, um nível de segurança adequado às construções.
Seguidamente referem-se esses dois objectivos gerais, particularizando-se, para cada
um deles, o tipo de verificações em causa.

1) Garantir um bom comportamento das estruturas em situação de serviço, ou


seja, na utilização corrente

Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos


Estados Limite de Utilização:

 Limitar a deformação (Para as estruturas, em geral, e não só de betão)

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 10


Estruturas de Betão I

De acordo com as recomendações mais recentes, e para o caso de pisos de edifícios,


a deformação final ou o incremento de deformação após a execução de paredes de
alvenaria, deve ser limitada, para as acções com carácter de permanência,
respectivamente, a:

δserviço≤δadmissível≅ ou 500
L L
 250 
Trata-se no primeiro caso de uma questão de aspecto e funcionalidade e no segundo
caso para evitar fendas nas alvenarias.

 Limitar o nível de tensões máximas no betão e no aço

Segundo as disposições regulamentares mais recentes o nível máximo das tensões no


aço e no betão deve ser limitado, em serviço. Estes limites dependem do tipo e nível
das acções, como se verificará no curso.

 Controlar as aberturas de fendas (Aspecto claramente específico ás


estruturas de betão armado):

ωserviço≤ωadmissível (0.2 a 0.4mm)

Sendo a existência de fendas uma situação normal no Betão Armado, há que limitar a
sua abertura, em geral, para um nível de acções com carácter de permanência.

 Garantir um adequado comportamento dinâmico (estruturas em geral)

Este aspecto da verificação do comportamento em serviço das estruturas, só será


analisado na disciplina de uma forma indirecta, devendo ser aprofundado
posteriormente no curso. No fundo trata-se de controlar as frequências próprias de
vibração das estruturas, de tal forma a evitar situações de ressonância com a
frequência das acções.

Exemplo: Nas pontes de peões verificar que a frequência principal de vibração vertical
da estrutura não se aproxima da frequência da excitação, neste caso, as cadências
dos passos dos utilizadores.

2) Assegurar um nível de segurança adequado em relação a determinadas


situações de rotura (rotura local ou global da estrutura)

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 11


Estruturas de Betão I

Na forma regulamentar este objectivo corresponde a verificar a segurança aos


Estados Limite Últimos

Para além de assegurar um comportamento adequado da estrutura nas condições da


sua utilização, o engenheiro de estruturas tem de, com um nível de confiança
muitíssimo superior, poder garantir que não há possibilidade de qualquer tipo de
rotura, seja localizada, por falta de capacidade resistente, como por exemplo numa
viga, por:

 Flexão

 Esforço Transverso

 Torção

 Zonas particulares de apoios e/ou introdução de cargas

Seja global, por perda de equilíbrio conjunto da estrutura, como o derrubamento


de um muro de suporte.

As características de comportamento do betão estrutural e as hipóteses admitidas


para avaliação das capacidades resistentes acima referidas e das estruturas, no seu
conjunto, serão analisadas nos Módulos seguintes.

2.2. FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS


LIMITES ÚLTIMOS

Para garantir o objectivo acima enunciado, da não rotura, a regulamentação das


estruturas, em geral, tem vindo a introduzir, a partir dos anos 60, uma filosofia de
segurança que, tendo em conta a variabilidade das características dos materiais, do
valor das acções eda avaliação da resposta estrutural,assegura uma probabilidade
de rotura de 1x10-5, ou seja, quase nula.
Este formato baseia-se, de uma forma simplificada, na avaliação de valores
característicos para os materiais e acções, e ainda à adopção de coeficientes parciais
de segurança adequadamente definidos. Vejamos, então, com algum pormenor, essa
valoração.

1) Definição de valores característicos para:

 Valores das acções Ssk (95% de probabilidade de não serem excedidos)

 Resistências dos materiais SRk (95% de probabilidade de serem superiores).

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 12


Estruturas de Betão I

2) Adopção de coeficientes de segurança parciais que:

 Majorem as cargas, consoante o tipo de acção:

• Acções permanentes: valor aproximadamente constante durante a vida


útil da estrutura (ex: peso próprio, equipamentos fixos, etc.)

γg = 1.0 ou 1.35 (consoante a acção for ou não favorável)

• Acções variáveis: variam durante a vida útil da estrutura (ex: sobrecarga,


vento, sismo, variação de temperatura, etc.)

γq = 0.0 ou 1.5 (consoante a acção for ou não desfavorável)

• Acções acidentais: muito fraca probabilidade de ocorrência durante a


vida útil da estrutura (ex: explosões, choques, incêndios, etc.) γa = 1.0

 Minorem as resistências dos diferentes tipos de materiais:

• Armaduras (γs = 1.15)

• Betão (γc = 1.5)


fyk fck
Exemplo: fyd = ; fcd =
γs γc

3) Estabelecimento de combinações de acções, conforme especificado no RSA

Exemplo: Ssd = γgSg + γq (Sq + Σψ0iSqi) (ψ0i≤1 –coeficiente de combinação da


acção variável i)
Sq – acção variável de base
Sqi – restantes acções variáveis

4) A Avaliação dos efeitos estruturais das acções na estrutura é usualmente realizada


com base numa análise elástica linear da mesma, com eventuais adaptações para ter
em conta o comportamento efectivamente não linear do betão estrutural (como
constatado nos parágrafos anteriores). Para obtenção dos denominados momentos
de cálculo ou dimensionamento,com uma única carga variável,tem-se:

Msd = γg Mg + γqMq

5) Avaliação das capacidades resistentes (forças ou esforços)


fyk
Exemplo para o momento resistente: MRd = As×1.15 ×z

6) Verificação da condição de segurança geral: SSd≤SRd

Exemplo para os momentos: Msd≤MRd

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 13


Estruturas de Betão I

No caso do exemplo anterior, e considerando só a sobrecarga (γq = 1.5), tem-se:


PL 5 400
M= ⇒Msd = 1.5 × P × ≤ MRd = 10×10-4× × 103× 0.40
4 4 1.15

Donde resulta, como carga que verifica o nível de segurança necessário, em relação à
rotura por flexão (ou seja, verifica a segurança ao Estado Limite Último):

P ≤ 74.2 kN
O procedimento de verificação da segurança acima resumido pode ser ilustrado com
base nos diagramas de distribuição probabilística dos efeitos das acções e da
avaliação das resistências, como indicado na figura seguinte.A partir de valores
característicos, superiores e inferiores, respectivamente para as acções e materiais,
majoram-se e minoram-se esses valores, com coeficientes parciais de segurança,
para só depois estabelecer a condição de segurança.
Percebe-se que a margem de segurança disponível que se obtém com este
procedimento é muito grande. Repare-se na diferença entre os valores médios
expectáveis das acções e das resistências. No entanto, a justificação da garantia da
probabilidade de não rotura ser de 1x10-5,como acima referida, está fora do âmbito
destes elementos.

Ssm Ssk Ssd SRd SRk SRm

Acções ou efeitos das acções Resistência

2.3. FILOSOFIA ADOPTADA NA VERIFICAÇÃO DA SEGURANÇA EM RELAÇÃO AOS ESTADOS


LIMITES DE UTILIZAÇÃO

Para assegurar o comportamento adequado nas condições de serviço, pretende-se


avaliar, agora, tão bem quanto possível, a resposta efectiva da estrutura quando em
utilização. Com esse objectivo faz sentido tomar valores de acções que se esperam
efectivamente actuem a estrutura (e não valores característicos superiores e/ou
majorados) e valores médios para o comportamento dos materiais (certamente que
não valores característicos inferiores e/ou minorados).

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 14


Estruturas de Betão I

Esta formulação conduz a que a probabilidadede serem excedidos os valores


admissíveis seja da ordem de 1x10-1.

Vejamos então, em termos práticos, com que bases se fazem estas verificações:

1) Definição dos valores da acção que actuam na estrutura adoptando, por um lado,
para os pesos próprios dos materiais estruturais e/ou de outros revestimentos
utilizados densidades médiase, por outro lado, valores de sobrecargas com
probabilidades reais de virem a actuar as estruturas (percentagens mais pequenas do
valor característico têm mais probabilidade de ocorrerem).

2) Estabelecimento de combinações de acções, conforme preconizado no RSA:

 Combinação quase permanente de acções: Estado limite de longa duração (≥


50% do tempo de vida da estrutura) Scqp = G + Σψ2iQi

 Combinação frequente acções: Estado limite de curta duração (≥ 5% do


tempo de vida da estrutura) Sfreq = G + ψ1 Q + Σψ2iQi

 Combinação característica: Estado limite de muito curta duração (algumas


horas no período de vida da estrutura) Sraro = G + Q + Σψ1iQi
(ψ2<ψ1< 1.0)

Q – acção variável de base


Qi – restantes acções variáveis

3) Avaliação dos efeitos estruturais das acções, considerando, em geral, uma análise
elástica linear e as propriedades médias dos materiais por forma a estimar o
comportamento previsível. Em geral, é necessário considerar, de uma forma
simplificada, os efeitos da fendilhação (perda de rigidez) e da fluência do betão nas
características da resposta, como se verá no curso.

4) Posteriormente há que fazer as verificações de segurança, atrás mencionadas,


como a limitação da deformação e o controlo do nível de tensões nos materiais e das
aberturas de fendas. Estas verificações são estabelecidas nos regulamentos, para
certas combinações de acções. Refira-se que um certo limite é dependente da
duração de tempo em que possa subsistir.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 15


Estruturas de Betão I

Por exemplo, para o caso da deformação, é importante garantir a sua limitação para a
situação quase-permanente, mas não para a eventualidade de, numa ou várias
situações na vida da estrutura, se ter uma sobrecarga maior. Assim:

δcombinação quase permanente ≤δadmissíve

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 16


Estruturas de Betão I

EXERCÍCIO 1.1

Considere a estrutura de um piso estrutural, a construir com os materiais indicados e


as acções previstas referidas, representado pela planta seguinte:

Materiais: C25/30, A400


4.00 4.00 4.00 4.00

Acções:
Peso próprio
2
Revestimento=2.0 kN/m
2
Sobrecarga = 3.0 kN/m

10.00 S2
Coeficientes de majoração:
γG = γQ = 1.5

Coeficientes de combinação:
S1 ψ1 = 0.4 ;ψ2 = 0.2

2
3.00 Secção da viga: 0.30×0.85 m

Espessura da laje: 0.15m

a) Determinar, para as secções S1 e S2 da viga, os valores dos esforços, para a


verificação da segurança à rotura.

b) Calcular, para as mesmas secções, os esforços para as combinações em serviço,


rara, frequente e quase-permanente.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 17


Estruturas de Betão I

RESOLUÇÃO DO EXERCÍCIO 1.1

1. Modelo de cálculo:

Modelo para o cálculo da viga Corte transversal à viga


rev, q
g, q
0.15
S2 S1
0.70
10.00 3.00
0.30
4.00

Comentários ao modelo de cálculo, escolhido, com algumas simplificações:


− Consideram-se as vigas como contínuas, i.e., desprezou-se a continuidade
na ligação aos pilares;
− Considera-se que as lajes descarregam apenas nas vigas transversais.

2. Cálculo das acções na viga

2.1. Carga permanente

• Peso próprio
pp = γbetão× Área = [4 × 0.15 + (0.85 - 0.15) × 0.30] × 25 = 20.3kN/m

• Revestimento
rev = 2.0 × 4.0 = 8.0kN/m

cp = pp + rev = 20.3 + 8.0 = 28.3kN/m

2.2. Sobrecarga

sc = 3.0 × 4.0 = 12.0kN/m

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 18


Estruturas de Betão I

3. Diagrama de esforços para uma carga unitária (poder-se-ia considerar logo à


partida considerar o valor das cargas)

p=1 kN/m

S2 S1

10.00 3.00

RA RB

DEV
[kN] 4.55 3.0
(+) (+)
(-)
x
5.45
DMF 4.5
[kNm]
(-)

(+)

10.25

(i) Cálculo das reacções de apoio


13
ΣMA = 0 ⇔ 10 × RB- 1.0 × 13 × 2 = 0 ⇔ RB = 8.45kN

ΣF = 0 ⇔ RA + RB = 13 ⇒ RA = 13 - 8.45 = 4.55kN

(ii) Cálculo do momento flector a ½ vão

3
MB = - 1 × 3 × 2 = - 4.5kN/m
pL2/8
102 4.5
M½vão = 1 × - = 10.25kNm L/2 L/2
8 2

(ii) Cálculo do momento flector máximo

4.55 + 5.45 10.0


= x ⇒x = 4.55m
4.55

4.55× 4.55
Mmáx = 2 = 10.35kNm

⇒M½vão≅ Mmáx

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 19


Estruturas de Betão I

ALÍNEA A)

Secção S1 Secção S2

G = – 4.5 × 28.3 = - 127.35 kNm


MS1 G = 10.25 × 28.3 = 290.1 kNm
MS2

Q = – 4.5 × 12.0 = - 54 kNm


MS1 Q = 10.25 × 12.0 = 123.0 kNm
MS2

G = –5.45 × 28.3 = 154.2 kN


VS1

Q = –5.45 × 12.0 = 65.4 kN


VS1

Valores de cálculo dos esforços

sd = 1.5 ×(M G + M Q ) = 1.5 × (-127.35 - 54) = -272.0 kNm


MS1 S1 S1

sd = 1.5 ×(M G + M Q ) = 1.5 × (290.1 + 123) = 619.7 kNm


MS2 S2 S2

Sd = 1.5 ×(V G + V Q ) = 1.5 × (-154.2 - 65.4) = -329.4 kN


VS1 S1 S1

Consideração de alternância de sobrecarga

A sobrecarga, sendo uma acção variável, pode actuar em qualquer tramo. Assim, para
cada caso, há que verificar a hipótese de carga mais desfavorável.

Chama-se, desde já a atenção, para que na consola e sobre o apoio adjacente, os


esforços só dependem das cargas na própria consola e, portanto, os valores máximos
são os avaliados anteriormente.

Por outro lado, se se considerar apenas a actuação da sobrecarga no tramo apoiado,


o momento flector obtido a meio vão desse tramo será superior ao calculado
considerando a sobrecarga a actuar em toda a viga (calculo anterior).

Deste modo,
q
g

12 × 102
MS2
Q = 8 G = 10.25 × 28.3 = 290.1 kNm
= 150 kNm ; MS2

sd = 1.5 × (290.1 + 150) = 660.2kNm


⇒ MS2

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 20


Estruturas de Betão I

ALÍNEA B)

Secção S1

Mc rara = MG + MQ = -127.35 - 54 = - 181.4kNm

Mcfreq = MG + ψ1 MQ = -127.35 - 0.4 × 54 = -149.0kNm

Mcqp = MG + ψ2 MQ = -127.35 - 0.2 × 54 = – 138.2kNm

Vc rara = VG + VQ = 154.2 + 65.4 = 219.6kN

Vcfreq = VG + ψ1 VQ = 154.2 + 0.4 × 65.4 = 180.36kN

Vcqp = VG + ψ2 VQ = 154.2 + 0.2 × 65.4 = 167.3kN

Secção S2

Mc rara = MG + MQ = 290.1 + 123.0 = 413.1kNm

Mcfreq = MG + ψ1 MQ = 290.1 + 0.4 × 123 = 339.3kNm

Mcqp = MG + ψ2 MQ = 290.1 + 0.2 × 123 = 314.7kNm

Verifica-se também que o nível de esforços considerados para a verificação da


segurança à rotura são significativamente superiores aos correspondentes das
combinações de acções em serviço, e que estes são tão menores, quão a
probabilidade de ocorrência seja maior.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 21


Estruturas de Betão I

3. Materiais

3.1. CARACTERIZAÇÃO DOS BETÕES

Os betões são, em termos regulamentares, classificados por classes de resistência,


como certamente analisaram na disciplina de materiais.

As classes de resistência estão definidas de acordo com os valores característicos de


tensão de rotura à compressão aos 28 dias de idade, referidos a provetes cúbicos ou
provetes cilíndricos, apesar destes últimos serem aqueles que se consideram como
referência na avaliação da segurança estrutural.

No quadro seguinte apresentam-se, para as várias classes de resistência do betão, os


valores característicos e de cálculo das tensões de rotura à compressão (fck e fcd), bem
como o valor médio da tensão de rotura à tracção (fctm) e módulo de elasticidade aos
28 dias (Ec, 28)
B15 B20 B25 B30 B35 B40 B45 B50 B55
Classe
C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60
cub. 15 20 25 30 37 45 50 55 60
fck
cil.
[MPa] 12 16 20 25 30 35 40 45 50
fcd
8.0 10.7 13.3 16.7 20.0 23.3 26.7 30.0 33.3
[MPa]
fctm
1.6 1.9 2.2 2.6 2.9 3.2 3.5 3.8 4.1
[MPa]
Ec,28
27.0 29 30 31 33 34 35 36 37
[GPa]

3.1.1. Tensões de rotura do betão

A partir dos valores característicos das tensões de rotura à compressão ou à tracção,


definem-se os valores denominados de dimensionamento ou de cálculo à rotura:

fcil.
ck fctk
fcd = , fctd = com γc = 1.5(fckcil≈ 0.8 fckcubos)
γc γc

O valor médio da tensão de rotura do betão à tracção pode ser estimado pela
expressão:

fctm = 0.30 fck2/3


Nota: o valor de fcd é definido a partir da resistência em cilindros, dado que estes provetes são
mais representativos da resistência do betão em peças longas.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 22


Estruturas de Betão I

3.1.2. Módulo de elasticidade do betão


Na análise de estruturas é usual admitir um comportamento elástico, como atrás já
referido, considerando-se, em geral, o módulo de elasticidade secante do betão aos 28
dias de idade. Este módulo de elasticidade, tal como a figura seguinte indica,
encontra-se definido para σc = 0 e σc = 0.4 fck. Refira-se a propósito, que este tipo de
hipótese é adoptada, na prática da engenharia, com muita frequência, considerando-
se, posteriormente, formas mais ou menos directas de ter em consideração o efectivo
comportamento não linear do betão armado, quer em condições de serviço, quer,
por maioria de razão, próximo da rotura.

σc
Ec
fcm

0.4 fck

εc

3.1.3. Valor característico da tensão de rotura do betão à compressão fc

A partir de um certo número de resultados de ensaios, é possível avaliar o valor


característico do betão.

Assim:
fck = fcm - λ Sn , Sn – desvio padrão das resistências das amostras

λ – parâmetro que depende do número de ensaios

n 6 10 15

λ 1.87 1.62 1.48

3.2. CARACTERIZAÇÃO DAS ARMADURAS

As armaduras a utilizar no betão estrutural podem dividir-se em:

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 23


Estruturas de Betão I

 armaduras para betão armado

 armaduras de pré-esforço

As primeiras são também denominadas de armaduras passivas, pois só são


solicitadas em resposta a acções exteriores.

As armaduras de pré-esforço são compostas por aços com capacidade resistente da


ordem de 3 a 4 vezes superiores às passivas e são chamadas de activas, pois são
traccionadas antes da actuação das solicitações exteriores.

Nestes elementos referem-se unicamente as primeiras pois o pré-esforço é introduzido


na disciplina de Estruturas de Betão II.

3.2.1. Classificação das armaduras para betão armado

Os aços são classificados tendo em consideração o processo de fabrico, a rugosidade


da superfície e a sua capacidade resistente. Assim temos:

 processo de fabrico

• aço natural (laminado a quente) (N)

• aço endurecido a frio (E)


 aderência

• alta aderência (superfície rugosa ou nervurada) (R)

• aderência normal (superfície lisa) (L)


 resistência

• (A235), A400, A500

O aço A235 foi utilizado na construção em Portugal, em geral com varões lisos, mas já
não é produzido actualmente.

As armaduras designam-se, assim, com a seguinte simbologia base:

Designação das armaduras: A500 N R SD

fyk aderência

processo de fabrico ductilidade especial

Os aços de dureza natural A400 NR e A500 NR produzidos em Portugal,


apresentam apenas duas famílias de nervuras – ver figura abaixo. Nos aços A400

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 24


Estruturas de Betão I

todas as nervuras de uma família são paralelas ao passo que no A500 as nervuras
têm alternadamente inclinações diferentes, pelo menos de um dos lados.

A diferenciação, entre aços com ductilidade especial (SD), recomendados em zonas


sísmicas, e os correntes, é ilustrada na figura, sendo que, no essencial, os SD tem as
mesmas nervuras nas duas faces.

Tipo A400NR Tipo A500NR

Tipo A400NR SD Tipo A500NR SD

Identificação do tipo de aço

Os aços endurecidos a frio (E) são produzidos por laminagem com impressão de um
perfil nervurado, constituído por três famílias de nervuras dispostas em 3 planos.

As características resistentes dos aços serão referenciadas no Módulo 2.

MÓDULO 1 – Introdução ao comportamento das estruturas de betão armado 25

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