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TECIDOS

INTRODUÇÃO

As operações de limpeza, tingimento e acabamento na indústria têxtil


dão origem a uma grande quantidade de despejos. A recirculação destes
despejos e recuperação de produtos químicos e subprodutos, constituem os
maiores desafios enfrentados pela indústria têxtil internacional, com o fim
de reduzir os custos com o tratamento de seus despejos.
As indústrias têxteis constituem fator de grande importância na eco-
nomia brasileira. Devido a sua grande expansão, nas últimas décadas,
prevê-se o aparecimento de leis mais rígidas regulando a qualidade de seus
efluentes.
Essas indústrias, para efeito de estudo de seus despejos, são agrupa-
das em 3 categorias principais: tecidos de algodão, de lã e sintéticos.
As fibras artificiais são produtos de modificações obtidas a partir da
matéria-prima natural orgânica (como o algodão e a lã). O início de sua
produção é bem anterior às sintéticas. No Brasil, são fabricadas as seguin-
tes fibras artificiais: raiom-viscose, raiom-acetato e polinósica.
As fibras sintéticas foram produzidas pela primeira vez durante a 11
Guerra Mundial a partir das poliamidas, poliacrílicos, poliésteres, polivini-
los e poliolefinas. No Brasil, presentemente, os tecidos sintéticos são feitos
de poliamidas, poliacrílicos ou poliésteres, pelas seguintes indústrias: Rho-
dia, Bayer, Dupont, Mitsui, Mafisa e Celanese. Os maiores produtores
mundiais de fibras sintéticas são: Dupont e Monsanto, nos EUA; Toyo
Rayon, no Japão; ICI e Courtalds na Inglaterra; AKU/VGF e Snia Viscosa
na Europa.
Os despejos gerados pela indústria variam à medida que a pesquisa e o
desenvolvimento produzem novos reagentes, novos processos, novos ma-
quinários, novas técnicas e, também, conforme a demanda do consumidor
por outros tipos de tecidos e cores.
13 . TECIDOS 321
320 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS

São intermitentes e se originam de descargas das unidades supracitadas.


É importante estabelecer uma diferença entre o processo de acaba-
mento e as operações de tecelagem que o precedem. A transformação da
fibra crua em tecido não acabado ou em fios é,essencialmente, uma opera- Engomação
ção a seco, com exceção da fase de lavagem da lã crua.
Entretanto, a operação de acabamento é a grande responsável pelos Os fios crus, chegam às unidades de engomação em rolos de urdume;
despejos líquidos, sendo a parte da indústria que mais nos interessa.
passam por uma solução de goma de fécula fervida e vão formar os rolos
As fibras de algodão são as mais populares e as mais importantes entre
engomados da tecelagem.
as fibras usadas pela indústria nacional. Suas excelentes características de
Os despejos são constituídos pelas águas de lavagem das panelas onde
absorção e o fato de serem agradáveis ao uso, aliadas ao seu preço acessí-
são preparadas as soluções de amido e pelas descargas das engomadeiras.
vel, contribuem para que o seu mercado se mantenha estável.
São altamente concentrados, têm DBO elevada, constituindo-se principal-
O mercado de lã e do raiom também se apresenta razoavelmente está-
mente de amido. O volume varia de 0,5 a 8 I/kg de material processado,
vel. As fibras sintéticas não celulósicas, tiveram seu consumo considera-
velmente aumentado. As fibras naturais combinadas com as fibras sintéti- enquanto o pH varia de 7 a 9.
cas estão se tornando cada vez mais consumidas devido ao seu custo e
aparência.
Tecelagem
É o processo pelo qual os fios são transformados em pano. Trata-se de
DESCRIÇÃO DO PROCESSAMENTO DOS TECIDOS DE processo seco, não ocorrendo produção de despejos.
RAIOM- VISCOSE, ALGODÃO, POLIÉSTER-ALGODÃO E
POLIÉSTER-NÁILON Chamuscagem
É a queima da penugem do pano, obtida pela passagem do mesmo
Matéria-prima sobre grelhas acesas.

Vem acondicionada em fardos de algodão, de raiom-viscose, de poliés- Desengomaçào e lavagem


ter ou de náilon. Com alguma freqüência, as fábricas também compram o
filarnento de poliéster.
O pano sai da unidade de chamuscagem e entra direto num saturador.
Este aparelho destina-se à embebição do pano com enzimas, detergentes
Preparo da fiação e fiação propriamente dita. alcalinos quentes ou sabões e emolientes dissolvidos em água, com a fina-
lidade de destruir as gomas. Após o período de embebição (2 a 10 horas em
O algodão é processado nos abridores, batedores, cardas, passadores, temperatura superior a 120°C) as enzimas destroem os amidos. A seguir, o
penteadeiras, maçaroqueiras, filatórios, retorcedeiras e conicaleiras.
pano passa por lavadeiras especiais.
Não há despejo industrial em nenhum desses processos.
Os despejos são formados principalmente pelos produtos da decompo-
sição da goma de amido e do reagente de hidrólise. O volume é relativa-
Tingimento de fios mente baixo e a DBO alta, podendo contribuir com 50% da DBO total.

Consiste em ferver os fios, em rolos ou em bobinas, em soluções de


soda cáustica e detergente (cozimento), em água corrente (lavagem),
Cozimento ("kiering") e lavagem
mergulhando-os, a seguir, em solução contendo corantes indanthrens e
naftóis (tingimento). Os fios tingidos em bobinas, vão direto para a tecela- O cozimento pode ser feito por método contínuo ou por cargas. O
gem e os tingidos em rolos seguem para a engomaçâo. Os despejos de cor processo contínuo cozinha o pano em jotas e lavadeiras continuamente.
forte, contêm, basicamente: soda cáustica exaurida, detergentes e sabões. Em ambos os métodos o cozimento é feito por meio de vapor, soda cáus-
tica e pequenas quantidades de produtos químicos diversos.
323
322 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 . TECIDOS

pejos do tingimento são variados, por causa dos diferentes tipos de coran-
tes e da maneira pela qual são aplicados: são volumosos, têm forte colora-
Alvejamento e lavagem ção e, alguns, podem ser tóxicos. Sua DBO é geralmente baixa, mas pode
atingir 3770 da carga total em algumas fábricas. Esses despejos, às vezes,
Nessa operação, utiliza-se água oxigenada e/ou cloro, com a finalidade apresentam considerável demanda imediata de oxigênio, devido aos agen-
de se obter a remoção da cor natural das fibras. tes de redução usados em alguns banhos de tingimento.
Os despejos são contínuos e contêm cloro, hipoclorito e peróxido. Os
que possuem cloro e hipoclorito têm características semelhantes: são for- L{/\·lI ge m
temente alcalinos e contêm matérias orgânicas removidas do algodão. A
contribuição desses despejos para a carga total de DBO pode atingir 10%, Os panos estampados, tingidos por processo contínuo e os que se des-
variando de 680 a 2 900 mg/1. Contêm, ainda, bissulfito de sódio ou ácido tinam direto ao acabamento, são lavados em ensaboadeiras. Nessas má-
sulfúrico fraco. quinas, os panos passam por 8 caixas. Das quatro primeiras caixas fluem
continuamente despejos altamente concentrados, em virtude de os panos
Mercerização e lavagem receberem gomas, corantes e outros produtos químicos. Os despejos das 4
caixas finais estão praticamente isentos de impurezas. Das ensaboadeiras
Consiste na embebição do pano em solução de soda cáustica forte, sai um grande volume de despejos, por isso deve-se estudar a possibilidade
durante um período predeterminado. O pano, durante à ernbebiçâo, é man- de usar novamente esses efluentes na indústria, como água de lavagem de
tido esticado por meio de correntes. Em seguida, é lavado em água com latas, de pisos e para refrigeração de lonas.
vapor. A soda cáustica (7-8 graus) é enviada ao recuperado r de soda.
Os despejos são contínuos, contribuindo apenas com pequena carga de
poluição. Vaporização (processo intermediário)

As vaporizadeiras são de dois tipos: as antigas, cujos despejos são


Secagem
constituídos por água mais ácido acético que são lançados na rede de esgo-
tos e as vaporizadeiras "Atos" que consomem água somente para umide-
É feita em secadeiras, constituídas por uma série de cilindros aqueci-
cer o vapor, não produzindo despejos.
dos com vapor. Não há ocorrência de despejos, já que a água condensada
desses cilindros volta para as caldeiras.
Acabamento
Estamparia
É a última fase no processamento do pano. Consiste na aplicação de
Os tecidos são estampados por meio de rolos gravados ou de quadros gomas e resinas que são secadas ou fixadas sob temperaturas controladas,
com corantes reativos, rapidogens, indanthrens e outros pigmentos. Os a fim de que o tecido receba o toque solicitado pelo comprador, o que é
despejos contêm corantes e em alguns casos soda cáustica e goma. feito por meio de processos mecânicos e químicos.
Os despejos são provenientes das lavagens do fular (cilindros), das
máquinas e do piso. Contêm uréia, formol, trifosfato, amido, estearato,
Tinturaria
óleo sulforicinado, emulsões de resinas polivinílicas e sais de magnésio.
O pano é passado por uma solução de tinta, fixado e lavado. O tingi-
mento é feito pelos processos contínuo e descontínuo. No contínuo, o DESPEJOS DIVERSOS
pano, depois de impregnado num banho contendo tinta e produtos quími-
cos, é espremido entre dois rolos e secado; a seguir, vai para o processo Os despejos provenientes das máquinas de impressão em cores e de
de vaporização. No processo descontínuo, o pano fica num movimento de acabamento, geralmente, têm pequeno volume, sendo decorrentes, principal-
vaivém, enrolando-se e desenrolando-se entre 2 cilindros, ao mesmo tempo mente, das operações de limpeza das máquinas e lavagem das caldeiras
que passa por um tanque contendo as tintas e produtos auxiliares. Os des-
324 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 • TECIDOS 325

sendo constituídos, em sua maior parte, de amido, corantes, gomas, graxas Tabela 13.1 - Volume dos despejos provenientes de uma indústria de
e resinas. tecidos de raiom-viscose, algodão, poliéster-algodão e de
poliéster-náilon
Despejos compostos

Os resíduos resultantes da composição dos despejos das várias seções Volume em m? [d


Origem dos despejos
encerram, principalmente, os seguintes compostos: '
- orgânicos: amido, dextrina, gomas, glucose, graxas, pectina, ál-
coois, ácido acético, sabões e detergentes; 80
Tingimento de fios
- inorgânicos: hidróxido de sódio, carbonato, sulfato e c1oreto.
Engomação
4
O pH dos despejos varia entre 8 e 11; têm uma turbidez coloidal acin-
zentada; a cor depende do corante usado com predominância; o teor de Desengomação e lavagem
864
sólidos totais varia de 1 000 a 1 600 mg/l; a OBO, de 200 a 600 rng/l: a I 200
alcalinidade total de 300 a 900 mg/l; o teor de sólidos em suspensão de 30 a Cozirrlento e lavagem
50 rng/l e o teor de cromo, às vezes, é superior a 3 mg/l, O volume é muito Alvejamento e lavagem I 728
grande, variando de 120000 a 380000 litros por 1000 metros de tecido I 037
processado (Tab. 13.1). Mercerização e lavagem
549
Estamparia
Despejos do processamento do algodão Tinturaria
37

Lavagem (ensaboadeira) 1 350


Despejos da engomadeira
Vaporização
5
Esses despejos têm OBO elevada e são constituídos principalmente
por amido. São muito concentrados, mas de pequeno volume, cujo valor 6854
varia de 0,5 a 7,84 litros por kg de produto processado. O pH varia de 7 a TOTAL
9,5.

Despejos da desengomação A Figura 13.1, apresenta o fluxograma do processamento dos tecidos


de algodão e sintéticos. As Tabs. 13.2 e 13.3 indicam as características e as
São formados principalmente de produtos da decomposição da goma cargas das várias unidades do processamento do algodão.
de amido e do reagente de hidrólise. O volume deste despejo é relativa-
mente baixo. A OBO pode ser muito alta, podendo contribuir com 50% da
DBO total.
DESCRIÇÃO DO PROCESSAMENTO DE TAPETES
Despejos da maceração
Matéria-prima
Contêm teores elevados de matéria orgânica e são fortemente alcali- O náilon, o poliéster, as resinas acrílicas, os corantes ácidos e ácido
nos. São constituídos de gorduras vegetais, graxas, pectina, fragmentos só- orgânico, constituem a matéria-prima utilizada na fabricação de tapetes.
lidos, amido, soda cáustica, barrilha, silicato e pequenas quantidades de O poliéster é comprado em rolos de mantas porosas e o náilon vem em
outros produtos químicos usados nos tanques de maceração.
pequenas fibras acondicionadas em fardos de 140 e 170 kg.
4iiIf"

326 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 - TECIDOS 327

Tabela 13.2 - Características dos despejos do processamento do algo-

Alcalinidade mg]! DBO ST


Despejos pH
Total C03 HC03 OH mg]! mgll

Despejos da engomadeira:
Forte 9,2 1040 248 800 O 37700 76976
Diretamente da máquina 8,9 660 O 660 O 36000 77 247
Ot:rOtCENTES.
- - - -
A-"IU)(), ENll\4AS.
_ -E~_"R)ttE:l!E
E eeoccros &fACVOU
Fraco 7,2 34 O 34 O 1800 4078
Lavagem das caldeiras 8,4 52 12 40 O 1885 3308
Despejos de desengomação.
Goma de amido 7,2 202 O 202 O 5130 23000
Despejos de maceração:
Tanque sob pressão 13,1 20340 1860 O 18480 1840 26740
Tanque aberto:
Primeira fervura 10,0 10000 7800 2200 O 3750 19642
Segunda fervura 9,8 7400 5800 1600 O 2280 16064
TIHTAS,ANIUNAS,BICARIIONATO.SOOAEtlRlIA I
Refervedor contínuo 13,1 20400 6600 O 13800 5800 39605
--------------~ Lavagem a quente 11,8 265 90 175 O 63 366
I
I /
Despejos do alvejamento:
\
I ---..
!~
-- -~u1uRlA ~'~'!".~~.,.,.~OO- ••.•.
Cloro 9,5 290 90 200 O 119 2310
\ t
L- - - - - - - - - J VUIA, FOIOfOL. lltl""OSI"ATO. NA(;N(sIO, OfLUOU
Peróxido 9,6 1 265 560 705 O 1200 9040
- - - - - --roLlrn';;;,cAs- - --- -- Despejo de mercerízação 12,1 9282 275 O 9007 15 10398
TECiDos ACABADOS DE RAIO_~.VISCOSE, ALCOOAO. POUtsTER ALGODÃO
Lavagem 9,6 125 110 O 15 52 541
E DE POUtsrER NÁILON
W'~·i.~~:itsNS _ _ _ _ _ _ _ _ _ _
Despejos de tingimento:
Anilina preta 38 O 38 O 40 831
CORPO DE ÁCUA
RECEPTOR Básico 6,3 65 O 65 O 167 628
Fig. 13.1 - Despejos provenientes do processamento dos tecidos de algodão e Desenvolvimento 6,9 200 8140
sintéticos Direto 7,5 81 O 81 O 337 9400
Tinturaria do náilon Indigo - lavagem alcalina 11,9 2700 1910 790 O 2080 5834
Lavagem indigo 11,25 2200 1400 800 O 928 1 132
Os fardos são abertos e as fibras são transferi das manualmente para as Naftol 9,5 1310 1084 O 226 108 8475
"cestas" de náilon. Estas cestas são cilindros metálicos com furos laterais Banho contendo enxofre 10,5 4200 3600 600 O 3000 36980
e nas extremidades.
A cuba 9,6 714 660 O 54 129 1770
À medida que o náilon vai sendo transferido para as cestas, é umide- Despejo da lavagem do de-
cido e apisoado. Quando as cestas estão cheias, são transferidas, por meio partamento de corantes 9,0 193 O 193 O 133 2880
de uma talha mecânica, para uma máquina de tingir. O tingimento é feito Acabamento:
por meio de corantes orgânicos ácidos e em meio ácido. Forte (da máquina) 8,8 490 65 425 O 13 600 41646
Os despejos são ácidos, coloridos e contêm substâncias orgânicas pro- Fraco (lavagem) 7,1 37 O 37 O 680 2050
venientes dos corantes ácidos e do ácido orgânico. A estimativa de vazão
dos despejos é: 12 m3/tingimento (tingimento e lavagens); 3 tingimentos/
dia: 36 m3/d.
328 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 - TECIDOS 329

Tabela 13.3 - Cargas dos despejos do processamento do algodão Resil/og(,1I1

Processo
-
Despejos
Litros de
despejos
kgdeDBO
por 1000 kg
kgde
sólidos
-
-
Populaçl1o
equivalente
Consiste na aplicação de resinas acrílicas ao material entrelaçado
sai da agulhagem. O tapete passa por um banho contendo resina, sendo
que

totais por
pH DBO Sólidos totais por quilo de proces- 1000 kg por 453 kg comprimido entre dois rolos. A seguir, entra numa estufa para secagem e
(mg/I) [mgfl] processado sado preces- de Preces- polimerização. Os despejos são ligeiramente alcalinos e a vazão é de 3
sado soda
Engomação de fio (*) 7,0-9,5 620-2500 8500-22600 0,5-7,84 0,5-5,0
m3/d.
47~7 2-30
Desengomação - 1700-5200 16000-32000 2,5-9,17 14,8-16,1
Maceração 66-70 90-100
10-13 680-2900 7600-17400 2,59-14,18 1,5-17,5 19-47
Limpeza - 10-105
Alvejamento (faixa) 8,5-9,6
50-110
90-1700
- 19,18-42,53 1,36-3,Q2 - 8-18 produto final
2300-14400 2,50-124,26 5,0-14,8 38-290
Mercerização 5,5-9,5 45~5 30-90
600-1900 232,7-308,2 10,5-13,5 185-450 60-80
Tingímento: O poliéster constitui a base do tapete e o náilon a superfície.
Anilina preta - 40-55 600-1200 125,1-191,8 A Figura 13.2 apresenta o fluxograma da fabricação de tapetes.
5-10 100-200 40~0
Básico 6-7,5 100-200 500-800 150,1-300,2 15-50 150-250 100-400
Desenvolvimento
de cor 5-10 75-200 2900-8200 142,2-208,5 15-20 325~50 90-120
Direto 6,5-7,6 220~00 2200-14000 14,18-53,4 1,3-11 ,7 25-250 25-75
lndigo 5-10 90-1700 1100-9500 5,0-50,0 1,8-9,5 21~3 IO~O
Naftol 5-10 15~75 4500-10700 19,2-140,1 2-15 200~50 13-80
Enxofre 8-10 11-1800 4200-14100 24,2-213,5 2-250 300-1200 14-1500
A cuba 5-10 125-1500 1700-7400 8,34-166,8 12-30 150-250 75-175

(*) Despejo de indústria com tecelagem.

S('C'og('1I1 do náilon OESPEJOS FRACOS I


(-lIAIXAVAlÃO -,

I
- Centrifugação: é feita a fim de remover o excesso de água; o des- I
pejo é fraco e de volume desprezível. I
- Cilindros superaquecidos: estes cilindros, superaquecidos a vapor, I
completam a secagem do náilon. I
I
Mistura das fibras I
I

I
Fibras de náilon de várias cores são misturadas em várias proporções, I
com o fim de se obter a cor desejada para a superfície do tapete. I
I
I
Fabricação das mantas de náilon I
~'P,!,!o!..A!&AlJ!!OL1

As fibras de náilon, já misturadas


e transformadas em mantas porosas.
em várias proporções, são agulhadas
CONVENCÕES'
CORPO DE ÁGUA
,
I
I

SUPRIMENTO DE A'GUA RECPTOR


Fabricação dos tapetes SUPRIMENTO DE VAPOR

DESPEJOS INDÚSTRIAIS
As mantas de náilon são agulhadas com as mantas de poliéster.
obtendo-se, desta forma, um entrelaçamento entre as mesmas. Fig, 13.2 - Fluxograma do processamento de tapetes na indústria "X"
331
13. TECIDOS
330 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS

uma nova solução de tingimento. As águas de lavagem da seção de merce-


TRATAMENTO DOS DESPEJOS rização, podem ser novamente usadas para preparar soluções de limpeza,
branqueamento com cloro e banhos para umidecer o pano.
No tratamento dos despejos industriais das fábricas de tecidos de al- Quando se emprega um desses processoS de reuso da água, é usual
godão e sintéticos, devem ser consideradas as seguintes alternativas: tratá-Ia por sedimentação e/ou filtração ao final de cada reciclagem, vi-
- Redução dos despejos no processamento.
- Lançamento dos despejos na rede pública de esgotos. sando melhorar sua qualidade.
Cuidados especiais devem ser tomados quando da adoção de lavagem
- Tratamento dos despejos em área da indústria. em contra-corrente ou reuso de água, no sentido de que as substâncias que
possam prejudicar o processo seguinte sejam efetivamente removidas. Por
Redução dos despejos no processamento exemplo: as substâncias empregadas para dar brilho fluorescente (agentes
óticos) e alguns agentes empregados no acabamento, além de compostos
A redução dos despejos no processamento acarreta, em muitos casos,
salinos, devem ser removidos antes do reuso dos despejos.
vantagens econômicas. Ela pode ser obtida através da aplicação das se-
guintes medidas:
- redução do volume dos despejos; Redução de produtos químicos
- redução de produtos químicos;
Estima-se que 90% das cargas poluidoras das fábricas de tecidos sejam
- recuperação e reutilização de produtos químicos;
provenientes dos processos em que se usam pro9Utos químicos. Assim,
- modificação nos processos de fabricação;
conseguindo-se reduzir a quantidade de substâncias químicas empregadas
- troca de produtos químicos;
no processamento do tecido, estar-se-á diminuindo a carga de poluição.
- boa manutenção da indústria, no que se refere ao uso da água.
Freqüentemente, uma grande margem de segurança é empregada nas ope-
rações de fabricação do pano, com a finalidade de se eliminar a necessi-
Redução do volume dos despejos dade de reprocessá-lo. Como a necessidade de reprocessamento ocorre
apenas de 1% a 5% das vezes, pode-se empregar apenas a quantidade ne-
A preocupação primordial e primária deve ser a de gastar o mínimo de cessária de produtos químicos, sem prejudicar a produção.
água possível. Freqüentemente, tem-se reduzido as quantidades de produtos quími-
Um dos recursos freqüentemente utilizados para se obter a redução do cos empregados de 1/5 a 1/2 da quantidade original, obtendo-se redução da
volume dos despejos é a lavagem do pano em contra-corrente. Pode ser
carga poluidora em 30%.
empregada nos processos que trabalham em fluxo contínuo, como, por
exemplo, nas enxaguaduras após o branqueamento do algodão. Assim,
quando o pano atingir a última unidade, conterá um mínimo de impurezas Recuperação e reutilização de produtos químicos
naturais e/ou produtos químicos. Para remover esta pequena quantidade de
Essa técnica é usualmente empregada pelas indústrias de tecidos, pelo
impurezas que sobrou, utiliza-se água limpa que irá originar despejos
pouco concentrados e em pequeno volume. Estes despejos pouco concen- menos na recuperação de soda cáustica.
trados são reutilizados nas unidades precedentes e também na lavagem de
tecidos com grande quantidade de sujeiras. Os despejos são mantidos em Modificação nos processos de fabricação
circuito fechado, até que se necessite usar a água da primeira unidade do
processo. Quando isto se dá, os despejos pouco volumosos, mas com Esse é outro método que pode ser utilizado para eliminar despejos
grande carga poluidora, são eliminados ou usados para completar a desnecessários. O processamento contínuo, via de regra, ocupa menos es-
solução-mãe. paço e requer menos água e substâncias químicas por kg de pano traba-
Outra maneira de reduzir o volume dos despejos consiste em recircular lhado. Sempre que possível, devem ser combinados diversos processamen-
a mesma água várias vezes antes de descarregá-Ia. Esse esquema pode ser tos, como, por exemplo, o tingimento com a lavagem no acabamento das
empregado nos processos descontínuos. Por exemplo, as águas usadas na fibras sintéticas e a desengomação com a lavagem das fibras de algodão.
rinsagem dos panos, após o tingimento, podem ser usadas para completar
332 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 . TECIDOS 33]

Uma modificação drástica do processo consiste em jamais lançar os prevendo a possibilidade de, em casos de necessidade, desviar os despejos
despejos nos corpos de água, mas sim bornbeá-Ios para um tanque de ar- para tanques de armazenagem de emergência. Todavia, uma boa manuten-
mazenagem onde são guardados e novamente usados como água de ção depende primordialmente dos esforços, cooperação e boa disposição
"make-up" da solução similar. do pessoal encarregado da implementação dessas medidas, a fim de conse-
Outra modificação, também drástica, consiste em transferir o calor de guir uma redução satisfatória da carga poluidora. A implantação de uma
alguns despejos para a água a ser aquecida, o que acarreta economia de política de boa manutenção pode redundar em diminuição desta carga em
combustível e diminuição da poluição térmica. Outra modificação no modo 5% a 10%, em uma fábrica de tecidos.
de fabricação, refere-se ao processamento com solventes. Embora a lava-
gem da lã com solventes seja empregada há bastante tempo, prevê-se a Lançamento dos despejos na rede pública de esgotos
utilização de solventes também para lavagem e desengomação do algodão,
bem como para o tingimento e acabamento de todos os tipos de fibras. Com a expansão da rede de esgotos nas cidades, essa é uma possibili-
O processamento com solventes resulta numa redução drástica da dade que deve ser levada em consideração por ocasião do balanço final das
carga poluidora, uma vez que esses solventes usam pouca água - ou despesas com o tratamento, pois o método mais econômico e mais simples
mesmo nenhuma, em alguns casos - além de permitir o tingimento e aca- de se tratar os despejos das fábricas de tecidos consiste em enviá-los à rede
bamento em menos tempo que no sistema convencional que emprega gran-
pública de esgotos para serem tratados nas estações municipais de trata-
des quantidades de água. As impurezas naturais solúveis são coletadas em
estado pastoso, nos tanques de purificação, ao invés de serem lançadas na mento de esgotos.
Normalmente, o cálculo da tarifa de despejoslindustriais (para efluen-
rede geral de esgotos. Os efluentes fortemente alcalinos e carregados de
tes lançados na rede de esgotos) é baseado no volume, OBO e MS. Como a
sabões da lavagem do algodão e desengomação são também eliminados e o
consumo de água decresce na proporção de 30: 1. OBO e MS dos despejos dessas indústrias são inferiores à OBO e MS dos
esgotos domésticos, a tarifa seria aplicada apenas na parte referente ao
Troca de produtos químicos volume.

Um método também comumente usado para se obter a redução da Tratamento dos despejos na área industrial
carga da OBO, é trocar os produtos químicos com DBO elevada por outros
com pequena OBO. Apenas consultando a relação dos produtos químicos Caso haja impossibilidade de os etluentes das indústrias de tecidos,
empregados na indústria têxtil e sua OBO, o analista poderá determinar mesmo em futuro próximo, serem lançados na rede pública de esgotos,
quais os produtos químicos que poderão substituir os de DBO elevada. deverão ser tratados na própria fábrica.
Devido à variedade e à concentração de produtos químicos encontra-
Boa manutenção da fábrica no que se refere ao uso da água dos nesses despejos, bem como às variações súbitas de vazão, o trata-
mento deverá ser cuidadosamente estudado. Os principais métodos são os
Todas as operações da fábrica que usam água, devem ser cuidadosa- seguintes:
mente controladas, com o fim de minimizar os derrames acidentais bem
como para evitar o desperdício de porções demasiadamente grandes de so-
Equalização
luções. Ocorrendo derrames acidentais de substâncias tóxicas, é boa
prática diluí-los com outros despejos a fim de prevenir cargas de choque na Os despejos são bombeados para um tanque de equalização, ou para
estação de tratamento. Se existir a possibilidade de eliminar as sujeiras dos uma lagoa, com tempo de detenção de 24 horas.
pisos e das paredes bem como as gorduras e ferrugem das máquinas, ha-
verá uma diminuição das águas de lavagem.
U ma instalação pode ser feita visando o mínimo de perdas com Neutralização
derrames e rachaduras, pela implantação de paredes retentoras ex-
Os despejos da indústria têxtil são geralmente alcalinos, o que acarreta
tras, comportas adicionais e, também, implantação de canalizações
a necessidade de abaixamento do pH, a fim de satisfazer às condições exi-
gidas pelo tratamento biológico.
334 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 - TECIDOS 335

Os agentes químicos por excelência para neutralizar esses despejos,


são o ácido sulfúrico e o dióxido de carbono.
DESPEJOS

Tratamento secundário (tratamento biológico)


ES~OTOS
DOMéSTICOS

Os dois métodos de tratamento biológico mais usados são: filtros bio- +


NUTRIENTES
lógicos e lodos ativados. LAGOA DE
HOMOGENEIZA - (COMPLEMENTAÇÁOI
Pela aplicação de qualquer desses dois processos, a DBO pode ser
-çÃO
efetivamente reduzida aos níveis exigidos por lei, contanto que o pH seja
mantido dentro de certos limites e a temperatura seja razoavelmente cons-
tante.
Atualmente, o melhor processo para tratamento dos despejos da indús-
tria têxtil é, sem dúvida alguma, o processo de lodos ativados por aeração
prolongada. TANQUE DE

Como exemplo de indústria que utiliza o tratamento por meio de lodos AERAÇÃO
ativados com aeração prolongada cita-se: John Shaw & Sons Ltda., Grâ-
Bretanha (ver Fig. 13.3). Seus despejos são enviados a uma lagoa de ho-
mogeneização com tempo de detenção de 36 h, dali escoando para caixa de ~
o
grelhas, medidor Parshall e tanque de aeração. Do tanque de aeração, o
o
escoa para um decantador com retirada automática de lodo. O efluente ~
líquido tratado, escoa para um rio próximo à fábrica e, em certas épocas do
ano, é c1orado. } TANQUE DE

O lodo biológico retorna continuamente para o tanque de aeração e, DECANTApÃO

uma vez em cada 2 anos, o excesso de lodo é coletado em um carro-pipa e


enviado a uma estação de tratamento de esgotos. Os nutrientes são conti-
nuamente adicionados no tanque de aeração.
Os despejos da indústria têxtil de algodão, também podem ser tratados
por precipitação química. Neste caso é comum prever-se o tratamento bio-
I~ EXCESSO DE LODO

RECALQUE
lógico dos esgotos domésticos da indústria, em separado.
CLORAÇÃO
Os equipamentos e dispositivos para a precipitação química de despe-
jos são: reservatórios, tanque para mistura rápida de todos os despejos, ~-;'O_PIP~~

tanques de sedimentação ou lagoas, alimentadores dos produtos químicos,


dispositivos para controle da alimentação, misturadores, medidores de pH, ~~ o~
tanque de aeração, aparelho para as manobras com o lodo e dispositivos
para a estocagem dos produtos químicos.
Os produtos químicos usados freqüentemente são: alúmem, sulfato fer-
roso, cloreto de cálcio, cal, cloro, ácido sulfúrico. O sulfato ferroso e a cal
são os mais usados e os mais econômicos.
Muitos coagulantes são específicos para determinados despejos. As-
sim, por exemplo:
---- RIO

Cal: para despejos de tingimento com anilina preta e Indigno Fig. 13.3 - Fluxograma do tratamento biológico dos despejos das fábricas de teci-
- Acido sulfúrico: para despejos de corantes do naftol. dos de algodão e sintéticos (lodos ativados com aeração prolongada)
336 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13 - TECIDOS 337

- Sulfato ferroso: para despejos de corantes com enxofre.


- Sulfato ferroso com cal: para despejos do acabamento da indústria
de algodão e para despejos de vários tipos de tingimento. DESPEJOS I .1 ~~~~CO
A Fig. 13.4 apresenta o fluxograma do tratamento químico das fábricas
de tecidos de algodão e sintéticos.
TANQUE DE
Ca(OHh AERAÇÃO
TECIDOS DE LA
Descrição do processo de fabricação
TANQUE DE
AI, (So.h DECANTAÇÃO
Abertura e limpeza
EXCESSO DE
LODO
A lã é espalhada sobre uma correia transportadora onde as peças, cor-
respondentes a cada tosquia, são misturadas para homogeneização. O TANQUE DE
Fe, SO. AERAÇÃO
transportador leva a lã a uma série de máquinas denteadas de abrir e limpar
onde as fibras são delicadamente separadas e as areias, grãos, gravetos,
etc, são retirados. Algumas impurezas permanecem aderidas à gordura da
lã.
Depois de haver passado pelos limpadores, a lã é mergulhada em má-
quina para lavagem contínua.
A lã é preparada para a próxima operação, sendo seca e reembalada, TANQUE DE
DECANTAÇÃO
e, se necessário, carbonizada.

Fiação
EFLUENTE

A lã seca, colocada numa correia transportadora, é borrifada com uma


emulsão de óleo e água sendo, depois, penteada e transformada em fios.
Tingimento

A lã é colocada em tanques ou caldeiras de tingimento, comumente de


madeira ou aço inoxidável. A caldeira é enchida com água; adiciona-se,
depois, sal, ácido e corante e ferve-se a solução por cerca de uma hora. A LEITO DE
SECAGEM
seguir, o material é lavado e seco. DO LODO

As tinturarias, geralmente, realizam alguns processos secundários que


têm relação com o tingimento. Dentre eles está o da lavagem de fios e EFLUENTE

fazendas para remover o óleo da fiação o qual poderia causar uma resistên-
cia à absorção do corante. ATERRO
Para corrigir erros de tintura e mudanças de cor, é necessário, muitas
vezes, alvejar a lã e assim prepará-Ia para receber tingimento com novo
Fig. 13.4 _ Fluxograma do tratamento químico dos despejos das fábricas de teci-
tom. O alvejamento envolve o uso de agente redutor em solução alcalina
dos de algodão e sintéticos
ou ligeiramente ácida, o que vai depender do agente redutor.
13· TECIDOS 339
338 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS

etapa no acabamento é o apisoamento, no qual as fazendas são embebidas


com solução de sabão e passam por uma série de moinhos de rolo até que
I FARDOS DE IA I fiquem compactas. A seguir, os tecidos são lavados e secos.
! A Figura 13.5 apresenta o fluxograma geral de indústria têxtil de lã e a
Tabela 13.4, indica as características dos seus despejos.

Tabela
- --
13.4 - Características dos despejos das fábricas de tecidos de lã
~
Origem m3 de despejo
DBO pH Odor Cor
por 1 000 kg de Composiçllo
do mg]!
lillimpa

J
Despejo

0,5% de gordura 10,2 desagradável marrom


Lavagem com 6000
!:;: água 66 a de lã,O,5% de sais
)l 10000 de sugo, pedri-
-< nhas e carrapicho.
Q

4,0 levemente ácido variável: de marrom


~ Tingimento I 400 1% de álcali, 0,1 %
fraco a forte

~ -----r ácido 25 a
4000
de ácido mineral
ou orgânico, 0,2%

..G,~·
de sal.
l r
~n
CORREIA
'~'~PORT ADORA
--r l
OLEOEÁGUA
1 Carbonização 4,2 20 a 50 5% de ácido sul-
fúrico.
-
1,0 acre nenhuma

._-_.- -

--1--'::;~-- t--~---------'----.,
0,2% de óleo de 9,5 saponáceo marrom claro
Lavagem de 42 250
fazenda ou fio a fiação, 0,1 % de
350 álcali, 0,05% de
LAVAGEM DE sabão.
-
FIOS ALVEJAMENTQ FIOS OU FAZENDA
~ Efeitos dos despejos lia qualidade da água
~
g ÁGUA, SAL. ÁCIDO E
São tóxicos à vida aquática.
~ CORANTE
Diminuem o conteúdo de oxigênio dissolvido.
Modificam as propriedades e características físicas dos cursos
~ d'água.

Trut amento dos despejos das fábricas de tecido de là

r ACABAMENTO
1 Redução dos despejos

o controle e modificação do processo são feitos de maneira que as


substâncias mais nocivas não permaneçam no despejo. Entre os métodos
DESPEJO
INDUSTRIAL empregados para redução da carga poluidora dos despejos das fábricas de
tecidos de lã podem-se citar:
Fig. 13.5 - Fluxograma de indústria têxtil de lã substituição dos sabões por detergentes (muitos detergentes têm
DBO muito menor do que sabões), baixando a carga de demanda de
Tecelagem e acabamento
oxigênio, de 30 a 45%;
substituição do ácido acético por ácidos minerais e sulfato de
A tecelagem é um processo seco, não produz despejos líquidos. amõnio (que têm DBO muito menor do que o ácido acético) no
O acabamento é aplicado mais especialmente nas fazendas. A primeira tingimento, o que reduz a DBO do efluente da fábrica de 2 a 15%;
3-40 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 341
13 - TECIDOS

medida precisa da quantidade de carbonato de sódio usada nos la- Tratamento dos despejos
vadores, o que reduz a quantidade de álcali do efluente;
- o controle do pH no tingimento, através do qual poder-se-á reduzir Os métodos principais de tratamento, comumente empregados, in-
a quantidade de ácido do efluente; cluem as seguintes operações:
- o controle cuidadoso da quantidade do agente redutor usada no - Homogeneização do fluxo.
tingimento (que na prática é geralmente maior que a necessária), já - Recuperação da gordura da lã.
que esses agentes consomem muito oxigênio. - Precipitação química:
• por adição de ácido sulfúrico e alúmen até pH 6 quase todos os
Recuperação de subprodutos
sólidos podem ser precipitados;
Nos despejos das indústrias de lã há alguns produtos que podem ser • pela adição de 1 kg de cal e 3 kg de cloreto férrico em cada 8,0 m3 de
economicamente recuperados, reduzindo o grau de tratamento do despejo despejos, já foram obtidas remoções de 83% de sólidos em suspensão e
e o custo de fabricação: 72% de DBO;
- Recuperação de fibras de lã do despejo - a separação das fibras, • pela adição de cal e sulfato de ferro;
que entopem tubulações e equipamentos é feita com peneiras vibra- • por cloraçâo pode-se obter precipitação de matéria orgânica em sus-
tórias: as fibras pequenas recuperadas podem ser novamente usa- pensão e dissolvida.
das. - Secagem do lodo resultante da preoipitaçâo.
Recuperação da gordura de lã - os métodos padrões são baseados em _ Tratamento biológico do líquido claro resultante da precipitação
dois princípios: química.
A lagoa é o substituto mais barato do clarificado r e do filtro biológico,
• Circulação contínua da solução de lavagem através de extratores
centrífugos para remover a gordura que exceda a determinado li- mas pressupõe a disponibilidade de área de terreno para reter os despejos
durante o tempo necessário para a sedimentação e absorção do oxigênio do
mite. A solução, assim tratada, volta às máquinas de lavagem e
passa depois, novamente, pelos extratores. ar.
Para que os despejos da indústria da lã possam ser tratados em filtros
• Tratamento da solução de lavagem de precipitação química, por
exemplo, de quebra por ácido ou pela adição de sais de cálcio para biológicos, é necessário ajustamento do pH.
separar a gordura. A gordura é responsável por cerca de 80% da
DBO do despejo da lavagem da lã com alto teor de gordura. Tratamento em separado do despejo da lavagem da lã.
Tratamento com esgoto doméstico
Os despejos da lavagem da lã são os mais concentrados da indústria
Pode ser feito desde que se observem certos princípios: têxtil.
- Homogeneização dos despejos. Os 3 métodos de tratamento usados são:
- Relação despejo-esgoto relativamente constante. - Tratamento por quebra de ácido.
Como exemplo, cita-se uma grande fábrica que emprega os princípios _ Tratamento por hipoclorito de cálcio.
acima enumerados, lançando o despejo correspondente a 140 000 quilos de _ Tratamento por c1oreto de cálcio com dióxido de carbono.
lã, que são lavados e tingidos por semana, no sistema de esgotos de uma Esses tratamentos removem mais de 85% de sólidos em suspensão e
comunidade de 80 000 pessoas. Foi construído um grande reservatório de mais que 42% de DBO dos despejos da lavagem da lã.
concreto capaz de armazenar todos os efluentes da fábrica, corresponden-
tes a um dia de atividade. Nele, os despejos de tingimento e de lavagem se
neutralizam parcialmente e grande parte da matéria em suspensão se depo- Tratamento em separado dos despejos do tingimento.
sita no fundo. Depois de enchido o reservatório, abre-se uma válvula, de
modo que o poço seja descarregado vagarosa e uniformemente na rede de Os despejos do tingimento são ácidos, contêm pouca matéria em sus-
esgotos, por um período de 12 horas, não afetando a estação de tratamento pensão e podem ser altamente coloridos. Os métodos empregados no tra-
de esgotos da cidade.
tamento destes despejos são:
342 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS 13· TECIDOS 343

Passagem dos despejos em leitos de carvão ativado; o carvão ab-


sorve a cor da solução e pode ser regenerado e usado várias vezes.
Remoção de cor pela cloração. EMISSÁRIO PRINCIPAL

Neutralização do ácido do despejo com cal e passagem da solução fSGOTOS DE !!jIPLEY • I


por material poroso.
Uso de terra "fuller " e bauxita ativada como adsorventes. I .,MATERIAL DECANTADO

Coagulação com cal e sulfato ferroso para remoção de cerca de


70% da DBO.
I ., MATERIAL GRAOEADO
- Tratamento em lagoas de oxidação para remoção de cerca de 92%
da DBO.
- Tratamento por filtros biológicos e lodos ativados. L~OO

EXCESSO
A INDÚSTRIA DA LÃ E AS CONSEQÜÊNCIAS ADVINDAS DO .4CIOV SUlFÚRI CO

LANÇAMENTO DE SEUS EFLUENTES NA ESTAÇÃO DE TRA-


TAMENTO DE ESGOTOS DE BRADFORD
Bradford é o maior centro da indústria de lã da Inglaterra, sendo, tam- LÕOO DAS ÁGUA15

bém, um dos maiores no gênero, em todo o mundo.


A lã bruta é conduzida a Bradford para ser processada. Após sua clas- ESGOTOS DE BAILDON,
sificação e antes dos processos de penteadura, é lavada com a finalidade de GUISElEY

E YEADON

se obter a remoção de qualquer traço de sujeira e gordura natural. Para a


lavagem da lã, utiliza-se o processo tradicional em reservatórios. A lã é TANQUES DE
EOUIUBRIO
agitada continuamente em água quente com soda, passando por uma série
de tanques de lavagem. A sujeira é removida à medida que a lã vai sendo
torcida e espremida ao passar de um para outro tanque.
No fim do ciclo de lavagem, o primeiro reservatório que contém a
maior parte das sujeiras e das gorduras, é esvaziado. O líquido contido nos
reservatórios remanescentes é bombeado para o estágio precedente, fi-
GORDURA DE LÃ
cando pronto para a lavagem de mais lã, após complementação com mais CLASSE"A·
soda e sabão.
O líquido contido no primeiro reservatório pode ser disposto de várias
. maneiras mas, geralmente, é escoado para tanques de decantação onde a CL~~O I • I
areia, que saiu na lavagem da lã, é decantada. A retirada da areia decan-
tada é intermitente, sendo feita por meio das mesmas máquinas usadas FERTILIZANTE ORGÂNICO

para esvaziar e limpar bueiros.


Os despejos decantados são lançados na rede pública de esgotos e tra-
tados na Estação de Tratamento de Esgotos de Esholt. O pré-tratamento,
em algumas indústrias, consiste de: -- ,..- --'=!."~ ~~ ..~~-~ ~:-~.-~.--~ ~
---~ -_-. ==-----
- extração, por centrifugação, dos glóbulos de lanolina, para serem
usados nas indústrias farmacêuticas e de cosméticos;
extração da gordura da lã - conhecida como "gordura marron de
Yorkshire" - é obtida pela aplicação de ácido sulfúrico nos despe-
jos. A acidulação destrói o sabão e precipita, como lodo, a gordura Fig. 13.6 - Estação de tratamento de esgotos de Esholt
344 MANUAL DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUÁRIAS INDUSTRIAIS

e outras substâncias sólidas que estavam emulsionadas. O lodo é


removido, fervido e filtrado em filtro-prensa, para extração da gor-
dura da lã. O efluente do decantador é lançado na rede pública de
esgotos.

Estação de Tratamento de Esgotos de Esholt


14
ACABAMENTO DE METAIS
Os esgotos domésticos misturados com os efluentes da indústria da lã,
possuem altas cargas de DBO e MS. Em Esholt, a redução dessa grande
carga de DBO e MS foi obtida adotando-se, como pré-tratamento, a recu-
peração da gordura da lã por meio de ácido sulfúrico, da mesma maneira
como é obtida dentro da indústria.
Dessa maneira, 80000 rn-/dia de águas residuárias são tratadas com GENERALIDADES
ácido sulfúrico. Seu consumo é tão grande (10 000 t/ano) que foi cons-
truída, dentro de Esholt, uma fábrica moderna para produção desse ácido. A Galvanotécnica é o método de revestimento, por processos quími-
O lodo e a gordura retirados dos decantadores (após reação com ácido cos e eletrolíticos, de superficies metálicas com outras superficies metáli-
sulfúrico) são fervidos e filtrados em um dos 140 filtros-prensa existentes. cas, com a finalidade de proteger certos metais da ação da corrosão, au-
O bolo filtrado (13 000 t/ano) é transformado e vendido como fertili- mentar a espessura e dureza de certas peças e para embelezamento.
zante. A gordura extraída (8 000 t/ano) é retirada e vendida para ser desti- A Galvanotécnica envolve duas partes: a Galvanoplastia e a Galvanos-
lada e transformada em ceras ou óleos ou é usada na produção de uma tegia.
grande variedade de subprodutos (graxas, preventivos de ferrugem, etc). Quase todo o serviço galvanotécnico se processa em tanques. Há ba-
O efluente dos decantadores são tratados em filtros biológicos, antes nhos ácidos, alcalinos e neutros. Existem dois tipos de banhos: banhos de
de serem lançados no Rio Aire. imersão simples, nos quais as peças são simplesmente imersas durante
A Figura 13.6, apresenta o fluxograma do tratamento dos despejos das algum tempo, sem ligação elétrica e banhos eletrolíticos nos quais a depo-
fábricas de tecido de lã, na Estação de Tratamento de Esgotos de Esholt, sição metálica ou a limpeza de peças se processa por intermédio de cor-
Inglaterra. rente elétrica. Os banhos eletrolíticos, por isso, necessitam de tanques
equipados com barras de cobre e latão, apoiados por isoladores. A deposi-
ção eletrolítica se processa pela aderência do metal que se desprende do
anodo atravessando o banho (eletrólito).
Para cada metal a galvanizar, há um banho específico. Estes banhos
são vendidos já prontos, com fórmulas patenteadas ou são preparados na
própria indústria.
Ao se proceder eletrodeposição de um metal sobre uma peça, esta
deverá entrar no banho rigorosamente limpa. Para se desoxidar peças,
usam-se soluções de ácido clorídrico ou ácido sulfúrico ou, ainda, mistura
destes dois. Outros ácidos também podem ser usados na decapagem de
peças com maior ou menor eficiência.
As possibilidades de revestimento de um metal qualquer por outro me-
tal, são resumidas a seguir:
O cádmio pode ser revestido diretamente por: estanho, cádrnio,
cobre ácido e cobre a cianeto. O níquel pode depositar-se diretamente,
mas, a eficiência é maior quando for intercalada uma camada intermediária
r
Capa: PEDRO MARCIO BRAILE
Criação: MARIA JOSÉ CAVALCANTI
JOSÉ EDUARDO W. A. CAVALCANTI
Arte: ARIEL SEVERINO

Ilustrações:
IDELMA T. PICOLO
JOSÉ APARECIDO DA SILVA

Direitos reservados pela


CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
São Paulo, Brasil, 1993.

É proibida a reprodução total ou parcial por quaisquer meios, sem


a autorização escrita da CETESB.
Manual de Tratamento de Águas
Residuárias Industriais
FICHA CATALOGRÁFICA
(Preparada pela Biblioteca da CETESB)

B799m Braile, Pedra Mareio


Manual de tratamento de águas residuárias industriais / Pedro Mareio
Braile e José Eduardo W.A. Cavalcanti. - São Paulo:
CETESB, 1993.

764 p. : il. ; 21 em

Bibliografia.

I. Despejos industriais - tratamento e disposição final 2. Efluentes


industriais - tratamento I. Cavalcanti, José Eduardo W.A. 11. Título.

y
o CDD (18 ed.)
CDU (2.ed. medo port.)
628.540 2
628.54 : 628.33 Companhia
•••
CETESB

de Tecnologia de Saneamento Ambiental


Seio Paulo - Brasil
Impresso no Brasil Printed in Brasil 1993

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