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Bachrach, A. J. (1975) - Introduà à o à Pesquisa Psicolã Gica
Bachrach, A. J. (1975) - Introduà à o à Pesquisa Psicolã Gica
bachrach
In tro d u çã o à
m
i ; i ■. ï
e.p.u
editora pedagdgica e universitária ltda.
1 ^ l l 1
Pesquisa não é estatística. Muitos estudantes assus
tam-se e se afastam da agradável realização da pes
quisa porque a igualam às complicadas manipula
ções estatísticas. A estatística é, apenas, um instru
mento de pesquisa, necessário para a elucidação de
alguns dados científicos.
A motivação para a pesquisa reside na curiosidade,
pois, como diz Pauling: “ A satisfação da própria
curiosidade é uma das maiores fontes de felicidade
na vida” .
Na presente obra o Autor analisa, de modo claro e
sucinto, os métodos fundamentais da pesquisa, as
características e os objetivos da ciência, dados, hi
póteses e definições, os problemas de clareza e
certeza, os trabalhos de laboratórios etc.
Tratando-se de uma introdução, o Autor não preten
deu abarcar todas as partes da ciência e do método
científico. Não obstante, a presente obra é de grande
valor para todos os estudantes, professores e pes
quisadores, que procuram melhor conduzir suas
pesquisas segundo as orientações e temas prefe
ridos.
6006
INTRODUÇÃO À PESQUISA
PSICOLÓGICA
FICHA CATALOGRÁFICA
Bachrach, Arthur J.
B 12i Introdução à pesquisa psicológica |tradução
brasileira de Geraldina Porto Witter| São Paulo,
E .P.U ., 4^ Reimpressão, 1975
X V , 107 p. (Ciências do Comporta
m ento).
Bibliografia.
73-0580 C D D -150.72
INTRODUÇÃO À PESQUISA
PSICOLÓGICA
Tradução de
Geraldina Porto Witter
5.a Reimpressão
M urray S id m a n , Joel G r e e n sp o o n
e Frank B anghart
VII
ÍNDICE
I. Introdução 1
Curiosidade, acidente e descoberta, 1 — O cuidadoso casual, 5 —
U m caso de “serendipity”, 8 — Idéias pré-concebidas: miopia de
hipótese, 14.
IX
Preocupação do público com a pesquisa, 73 — Considerações
éticas na pesquisa com animais, 75 — Considerações éticas na
pesquisa com seres humanos, 76. Consentimento, confidência e
procedimento aceitável ou padrão, 78.
Bibliografia ...................... 97
XI
é
Prefácio da Primeira Edição
Esta é a minha Primeira Lei1, uma boa lei informal que pode
necessitar de um pouco mais de elaboração. Quero dizer simples
mente que, em geral, os livros sobre pesquisa são afirmações de prin
cípios gerais formalizados e apenas refletem, de uma maneira ideal, a
realidade cotidiana da prática da pesquisa. Apresentam uma visão des
prendida da ciência e pouco, senão nada, do prazer e da frustração.
Em resumo, os livros sobre pesquisa são (para usar uma metáfora)
como um traje de gala e a própria pesquisa é como uma roupa de
trabalho.
Neste livro tentarei apresentar tanto alguns dos princípios formais
do método científico (particularmente no que se relacionam com a
psicologia) bem como algo da satisfação cotidiana subjacente à pes
quisa. Não posso pretender abarcar todas as partes da ciência e do
método científico em tão breve espaço pois, afinal de contas, trata-se
de uma introdução. Se puder compartilhar algumas idéias sobre pes
quisa, dissipar algumas falsas idéias sobre o tédio que a envolve e
interessar alguns estudiosos a investigar melhor o assunto, ficarei mais
do que satisfeito.
XIII
Grande parte deste livro foi escrita quando eu era Diretor da
Divisão de Ciência do Comportamento da Escola de Medicina da Uni
versidade de Virginia. Sou profundamente grato ao Diretor T. H. Hun-
ter e ao Dr. T. R. Johns da Escola de Medicina por me terem dado
a oportunidade e o estímulo para a pesquisa.
A ciência do homem. . . já não é coisa tão abstrata que possa
ser construída a priori c de perspectivas gerais; é o método experi
mental universal aplicado à vida humana e, portanto, o estudo de
todos os produtos dentro da esfera de sua atividade, acima de tudo
de sua atividade espontânea.
Ernest R enan
The Future of Science. (1848)
XV
I
Introdução
1
acidental. O cientista está trabalhando diligentemente em seu labora-
tório com um problema particular e com um objetivo determinado em
vista, quando algo acontece, talvez alguma coisa errada. A Sir Alexan
dre Fleming isto ocorreu quando estava tentando fazer a cultura de
uma bactéria. O leitor recordará que tinha aparecido um mofo verde
no frasco em que estava fazendo a cultura e que as bactérias tinham
morrido. Isto, provavelmente, já tinha acontecido a muitos cientistas
antes dele, que talvez tenham praguejado silenciosamente pelo expe
rimento arruinado, jogado fora a cultura e recomeçado novamente a
cultura da bactéria.
Mas isto seria contrário ao ideal do método científico. Conforme
veremos mais tarde, depois de ter sido escolhido o problema, o método
científico consiste fundamentalmente de duas partes: 1) a cóleta de
dados e 2) o estabelecimento de uma relação funcional entre estes
dados. Para Fleming e os que o procederam havia dois dados básicos:
a cultura de bactéria havia sido destruída e um mofo verde estava
presente no recipiente. Este é o fato: A e B coexistiam. Agora, haverá
uma relação funcional entre os dois? Teria A (o mofo) algum efeito
sobre B (a bactéria)? Este é o começo da pesquisa, manipular as
condições sob as quais A e B coexistem de modo que se possa obter
uma resposta. Se eles forem funcionalmente relacionados (isto é, se A
tem efeito sobre B) isto já será uma resposta. Se não o forem e a
coexistência foi puro acaso, esta também poderá ser uma resposta.
2
mudanças de temperatura, presença ou ausência de luz solar. Mas, no
momento, pressupondo que estas variáveis tenham sido controladas,
o experimento poderia constituir-se em manipular o mofo verde e a
bactéria sob várias condições controladas.
Naturalmente, a pesquisa de Fleming mostrou que o mofo verde
era responsável pela destruição das bactérias e de suas descobertas
surgiu a penicilina. Quero acentuar o aspecto mais importante disto
tudo. Fleming descobriu o mofo verde por acidente; o que estava
tentando era cultivar uma determinada colônia de bactérias. Um pes
quisador de menor envergadura poderia ter ficado irritado e aborreci
do com a morte das bactérias e, ignorando o mofo, simplesmente
teria lavado o recipiciente na pia. O fato de Fleming não o ter feito
ilustra uma das características do bom cientista. Manter os olhos aber
tos; nunca se limitar a um caminho fixo de experimentação a ponto de
ficar cego para eventos não usuais que possam vir a ocorrer. Skin-
n e r ( 5 2 ) 1 em um de seus “princípios informais da ciência” diz:
“Quando encontrar alguma coisa interessante deixe tudo o mais para
estudá-la”. Embora isto possa não se enquadrar com a imagem da
ciência e do cientista que o estudante concebia, ilustra como se ori
gina e se desenvolve a maioria das pesquisas. Para quem olha a ciên
cia ela pode parecer um corpo de conhecimento lógico, coerente e alta
mente organizado que gira ao redor do núcleo de uma rígida metodo
logia pré-estabeleeida. J. Z. Young, em seu tratado sobre a ciên
cia (65), diz o seguinte:
Bastante curioso é que uma das características dos cientistas e de seus tra
balhos seja a confusão, quase a desordem. Isto pode parecer estranho quando
se acostumou a pensar na ciência com C maiúsculo, com o sendo tudo cla
reza e luz. Realmente a finalidade da ciência são a lei e a certeza. A s leis
científicas foram as bases do estupendo desenvolvimento da tecnologia que
transformou o mundo ocidental, tornando-o, a despeito de todos os seus perigos,
um lugar mais confortável e feliz. Mas ao conversar com üm cientista logo
se verá que suas idéias não estão tão bem ordenadas. O cientista aprecia a
discussão, mas não pensa sempre com esquemas coerentes e com pletos tais com o
os que são usados pelos filósofos, juristas e clérigos. A lém disso, em seu la-
3
boratório não dispende muito tempo pensando em leis científicas e assuntos
semelhantes. Está ocupado com outras coisas, tentando fazer alguma peça de
aparelho funcionar, procurando um m eio de medir algo com maior precisão,
ou fazendo dissecações que mostrarão mais claramente as partes de um animal
ou planta. Sentir-se-á que dificilmente sabe que lei está tentando provar. Está
continuamente observando, mas seu trabalho é com o tatear no escuro. Quando
pressionado a dizer o que está fazendo, pode dar a impressão de incerteza ou
de dúvida, ou mesmo de autêntica confusão.
4
dialmente famoso que o escreveu foi Lemue Gulliver, em 1726, se
gundo escreveu Jonathan Swift nas Viagens de Gulliver. Embora esta
obra tivesse sido escrita em 1726, as duas luas somente foram desco
bertas em 1877, um século e meio depois da descrição de Gulliver.
Na realidade, até 1820 não se havia ainda construído um telescópio
bastante potente para ver os dois satélites.
Esta é uma das formas pelas quais a pesquisa começa. Mas en
tão? Embora a expressão possa parecer demasiado vulgar para a
mentalidade científica, expressa o começo do assombro. Como pôde
Gulliver descrever essas luas com tanta precisão 150 anos de elas te
rem sido descobertas? Seria mera coincidência? Seria possível que
Jonathan Swift tivesse alguma informação que os outros não possuíam?
Foi meramente uma feliz conjectura? Não há resposta para isto mas
este fato proporciona um estímulo para uma possível investigação.
O cuidadoso casual. — No Prefácio eu sugeri uma lei que, em
bora não seja formal, é fundamental para a pesquisa; trata-se do se
guinte: “Em geral, não se faz pesquisa da maneira pela qual os que
escrevem livros sobre pesquisa dizem que elas são feitas” . Este livro,
como muitos outros, apresenta, antes de tudo, um ideal para a me
todologia da pesquisa, ou, talvez, uma estrutura geral de princípios
para guiar e não para limitar o pesquisador.
Entre as qualidades de que necesita um bom pesquisador a mais
importante é a que Pasteur denominou de mente preparada. É claro
que é impossível a qualquer pessoa que se dedica à pesquisa predizer
todos os acontecimentos que possam ocorrer. O pesquisador precisa
começar com cuidado o planejamento e a execução da sua pesquisa,
mas não deve se prender rigidamente ao plano e, assim, se tornar
incapaz de ver as descobertas acidentais que possam surgir, como o
caso de Fleming, no exemplo anteriormente citado da descoberta da
penicilina. O pesquisador também deve ser um tanto casual, partir de
um ponto de vista flexível, mas nem por isso menos alerta em re
lação à pesquisa, a qual pode propiciar ocaisíão para uma descoberta
inesperada. Isto é o que Pasteur denominou de mente preparada, uma
combinação de conhecimentos básicos acumulados e uma prontidão
para perceber o extraordinário.
5
Cannon, em seu livro sobre as maneiras de ser de um investiga
dor (21), referiu-se a esse tipo de descoberta acidental como “se-
rendipity”. Tomou este termo da obra Three Princes of Serendip, de
Walpole, uma história de três príncipes que saíram pelo mundo à
procura de algo, não encontraram o que buscavam, mas em suas
jornadas descobriram muitas coisas que não haviam procurado. Can
non considera que a “serendipity”, ou descoberta acidental, é uma
importante qualidade da pesquisa e a mente preparada deve estar
aberta para percebê-la.
Desta forma, o pesquisador deve ser cuidadoso e casual. Um ou
tro aspecto da pesquisa é o meio pelo qual é concebida e conduzida.
Quando aparece um artigo numa revista científica, geralmente obedece
ele a um formato pré-determinado e aceito. A maioria dos artigos co
meça com uma introdução, seguindo-se uma revista da literatura, uma
descrição do plano experimental, a apresentação dos resultados obti
dos no experimento, a discussão destes resultados e um sumário se
guido por uma bibliografia dos artigos mais relevantes. Tais artigos
científicos usualmente são áridos e formais e de maneira alguma re
fletem os aspectos bastante informais e agradáveis das conversas no
laboratório com os colegas sobre a mançira pela qual a pesquisa po
deria ser conduzida. O produto final é uma forma desidratada da
história toda.
6
balização. Reconhecendo que o dinheiro é uma boa recompensa em
nossa cultura, decidimos que seria uma boa idéia verificar o que
aconteceria se pagássemos o sujeito em dinheiro, à medida que falasse,
de modo que cada impulso vocal no microfone fosse recompensado. O
que aconteceria se o pagássemos por impulso vocal? Pensamos que
uma moeda caindo num recipiente através de uma fenda, toda vez
que ele falasse acima de uma certa amplitude, seria um bom re
forço para produzir e manter tal comportamento.
Mas aí começamos a contar o número de tais impulsos durante
uma hora de sessão e verificamos que poderia haver diversas cen
tenas. Seria financeiramente impossível usar uma moeda, a menos
que usássemos “pennies”. No curso desta discussão informal decidiu-se
que, devido a um teste informal que todos tínhamos tentado, os
“pennies” não são, na realidade, boa recompensa em nossa cultura.
Mesmo um secretário executivo, ganhando 25.000 dólares por ano,
pára e apanha nm “nikel” se o vê, mas não o faz quando se trata
de um “penny”. Num “nickel” parecia haver mais do que cinco vezes
o valor da recompensa de um “penny”2. Portanto, a recompensa fi
nanceira mínima, em forma de moeda, que se poderia usar, prova
velmente seria o “nickel”. Isto tornar-se-ia tão dispendioso como re
compensa em tal experimento que, se usássemos o “nickel”, poderia
ocorrer o caso dos experimentadores tentarem trocar de lugar com
o sujeito!
Alguém sugeriu que poderíamos tentar usar fichas de pôquer,
que os sujeitos poderiam trocar por dinheiro no final da sessão. Desta
forma estariam trabalhando por uma recompensa monetária simbóli
ca que é fortemente reforçada em nossa cultura. Conversamos sobre
o significado das fichas e as imagens que despertam em várias pessoas
em um grupo. Foram discutidas as ligações dessas fichas, falou-se de
montes de fichas diante de um jogador em uma sala cheia de fumaça
e de diversas associações dramáticas com as fichas de jogo no folclore
de nossa cultura. Naturalmente, uma porção de anedotas foram apre-
7
sentadas, alguém desejou saber se teríamos de usar protetor de olhos,
enrolar as mangas das camisas e prendê-las com ligas; se teríamos
que usar para experimento uma mesa circular forrada com feltro ver
de, e assim por diante, invocando o humor da situação de jogo. Final
mente decidimos usar fichas.
O relato acima é apenas um registro sucinto das muitas horas de
discussão em nível informal, conduzida nesta etapa particular do ex
perimento. Quando finalmente o artigo foi escrito para publicação em
revista especializada relatou-se apenas que: “devido à natureza de re
forço generalizado das fichas, elas foram usadas como reforço para
o comportamento verbal, substituindo a recompensa monetária (mas
funcionando como símbolo de reforço monetário condicionado) pois
logo depois seriam trocadas por dinheiro”. Nada se disse sobre o pro
tetor verde para os olhos, as ligas para mangas, a sala esfumaçada,
observações impróprias para um artigo científico.
8
bits: An Instance of Serendipity Gained and Serendipity Lost.”3 Por
ser este um dos melhores exemplos disponíveis de descoberta aciden
tal, gostaria de discuti-lo mais pormenorizadamente.
Barber e Fox ouviram falar de uma descoberta acidental feita
por dois pesquisadores. Um deles, o Dr. Lewis Thomas, eminente cien
tista, que na época em que o trabalho foi publicado (1958) era o
chefe do Departamento de Medicina do “College” de Medicina da
Universidade de Nova York e que, anteriormente, tinha sido pro
fessor e chefe do Departamento de Patologia. O outro pesquisador
era o Dr. Aaron Kellner, professor associado do Departamento de
Patologia do “College’ de Medicina da Universidade de Cornell e
diretor de seus laboratórios centrais.
Os dois cientistas eram plenamente qualificados, respeitados e
filiados a excelentes escolas de medicina. No curso de suas pesquisas
em patologia, os dois homens tiveram ocasião de injetar, em coelhos,
um enzima, a papaína; ambos observaram que as orelhas dos coelhos
caíam depois da injeção. A despeito do fato de ambos terem obser
vado as orelhas caídas após a injeção intravenosa nos coelhos, so
mente um deles veio a descobrir a explicação para este evento inco-
mum e divertido. As razões deste fato apresentam um quadro fasci
nante das condições sob as quais a pesquisa em geral se realiza e o
que acontece aos pesquisadores.
Barber e Fox falam das entrevistas com os doutores Thomas e
Kellner. Comecemos pelo Dr. Thomas, que notou pela primeira vez
a queda reversível das orelhas dos coelhos quando estava investigando
o efeito de uma classe de enzimas, os proteolíticos4. Disse o Dr.
Thomas:
9
evidências. Foi estudada uma vez ou outra por quase todos os que estudaram
a hipersensibilidade. Para esta investigação usei tripsina, por ser o enzima mais
disponível no laboratório, e não obtive qualquer resultado. Dispúnhamos também
de papaína não sei de que procedência mas, com o a possuíamos, tentei usá-la.
Também tentei usar um terceiro enzima, a ficínia, que é extraída dos figos, e
é comumente usada. Tem sabor catalítico e desta forma é muito útil no la
boratório. Portanto, eu dispunha destes três enzimas. Os outros dois não pro
duziram lesões. O mesmo ocorrendo com a papaína. Mas a papaína sempre
produziu estas estranhas mudanças nas orelhas dos coelhos. . . Trata-se de uma
das mais uniformes reações que eu já vira na biologia. Sempre acontecia. Pa
recia que alguma coisa importante devia ter sucedido para causar esta rea-
çã o .(8 )
Eu a persegui com o um louco. Mas não fiz o que devia. . . Fiz o que
era de se esperar. Preparei e fiz cortes com todas as técnicas disponíveis na
época. Estudei o que acreditava serem as partes constituintes da orelha do coe
lho. Olhei todos os cortes e não pude perceber nada de diferente. O tecido
conjuntivo estava intacto. N ão havia qualquer mudança na quantidade de tecido
elástico. N ão havia inflamação, nem lesão no tecido. Esperava encontrar uma
grande mudança porque pensava que tivéssemos destruído alguma coisa.(9 )
10
lesão na cartilagem. E foi tudo. . Acrescentou ainda que o exame
da cartilagem nesse época era rotina e bastante casual porque ele não
defendia seriamente a idéia de que a flacidez das orelhas poderia estar
associada a uma mudança na cartilagem. “Não havia pensado na car
tilagem. Era pouco provável que o fizesse porque ela não era consi
derada interessante. . . Reconheço que minha idéia havia sido sempre
a de que a cartilagem é um tecido imóvel e inativo”.
É indubitável que as pessoas têm preconceitos tais como os do
Dr. Thomas. Ele pensava que deveria haver alguma lesão e não havia.
Considerou que a lesão deveria estar no tecido conjuntivo ou elástico
da orelha e compartilhava com outros a convicção de que a cartilagem
é “inerte e relativamente desinteressante” ; desta forma não lhe prestou
muita atenção. Isto o tornou pouco receptivo à explicação real da fla
cidez da orelha em termos de mudanças na cartilagem. Alguns anos
depois, acidentalmente, ele próprio descobriu esta explicação.
O Dr. Thomas estava muito ansioso para encontrar alguma ex
plicação para este fato biológico incomum, mas foi obrigado a deixar
o problema das orelhas caídas de coelho porque estava “terrivelmente
ocupado com um outro problema nessa época”, um problema no qual
ele “estava progredindo”. Notou também que tinha “em verdade usado
todos os coelhos disponíveis, estando desta forma predisposto a aban
donar a pesquisa”. Aqui estão dois outros fatos acidentais que mu
daram o curso da pesquisa. Estava fazendo outra pesquisa na qual
estava obtendo progressos (reforçador para ele) e seu orçamento não
permitia obter o grande número de coelhos de que necessitava para
prosseguir adequadamente o estudo. Desta forma persuadiu-se a aban
donar a pesquisa sobre as orelhas caídas de coelho e aceitar, tempo
rariamente, o insucesso.
Barber e Fox notaram que não é comum relatar experimentos ne
gativos na literatura científica por muitas razões, uma das quais, dentre
as menos importantes, é a falta de espaço disponível para experimentos
possivelmente interessantes e valiosos, mas que não são apresentados
como projetos de pesquisa relativamente completos. Portanto, ninguém
formalmente conhecia o trabalho do Dr. Thomas sobre as orelhas caí
das de coelhos. Porém, ele não as esqueceu e manteve vivo o pro-
11
blema das orelhas caídas em muitos contatos informais com colegas
que visitavam seu laboratório, e em outras reuniões informais. Por
exemplo, lembrou que demonstrou este fenômeno, duas vezes, a alguns
dos seus colegas incrédulos. Conforme disse: “Eles não acreditaram
quando lhes falei o que tinha acontecido. Realmente não acreditaram
que se pudesse provocar tanta mudança sem que nenhuma alteração
aparecesse no exame microscópico”. Desta forma, o assunto perma
neceu vivo no intercâmbio informal entre cientistas.
Dois anos depois desta descoberta acidental, o Dr. Thomas estava
fazendo um outro tipo de experimento, que assim relatou:
12
na matriz da cartilagem. O único meio de se constatar essa m odificação era
comparar, simultâneamente, cortes tirados das orelhas de coelhos nos quais se
tinham injetado papaína com cortes comparáveis de orelhas de coelhos do m es
mo tamanho e idade que não haviam recebido p a p a ín a .. . Antes desse fato
eu ficara tão impressionado com a amplitude da mudança que não percebera
algo tão óbvio, e concluíra que nada havia . . . A lém disso não dispunha,
naquela ocasião, de grande quantidade de coelhos com que trabalhar.(1 0 )
13
Thomas. Dr. Kellner, um cientista igualmente qualificado, viu as ore
lhas caídas do coelho quando estava trabalhando com injeções de pa-
paína, mas nada fez para chegar à descoberta, principalmente porque
a seqüência da descoberta levou-o a outros problemas. Primariamente,
o Dr. Kellner estava interessado no tecido muscular e na pesquisa car
díaca. Quando observou a mudança nas orelhas dos coelhos durante
uma pesquisa sobre os músculos cardíacos, disse ter ficado “um pouco
curioso, em relação ao fato, naquela época” e que “fora levado a
investigar o observado até o ponto de fazer cortes de orelhas de coe
lhos”. Mas aqui seu interesse pelos músculos e suas idéias pré-con-
cebidas sobre cartilagem (as mesmas do Dr. Thomas — a qualidade
inerte) impediram-no de prosseguir na observação:
14
quado neste ponto. Este caso é ilustrado no episódio dos dois cientistas,
os Drs. Thomas e Kellner; ambos foram retardados em uma desco
berta por uma idéia pré-concebida sobre a natureza inerte da cartila
gem. Mas, estes pesquisadores erraram apenas porque não prossegui
ram imediatamente em busca de novos fatos. O que eu denomino de
miopia de hipótese é um distúrbio de visão, uma incapacidade de ver
longe ao pesquisar, devido às idéias pré-concebidas. O pesquisado;,
diante dos fatos presentes, recusa-se a aceitá-los ou procura descartar-se
deles com explicações simplistas. Dois casos bem documentados de
miopia de hipótese podem ser apresentados. Um relatado durante o
tempo de Galileu, e outro mais recentemente.
Olhando através de seu telescópio recentemente inventado, Gali
leu descobriu que existiam manchas no sol. Apresentou esta descoberta
aos seus colegas, e um grupo deles, seguidores de um modo de pensar
aristotélico, rejeitou seus dados. A teoria sobre a composição da ma
téria celestial que aceitavam indicava-lhes que o sol não poderia ter
manchas, e por isso recusaram-se a olhar através do telescópio! O ar
gumento deles era simples: o sol não possui manchas; o telescópio
estava distorcendo a percepção. Visto que sabiam que não existiam
manchas, então por que deveriam preocupar-se em olhar através de
um instrumento obviamente errado?
Há um certo mérito em uma parte deste argumento — a fidedig-
nidade do instrumento. Testar a precisão do telescópio seria um pri
meiro passo nessa pesquisa e, nesse sentido, em parte, os aristotélicos
tinham razão ao questionar sua precisão. Mas foram míopes quando se
recusaram a fazer este teste (que poderia ser facilmente realizado em
uma situação terrestre) e quando evitaram questionar os seus “conhe
cimentos seguros” sobre a ausência de manchas no sol.
O segundo é um caso de leve miopia de hipótese, envolvendo dois
físicos que realizaram um experimento cuidadosamente preparado e
obtiveram resultados negativos.
Em 1887, dois físicos, Michelson e Morley, realizaram um ex
perimento para medir a exata velocidade da luz. Construíram um apa
relho para objter essa medida exata consistindo em dois tubos colo
cados em ângulo reto um em relação ao outro. Um dos tubos foi co-
15
locado na direção do movimento da Terra ao redor do Sol, enquanto
que o outro foi colocado na direção contrária ao movimento de rotação
da Terra. Colocaram então um espelho na extremidade de cada tubo e
um outro no ponto de intersecção; introduziram exatamente ao mes
mo tempo um feixe de luz em cada tubo; estes feixes atingiram o
espelho colocado no ponto de intersecção; refletiram-se através do com
primento dos tubos, atingiram os espelhos das extremidades e tornaram
a se refletir no espelho central. A teoria dominante naquela época
era de que havia um éter invisível preenchendo todo o espaço não
ocupado por objetos sólidos. Se esta teoria fosse correta, então um
dos raios de luz iria contra a “corrente” do éter enquanto que o
outro iria a favor da mesma, portanto em maior velocidade. Mas não
foi isto que aconteceu. Os dois feixes de luz retornaram ao espelho
central exatamente ao mesmo tempo. Os resultados do experimento fo
ram considerados negativos, isto é, não confirmaram a hipótese de que
a luz seria menos veloz se a Terra se movesse através do éter. Con
forme Copeland e Bennett (22) observaram, o experimento realizado
deu “um resultado negativo que criou um problema maior de inter
pretação”. A despeito das provas de que as trajetórias da luz tinham
características de ondas, “os exemplos anteriores de movimento ondu
latório requeriam um meio material” (por exemplo, o som no ar) e
era difícil encontrar este meio material para a luz. A conclusão do
experimento foi necessariamente a de que a luz não se propagava
num meio como o som se propagava no ar.
Copeland e Bennett posteriormente notaram que Fitzgerald tentou
explicar os resultados negativos em termos da contração de um dos
braços do aparelho, isto é, o comprimento do tubo que apontava no
sentido do movimento da Terra se contrairia apenas o suficiente, para
compensar a diferença na interferência. Outras interpretações dos re
sultados foram feitas também em termos da teoria predominante do
éter. Embora os físicos aceitassem os dados, foram incapazes de en
quadrá-los nas hipóteses existentes até 1905, quando Einstein fez a
reconstrução básica da teoria em seu famoso trabalho: Uma teoria
especial da relatividade. Explicou o que havia ocorrido com os resul
tados “negativos” obtidos por Michelson e Morley. Eles haviam me-
16
dido com precisão a velocidade da luz, mas a teoria da existência do
éter era incorreta. Afirmou que a luz sempre se move na mesma ve
locidade a despeito das condições e que, além disso, o movimento da
terra em relação ao sol não tem qualquer efeito sobre a velocidade
da luz. Não poderíamos esperar que, a partir de seus dados, Michel-
son e Morley chegassem à Teoria Especial da Relatividade, mas po
deríamos esperar que, ao encontrar resultados que não combinavam
com a teoria, pudessem pô-la em dúvida. Na realidade, não existe
resultado negativo ou insucesso num experimento. Todo dado obtido
fornece informação para a mente preparada que respeita os dados e
não deixa que as hipóteses impeçam a pesquisa.
17
n
19
cia outorga um prêmio elevado à honestidade1 e são muito raros os
casos de alteração de dados no sentido de adaptá-los à teoria favorita
da pessoa. No entretanto, mesmo aceitando a honestidade de um pes
quisador, ninguém que esteja firmemente ligado a um ponto de vista
se regozija ao vê-lo abalado. Se seus próprios dados destroem crenças
que lhe são caras, o cientista aceita os fatos, mesmo quando isso en
volve a perda de um velho amigo, isto é, uma teoria retida em se
gredo. Neste caso a moral é clara: Não se empenhe em provar alguma
coisa, deixe que os fatos o guiem. Como disse Skinner: “Os experi
mentos nem sempre dão os resultados esperados; mas os fatos devem
permanecer e as expectativas desvanecer-se. O assunto estudado sabe
mais do que o cientista.” (56).
Skinner também salientou que a ciência é mais do que um con
junto de atitudes, é a “busca da ordem e da uniformidade de rela
ções, sujeitas às leis, entre os fatos da natureza”. (57) Começa por
um evento único cuidadosamente observado e procede, eventualmente,
até a formulação de uma lei geral.
Mencionei que o cientista torna-se arrogante em relação à sua
metodologia e humilde quanto a seus dados. Isto pode criar o que
Gardner (30) denominou a “ortodoxia da teimosia” da ciência, uma
dedicação ao dogma que, como ele diz, é “tão necessária quanto desejá
vel para o bem da ciência” . Isto significa que um cientista respeita os
fatos e o indivíduo que apresenta um novo ponto de vista está obrigado
a demonstrar evidência suficiente a fim de alcançar o reconhecimento
de sua teoria. O mundo está repleto de pessoas que têm teorias sobre
cada evenito imaginável e os cientistas, facilmente, poderiam dispender
todo o tempo de que dispõem ouvindo e refutando a maioria deles. É
preciso haver alguma defesa contra isso, pois, conforme diz Gardner:
20
“A ciência se reduziria a nada se tivesse que examinar cada nova no
ção periférica que surgisse. Evidentemente, os cientistas têm tarefas
mais importantes. Se alguém anuncia que a lua é feita de queijo verde
não se pode esperar que o astrônomo abandone seu telescópio e es
creva uma refutação pormenorizada”.
Esta constante recusa de examinar cada teoria apresentada pro
duziu alguns mártires. Homens do calibre de Pasteur foram criticados
e questionados. Todavia, é um filtro necessário para evitar que se en
torpeçam as engrenagens da ciência. Acreditamos que uma teoria oca
sional que é correta e que é refutada em uma dada ocasião subsistirá,
pois, como vimos, são os dados e não os homens que prevalecem.
Os objetivos da ciência: — Em última instância, sejam quais
forem as disciplinas científicas, o objetivo da ciência é compreender
e controlar o que constitui seu objeto de estudo. Pode ser mais fácil
aceitar a parte desse par relativa à compreensão porque existem ciên
cias que não têm qualquer controle do seu objeto, como, por exemplo,
a astronomia e a geologia. A astronomia tem um corpo de conheci
mentos altamente desenvolvidos que permite aos astrônomos descrever
e predizer, com grande previsão, por exemplo, os movimentos das
estrelas, ou o aparecimento de um cometa. O americano do norte, de
Connecticut, do conto de Mark Twain — pôde assombrar e impressio
nar a corte do Rei Arthur, prevendo um eclipse; isto hoje se aceita
como um tipo corriqueiro de predição. Apesar dessa habilidade para
descrever e predizer, a astronomia não dispõe de nenhum meio para
controlar os fenômenos celestes; portanto, pode-se dizer que a astro
nomia é uma ciência descritiva. Além disso, pode-se dizer que a astro
nomia é uma ciência “pura” quanto ao controle dos eclipses e come
tas; mas isto é um tanto tangencial, pois recentemente se desenvolveu
uma geologia experimental (13) aproximando a geologia, ciência des
critiva, da possibilidade de tornar-se experimental.
Acrescentei aos objetivos da ciência dois outros aspectos vin
culados aos objetivos de compreensão e controle, a descrição e a pre
dição. O primeiro entre eles é a descrição. A observação e a mensura-
ção são fundamentais para toda ciência, pois fornecem uma descrição
dos fatos e um meio de quantificá-los, o que possibilita a manipula
21
ção experimental. Pode-se dizer que os dois fundamentos críticos da
ciência são a observação e a experimentação, e que a mensuração for
nece um meio significativo para manipular e ordenar os fatos. Natu
ralmente, o fim último da ciência é o de ^rdenár os fatos em leis
gerais coerentes, a partir das quais se torne possível a predição mas,
inevitavelmente, ela começa com a observação. Discutirei brevemente
a observação e a experimentação, em seguida, o uso da mensuração e,
finalmente, a ordenação de fatos de observações e de experimentação
em leis gerais.
Observação e experimento. A ciência é sempre um equilíbrio entre
a observação e o experimento, pois, a primeira é a coleta empírica dos
fatos e o segundo é o raciocinar sobre esses fatos e a sua manipulação,
visando obter maiores conhecimentos. Envolve também a observação
sob condição experimental controlada. Estudiosos da ciência argumen
tam que Descartes e Bacon representam posições antagônicas de ati
vidade científica. Descartes fez todo o seu trabalho no leito, enquanto
que Bacon, segundo se diz, morreu aos 65 anos de idade em conse
qüência de uma gripe contraída enquanto fazia experimentos numa ne-
vasca. Para Descartes era possível obter os elementos, o fato e a ra
zão — que são cruciais em ciência sem recorrer à experimentação;
no entanto, esta não é, geralmente, a maneira da ciência progredir. A
razão se amplia na experimentação mas está enraizada na observação.
Bronowski (17) observou que a ciência é uma maneira de des
crever a realidade e “é, portanto, cirsunscrita pelos limites da obser
vação e nada afirma que esteja além da observação. Qualquer outra
coisa não é ciência — é academismo”. Aqui Bronowski evoca a ima
gem de escolasticismo, filosofia da Europa Ocidental, na Idade Mé
dia, que era essencialmente anti-empírica e, certamente, anti-experi
mental no sentido moderno. Mas, quando diz que a ciência está cir
cunscrita pelos limites da observação, estabelece uma das fronteiras
da metodologia científica. Quando diz que a ciência não afirma nada
que esteja fora da observação, está formulando um outro dogma bá
sico do método científico. O observável é a verdadeira pedra funda
mental da ciência. Einstein sugeriu que a unidade fundamental na fí
sica era: evento — sinal — observador. Com isto queria dizer que
22
quando ocorre um evento apresenta-se alguma manifestação exterior
que requer a presença de um observador para registrá-la. Certamente,
este trio, evento-sinal-observador, é básico para outras ciências, além
da física; e é da responsabilidade do cientista, seja qual for a disciplina
em que trabalha, observar cuidadosamente o sinal que representa o
evento e registrá-lo com exatidão. Esta é a razão pela qual a instru
mentação se desenvolveu. Disseram que o homem está entre um átomo
e uma estrela, e que inventou o microscópio e o telescópio para ampliar
sua visão em ambas as direções. Os principais objetivos a que serve
um instrumento são: possibilitar uma observação acurada de modo a
eliminar o viés do observador e ampliar e quantificar as observa
ções do pesquisador.
Existem, sem dúvida, problemas na observação e em qualquer
discussão sobre o observador. É importante mencionar Heisenberg, fí
sico alemão que, em 1927, estabeleceu o Princípio da Incerteza (ou
Indeterminismo), que afirma não ser possível determinar, ao mesmo
tempo, a posição e a velocidade de um elétron. O observador deve se
restringir a um ou a outro fato. Se escolhe observar a posição do
eléctron com precisão, deve renunciar a uma avaliação precisa de sua
velocidade, ou vice-versa2. O Princípio da Incerteza passou a significar
que, para estudar um fato, o observador deve interferir no seu curso
natural. E, portanto, o cientista não pode ter toda a informação rele
vante que precisa ao mesmo tempo. Naturalmente, isto é considerado
na pesquisa e, realmente, constitui a base dos repetidos experimentos
nos quais são estudadas isoladamente variáveis diferentes. O Princípio
da Incerteza foi invocado, em psicologia, em discussões sobre assun
tos tais como a introspecção, porque não é verdadeiramente possível
olhar-se para si mesmo com clareza.
Voltando à afirmação de Bronowski de que tudo o que está fora
da observação não é ciência, gostaria de elaborá-la segundo meu pon
23
to de vista, para dizer que um dos requisitos críticos da observação
é o de ser replicável, isto é, relatada por outros que também são ca
pazes de ver e registrar. Isto é o que se quer dizer quando se fala
de uma linguagem de dados em ciência. Um exemplo simples seria o
do físico ao ler o movimento de um ponteiro no qual um observador
pode registrar uma alteração no ponteiro, medi-la e repetir essa ob
servação com outras pessoas. Quanto mais precisa for a mensuração,
tanto mais semelhante será a réplica da observação. Um dos problemas
básicos da psicologia tem sido o da ausência de uma linguagem uni
versal de dados, à qual poderiam se relacionar as obiservações e com
a qual estas poderiam ser expressas. Por exemplo, obviamente é dife
rente falar de uma personalidade desajustada e de um desvio de três
graus num ponteiro. A margem de erro na primeira descrição é
grande, enquanto que na segunda é mínima. Greenspoon (31) e Da-
vis (23) consideram a necesidade que a psicologia tem de uma lin
guagem de dados para refinar a observação e a descrição psicológi
cas. Ambos sugerem referentes físicos para a observação e a descrição
psicológicas. A linguagem de dados da psicologia será discutida um
pouco mais pormenorizadamente na parte relativa aos métodos opera
cionais, pág. 51.
24
contudo, apesar do uso de instrumentos científicos, tais como plane
jamento experimental e provas estatísticas, existem fatores que co
locam a parapsicologia fora das fronteiras da ciência. Um destes fa
tores é o problema da replicabilidade do observador. Por exemplo, o
insucesso de um pesquisador, na obtenção de resultados com um de
terminado sujeito experimental enquanto que outro pesquisador, apa
rentemente, obtém bons resultados, em termos de altos escores em ta
refas de percepção extra-sensorial, foi explicado como um problema
de atitude. Um experimentador hostil à hipótese da percepção extra-
sensorial não obterá bons resultados enquanto que o experimentador
simpatizante os obterá. A suposição (ainda não comprovada) é de
que estas atitudes afetam a atividade mental do sujeito.
Ainda que possa parecer desnecessariamente restritivo, deve-tse di
zer que os dados da parapsicologia não podem ser admitidos como cien
tíficos até que tantais observações de diferentes experimentadores, feitas
sob condições específicas e com controle de variáveis, não sejam coe
rentes. Isto não condena tais dados ao limbo do qual não possam re
tornar. Simplesmente significa que a observação de Bronowski sobre
o caráter não científico dos eventos que estão fora do alcance da ob
servação deve ser levada em consideração ao se avaliar esta investi
gação, mesmo quando os experimentos são cuidadosamente concebi
dos e executados.
25
(incluindo comportamento) são ordenados e obedecem a leis e de que
o objetivo de um cientista é buscar a ordem e a' similaridade.
Creio (e esta é obviamente uma preferência pessoal) que o estudo
da telepatia poderia começar, com mais propriedades, com um estudo
mais intensivo da percepção normal e não com a afirmação inicial so
bre o para-normal. Mesmo o espiritualista mais dedicado, ao se re
ferir a almas, usa meios físicos de visão e audição para conjurar os
e$|>íritos, As pessoas não relatam visões? Então o mais indicado seria
coiheçar por um exame completo da percepção normal desses indiví
duos. Quando os horizontes são ampliados para abranger o estudo de
visões além do espaço e do tempo, a preocupação deve continuar a
mesma, isto é, buscar a ordem e não ignorar as explicações mais
econômicas. A pessoa que oferece uma explicação notoriamente fora
do corpo comum das leis de uma ciência tem o encargo de prová-la.
Ninguém pode esperar que o cientista aceite evidências sobre a reencar-
nação das almas sem uma prova cientificamente obtida, e isto não
significa anedotas sobre espíritos ou sobre existências anteriores. As
dificuldades encontradas ao se procurar estudar cientificamente estes
problemas são ilustradas num ensaio de Ian Stevenson (60) sobre o
destino da “personalidade do morto” e a reencarnação. Estes relatos
incluem observações apresentadas numa linguagem difícil de incluir
nas metodologias padronizadas, embora, a princípio, por exemplo, o
mesmo tenha ocorrido com as formulações originais de Einstein rela
tivas ao espaço e ao tempo. A diferença óbvia é a de que as obser
vações de Einstein foram confirmadas.
A maior dificuldade que se coloca à parapsicologia é a aceitação
de uma posição dualista que a separa completamente das ciências na
turais. Não tenho intenção de me envolver no problema mente-corpo
neste ponto — o livro é demasiado pequeno para tanto — somente
afirmarei que a psicologia, como ciência, precisa aceitar a posição mo-
nística da ciência e rejeitar a tentação de lidar com os eventos mentais
como se eles tivessem uma existência separada dos eventos físicos. A
principal razão para isto deriva do simples fato de que esta posição foi
bem sucedida em outras ciências e está de acordo com o objetivo de
buscar a ordem e a uniformidade que é básica na metodologia cientí-
26
fica. O argumento de que existem obviamente eventos mentais — tais
como os processos de pensamento e os sonhos — novamente con
funde o assunto, porque o estudo desses eventos deve obedecer às
linhas estabelecidas em ciência. O leitor interessado poderá encontrar
uma discussão mais ampla desta linha monística em Greenspoon (31)
e Ryle (43).
Esta posição de rejeitar observações que ultrapassam as fron
teiras da ciência pode parecer restritiva e limitativa mas, aqui tam
bém cabe à pessoa que apresenta as observações apresentar as provas.
Isto, freqüentemente, cria um mártir da rigidez científica (tais como o
foram Pasteur, Koch ou Semmelweiss) mas, como vimos, dados e não
homens subsistem. Às vezes, o mártir apresenta um caso fundamen
tado e razoável, como na citação que se segue: “Para mim a verdade
é preciosa. . . Prefiro estar certo e só, do que acompanhar a multidão
e estar errado. . . A defesa das perspectivas aqui expostas chegou até
o ponto de alguns de meus companheiros me escarnecerem, despreza
rem e ridicularizarem. Olham-me como se eu fosse uma pessoa rara,
estranha e peculiar. . . Mas a verdade é a verdade, e ainda que todos
a rejeitem e se voltem contra mim, continuarei apegado a ela.” Estas
frases impressionantes e corajosas são de um livro de Ford (25), pu
blicado em 1931, no qual prova o achatamento da terra. A afirmação
de Gardner, citada na pág. 21, sobre a necessária ortodoxia da tei
mosia da ciência não pode ser melhor ilustrada do que o é com esta
citação de Ford. Se sua informação difere das informações ordenadas
da ciência é sua a responsabilidade de oferecer as provas. Atender
estas é responsabilidade da ciência.
27
coerência ou ordem entre os fatos3. Sem dúvida, registrar X, Y e Z
com precisão é o primeiro passo crítico, mas a ciência, eventualmente,
deve descrever as semelhanças existentes entre as variáveis e suas re
lações funcionais. Bronowski (18) observou: “ . . . a verdade em ciên
cia não é a verdade a respeito do fato, que nunca pode ser mais do
que aproximada, mas a verdade das leis que vemos nos fatos”.
O cientista parte da observação cuidadosa dos fatos para uma
busca de ordem, de coerência e uniformidades, de relações funcionais
que obedecem a leis entre os eventos que estudou. Começando com um
evento isolado ele tenta encontrar cada vez mais informações que re
lacionará os eventos em uma ordem significativa e coerente. Requer
uniformidade de eventos. Bronowski, em outro trecho, diz:
/
28
nhecendo também o fato algo ingênuo de que a finalidade da ciência
é controlar o comportamento. Posteriormente, quando falarmos sobre
considerações éticas em pesquisa, discutiremos alguns dos problemas
de ética no controle do comportamento. No momento, preciso somente
observar que a psicologia, como disciplina científica, aceita o dogma
geral da existência de lei e uniformidade dos eventos naturais, um dog
ma que qualquer outra ciência considera como um fundamento crí
tico.
Desta forma, a observação nos conduziu à experimentação e esta
nos levou à busca de ordem e uniformidade nas quais podemos busear
as leis. Sidman ofereceu um relato interessante sobre uma experiência
pessoal que ilustra a importância das uniformidades na metodologia
científica. Escreve:
29
decem a leis e que o obetivo da ciência é predição e controle baseado
nessas leis. Usualmente, a lei é descrita como uma coleção de fatos
agrupados num corpo coerente de conhecimentos, a partir dos quais
é possível fazer predições. É óbvio que nenhuma predição é completa
mente certa porque não é possível conhecer todas as variáveis que
operam em uma determinada situação. Tudo o que exigimos de uma
predição é que se baseie numa ordenação dos eventos expressa em
lei, e que prediga, tão precisamente quanto possível, o que aconte
cerá em um evento futuro dentro de uma margem de incerteza.
( Isto introduz um conceito básico de probabilidade que é fun
damental para o método científico. Referimo-nos às probabilidades
ue ocorrência de um evento. Num dado sentido estamos ponderando
as oportunidades de que se X for manipulado de certo modo, modi-
ficar-se-á de certa forma. A experimentação é claramente um método
para aumentar a probabilidade de que a predição seja correta.
Tomemos um exemplo simples. Se você estivesse observando um
cão beber água, provavelmente diria que o animal tinha sede, infe
rindo, a partir de experiência passada, que o cão que bebe água esteve
privado dela e tem sede. Trata-se de uma inferência provável e possi
velmente de uma conjectura suficientemente boa. Ainda que esta seja
a explicação mais provável para seu comportamento, também é possí
vel que outros fatores tenham desempenhado certo papel. Por exem
plo, uma vespa pode ter picado sua língua, ou que tenha comido algo
apimentado ou talvez esteja tentando pegar um bocado de carne que
se encontrava no fundo da vasilha. Todos estes são eventos pouco
prováveis em termos de freqüência de ocorrência, portanto, baseamos
nossa interpretação da sede do cão em nossa experiência passada.
Se desejamos aumentar a probabilidade de que nossa explicação seja
correta, precisaríamos experimentar. Prendemos o cão e o privamos de
água durante 48 horas. Ao fim desse período, poderíamos oferecer-lhe
comida e água e verificar quão ativo é o seu comportamento de beber.
Supondo que a privação tenha produzido uma necessidade fisiológica
dc água e aumentado a probabilidade de que ele beba água, podería
mos ter mais confiança na privação como uma variável crítica no
comportamento de beber. Uma vez estabelecido isto, poderíamos vol
30
tar às nossas explicações anteriores do comportamento do cão com
mais informações e confiança.
Deve-se ter em mente que em toda a predição há sempre um
elemento de incerteza. O cientista deve estar constantemente procuran
do métodos para melhorar a precisão de suas predições. Quando fa
lávamos sobre controle dos eventos era essencialmente isto que está
vamos querendo dizer. É interessante notar que na área da predição
algumas pessoas que comumente aceitam os princípios básicos da ciên
cia, tais como observação acurada, descrição e experimentação, sentem
ter entrado na terra do sem-fim. Sir Oliver Lodge, por exemplo, ob
servou: “Embora um astrônomo possa calcular a órbita de um planeta
ou de um cometa ou mesmo de um meteoro, embora um físico possa
lidar com a estrutura do átomo e um químico com suas possíveis com
binações, nenhum biólogo ou outro cientista pode calcular a órbita de
uma mosca comum”. Bem, com todo o respeito devido a Sir Oliver,
esta é uma afirmação bastante infeliz. Em primeiro lugar, quem poderá
jamais dizer que é impossível conseguir algo? Somente uma pessoa
pessimista ou de visão limitada poderia supor que as observações ou
mensurações atualmente inacessíveis permanecerão sempre além de
nosso alcance. Uma leitura cuidadosa da afirmação altissonante de Sir
Oliver sugerirá uma questão. Quem já tentou calcular a órbita de
uma mosca comum?
Estou certo de que se fosse suficientemente importante dispor
deste cálculo, iniciativas poderiam ser tomadas no sentido de tentar
e de medir. Joguemos, por um momento, com esta especulação porque
ela parece atingir o ponto central de algumas das considerações que
fizemos. Afirmamos que o comportamento obedece a leis e, assim sen
do, se seguimos nossas crenças, a órbita de uma mosca, digamos, numa
catedral, deveria ser compreensível, desde que tivéssemos suficiente in
formação sobre o organismo e o meio no qual está se comportando.
Como proceder para obter informação pertinente à predição da órbita
desta mosca em particular? Talvez se pudesse começar com um exame
das correntes de ar na catedral. Suponhamos que se divida a catedral
em quadros, e, ao fazer observações e mensurações acuradas, verifica-
se que no ponto B-6, que está a 30 pés do solo e a 25 pés da parede
31
ocidental, há uma forte corrente de ar, que oferece uma resistência
considerável a qualquer objeto que se encontra na referida coordenada.
Podemos considerar que seria menos provável que uma mosca voasse
para uma área de resistência, que se oporia ao seu vôo, do que para
uma outra área que lhe oferecesse menos obstáculos. Isto pode estar
completamente errado mas, pode ser, pelo menos, um começo para
calcular a órbita. Pode acontecer que, depois de algumas investigações,
descubra-se que as mudanças de temperatura constituam uma variá
vel crítica. Certamente isto parece ser verdadeiro no cálculo da mi
gração dos pássaros e no do comportamento de desova do salmão, os
quais Sir Oliver também poderia ter considerado além das possibili
dades dos cientistas. Além do mais, variáveis orgânicas podem existir
tais como a presença de moscas do sexo feminino, a resistência da
mosca, o tempo decorrido desde sua última refeição, e outras que
podem parecer relevantes.
Certamente não tenho a intenção de traçar as cordenadas para
testar a idéia de que é possível predizer a órbita de uma mosca numa
catedral, mas tenho certeza de que, se isto tivesse alguma importância
em ciência, alguém poderia desenvolver um meio para fazer tal pre
dição. Podemos simplesmente oferecer nossos respeitos a Sir Oliver e
ignorá-lo neste contexto.
Até o presente considerei os elementos da observação, experi
mentação e predição no que se relacionam com o método científico e
os fins últimos de compreensão, predição e controle. Porém, não me
detive muito tempo no problema do controle em si mesmo. É evidente
que, quando fomos capazes de predizer os eventos com êxito, obti
vemos um certo grau de controle sobre eles. Voltarei mais tarde a
este assunto quando discutir a manipulação experimental. No momento,
gostaria de retomar a um outro elemento básico da ciência que se
inicia, aquele que, como a observação, é básico em todas as ciências,
seja ela de tiva ou experimental. Trata-se da mensuração.
Mensi ão em ciência. — Discutindo a questão da descrição na
metodologia científica, usei vários exemplos que se referiam a eventos
tão diferentes como um vírus, uma mosca e um cão. Existem dife
rentes níveis de descrição em ciência, variando desde a descrição da
32
atividade celular em um ser humano até a corte, feita por este mesmo
ser humano, à sua namorada. Quanto menor o foco de atividade mais
fácil é medi-lo. Por exemplo, um cientista poderá ser infinitamente
mais preciso na descrição da atividade elétrica que se verifica na mem
brana de uma célula de uma pessoa do que na descrição de seu com
portamento ao encontrar o namorado. Existem áreas de problemas
muito complicadas, tais como as tensões que levam à guerra e os
preconceitos raciais e religiosos, que ainda não fomos capazes de re
solver. Não fomos capazes de resolvê-los, em grande parte, porque
eles não podem ser descritos adequadamente. Considerando estas áreas
de problemas significantes, concordo com Underwood (63), que ob
servou: “Defenderia a proposição de que a pesquisa em psicologia
necessariamente envolve mensuração e que a rapidez com que a pes
quisa irá abranger. .. comportamentos significantes depende de nossa
habilidade para dividi-los em partes relevantes que possam ser medi
das”. Por exemplo, não se pode medir preconceito, que é somente um
termo geral para um grande número de atividades. Contudo, podemos
começar subdividindo preconceito em partes relevantes, catalogando o
número de hotéis e restaurantes de uma determinada comunidade que
recusam admitir membros de um grupo minoritário. Em verdade, isto
é somente um pequeno começo de mensuração mas, de qualquer for
ma, é um começo.
33
derando que a falsificação é um crime menos sério do que o assassi
nato, o prisioneiro n.° 400-097 (um falsificador) é colocado num blo
co de celas diferentes daquele no qual é colocado o prisioneiro n.°
400-789 (um assassino). Os números diferenciam os dois em uma
escala nominal, a separação em termos de gravidade do crime os
diferencia numa escala ordinal. É aparente que uma escala ordinal,
como a classificação da severidade do crime, pode ser altamente sub
jetiva. Suponha ser possível elaborar uma escala exata de severidade
de forma que o intervalo assassinato <--» falsificação seja igual, em
severidade, ao intervalo falsificação <--» roubo em loja durante o
movimento comercial. Em termos de aumento de seriedade do crime
a escala ordinal seria roubo em loja — falsificação — assassinato.
Se esta escala fosse válida, poderia ser usada pelo juiz ao determinar
as sentenças, ou por uma comissão de liberdade condicional para me
dir libertação condicional de prisioneiros. Quando uma escala ordinal
se divide em intervalos iguais ou graduações de tais mudanças de
intensidade, é denominada escala de intervalo igual. Um outro de
senvolvimento na elaboração de escala seria um no qual é possível
estabelecer um ponto que corresponde a um zero absoluto na escala.
Uma escala de intervalos iguais com um ponto que corresponde a zero
absoluto é denominada escala de razão (ou proporcional).
Neste ponto gostaria de expressar uma opinião que pode levantar
alguma objeção. Diria que, em última instância, todas as mensurações
deveriam ter algum ponto de referência físico. Existem fenômenos
que são chamados subjetivos, mas se eles não podem eventualmente ser
medidos, não podem ser considerados como dados científicos. Isto não
é fazer dos métodos ou técnicas usados pela física ou outras ciências
um santuário, mas indica que enquanto os fenômenos subjetivos não
são passíveis de mensuração e quantificação, poderão oferecer reduzida
informação pouco significante. Acredito que problemas de pesquisa
como ansiedade e emoção, que sempre preocuparam os psicólogos, po
derão ser mais frutíferos — quando estudados em termos de mudança
fisiológica e de uma medida dessa mudança. Conforme veremos no
Capítulo IV, muitas são as definições de emoção. O único fator comum
em todas essas definições é o de alguma mudança na atividade do
34
sistema nervoso autônomo, em evento fisiológico suscetível de men-
suração. Recentemente, o comportamento encoberto — freqüentemente
é indicado como inconsciente e presumivelmente não sujeito à inves
tigação experimental — foi estudado de uma forma engenhosa e
cuidadosa por Hefferline e seus colaboradores (32). Existe uma in
dicação clara da possibilidade de medir eventos mínimos de com-
partamento com registros fisiológicos.
Sempre se considerou correto que a informação de que um cien
tista dispõe depende amplamente do aprimoramento dos seus instru
mentos. Anualmente, à medida que os instrumentos de que o pesqui
sador dispõe são aperfeiçoados, mais informações das consideradas
subjetivas são submetidas ao escrutínio da investigação experimental.
Um dos meios de começar a mensuração é através do uso de repre
sentações físicas ou matemáticas dos objetos ou acontecimentos. — Já
mencionei o uso dos graus de temperatura para medir graduações de
quente e frio. Aceitamos um termômetro como indicação fidedigna
das gradações de temperatura.
Seria interessante recordar as origens do termômetro, sempre útil
e presente. Antes do século XVII, uma medida do tipo nominal era
considerada suficiente pará avaliar frio e quente. Parecia suficiente
dizer que alguma coisa estava quente ou fria, ou empregar alguma es
cala comum muito grosseira, dizendo “está mais frio do que” ou “está
mais quente do que” . Conforme Asimov (2) observou, “para submeter
a temperatura à mensuração quantitativa foi necessário primeiro en
contrar alguma mudança mensurável que parecia ocorrer dum modo
uniforme com a mudança de temperatura. Uma mudança desse tipo foi
encontrada no fato de que as substâncias se dilatam quando aquecidas
e se contraem quando resfriadas”. Ele prossegue discutindo a pesquisa
de Galileu, em 1603, que primeiro tentou usar o fato de que substân
cias se dilatam quando aquecidas e se contraem quando resfriadas, in
serindo um tubo de ar que tinha sido aquecido num recipiente de água.
À medida que o ar contido no tubo começa a tender para a tempe
ratura ambiente, se contrai e a água entra no tubo, criando o primeiro
termômetro. Quando a temperatura ambiente mudou, o nível da água
35
no tubo mudou também. “Se o quarto se aquecia, o ar no tubo se
dilatava e baixava o nível da água; se o quarto esfriava, a água se
contraía e o seu nível subia. O único problema era que o recipiente da
água em que se havia inserido o tubo era exposto ao ar e a pressão
deste se modificava continuamente. Isto também fazia o nível da
água subir e descer, independentemente da temperatura, desordenando
os resultados”.
Conforme Asimov faz notar, em 1654 o Duque de Toscana fa
bricou um termômetro que era independente da pressão do ar, con
tendo um\ líquido fechado num bulbo ao qual foi ligado um tubo es-
treito^“ ^/ contração e expansão do próprio líquido foi usada como
indicação de mudança de temperatura. Os líquidos mudam muito
menos de volume com a temperatura do que o fazem os gases; usando
um reservatório de líquido de tamanho e forma adequados, de maneira
que o líquido somente possa se expandir através de um tubo muito
estreito, a elevação e a queda dentro do tubo, mesmo para pequenas
mudanças de volume, pode torriar-se considerável”. (2) Boyle fez
um experimento semelhante, mais ou menos ao mesmo tempo que o
do Grã-Duque de Toscana, e demonstrou que o corpo humano mantém
uma temperatura constante usualmente mais elevada do que a tempe
ratura ambiente. A água e o álcool foram os primeiros líquidos usados
na criação dos termômetros, mas a água tendia a congelar-se e o álcool
a evaporar-se. Assim, o físico francês Amontons tentou usar mercúrio.
No termômetro de Amontons (como no de Galileu), a expansão e con
tração do ar produziam uma elevação ou uma depressão no nível do
mercúrio. Foi em 1714 que Fahrenheit combinou o trabalho do Grão-
Duque de Toscana com o de Amontons, encerrando o mercúrio num
tubo e empregando sua própria expansão e contração com a tempera
tura como indicador. Além disso, Fahrenheit fez outra contribuição,
acrescentando ao seu tubo de mercúrio uma escala de grau de forma
que a temperatura pôde ser lida quantitativamente. Ninguém sabe ao
certo qual foi o método pelo qual Fahrenheit chegou à escala parti
cular que usou em seu termômetro. Conta-se que marcou zero no pon
to em que obteve, em seu laboratório, a temperatura mais baixa, mis
turando sal com gelo, marcando depois o ponto do congelamento da
36
água pura em 32 graus e sua ebulição em 212 graus. Embora isto
pareça um tanto arbitrário, foi eficaz porque foi mantido conseqüen
temente.
Em 1742, Celcius, um astrônomo sueco, adotou uma escala di
ferente. Na etapa final do seu desenvolvimento colocou-se o zero no
ponto de congelamento da água e 100 no seu ponto de fervura, subs
tituindo o 32 e 212 de Fahrenheit. Como a escala foi dividida em
100 graus, recebeu o nome de escala “centígrada”. A diferença entre
a escala de Fahrenheit e a centígrada continua importunando os estu
dantes que tentam recordar se é de cinco nonos mais 32 ou nove
quintos mais 32 da Fahrenheit para a centígrada. Devido ao fato de a
escala centígrada (ou, como a denominam muitos cientistas, a escala
de Celcius) ser mais conveniente, uma vez que se ajusta ao sistema
métrico, é mais amplamente usada pelos cientistas, embora a escala
de Fahrenheit seja a mais popular nos Estados Unidos nas mensura-
ções não-científicas da temperatura.
Voltando às nossas considerações originais sobre modelos, um
termômetro, seja qual for a escala de temperatura que usa, repre
senta um modelo físico de contração e dilatação de uma entidade física
e é um reflexo das mudanças do ambiente.
Mais adiante, no Capítulo IV, falarei um pouco mais sobre o
uso das operações físicas na definição. No momento gostaria de co
mentar mais um modelo físico que é usado como meio de mensuração
na nossa tentativa de ordenar os dados de nosso mundo. Esse modelo
é o relógio, um aparelho que tenta duplicar o movimento rítmico
aparente do sol. Com base nesse modelo fundamental de movimento,
a mudança de posição dos ponteiros de um relógio passa a significar
a passagem de tempo designada em termos de segundos, minutos e
horas. Num amplo sentido, pode ser possível começar uma conside
ração do tempo pela escala nominal, tais como a decisão binária de
dia/noite, cedo/tarde, e assim por diante, passando, a seguir, para
gradações de mais dias ou mais noites, mais cedo ou mais tarde. As
gradações são então assinaladas em termos de unidades de tempo, em
última instância, duplicam as mensurações inerentes ao movimento apa
rente do Sol.
37
Nem todos os modelos pretendem ser repetições tão claras de
outras operações físicas. Quando se fala do cérebro como um compu
tador ou de um computador como um cérebro gigante, tudo o que se
pretende é ilustrar a semelhança no armazenamento de informações
e nos processos de recuperação que ocorrem em cérebros e computado
res. Todavia, quer seja analogia, modelo, ou forma de um sistema con-
ptual, a mensuração deve basear-se, em última análise, em uma
peração física, do contrário se torna mera retórica.
38
III
39
teoria usam, de modo característico, três conjuntos diferentes de ope
rações, ou proposições, ao avaliar a teoria. Estes conjuntos são:
40
Este sistema não parece diferir muito de outros tipos de tomada
de decisão ou de solução de problema. Uma pessoa comum que toma
uma decisão ou resolve um problema tenta colher toda a informação
que lhe seja possível (em linguagem de computador ela escruta), ava
lia estas informações em termos da situação presente e de suas expe
riências passadas (memória), decide sobre uma direção de ação, no
que faz uma previsão (ou hipótese) que uma determinada direção de
ação será melhor do que outra e, depois da ação, verifica sua hipó
tese. A operação final consiste em acumular esta experiência para fu
turas referências, em um processo de realimentar a memória: (5)
41
Hull resume sua posição observando que: “A teoria científica em
um melhor sentido consiste em rigorosa dedução lógica a partir de
postulados definidos do que deve ser observado sob condições espe
cíficas. Não há teoria quando há falta de deduções ou quando elas são
logicamente inválidas; a teoria será mais metafísica do que científica
quando as deduções envolverem condições de observação cujo atendi
mento é impossível;. . . a teoria é falsa quando as condições são preen
chidas e o fenômeno deduzido não é observado”. (Itálicos meus)
O ponto de vista de Hull é o de que a natureza da teoria cien
tífica exige a determinação, por meio da observação, de sua verdade ou
falsidade. Define a verdade como uma dedução tórica que foi verifi
cada pela observação, incluindo a experimentação rigorosa.
Hull descreveu a teoria metafísica como envolvendo condições de
observação impossíveis de serem conseguidas. Segundo esse pensa
mento, podemos sugerir o seguinte esquema.
Rapoport ( 39) ofereceu alguns critérios para se testar uma teoria. M odi
fiquei e ampliei esses critérios conform e se segue.
42
3 . O problema da verificação. A s afirmações feitas em relação a um
evento podem ser verificadas pela experiência e submetidas a uma previsão
acurada? É a afirmação verdadeira?
(1 ) Um a boa teoria deve ser capaz de usar os dados que não confirmam
as hipóteses para modificar a teoria à luz dos mesmos.
43
Uma teoria começa a dominar os dados quando o cientista começa a
preocupar-se em provar que sua teoria é correta por meio da investi
gação dos dados que podem ou não apoiá-la. Conforme Renan (42)
observou há um século: “As pessoas ortodoxas têm geralmente muito
pouca honestidade científica. Não investigam, tentam provar que al
guma coisa necessariamente tem de ser como dizem. Os resultados
lhes foram fornecidos de antemão; este resultado é o certo, indubita
velmente certo. A ciência nada tem a ver com isto, ela parte da dú
vida sem saber para onde será levada e se entrega de mãos e pés
atados à crítica que, por sua vez, a conduz aonde quer que ela es
pecifique”.
Sidman (45A) resume algumas das objeções à construção de teo
ria da seguinte forma:
Uma teoria que se torna rígida obviamente não é uma boa teoria.
Mas não é incomum pessoas defenderem ou atacarem vigorosamente
uma teoria, usando os mesmos dados para fundamentar interpretações
contraditórias2. Isto está certo na medida em que os dados prevalecem
44
e as teorias continuem flexíveis. Porém, o que acontece quando a teo
ria dita a observação, quando as expectativas do que deve ocorrer
numa dada situação sobrepujam as observações reais? Um exemplo
extraído de um trabalho de Anna Freud no qual se refere a um caso
psicanalítico. Trata-se do caso de uma jovem “no período de latência,
que havia conseguido reprimir tão completamente a inveja que sentia
pelo pênis de seu irmãozinho — uma influência que dominou inteira
mente sua vida — que mesmo na análise foi extraordinariamente di
fícil encontrar qualquer vestígio dela”. (28) Aqui temos uma obser
vação interessante. Foi “extraordinariamente difícil encontrar qualquer
vestígio dela”, mas a teoria dizia que ela devia estar lá. Daí a res
posta — ela “havia conseguido reprimir tão completamente” que era
difícil — percebê-la. Isto parece-me uma “bête noire” da teoria. Não
se pode empregar o mesmo mapa rodoviário por onde quer que se
viaje.
ados, micrO-hipóteses, ordem e lei: método teórico informal. —
/\deptos do segundo método geral de pesquisa, o teórico-informal,
existe um grupo de pesquisadores que acredita que a construção da
teoria é um meio anti-econômico de realizar pesquisa, que o pesquisa
dor precisa somente passar das suas observações para a experimen
tação, em seguida dar alguma ordem aos dados de modo a buscar
relações funcionais entre as variáveis e, finalmente, chegar a alguma
formulação de lei organizada. Para este grupo as teorias são desne
cessárias porque são demasiado formais. Estes pesquisadores conside
ram que a tarefa da ciência consiste em ordenar os dados e encon
trar entre eles as relações sujeitas a leis, e temem que as teoriajs se
solidifiquem e comecem a determinar a pesquisa ao invés de integrar
seus dados.
O teste de hipótese também é considerado anti-econômico porque
o pesquisador que trabalha com uma hipótese rigorosa sente-se obri
45
gado a segui-la implacávelmente, a despeito de o princípio informal
da ciência, enunciado por Skinner, dizer que: “quando você encontrar
algo interessante, deixe tudo de lado para estudá-lo” . (52) Os teóri
cos informais consideram que a prossecução diligente de uma hipótese
é aceitável somente se não o impedir de ver os dados quando eles
começam a emergir. Este grupo mudaria prontamente um experimento
se na metade do mesmo surgisse algo novo (e talvez mais promissor).
Também sugerem que não há resultados negativos, ou a refutação de
uma hipótese. Para aprofundar um pouco mais, pesquisadores (tais
como Skinner) dizem que não é uma boa técnica de pesquisa especi
ficar uma hipótese que será confirmada ou refutada. Dizem que se
alguém procede assim, a confirmação da hipótese proporciona um re
sultado positivo enquanto que a refutação oferece um resultado nega
tivo. Dizem não haver uma coisa semelhante a um resultado negativo
porque qualquer resultado num experimento é importante se fornece
informação. Somente estruturando uma hipótese de forma rígida e ri
gorosa, um conceito de resultados negativos pode aparecer. Conforme
Sidman (45) destaca: “Quando simplesmente se formula uma pergun
ta à natureza, a resposta é sempre positiva”.
O grupo de pesquisadores que não se inclina pela hipótese en
contra alguma satisfação numa famosa citação de Newton: — Hy-
potheses non fingo — “Não faço hipótese”. Com isto Newton queria
dizer que deriva suas leis unicamente a partir da observação da natu
reza, o que considerava um processo distinto da formulação de uma
hipótese a respeito da causa possível do fato observado. Ele tam
bém disse: “Não me envolvo com conjecturas”. Acreditava que iima
observação cuidadosa e precisa dos eventos da natureza e um segui
mento passo a passo3 destes eventos proporcionaria, em última ins
tância, o material a partir do qual a teoria poderia se originar. Para
Newton tanto quanto para nós, uma teoria seria uma formulação sis
temática das relações entre eventos. Não é inteiramente certo dizer
46
que Newton não fez hipótese. O que realmente fez foi perguntar a
si mesmo sobre as relações casuais entre os gatos que observou. Suas
hipóteses foram criadas in loco, sem a costumeira formulação rigorosa
do método hipotético-dedutivo. Penso que todos os pesquisadores fa
zem este tipo de hipótese. Alguns as denominam palpites. Escolhi
para elas a denominação micro-hipóteses (“hypothesitos” ) que em
semi-espanhol significa “pequena hipótese”.
Outro princípio-chave do grupo teórico-informal é a confianç^,
quase que exclusiva, na investigação cuidadosa do caso único e não
de um grupo grande de sujeitos. Durante o último século tornou-se
tradicional usar um grande número de sujeitos para obter o que ge
ralmente se denomina uma amostra representativa, ou um grupo su
ficientemente grande a partir do qual são elabaradas hipóteses gerais.
Deve-«e recordar que, ao fazer uso deste estudo de grupo, o individual
tende a ficar obscurecido. Todos os indivíduos são juntados em uma
entidade estatística que não tem existência real. Por exemplo, pode-se
falar do padrão de interesse do adolescente como se houvesse um ado
lescente representativo de todos os membros desse grupo (uma remi
niscência da “idéia” platônica de uma classe, tal como uma cadeira
que representa o conceito de uma cadeira). Tudo o que se está fa
zendo é juntar os interesses mais freqüentemente encontrados (como
esportes, por exemplo) em um grupo particular e notar que o adoles
cente médio tem este agrupamento de interesses. Isto lhe diz pouco
ou nada de um adolescente particular que vive na casa da frente^
exceto talvez o que possivelmente você pode esperar encontrar. So
mente uma investigação do indivíduo pode lhe dizer se o seu padrão
de interesse concorda ou se desvia da média. Então, se você deseja
relacionar seu desempenho ao do grupo a que ele pertence, pode si
tuá-lo dizendo que ele tem interesses adolescentes abaixo da média, o
que significa que ele se desvia da norma em algum grau.
Talvez uma ilustração mais específica pode ser extraída da distri
buição da estatura de um grupo. Por exemplo, alunos de uma classe
de escola secundária têm em média a estatura de l,62m (ou (5’8’);
isto significa que, aproximadamente dois terços da classe se agrupam
ao redor desta média. Isto não eleva a estatura de um rapaz que mede
47
l,50m nem diminui a estatura de outro que mede l,70m. Poderia
ser importante conhecer a estatura média para fins tais como o pla
nejamento de um desfile; contudo, se se quisesse encomendar unifor
mes para a classe seria obviamente necessário tirar a medida de cada
um dos alunos.
Considerando a importância de concentrar a atenção no indivíduo,
Sidman, discutindo Skinner, comenta:
48
as rápidas bicadas. Naturalmente, isto pode aplicar-se aos registrado
res gráficos, aos cronômetros e às outras peças de equipamento usadas
para fins diversos.
A questão crucial é o tipo de dado desejado e a precisão do con
trole conseguido. Sidman oferece uma boa ilustração disto num relato
do estudo de uma droga:
49
mudanças no comportamento e o funcionamento fisiológico por um
período de tempo controlado e sob condições claramente especificadas.
O controle dos dados é essencial em qualquer metodologia, quer
seja a teórica-formal quer seja a teórica-informal, devendo-se tomar
as medidas necessárias para assegurar este controle. No capítulo se
guinte considerarei o problema crucial da definição. Há necessidade de
sepecificar as variáveis com as quais o experimentador está trabalhan
do. A definição dos termos é um meio básico de controle.
50
IV
O Problema da Definição
51
elas denominada “referência”? À primeira vista, os dicionários pa
recem sustentar a noção desses róis. Mas os dicionários não dão sig
nificados; na melhor das hipóteses oferecem palavras que têm o mes
mo significado”. No entanto, deve existir alguma operação clara pela
qual estas palavras podem ser relacionadas. Isto será discutido mais
adiante no presente capítulo, cabendo aqui somente uma breve ob
servação.
Três níveis da definição. Continuando a discutir o problema da
definição, quero sugerir que existem três níveis de definição que de
nomino cotidiano, poético e científico. A definição cotidiana é univer
salmente aceita, existindo uma compreensão geral em relação à mesma.
A definição poética não precisa ser universalmente aceita nem geral
mente compreendida; é considerada como pertencente ao âmbito da
liberdade e da criatividade individual. A definição científica é restrita
a um grupo limitado para o qual ela deve ter um significado específico.
Por exemplo, suponha que definimos a lua do ponto de vista da co
municação cotidiana, poética e científica. A definição cotidiana da lua
poderia ser “um corpo redondo e pesado que gira ao redor da terra,
que reflete a luz solar e torna-se cheio uma vez por mês”. A defini
ção poética poderia ser algo semelhante a “uma esfera prateada e
resplandecente que se destaca do negro manto do céu”. Finalmente,
uma definição científica poderia ser algo como “um corpo pesado,
um satélite do planeta terra (o terceiro planeta do sistema solar) em
torno do qual desenvolve uma órbita de 28 dias, situando-se a apro
ximadamente 384.000 quilômetros da terra; com um diâmetro apro
ximado de 3.477 quilômetros e que reflete a luz solar”.
Pode-se notar que uma definição precisa da lua, do ponto de
vista científico, deve começar inevitavelmente por definir coisas como
planeta e sistema solar (que é uma estrela do tipo G O ), e asisim
por diante. Obviamente, os três tipos de definição diferem quanto à
clareza e à especificidade. Conforme mencionei, o erro maior é a
transferência de uma definição cotidiana (ou, o que é menos provável,
de uma definição poética) para o uso científico. Um astrônomo difi
cilmente poderia fazer mensuração usando conceitos que seriam acei
táveis na conversação diária, tais como “tornando-se cheia uma vez
52
por mês”. A definição científica deve lidar com descrições específicas
e inequívocas. Neste ponto deve-se observar também que a transfe
rência da comunicação científica para o âmbito cotidiano ou poético
seria igualmente inadequada. O enamorado às margens de um lago
que descrevesse a lua para a sua namorada como o satélite do ter
ceiro planeta do sistema solar (a terra) provavelmente teria tão pouco
êxito como um astrônomo poético em um simpósio científico. Na
conversação diária tais descrições são consideradas pedantes.
O Problema da clareza. Não é demais frizar que um dos maiores erros
no método científico é usar as definições cotidianas. No entanto, este
problema é muito freqüente em certos tipos de pesquisa, especialmen
te naquelas que se ocupam do comportamento humano e de proble
mas clínicos. Por exemplo, considere a palavra “ansiedade”, uma pa
lavra corrente para a qual existe uma definição cotidiana suficien-
temente clara. Mesmo uma palavra como personalidade, que tem nu
merosos significados1, é relativamente pouco clara em certos contextos,
embora esses usos difiram. Por exemplo, às vezes, personalidade é al
guma coisa que uma pessoa pode ter (“ele tem muita personalidade” ).
O fato de se poder falar de “muita” sugere que há alguma escala apro
ximada de magnitude que vai do pouco ao muito. É algo que pode
ser tratado com um julgamento de valor ( “Eu não gosto de sua per
sonalidade” ). Designa certas características de identificação tais como
“ele é uma personalidade de Hollywood”. Todas estas são definições
cotidianas que têm relativa clareza dentro dos usos específicos para
os quais foram elaboradas. Como a palavra ansiedade, o vocábulo
personalidade conduz à confusão quando se procura fazer uma pes
quisa científica. Falar de “desajustamento de personalidade” sugere
que alguma coisa foi perturbada, mas o que? Somente sujeitando um
53
termo cotidiano vago, como personalidade, a um significado e a uma
definição científica pode-se tentar uma pesquisa significativa.
Certamente os compêndios não servem como árbitros finais, con
forme pode-se ver na seguinte definição de ansiedade, extraída de um
livro de texto-padrão de psiquiatria (26): “Num certo sentido, ansie
dade é o mecanismo que adverte o ego de que existe alguma coisa
errada na personalidade. O próprio ego usa a ansiedade para indicar
que algo no id ou no super-ego ameaça o ego” . Embora possa existir
certa compreensão geral desta afirmação, é claro que a compreensão
científica nunca poderia emergir dela. Para tornar semelhante defini
ção significativa é preciso definir de modo claro e inequívoco os ter
mos ego, super-ego, personalidade, id e mesmo ansiedade, de modo
a poder relacioná-los aos fatos demonstráveis e replicáveis vinculados
aos dados. Mensionei que uma definição da lua poderia exigir, em
última análise, outras definições de planeta, satélite e outros termos
usados em uma definição científica. Mas isto é diferente no caso de
termos como id, ego, e personalidade. A primeira definição (da lua)
pode ser relacionada a eventos observáveis e demonstráveis, enquanto
que os termos personalidade, id e ego permanecem como símbolos
verbais formais. À medida que continuarmos nossa discussão, volta
remos a este tópico.
Uma fase deste problema de definição pode ser resumida numa
citação de Quine (38) que observou que: “quanto menos avançada é
uma ciência, tanto mais sua terminologia tende a repousar em uma
suposição acrítica de compreensão mútua”. Quando indivíduos comu
nicam observações com termos mutuamente compreendidos mas va
gos (tais como personalidade), ao invés de usar termos baseados em
fundamentos científicos, a pesquisa é retardada. Considere outro exem
plo: Se alguém pretendesse fazer pesquisa em psicoterapia (difusa
mente definida como o tratamento de problemas emocionais), logo se
depararia com o termo ‘melhora’, amplamente usado para indicar uma
mudança no comportamento da pessoa. Contudo, raramente se encon
tra qualquer definição clara do que seja melhora. Se você perguntasse
a uma psicoterapeuta o que entende por esta palavra ele poderia dizer:
“Bem, todos sabem o que melhora significa”, assim como poderia
54
dizer “todos sabem o que ansiedade” significa ou “todos sabem o que
significa personalidade” . Isto ilustra o uso das definições cotidianas,
mutuamente compreendidas e universalmente aceitas em uma situação
que exige definição científica. Dizer que “todos sabem. . . ” é re
petir a pergunta e evitar o assunto principal da clareza e precisão
da definição. Conforme Quine sugeriu, a suposição mútua de com
preensão é realmente uma abordagem imatura do método científico.
55
Diria que para esta definição ter alguma utilidade genuína como
uma afirmação verbal e ter significado operacional, seria necessário
que se definisse operacionalmente os aspectos qualificativos: “relativa
mente permanente” e “mais ou menos irreversível”.
É evidente que a definição operacional começa com observação.
O observador registra e relata os fatos e tenta comunicá-los de modo
a dar o máximo de clareza possível. Uma das objeções ao máximo de
clareza é a de que o número de definições envolvidas pode se tornar
excepcionalmente incômodo. Por outro lado, quanto mais nos aproxi
mamos da certeza e da clareza, mais específicos e particulares nos
tornamos, enquanto que, em última análise, a própria ciência deve
conduzir à generalidade e predição. Não creio que esta objeção ao
uso da definição operacional seja legítima. Penso que o número de
definições exigidas depende de circunstâncias específicas. Bridgman
(16) sugeriu que o uso comum prefere a ambigüidade, e um número
pequeno de palavras, em lugar da clareza e de um (grande número
de palavras.
56
uso. Por exemplo, a palavra “chave” tem, em inglês, ;mais de vinte
significados, cada um dos quais relacionado a um referente opera
cional específico (música, fraternidade, casa, etc). Talvez isto tam
bém pudesse ser feito com maior clareza operacional com a palavra
personalidade que tem muitos significados.
De certa forma, isto foi feito através de uma espécie rudimentar
de análise fatorial, por um grupo de psicólogos (64), que tentou en
contrar algum significado coerente na palavra “emoção”, e quando
encontraram mais de vinte definições. Quando estes psicólogos fatora-
ram o elemento comum a todas as definições de emoção verificaram
que uma característica aparecia em todas elas: atividade alterada do
sistema nervoso autônomo. É evidente que uma definição de emoção
de um leigo poderia conter aquela frase particular, mas sua descrição
do comportamento envolvido, provavelmente, indicaria um aumento no
ritmo cardíaco ou na transpiração, ou algo semelhante na atividade
fisiológica. Estas são atividades alteradas do sistema nervoso autônomo
e assemelham-se às descrições apresentadas em termos mais profis
sionais. Quando é possível apontar um fator, isto oferece o começo
de uma definição mais satisfatória de uma palavra como emoção.
Temos algo que é mensurável. (E você já sabe como aprecio as
coisas que são mensuráveis).
As observações devem começar sempre com uma definição espe
cífica, clara e restrita. Somente com esta base é possível fazer um
movimento no sentido de obter uma correlação de observações espe
cíficas que contribuam para um corpo de conhecimento mais amplo.
Uma objeção freqüentemente feita à definição operacional é a de
que, no final, ela encurrala o definidor num canto. Rapoport (39) co
mentou este fato valendo-se de um exemplo divertido no qual mostra
que um positivista lógico estrito, aferrado a seus princípios e que se
ativesse somente a eles, não poderia dizer: “Há uma ovelha preta”.
Ele somente poderia dizer: “Vejo uma ovelha preta, um lado da mes
ma é preto”. Se lhe perguntarem se realmente não acredita que a
ovelha seja preta ele responderá: “Minha experiência anterior com
ovelhas que tinham um lado preto me faz esperar que, se a presente
ovelha se virasse, eu poderia receber dados sensoriais semelhantes”.
57
Esta descrição pode parecer ridícula uma vez que o observador parece
ser excessivamente compulsivo em sua descrição. Mas se alguém subs
tituir a palavra ovelha por lua, o assunto fica diferente. Até recente
mente, um observador somente poderia dizer que “ ali está a lua, em
um dos lados tem crateras”. Isto porque ninguém tinha visto o outro
lado da lua e a, experiência nos limitava a conjecturar sobre o outro
lado. Em outras palavras, vimos muitos lados de ovelhas e temos a
experiência que nos possibilita inferir (com alto grau de probabilida
de) que uma ovelha terá a mesma cor de ambos os lados. Conquanto
houvesse certamente um bom grau de probabilidade de que do outro
lado da lua também existiam crateras, não havia qualquer experiência
que nos permitisse fazer semelhante inferência. A definição operacional
ou a descrição lógica positivista da lua tinha que restringir-se à des
crição do que era comumente observado.
58
ser considerada falsa. Como um todo, os símbolos matemáticos não
precisam de referências empíricas imediatas mas podem existir dentro
de uma estrutura puramente formal.
Os símbolos formais podem aparecer em definições operacionais
como no exemplo que se segue. Um psicólogo, descrevendo as con
dições sob as quais realizou certo experimento, faz notar, ao definir
fome (uma definição cotidiana objetiva que ele tenta tornar operacio
nal) : “Neste experimento os ratos foram privados de alimento durante
um período de 72 horas”, um procedimento aceito para fazer com
que o animal fique faminto. A palavra hora é uma palavra formal
simbólica que tem uma relação com um evento físico puro, ainda que
um tanto remoto. Já discutimos (pág. 37) este aspecto quando con
sideramos os níveis de mensuração, mas uma breve revisão do prin
cípio, nesta área diferente, poderá ser útil. O psicólogo usa o termo
hora, um símbolo verbal, formal e não-físico, que se converteu em
um sinal que designa uma passagem específica de tempo indicado pelo
movimento de um par de ponteiros ao redor do mostrador de um re
lógio. O movimento dos ponteiros é uma operação física a que se deu
uma designação simbólica (segundo, minuto, hora). A operação física
final é o movimento dentro do próprio relógio que produz o movi
mento dos ponteiros. Um relógio é um modelo físico do movimento
rítmico aparente do sol. Desta forma, quando um psicólogo diz que
privou um rato de alimento por 72 horas (definindo assim a fome)
está usando uma definição verbal simbólica relacionada com dois
outros níveis de definição de movimentos — ambos físicos — signifi
cando a passagem do tempo e o modelo do relógio. Não precisa es
pecificar isto quando faz a sua afirmação porque isto já é conhecido.
59
Conceitos inferidos e inventados. Intimamente relacionada com o ex
posto anteriormente está a questão dos conceitos inferidos e inventados.
É evidente que muitos dos conceitos com os quais o cientista trabalha
são inferidos de dados e que outros são construídos para descrever
certos eventos observados. Por exemplo, o átomo é um conceito inferi
do que tem sua origem em dados observados que, presumivelmente,
existem realmente. A descoberta ou a observação do próprio átomo de
penderá do desenvolvimento de mensurações cada vez mais precisas.
E, assim, ainda que o termo átomo possa ter propriedades formais
e estar diferencialmente relacionado a eventos físicos, em última ins
tância ele poderá ser um evento fisicamente observado. O termo cons-
tructo hipotético tem sido usado para descrever este tipo de conceito
inferido, cuja existência se supõe e cuja descoberta poderá ocorrer
como resultado de experiência.
60
Para resumir este aspecto da discussão dos métodos operacionais,
gostaria de voltar a Feigl (27), que estabeleceu os seguintes critérios
para métodos operacionais, que modifiquei da seguinte forma:
61
O Laboratório e o “Mundo Real”:
Pesquisa com Animais e Seres Humanos
64
ciplina regeneradora onde um fato conduz a outros eventos possíveis
num turbilhão crescente de novas informações. Conforme Bronowski
(19A ) afirmou:
Mas por que animais? Ainda persiste a questão — por que animais?
Supondo que uma pessoa se dedique à psicologia como carreira ou se
matricule num curso de psicologia porque está interessada em com
portamento humano, por que tem que desviar-se e trabalhar com o
onipresente rato branco? E o que isto tem a ver com o comportamen
to humano? Skinner (51 A) discutiu essa questão:
65
não podemos nos precipitar e afirmar a existência de similaridades
ou diferenças até que tenhamos dados para tanto.
Portanto, uma razão para a pesquisa com animais é a exeqiiibi
lidade de se conduzir com animais pesquisas que não poderiam ser
feitas com sujeitos humanos. Por exemplo, o funcionamento do cére
bro não é uma área tão esclarecida como certos textos a apresentam,
obedecendo a interesses de simplicidade. Volumes foram escritos sobre
fatos cotidianos, tais como sono e consciência, sem se dar uma defi
nição verdadeira, clara detsses eventos. Grande parte do trabalho rea
lizado no importante estudo do funcionamento do cérebro foi feito
com animais, cujas áreas do cérebro foram removidas, estimuladas
com corrente elétrica, ou submetidas a lesão química e cirúrgica, tudo
isto tendo em vista encontrar respostas para a estrutura e a função
do cérebro e do sistema nervoso central. Estes experimentos poderiam
ter sido feitos com seres humanos? É claro que não. Não se poderia
fazer nenhuma extirpação cirúrgica sistemática ou implantação de
elétrodos no cérebro de um ser humano com o objetivo de estudar
questões tais como o efeito da estimulação elétrica dos centros ce-
*
66
mano (em parte pelas características da espécie e em parte pelo ín
timo contato com os seres humanos) provavelmente dar-se-á preferên
cia ao cão. A independência do gato não se confina ao lar e ao
coração. Os gatos são conhecidos como recalcitantes sujeitos experi-
nentais na pesquisa de comportamento.
Os estudos genéticos de espécies com duração de vida pequena.
) que permite acompanhar muitas gerações, somente podem ser feitos
com animais como a mosca-de-fruta (drozófila). Seria impossível para
um experimentador acompanhar mais do que duas ou três gerações de
seres humanos em um estudo genético, e lhe seria impossível mani
pular fatores genéticos para estudo. Isto pode ser feito com animais.
É verdade que, a despeito de todas as razões intelectuais para usar
certos animais experimentais, um pesquisador pode desenvolver pre
ferências por uma espécie e verificar que muitos dos seus experimentos
são ditados pelo seu animal favorito. Confesso ser um homem de
pombos, muitos dos meus experimentos são realizados tendo estes
pássaros como sujeitos. Alguns experimentos — com drogas, por /
67
um exemplo na instrução programada e nas máquinas de ensinar usa
das com estudantes, cujas bases se encontram em pesquisas anteriores
sobre aprendizagem, tendo pombos como sujeitos. Com a necessida
de de se fazer mais experimentos sobre as leis básicas da aprendiza
gem, o problema pode, na melhor das hipóteses, ser acadêmico, mas
um fato ressalta claramente e merece atenção: existe-uma abordagem
errada por analogia entre o comportamento humano e animal que so
mente serve para aumentar a confusão. Esta abordagem por analogia
baseia-se na suposição de que, para estudar, nos animais, um fenô-
nômeno que se relaciona com o comportamento humano, é necessá
rio estabelecer condições completamente análogas — por exemplo,
para estudar o comportamento psicótico, precisamos tomar o rato
psicótico. Vamos considerar o erro analógico com maiores pormenores
por tratar-se de um problema central.
68
Precisamos ser capazes de classificar nossas variáveis de tal maneira
a poder reconhecer semelhanças nos seus princípios de operação, a
despeito do fato de suas especificações físicas serem bastante dife
rentes”.
Permita-me apresentar um exemplo mais pormenorizado desta
abordagem, considerando um problema de comportamento humano
muito comum — a depressão. Se tivesse que descrever uma pessoa
que está deprimida, provavelmente diria, entre outras coisas, que ela
está indiferente, perdeu o apetite, que não se esforça, parece triste,
vai dum lado para outro na casa ou senta e olha fixamente para os
próprios pés, fala em voz baixa e monótona, se é que fala). Todas
estas constituem descrições de comportamentos que podem se agrupar
sob uma classe geral de atividade reduzida e de ausência de resposia.
Suponha que sejamos capazes de determinar se um evento se associa
a esta ausência de resposta generalizada, por exemplo, a perda de
sua noiva. O observador relata que a pessoa recebeu uma carta de
sua noiva, rompendo o noivado, e começou a exibir um comporta
mento semelhante ao descrito anteriormente. Não queria comer, pres
tava pouca atenção aos amigos, faltava às aulas, passava grande parte
de seu tempo deitado na cama, olhando fixamente para o teto, geral
mente parecendo triste. Na terminologia técnica, podemos dizer que
um reforço generalizado foi suprimido e apareceu uma ocasião para
a redução: “Sua noiva rompeu cóm ele e ele está deprimido”.
É manifestamente impossível reproduzir exatamente estas con
dições no laboratório, isto é, ter um macaco que receba uma carta:
“Querido João. . . ” Mas, podemos programar um estudo no qual pos
sam ser investigados processos de comportamento e que poderiam ter
alguma relação com o anterior. Comecemos com um modelo de com
portamento do estudante: S representa o estímulo e P a pessoa, o
estudante. O esquema pode ser esboçado assim:
51 (sua noiva)
5 2 (alimento)
S i (aulas)
Sn (outros estímulos que atuam sobre ele)
69
Sua noiva, Si, foi removida, interrompendo o ritmo de x resposta
a este tipo particular de estimulação. O efeito da extinção (retirada do
reforço positivo ou das conseqüências agradáveis da relação) se es-
tênde a outros estímulos, de modo que o jovem deixa de responder
a S2, S3, S4 e Sn. A amplitude do efeito do condicionamento e extinção
é bemJ conhecida nas pesquisas de aprendizagem. Desta forma, temos
agora o começo de um modelo. Podemos elaborá-lo um pouco mais
e considerar outros aspectos a estudar. Antes do rompimento do com
promisso, é possível que existissem fatos que indicavam uma pertur
bação nas relações entre o estudante e a sua noiva. Talvez um dia
ele a tiveisse visto (passeando no parque de mãos dadas, com um ho
mem. Provavelmente, este seria um evento perturbador, um estímulo
que o advertiu sobre a iminência de eventos desagradáveis. Seu com
portamento em face de um estímulo de advertência, como o referido,
pode ter-se tornado agitado, preocupado ou mau humorado. A carta
informando-o do término do noivado seguiu-se a este estímulo de
advertência e pode ser considerada como o fato desagradável final que
suscitou a depressão. Desta forma podemos ampliar nosso modelo,
acrescentando um estímulo de advertência no sistema: Sa (para es-
ítmulo de advertência) aparece entre o estudante e Sx (sua noiva).
Sa
H iM if W
Ê>1
Sa
70
entre os dois macacos, o segundo poderá ser removido, privando o
primeiro da fonte de muitos de seus reforçamentos. Então poderíamos
observar as mudanças subseqüentes no comportamento do animal ex
perimental. Poderíamos até usar um estímulo de advertência para si
nalizar o iminente desaparecimento do reforço generalizado e observar
comportamento do nosso macaco em presença deste estímulo.”
Por exemplo, o estímulo de advertência poderia ser uma luz ver
melha que se acendesse antes do segundo macaco ser removido. Neste
caso, teríamos um macaco deprimido? Não importa qual a denomina
ção que se empregue. Não importa o nome dado a este processo de
comportamento desde que se possa estabelecer se existe semelhanças
entre a sua ocorrência no homem e no animal, ante a remoção de um
estímulo reforçador forte. O macaco pode recusar alimento ou em
panturrar-se com bananas, o homem pode recusar alimentos ou em
bebedar-se. O que nos interessa é o processo de comportamento de
ambos em presença de condições similares.
Em resumo, o ponto crucial do erro analógico é não distinguir
semelhança de analogia. Se alguém que está mendigando na rua apren
de que, vestindo roupas esfarrapadas, aparentando (ou realmente ten
do) uma deformação física e apresentando um semblante que cause
piedade, pode obter mais dinheiro, então podemos dizer que seu com
portamento foi modelado de modo a ele poder obter maior recompensa.
Se um urso num zoológico aprende que ficar em pé sobre as suas
patas traseiras e apresentar-se com as partes dianteiras ligeiramente
dobradas faz com que os visitantes lhe dêem mais guloseimas, pode
mos dizer que seu comportamento também foi modelado por ser o
mais recompensado. Existe uma semelhança — um padrão particular
de comportamento é bem sucedido e mantido. Podemos dizer que
tanto a pessoa esfarrapada como o urso que fica em pé estão men
digando, mas isto pode ser interpretado como uma abordagem an
tropomórfica da mendicância.
71
VI
73
em um animal que alcança sua maturidade rapidamente. Essa senhora,
indiscutivelmente uma sincera amante dos animais, encontrou tempo
para escrever uma carta para a universidade na qual essas pesquisas
estavam sendo realizadas, protestando contra o que ela acreditava
serem práticas de laboratório cruéis e desnecessárias. A carta foi a
seguinte:
74
uso das lentes de contato, que foram polidas com grande precisão pelo pes
quisador muito capaz e responsável pelo projeto.
Este tipo de experimento não é cruel e certamente não é inútil. Conhece
mos muito pouco sobre o desenvolvimento da visão, e os tipos de experimento
que o D t .-------------- e outros estão realizando nos podem fornecer informações
extremamente úteis sobre a vista, e esperam fornecer informações que auxilia
riam a corrigir defeitos visuais e talvez m esm o evitar sérios defeitos, tais com o
a cegueira em crianças. N ão se pode usar seres humanos nestes experimentos
porque, em grande parte, o desenvolvimento da criança é muito mais lento
do que o dos gatinhos. Os gatinhos, com o a senhora sabe, em cerca de um
ano se desenvolvem, tornando-se adultos; além disso, as mudanças na sua
acuidade visual e as diferentes espécies de percepção ocorrem de uma ma
neira semelhante à do hom em , embora num ritmo muito m ais rápido, e eles
são mais sucetíveis a um estudo cuidadoso.
75
1. Todos os animais usados para fins experimentais devem ser adquiridos
legalmente e sua retenção deve estar estritamente de acordo com as
leis e regulamentos federais e locais.
76
trolados, e isto está diretamente envolvido no planejamento e execução
ética da pesquisa. Há 'alguns anos atrás, um grupo bem treinado de
psicólogos das forças armadas foi censurado por fazer pesquisas
sobre tensão em condições de combate simulado. Um de seus expe
rimentos foi realizado aproximadamente da esguinte forma: um
recruta era conduzido a uma área de “combate” e deixado ;numa ca
verna com instruções para permanecer nela enquanto ocorres
sem explosões. Na caverna ele estaria protegido de qualquer perigo
resultante da explosão. Ele foi equipado com um rádio que
poderia receber mas não transmitir. Algum tempo depois, ocorria
uma explosão; através do rádio, foi informado de que a explosão
havia obstruído a entrada da caverna mas que ele não de
veria preocupar-se. Todos os esforços estavam sendo feitos para
tirá-lo de lá. Foi informado, nesse momento, que, se desejasse arran
jar o rádio de modo a poder transmitir e pão só receber, deveria
seguir as seguintes instruções. Recebia então instruções radiofônicas
aproximadamente assim: “pegue aquele cabo azul que sai do terminal
marcado com um C e ligue-o ao terminal vermelho. . . ” e assim por
diante, instruções explícitas para que o rádio pudesse se transformar
num transmissor.
77
se tratasse de um bom procedimento, os riscos que envolvia para a
saúde do sujeito tornou-o duvidoso do ponto de vista de um procedi
mento aceitável. Inerente a isto existe o problema da irreversibilidade
do dano. Não sabemos o suficiente sobre os efeitos da tensão em um
ser humano para dizer que semelhante experimento não produziria
mudanças fisiológicas que poderiam ser permanentes e nocivas, mesmo
sem considerar o elemento do risco de fatalidade que pode ser um
resultado de severa tensão.
Esta técnica de colocar uma pessoa em situação que ela acredit;
ser de perigo mortal é, evidentemente, mais eficaz do que perguntar
lhe como se comportaria em tais circunstâncias ou dizer-lhe para dm
matizar tal situação. A simulação da tensão é sempre um problema
Por exemplo, se um estudo fosse feito em submarinos para testar
o efeito de viver em ambientes limitados, sob condições difíceis, poi
longo tempo, o estudo não seria válido se o submarino estivesse sub
merso mas preso a um mole, e os marinheiros estudados soubessem
que, em uma emergência, poderiam voltar à superfície e obter auxílio
O conceito de planejamento representativo aqui é apropriado. Brum
wik (20) sugeriu termo para descrever o ótimo em planejamento e\
perimental, um mínimo de artificialismo e um máximo de controK
das variáveis, isto é, o problema estudado deveria ter realidade e a*
variáveis deveriam ser cuidadosamente controladas. Nesta situação
de tensão, a questão de planejamento representativo, é importante al
cançar uma realidade honesta arriscando vidas, ou produzindo grav
perturbação no comportamento (como no caso da caverna), ou sacri
ficar a realidade e usar uma técnica menos perigosa?
Encontramos uma resposta num artigo de Berg (14) em que o
autor apresenta três elementos básicos de ética na pesquisa com se
res humanos.
78
está consentindo, pelo menos em linhas gerais” . No caso de pacientes
em hospitais psiquiátricos nem sempre é possível ou significativo obter
o consentimento de um paciente mental porque ele é legalmente in
capaz de dar esse consentimento. Nestes casos, é possível obter o
consentimento do médico do paciente, de sua família ou de alguma
pessoa responsável pelo seu bem-estar, antes de atuar como sujeito num .
♦
projeto de pesquisa. Com respeito ao uso de registros, tais como os
registros de casos de hospital, freqüentemente não é possível obter
o consentimento do paciente ou do médico. O uso destes registros
em pesquisas (ou, talvez em um livro de texto) é ético. . “se as
pessoas envolvidas não são prejudicadas pelo uso de seus registros ou
se suas identidades não são reveladas publicamente. .
Isto se relaciona diretamente com o segundo aspecto ético na
utilização de seres humanos como sujeitos: a confidência. Nenhum
sujeito gostaria que outros soubessem de seu desempenho em certas
tarefas ou, no caso de questionário sobre crenças pessoais, quais fo
ram as suas respostas. Se ele sente que pode confiar no experimen
tador, que não revelará nada sobre ele, pode funcionar mais efetiva
mente como sujeito. O psicólogo está obrigado a respeitar o princípio
da confidência em seu trabalho. Se ele deseja usar os resultados de
um estudo particular e publicá-los, deve assegurar-se de que nenhum
de seus sujeitos será identificado. Os dois primeiros princípios, con
sentimento e confidência, são ilustrados no conhecidíssimo relatório de
Kinsey sobre comportamento sexual. Kinsey usou voluntários no seu
estudo sobre práticas sexuais — cada sujeito sabia de antemão exa
tamente o tipo de perguntas que teria de responder e tinha a oportu
nidade para se apresentar ou não como voluntário. Além disso, os
relatos foram cuidadosamente preparados de forma a não ser possí
vel identificar os que tivessem participado no estudo. Manter a con
fidência dos dados de pesquisa que envolve sujeitos humanos é da
maior relevância para que haja uma relação de confiança entre o
público e o cientista.
V
79
perimentador seja treinado e competente para usar, na pesquisa, pro
cedimentos que seus colegas aceitam como padrão, isto é, “que tenham
sido testados muitas vezes pór muitos investigadores”. Isto, porém,
apresenta um problema especial, porque, obviamente, a pesquisa não
pode empregar os mesmos procedimentos, repetidas vezes, em todos
os casos, se se deseja que ela mostre alguma originalidade. No caso
de procedimentos novos ou originais não padronizados, eles devem ser
considerados como aceitáveis por outros pesquisadores competentes.
Às vezes se torna necessário ocultar aos sujeitos o verdadeiro
objetivo do experimento. Isto é sempre uma fonte de preocupação
para o experimentador. Por exemplo, em um experimento bem plane
jado, relatado por Hefferline e colaboradores (32), os investigadores
desejavam ver se podiam condicionar um sujeito e emitir uma resposta
de contração muscular mínima que o sujeito não percebia tê-la pro
duzido. Para registrar essa diminuta contração do polegar, colocaram
um elétrodo e o ligaram a um eletromiógrafo que registra, eletrica
mente, e amplia a atividade muscular. Durante o experimento os su
jeitos ouviam música, à qual se superpunha um ruído. Podiam in
terromper o ruído por uma contração muscular “inconsciente”. Os su
jeitos foram condicionados a esta contração muscular que não per
cebiam, mas que conseguia fazer parar o ruído desagradável que in
terferia com seu prazer de ouvir música. Quando se disse aos sujeitos,
em uma outra fase do experimento, para contrair um músculo de seu
polegar e interromper o ruído, foram incapazes de produzir uma res
posta exigida suficientemente pequena.
Se os sujeitos tivessem sido originalmente informados do propósito
do experimento, teria sido impossível verificar se poderiam ser con
dicionados a emitir uma resposta de esquiva inconsciente. O conheci
mento do propósito te-los-ia tomado conscientes e, como vemos, eles
foram incapazes de manter a resposta suficientemente diminuta quan
do o tentaram conscientemente. Este é um procedimento novo e, num
certo sentido, os sujeitos foram enganados, pelo experimentador, em
suas instruções. Consentiram em um experimento sem conhecer as
suas exatas condições, mas esta não é, de forma alguma, uma prática
não-ética. Os experimentadores obtiveram um consentimento geral dos
80
sujeitos para participar, não violaram sua vida privada, não os subme
teram ao desconforto, mantiveram a confidência (embora este tipo de
experimento não envolvesse respostas altamente pessoais) e, o mais
importante em vista da natureza original da técnica, se restringiram a
um procedimento que seria considerado altamente aceitável por todos
os psicólogos componentes.
Uma última consideração sobre os procedimentos padronizados e
aceitáveis. O psicólogo que dirige a pesquisa é obrigado a assegurar-se
completamente de que todas as precauções foram tomadas em todos
os seus procedimentos. Se está usando um aparelho elétrico, é vital
que se assegure de que todos os cabos estejam adequadamente isolados,
que o equipamento esteja adequadamente instalado, e assim por dian
te. Se o experimento exige esforço físico ou tensão, é vital que obtenha,
de um médico, um atestado da saúde física do sujeito. As precauções
normais e a cortesia evitarão a maioria dos possíveis problemas que
poderiam surgir no uso de sujeitos humanos em pesquisa.
Os problemas até agora discutidos em relação à pesquisa com
seres humanos tornam-se mais críticos quando a pesquisa é feita uti
lizando-se crianças como sujeitos experimentais. Aqui aplicam-se os
mesmos princípios, mas é evidente que os adultos estão em melhor
posição para compreender os propósitos da pesquisa e as tarefas
envolvidas. Certamente, um adulto estaria em uma posição de dar seu
consentimento a um procedimento experimental, enquanto que o mes
mo não ocorre com a criança. Portanto, o experimentador deveria
conseguir antes o consentimento dos pais da criança, ou de algum
adulto responsável por ela, antes de começar um experimento. Baldwin
(6) discute estes problemas amplamente em um manual sobre pesquisa
com crianças. Destaca a necessidade de explicação dos objetivos e pla
nos da pesquisa aos pais da criança e de responder, com honestidade,
a quaisquer questões por eles formuladas. O experimentador não pode
permitir-se o luxo de considerar que os temores dos pais são infun
dados, mesmo quando sabe que nada potencialmente prejudicial poderá
ocorrer durante a pesquisa. Ao realizar a pesquisa, o experimentador
p
81
maior consideração do que a melhor conveniência do esquema do ex
perimentador.
O aspecto confidencial do material obtido na pesquisa com crian
ças é tão importante quanto o é com sujeitos adultos, talvez até mais,
porque danos incalculáveis podem ser causados a uma criança por um
experimentador bem intencionado, que forneça aos pais informações
sobre seus filhos, não estando eles aptos a compreende-los ou usá-los
objetivamente. Isto é particularmente verdadeiro quando a pesquisa é
conduzida por experimentadores inexperientes, ou quando o material
usado é constituído por testes psicológicos que são usados tanto em
pesquisas com crianças como com adultos. Este uso ou abuso dos testes
psicológicos também ocorre nas clínicas ou em situações escolares,
independente de pesquisa, e é descrito por S to n e (ó l): “ . . . Parece
haver um reconhecimento geral da grande flutuação e do pouco valor
de previsão dos testes individuais pré-escolares. Ainda mais, é tão geral
o reconhecimento da duvidosa precisão de previsão de um teste indi
vidual, mesmo para crianças de mais idade, que hoje em dia é muito
menos freqüente encontrar psicólogos que comunicam aos pais o QI
de seu filho, para que o usem como símbolo de honra ou de vergonha.
Contudo, ainda existe um número de psicometristas menos cuidadosos
e de aplicadores de testes escolares (freqüentemente não-psicólogos)
que comunicam este tipo de dado não-qualificado com demasiada li
berdade e, desta forma, freqüentemente produzem danos incalculáveis
à imagem que a criança faz de si mesma ou na apreciação que dela
íazem seus pais”. Isto também pode se aplicar aos resultados obtidos
nas situações de pesquisa em que não se usam testes.
Os problemas éticos da pesquisa, tanto com adultos como com
crianças, se resumem nas práticas de interação entre pessoas humanas
e outras ponderadas simples. Catherine Landreth, em uma carta di
rigida à revista American Psychologist, publicada em setembro de
1961, invocou a imagem de Ana em The King and I (Ana e o Rei de
Sião), dizendo que compreender crianças e realizar pesquisa com
elas é, “em grande parte, questão de: chegar a conhecê-las, chegar
a querê-las, estando com elas conseguir saber o que dizer, ver à ma
neira delas, tanto quanto mostrar-lhes a sua maneira de ver, porém
carinhosamente.”
82
VII
83
gem cerebral — referiu-se aos que pesquisam m otivação com o ‘'manipuladores
profundos”, um termo elaborado para cair em solo fértil, preparado para o pú
blico pela “manipulação profunda” do inconsciente mágico, demonstrado no
livro Three faces of Eve (A s três faces de E va ) ou pelo contrário hipnótico
difundido pela obra Search for Bridey M urphy. Cçrtamente, o psicólogo adota
uma atitude crítica diante destes acontecimentos. Pode oferecer explicações al
ternativas para a “personalidade múltipla” de Eva e indicar as falsidades na
misteriosa “reencarnação” de Bridey Murphy. Mas, mesmo depois de escla
recidas estas coisas, na mente do público persiste o saliente pensamento de que
a pessoa tem um inconsciente desconhecido até para si mesma, de que ela não
tem controle consciente (idéia esta reforçada no livro A s Três faces de Eva,
onde as “personalidades lutam entre si para obter o controle” ), e que uma
•outra pessoa, por meio de lavagem cerebral ou por hipnose, pode controlá-la.
84
constitui um relato ilusoriamente simples da teoria da relaticidade ou
da pesquisa médica. Por exemplo, as explicações popularizadas do efei
to de drogas que produzem estados semelhantes ao psicótico, relatos
que dizem mais ou menos o seguinte: “A Nova Alma de Cary Grant
Através da Milagrosa Droga Mental o Ácido Lisérgico”.
Desta forma, ao lado da história de uma estrela do cinema ita
liano, talvez o relato do desaparecimento do juiz Crater, de receitas
para o dia de Graças, e das piadas favoritas de um cômico da TV,
aparece alguma coisa sobre ciência, usualmente envolta em uma mística
peculiar e esta popularização com chavões como “milagre”, “espanto
so” e “maravilhoso” apresentando a “nova” conquista da ciência. O
pesquisador, cujo trabalho preliminar sobre um dispositivo protético
para amputados aparece relatado numa revista popular sob o título
“Ciência traz novas esperanças para o amputado”, no qual as vanta
gens de uma nova mão artificial “milagrosa” são lançadas em cores,
não é adequadamente apresentado.
85
algum modo, pelo impacto social de sua pesquisa. Como fiz notar
num outro trabalho ( 4 A ) :
. . . o cientista tem sido considerado com o algo semelhante a um servo de
Deus, a que se oferece homenagem, mas do qual se espera que produza os
milagres que forem pedidos. E, com o acontece com todos os deuses ineficientes,
o simulador cientista é, freqüentemente, vilipendiado e repudiado pelo seu povo,
fato este que pode tom ar o cientista cada vez menos interessado em deixar
seu laboratório e assumir sua responsabilidade social. É inevitável que uma
descoberta científica, em última análise, se expresse numa mudança social e é
também inevitável que o cientista deva eventualmente perceber seu trabalho
dentro de um contexto social.
86
Deveríamos saber que todo o dinheiro do mundo não poderia ter construído
uma bomba atômica em 1936. Conhecia-se a energia atômica e se compreendia
muitas de suas propriedades. N os laboratórios ela tinha sido liberada em pe
quenas quantidades e se havia estudado sua liberação em grandes quantidades
no sol e nas estrelas. Mas a informação e a direção básicas para liberá-la em
grandes quantidades na terra não existiam em 1936, e ninguém poderia usar
dois bilhões de dólares para fazer, naquela época, uma bomba atômica. É
isto que é importante para compreender as relações da ciência com a indústria,
com a medicina e com o público. Era preciso conhecê-la antes de aplicá-la.
Em um dado estágio do desenvolvimento científico, o conhecimento teórico
crítico passa a existir. Antes desse momento — que ninguém pode prever —
o conhecimento não pode ser aplicado. Após esse momento a aplicação é ra-
roavelmente certa e somente precisam ser elaboradas as técnicas especiais para
sua utilização.
87
cia (e nisto reside seu valor moral) é desenvolver e assistir a comu
nidade de pensamento”.
88
revistas para ler regularmente, examina criticamente os resumos da li
teratura publicada e passa a depender, em certo grau, de seus colegas
para mencionar artigos que ele tenha deixado de ver.
O que acontece com a pesquisa quando publicada? É provável,
por um lado, que as pessoas que têm interesse especial na área abran
gida pela pesquisa avaliem o relatório em termos de sua própria ex
periência, particularmente se ele se desvia significantemente de outros
resultados. Provavelmente os leitores examinarão os dados e o plane
jamento da pesquisa com olho altamente crítico para ver se qualquer
falha neles pode contradizer os resultados. Como vimos na discussão
do ponto de vista operacional em pesquisa (págs. 55 ss), é importante
que o experimentador especifique claramente o que ele fez, de modo
que um outro experimentador possa, se o desejar, replicar o seu ex
perimento.
À medida que cresce o corpo de literatura em uma área parti
cular, o interesse dos pesquisadores é estimulado e diferentes aspectos
da área são submetidos a estudos mais intensivos. À medida que um
corpo de informações é desenvolvido e surge evidência a favor ou
contra um certo conceito ou teoria, os pesquisadores tornam-se mais
convencidos de que um ponto de vista é melhor do que outro, ou de
que certos conjuntos de fatos indicam que a Condição A é que pre
valece e não as Condições B ou C. Embora idealmente este processo
ocorra com completa imparcialidade, com a integridade e a raciona
lidade tão apreciadas com marcos da pesquisa científica, desenvolve-se,
às vezes, uma tendência humana para desejar estar certo, apesar das
evidências em contrário. Quando isto ocorre, a resistência dos cientis
tas à comunicação dos outros não pode deixar de afetar a dissimina-
ção e a aplicação da informação. Já (pág. 21) nos referimos à “orto
doxia da teimosia em ciência” para descrever a tendência dos cientis
tas a resistir à informação nova e diferente, ao mesmo tempo indi
cando que esta resistência era necessária no interesse do tempo, pois
não se pode esperar que cientistas qualificados disponham de tempo
para refutar cada teoria, descabida ou não, que apareça. Conforme
sugeri anteriormente, compete ao inovador comprovar sua afirmação
enquanto à comunidade científica cabe a responsabilidade de ouvi-lo.
89
Desta forma a comunidade científica estabelecida deve ter mente tão
aberta quanto o autor ou inovador reputável. A reputação dos expe
rimentadores é de importância primordial na avaliação dos dados,
pois, como Sidman (5ÒA) ressalta:
90
Por muitos anos, o monge Mcndel foi ignorado, devido ao fato
de não ter status profissional; as sociedades científicas de então não
estavam interessadas nessas idéias excêntricas, não-científicas, sobre
genética
A maior parte dos exemplos de resistência à descoberta científica
ocorreram no século XIX ou antes. Por exemplo, Barber refere-se às
dificuldades encontradas por Faraday, Galton, Lavoisier e Copérnico,
entre outros, mas estes foram centistais que desafiaram idéias estabe
lecidas em uma época em que a comunicação era bastante limitada.
91
A sociedade dos cientistas deve ser uma democracia. Somente pode manter-
se viva e crescer por meio de uma constante tensão entre a dissenção e o
respeito, entre a independência da perspctiva dos outros e a tolerância para
com elas. O ponto crucial do problema ético é fundir estas necessidades, as
particulares e as públicas.
92
psicologia progride em confiança, sutileza e habilidade, eu posso ver que as
súplicas do físico no sentido de que o que ele descobre seja usado com huma
nidade e seja usado com prudência parecerão um tanto triviais comparadas
àquelas súplicas que terão que fazer e pelas quais terão que ser responsáveis.
93
óbvio que as características de semelhante código de ética são parte
e parcela da ciência que se desenvolveu dentro de nossa sociedade; a
ênfase que dá à verdade, ao trabalho, à razão e à integridade, tão
apreciadas em nossa cultura, alcança resultado em sua expressão
científica. A ciência como um sistema adotou a ética e os valores da
sociedade, em troca contribuiu notavelmente para o desenvolvimento
e prática dessa ética e valores. Ê talvez também verdade que a ciência
seja como cabeça da sociedade ao enfatizar o indivíduo. A integri
dade não é uma abstração na ciência — é um aspecto crucial do com
portamento diário de cada cientista como uma pessoa. Como tal, os
elementos individuais tendem a personalizar e a humanizar o abstrato
código de ética. Conforme Bronowski (19D) observou:
. . . com o as outras atividades criadoras que se desenvolveram a partir
do renascimento, a ciência humanizou os nossos valores. Os homens clamaram
por liberdade, justiça e respeito, precisamente à medida que o espírito cien
tífico se disseminava entre eles. O dilema de hoje não está no fato de que os
valores humanos não podem controlar uma ciência mecânica. É precisamente
o contrário: o espírito científico é mais humano do que a máquina dos go
vernos . . . Nossa conduta, com o foi afirmado, apega-se a um código de auto-
interesse que a ciência, com o a humanidade, há muito abandonaram. O corpo
da ciência técnica nos oprime e ameaça porque estamos tentando empregar o
corpo sem o espírito, estamos tentando comprar o cadáver da ciência.
94
cupasse com os seres humanos, prepararia melhor pessoas para este mundo do
que uma educação científica, que lida com fatos. Esta afirmação não tem sen
tido. A ciência é um empenho humano e, mais do que isto, é o empenho
humano no qual a ampla cooperação mundial teve mais êxito do que em
qualquer outro. É um esforço humano singularmente bem talhado para as
habilidades e deficiências humanas. Se algo pode ensinar você a cooperar com
outros seres humanos, independentemente de raça ou religião, ideologia ou na
cionalidade, então é ciência. Neste sentido ela é, talvez, um assunto mais
humano* do que as assim denominadas humanidades, -e referir-se a ela como
algo que se ocupa impessoal e solitariamente com fatos é uma tão grosseira
incompreensão daquilo que a ciência é, choca saber que tais pontos de vista
ainda possam ser mantidos.
95
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45. Ibid., p. 9.
45a. Ibid., p. 13.
46 . Ibid., p. 17.
47. Ibid., pp. 20-21.
48. Ibid., p. 27.
49. Ibid., p. 27.
50. Ibid., p. 28.
50a. Ibid., p. 80.
5 1 . S id m a n , Murray, “Verplanck’s analysis o f Skinner”, Contem porary
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53. S k in n e r , B. F., Science and Human Behavior, N ew York, M acmillan,
1953, p. 13.
5 4 . Ibid., p. 12.
55. Ibid., p. 12.
56. Ibid., p. 13.
57. Ibid., p. 13.
57a. Ibid., pp. 38-39.
5 8 . S k i n n e r , B. F., Verbal Behavior, N ew York, Appleton-Century-Crofts,
1957 pp. 8-9.
5 9 . S t e v e n s , S. S., “Psychology and the science of science”. Psychological
Bulletin, 36, 1939.
60. S t e v e n s o n , Ian P., The Evidence for Survival From Claim ed M e
mories of Former Incarnations, Surrey, England: M . C. Peto, 1961. (Publicado
originalmente em Journal of the Am erican Society for Psychical Research, abril
e julho, 1960).
61. S t o n e , L. J., “Recent developments in diagnostic testing o f children”,
em: Recent Advances in Diagnostic Psychological Testing, Springfield: Thomas,
1950, pp. 82-83.
6 2 . S t r u p p , H. H ., “Patient-doctor relationships: The Psychoterapist in
the therapeutic processes”, em B a c h r a c h (Referência 3 ).
6 3 . U n d e r w o o d , B. J., Psychological Research, N ew York, Appleton-
Century-Grofts, 1957, p. 19.
100
64. W e n g e r , Marion, J o n e s , F. N ., e J o n e s , M. H., Physiological Psy
chology, N ew York, Holth, Rinehart, and Winston, 1956.
65. Y o u n g , J. Z., D ou bt and Certainty in Science. Oxford: Clarendon
Press, 1951, pp. 1-2.
Além dos livros que aparecem na Bibliografia, há muitos outros que po
dem ser do interesse dos leitores que desejem uma análise mais pormenorizada
e avançada do método científico e da pesquisa. A lista seguinte oferece um grupo
variado destes livros:
F rank, Philipp. M odern Science and its Philosophy, Cambridge, Mass., Harvard
University Press, 1949.
101
R H. The Rise of Scientific Philosophy. Berkeley: University o f
e ic h e n b a c h ,
California Press, 1951.
102
ÍNDICE DE AUTORES E ASSUNTOS
103
Compreensão, 21. verbal, termos simbólicos, 59-60.
Computadores, 38. de Ford, Charles S., 27.
Comunicações científicas, 42-43, 83-91. Depressão, estudo de, 68-70.
Conceitos inferidos e inventados, 60-61. Descartes, René, 22.
Confusão dos cientistas, 3-4. Descobertas acidentais, 1, 7-8.
Constructos hipotéticos, 59-61. Descrições, 22-23, 31-32.
Controle de dados, 21, 31-32, 48-50. níveis de, 32-33.
Convenções científicas, 8. Dicionário, definições de, 52.
Copeland, Paul L., 16. Diferenças de tratamento, 47-48.
Crianças, Discussões informais, 6-10, 11.
pesquisa usando, 81-83. Droga, estudo de, 49-50.
consentimento paterno, 82.
Cuidadoso casual, 4-69. Economia, princípio de, 43.
Cultura, avaliação da, 92-93. Einstein, Albert, 16-17, 22, 26.
Curiosidade, do cientista, 1-5. Emoções,
Curvas, 47. definições, 34-35;
pesquisa sobre, 35;
Dados, teoria das, 44.
científicos, 1, 19-21; Equipamento, 80.
coleta de, 2; Erro analógico, 68-97.
conceitos inferidos e inventados, Ética,
59-61; aspectos éticos da pesquisa, 2, 73-83,
construção de teoria, 39-45; na pesquisa animal, 75-76.
controle de, 21-31; na pesquisa humana, 75-83.
estabelecimento de relações funcio Eventos, uniformidade dos, 26.
nais, 1-3; Experimentação, 19, 21-30, 27-29;
fenôm eno subjetivo, 34-35; apresentação dos resultados, 5.
linguagem dos, 23-24; controle dos dados, 48-50;
respeito pelos, 17; erro analógico, 67-72;
significância dos, 2; manipulação, 25;
terminologia consistente, 61; pela ordem e lei, 27-29;
Davis, Kingsley, 93. planejamento, 5, 77-78;
Davis, R. C., 24. planejamento representativo, 63,
Decisão, tomada de, 40-41. 77-78;
Definições de termos. predição a partir da, 29-32;
certeza e clareza, 41-42, 51-61, procedimentos de controle, 41, 61;
51-59; repetição de, 22-24;
científica, 51-55; resultados negativos, 12, 16-17;
cotidianos, 51-55; variabilidade, 24.
de variáveis, 51;
dicionário, 51; Fahrenheit, Gabriel, 36-37.
especificidade, 52; Fatos,
fenôm eno ou evento, 51; aceitação dos, 19-20;
operacional, 54-58; paranormais, 24-26.
poética, 51; Feigl, Herbert, 60-61.
problemas de, 51-61; Fenômeno subjetivo, 34-35.
três níveis de, 52-53; Fleming, Sir Alexander, 1-3, 5.
104
Fome, definição de, 59. Laboratório,
Fox, Renée C., 8-13. aplicações no mundo cotidiano,
Freud, Anna, 45-46. 63-71;
Galileu, 15, 35, 36. crítica ao, 64;
Gardner, Martin, 4, 20, 27; discussões informais 8-9, 11,
Gatos e cães, métodos de, 63-71,
uso em pesquisa, 66-67. Lagrange, Joseph Louis, 20.
Geologia, 22. Landreth, Catherine, 80,
Greenspoon, Joel, 24, 27. Leis,
Grupo, estudo de, 6-7, 46-47. dos fatos, 27-30;
científicas, 3-4, 22, 28-29, 45-46.
Harford, R.A., 35. Lodge, Sir Oliver, 30-32.
Hecht, Seling, 86. Lua, definição operacional, 57-58.
Hefferline, Ralph F., 35. Luz, mensuração da velocidade da,
Heisenberg, Werner, 23. 15-16.
Hereditariedade, 59-60.
Hipóteses, 2, Macacos e chimpanzés, 66, 70-71.
formulação e teste de, 2, 14, 39, Margenau, Henry, 23 (nota)
45-46;
Marte, descrição de, 4.
miopia, 14-17.
Marx, Melvin H., 40, 53n.
Honestidade em ciência, 19-20.
M étodo científico.
Hora, definição de, 37-38, 59.
busca de ordem, 20, 22, 25-26, 27-29;
Hull, Clark L., 41-42.
características, 19-21, 24;
Humildade, necessidade de, 19, 20-21.
coleta de dados, 2;
definições operacionais, 54-59;
Idéias, estabelecimento de relações funcio
pré-concebidas, 10, 14-17; nais, 2;
troca de, 8. observação, 21-29;
Incerteza, princípio da, 22-23. M étodo teórico, 40-42;
Indivíduo, pesquisa com, 47-48. formal, 40-45;
Informação, troca de, 8.
informal, 45-50;
Instrümentalização, 22-23, 24, 35-36;
Mensuração, 21-22, 32-38;
validade, 15-16. base da operação física, 37;
Interpretação dos resultados, 16-17. descrição e, 32-35;
Introspecção, 23-24,
escala de intervalos iguais, 34;
Investigações,
escala de razão, 34;
de grupi, 46-47; níveis de, 59;
de grupo, 46-47; nominal, 33-34;
relógio, 37-38, 59;
Jones, F.N ., 56-57.
termômetros, 35-37;
Jones, M .H., 56-57.
tipos de, 51.
Journal o f Experimental Medicine, 13.
Michelson, Albert A., 15-16.
Keenan, B., 35, Micro-hipóteses, 47.
Kellner, Aaron, 9. M odelos de comportamento humano,
Kinsey, relatório, 79, 69-71.
Kluckhohn, Clyde 56, Morley, Edward W., 15-16.
Koch, Robert 27, N ewton, Isaac, 46, 47.
105
Objetivos da Ciência, 21. publicação de, 88;
Observações, 2, 4, 21-27, 25; psicologia, 1;
correlação de observações específi registro de, 78-79.
cas, 56; Pombos, pesquisa usando, 66-67.
definição de, 21; Postulados, 41-42.
experimentos, e, 21-27; Predição, 21-22, 22-23;
fora das fronteiras científicas, 26; definição, 30;
predição e controle a partir de 29- observação e experimentação 29-32;
32; órbita de uma mosca, 30-32;
réplica de, 23-28; precisão da, 30.
requisitos, 23. Probabilidade, o conceito de, 30.
Operacional, definição, 54-51. Problema, solução de, 39-41.
começa com a observação, 55-56 Procedimento de pesquisa, 79-81.
critério para, 60-61;
Processo indutivo, 41.
objeções à, 57-59;
Proposições, 39-41;
perspectiva, 51-61, 84,
empíricas, 39-41, 58;
símbolos formais, 59.
formais, 58;
Oppenheimer, Robert, 92.
hipotéticas, 39-41;
Ordem,
teóricas, 39-41;
busca de, 20, 22, 25-26, 27-30;
ciência e, 92-95. Prova, acúmulo de, 26-27.
Psicologia,
controle de dados, 48;
Packard, Vance, 83. construção de teoria, 45;
Parapsicologia, 25. experimental, 48-49;
Parcimônia, o problema da, 42. Falta de uma linguagem baseada nos
Pasteur, Louis, 5, 21, 27. dados, 23-25, 51;
Pauling, Linus, 1. física e, 92-93;
Penicilina, a descoberta da, 2-4. metodologia científica, 26-27.
Psicólogo, imagem pública de, 83-84.
Percepção extra-sensorial, (PES 24-
Psicoterapia, definição de, 54-55.
2 6 ).,
Pesquisa,
aspectos agradáveis da, 6-8, Quine, Willard, 54.
como carreira, 8;
confiança do sujeito, 79-81 Rapoport, Anatol, 42, 55, 57, 58.
consentimento do sujeito, 77-78; Ratos, experimentos com, 63, 65, 66,
estímulo para a, 4, 5; 68 .
financiamento, 86-87; Relógio, 37-38.
leis da, 5; Reforçadores, 5-7.
material confidencial, 80; Registros de pesquisa, 78-79.
métodos de, 39-50; Reichenbach, Hans, 53n.
método teórico informal, 39-45; Relevância, problemas de, 43.
origem e desenvolvimento, 1, 3; Renan, Ernest, 87, 92.
planejamento, 4-5; Resultados,
preocupações, 80-81; apresentação de, 6;
preocupações do público com 73-76; de pesquisa, 16-17:
procedimentos padronizados de, 79- interpretação, 16-17:
80; negativos, 11, 16-17, 46.
106
Revistas, método formal, 39-45:
científicas, 5, 88; metafísica, 42;
forma de artigos, 5. m odificações de, 43-44;
Rostand, Jean, 87, 92. objeções a 44-45;
Ryle, Gilbert, 27. proposições empíricas, 39-40;
proposições hipotéticas, 40-41;
Science, 88 proposições teóricas, 40-41;
Scientific American, 88. psicanalítica, 42;
“Serendipity”, 8-14; verdade ou falsidade, 41-42;
definição de, 5-6. verificação 42-44.
Sidmam, Murray, 28-29, 44, 46, 48- T eorias
49, 68, 70, 90. reconhecimento das, 20-21;
Similaridade, diferenças entre analo resultados conflitivos das, 16-17;
gia e, 70-71. significado das, 2.
Simpósios, científicos, 8, 11, Termômetros, 35-37.
Skinner, B.F., 3, 19-20, 46-48, 65. Testes psicológicos, 81-82.
Stevens, S. S., 58. Thomas, Lewis, 9-14.
Stevenson, Ian P., 26. Toscana, Duque de, 36.
Stone, L. J., 82.
Swift, Jonathan, 5. Underwood, B. J., 33.
Uniformidade dos eventos, 27-28.
Técnicas estatísticas, 1, 64.
Variáveis, 30, 49-50, 64-65;
Telepatia, 24, 25.
definição de, 51;
Telescópio, 4-5, 15.
interveniente 59-61.
Temperatura mensuração da, 35-37. Verdade científica, 27-28, 42.
Tensão, pesquisa sobre, 76-77 Visão, estudo da, 73-74.
T eoria
construção de, 39-40; Wenger, Marion, 57.
critério para teste de, 42-44;
dados de, 39-45. York, Arcebispo de, 92.
essência da, 45; Young, J. Z., 3.
107