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Autores
Prof. Dr. José Campanholi Neto
Prof. Dr. Nuno Frade de Sousa
Profa Dra. Vivian Maria Arakelian
Revisão técnico-científica
Prof. Dr. Guilherme Borges Pereira
Profa Ma. Luísa Cedin
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SUMÁRIO
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Mensagem aos estudantes
Bons estudos!
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Ementa
Objetivo geral
Promover a construção de conhecimentos e habilidades para a formação
especializada e eficiente de profissionais da área por meio de fundamentação teórica,
prática e científica, essencial para a aplicação da Fisiologia e Reabilitação cardiovascular,
respiratória e metabólica.
Objetivos específicos
▪ Aprender o que é Fisiologia do Exercício e Reabilitação Cardiopulmonar e
Metabólica;
▪ conhecer os princípios e zonas de treinamento;
▪ identificar e compreender os componentes do programa de reabilitação;
▪ interpretar os dados gerados na avaliação do paciente;
▪ entender o papel de cada membro da equipe de reabilitação;
▪ compreender a fisiopatologia das doenças cardiovasculares e metabólicas;
▪ capacitar o estudante para prescrever exercícios físicos em cada fase da
reabilitação.
Habilidades e competências
▪ Estimular a autonomia, a proatividade e o gerenciamento do tempo em relação
aos estudos e à formação profissional;
▪ aplicar a Fisiologia e Reabilitação cardiovascular, respiratória e metabólica em
sua prática profissional;
▪ desenvolver a boa comunicação técnica e científica.
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Organização do Caderno de Estudo
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto
antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para
os autores conteudistas.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das
sínteses/conclusões sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo,
facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Exercício de fixação
Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos
que os autores-conteudistas acharam mais relevantes em relação à
aprendizagem de seu módulo (não há registro de menção).
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Unidade 1 – Bases fisiológicas do exercício
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Figura 1 Conjunto de variáveis do treinamento
Fonte: adaptada de Buchheit e Laursen (2013)
Bioenergética
Eis a lei da conservação da matéria: “Na Natureza nada se cria, nada se perde,
tudo se transforma”, de Antoine-Laurent de Lavoisier (1743-1794). O corpo humano
transfere energia para reações bioquímicas, essenciais para a vida. Ademais, o sistema
locomotor tem a capacidade de converter a energia química em trabalho mecânico
(contração muscular e movimento) para realizar tarefas do cotidiano, para a manutenção
da postura e para atividades laborais e exercícios físicos. O balanço entre a oferta de
energia pelos alimentos e o consumo de energia no trabalho biológico é o que permite o
bom funcionamento dos sistemas fisiológicos, ou seja, a saúde do corpo humano. A
bioenergética está relacionada, portanto, ao fluxo e à troca de energia no organismo
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
Como mencionado anteriormente – e considerando que o exercício físico está
diretamente relacionado à contração muscular –, a bioenergética é abrangente. As
informações a seguir estão voltadas a esse fenômeno fisiológico. Os filamentos da fibra
muscular (actina e miosina) utilizam a energia química, armazenada no trifosfato de
adenosina (ATP) para interagir uns com os outros e encurtar os sarcômeros, resultando
na contração muscular. O ATP é considerado a “moeda de energia dos seres vivos”; é
constituído de uma molécula formada por adenina e ribose (adenosina) mais três fosfatos
(trifosfato). Desta forma, o ATP é sintetizado pelos metabolismos anaeróbio e aeróbio
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016).
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Metabolismo anaeróbio
O metabolismo anaeróbio dispensa a necessidade de oxigênio (O2) para a síntese
de ATP, tanto no sistema fosfogênico quanto no glicolítico. Assim, este sistema fornece
energia para contrações musculares rápidas e de alta intensidade ou em situações nas
quais o metabolismo aeróbio precisa ser suplementado na síntese de ATP (MCARDLE;
KATCH; KATCH, 2016, p. 391).
O sistema fosfogênico refere-se às reações bioquímicas ocorridas na síntese de
ATP a partir da fosfocreatina (PCr) intracelular (MAUGHAN; GLEESON; GREENHAFF,
2000, p. 18; MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 271; p. 391-392).
No início da contração muscular e em situações nas quais se exige o máximo de
potência (força versus velocidade), a pequena quantidade de ATP presente no citoplasma
das células musculares é suficiente para atender os primeiros segundos de atividade
contrátil (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 392). A hidrólise do ATP em ADP
(difosfato de adenosina) e fosfato inorgânico (Pi) inicia a transferência de energia de
forma imediata pela hidrólise de PCr, com o objetivo de suprir a energia necessária para
continuar as contrações musculares (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 271).
Confira o esquema a seguir.
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Caso a oxidação dos íons de hidrogênio na cadeia transportadora de elétrons
(CTE) esteja mais lenta que a formação de piruvato, eles são convertidos em lactato, em
uma reação reversível, catalisada pela enzima lactato desidrogenase (LDH) (BERTUZZI
et al., 2009, p. 230; MARZZOCO; TORRES, 2015, p. 124; NELSON; COX, 2014, p. 540;
SEHEULT; FITZPATRICK; BORAN, 2017, p. 323):
Saiba mais
Acesse o link a seguir para obter mais informações sobre o metabolismo
anaeróbio: https://youtu.be/uCmNQQWlrc0
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1) o catabolismo dos carboidratos, lipídeos e proteínas resulta na formação de
fragmentos de dois carbonos, na forma de acetil-CoA;
Saiba mais
Metabolismo refere-se às reações bioquímicas de uma célula ou
organismo. Assim, o catabolismo é caracterizado pela degradação de
estruturas, armazenando energia (ATP) – por exemplo, a utilização de
macronutrientes, como os carboidratos, de lipídios e de proteínas para a
síntese de ATP.
Já o anabolismo é caracterizado pela síntese de estruturas e moléculas
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utilizando energia (ATP) – por exemplo, a síntese de proteínas
estruturais a partir de aminoácidos, consumindo ATP (NELSON; COX,
2014, p. 502-503; OLIVEIRA et al., 2017).
A taxa metabólica basal corresponde ao gasto energético das reações
bioquímicas necessárias para manter as funções vitais do organismo
(MCARDLE; KATCH; KATCH, 2016, p. 340; OLIVEIRA et al., 2017).
-1 -1
A taxa metabólica basal equivale ao consumo de 3,5 mL • kg • min de
Sintetizando
Conforme apresenta a Figura 2, a participação dos sistemas energéticos
está diretamente relacionada ao tempo de contração muscular permitido
pela intensidade utilizada nos exercícios.
● Sistema oxidativo é predominante nas contrações musculares
contínuas, em que a intensidade permite duração superior à faixa de dois
a cinco minutos (também conhecida como atividade física de longa
duração).
● Sistema glicolítico é conhecido como sistema de energia de curto prazo,
pois é predominante em atividades e exercícios físicos com duração na
faixa de 15-20 segundos até a faixa de 2-5 minutos, dependendo da
condição metabólica do organismo.
● Sistema fosfogênico é característico de atividades físicas de altíssima
intensidade, em que a contração muscular é mantida por no máximo 15
13
segundos, com variação de alguns segundos dependendo do estoque de
ATP e PCr intramuscular.
Saiba mais
Acesse os links a seguir para obter mais informações sobre o
metabolismo aeróbio:
https://youtu.be/YffDxA0LW38
https://youtu.be/39HTpUG1MwQ
https://youtu.be/xbJ0nbzt5Kw
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captação, transporte e metabolização de oxigênio, sendo considerado o padrão-ouro na
avaliação funcional cardiorrespiratória (FIGUEIRA et al., 2018; MENEGHELO et al., 2010;
TRAVENSOLO et al., 2018). Dessa forma, é possível verificar a capacidade funcional do
indivíduo, relacionando-a aos sistemas respiratório, cardiovascular e muscular, auxiliando
na avaliação prognóstica de cardiopatas, pneumopatas e no pré-operatório
(MENEGHELO et al., 2010).
Dentre os diversos protocolos utilizados no TCPE destacamos:
15
e de compensação respiratória (FIGUEIRA et al., 2018; MENEGHELO et al., 2010). Antes
de seguir vamos aos conceitos destes termos.
O consumo máximo de oxigênio (V̇O2máx) é definido como a capacidade
máxima do organismo de captar, transportar e metabolizar o oxigênio na síntese oxidativa
de ATP (FIGUEIRA et al., 2018).
Nos primeiros estágios do TCPE, a V̇e e V̇CO2 aumentam de modo proporcional à
intensidade do esforço; entretanto, em um determinado estágio do teste há um primeiro
aumento desproporcional destas variáveis – neste ponto é identificado o limiar anaeróbio
(LAn). Neste mesmo ponto, em um TCPE com coleta de sangue para análise da
lactacidemia, é possível identificar o limiar de lactato, que se refere à intensidade do
exercício físico até o ponto em que a remoção e/ou utilização do lactato é equivalente a
sua produção pelos músculos; ou seja, o limiar é a intensidade máxima do exercício físico
em que ainda ocorre o equilíbrio dinâmico entre a produção e a remoção/utilização do
lactato e que, a partir desta intensidade, há acúmulo de lactato no sangue (NEVES, 2019,
p. 16). Nesta mesma intensidade do exercício físico ocorre o limiar glicêmico, que é a
intensidade do exercício físico com menor glicemia durante um teste incremental.
Observe que essa é uma intensidade importante do exercício físico pela identificação dos
limiares.
Com a continuidade do TCPE, em intensidade superior ao LAn ocorre o segundo
aumento exponencial na V̇e e V̇CO2, em resposta à redução do pH sanguíneo devido à
ineficiência de tamponamento do lactato pelo bicarbonato. Nessa intensidade é possível
identificar o limiar de compensação respiratória (LCR), e a partir desta intensidade o
sistema respiratório não consegue corrigir a acidose metabólica induzida pelo exercício
físico de forma eficiente (FIGUEIRA et al., 2018; HERDY et al., 2016). O LCR em
indivíduos adultos saudáveis ocorre em torno de 75-85% da intensidade máxima, ou seja,
próximo do final de um TCPE (NEVES, 2019, p. 41).
O V̇O2máx é utilizado como preditor de mortalidade em pacientes com insuficiência
cardíaca e como critério na seleção de pacientes para transplante de coração, por
exemplo – pacientes com o V̇O2máx menor do que 10 mL • kg -1 • min-1 possuem
prioridade para o transplante, e pacientes com V̇O2máx menor que 14 mL • kg-1 • min-1
apresentam um indicativo para inclusão na lista de transplantes (MENEGHELO et al.,
2010).
O V̇O2máx é considerado anormal quando o valor obtido no TCPE é inferior a 85%
daqueles valores considerados normais ou do valor predito para aquele determinado
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indivíduo. Os valores de normalidade variam conforme o sexo, a idade, a massa corporal,
a estatura, o condicionamento físico e a etnia; no entanto, a Tabela 1 apresenta a
classificação da aptidão física conforme o V̇O2máx para brasileiros com idade entre 15 e
74 anos para homens e mulheres saudáveis e fisicamente ativos (HERDY; CAIXETA,
2016).
HOMENS
Aptidão cardiorrespiratória
Idade
(anos) Muito fraca Fraca Regular Boa Excelente
15-24 < 25,30 25,30 – 40,48 40,49 – 48,07 48,08 – 53,13 > 53,13
25-34 < 23,70 23,70 – 37,92 37,93 – 45,03 45,04 – 49,77 > 49,77
35-44 < 22,70 22,70 – 36,32 36,33 – 43,13 43,14 – 47,67 > 47,67
45-54 < 20,25 20,25 – 32,40 32,41 – 38,47 38,48 – 42,52 > 42,52
55-64 < 17,54 17,65 – 28,24 28,25 – 33,53 33,54 – 37,06 > 37,06
65-74 < 15,00 15,00 – 24,00 24,01 – 28,50 28,51 – 31,50 > 31,50
MULHERES
Aptidão cardiorrespiratória
Idade
(anos) Muito fraca Fraca Regular Boa Excelente
15-24 < 19,45 19,45 – 31,12 31,13 – 36,95 36,96 – 40,84 > 40,84
25-34 < 19,05 19,05 – 30,48 30,49 – 36,19 36,20 – 40,00 > 40,00
35-44 < 17,45 17,45 – 27,92 27,93 – 33,15 33,16 – 34,08 > 34,08
45-54 < 15,55 15,55 – 24,88 24,89 – 29,54 29,55 – 32,65 > 32,65
55-64 < 14,30 14,30 – 22,88 22,89 – 27,17 27,18 – 30,03 > 30,03
65-74 < 12,55 12,55 – 20,08 20,09 – 23,84 23,85 – 26,35 > 26,35
V̇O2máx (mL • kg-1 • min-1) = 53,478 + (-7,518 × sexo) + (-0,254 × idade) + (-0,430 × IMC) +
(6,132 × atividade física)
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Valores codificados
● Sexo: masculino = 1; feminino = 2.
● Atividade física: sedentários = 1. Indivíduos que não praticam nenhum exercício
físico regular ou com frequência inferior a três dias na semana, ou cujas atividades
diárias ou laborais geram gasto energético inferior a 3,2 METs.
● Atividade física: ativos = 2. Indivíduos que se exercitam de forma regular, de três a
seis dias na semana há mais de três meses, ou cujas atividades diárias ou laborais
geram gasto energético entre 3,2-10,2 METs.
● Atividade física: atletas = 3. Indivíduos que praticam esporte em nível competitivo,
com treinamento diário regular acima de duas horas e com gasto energético superior a
10,3 METs.
Exercício de fixação
Qual é o V̇O2máx predito para uma mulher com 29 anos, sedentária,
estatura de 1,75m e massa corporal de 98kg?
RESPOSTA:
V̇O2máx = 53,478 + (-7,518 × 2) + (-0,254 × idade) + (-0,430 × IMC) + (6,132 × atividade física)
V̇O2máx = 53,478 + (-7,518 × 2) + (-0,254 × 29 anos) + (-0,430 × (98kg ÷ (1,75m × 1,75m))) + (6,132 ×
1)
V̇O2máx = 53,478 + (-15,036) + (-7,366) + (-13,76) + (6,132)
V̇O2máx estimado é de 23,45 mL • kg-1 • min-1
Classificação: aptidão cardiorrespiratória fraca (de acordo com a Tabela 1).
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-1
depois de finalizar o teste, e esse valor será utilizado para estimar o V̇O2máx em mL • kg •
-1
min na seguinte equação (HEYWARD, 2004, p. 77; MCARDLE et al., 1972):
Outra opção é o Rockport One-Mile Fitness Walking Test (ACSM, 2014) ou,
simplesmente, Walking Test. Nele, o avaliado deve caminhar por 1,6 km (uma milha) na
maior velocidade possível em uma superfície plana, e o tempo gasto para completar toda a
distância deve ser cronometrado. No final, deve-se anotar a FC e, depois, basta calcular o
V̇O2máx pela seguinte equação:
Homens: V̇O2máx = (132,853 – (0,0769 × (kg × 2,21))) – (0,3877 × idade) + 6,315 – (3,2649 × tempo
de caminhada em minutos) – (0,1565 × FC no final do teste)
Mulheres: V̇O2máx = (132,853 – (0,0769 × (kg × 2,21))) – (0,3877 × idade) – (3,2649 × tempo de
caminhada em minutos) – (0,1565 × FC no final do teste)
Exercício de fixação
Qual o V̇O2máx estimado para uma mulher com 59 anos e massa corporal
de 75 kg que terminou o Walking Test em 16 minutos com FC de 130 bpm?
RESPOSTA:
Mulheres: V̇O2máx = (132,853 – (0,0769 × (kg × 2,21))) – (0,3877 × idade) – (3,2649 × tempo de
caminhada em minutos) – (0,1565 × FC no final do teste)
V̇O2máx = (132,853 – (0,0769 × (75 × 2,21))) – (0,3877 × 59) – (3,2649 × 16) – (0,1565 × 130)
V̇O2máx = (132,853 – (0,0769 × 165,75)) – (22,87) – (52,24) – (20,34)
V̇O2máx = (132,853 – 12,75) – (22,87) – (52,24) – (20,34)
V̇O2máx = 120,10 – 22,87 – 52,24 – 20,34
V̇O2máx = 24,65 mL • kg-1 • min-1
Classificação: aptidão cardiorrespiratória regular (de acordo com a Tabela 1)
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importantes com grau de mortalidade e morbidade preocupantes (ACSM, 2014).
Usualmente, o laudo do TCPE indica a intensidade máxima do esforço físico atingida
pelo paciente, a FCmáx, a FC e a intensidade de identificação dos limiares – limiar isquêmico
(quando houver). Assim, estas informações podem ser utilizadas como referência para a
prescrição da intensidade do exercício físico. A intensidade pode ser constante ou sofrer
alterações em períodos específicos, caracterizando o chamado exercício intervalado –
lembre-se de que todos os formatos de sessão devem considerar o estado do paciente em
sua prescrição.
Uma revisão sistemática com meta-análise mostrou que exercícios intervalados
apresentaram melhores resultados na RCPM (TRAVENSOLO et al., 2018). De qualquer
forma, a sessão de exercícios físicos deve permanecer o maior tempo possível dentro da
zona de intensidade estabelecida para cada fase de RCPM. Outra maneira mais simples de
determinar tal aspecto é utilizar a percepção subjetiva de esforço (PSE) com auxílio da
Escala de Borg de 6-20 pontos, com a seguinte equivalência (HERDY et al., 2014):
● menor que 12, igual a zona de 40 a 60% do máximo;
● entre 12 e 14, igual a zona de 60 a 75% do máximo;
● superior a 14, igual a zona de 75 a 100% do máximo.
Para avaliar a percepção subjetiva de esforço (PSE), a Escala de Borg de 6-20 pontos
deve ser apresentada ao paciente para que ele indique, por escrito ou oralmente, qual é a
sua percepção de esforço. O avaliador não deve influenciar na decisão do paciente.
O Colégio Americano de Medicina do Esporte (American College of Sports Medicine –
ACSM) classifica a intensidade dos exercícios físicos conforme a Tabela 2, exposta a
seguir.
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Tabela 2 Classificação de intensidade
Intensidade % FCR PSE % 1RM
Muito leve < 30 <9 < 30
Leve 30 – 39 9 - 11 30 – 49
Um pouco pesado 40 – 59 12 - 13 50 – 69
Pesado 60 – 89 14 – 17 70 – 84
Muito pesado ≥ 90 ≥ 18 ≥ 85
Fonte: adaptada de Garber et al. (2011)
Legenda: % FCR – percentual da frequência cardíaca de reserva; PSE – percepção subjetiva de esforço; % 1RM –
percentual de uma repetição máxima.
A zona de intensidade deverá ser utilizada de acordo com a fase da RCPM na qual
se encontra o paciente. É importante realizar um TCPE com eletrocardiograma (ECG)
para identificação de um possível limiar isquêmico, que não deverá ser ultrapassado caso
seja identificado. O monitoramento do Duplo Produto (DP) durante o TCPE pode auxiliar
durante as sessões de exercícios físicos, pois não deverá ultrapassar o valor do DP
encontrado no limiar isquêmico.
O DP é o produto da FC e da pressão arterial sistólica (PAS) (DP = FC × PAS). É
fácil de calcular e é um ótimo parâmetro de segurança para a prática profissional. No
momento do limiar isquêmico (infradesnível do segmento ST) em coronariopatas
obstrutivos, o valor médio encontrado do DP foi de 18.444 ± 4.375 mmHg • bpm (HSU et
al., 1998). Por segurança, na falta de dados do DP gerados no TCPE, procure não
ultrapassar o DP de 20.000 mmHg • bpm em cardiopatas durante as sessões de
exercícios físicos.
Saiba mais
A oximetria de pulso arterial permite avaliar a quantidade de O2 que está
sendo transportada no sangue arterial e a saturação da oxihemoglobina
arterial (SaO2). Os valores de normalidade da SaO2 ficam na faixa de 95
a 100%. Para indivíduos saudáveis recomenda-se, para o início de um
esforço físico, que a SaO2 esteja superior a 95% no repouso; ela pode
reduzir em até 2% na intensidade máxima do exercício (WASSERMAN
et al., 2005, p. 161). Por segurança, fora do ambiente hospitalar, o TCPE
não deve ser aplicado com SaO2 de repouso inferior a 94% e reduções
maiores do que 4% durante o TCPE; em relação ao repouso, são
características de limitação pulmonar e por segurança recomenda-se
21
que o teste deve ser interrompido (HERDY et al., 2016). Além disso, o
TCPE deve ser obrigatoriamente interrompido caso a SaO2 atinja
valores inferiores a 80% (NEDER; NERY, 2002).
Outros critérios para a interrupção do TCPE e suas contraindicações
podem ser conferidos a seguir, na Tabela 3.
22
● Doença infecciosa crônica
● Taquicardia de repouso (FC > 120 bpm)
● ECG de repouso anormal
● Cardiomiopatia
Fonte: elaboração própria com base em ACSM (2014), Herdy et al. (2016) e Neder e
Nery (2002)
23
Ou seja, mesmo considerando que os benefícios da atividade física são
infinitamente superiores aos riscos, é importante que todos os profissionais da saúde
tenham meios que possam minimizar ainda mais os riscos para a prática, principalmente
identificando aqueles com risco aumentado para infarto agudo do miocárdio ou morte
cardíaca súbita.
A última edição das Diretrizes do ACSM (2018) não apenas encoraja a triagem de
pré-participação para indivíduos interessados em começar ou avançar em programas de
exercícios ou de outras atividades físicas, como também busca simplificar ainda mais o
processo de triagem, que foi atualizado para remover barreiras desnecessárias à adoção
de um estilo de vida fisicamente ativo. Se recomenda, ainda, que fisioterapeutas e
profissionais de Educação Física consultem seus colegas médicos quando surgirem
dúvidas sobre pacientes com doença ou que manifestam sinais e sintomas sugestivos de
doença ou qualquer outra preocupação sobre a capacidade do indivíduo de participar com
segurança de um programa de exercício físico.
Os objetivos desse processo de triagem de pré-participação (ACSM, 2018) são: (1)
identificar indivíduos que devem receber autorização médica antes de iniciar um programa
de exercício ou (2) aumentar a frequência, intensidade e/ou quantidade do programa
atual; (3) aqueles com doença(s) clinicamente significativa(s) que podem se beneficiar
com um programa de exercício supervisionado; e (4) aqueles com condições médicas que
podem estar impedidos de continuar um programa de exercício até que estas condições
sejam mitigadas ou controladas. Assim, o novo algoritmo de triagem de pré-participação
em exercício se baseia em:
● determinar os níveis atuais de atividade física do indivíduo;
● identificar sinais e sintomas de DCV e de doenças metabólicas e renais
subjacentes;
● identificar indivíduos com DCV ou doença metabólica diagnosticada;
● considerar sinais e sintomas, histórico de doença, participação atual em
exercício e intensidade desejada, a fim de orientar as recomendações da
autorização médica de pré-participação.
24
Passo 1: sinais ou sintomas sugestivos de DCV, metabólicas ou renais
Refere-se única e exclusivamente a sinais e sintomas sugestivos de DCV,
metabólicas ou renais. O paciente deve ser questionado em relação aos seguintes
sintomas: dor no peito, falta de ar sem razão, tontura, desmaio ou “apagão”, inchaço no
tornozelo, consciência desagradável de FC vigorosa, rápida ou irregular, sensações de
queimação ou cãibras nas pernas ao caminhar distâncias curtas. Se o paciente identificar
um ou mais sintomas, deve-se obter autorização médica antes de iniciar ou retomar o
exercício físico. Caso contrário, o algoritmo deve seguir os passos 2 e 3.
25
● sedentário – autorização médica é recomendada.
26
Tabela 4 Classificação dos pacientes baseada nos critérios de risco
Legenda: MET – equivalente metabólico; VO2máx – consumo máximo de oxigênio; PAS – pressão arterial sistólica.
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Os pacientes classificados no grupo de baixo risco podem ser monitorados com
auxílio do ECG ou frequencímetro durante o programa de reabilitação física,
preferencialmente com supervisão clínica durante as primeiras sessões (entre 6 e 18
sessões). A redução na supervisão deve ocorrer progressivamente. Para os pacientes
classificados no grupo de risco intermediário, é recomendado monitorar por 12 a 24
sessões, com uso contínuo de ECG e supervisão clínica (HERDY et al., 2014).
A evolução ou manutenção do paciente em determinada classificação de grau de
risco depende de avaliação médica pré-participação e de reavaliações realizadas durante
o programa de RCPM com consulta médica, exame físico e ECG de repouso e durante o
esforço físico (CARVALHO et al., 2020).
Os pacientes de alto risco precisam de supervisão contínua para verificar
alterações no estado de saúde e possíveis complicações durante a RCPM (como parada
cardíaca, arritmias, infarto agudo do miocárdio, diminuição da saturação de oxigênio
abaixo de 80%, resposta glicêmica inadequada etc.). Estes pacientes podem precisar de
atendimento médico, como reinternação, intervenções ou ajustes de fármacos. Para a
segurança dos pacientes de alto risco, recomenda-se a presença de um profissional
especialista em RCPM para realizar os procedimentos de reanimação e outras condutas
necessárias em caso de eventuais complicações (HERDY et al., 2014).
O risco de morte durante um programa de RCPM com exercícios físicos
supervisionados na presença de médicos é de um paciente a cada 60.000 horas. A taxa
de eventos em pacientes com doenças cardiovasculares que realizam exercícios físicos
regularmente é de um a cada 112.000 horas – de infarto agudo do miocárdio é de um a
cada 300.000 horas, e a mortalidade é de um paciente a cada 790.000 horas (HERDY et
al., 2014).
28
Unidade 2 – Doenças cardiovasculares
29
Tabela 5 Classificação da pressão arterial (PA) em adultos em medição casual ou em consultório
Legenda: HA – hipertensão arterial; PA – pressão arterial; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial
diastólica.
(*) Nota: a classificação é definida de acordo com a PA no consultório e pelo nível mais elevado de PA, sistólica ou
diastólica. A HA sistólica isolada, caracterizada pela PAS ≥ 140 mmHg e PAD < 90 mmHg, é classificada em 1, 2 ou 3,
de acordo com os valores da PAS nos intervalos indicados. A HA diastólica isolada, caracterizada pela PAS < 140
mmHg e PAD ≥ 90 mmHg, é classificada em 1, 2 ou 3, de acordo com os valores da PAD nos intervalos indicados.
30
na orientação, avaliação e prescrição do exercício físico a indivíduos com essa doença.
Os fatores de risco para HA incluem idade – há uma correlação linear positiva entre a
idade e a prevalência da HAS –, sexo (sendo maior nas mulheres), maior incidência em
negros em comparação a outras etnias, consumo excessivo de sódio, consumo crônico e
elevado de bebidas alcoólicas (acima de 31 g/dia), comportamento sedentário,
escolaridade (indivíduos com menor nível de escolaridade ou sem instrução escolar) e
fatores genéticos (BARROSO et al., 2021).
A mudança no estilo de vida do indivíduo com HAS é fundamental para o controle,
o tratamento e até mesmo a diminuição da HAS. A estratégia não farmacológica indicada
para reversão do quadro de hipertensão contém as seguintes ações (HERDY et al., 2014;
BARROSO et al., 2021):
● manter o IMC abaixo de 24,9 kg/m2 – redução de 20 a 30% na PA para cada
5% de perda ponderal de massa corporal;
● adequar a dieta, com redução da ingestão de gorduras e adição de alimentos
ricos em fibras, oleaginosas, frutas e vegetais, contribuindo para uma diminuição
de 8 a 14 mmHg na PA;
● manter o consumo de sódio inferior a 2,4 g/dia, o que proporciona redução
estimada de 2 a 8 mmHg na PA;
● manter o consumo de álcool abaixo de 30 mL para homens e 15 mL para
mulheres (observar o teor alcoólico da bebida), o que poderá resultar na redução
de 4 a 9 mmHg na PA;
● identificar e controlar o estresse psicológico;
● manter a prática de exercícios físicos de intensidade moderada durante 30-60
minutos, com frequência de 5-7 dias/semana, resultando na redução estimada de 2
a 4 mmHg na PA de indivíduos pré-hipertensos e de até 8,3 mmHg na PA em
indivíduos hipertensos.
31
Essa reflexão se faz necessária para que o efeito do exercício físico na hipertensão
arterial seja compreendido.
32
Tal como descrito no controle da PA a curto prazo, esse mecanismo é fundamental
para o ajuste da PA momento a momento, ou seja, para o ajuste relacionado com
alterações de pressão decorrentes de mudanças posturais ou comportamentais
momentâneas.
Os rins realizam quase que inteiramente o controle da PA a longo prazo. Eles
atuam por meio de dois mecanismos muito importantes. Um deles é o mecanismo
hemodinâmico, e o outro é o mecanismo hormonal.
O hemodinâmico é bem simples. Quando a pressão aumenta acima do normal, a
pressão excessiva nas artérias renais faz com que o rim filtre quantidades aumentadas de
líquido e, portanto, que também excrete quantidades aumentadas de água e sódio (Na +).
A perda de água e de Na+ diminui o volume sanguíneo. Essa perda faz com que a
pressão sanguínea retorne aos valores normais. De modo inverso, quando há uma
diminuição da pressão abaixo dos valores normais, os rins retêm água e Na + até que a
pressão retorne aos valores normais (KOEPPEN; STANTON, 2009).
O mecanismo hormonal de controle da pressão arterial é um pouco mais
complexo. Contudo, a parte mais importante desse mecanismo também tem origem no
rim. São vários os hormônios envolvidos – e todos possuem importância primordial para a
regulação da PA –, mas o de maior importância é o sistema renina-angiotensina. Quando
a PA cai a valores insuficientes para manter o fluxo sanguíneo normal pelos rins, ocorre a
estimulação das células justaglomerulares, que passam a secretar a renina. A renina, por
sua vez, atua como uma enzima, convertendo uma das proteínas plasmáticas (o substrato
de renina) no hormônio angiotensina I.
Esse hormônio tem efeito relativamente pouco intenso sobre a circulação, mas é
rapidamente convertido em um segundo hormônio, a angiotensina II, que produz a
vasoconstrição das arteríolas. Essa vasoconstrição faz com que a pressão aumente até
seu nível normal. A angiotensina II possui outro importante papel. Ela é responsável pela
estimulação do córtex das suprarrenais a secretarem o hormônio aldosterona. A
aldosterona exerce efeito direto sobre os rins, reduzindo a excreção tanto de água como
de Na+ na urina e, como consequência, estes ficam retidos no sangue, o que aumenta o
volume sanguíneo, fazendo com que a PA volte aos valores normais (KOEPPEN;
STANTON, 2009).
Por último, existe também um controle miogênico da PA, que está associado a
uma molécula muito simples, sintetizada no organismo. O óxido nítrico (NO, do inglês
Nitric Oxide) é uma das menores e mais simples moléculas que são sintetizadas pelo
33
corpo. O NO é o mediador endógeno responsável pela vasodilatação dependente do
endotélio e é derivado do metabolismo da L-arginina em L-citrulina pela enzima NO
sintase. O NO inibe a adesividade e agregação plaquetária. As variações no diâmetro da
luz dos vasos ocorrem em resposta às variações de fluxo sanguíneo. O aumento no fluxo
provoca aumento na secreção de NO, o que causa aumento do calibre dos vasos. As
alterações do fluxo sanguíneo produzem tensão tangencial, relacionada com o atrito entre
a camada estacionária associada com a parede do vaso e as camadas de sangue em
movimento, o que provoca um estresse de cisalhamento. A secreção de NO é
dependente da integridade do endotélio. Essa integridade se encontra diminuída em
algumas situações patológicas, como na HAS, na hipercolesterolemia e na aterosclerose.
Exercícios físicos podem ter efeitos benéficos na reatividade vascular devido às
alterações no fluxo sanguíneo. Alterações a longo prazo no fluxo exercem efeitos na
vasodilatação, dependente do endotélio pela modulação da expressão da NO sintase
(KOEPPEN; STANTON, 2009). No entanto, o exercício físico atua em muitos outros
mecanismos para controle da pressão arterial, tal como abordamos a seguir.
34
O exercício físico realizado regularmente provoca importantes adaptações
autonômicas e hemodinâmicas que influenciam o sistema cardiovascular com o objetivo
de manter a homeostasia celular diante do incremento das demandas metabólicas. Há um
aumento no débito cardíaco (DC), na redistribuição do fluxo sanguíneo e na elevação da
perfusão circulatória para os músculos em atividade. A PAS aumenta diretamente em
proporção ao aumento do DC. A PAD reflete a eficiência do mecanismo vasodilatador
local dos músculos em atividade, que é tanto maior quanto maior for a densidade capilar
local. A vasodilatação do músculo esquelético diminui a resistência periférica ao fluxo
sanguíneo e a vasoconstrição ao mesmo tempo em que ocorre em tecidos não
exercitados induzida simpaticamente, compensando a vasodilatação. Consequentemente,
a resistência total ao fluxo sanguíneo cai acentuadamente quando o exercício começa,
podendo alcançar um mínimo ao redor de 75% do VO2máx. Os níveis tensionais elevam-
se durante o exercício físico e no esforço, principalmente no estático, já tendo sido
constatados, em indivíduos jovens e saudáveis, níveis de pressão intra-arterial superiores
a 400/250 mmHg sem causar danos à saúde (MONTEIRO; FILHO, 2004).
É muito importante separar os efeitos fisiológicos do exercício físico na PA de
acordo com o momento em que ocorrem (ou seja, de modo associado aos efeitos agudos
e crônicos). Além disso, a resposta da PA também pode ser influenciada pelo tipo de
exercício físico. Por essa razão, a Tabela 6 apresenta um resumo dos efeitos agudos
imediatos do exercício físico sobre a função cardiovascular.
Tipo de
FC VS DC RVP PAS PAD
exercício
Dinâmico ↑↓↔ ↑ ↑ ↓ ↑ ↓↔
Isométrico ↑↔ ↓↔ ↑↔ ↑ ↑ ↑
Resistido ↑↔ ↓↔ ↑↔ ↑ ↑ ↑
Fonte: elaboração própria
Legenda: ↑ Aumenta; ↓ Diminui; ↔ Mantém. FC – frequência cardíaca; VS – volume sistólico; DC – débito cardíaco;
RVP – resistência vascular periférica; PAS – pressão arterial sistólica; PAD – pressão arterial diastólica.
35
A Tabela 6 permite observar que o sistema cardiovascular sofre uma sobrecarga
durante qualquer tipo de exercício físico. Entretanto, essa sobrecarga tem origens
totalmente diferentes, variando de acordo com o tipo de exercício físico.
Durante exercícios aeróbios, a sobrecarga cardíaca está associada à sobrecarga
de volume sanguíneo, devido à necessidade de aumentar o fluxo sanguíneo ao músculo
em atividade. Por outro lado, a sobrecarga durante o exercício resistido é a sobrecarga de
pressão, devido à necessidade de desenvolver altas pressões sanguíneas para vencer a
RVP criada pelos músculos em atividade. De qualquer forma, independente do tipo de
exercício, é importante considerar que o exercício físico sempre provocará uma
sobrecarga no sistema cardiovascular. Entretanto, um fator chave do exercício físico na
PA é seu efeito agudo tardio, ou seja, imediatamente após a sessão de exercício e nas
primeiras 24 horas após o exercício.
Uma única sessão de exercício físico promove hipotensão pós-exercício, que se
caracteriza pela manutenção dos níveis de PA no período de recuperação pós-exercício
inferiores aos observados no período que antecede o exercício ou ainda àqueles
avaliados em um dia controle, em que não houve a realização do exercício. O termo
“hipotensão” tem sido utilizado apesar dos níveis de PA atingidos não gerarem sintomas
clínicos de hipotensão (HALLIWILL et al., 2013).
Embora seja um evento agudo, a literatura sugere que os efeitos crônicos
provenientes do treinamento físico podem encontrar causa na soma dos efeitos agudos
de cada sessão. Em outras palavras, estes efeitos agudos podem gerar perfis excitatórios
ou inibitórios sobre as variáveis fisiológicas, no caso da PA. Uma sessão de exercício
possui um perfil inibitório que, a longo prazo, gera a redução da PA (HALLIWILL et al.,
2013). Neste sentido, estudos apontam associação positiva e significante entre a
diminuição da PA após uma única sessão de exercício aeróbico e a redução da PA em
repouso após um período de treinamento aeróbico (DA NOBREGA, 2005).
Adicionalmente, é importante destacar que a hipotensão pós-exercício, por si só, possui
relevância clínica na hipertensão arterial, pois apresenta magnitude significante e perdura
por grande parte do dia (LIU et al., 2012). O último posicionamento do ACSM considerou
esta relevância como uma evidência científica de grau B, ou seja, baseada em número
ainda limitado de estudos, mas com qualidade científica (RONDOM et al., 2002). Cabe
ressaltar que, após este posicionamento, muitos outros estudos foram publicados,
comprovando a relevância deste fenômeno (HALLIWILL et al., 2013).
Em relação aos efeitos crônicos do exercício aeróbico, uma importante meta-
36
análise sobre o assunto (CORNELISSEN; SMART, 2013) demonstrou que, na população
pré-hipertensa, esse tipo de treinamento promove uma redução significante da PAS/PAD
na ordem de -2,1/-1,7 mmHg, respectivamente. A redução dos valores pressóricos em
repouso também foi observada em estudos realizados com exercício resistido.
De acordo com Brum e Rondon (2003), alguns autores como Nelson et al. (1986 apud
BRUM; RONDON, 2003) apontam que sete sessões por semana seja a frequência ideal,
enquanto outros (HALBERT et al., 1997 apud BRUM; RONDON, 2003) citam que não há
benefício adicional em mais do que três sessões semanais. Já Silva e Lopez (2001 apud
BRUM; RONDON, 2003) relatam que, para se ter algum efeito hipotensor, é recomendável
uma frequência mínima de pelo menos três vezes por semana, sendo que frequências
maiores produzem maior efeito hipotensor sobre a PA.
No mesmo sentido, a 7a Diretriz Brasileira de Hipertensão (MALACHIAS et al., 2016) e
o ACSM (2004) orientam que a frequência de exercícios aeróbios seja de três ou mais
37
sessões semanalmente. A maior quantidade de sessões semanais pode ser importante na
redução do peso corporal quando a obesidade também está presente. Em relação à duração
do exercício, parece que existe um consenso na literatura. As Diretrizes Brasileiras de
Hipertensão Arterial (BARROSO et al., 2021) e o ACSM (2004) preconizam que a duração do
exercício seja de 30 a 60 minutos a cada sessão.
A intensidade do exercício para hipertensos sedentários, segundo o ACSM (2004),
deve ser de 40% a 60% da capacidade funcional máxima. Enquanto o treinamento físico
realizado em torno de 50% a 55% do VO2máx atenua a HAS, o treinamento físico de alta
intensidade não a modifica significativamente. Isso mostra que não são necessárias altas
intensidades de exercício para que se possa alcançar objetivos, poupando assim o indivíduo
de riscos relacionados ao exercício físico e à HAS. A recomendação da 7a Diretriz Brasileira
de Hipertensão (MALACHIAS et al., 2016) é que a intensidade seja de 50% a 70% do
VO2máx ou FC de reserva para indivíduos sedentários, e 60% a 80% da FC de reserva para
indivíduos condicionados.
A Diretriz mencionada anteriormente é clara ao recomendar que, em conjunto com os
exercícios aeróbios, também sejam realizados exercícios resistidos. A Tabela 8 apresenta um
resumo das principais recomendações para a prescrição de exercício resistido em
hipertensos.
Tabela 8 Sumário das principais recomendações para exercício resistido para controle da PA em indivíduos
hipertensos
Preferência para as máquinas por maior segurança e facilidade de uso; pesos, barras e
Modo de exercício elásticos também podem ser usados. O treinamento resistido dinâmico é preferível ao
treinamento isométrico.
Intensidade 50% a 70% de 1RM. Tendência para intensidades menores nos membros superiores.
Um peso que pode ser levantado entre 6 a 12 repetições; aumentar o peso quando 15
repetições podem ser realizadas facilmente. Evitar um alto número de repetições e
Repetições
repetições próximas à falha concêntrica. Se o número de repetições for alto, é
recomendada uma pausa a cada 4 repetições.
Tempo de recuperação
Tempo longo entre as séries (maior do que para pessoas normotensas).
entre as séries
38
Por fim, como o exercício físico causa uma sobrecarga cardiovascular, é
importante considerar alguns pontos de segurança.
Comumente, o critério para interromper um teste ou sessão de exercício é quando
a PAS se encontra em torno de 250 mmHg e a PAD entre 115 mmHg. Assim, o ACSM
(2004) recomenda que é prudente manter a PA abaixo de 220 por 105 mmHg para
exercício aeróbio. Dores no peito, falta de ar e palpitações também são sinais que devem
ser observados com atenção. Ocorrendo qualquer um desses sinais, o exercício deve
ser interrompido e o indivíduo deve ser encaminhado ao seu médico de confiança.
Indivíduos com uso de betabloqueadores e diuréticos devem ser avisados sobre os
efeitos da função termorregulatória e, alguns casos, da hipoglicemia, que podem ocorrer.
Nessas situações, eduque os alunos sobre os sinais e sintomas de intolerância ao calor e
à hipoglicemia e sobre as precauções que devem ser tomadas para evitar situações como
essas. Betabloqueadores (particularmente do tipo não seletivo) podem reduzir a
capacidade máxima e submáxima primariamente em indivíduos sem isquemia. Deve-se
usar a Escala de Borg nesses indivíduos para monitorar a intensidade do exercício.
Medicamentos anti-hipertensivos, como os betabloqueadores, bloqueadores de canais de
cálcio e vasodilatadores, podem levar a uma redução súbita da PA pós-exercício. Nessas
situações, deve-se ficar sempre atento e monitorar o período de volta à calma.
39
formada por uma placa esbranquiçada que recobre toda a luz do vaso. Neste caso, a
placa possui uma cobertura fibrosa, que consiste em diversas camadas de células
achatadas imersas numa matriz extracelular de tecido conjuntivo denso, ao lado de
lamínulas de material amorfo, proteoglicanos, fibras colágenas e células musculares lisas
(ARRIGO et al., 2020; SINNENBERG; GIVERTZ, 2020).
Já na parte interna da placa, abaixo dessa cobertura fibrosa, há um acúmulo das
células espumosas, que podem estar íntegras ou rotas, além de tecido conjuntivo. As
células espumosas são originárias dos macrófagos (linfócitos e macrócitos sanguíneos,
bem como de células musculares lisas da parede arterial) que contêm gotículas de
gordura, principalmente sob a forma de colesterol livre e esterificado. Esse colesterol é
derivado do sangue e não produzido no local. Na região central da placa fibrosa há tecido
necrótico, cristais de colesterol extracelular e de cálcio (ARRIGO et al., 2020;
SINNENBERG; GIVERTZ, 2020).
Conforme a doença evolui pode ocorrer: o surgimento de vasos que realizam a
vascularização da média e da íntima; o aumento da deposição de cálcio e de células
necróticas; o aparecimento de ruturas, fissuras e hemorragias da placa, ou até mesmo o
seu desprendimento e ulceração; a exposição da subíntima ulcerada com deposição de
plaquetas, coagulação sanguínea, trombose e até oclusão do vaso (ABCMED, 2017).
40
para alguns locais do corpo, como ombros, face interna dos braços e cotovelos (na
distribuição dos nervos ulnares para o quarto e quinto dedo da mão), principalmente no
lado esquerdo, bem como no pescoço e na mandíbula. Além disso, pode ocorrer
irradiação para a região epigástrica ou região interescapular, que pode ser confundida
com perturbação digestiva grave ou úlcera péptica, podendo ainda haver variações de
localidade, como regiões não torácicas. O motivo dessa irradiação para outras partes do
corpo tem relação com a derivação embriológica do coração, uma vez que a inervação do
coração embrionário tem origem nos dois nervos cervicais inferiores e nos quatro nervos
torácicos superiores, sendo compartilhada por outras estruturas da linha média no tórax
(ARRIGO et al., 2020; SINNENBERG; GIVERTZ, 2020).
O indivíduo pode, ainda, apresentar outros sintomas, como: náusea e vômito;
diaforese (em geral, profunda e associada com vasoconstrição cutânea, apresentando-se
como pele fria e acinzentada); palpitações; dores de cabeça; movimento intestinal
repentino; fraqueza profunda; dispnéia (que pode indicar que o dano cardíaco prejudicou
o trabalho ventricular esquerdo, podendo proporcionar um edema pulmonar); e uma
sensação de morte iminente. Esses sintomas refletem reflexos mediados pelo nervo vago
e servem como indicação importante de um evento sério e grave, que pode estar em
desenvolvimento culminando em morte; em caso de “infarto silencioso” pode não haver
desconforto torácico (IRWIN; TECKLIN, 2003).
Os fatores de risco mais frequentes para o IAM são: hipertensão arterial;
diabetes; tabagismo; hipercolesterolemia; obesidade; lipoproteínas de alta densidade
(HDL) reduzido; triglicérides elevado; histórico familiar de IAM; gênero (homens mais
propensos); idade (homem a partir dos 45 anos e mulheres a partir dos 55 anos);
homocisteína e aminoácidos tóxicos elevados; hipervitaminoses de B2, B6, B12;
sedentarismo; estresse e alcoolismo.
Com relação à fisiopatologia do IAM, após a oclusão coronariana se instala um
processo inflamatório na região infartada que, nas primeiras horas, é composto de grande
quantidade de células inflamatórias, além de edema. Nas fases subsequentes há
proliferação de fibroblastos com deposição de colágeno, com substituição do tecido
necrótico por tecido fibroso para cicatrização. Concomitantemente à necrose das
miofibrilas ocorre desintegração do colágeno interfibrilar, com maior suscetibilidade a
deformações, podendo ocasionar deslizamento de áreas musculares necróticas, com
realinhamento dos miócitos na parede infartada. Além disso, há afilamento da região e
dilatação da cavidade, caracterizada por adelgaçamento e distensão da região infartada,
41
com expansão do infarto, com novos focos de necrose, dependendo da evolução do
quadro clínico (ZORNOFF et al. 2009).
A resposta adaptativa pós-IAM não ocorre somente no coração, mas também na
área que sofreu a lesão inicial. Na fase tardia do infarto, o miócito do ventrículo direito
também apresenta aumento do volume, do comprimento e do diâmetro transverso. Devido
aos acontecimentos que ocorrem na câmara esquerda há, como consequência, elevação
da pressão de enchimento ventricular, podendo evoluir para diferentes graus de
hipertensão pulmonar, promovendo elevação da tensão parietal sistólica no ventrículo
contralateral. Dessa forma, pode haver replicação em paralelo de sarcômeros, com
redução na relação raio da cavidade/espessura da parede, indicando hipertrofia
ventricular do tipo concêntrica (ZORNOFF et al. 2009). Devido ao IAM, não só essas
como outras alterações fisiológicas podem ocorrer, tais como: redução da relação
mitocôndria/miócito; redução na quantidade de capilares presentes na parede ventricular;
redução na produção de ATP; alterações nas funções sistólica e diastólica; redução na
densidade dos canais lentos de cálcio; diminuição na quantidade de receptores β;
redução na produção de AMP cíclico; redução da capacidade ATPásica do retículo
sarcoplasmático; além de aumento da isoforma de miosina V3 (ZORNOFF; SPADARO,
1997).
Dessa forma, o remodelamento ventricular pós-IAM tem relação com a ruptura
ventricular, formação de aneurismas, arritmias e piora funcional, aumentando
significativamente a morbidade e mortalidade na vigência do processo isquêmico (PAIVA
et al. 2009; ZORNOFF et al. 2009). Além das alterações já mencionadas, com a morte
celular consequente à isquemia miocárdica, há desbalanço entre a oferta e a demanda de
oxigênio. Devido a isso, essa necrose é acompanhada pela liberação de macromoléculas
intracelulares e proteínas estruturais que são marcadores de lesão miocárdica, como a
creatina quinase, a mioglobina, a troponina C, a troponina I e a troponina T.
Para melhora do quadro clínico, a RCPM é indicada, uma vez que ela promove
diversos benefícios, principalmente em pacientes com doença arterial coronariana estável
– por exemplo, melhora da angina em repouso, redução da gravidade da isquemia
induzida pelo esforço, melhora da capacidade funcional e controle de alguns dos fatores
de risco para DCV. A melhora da isquemia miocárdica é resultado do aumento do volume
sistólico, da redução na taquicardia durante o exercício para cargas submáximas, da
melhora na resposta vasodilatadora dependente do endotélio e do aumento de perfusão
na microcirculação coronariana, sendo que a melhora da perfusão ocorre devido ao
42
recrutamento de vasos colaterais durante o exercício, clinicamente evidenciado pela
diminuição da depressão do segmento ST durante o exercício e melhora na perfusão
miocárdica observada durante a cintilografia (MORAIS, 2005).
A combinação da terapia farmacológica, associada a um plano alimentar com
pouca gordura, atividade física e até mesmo uma intervenção cirúrgica (como angioplastia
coronária com implante de endopróteses coronárias – stents) compõem a chave para o
sucesso do tratamento, uma vez que este conjunto trata e previne a ocorrência de um
novo evento cardiovascular, que pode apresentar dimensões maiores do que o inicial.
Os principais medicamentos utilizados na terapia são: ácido acetilsalicílico (AAS),
betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores dos
receptores AT1 e nitratos (PIEGAS et al. 2009). Já em relação aos exercícios físicos, o
início de um programa já pode ocorrer quando o paciente está clinicamente estável, uma
vez que o repouso prolongado no leito resulta em efeitos deletérios que podem
comprometer a recuperação dos pacientes São exemplos desses efeitos a redução da
capacidade funcional, redução da massa muscular, a redução da volemia, a
predisposição ao tromboembolismo pulmonar, o aumento da pressão arterial, além de
ansiedade e até depressão. Pensando a longo prazo, a execução dos exercícios promove
redução da HA e da dislipidemia, o controle do diabetes mellitus e a redução da
obesidade.
43
mais indicados são os de baixa a moderada intensidade, sem impacto físico nas primeiras
semanas, por no mínimo 30 minutos e com frequência de pelo menos três vezes por
semana; porém, se houver possibilidade, o exercício pode ser realizado até 60 minutos,
todos os dias da semana e em intensidade moderada. Quando o paciente é muito
descondicionado, como é o caso da grande maioria da população, a duração da sessão
pode ser mais curta, em torno de 10 minutos, com progressão gradual para evitar lesões
musculares, fadiga e overtraining. A Diretriz Sul-Americana de Reabilitação
Cardiovascular (HERDY et al., 2014) preconiza que o exercício aeróbico seja realizado
com intensidade entre 60-80% da FC máxima atingida no teste ergométrico ou 50-70% da
FC de reserva. Já a American Heart Association (AHA) (THOMPSON et al., 2007;
DROZDA JR. et al., 2011) orienta a prescrição do exercício aeróbico entre 60-75% da FC
máxima atingida no teste de esforço físico, sendo que no caso de realização de teste
cardiopulmonar, a intensidade de treinamento não deve ultrapassar o limiar anaeróbico
e/ou limiar isquêmico com intensidade inferior em 10 bpm abaixo do limiar isquêmico
(MARTINEZ et al. 2018).
Todas as diretrizes preconizam o exercício resistido como complemento ao
aeróbio. Segundo a AHA, após o IAM, o treinamento resistido deve ser iniciado entre duas
e quatro semanas após o início do exercício aeróbico. A Diretriz Brasileira de Reabilitação
Cardiovascular (CARVALHO et al., 2020) indica que o componente isométrico do
exercício resistido faz com que haja aumento da PA, que caracteriza melhora da perfusão
coronariana e diminuição do processo isquêmico. Outros benefícios do treinamento
resistido são: aumento da massa muscular; melhora do trofismo, aumento da capacidade
oxidativa do músculo esquelético e melhora do consumo de oxigênio. O exercício resistido
é indicado pelo menos duas vezes/semana pós-IAM, com carga inicial leve (por volta de
40% 1RM) e progressão gradual ao longo do tratamento; execução entre 6 e 15
repetições por grupo muscular; e intervalos de 30 segundos a um minuto entre os
exercícios (MARTINEZ et al. 2018).
O acidente vascular encefálico (AVE) é uma lesão causada tanto por isquemia
vascular quanto por hemorragia intracerebral, e é uma das principais causas de morte no
Brasil e uma das principais causas de desabilidades nos Estados Unidos e no mundo
44
(ACSM, 2017; DE OLIVEIRA, 2008). O AVE, também conhecido como derrame, está
associado ao comprometimento súbito da circulação cerebral em um ou mais vasos
sanguíneos, interrompendo ou diminuindo o suprimento de oxigênio, e com frequência
provoca lesão séria ou necrose nos tecidos cerebrais (ACC, 2004). O AVE é
caracterizado por uma interrupção súbita do fluxo sanguíneo do encéfalo, causado tanto
por obstrução de uma artéria, caracterizando o AVE isquêmico, quanto por ruptura de
uma artéria, causando AVE hemorrágico. Os sinais clínicos estão relacionados
diretamente com a localização e extensão da lesão, assim como a presença de irrigação
colateral (SACCO, 2007).
Aproximadamente 80% dos indivíduos que são vítimas de AVE sobrevivem à fase
aguda. Entretanto, 90% dos sobreviventes desenvolvem algum tipo de deficiência ou
manifestações clínicas, como prejuízos das funções sensitivas, motoras, de equilíbrio e de
marcha, além do déficit cognitivo e de linguagem (RYERSON et al., 2008). Embora a
maioria dos pacientes recupere sua habilidade de deambular, ainda assim cerca de 30 a
66% dos sobreviventes não são capazes de usar o braço afetado (KARTHIKBABU et al.,
2011). A ocorrência do AVE proporciona ao indivíduo alterações motoras – dentre elas
destaca-se a hemiplegia, caracterizada pela perda de força muscular no domínio
contralateral à lesão encefálica (TYSON et al., 2006). Esses prejuízos resultam em
limitação na realização das atividades da vida diária (AVD), restrições na participação
social e consequentemente piora da qualidade de vida (CARR; SHEPHERD, 2008).
A fisiopatologia do AVE é complexa e envolve inúmeros processos, incluindo:
falha de energia, perda de homeostase celular, acidose, elevação de níveis de cálcio
intracelular, excitotoxicidade, geração de produtos do ácido araquidônico, citotoxicidade,
ativação do complemento interrupção, da barreira hemato-encefálica (BBB), ativação de
células gliais e infiltração de leucócitos (BROUGHTON et al., 2009).
O AVE isquêmico é menos grave quando ocorre na região de penumbra (a zona de
penumbra é um tecido neuronal em risco, em que essa zona circunda o tecido isquêmico
central) de um infarto isquêmico focal; ele evolui mais lentamente, depende da ativação
de genes específicos e pode, em última análise, resultar em apoptose (ZHENG et al.,
2004). Em contraste com a necrose, a apoptose parece ser um processo relativamente
ordenado de energia-dependente, ou seja, uma morte celular programada com reposição
de todas as células de forma ordenada. Muitos neurônios na penumbra isquêmica podem
sofrer apoptose apenas depois de várias horas ou dias e, portanto, são potencialmente
recuperáveis por algum tempo após o início do AVE.
45
Os indivíduos que apresentam sequelas de AVE normalmente seguem uma rotina
de intervenção e tratamento de acordo com o tipo e causa do AVE. Essa rotina varia
desde a intervenção cirúrgica ao tratamento clínico, passando posteriormente para o
tratamento de reabilitação, com o objetivo de restabelecer funções ou minimizar as
sequelas deixadas (GORDON, 1993). Um ponto muito importante é que o quadro tende a
se estabilizar com o tempo e o paciente apresenta, na maioria dos casos, uma
hemiparesia (dificuldade de movimentar metade do corpo) ou uma hemiplegia,
dependendo não somente da área cerebral afetada, como também da extensão deste
acometimento (DA SILVA et al., 2003).
46
(CARR; SHEPHERD, 2008). Como consequências funcionais, estas alterações predispõem os
sobreviventes de AVE a um padrão de vida sedentário com limitações para as AVDs, criando
um círculo vicioso entre descondicionamento e inatividade, contribuindo para uma pobre
autoestima, depressão, isolamento social e deterioração física (COSTA; DUARTE, 2002;
DOBKIN, 2005; PANG, 2006).
47
pode ser modificada em pacientes hemiplégicos (TEIXEIRA-SALMELA et al., 2001).
Estudos randomizados de programas de exercício utilizando ampla variedade de
modalidades e protocolos demonstram melhora de 8 a 23% no VO2máx após um período
de dois a seis meses de treinamento. Entretanto, a maior parte das pesquisas focou em
pacientes hemiparéticos que tinham prejuízo de marcha leve a moderado. Dentre esses
pacientes, o treinamento de esteira utilizando intensidade e duração progressivas parece
oferecer resultados promissores. Apesar disso, até o momento, não há um protocolo
específico de treinamento que tenha sido estudado adequadamente ou que possa ser
recomendado para esses pacientes ou para aqueles com déficits neuromusculares mais
limitantes (ASCM, 2017).
48
Unidade 3 – Doenças metabólicas e pulmonares
49
os transportadores de glicose não chegam até a membrana plasmática. Dessa forma, não
ocorre influxo de glicose, e ela se acumula no plasma, resultando em hiperglicemia
crônica (PAULI et al., 2009). Em resposta, o pâncreas é estimulado a aumentar a
produção de insulina. Caso esta condição permaneça no organismo sem o devido
tratamento, a produção excessiva de insulina poderá resultar em falência das células
beta-pancreáticas e, com isso, surge a necessidade de recorrer à insulina exógena para
suprir a demanda do organismo (IDF, 2019).
50
câncer, infecções, traumas, pancreatectomia (remoção total ou parcial do pâncreas) – e
até mesmo devido à ação de drogas e fármacos que atuam sobre a síntese, secreção ou
ação da insulina. Os fatores de risco para o DMT2 são sobrepeso e obesidade,
comportamento sedentário, dieta inadequada, histórico familiar, idade avançada da mãe
na gestação e envelhecimento (ACSM; ADA, 2010; IDF, 2019).
Para o diagnóstico do diabetes são recomendados quatro testes (ADA, 2018; IDF,
2019; WHO, 2019):
● glicemia de jejum – igual ou superior a 126 mg/dL;
● teste oral de tolerância à glicose (TTG) – igual ou superior a 200 mg/dL após
duas horas da ingestão da solução de glicose (75g);
● glicose casual – igual ou superior a 200 mg/dL;
● hemoglobina glicada (HbA1c) – igual ou superior a 6,5%.
51
gordura corporal por meio do exercício físico podem ser alcançados por diferentes
mecanismos de ação (COLBERG et al., 2010; O’HAGAN; TONOLI, 2013; YARDLEY et
al., 2013). A Tabela 9 resume os principais mecanismos de ação.
Tabela 9 Mecanismos de ação para melhora do controle glicêmico, pressão arterial e gordura corporal em
indivíduos com diabetes mellitus e sua relação com o exercício físico
52
7. Angiogênese e densidade capilar Treinamento aeróbio
53
Figura 3 (A) (B) e (C) Mecanismo de ação do exercício na captação de glicose
Fonte: Pauli et al. (2009)
Com a captação de glicose por via independente de ação da insulina (Figura 3 (C))
e melhora na sensibilidade à insulina (Figura 3 (A) e (B)), há aumento da captação de
glicose e redução da glicemia. Nos diabéticos que utilizam a insulina exógena, estes
fatores poderão levar à redução das doses diárias de insulina, aspecto muito positivo para
esse tipo de diabetes.
Os mecanismos para melhora do controle glicêmico apresentados anteriormente
são o resultado tanto de efeitos agudos como dos efeitos crônicos do exercício. É difícil
separar os efeitos agudos dos crônicos, uma vez que o crônico é resultado da soma dos
efeitos agudos. Entretanto, para uma correta abordagem do treinamento para indivíduos
diabéticos, é importante estabelecer alguns pontos relacionados com as alterações
metabólicas durante o exercício físico em diabéticos.
Os próximos dois subtópicos descrevem os efeitos agudos e crônicos do exercício
físico sobre o controle glicêmico em pacientes com DM. É importante destacar que a
maioria das evidências do exercício resistido e DM indicam que os efeitos estão
relacionados com o DMT2. No entanto, os efeitos comuns são também esperados para
DMT1.
54
Efeitos agudos do exercício físico em indivíduos diabéticos
Uma única sessão de exercícios resistidos induz a captação de glicose no músculo
esquelético por uma via independente da insulina e aumenta a absorção de glicose pela
via insulino-dependente. O aumento da captação de glicose e consequente redução da
glicemia pode persistir por pelo menos 24 horas após o exercício resistido. Além disso,
uma sessão de treinamento estabiliza a resposta de glicose no plasma para as 24 horas
subsequentes, reduzindo o aparecimento de picos hiperglicêmicos pós-prandiais, que são
conhecidos por serem um fator importante no desenvolvimento de complicações
diabéticas (COLBERG et al., 2010). Por fim, a absorção de glicose por uma via
dependente de insulina, em uma única sessão de treinamento, pode resultar em
melhorias agudas na ação da insulina sistêmica em um período de duas a 72 horas.
A manutenção de glicose no sangue ou a sua alteração depende de vários fatores
de treino, sendo os mais importantes a intensidade e a duração do exercício físico
(COLBERG et al., 2010). Considerando-se o equilíbrio entre a absorção e liberação de
glicose no sangue, os diabéticos devem realizar uma intensidade em que a captação de
glicose seja superior à sua liberação no fígado. Embora o exercício físico promova a
diminuição da concentração de glicose no sangue em até aproximadamente 24 horas
após o exercício, a realização em intensidade vigorosa pode aumentar agudamente a
concentração de glicose sanguínea, ou seja, durante e imediatamente após o exercício.
Em indivíduos com DM realizando exercício físico com intensidade moderada, a captação
de glicose geralmente é superior à sua produção hepática e, portanto, a glicemia tende a
diminuir (MOREIRA et al., 2012; BACCHI, 2012). A captação de glicose muscular
permanece elevada no pós-exercício, pois a via independente e não mediada pela
insulina (AMPK) persiste durante várias horas.
Por outro lado, em indivíduos que executam o exercício de intensidade vigorosa, a
captação pode ser inferior à produção de glicose hepática, portanto a glicemia tende a
aumentar. A explicação possível para a hiperglicemia durante o exercício físico em
intensidade vigorosa baseia-se em um aumento no nível das catecolaminas e respostas
do glucagon, que estimulam uma maior glicogenólise e gliconeogênese, aumentando
assim a liberação de glicose pelo fígado em relação à sua absorção pelo músculo
(MOREIRA et al., 2008). No entanto, durante várias horas após o exercício, a produção
de glicose hepática é inibida e a absorção de glicose muscular permanece mais elevada,
o que conduz a uma diminuição na concentração de glicose a longo prazo superior ao
55
exercício de intensidade moderada.
Essas respostas glicêmicas durante o exercício resistido apresentam aplicações
práticas no controle da glicose para as pessoas com DM. Os pacientes que se
apresentam com glicemia descompensada devem realizar exercícios em intensidades
leves a moderadas. Neste caso, a concentração de glicose sanguínea elevada deve ser
imediatamente reduzida. Assim, a intensidade de exercício leve a moderada será a mais
recomendada (COLBERG et al., 2010; MOREIRA et al., 2008). Por outro lado, os
indivíduos que se apresentam com glicemia bem-controlada podem realizar exercícios de
intensidade vigorosa. Apesar da glicose no sangue aumentar durante o exercício, essa
resposta ocorre em concentrações normais e, após o exercício, mais glicose será
absorvida pelo músculo esquelético.
56
por uma fase rápida e de grande aumento dos níveis de glicose no sangue, sendo que a
possibilidade de picos de hiperglicemia pós-prandial pode ser relevante para as
complicações tardias em diabéticos (CERIELLO, 1998). Um estudo de Little et al. (2011)
mostrou que o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) representa uma
estratégia de exercício de potente benefício para melhorar o controle metabólico muscular
esquelético e regulação da glicemia em pacientes DM2. Foi utilizado monitoramento
contínuo da glicose para examinar os efeitos da flutuação da glicose pós-prandial. O HIIT
de baixo volume melhorou o controle glicêmico, particularmente após as refeições. Além
de reduzir a glicemia em jejum, aspecto significativo no tratamento de DM2, aumentam as
evidências que sugerem a redução da hiperglicemia pós-prandial, tão importante (senão
mais importante) no desenvolvimento e progressão de doenças cardiovasculares nesse
tipo de indivíduos (CERIELLO, 1998).
Outro ponto importante é que a medicação para a DM pode ser reduzida em cerca
de 70% para os indivíduos envolvidos no programa de treinamento quando comparados
com pacientes que não realizam exercícios (ZANUSO, 2010).
Os efeitos crônicos do exercício físico em pessoas com DM2 têm sido bem-
documentados. Os benefícios incluem aumento da força e massa muscular, melhora do
perfil lipídico, diminuição da pressão arterial e da massa gorda, diminuição de dosagem
de insulina e diminuição dos níveis de glicose sanguínea, resultando em uma diminuição
nos níveis de hemoglobina glicosilada (HbA1c) em pessoas com DM (COLBERG et al.,
2010; O’HAGAN; TONOLI, 2013; YARDLEY et al., 2013).
Tabela 10 Orientações para a prescrição de exercícios aeróbios e resistidos para o tratamento de diabetes
mellitus
Origem da
Diretriz Intensidade Frequência Volume Progressão
diretriz
3 dias/semana
Iniciar com
(não mais do que
Exercício Moderada ou intensidade moderada
dois dias 150 min/semana
aeróbio vigorosa e progredir para
Canadian consecutivos sem
vigorosa
Diabetes exercício físico)
Association
(CDA) Para 2 séries de 10-
Exercício Uma série de 10-15 15 repetições e 3
Moderada 3 dias/semana
resistido repetições séries de 8 repetições
com maior peso.
Exercício
50-70% FCmáx 3 dias/semana 150 min/semana –
American aeróbio
Diabetes
Association
(ADA) Exercício 3 séries de 8-10
8-10 RM 3 dias/semana –
resistido repetições
5 dias/semana 30 min/dia
(moderada) (moderada)
Exercício Moderada ou
American –
aeróbio vigorosa
Heart 3 dias/semana 20 min/dia
Association (vigorosa) (vigorosa)
(AHA)
Exercício 2-4 séries de 8-10
8-10 RM 3 dias/semana -
resistido repetições
Legenda: VO2máx – consumo máximo de oxigênio; 1RM – uma repetição máxima; RM – repetições máximas.
58
grupos musculares e elevado número de repetições em máquinas de resistência no início
do treinamento, progredindo ao longo do tempo para o baixo número de repetições com
carga mais intensa. O número de séries também varia de 1 a 4 para cada grupo muscular
de exercícios resistido. A progressão dos exercícios deve ocorrer lentamente para evitar
lesões (COLBERG et al., 2010).
59
Apesar de a DPOC ser uma doença progressiva, principalmente devido à
exposição do paciente ao agente nocivo, quando essa exposição é cessada, a
probabilidade de haver uma melhora do quadro clínico é grande, uma vez que é possível
retardar ou parar o progresso da doença. O tratamento deve ser ininterrupto, ao longo de
toda vida, para que os sintomas possam ser minimizados, promovendo melhora da
qualidade de vida e redução da mortalidade dos pacientes.
Para diagnosticar e monitorar a resposta da DPOC perante o tratamento é
realizada uma espirometria, sendo esta um dos melhores métodos para avaliar a função
pulmonar. Por meio dela é possível medir o volume de ar que o indivíduo pode extrair dos
pulmões depois de uma expiração máxima. Para classificar a gravidade da doença são
usados pontos de corte espirométricos comparados pré e pós broncodilatador, sendo:
VEF1/CVF < 0,70 (que representa a fração de ar expirado no primeiro segundo em
relação ao volume total expirado) ou VEF1 < 80, 50 ou 30% do previsto (que representa
o volume de ar expirado no primeiro segundo) (GOLD, 2020).
O impacto da DPOC está relacionado ao grau da limitação do fluxo aéreo
respiratório e da seriedade dos sintomas, mas a interação entre essas variáveis é
deficiente. Assim, é importante rotular os estádios que são obtidos através da
espirometria, apenas para facilitar na prática e indicador para caracterizar o início do
tratamento.
● Estádio I: DPOC leve – Leve limitação do fluxo aéreo (VEF1/CVF < 0,70;
VEF1 ≥ 80% do previsto). Principais sintomas: pode haver tosse crônica e/ou
produção de muco. Normalmente, a pessoa nem imagina que há alterações em
sua função pulmonar.
● Estádio II: DPOC moderada – Agravamento da limitação do fluxo aéreo
(VEF1/ CVF < 0,70; 50% ≤ VEF1 < 80% do previsto), acompanhada de falta de
ar, que normalmente ocorre aos esforços. Às vezes pode haver tosse e
produção de muco. É nessa situação que os pacientes buscam por
atendimento médico.
● Estádio III: DPOC grave – Grande agravamento da limitação do fluxo aéreo
(VEF1/ CVF < 0,70; 30% ≤ VEF1 < 50% do previsto), aumento da falta de ar,
redução da capacidade de realizar atividade física, fadiga e crises frequentes
resultando em baixa qualidade de vida.
Estádio IV: DPOC muito grave – Intensa limitação do fluxo aéreo (VEF1/ CVF
60
< 0,70; VEF1 < 30% do previsto ou VEF1 < 50% do previsto). Insuficiência
respiratória crônica [PaO2 < 8,0 kPa (60 mmHg) com ou sem PaCO2 > 6,7 kPa
(50mmHg)], podendo haver cor pulmonale com aumento da pressão venosa
jugular e edema no tornozelo. Quando o paciente apresentar VEF1 > 30% do
previsto, mas com complicações pertinentes ao Estádio IV, ele é automaticamente
classificado no Estádio IV: DPOC muito grave, independentemente do valor da
VEF1 ser maior que 30% do previsto.
62
músculos respiratórios, promovendo redução da ventilação e consequente retenção
de CO2. Esse desbalanço pode, ainda, ser promovido por anomalias na ventilação
alveolar e diminuição do leito vascular pulmonar (GOLD, 2020).
63
● Exacerbações: são uma ampliação da resposta inflamatória das vias aéreas,
podendo ocorrer devido a infecção bacteriana ou viral, além de poluentes ambientais.
Em exacerbações leves e moderadas existe uma elevada concentração de
mediadores como TNF-α, LTB4 e IL-8, e de biomarcadores de estresse oxidativo, que
estão diretamente relacionados com aumento de neutrófilos eosinófilos no catarro e na
parede nas vias aéreas (WEDZICHA, 2002). Já nas graves, também há aumento de
neutrófilos na parede das vias aéreas e aumento da expressão de quimiocinas
(DROST et al., 2005). Durante a exacerbação, há aumento do aprisionamento de ar e
da hiperinflação, com redução do fluxo expiratório, que é diretamente responsável pelo
aumento da dispneia (PARKER et al., 2005). Além disso, há um agravamento das
irregularidades na relação VA/Q, causando hipoxemia grave (GOLD, 2020).
Saiba mais
A espirometria é a principal ferramenta para se alcançar um diagnóstico
preciso e seguro para DPOC, uma vez que ela consegue excluir
diagnósticos de outras doenças que apresentam sinais e sintomas
semelhantes a DPOC. Ela tem por objetivo medir o volume do ar forçado
exalado do ponto máximo da inspiração (capacidade vital forçada – CVF) e
o volume de ar exalado durante o primeiro segundo dessa manobra
(volume expiratório forçado em um segundo – VEF1). A relação entre
esses parâmetros (VEF1/CVF) também é um marcador importante para
diagnóstico. As curvas referentes a esses volumes, também determinadas
como espirogramas, são calculadas comparando os valores de referência
com os valores obtidos pelos indivíduos durante as manobras
(PELLEGRINO et al., 2005) com base na idade, altura, peso, sexo e raça
(GOLD, 2020). Normalmente há diminuição no VEF1 e na CVF nos
pacientes com DPOC, e as alterações presentes na espirometria refletem o
quão grave é o estado do paciente. A limitação do fluxo aéreo é
caracterizada pela relação VEF1/CVF < 0,70 pós-broncodilatador.
64
diagnóstico. O sucesso do tratamento é dependente não só do nível de instrução do
paciente, mas também da sua disponibilidade em realizar o tratamento proposto, da sua
cultura e do acesso a medicamentos (GOLD, 2020).
O tratamento farmacológico tem papel complementar na prevenção e controle dos
sintomas, na redução da frequência e da seriedade das exacerbações, na melhora da
qualidade de vida do paciente e na melhoria da capacidade do indivíduo de realizar um
exercício físico. Os principais medicamentos utilizados na terapia são os
broncodilatadores, β agonista, anticolinérgicos, metilxantinas, corticóides, além da
administração de outros fármacos, como antibióticos, agentes mucolíticos, agentes
antioxidantes, vasodilatadores, entre outros, sendo que eles são inseridos no tratamento
da DPOC sempre tendo como base os sintomas clínicos e o nível de seriedade da doença
(GOLD, 2020).
Pensando na reabilitação pulmonar, os principais objetivos são diminuir os
sintomas, melhorar a qualidade de vida do paciente e melhorar a sua interação em
atividades de vida diária e a sua capacidade de exercício, reduzindo a dispneia,
diminuindo a ansiedade e a depressão referente a doença, e promovendo melhora
psicológica.
Normalmente, a reabilitação pulmonar aumenta a carga máxima de trabalho em
18%, o VO2máx em 11% e o tempo de endurance em 87% em relação ao dado inicial,
antes do início do tratamento, além de aumentar, em média, 49m na distância da
caminhada no teste de 6 minutos (TROOSTERS et al. 2005). Dessa forma, não há dúvida
de que a reabilitação é de extrema necessidade ao tratamento, mesmo que de forma
adicional a outras terapias, principalmente as medicamentosas.
Os fatores que compõem uma reabilitação pulmonar variam conforme cada tipo de
programa e de acordo com os objetivos do tratamento, dependendo dos sinais e sintomas
de cada indivíduo. Basicamente, ela precisa conter treinamento físico, instrução/educação
do paciente, além de acompanhamento nutricional e equipe multidisciplinar.
O exercício aeróbio é o mais utilizado na reabilitação, e normalmente as
respostas desse tipo de exercício são avaliadas por dois tipos de ergômetros: bicicleta
ergométrica e esteira, havendo sempre medições das variáveis fisiológicas, como
VO2máx, FCmáx e a carga de trabalho máxima ou velocidade máxima. Como alternativa, é
possível realizar um teste de caminhada de seis minutos (TC6), mas neste caso é
importante realizar uma sessão de treinamento prévia para que os dados sejam realmente
fidedignos. Há, ainda, a possibilidade de aplicar um teste de caminhada com incentivo,
65
como o shuttle walk test, que fornece parâmetros mais completos do que os o TC6.
O treinamento pode variar com relação à frequência (de 3 a 5 vezes por semana),
à duração (entre 20 e 45 minutos de tempo para cada sessão) e em relação à intensidade
(que é baseada a partir do VO2máx entre 50% até a intensidade máxima suportada pelo
paciente). Ainda não há consenso sobre a duração ótima do treinamento físico, mas
grande parte dos estudos que envolvem até 28 sessões de treinamento indicaram
menores benefícios em relação a estudos que realizaram mais sessões de tratamentos.
Na prática, a duração está diretamente ligada à existência de recursos nos locais
em que o treinamento é realizado, durando normalmente entre 6 e 10 semanas, havendo
sempre a preferência pela realização de exercícios durante o maior número de semanas
possíveis devido aos melhores resultados obtidos (GOLD, 2020). Infelizmente, após esse
período, há necessidade da manutenção dessa frequência de exercícios, para manter os
ganhos obtidos na reabilitação, além de proporcionar novos benefícios.
Outro tipo de treinamento utilizado é o de força (resistência), com recomendação
entre 50 a 85% da carga máxima de trabalho (1RM) e com adequação da intensidade
determinada para cada paciente a cada três ou quatro semanas, frequência entre dois e
três dias de atividade por semana, uma a três séries para cada grupo muscular escolhido,
com oito a 12 repetições, e intervalo de dois a três minutos entre cada série, podendo ser
realizado de forma contínua ou intervalada. No caso do intervalado, ele pode ser aplicado
quando a performance do indivíduo é limitada pela existência de outras comorbidades.
Assim, o paciente realiza o mesmo volume de treino, porém com períodos curtos de
intervalo alternado com períodos curtos de alta intensidade. A recomendação atual é
realizar o treinamento aeróbio e resistido de maneira combinada (DOURADO et al., 2004).
Quando o paciente apresenta uma grave incapacidade, outros equipamentos
podem ser adicionados ao tratamento – por exemplo, a utilização de um andador com
rodas para ajudar a aumentar a distância de caminhada e reduzir a dispneia, ou ainda o
uso de cilindro de oxigênio durante o exercício físico, com misturas de gás hélio, a
redução da carga dos músculos respiratórios durante o exercício ou o uso da respiração
com lábios semicerrados, que também podem ajudar na reabilitação.
Nos casos mais graves (Estádio IV da DPOC), a oxigenoterapia é um importante
tratamento que deve estar associado a outras terapias, tendo como foco principal
aumentar a PaO2 basal ao nível do mar e em repouso para um valor de pelo menos 8,0
kPa (60 mmHg) e/ou atingir uma SaO2 de pelo menos 90%, conservando o papel dos
órgãos vitais e mantendo o transporte apropriado de oxigênio. A oxigenoterapia pode ser
66
realizada tanto na terapia contínua de longo-prazo, como também para diminuir a falta de
ar, além de poder ser empregada durante o exercício (GOLD, 2020).
O suporte ventilatório também pode ser necessário em alguns casos específicos:
quando há acidose respiratória (pH 45 mmHg); hipoxemia refratária, que não é sanada
pela administração de oxigênio suplementar (pO2 < 88%); alterações clínicas, como
dispneia grave com esforço ventilatório evidente; uso de musculatura acessória,
movimento paradoxal do abdome e retração intercostal. O suporte ventilatório diminui logo
no início a carga e o trabalho dos músculos respiratórios, aliviando a dispneia, reduzindo
a frequência respiratória e melhorando oxigenação arterial, pCO2 e pH.
Na exacerbação aguda a ventilação não invasiva (VNI) é o tratamento escolhido
como suporte ventilatório para o controle da DPOC, com objetivo de reduzir o esforço
ventilatório, as trocas gasosas, além de prevenir intubação endotraqueal, diminuir a taxa
de complicação e reduzir a mortalidade dos pacientes. Na prática da VNI são utilizadas as
máscaras faciais totais, faciais e nasais, sendo que as pressões inspiratórias usadas
devem garantir um volume corrente em torno de 7 ml/kg do peso teórico, e pressões
expiratórias capazes de diminuir a hiperinsuflação dinâmica, geralmente de 5 a 8 cmH2O.
Períodos de VNI entre 40 e 50 minutos podem ser interpolados com a administração de
oxigênio com a máscara de Hudson. A ventilação com suporte de pressão (PSV) é
bastante utilizada na VNI junto com a ventilação com dois níveis de pressão (BIPAP) e a
pressão positiva expiratória final (PEEP) (CUNHA, 2013).
Para pacientes mais graves, principalmente nos casos em que não ocorre evolução
após uma hora de VNI, com redução nos níveis de consciência, incapacidade de mobilizar
a secreção respiratória, ou aqueles pacientes vinculados com instabilidade
hemodinâmica, há necessidade de intubação orotraqueal (IOT) e de ventilação mecânica
invasiva (VM) (CUNHA, 2013).
As recomendações para iniciar a VM durante as exacerbações da DPOC são:
impossibilidade de tolerar NIV ou fracasso na NIV; grave falta de ar com uso de
musculatura acessória e movimentos paradoxais abdominais; frequência respiratória > 35
respirações por minuto; hipoxemia com ameaça de vida; acidose grave (pH < 7,25) e/ou
hipercapnia (PaCO2 > 8,0 kPa, 60 mmHg); parada respiratória; sonolência; nível mental
prejudicado; complicações cardiovasculares (hipotensão, choque); anormalidades
metabólicas; sepse; pneumonia; embolia pulmonar; barotrauma; derrame pleural extenso.
A adequação dos parâmetros ventilatórios é de extrema seriedade para atender as
especificidades da doença, com aumento do tempo expiratório, PEEP próxima ao valor da
67
PEEP intrínseca e fluxo inspiratório alto (CUNHA, 2013; GRAÇA, 2015). O ventilador
ainda pode ser utilizado em modo ciclado a tempo ou ciclado a volume. Para a ventilação
em modo ciclado a volume, é preconizado o aumento do limiar de ciclagem de 25% (que
é o parâmetro mais utilizado) para 35 a 45% do pico de fluxo e níveis médios de pressão
de suporte, uma vez que há a possibilidade de haver comprometimento no
relacionamento paciente-ventilador, levando a uma hiperinsuflação e esforços musculares
com assincronia ventilatória (GRAÇA, 2015).
O volume corrente (VC) deve permanecer nos valores de 6 a 8 mL/kg, com o
objetivo de conservar um volume/minuto que promova um pH sanguíneo de 7,20 a 7,40,
independentemente dos valores de PaCO2. Esta condição só é aversa nos casos de
indivíduos com arritmias secundárias à acidose, com síndromes coronarianas ou
hipertensão intracraniana. A fração inspirada de oxigênio (FiO 2) deve ser a menor
possível, para manter satisfatoriamente a SaO2 > 90% – não só neste caso, mas inclusive
para outras condições clínicas. Para a PEEP extrínseca, no caso da DPOC, sua utilização
tem como meta reduzir a hiperinsuflação dinâmica, não podendo atingir valores acima de
85% do nível da auto-PEEP. A desinsuflação promovida pela PEEP extrínseca pode
ocorrer quando há queda da pressão de platô com o paciente no modo volume
controlado, ou pela elevação do VC no modo pressão controlada. O ajuste da
sensibilidade do ventilador ao paciente deve ficar entre -1 e -2 cmH2O, quando há
controle por alteração de pressão no circuito, ou 2l/min, quando por alteração de fluxo
(CUNHA, 2013).
Quando há estabilidade da condição clínica é possível reduzir os níveis de
sedação, com objetivo de obter maior interação com o paciente e de modificar o método
ventilatório. A ventilação com suporte pressórico é o método mais utilizado nessa fase. O
nível de pressão de suporte deve ser o satisfatório para a manutenção do VC indicado –
entre 6 a 8 ml/kg, com frequência respiratória até 30 rpm. Normalmente, valores entre 15
e 20 cm H2O são suficientes. O volume corrente promovido por esse método ventilatório
resulta não apenas do nível de pressão de suporte utilizado, como também do trabalho da
musculatura inspiratória do paciente e da impedância do sistema respiratório. A regressão
do nível de pressão de suporte leva a uma maior participação da musculatura do paciente
para realizar sua ventilação alveolar (CUNHA, 2013).
Em casos em que o paciente está em crise exacerbada ou até no final da vida,
pode haver a necessidade de modificar a forma da reabilitação – nesses casos cuidados
domiciliares muitas vezes são preferíveis para indivíduos com DPOC em estágio final.
68
Bronquite crônica
A bronquite crônica é caracterizada pelo excesso de muco que os brônquios
secretam. É uma infecção que pode aparecer ao longo da vida da pessoa, num período
de pelo menos três meses ao ano, por dois anos seguidos. As crises não cessam e
sempre pioram, normalmente logo pela manhã.
Devido a uma longa exposição ao cigarro e a poluição, a mucosa dos brônquios
apresenta uma modificação, com desequilíbrio da produção de muco, desencadeando
uma inflamação nos bronquíolos, acarretando uma estenose, com redução no fluxo de ar.
Quando isso ocorre, há uma hipertrofia glandular, desencadeando uma inflamação e uma
maior produção de muco, causando uma estenose nos brônquios, com consequente
diminuição do fluxo de ar.
Os sintomas da bronquite crônica são semelhantes ao da bronquite aguda: tosse
com expectoração (secreção); cianose; presença de sibilos; dispneia; inchaço nos
membros inferiores em decorrência de esforço cardiovascular e algumas vezes febre,
quando há infecção. O diagnóstico é realizado através do histórico, do quadro clínico do
paciente e do exame físico. A radiografia do tórax pode evidenciar alterações
apresentadas no quadro de bronquite crônica, além de poder ter papel na exclusão de
outras doenças respiratórias. O exame de sangue pode ajudar na classificação da
gravidade do caso, assim como na realização de uma espirometria.
O objetivo do tratamento é reduzir a inflamação dos brônquios e bronquíolos,
eliminando os fatores que pioram o quadro, como tabaco e substâncias tóxicas. Alguns
pacientes apresentam boa resposta ao tratamento com corticoides. Os broncodilatadores
também podem ser administrados desobstruindo as vias aéreas e reduzindo a dispneia e
os sibilos; assim como os antibióticos, que ajudam quando há um processo infeccioso dos
brônquios. Reabilitação pulmonar, principalmente com a execução de exercícios
respiratórios, também podem ser benéficos.
Em 80% dos casos de bronquite crônica, a causa é decorrente ao tabagismo;
dessa forma parar de fumar é a melhor maneira de prevenir a doença. Além disso, a
vacinação contra a gripe também é importante, uma vez que esta pode piorar a condição
física do doente.
Cabe destacar que a bronquite crônica é caracterizada como uma Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica, uma vez que tem como principais fatores etiológicos o
hábito de fumar cigarros e a poluição ambiental, levando a uma síndrome pulmonar que
se caracteriza por obstrução crônica das vias aéreas inferiores. Dessa forma, com relação
69
à reabilitação cardiopulmonar e metabólica, preconiza-se tratamento semelhante ao já
visto na DPOC.
Saiba mais
Capítulo 3: Asma
A asma é uma das doenças respiratórias crônicas mais comuns, assim como a
DPOC. Afeta todos os tipos de pessoas, independente de idade ou gênero, acometendo
em torno de 300 milhões de pessoas no mundo. As principais características são:
dificuldade de respirar, chiado e aperto no peito e respiração curta e rápida.
Tanto fatores ambientais como genéticos podem causar o quadro de asma. Com
relação aos aspectos ambientais, os principais fatores são: variações do clima, exposição
a poeira, ácaros, fungos e baratas e infecções virais (como pneumonia ou resfriado).
Dentre os fatores genéticos – dependentes de cada indivíduo –, podemos ressaltar que a
presença de histórico familiar de asma ou rinite e obesidade são indicativos relevantes
para o desenvolvimento da doença.
Em relação à fisiopatologia da asma, a inflamação brônquica é a principal
característica, resultante de um amplo e complexo espectro de interações entre células
inflamatórias, mediadores e células estruturais das vias aéreas – situação encontrada em
todos os pacientes asmáticos, até mesmo nos casos mais leves. A resposta inflamatória
alérgica começa pela interação de alérgenos ambientais com algumas células que têm
como função apresentá-los aos linfócitos Th2. Estes são responsáveis por produzir
citocinas que apresentam função de iniciar e manter o processo inflamatório, sendo que a
70
IL-4 tem papel importante no aumento da produção de anticorpos IgE específicos ao
alérgeno (STIRBULOV et al. 2006).
A partir daí, mediadores inflamatórios são liberados pelos mastócitos (histamina,
leucotrienos, triptase e prostaglandinas), pelos macrófagos (fator de necrose tumoral –
TNF-alfa, IL-6, óxido nítrico), pelos linfócitos T (IL-2, IL-3, IL-4, IL-5, fator de crescimento
de colônia de granulócitos), pelos eosinófilos (proteína básica principal, ECP, EPO,
mediadores lipídicos e citocinas), pelos neutrófilos (elastase) e pelas células epiteliais
(endotelina-1, mediadores lipídicos, óxido nítrico). Com essa liberação às células, ocorrem
lesões e modificações na integridade epitelial, anormalidades no controle neural
autonômico (substância P, neurocinina A) e no tônus da via aérea, bem como alterações
na permeabilidade vascular, hipersecreção de muco, mudanças na função mucociliar e
aumento da reatividade do músculo liso da via aérea (STIRBULOV et al. 2006).
Os mediadores que foram liberados podem chegar ao epitélio ciliado, ocasionando
um agravamento e até sua ruptura. Devido a isso, células epiteliais e miofibroblastos,
localizadas abaixo do epitélio, proliferam e iniciam o depósito intersticial de colágeno na
lâmina reticular da membrana basal, o que esclarece o aumento da espessura da
membrana basal e as lesões irreversíveis que podem ocorrer em alguns pacientes.
Podem ocorrer, ainda, outros comprometimentos, como hipertrofia e hiperplasia do
músculo liso, aumento no número de células caliciformes, aumento das glândulas
submucosas e adulteração no depósito e degradação dos componentes da matriz
extracelular, interferindo na arquitetura da via aérea, com irreversibilidade de obstrução,
que pode ser observada em alguns pacientes (STIRBULOV et al. 2006).
Além das complicações já relatadas, podem ocorrer outras que pioram a qualidade
de vida do paciente, como por exemplo: redução da capacidade física; dificuldade de
realização de atividades de vida diária; insônia; alteração permanentemente a função
pulmonar; tosse persistente; dificuldade de respirar (havendo necessidade de
suplementação de ventilação); além da necessidade de internação por complicações
graves da asma, bem como efeitos colaterais devido ao uso de fármacos para controle
dos sintomas.
O diagnóstico da asma é basicamente clínico e pode ser obtido através de
anamnese, histórico e exame físico, além de outros exames, como prova de função
pulmonar ou espirometria. Através dele é possível confirmar o diagnóstico e ainda
classificar a gravidade da doença para cada caso específico, porém esse exame só pode
ser realizado por adultos, uma vez que há uma certa dificuldade em realizar os comandos
71
necessários em cada manobra respiratória.
A doença pode ser classificada em vários graus de gravidade, que podem
melhorar ou piorar ao longo do tempo e dependendo do tratamento. O grau mais leve tem
poucos sintomas, que são intermitentes, manifestam-se no máximo dois dias por semana
e apenas duas noites em um período de trinta dias. A asma pode piorar podendo chegar
até o grau 4, quando os sintomas são bastante graves e persistentes durante todo o dia, e
até mesmo no período noturno e ocorrendo muitas vezes por semana.
Na Tabela 11 é possível identificar e verificar como se dá a classificação dos
diferentes níveis de gravidade da asma.
Gravidade
Manifestações
clínicas Persistente Persistente
Intermitente Persistente leve
moderada grave
Mais de 2x na
2x na semana ou Diários e
Sintomas semana, mas não Diários
menos contínuos
diariamente.
Necessidade de
agonista beta – 2x/semana ou
Mais de 2x/semana Diária Diária
2 adrenérgico menos
para alívio
Igual ou
Igual ou maior
Igual ou maior que 60-80% do menor que
VEF1 ou PFE que 80% do
80% do previsto previsto 60% do
previsto
previsto
72
medidas educativas e ações que ajudem no controle dos processos que podem resultar
ou agravar a crise de asma. A base do tratamento farmacológico é o uso de anti-
inflamatórios contínuos – como por exemplo os corticosteróides inalatórios, também
conhecidos como “bombinhas”, podendo ainda haver associação desses medicamentos
com efeito broncodilatador. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) garante, desde
2011, tratamento para pacientes asmáticos através do Programa Farmácia Popular.
Em relação à reabilitação cardiopulmonar e metabólica, apesar do exercício
poder estimular a piora da crise asmática, ele deve ser realizado, desde que seja de
maneira controlada e condizente com a situação atual de cada paciente. A reabilitação
tem como objetivo aumentar a capacidade aeróbia, bem como a força muscular
respiratória e a endurance muscular periférica, além de melhorar a mobilidade geral.
Deve-se ainda realizar higiene brônquica para remoção de secreções, auxiliar na reversão
de broncoespasmos, promover a reeducação postural e melhorar a coordenação
neuromotora.
Os programas de treinamento normalmente são compostos de exercícios de
alongamento, exercícios posturais e mobilização articular, exercícios aeróbicos, exercícios
de endurance muscular (em especial para membros superiores e abdome),
conscientização respiratória, técnicas de higiene brônquica e utilização de aparelhos para
treinamento muscular respiratório específico e para abertura e recrutamento alveolar.
Carson et al. (2013) tentaram identificar a eficácia do treinamento físico em
pacientes asmáticos com diferentes faixas etárias. Em sua revisão sistemática incluíram
21 ensaios clínicos randomizados com 772 participantes no total, sendo que os desfechos
estudados foram: capacidade de exercício, sintomas relacionados à asma e função
pulmonar. As sessões de treinamento tiveram entre 20 e 30 minutos de duração no caso
do treinamento aeróbio, entre duas e três vezes na semana, por no mínimo quatro
semanas. Os autores concluíram que a reabilitação pulmonar promoveu benefícios aos
pacientes, com melhora do consumo máximo de oxigênio e da carga máxima atingida no
teste de exercício cardiopulmonar, além dos próprios sintomas provenientes da asma,
sem relato de qualquer efeito adverso durante a reabilitação (LANZA; CORSO, 2017).
Já Wanrooij et al. (2014) propuseram uma revisão sobre exercícios físicos e
crianças e adolescentes asmáticos com idade entre seis e 18 anos para identificar a
melhora na condição cardiorrespiratória e a redução do broncoespasmo induzido pelo
exercício e dos sintomas da asma após realização de protocolo de reabilitação pulmonar.
Participaram do estudo 1.045 crianças, totalizando 29 ensaios clínicos para os quais
73
foram aplicadas, como modalidade de treinamento, práticas de natação, basquete,
corrida, futebol e tai chi chuan. O programa de tratamento ocorreu entre seis e 20 meses,
de uma a sete vezes por semana, com duração de 20 minutos a duas horas. Na maioria
dos estudos houve melhora da capacidade aeróbia e aumento da carga no teste
cardiopulmonar, além de redução do broncoespasmo induzido pelo exercício em
pacientes classificados como asma grave. Como conclusão, o exercício físico melhorou a
condição cardiorrespiratória, mas Wanrooij et al. (2014) enfatizaram que a reabilitação
deve ser realizada por profissional habilitado para uma prescrição correta, uma vez que o
exercício aplicado de forma errônea pode induzir piora no quadro clínico.
Dessa forma, a determinação da intensidade utilizada nos exercícios pode se
basear em testes incrementais, em valores relacionados com a frequência cardíaca
máxima do paciente e nas escalas de percepção de esforço e dispneia, como a de Borg.
A manutenção do tratamento e a correção da intensidade conforme a evolução são
essenciais para o sucesso e estabilização do quadro clínico.
O treinamento muscular inspiratório também é de grande importância,
principalmente quando é detectada fraqueza dos músculos respiratórios através da
manuvacuometria – a pressão inspiratória máxima (PImáx) é menor do que 70% do valor
previsto. Assim, o treinamento muscular respiratório pode ser feito com equipamentos que
geram resistência à inspiração do paciente, como o Threshold e o PowerBreathe (LANZA;
CORSO, 2017).
Além disso, para todos os pacientes, é necessário diminuir a exposição a fatores
de risco que podem desencadear ou até mesmo agravar as crises de asma. A
identificação desses fatores precocemente ajuda a controlar rapidamente os sintomas,
havendo manutenção do quadro clínico e controle e monitoramento da doença
(STIRBULOV et al. 2006).
Deve-se lembrar que a educação do paciente é parte fundamental da terapêutica
da asma e deve fazer parte do tratamento em todas as fases da doença. Sempre se deve
considerar o conhecimento que o paciente tem da própria doença e incluir ações para
melhora da qualidade de vida e adoção de um plano de autocuidado fundamentado na
precoce identificação dos sintomas.
74
Saiba mais
Asma e DPOC
A DPOC e a asma podem coexistir em um mesmo paciente, uma vez
que ambas são doenças pulmonares obstrutivas que apresentam
inflamação das vias aéreas. Apesar dessa semelhança, a inflamação
crônica das vias aéreas nessas doenças é diferente, porém pacientes
com asma que estão mais expostos à poluição ou até mesmo à fumaça
do cigarro estão suscetíveis a apresentar limitação do fluxo aéreo
estável, além de uma combinação de inflamação “tipo-asma” e “tipo-
DPOC” (GOLD, 2020). Diante desse processo, há dificuldade em
estabelecer um diagnóstico fechado para alguns pacientes (LANGE et
al., 1990; CHANEZ et al., 1997).
75
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86
Sobre os autores
87
doutora em Ciências pelo Programa de Pós-Graduação Interunidades em Bioengenharia
da USP. Tem experiência na área de Fisioterapia e Terapia Ocupacional, com ênfase em
Fisioterapia em Cardiologia e Fisiologia do Exercício.
88