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Universidade Púnguè
Extensão de Tete
2020
2
Supervisor
Universidade Púnguè
Extensão de Tete
2020
3
Índice
DECLARAÇÃO .......................................................................................................................................... 4
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................................... 5
RESUMO ..................................................................................................................................................... 6
ABSTRACT ................................................................................................................................................. 7
LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................................... 8
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................................... 9
2. DA RESPONSABILIDADE CIVIL EM GERAL .......................................................................... 11
2.1. Conceito ..................................................................................................................................... 11
2.2. Responsabilidade Civil Obrigacional e Responsabilidade Civil Delitual ............................. 11
2.3. A Responsabilidade por Facto Ilícito-culposo, Pelo Risco e Pelo Sacrifício ........................ 12
2.3.1. Pressupostos da Responsabilidade Civil Delitual Por Facto Ilícito-culposo ................ 13
3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL POR DANOS AMBIENTAIS ............................................. 19
3.1. Generalidades ............................................................................................................................ 19
3.2. Responsabilidade Objectiva ..................................................................................................... 19
3.2.1. Fundamento da Imputação .............................................................................................. 19
3.3. O Dano ....................................................................................................................................... 20
3.3.1. A complexidade do dano................................................................................................... 21
3.4. O Nexo de Causalidade ............................................................................................................. 24
3.4.1. A Complexidade Causal ................................................................................................... 25
4. DAS SOLUÇÕES À DIFICULDADE PROBATÓRIA DO NEXO CAUSAL ENTRE A
ACTIVIDADE PERIGOSA E O DANO AMBIENTAL ....................................................................... 26
4.1. Generalidades ............................................................................................................................ 26
4.2. Aspectos Gerais Sobre a Prova ................................................................................................ 26
4.3. A inversão do Ónus de Prova ................................................................................................... 27
4.4. A Presunção Legal de Causalidade ......................................................................................... 29
4.5. A Verosimilhança Preponderante ........................................................................................... 33
5. CONCLUSÃO ................................................................................................................................... 37
Bibliografia ................................................................................................................................................ 40
Doutrina ................................................................................................................................................. 40
Legislação............................................................................................................................................... 41
4
DECLARAÇÃO
Declaro que esta monografia é resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu
supervisor, o seu conteúdo é original e todas as fontes estão devidamente mencionadas no texto,
nas notas e na bibliografia final.
Declaro ainda que o trabalho não foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção de
qualquer grau académico.
AGRADECIMENTOS
Primeiro, agradeço ao criador do universo infinito por garantir que eu desfrute da existência e por
permitir que eu estabelecesse a união com a ciência, especialmente, com o Direito.
À minha família, principalmente, aos meus pais, aos Meus irmãos Nazira Mimbir e Neto Mimbir,
pelo apoio desinteressado.
Aos meus docentes universitários, nomeadamente, o Mestre Luís Xavier Chuquela pela orientação
e pelas lições sábias, à ilustre Margarida Horta pelas aulas frutíferas e pelo apoio moral
incondicional, ao causídico Crispim Judião pelos ensinamentos de mestria.
Finalmente, aos meus colegas de jornada, especialmente ao João Carlos Maxaieie pelas lições
informáticas e metodológicas.
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RESUMO
ABSTRACT
Strict liability waives guilt and wrongdoing, however, it does not dispense with damage and
causation, since it is strict liability that predominates in the environmental area. However, the
damage, as another assumption of strict liability, has a complex nature because it is global, trans
temporal, invisible and cumulative, which makes the causal link between the fact and the
environmental damage of proof difficult or impossible, making it difficult to perform the task.
Purpose intended by material law that establishes civil liability for environmental damage. For this
reason, we set out to search for solutions to this difficulty of proof, starting from the definition of
the general objective of analyzing the proposed solutions to the difficulty of proving the causal
link in civil liability for environmental damage. To achieve this goal, we use the inductive method
and the documentary procedure method, namely the doctrinal and legislative review. During the
study, the following research hypotheses emerged: the inversion of the burden of proof, the legal
presumption of causality and the prevailing likelihood. The inversion of the burden of proof was
subsequently ruled out by the fact that, our legal system adopts the static distribution model of the
burden of proof, instead of the dynamic distribution model of the burden of proof. Another
hypothesis discarded was the legal presumption of causality, since it is not provided for in our law,
having only been incorporated into German law, and cannot be applied between us without a prior
initiative by the legislator. Therefore, we opted for the prevailing verisimilitude because it is based
on the maxims of experience and with that it can manifest itself through judicial presumptions.
Keywords: civil liability for environmental damage; damage complexity; causal link; evidence.
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LISTA DE ABREVIATURAS
Art. – Artigo
CC – Código Civil
CE – Comissão Europeia
Cfr – Conferir
CRM – Constituição da República de Moçambique
Nᵒ - Número
O.J.M. – Ordenamento Jurídico Moçambicano
Op. Cit. – Obra citada
P. – Página
PP. - Páginas
SS – Seguintes
V.g. – Verbis grata
9
1. INTRODUÇÃO
Neste sentido, suscita-se a seguinte questão: Quais as soluções à difícil prova do nexo de
causalidade na responsabilidade civil por danos ambientais?
O nosso objectivo geral é fazer uma análise das propostas de solução à dificuldade de prova do
nexo de causalidade na responsabilidade civil por danos ambientais. Os objectivos específicos são
os seguintes: explicar a complexidade ambiental; compreender a relevância do nexo de causalidade
na responsabilidade civil por danos ambientais e; discutir o enquadramento das soluções à difícil
prova do nexo de causalidade no O.J.M.
10
Para a realização dos nossos objectivos recorremos ao método indutivo, que parte da análise de
premissas particulares para fazer uma conclusão geral. O método de procedimento é documental,
nomeadamente a revisão doutrinal e legislativa.
Durante a busca pela realização dos nossos objectivos, a maior dificuldade enfrentada foi a
ausência de textos doutrinários nacionais relativos a esta matéria, tendo predominado o recurso à
doutrina estrangeira.
O trabalho está dividido em três capítulos. No primeiro capítulo trazemos uma abordagem acerca
da responsabilidade civil em geral para que o leitor esteja melhor situado no tema e possa
compreender com maior facilidade e exaustão o contexto do trabalho. No segundo capítulo
tratamos da responsabilidade civil por danos ambientais, onde se destaca a conceituação do dano
ambiental, a referência à sua complexidade e relevância como pressuposto da responsabilidade
civil por danos ambientais, o destacamento da complexidade do nexo de causalidade e, também, a
sua relevância como pressuposto da responsabilidade civil por danos ambientais. No terceiro
capítulo discutimos as soluções à dificuldade de prova do nexo de causalidade na responsabilidade
civil por danos ambientais, onde foram destacadas as seguintes hipóteses: a inversão do ónus de
prova, a presunção legal de causalidade e a teoria da verosimilhança preponderante.
Como o caro leitor já pode notar, na estrutura do nosso trabalho partimos do geral para o particular,
como é exigível para a apreensão de qualquer conteúdo científico.
11
CAPÍTULO I
Antes de fazer referência sobre qualquer aspecto da responsabilidade civil ambiental, mostra-se
indispensável fazer uma nota de aspectos gerais relacionados à responsabilidade civil, começando,
naturalmente, pelo conceito.
PINTO (2005, p. 128) considera que: “quando a lei impõe ao autor de certos factos ou ao
beneficiário de certa actividade a obrigação de reparar os danos causados a outrem, por esses factos
ou por essa actividade, depara-se-nos a figura da responsabilidade civil”.
Existe uma tradicional dicotomia da ciência jurídica que é a distinção entre a responsabilidade
contratual ou obrigacional e a responsabilidade extracontratual ou delitual1.
Outra doutrina oferece uma explicação similar, segundo a qual “ a responsabilidade obrigacional
ocorre quando é incumprido, pelo devedor, o dever de prestar correspondente ao direito de crédito
(podendo também suscitar-se a sua aplicação quando ocorra a inobservância de outros deveres que
se enquadrem numa obrigação complexa)” (JÚNIOR, 2012, p. 278).
1
A doutrina levanta uma discussão sobre as terminologias adequadas para estes tipos de responsabilidade,
refutando, maioritariamente, os termos responsabilidade contratual e extracontratual e aliando-se aos termos
responsabilidade obrigacional e delitual. Sobre isto, vide MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, 2005, p. 137.
12
“Assim, por exemplo, se Abel prometeu vender, por certo preço, uma coisa a Bento e este obrigou-
se a comprá-la, se, na data da celebração do contrato prometido Abel não o celebra, recusando-se
a vender a coisa a Bento, Abel incorre em responsabilidade obrigacional” (JÚNIOR, 2012, p. 278).
A nosso ver, o último conceito de responsabilidade delitual, é o que mais se adequa, uma vez que
o primeiro apenas toma em consideração a violação de direitos absolutos (direitos reais e de
personalidade).
“A responsabilidade por facto ilícito e culposo, que constitui regra geral (arts. 483 e 798, CC), por
o título de imputação ser um ilícito-culposo, razão por que, também se diz, em atenção à exigência
da culpa, que se trata de responsabilidade subjectiva” (JÚNIOR, 2012, p. 288).
PINTO (2005) afirma que a responsabilidade pelo risco, também chamada responsabilidade
objectiva, é a responsabilidade sem culpa. Neste sentido, PINTO (2005, pp. 133-134), sobre a
responsabilidade objectiva, preconiza:
2
Recorrendo ao exemplo supra, sobre a responsabilidade obrigacional: se Abel não cumprir a promessa, porque,
entretanto, foi aliciado por Carlos, que conhecia promessa, vende a coisa a Carlos, Abel será responsável
contratualmente perante Bento, mas Carlos também será responsável perante Bento, porém a sua responsabilidade
será delitual. Cfr: SANTOS JÚNIOR, Direito das Obrigações, p. 278.
13
Na responsabilidade pelo sacrifício5, segundo JÚNIOR (2012), a imputação é feita com base num
mero princípio de justificação da compensação do lesado, não obstante a conduta do responsável
não só não ser objecto de um juízo de desvalor, como até o ser de um juízo de valor (para o efeito
de o responsável não responder a título de responsabilidade por facto ilícito-culposo).
Neste tipo de responsabilidade, segundo PINTO (2005, p. 136) “a actividade do agente é secundum
jus, ao contrário do que sucede no acto ilícito, em que o comportamento rebelde do agente lesa o
interesse que o direito quis fazer prevalecer”6
Nos ocuparemos no estudo dos pressupostos da responsabilidade civil delitual por facto ilícito-
culposo, porque é, dentre as categorias da responsabilidade civil, a que possui o leque mais amplo
de pressupostos, pelo que, importa analisar cada um deles.
LEITÃO (2010), entende que os pressupostos da responsabilidade civil delitual por facto ilícito-
culposo são: a ilicitude, a culpa, o dano e o nexo de causalidade. Do mesmo entendimento, já era
detentor o PINTO (2005).
Contudo, JÚNIOR (2012), acrescenta um pressuposto aos aludidos pelos autores acima – o facto
voluntário do lesante – ficando, segundo ele, a responsabilidade civil delitual, com os seguintes
pressupostos: Facto voluntário do lesante, ilicitude, culpa, dano e nexo de causalidade.
Passemos, portanto, a examinar cada um dos pressupostos enunciados por este último autor.
3
Cfr. A responsabilidade do comitente (art. 500, CC).
4
Vide a responsabilidade objectiva por danos causados por animais (art. 502, CC).
5
Também designada, própria ou impropriamente, responsabilidade por actos lícitos ou por intervenções lícitas.
Sobre isto, vide MOTA PINTO, op. cit. P. 136.
6
“São exemplos de responsabilidade pelo sacrifício no nosso direito: a responsabilidade emergente de certos casos
de estado de necessidade (art. 339, n2); de escavações (art. 1348, n.2); da passagem forçada ou momentânea (art.
1349, n.3); da apanha de frutos (art. 1367); a responsabilidade decorrente da revogação do mandato (art. 1172); da
desistência do dono da obra na empreitada (art. 1229), etc. (ibid, pp. 136-137).
14
“Exige-se, pois, que haja um comportamento humano voluntário, controlado pela vontade7”
(JÚNIOR, 2012, p. 292).
Julgamos não ser necessário alongar muito sobre este pressuposto, até porque, a nosso ver, não
estamos em fórum apropriado para tal. Portanto, a seguir, passaremos a analisar a ilicitude como
outro pressuposto da responsabilidade civil.
2.3.1.2.A Ilicitude
Segundo LEITÃO (2010), a ilicitude é caracterizada como um juizo de desvalor atribuido pela
ordem jurídica. Sendo avaliada, segundo o mesmo autor, através da prossecução de um fim não
permitido pelo Direito (intenção de praticar a lesão no ilícito doloso, ou violação do dever
objectivo de cuidado no ilícito negligente).
7
“Assim, se uma rocha desprende de uma montanha e embate numa casa, não há que ajuizar a ilicitude ou culpa da
rocha” : Cfr. SANTOS JÚNIOR, op. cit., p. 292.
8
Assim, por exemplo, se um bebé, que ainda só gatinha, se agarra a uma mesinha e estende a mão sobre uma jarra
Ming, na casa de um amigo de seus pais, que ali estavam de visita, e parte a jarra, certamento que o pressuposto
em causa não se verificou, certamente que o bebé não será responsável. Ibid, p. 293.
15
resultado dele (quer dizer, é desvalor do facto e não do resultado dele que está em
causa no juízo da ilicitude)9.
Da leitura do nᵒ1 do artigo 483 do CC, resulta, inequivocamente, a ideia de que a ilicitude consiste
na violação de um direito subjectivo ou na violação de uma norma legal destinada a proteger
interesses alheios. Portanto, vale a pena examinar estas duas variantes da ilicitude.
Segundo LEITÃO (2010), a ilicitude por violação de direitos subjectivos tem como característica
especial o facto de, ao se exigir uma lesão de um direito subjectivo específico, se limitar a
indemnização à frustração das utilidades proporcionadas por esse direito, não se admitindo nesta
sede a tutela dos danos puramente patrimoniais.
Relativamente aos bens tutelados pela previsão legal da ilicitude por violação de direitos
subjectivos, iremos aflorar duas posições doutrinais, nomeadamente:
A primeira encontramos expressa por LEITÃO (2010), segundo a qual, os direitos que são
abrangidos por esta modalidade da ilicitude, são os direitos sobre bens jurídicos pessoais como a
vida, corpo, saúde e liberdade, também outros direitos absolutos como os direitos reais, os direitos
de propriedade industrial e os direitos de autor.
A outra é expressa por JÚNIOR (2012), segundo a qual, esta modalidade da ilicitude abrange os
direitos reais e os direitos de personalidade, como também abrange os direitos de crédito. Segundo
este mesmo autor, a vinculação desta variante da ilicitude, obriga o terceiro a não interferir no
direito de crédito alheio, quando este dever se concretize na sua efera (v.g. a 2ª nota de rodapé).
Finalmente, o autor vem “anular” a limitação feita, esclarecendo que todos os direitos subjectivos
são abrangidos pela tutela delitual.
Quanto a nós, somos, portanto, obrigados a concordar com esta última posição, uma vez que o nᵒ1
do artigo 483 do CC não faz qualquer especificação dos direitos subjectivos tutelados, se limitando
a estabelecer que « aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem...».
9
V.g. se Abel, sem ser em legítima defesa, atira a matar sobre Bento, mas falha a pontaria e não o atinge, nem por
isso deixa der ser um acto ilícito, ainda que civilmente não seja responsável por não ter causado dano. Ibid, p. 295.
16
No que tange à ilicitude por violação de normas de protecção LEITÃO (2010, p. 305), traz a
seguinte abordagem:
Sobre esta modalidade da ilicitude, a doutrina por nós visitada não diverge, portanto, sem alongar,
iremos prosseguir com o exame dos restantes pressupostos da responsabilidade delitual.
2.3.1.3.A Culpa
“A culpa pode ser definida como o juízo de censura ao agente por ter adoptado a conduta que
adoptou, quando de acordo com o comando legal estaria obrigado a adoptar conduta diferente”
(LEITÃO, 2010, p. 323).
A culpa é um pressuposto da responsabilidade civil que, segundo o nᵒ2 do artigo 483 do CC, só
por excepção em que temos casos de responsabilidade sem culpa (objectiva).
Segundo LEITÃO (2010), o artigo 483 do CC admite duas modalidades de culpa: dolo e
negligência. Sobre a distinção entre dolo e negligência, LEITÃO (2010, p. 325) esclarece:
JÚNIOR (2012) nos tráz uma caracterização mais ampla do dolo, referindo que há dolo quando o
agente actua com intenção de produzir o resultado danoso ou actua aceitando que o resultado
danoso poderá advir de sua conduta.
Quanto a negligência os dois autores são unânimes, entretanto, no que tange ao dolo, preferimos
acolher a caracterização feita pelo último autor.
Analisada, em termos sumários, a culpa, partiremos para o estudo do dano, que de acordo com o
nosso tema, há uma imprescindível a análise deste pressuposto.
2.3.1.4.O Dano
Para que se possa ter uma compreensão nítida sobre o instituto do nexo de causalidade, necessário
é, que se faça uma breve abordagem sobre as teorias que tentam explicá-lo, nomeadamente, a teoria
da equivalência das condições, teoria da última condição, teoria da condição eficiente, teoria da
causalidade adequada e a teoria do fim da norma violada.
“A teoria da equivalência das condições, igualmente designada como teoria da conditio sine qua
non, considera causa de um evento toda e qualquer condição que tenha concorrido para a sua
produção, em termos tais que a sua não ocorrência implicaria que o evento deixasse de se
verificar”10 (LEITÃO, 2010, p. 359);
10
V.g. Se uma possoa fosse ferida ligeiramente e, logo de seguida se desloca para o hospital para tratamento, vindo
a falecer por causa de um incêndio que deflagrou o hospital, o ferimento seria causa do dano, porque, não fora isso,
a pessoa ferida não teria se deslocado ao hospital, pelo que não foi somente vítima do incêndio (JÚNIOR, p. 349.)
18
“A teoria da última condição, ou da causa próxima, só considera como causa do evento a última
condição que se verificou antes de este ocorrer e que, portanto, o precede directamente” (LEITÃO,
2010, p. 360);
“A teoria da condição eficiente, formulada por BIRKMEYER, pretende que, para descobrir a causa
do dano terá que ser efevtuada uma avaliação quantitativa da eficiência das diversas condições do
processo causal, para averiguar qual a que se apresenta mais relevante em termos causais”
(LEITÃO, 2010, p. 360);
“A teoria do escopo da norma violada defende, pelo contrário, que para o estabelecimento do nexo
de causalidade é apenas necessário averiguar se os danos que resultaram do facto correspondem à
frustração das utilidades que a norma visava conferir ao sujeito através do direito subjectivo ou
norma de protecção” (LEITÃO, 2010, p. 362).
O sistema civil moçambicano, adoptou a teoria da causalidade adequada no artigo 563 do C.C.
com a seguinte redacção: “a obrigação de indemnização só existe em relação aos danos que o
lesado provavelmente não teria sofrido se não fosse a lesão”. Esta norma vem rejeitar as demais
teorias sobre o nexo de causalidade, adoptando a causalidade adequada.
19
CAPÍTULO II
Segundo MEZZAROBA (2014, p. 360) “na responsabilidade civil ambiental, que é a que resulta
de danos ambientais, verifica-se a superação dos pressupostos do dever de indemnizar: dano e
nexo de causalidade”.
3.2.Responsabilidade Objectiva
3.2.1. Fundamento da Imputação
11
Lei nᵒ 20/97 de 1 de Outubro.
20
Naturalmente, a responsabilidade objectiva vem, como muitos autores defendem, evitar que
ocorram nuitas situações de impunidade e irreparabilidade de danos decorrentes de uma sociadade
de riscos, entretanto, na esfera ambiental, a adopção de um tipo de responsabilidade que apenas
prescinde da culpa e da ilicitude, não está nem perto de resolver a questão. Sobre estas questões,
iremos nos debruçar em frente, porque, aliás, é o assunto que constitui o núcleo do nosso trabalho12.
3.3.O Dano
Já tivemos o trabalho de definir o dano no capítulo anterior, tendo o definido como a frustração de
uma utilidade que era objecto de tutela jurídica. Entretanto, agora teremos o trabalho de definir o
dano na perspectiva ambiental.
Os danos ambientais são aqueles que se fazem sentir em bens como a saúde
humana ou o património, tendo como meio ou veículo da lesão algum componente
ambiental (o ar, a água, o solo, etc). Os danos ambientais, rigorosamente, resultam
directa ou indirectamente de atividades humanas que, ao poluir ou causar a
degradação de um componente ambiental, causam prejuízos mensuráveis
(patrimoniais ou não) em vítimas humanas. Os danos ecológicos, por sua vez, são
situações de degradação de um meio receptor (mais uma vez, o ar, a água, o solo,
a biodiversidade, etc) independentemente de esse dano afetar o Homem. Os danos
12
Vale, desde logo, referir que, pela natureza do dano ambiental é, as mais das vezes, difícil de provar o nexo de
causalidade, que é um pressuposto que a responsabilidade objectiva não afasta.
21
ecológicos puros, sem danos ambientais associados são raros, na medida em que
sempre haverá alguns prejuízos humanos, pelo menos indirectos, pelo menos
potenciais, pelo menos futuros, resultantes daquele dano ecológico. Os danos
ecológicos sem danos ambientais (significativos) ocorrem quando os
componentes naturais afetados não estão apropriados individualmente (são res
communes ou omnium), nem são objecto de qualquer aproveitamento económico,
recreativo ou outro. Os danos ecológicos devem ser reparados prioritariamente
através da restauração natural.
Entre nós, nos é trazida a distinção entre dano ao ambiente e dano ecológico, por SERRA (2008,
p. 573), segundo o qual:
Os danos ao ambiente abrangem não somente danos ao ambiente natural propriamente dito, isto é,
a bens ecológicos ou ainda aos componentes ambientais naturais, como tambem os danos
provocados sobre os componentes culturais ou humanos, como é o caso da paisagem e do património
construido. Quanto ao dano ecológico, tende sempre a eleger o objecto material do dano – o
ambiente enquanto conjunto dos recursos bióticos (seres vivos) e abióticos (ar, água, terra) e a sua
interacção – como critério orientador.
Os primeiros são os que se fazem sentir em bens como a saúde humana e o património, tendo como
veículo da lesão a lesão de um componente ambiental. Os segundos recaem sobre o ambiente
natural e o ambiente cultural. Enfim, os últimos recaem sobre o ambiente ecológico ou natural.
Os elementos ilustrados por esses autores nos dão uma referência do quão complexo é o dano
ambiental, o que o torna significativamente diferente do dano tradicional13.
A seguir, apresentamos as classificações do dano ambiental que, nos irão ajudar a compreender a
sua verdadeira natureza e complexidade.
Dano transtemporal
“O dano transtemporal é aquele que gera consequências indeterminadas no tempo, não só quanto
à sua duração, como também no que diz respeito ao momento em que hão de manifestar-se”
(CARVALHO, 2013, apud FREITAS, 2017, p. 39).
13
Os mesmos autores propõem ainda uma tentativa de comparação entre o dano tradicional e o dano ambiental.
Entre outras características, o dano tradicional está ligado à pessoa e aos seus bens individuais e, por isso, a sua
lesão atinge a própria pessoa e a sua personalidade, além de constituir dano certo, atual e quase sempre visível. Por
outro lado, o dano ambiental é difuso e muitas vezes reflexo, constituindo uma lesão a um bem de uso coletivo, cuja
apuração é de difícil constatação dada a incerteza, a transtemporalidade e a cumulatividade.
14
Exxon Valdez é um navio petroleiro que ganhou notoriedade em 24 de Março de 1989, quando 40 900 a 120 000
m3 (equivalente a 257 000 a 750 000 barris) de petróleo que transportava foram lançadas ao mar, após uma colisão
23
costa e com um impacto ecológico sem precedentes. Nos cinco anos seguintes o
óleo ter-se-á dissipado a uma taxa de 70% por ano e as operações de limpeza
foram terminadas em 1992, considerando-se que o restante óleo seria dissipado
em pouco tempo. No entanto, a taxa de dissipação decaiu para 4% por ano e hoje
ainda se encontra quantidades consideráveis de óleo na região. E que vinte anos
depois as praias do Alasca ainda têm óleo do Exxon Valdez, caracterizando a
transtemporaneidade do dano.
O exemplo acima, retrata uma situação em que o dano transtemporal provoca consequências
indeterminadas no tempo, ao menos quanto à sua duração. Porém, carecemos de um exemplo de
um dano transtemporal que crie consequências indeterminadas no tempo, no que diz respeito ao
momento em que hão-de manifestar-se.
Dano global
“O dano global, também conhecido como dano transnacional é aquele em que não há determinação
do espaço afetado, pois pode prejudicar desde uma comunidade isolada até todo o planeta”
(CARVALHO, 2013, apud FREITAS, 2017, p. 39).
Sobre o dano global, MEZZAROBA, et al (2014, pp. 368-369), refere ainda que:
contra rochas submersas, causando rasgo no fundo do petroleiro. O acidente aconteceu na costa do Alasca, depois
de o navio encalhar na Enseada do Principe Guilherme ( https://pt.m.wikipedi.org/wiki/Exxon_Valdez).
24
Um dos exemplos mais referenciados do dano global, seria o acidente nuclear de Chernobyl, que
iremos desenvolver mais adiante.
Dano multicausal
“É o dano que é quase impossível localizar sua origem, devido várias causas ligadas ao dano”
(MEZZAROBA, et al, 2014, p. 370)
O dano multicausal inclui os chamados danos cumulativos, que passamos a exemplificar:
Dois esgotos industriais contendo substâncias químicas diferentes são lançados, sem o devido
tratamento, no mesmo rio. Muito provavelmente, o efeito da descarga dessas duas substâncias
sobre os organismos aquáticos será diferente do resultado de cada uma das substâncias sobre os
mesmos organismos.15
Outro pressuposto da responsabilidade civil tradicional que também tem sua imprescindibilidade
na responsabilidade civil por danos ambientais, é o nexo de causalidade.
Sobre isto, segundo FREITAS (2017, p. 52) “O nexo de causalidade é um elemento indispensável
para a configuração da responsabilidade civil, seja sob o espectro subjectivo ou objectivo”.
15
https://tribunadoceara.com.br/blogs/blog-verde/meio-ambiente/impactos-ambientais-cumulativos/
25
Pelo facto de, o nexo de causalidade na responsabilidade civil ambiental não ter um tratamento
específico na nossa ordem jurídica, entende-se, naturalmente, que está sujeito ao tratamento geral,
o qual referenciamos no capítulo anterior.
Nas palavras de MACHADO (2013, p. 411) “quando é somente um único emissor não existe
nenhuma dificuldade jurídica. Quando houver pluralidade de autores do dano ecológico,
estabelecer-se o liame causal pode resultar mais difícil, mas não é tarefa impossível”.
CAPÍTULO III
No presente capítulo, o nosso foco estará direcionado aos aspectos relacionados à prova do nexo
de causalidade entre a actividade perigosa e o dano ambiental, o que implicará alguma apreciação
de matérias intrínsecamente pertencentes ao Direito Probatório, pelo que, é imprescidível que se
traga alguma abordagem dos aspectos conceptuais sobre a prova.
Segundo o preceituado no artigo 341 do CC «as provas têm por função a demonstração da realidade
dos factos». O que se pode inferir deste dispositivo legal, é que as provas visam demonstrar a
verdade dos factos. Entretanto, o que se pode entender por verdade?
GASTAL (2006) define a verdade como a relação entre a realidade em si mesma e determinada
representação mental que se faz dela.
A doutrina estabelece ainda uma distinção entre verdade absoluta e relativa. Segundo BARNABÉ
(2014, pp. 68-69) “A verdade absoluta é a verdade incontestável, a verdade matématica como
2+3=5. A relativa é a contestável. É esta verdade que se invoca na nossa temática e não a verdade
27
absoluta, enquanto dogmática. A verdade dogmática não requer prova, tem a ver com o mistério
da fé”.
Neste sentido, o mesmo autor aflora que prova não conduz à certeza objectiva, à certeza absoluta.
A única meta possível é a certeza moral, a presunção da verdade, ou seja a verdade relativa.
GASTAL (2006, p. 53) afirma que “à medida que a razão passa a ser o elemento que informa a
decisão do juiz e se passa a exigir-lhe que empregue essa razão para com ela construir a sua livre
convicção, desaparece por consequência o carácter absoluto da verdade como resultado da prova”.
Deste modo, o que se pode inferir é que a verdade que se pretende provar é uma verdade relativa.
Relativamente a prova do nexo de causalidade na responsabilidade civil por danos ambientais, nos
são apresentadas algumas soluções à sua complexidade, nomeadamente: a inversão do ónus de
prova, a presunção de causalidade e a aplicação da verosimilhança preponderante.
“Etimologicamente, a palavra ónus advém do latim – onus – cujo significado é carga, fardo, peso,
significado que não difere da acepção da palavra na língua portuguesa, em que é sinônimo de
dever, obrigação” (SILVA, 2019, p. 42).
Para aclarar o sentido de ónus jurídico, é importante que se faça uma breve distinção entre ónus,
dever e obrigação.
Segundo JÚNIOR (2012) a obrigação se caracteriza por seu um vínculo entre pelo menos duas
pessoas e essas pessoas são o credor e o devedor, querendo isto significar que obrigação é o que
se encontra previsto no artigo 397 do CC.
“Já com relação ao ónus, o indivíduo que não o cumprir sofrerá, em regra, as consequências
negativas do descumprimento, que recairão sobre ele próprio” (SILVA, 2019, p. 43).
28
Assim, PINTO (2005) define ónus jurídico como a necessidade de adopção de um comportamento
para realização de um interesse próprio.
Ora, tendo sido apresentados os conceitos de ónus e de prova, torna-se mais fácil extrair o
significado de ónus de prova.
Deste modo, há que fazer uma distinção entre a distribuição estática e dinámica do ónus de prova:
“A teoria da distribuição dinámica do ónus da prova ou teoria da carga dinâmica, foi idealizada
pelo jusfilósofo inglês Bentham, que já sinalizava que a obrigação de provar cabia a quem tivesse
melhores condições de satisfazê-la (entendido este, como aquele que está em vantagem técnica e
profissional), com menos inconvenientes” (SILVA, 2019, p. 59).
Portanto, da leitura do artigo 342 do CC, é irrefutável o entendimento segundo o qual a nossa
ordem jurídica incorporou o sistema estático de distribuição do ónus probatório.
Conforme SILVA (2019) a prova diabólica reporta-se a um facto difícil ou impossível de provar.
A prova do nexo causal é, as mais das vezes, uma prova unilateralmente diabólica, uma vez que o
autor é que tem mais dificuldades para provar os factos constitutivos do seu direito, segundo o que
aflora FREITAS (2017, p. 72):
Sobre a prova unilateralmente diabólica, BESSA;LEITE (2016, apud SILVA, 2019, p. 67) referem
que “o facto é impossível ou extremamente difícil de ser comprovado por uma das partes, mas
viável para outra. Nesse caso, cabe ao juiz distribuir dinamicamente esse ónus, para que o facto
seja comprovado por aquela parte que tem melhores condições de fazê-lo.”
No entanto, a inversão do ónus de prova nos moldes acima, somente seria possível se o nosso
legislador tivesse incorporado o modelo da distribuição dinámica do ónus de prova, sendo que o
mesmo incorporou o modelo de distribuição estática do ónus de prova.
Por uma questão metodológica, é importante partirmos do conceito de presunção para que esta
temática seja inteligível ao leitor.
“A presunção consiste no resultado de uma dedução lógica, que tem como ponto de partida um
facto conhecido e pretende demonstrar a realidade desse ou de outro facto” (ANDRADE, 2016, p.
14). Este conceito tem guarida legal no artigo 349 do CC, que nos traz um conceito com um alcance
convergente, ao apresentar a seguinte redacção: «Presunções são as ilações que a lei ou o julgador
tira de um facto conhecido para firmar um facto desconhecido».
“As presunções legais são aquelas que se encontram previstas e decorrem da própria lei. Neste tipo
de presunções, a verificação de um facto, vem provar outro facto, devido a relação existente entre
ambos os factos, vinculando o princípio da livre apreciação da prova.” (ANDRADE, 2016, p.15).
Entretanto, nesta divisão, o que nos interessa são as presunções legais, pelo que, somente estas
serão aprofundadas, deixando o desenvolvimento das presunções judicias para o momento em que
iremos analisar a teoria da verosimilhança preponderante.
As presunções legais têm suas subclassificações: as presunções iuris tantum e as presunções iuris
et de iure.
“A presunção iuris tantum verifica-se nos casos em que a lei admite prova em contrário, que tem
a capacidade de descredibilizar e arruinar a presunção. Por isso é que são consideradas facilmente
refutáveis e relativas.” (ANDRADE, 2016, p. 15).
“Quanto a presunção iuris et de iure, esta verifica-se nos casos em que a presunção é considerada
absoluta e irrefutável, ou seja, que a sua validade não pode ser questionada e em que nem é admita
prova em contrário.” (ANDRADE, 2016, p. 16).
Relativamente a presunção legal de causalidade, esta é uma figura atípica no nosso ordenamento
jurídico, apenas servindo de referência o ordenamento jurídico alemão, através da Lei Federal de
Responsabilidade Civil Ambiental (Umwelthaftungsgesetz, de 10.12.1990).
§ 6 presunção de causalidade
(1) Se, dependendo das circunstâncias do caso individual, uma planta for capaz de causar o dano,
presume-se que o dano foi causado por esta planta. A adequação no caso individual é julgada de
acordo com a sequência operacional, as circunstãncias metorológicas, a hora e local da ocorrência
31
do dano e o padrão de dano, bem como todas as outras circunstâncias que falam a favor ou contra
a causa do dano no caso individual.16
(2) O parágrafo (1) não é aplicável se o equipamento foi operado como pretendido. Uma operação
conforme o previsto é aquela em que os requisitos operacionais especiais foram cumpridos e não
existiram falhas no funcionamento.17
(3)Os requisitos operacionais especiais são aqueles que resultam das autorizações administrativas,
de disposições particulares, de ordens executórias e de normas, as quais tenham por fim impedir
impactos sobre o meio ambiente, que são os mesmos que causaram o dano.18
1. os controles tenham sido executados no período durante o qual o impacto sobre o meio ambiente
apareceu e esses controles não tenham indicado violação da obrigação ou20
16
Do alemão: Ist eine Anlage nach den Gegebenheiten des Einzelfalles geeignet, den entstandenen Schaden zu
verursachen, so wird vermutet, daß der Schaden durch diese Anlage verursacht ist. Die Eignung im Einzelfall beurteilt
sich nach dem Betriebsablauf, den verwendeten Einrichtungen, der Art und Konzentration der eingesetzten und
freigesetzten Stoffe, den meteorologischen Gegebenheiten, nach Zeit und Ort des Schadenseintritts und nach dem
Schadensbild sowie allen sonstigen Gegebenheiten, die im Einzelfall für oder gegen die Schadensverursachung
sprechen.
17
Absatz 1 findet keine Anwendung, wenn die Anlage bestimmungsgemäß betrieben wurde. Ein
bestimmungsgemäßer Betrieb liegt vor, wenn die besonderen Betriebspflichten eingehalten worden sind und auch
keine Störung des Betriebs vorliegt.
18
Besondere Betriebspflichten sind solche, die sich aus verwaltungsrechtlichen Zulassungen, Auflagen und
vollziehbaren Anordnungen und Rechtsvorschriften ergeben, soweit sie die Verhinderung von solchen
Umwelteinwirkungen bezwecken, die für die Verursachung des Schadens in Betracht kommen.
19
Sind in der Zulassung, in Auflagen, in vollziehbaren Anordnungen oder in Rechtsvorschriften zur Überwachung
einer besonderen Betriebspflicht Kontrollen vorgeschrieben, so wird die Einhaltung dieser Betriebspflicht vermutet,
wenn
20
die Kontrollen in dem Zeitraum durchgeführt wurden, in dem die in Frage stehende Umwelteinwirkung von der
Anlage ausgegangen sein kann, und diese Kontrollen keinen Anhalt für die Verletzung der Betriebspflicht ergeben
haben, oder
21
im Zeitpunkt der Geltendmachung des Schadensersatzanspruchs die in Frage stehende Umwelteinwirkung länger
als zehn Jahre zurückliegt.
32
O parágrafo (1) do art. 6 da lei alemã tem duas frases. A primeira frase diz "se
uma instalação é apta para causar o dano surgido nas circunstâncias de um caso
concreto, há presunção de que o dano é causado pela instalação”. A lei insere uma
noção de “instalação apta a causar dano”. Essa aptidão pode ser antes do
cometimento do dano e no momento da ocorrência do dano. Na segunda frase são
dadas diretrizes para constatar-se a aptidão para produzir dano. Voltando-se para
a primeira frase, devemos repisar a noção de que, havendo aptidão de uma
instalação para causar dano, e este acontecendo, há presunção de que o dano foi
causado por essa instalação. A vítima deverá apontar os elementos da aptidão para
causar dano, isto é, “regulamento da instalação, quais as instalações utilizadas,
qualidade e quantidade de substâncias químicas utilizadas e emitidas; hora e lugar
do evento danoso, o dano no seu conjunto etc.". Importa, contudo, anotar que a
lei alemã dispensou, para a presunção de autoria ou presunção de
responsabilidade, que fosse estabelecido o liame de causalidade entre os actos
praticados pela instalação e o dano. Essa “presunção de causalidade” - usando a
expressão de Breitenstcin - não é gratuita, pois “a vítima deve provar as
circunstâncias justificando a presunção”.
Segundo o mesmo autor “as provas da vítima são as circunstâncias enumeradas no § 1“ do art. 6,
pois as provas do cumprimento das obrigações particulares do § 3 e as situações do § 4 são provas
que incumbem ao empreendedor”.
Para a formação dessas provas, a lei alemã deu à vítima o direito de informação
contido no art. 8, § l. O empreendedor deverá informar sobre o equipamento
utilizado, a qualidade e quantidade de substância utilizadas e emitidas e sobre
outros impactos provocados pela instalação, assim como sobre as obrigações
particulares do art. 6, § 3. Se a informação for incompleta, incorrecta, insuficiente
ou se não for transmitida em um prazo razoável, a pessoa lesada pode exigir o
exame dos documenta do empreendedor (art. 8, § 3).
“Entretanto, a presunção de causalidade pode ser inviabilizada para os danos à distância, que se
manifestam em locais afastados do foco de emissão, retirando toda a eficácia da presunção legal
estabelecida” (CATALÁ, 1998, apud FREITAS, 2017, p. 32). É uma afirmação com sentido, na
medida em que, a 2ª parte do parágrafo 1 do artigo 6 da lei alemã em estudo considera a hora e o
local da ocorrência do dano na averiguação da aptidão da instalação para produzir o dano.
OLIVEIRA (2007 apud FREITAS, 2017, p. 32) considera que (por conta da exigência da prova
da aptidão da instalação para produzir o dano) “o nível de dificuldade probatório da aptidão
concreta da actividade para causar o dano é o mesmo da prova concreta da causalidade, o que
enfraquece a utilidade do instituto, atribuindo-lhe uma eficácia semelhante àquela apresentada pelo
direito probatório comum”. Contudo, é difícil concordar com o posicionamento deste ilustre autor,
uma vez que o artigo 8 prevê o direito à informação a favor da vítima, atenuando os efeitos da
exigência probatória da aptidão da instalação para produzir o dano.
Os parágrafos (2) e (3) do art. 6 nos trazem uma indicação clara de que a presunção legal patente
na lei alemã é uma presunção iuris tantum porque a mesma é passível de prova em contrário, que
sequer precisa de incidir sobre a inexistência do nexo do causalidade, bastando a prova da
inexistência dos factos que servem de base à presunção (a inobservância de requisitos operacionais
especiais).
Apesar de todos os deméritos da presunção legal de causalidade incorporada pelo sistema alemão,
importa dar mérito ao facto de que é, até então, o ordenamento jurídico que mais se aproxima da
solução a este problema global.
No entanto, por se tratar de uma presunção legal feita por lei estrangeira, não nos poderá ser mais
do que uma “lei exemplar”, não podendo servir de base ao julgador nacional na solução do litígio
in concreto.
Entretanto, para sanar eventuais equívocos, é necessário aclarar a diferença entre probabilidade,
certeza e verosimilhança:
34
Quanto à certeza, SOUSA (2013 apud ANDRADE, 2016, p. 60) a define como um “estado
subjectivo (ou muito elevado) de intensidade do convencimento do sujeito quanto à veracidade de
um enunciado”.
Como refere GASTAL (2007), a máxima de experiência é o conceito que perimite forjar a noção
de verosimilhança, e, ao mesmo tempo, é um instrumento que fará possível controlar a aplicação
jurisdicional do juízo de verosimilhança.
Há que fazer uma breve distinção entre as máximas de experiência comum, técnica e axiológica:
Baseando-se nos preceitos da Convenção de Lugano, LEITE (1999, p. 179) defende a aplicação
do juízo de verosimilhança na determinação do nexo de causalidade nas demandas ambientais:
Todavia, eis a questão que se coloca: Com que fundamento o julgador irá recorrer a um juízo de
verosimilhança?
Um ponto de vista interessante provém de GASTAL (2007, p. 140), segundo o qual “a norma
probatória tem um fim imediato e auxiliar, que é o de estabelecer o critério para a constatação de
um facto, e o outro mediato e principal, que é o de com isso permitir que se realize o direito material
subjacente nas pretensões em conflito”. Segundo o mesmo autor, quando se interpreta e se aplica
uma norma de processo, não é possível perder de vista os propósitos do direito material que nele
22
“Nos processos relativos ao ambiente, o queixoso poderá ter mais dificuldade do que o arguido em provar factos
respeitantes à ligação causal (ou à sua ausência) entre uma actividade realizada pelo arguido e os danos ocasionados.
Por isso, vários regimes de responsabilidade ambiental nacionais contêm disposições destinadas a aliviar o ónus da
prova em relação à culpa ou à causalidade a favor do queixoso”. COMISSÃO EUROPEIA, Livro Branco Sobre
Responsabilidade Ambiental, p. 20.
36
se examina e, nas situações em que a sua finalidade prioritária vir-se frustrada pela aplicação
rigorosa do módulo de prova normal, haver-se-á de reduzi-lo.
Não obstante a dissertação acima, há que fazer um retorno às já referenciadas presunções judiciais.
ANDRADE (2016) aflora que as presunções judiciais têm por base as máximas de experiência e
o senso comum do julgador.
Novamente ANDRADE (2016) afirma que a verosimilhança prende-se com a normalidade dos
factos, sendo uma figura íntima das máximas de experiência. Assim, uma presunção feita com
base nas máximas de experiência é feita com recurso a um juizo de verosimilhança (com base no
que é verosímil).
As presunções judiciais têm acolhimento legal no artigo 351 do CC, não podendo ser admitida nos
casos em que não é admitida a prova testemunhal e não nos parece que seja o caso da prova do
nexo de causalidade em matéria ambiental (fazendo uma interpretação por exclusão de partes do
artigo 394 do CC).
“Quando o material probatório existente num processo não é suficiente, e o juiz recorre às
presunções e máximas da experiência como o seu instrumento de equidade, pois só assim consegue
fazer justiça, tomando uma decisão relativa ao caso em apreço” (ANDRADE, 2016, p. 68).
Tudo indica que o juízo de verosimilhança é o mais adequado para a superação da complexidade
causal ambiental, pois, é o único que encontra uma guarida legal, uma vez que o mesmo será
expresso através das presunções judiciais. Assim, o ónus de prova ficará a cargo do demandado
(GASTAL, 2007). A inversão do ónus de prova será feita com base numa aplicação analógica do
artigo 350 do CC.
37
5. CONCLUSÃO
Sendo que um dos nossos objectivos era compreender a relevância do nexo de causalidade na
responsabilidade civil por danos ambientais, ficou claro que, como pressuposto da
responsabilidade civil, o mesmo é imprescindível mesmo na responsabilidade por danos
ambientais que é puramente objectiva, ou seja, prescinde da culpa e da ilicitude, entretanto, não
prescinde do dano e do nexo de causalidade. Desta forma, constatou-se que a vexata quaestio tem
uma enorme relevância porque incidiu sobre a difícil prova de um pressuposto imprescindível da
responsabilidade civil por danos ambientais (nexo de causalidade).
Desta forma, por conta das características complexas do dano ambiental, o nexo de causalidade
torna-se complexo, na medida em que a prova da sua existência revela-se “diabólica”. Daí que
desenvolvemos um esforço enorme na busca de bases doutrinais que nos apresentassem soluções
adequadas à esta questão controvertida. Entretanto, a grande dificuldade que nos afrontou, foi o
facto de que trata-se de uma questão quase esquecida pela doutrina nacional. Felizmente, não se
trata de um problema de índole nacional mas sim global, pelo que, a doutrina estrangeira teve um
papel crucial na prossecução do nosso grande objectivo de discutir as propostas de solução a esta
problemática.
Contudo, apesar de ser aliciante a possibilidade de se inverter o ónus de prova nas demandas
ambientais para que o réu (praticante ou beneficiário da actividade perigosa) fique com o encargo
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de provar que a sua actividade não tem nenhum nexo causal com a lesão, uma vez que, este dispõe
de melhores meios técnicos para realizar qualquer diligência probatória, é uma solução sem
acolhimento legal na nossa ordem jurídica na medida em que, através do art. 342 do CC, a nossa
lei incorporou o modelo de distribuição estática do ónus de prova que se contrapõe ao modelo de
distribuição dinámica do ónus de prova por não permitir que o ónus de prova seja invertido contra
a parte que esteja em melhores condições de provar o facto.
No que diz respeito à incorporação de uma presunção legal de causalidade, constatamos que, do
nosso lado é uma realidade um pouco distante de se alcançar porque implicaria, pelo menos, uma
reforma legislativa e, quanto a isso, os operadores de Direito nada podem fazer a não ser
intensificar a elaboração de trabalhos científicos em volta desta temática para, desta forma,
influenciar o legislador a tomar uma iniciativa a respeito. Ademais, por mais que a legislação alemã
seja exemplar quanto a adopção deste instituto, uma imitação ipsi verbis por parte do legislador
moçambicano pode não corresponder à realidade social, política e económica do nosso país.
Portanto, em todas as demandas de responsabilização civil por danos ambientais em que seja
impossível ou difícil fazer a prova do nexo de causalidade, o julgador deve decidir a favor do
demandante através de uma presunção judicial fundada nas máximas de experiência, invertendo-
se, consequentemente, o ónus de prova contra o demandado (não porque o demandado esteja em
melhores condições de provar o facto, mas sim porque a presunção judicial é passível de prova em
contrário).
Desta forma, acreditamos que conseguimos alcançar todos os objectivos do trabalho, inclusive, o
de analisar o enquadramento das soluções à esta problemática no O.J.M..
40
Bibliografia
Doutrina
ANDRADE, Ana Margarida Faria de, A Prova por Presunção no Direito Civil e Processual Civil:
as presunções judiciais e o recurso ao senso comum e às máximas da experiência, dissertação de
mestrado, Departamento de Direito, Lisboa, Universidade Autónoma de Lisboa Luís Camões,
2016.
JÚNIOR, Eduardo dos Santos, Direito das Obrigações I, 2ª edição, Lisboa, AAFDL, 2012.
MACHADO, P. A. L., Direito Ambiental Brasileiro, 21ᵃ edição, São Paulo, Malheiros Editores,
2013.
MEZZAROBA, O., et al, Direito Ambiental II, Vol.5, Curitiba, Clássica Editora, 2014.
PINTO, C. A. M., Teoria Geral do Direito Civil, 4ᵃ edição, Coimbra, Coimbra Editora, 2005.
41
SERRA, C. & CUNHA, F., Manual de Direito do Ambiente, 2ª edição, Maputo, Ministério da
Justiça – CFJJ, 2008.
SILVA, Amanda Mara, Princípio do Dispositivo versus Princípio do Inquisitório: quem deve
produzir as provas?, dissertação de mestrado, Escola de Direito, Universidade do Minho, 2019.
Legislação