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REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO BÁSICA – RBEB

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NOVOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA PÓS-PANDEMIA

Marcus Periks Barbosa Krause


Professor de Língua Inglesa na Escola Municipal Janoca Maciel
marcusperiks@hotmail.com

RESUMO: O presente trabalho visa trazer à reflexão os desafios que teremos que
enfrentar na educação básica do nosso país, após a pandemia do Coronavírus, uma
vez que o ensino híbrido passará a permear todos os níveis de educação, até mesmo
a educação básica. Em pleno século XXI, não podemos pensar em escolas
desconectadas da rede mundial de computadores e desprovidas de equipamentos
tecnológicos que auxiliem o processo ensino-aprendizagem. Será necessária uma
reflexão por parte dos gestores de modo a transformar a realidade das nossas
escolas, fazendo investimentos em recursos tecnológicos, democratização do acesso
à internet e qualificação dos professores em novas tecnologias.

Palavras-chave: Inovação. Inclusão Digital. Ensino a Distância. Educação Básica.

Vivemos um tempo nunca visto na história da humanidade, pois estamos


passando por um momento no qual todas as nossas relações sociais foram afetadas,
trazendo com isso prejuízos imensuráveis, não somente de ordem econômica, mas
que englobam todas as relações típicas da civilização humana.
Toda essa situação resultante da pandemia ocasionada pela disseminação do
Coronavírus trará consequências imensuráveis, e uma das áreas que sofrerá efeitos
negativos em decorrência desta pandemia é a educação.
Logo que o COVID-19 começou a se proliferar em nosso país, uma das
primeiras medidas de combate e prevenção adotadas pelos governos foi a suspensão
das aulas, tanto da rede pública quanto da rede privada, em todos os níveis da
educação, por recomendação da Organização Mundial de Saúde - OMS, tendo em
vista ser o isolamento social, até então, único meio de evitar contágios do vírus.
Como resultado dessas paralizações nos calendários escolares, somente na
América Latina, mais de 95% das crianças ficaram sem aulas, o que corresponde a
aproximadamente 154 milhões de crianças, segundo dados veiculados no dia 23 de
março de 2020, em vários sites na rede mundial de computadores. Estima-se que, no
Brasil, o número de alunos sem aulas, por conta da pandemia, gire em torno de 48,4
milhões de alunos, considerando que este é o quantitativo de alunos registrado no
censo escolar de 2018.
Diante dessa preocupante situação de suspensão das aulas, as escolas, tanto
públicas quanto privadas, passaram a adotar prática de ensino a distância, por meio
de métodos on-line, sendo indiscutível a necessidade de adoção de medidas
alternativas para minimizar os impactos da perda de aulas. Contudo, existem
inúmeros desafios a serem vencidos antes de se adotar um ensino EaD, em face da
grande exclusão digital existente em nosso país.
Segundo a UNICEF, o fracasso escolar, de modo geral, se dá por diversas
situações, dentre elas, faz-se referência, em especial para este contexto, a uma das
condições citadas que é “a falta de acesso a insumos de qualidade, como tecnologia
e Internet”.

Revista Brasileira de Educação Básica | Ano 6 | N° 19 | Outubro - Agosto | 2020 - 2021 | Página 1
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A evolução tecnológica cada dia nos assusta pelo seu avanço e cada vez mais
somos dependentes da internet até para situações simples da vida. A tecnologia
causou mudanças em muitas profissões, extinguindo muitas, penetrou no campo dos
aparelhos domésticos, transformando fogões e geladeiras em verdadeiros
computadores; transformou carros em verdadeiras máquinas que se locomovem
sozinhas; tomou conta dos aparelhos de telecomunicações, transformando aparelhos
celulares, que outrora eram utilizados apenas para ligações telefônicas, em
verdadeiros ferramentas de subsistência, uma vez que dependemos deles para quase
todas as situações da vida.
A pandemia do Coronavírus surgiu no mundo, e com ela nascem muitas
indagações acerca do futuro da humanidade, após essa crise sanitária. Uma dessas
indagações referem-se ao uso dos recursos tecnológicos e da internet, que nos
mostrou não se tratar apenas de opção de consumo ou de lazer, mas uma
necessidade real.
Para exemplificar tal necessidade, citamos as diversas medidas adotadas como forma
de manutenção e garantia de direitos à população, que perdura durante a pandemia:
o acesso aos aplicativos de celulares para requerer Auxílio Emergencial; a adoção da
telemedicina por médicos em todo o país, devidamente regulamentada pelo Conselho
Federal de Medicina; os registros de boletins de ocorrência policial por meio
eletrônico; as aulas, no formato à distância, fazendo uso das novas tecnologias para
acesso aos recursos didáticos; entre tantas outras medidas.
Pretende-se deter, com essa análise, neste último ponto, como forma de refletir sobre
os desafios da educação em nosso país e a necessidade de investimentos
tecnológicos e democratização do acesso à internet, como garantia dos direitos à
educação de nossas crianças e adolescentes.
No Brasil, os investimentos em tecnologia nas escolas públicas nunca foram
satisfatórios, a prova está aí, diante das dificuldades que o país encontra para lidar
com a situação das aulas para os alunos da educação básica, sendo que muitas redes
de ensino municipal e estadual ainda estão paralisadas, outras estão “engatinhando”
no processo de adaptação de aulas on-line, porém grande parte delas vai esbarar em
um outro problema, o da exclusão digital.
Os dados da exclusão digital são preocupantes, uma vez que segundo a
Fundação Getúlio Vargas, descritos no MAPA DA INCLUSÃO (2012), o Brasil está na
63ª posição, com 33%de pessoas conectadas na rede, entre os países que foram
mapeados.
Quando o assunto é a conectividade dos alunos, a pesquisa mostra que entre
os que frequentam a escola, apenas 33,51% possuem computadores ligados à
internet. Isso nos mostra que não se conseguirão resultados satisfatórios na educação
enquanto não se fizerem investimentos na democratização do acesso à internet e em
novas tecnologias.
A realidade do país em relação à educação é a de muitas escolas sucateadas,
sem nenhum recurso tecnológico presente no ambiente escolar; a maioria das escolas
não possui salas de vídeo/multimídia ou salas de informática para fomentar o uso de
práticas didáticas e metodologias ativas; escolas que sequer possuem acesso à
internet ou computadores disponíveis aos alunos ou professores para pesquisas;
projetos, como rádio escolar ou jornais produzidos pelos alunos, dentre tantas outras
medidas que poderiam ser utilizadas para proporcionar melhores condições de
aprendizagem inexistem.

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Em tempos comuns de aula presencial, não era difícil encontrar um professor que,
após dedicar-se horas preparando uma aula lúdica, com uso de recursos tecnológicos,
chegava em sala de aula e ali não conseguia executar seu plano de aula, em razão
da carência ou mesmo da ausência de condições mínimas estruturais e tecnológicas
para execução de tal atividade. Ora faltava um notebook, ora faltava um projetor de
slide, ou até mesmo uma tomada que funcionasse dentro da sala de aula para ligar
tais aparelhos. São desafios que precisam ser superados, urgentemente.
Fala-se muito em tecnologia da informação no ambiente escolar e em
investimentos tecnológicos, contudo, a realidade brasileira, no que tange ao uso da
tecnologia no processo de educação, ainda é precária. Segundo levantamento
realizado pelo IEDE- Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional, no
ano de 2015, apenas 28,3% dos estudantes brasileiros afirmaram ter acesso a
computadores conectados à internet nas escolas. Segundo esse mesmo
levantamento, o Brasil tinha, na época, a segunda pior conectividade nas escolas, o
que é preocupante.
Por isso, colocar o ensino EaD na educação básica de forma impositiva, sem que
primeiramente haja investimentos em políticas públicas de inclusão, poderá trazer
prejuízos a milhares de crianças e adolescentes, pois tal processo não será capaz de
contemplar 100% do alunado, grande parte vítima de exclusão digital no país.
Segundo o IBGE (2016), 51% dos brasileiros ainda não estão incluídos no mundo
digital, ou seja, mais da metade da população, isso implica dizer que, no atual
momento, a adoção do ensino EaD não será eficaz e estará excluindo do processo de
aprendizagem uma grande parcela de alunos, que já vive em situação de
vulnerabilidade socioeconômica, agravando-se mais ainda os inúmeros problemas
sociais existentes em nosso país, cujos reflexos podem até não serem perceptíveis a
curto prazo, mas é certo que um dia eles refletirão na sociedade.
No mais, o acesso à internet, atualmente, é um direito universal, declarado pela
Organização das Nações Unidas – ONU, em 2011, sendo a internet um direito
fundamental do ser humano. Portanto, não se pode achar que aqueles que não
possuem acesso à internet ou um dispositivo compatível para acesso às ferramentas
sejam obrigados a providenciar estes meios como condição para sua integração ao
processo de ensino utilizado no país, sendo que, por se tratar de um direito
fundamental aos seres humanos, caberia ao Estado a garantia desses direitos e não
privar os indivíduos deles.
Vivemos em uma Era tecnológica, onde nossos alunos nasceram manuseando
um celular, contudo, a realidade é assimétrica em relação aos professores, pois
muitos deles não cresceram neste contexto e tiveram que se adaptar de forma brusca
a muitas situações, diante das condições de isolamento social.
Mesmo após o encerramento do período de isolamento social, e com o retorno
das aulas presenciais, não quer dizer que não precisaremos mais dos conhecimentos
tecnológicos, pois agora é que eles deverão ser aplicados, já que a educação híbrida
será uma realidade mais presente em nosso país.
Será necessário vencer muitos desafios, dentre os quais: um alto investimento em
inovações tecnológicas; serviços como assessorias de startups, que se dedicam a
auxiliar escolas fornecendo um leque de alternativas pedagógicas e tecnológicas para
melhorar o processo ensino-aprendizagem; qualificação contínua dos docentes na
área das novas Tecnologias de Informação e Conhecimento; adoção de plataformas
virtuais de gestão e monitoramento de resultados pedagógicos; aquisição de
equipamentos digitais para uso nas escolas; democratização do acesso à internet.
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REFERÊNCIAS

Artigo por Paula Pedroza. Disponível em: https://digitalks.com.br/artigos/o-que-e-


inclusao-digital-e-em-que-estagio-estamos-no-brasil/. Acesso em: 06 abr. 2020.

Folha de Londrina. Disponível em: https://www.folhadelondrina.com.br/cadernos-


especiais/uso-de-tecnologias-nas-escolas-ainda-e-precario-1001410.html. Acesso
em: 06 abr. 2020.

Câmara dos Deputados. Disponível em:


https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=219861
5. Acesso em: 06 abr. 2020.

Disponível em: https://www.leiaja.com/coluna/2017/11/14/inclusao-digital-no-brasil-


ainda-e-um-desafio. Acesso em: 06 abr. 2020.

https://www.techtudo.com.br/noticias/noticia/2011/06/onu-declara-o-acesso-internet-
como-direito-universal.html. Acesso em: 06 abr. 2020.

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/03/28/Os-desafios-de-ensinar-
crianças-em-casa-na-quarentena. Acesso em: 06 abr. 2020.

https://www.infoescola.com/noticias/homeschooling-pratica-de-educacao-domiciliar-
ainda-nao-e-regulamentada-no-brasil/. Acesso em: 06 abr. 2020.

DECRETO Nº 9.057, DE 25 DE MAIO DE 2017. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/d9057.htm. Acesso
em: 07 abr. 2020.

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996. LDB. Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm#art32%C2%A74.
Guia COID-19 - Educação e Proteção de crianças e adolescentes: Tomadores de
decisão do poder público, em todas as esferas federativas. Disponível em:
https://plan.org.br/wp-content/uploads/2020/03/COVID-19_Guia2_FINAL.pdf.

Guia COID-19 - Educação e Proteção de crianças e adolescentes: comunidade


escolar, família e profissionais da educação e proteção da criança e adolescente.
Disponível em: https://plan.org.br/wp-content/uploads/2020/03/COVID-
19_Guia1_FINAL.pdf.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Mapa da Inclusão Digital. Coordenação Marcelo
Neri. Rio de Janeiro. FGV. CPS. 2012.

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