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Relatório Ambiental Preliminar (RAP)

1. Apresentação do objetivo do licenciamento requerido

Implantação de sistema alternativo de tratamento de águas servidas na residência de Itamar Vieira, situada à Rua
Fernandes Geraldo dos Santos, s/n, Vila São José.

2. Justificativa do empreendimento

As técnicas empregadas, originadas na permacultura, pretendem ser mais ecológicas do que os sistemas
convencionais atuais em uso.

A Bacia de Evapotranspiração (BET) será usado para tratamento das águas negras, aquelas usadas nos sanitários
para descarga. Não há saída de efluentes do sistema e visa substituir as fossas sépticas e sumidouros, com ganhos
de segurança sanitária, economia financeira por usar restos de construção e pneus usados e também pela
facilidade de construção. Beneficiando famílias de baixa renda e diminuindo a demanda por canalizações e ETEs
(estações de tratamento de efluentes) públicas, uma vez que desse sistema não há saída de efluentes.

O Círculo de Bananeiras será usado para o tratamento das águas cinza, aquelas usadas nas pias, chuveiros e
máquinas de lavar roupa. Este sistema visa tratar separadamente as águas que não estão contaminadas com
dejetos humanos. Isto irá diminuir bastante o volume de água no sistema principal de tratamento da casa. Como o
tratamento da água cinza é bem mais simples, ele demanda menos recursos e ainda aproveita a riqueza de
nutrientes da água cinza, para alimentar plantas frutíferas.

3. Caracterização do empreendimento

Separação das águas

As águas usadas na residência devem ser separadas em cinza e negra, como explicado acima. No caso específico
dessa residência, esta ação já foi realizada, pois já estava no projeto original. Cada efluente da casa vai para um
sistema específico de tratamento e não haverá efluente do terreno.

Bacia de Evapotranspiração (BET)


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Construção de uma bacia (buraco ou tanque) de 10 m (2x1x5 m)
isolada. As paredes laterais e o fundo da bacia são cobertos com
ferrocimento, que é uma técnica de construção com grade de
ferro e tela de “viveiro” coberta com argamassa de 1x1 (uma
parte de areia para uma parte de cimento). O ferrocimento é
uma alternativa mais econômica que o concreto armado, mas
também segura.

Na base e parte central longitudinal da bacia, conforme projeto


anexo, é construída uma câmara digestão anaeróbia com pneus
usados. Ao lado da câmara de pneus e até a sua altura, serão
colocadas pedras, cacos de telhas e de tijolos para criar um
ambiente com espaço livre para a proliferação de bactérias que
quebrarão os sólidos em moléculas de micronutrientes. Neste
ponto pode-se iniciar a fixação dos 3 dutos inspeção (PVC de
50mm) e coletas de amostras de água. Depois são colocadas as
camadas de brita (10 cm), areia (15 cm) e solo (30 cm) até o limite superior da bacia. Em seguida já podem ser
plantadas espécies vegetais de folhas largas sobre o solo da bacia. Em seguida o solo deve ser coberto com
vegetação morta como aparas de gramas e restos de outras plantas, para isolar a superfície da influência da chuva.

Funcionamento
O funcionamento da BET tem a ver com o propósito do sistema e os princípios da permacultura usados para a
solução do problema.

Princípio 1
Decomposição da água negra gerando água limpa e nutrientes para plantas.
Isto é realizado na câmara bio-séptica de pneus (digestão anaeróbica) e nos espaços criados pelas pedras e
artefatos de argila colocados ao lado da câmara e completado pelas camadas de britas, areia e solo que separam a
água dos nutrientes, permitindo que as raízes encontrem os dois elementos, água parcialmente limpa e os
nutrientes.

Princípio 2
Enclausuramento dos patógenos no sistema, porque não há como garantir sua eliminação completa.
Isto é realizado graças ao fato da bacia (tanque) ser fechada, sem saídas não supervisionadas. Precisa ter um
tamanho que gere espaços livres para o volume total de água e nutrientes recebidos durante um dia.

Princípio 3
Evaporação da água limpa resultante e aproveitamento (consumo) dos nutrientes.
A evapotranspiração é realizada pelas plantas, principalmente as de folhas largas como as bananeiras, mamoeiros,
caetés, taioba, etc. que, além disso, consomem os nutrientes em seu processo de crescimento.

Princípio 4
Evitar possíveis fontes de problemas. Ex.: alagamento pela chuva, infiltrações, vazamentos, dias sem sol, visitantes,
etc..
Para evitar o alagamento pela chuva, pois a bacia não tem tampa, é feita uma proteção com palhas. Todas as
folhas que caem das plantas mais as aparas de gramas são colocadas sobre a bacia para formar um colchão por
onde a água da chuva escorre para fora do sistema.
As paredes laterais de ferrocimento são terminadas em cima com uma fiada de tijolos ou blocos de concreto,
ficando mais alta que o nível do terreno, impedindo a entrada da água que escorre e não infiltra no terreno.
Também é considerado um volume extra de espaço para compensar os dias sem sol em que diminui a
evapotranspiração.

Pela prática, observou-se que 2 metros cúbicos de bacia para cada morador é o suficiente para que o sistema
funcione sem extravasamentos. A forma de dimensionamento da bacia é: largura de 2m e profundidade de 1m. O
comprimento é igual ao número de moradores usuais da casa. A residência em questão tem cinco moradores.
Então a dimensão fica assim: (LxPxC) 2x1x5 = 10 m3.

Na região sul do Brasil tem diversas BETs em funcionamento em áreas rurais. Criciúma pode ser uma das primeiras
cidades a incentivar o seu uso em área urbana. Na Austrália e nos EUA isto já é uma prática comum, divulgadas
pelo movimento da permacultura.

Mais informações em:


http://www.setelombas.com.br/2010/08/02/fossa-de-bananeiras/
http://www.permear.org.br/pastas/documentos/permacultor4/Bacia-evapo.pdf
http://www.scribd.com/doc/15919161/Bacia-de-Evapotranspiracao
www.setelombas.com.br/permacultura/
www.permear.org.br/2006/07/14/o-que-e-permacultura/
a
Tese de mestrado da Prof . Adriana Galbiati. Cuja conclusão científica é favorável ao uso em área urbana.

Círculo de Bananeiras

O círculo de bananeira é usado para tratar as águas usadas da


casa (pias, tanques e chuveiros), as chamadas águas cinza. Ele
também beneficia a produção de bananas em escala humana.
Essa técnica originou-se da observação dos efeitos dos fortes
ventos sobre a cultura dos cocos. Numa clareira os coqueiros
caídos davam origem a círculos de coqueiros que nasciam e
produziam melhor do que quando sós. O padrão
natural observado foi que no centro do círculo se depositavam
folhas, ramos, frutos, etc., que retinham a umidade e
concentravam nutrientes, beneficiando a cultura dos coqueiros.
Dessa observação, passou-se em seguida às experiências com
outras culturas, como a da banana.

No caso das bananeiras percebeu-se que elas, como outras plantas de folhas largas como o mamoeiro evaporam
grandes quantidades de água e estabeleceu-se assim uma relação com as águas cinza das residências. Essa ligação
é feita entre a necessidade de se tratar a águas que saem das pias e chuveiros das residências com a grande
capacidade de evaporar (tratar) dos círculos de bananeiras. E isso é uma das bases do design na permacultura,
estabelecer relações positivas, sinérgicas entre os elementos de um sistema vivo.

Como construir?
O trabalho começa com a construção de um buraco, em forma de concha, com 1 m cúbico de volume. Lembre-se
que a terra retirada do buraco é colocada na borda aumentando a altura do buraco.

O buraco, depois de pronto, deverá ser preenchido com madeira e palha


para criar um ambiente adequado para o recebimento da água cinza e para
beneficiar a micro vida. Isso é feito primeiro colocando pequenos troncos
de madeira grossos no fundo. Em seguida galhos médios e finos de árvores
e por último a palha (aparas de grama, folhas, etc.) formando um monte
com quase 1 metro de altura acima da borda do buraco. A madeira deve
ser colocada de forma desarrumada, para que que se crie espaços para a
água. A palha em cima serve para impedir a entrada da luz e da água da
chuva, que escorrerá para os lados não inundando o buraco e não se contaminando com a água cinza.

A água cinza deve ser conduzida por um tubo até o buraco e com um joelho na ponta para evitar o entupimento.
Não usar valas abertas para a condução da água, assim mosquitos e outros animais indesejados não terão como se
desenvolver. E os microorganismos da compostagem terão um ambiente perfeito para fazer o seu trabalho.
Plantio
As bananeiras podem ser plantadas de diversas maneiras. Msa eu prefiro usar o rizoma inteiro ou uma cunha
(parte de um rizoma) com uma gema visível. Após fazer as covas (no
mínimo 30x30x30 cm) deve-se enchê-las com bastante matéria orgânica
(palhas, folhas, etc.) misturada com terra. Antes de preencher totalmente o
buraco, na hora de colocar o rizoma, posicione para que a gema fique para
o lado de fora do círculo e inclinado de forma que a bananeira nasça caída
para fora. Essa inclinação da bananeira é mais fácil de ser conseguida
quando plantada a partir de rebentos. Isso facilitará a colheita e o manejo
das bananeiras. O rizoma deve ficar há uns 10 cm, em média, abaixo do
nível do solo.
Ao redor do círculo, também é indicado o plantio de mais plantas de folha
larga como a taioba, o mamoeiro e entre elas batata doce ou outra plantas
rasteiras para cobrir todo o espaço. Em pouco tempo o círculo irá se
transformar em um nicho de fertilidade que vai se espalhar pelo entorno.

Cuidados
Nas pias, tanques e chuveiros deve-se evitar o uso de detergentes químicos e outras substâncias tóxicas como
cloro, etc., pois estas substâncias matam os microorganismos e impedem a compostagem dos nutrientes contidos
na água cinza juntamente com a madeira depositada no buraco.
Se o volume de água cinza produzido na casa for maior do que a capacidade de recebimento do círculo, a melhor
solução é construir outro círculo interligando ao primeiro. A água cinza entra por cima no primeiro e sai no nível
máximo por meio de outro tubo e segue para o segundo círculo. Conforme a situação pode-se ter uma bateria de
círculos interligados.
É desejável que a água da pia antes de ir para o círculo de bananeiras passe por uma câmara de decantação (caixa
de gordura), mas não é uma exigência.

Manejo
Sempre colocar aparas de poda (grama, capim, galhos) no centro para alimentar o círculo e evitar que o buraco
seja inundado com a água da chuva.
Após colher o cacho de bananas, deve-se cortar a bananeira bem na base e em pedaços de 1 metro, rachar ao
meio (longitudinal) e também colocar no centro do círculo sobre a cobertura vegetal morta. A cada 3 anos (ou
mais) todo o material depositado no buraco pode ser retirado (quando os troncos se dissolverem) e usar como
adubo orgânico na horta. Então deve-se repor novo material como no início da implantação do círculo.
Aqui na região sul do Brasil há diversos círculos de bananeiras funcionando perfeitamente há mais de 3 anos.

Mais informações em:


http://www.setelombas.com.br/2006/10/14/circulo-de-bananeiras/
http://www.permear.org.br/fotos/circulo-de-bananeiras/

4. Diagnóstico ambiental preliminar da área de influência

Município afetado: Criciúma, bairro Vila São José no Distrito de Rio Maina.

Indicadores do porte (área, produção, quantidade de insumos, etc.): Os sistemas de tratamento das águas servidas
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ocuparão 20 m de área na residência com terreno de 435 m (15x29) e área construída de 230m . O terreno de
trás está vazio e deverá ser adquirido para ampliar a área de plantio.

Mão de obra necessária para implantação e operação: Não é necessária mão-de-obra especializada.
Cronograma de implantação: 2 dias para a construção e cerca de 3 meses de maturação do sistema. Até crescerem
as plantas.

Valor total do investimento: cerca de R$ 1.300,00.

Planta do terreno com a indicação dos locais dos sistemas implantados.


Anexo 1.
5. Identificação dos impactos ambientais

Não há presença de terrenos alagadiços ou sujeitos a inundação. O terreno não é suscetível à erosão, todo o
entorno será coberto por vegetação nativa. Não há área de preservação permanente – APP, de acordo com art.2º
da lei federal 4771/65 e demais normas vigentes e nem unidades de conservação, nem dentro nem no entorno.

Os sistemas contam com tubos de inspeção que facilitam a coleta de material e água para análise e
acompanhamento do desempenho dos sistemas. E nós nos colocamos ao inteiro dispor para cooperar com esse
trabalho de acompanhamento e documentação dos resultados.

Declaro, sob as penas da lei, que as informações prestadas aqui são verdadeiras.

Itamar Vieira, Permacultor (CPF: xxx.xxx.xxx-xx)


Assinatura do responsável técnico
25 de Agosto de 2010

Itamar Vieira é Permacultor, tendo recebido seu certificado em 2001 ao participar do “ Permaculture Desgin
Certificate Course” (PDC), ministrado pelo Prof. Jorge Roberto Timmermann (jorge@permacultura.org.br) do IPAB
- Instituto de Permacultura Austro Brasileiro (www.permacultura.org.br/ipab/) com sede em Florianópolis-SC.
O PDC é um curso de design em permacultura com 79 horas de duração com programa padrão criado na Austrália
e utilizado no mundo todo (www.setelombas.com.br/permacultura/o-que-e-um-pdc/).

Itamar é o criador do sítio Setelombas (www.setelombas.com.br) em Siderópolis,onde pratic a e ministra cursos de


Permacultura, e é um dos fundadores da Rede Permear de Permacultores (www.permear.org.br).

Endereço residencial atual:

Dados para contato:

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