Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Caxias do Sul
2019
INTRODUÇÃO
Os solos da Baixada Santista e, em particular, da cidade de Santos, caracterizam-se por serem
compressíveis e de baixa resistência, o que implica em dificuldades na implantação de obras
de engenharia.
Problemas comuns nessa região são os recalques, por exemplo, dos edifícios da Orla de
Santos, devido a variações do nível do mar nos últimos cinco milênios, variações essas que
estão na raiz da formação dos solos do litoral Santista.
PROBLEMA
As obras civis realizadas na região da Baixada Santista defrontam-se com alguns dos mais
difíceis problemas da engenharia de solos.
Há muito tempo, os engenheiros civis preocupam-se em entender as argilas marinhas, de
ocorrência generalizada ao longo da planície costeira santista, por vezes subjacentes a
camadas de areias finas, uniformes e compactas, de espessuras variáveis, como na cidade de
Santos.
A consistência de muito mole a mole levou a certo consenso de que as argilas marinhas eram
normalmente adensadas (Pacheco Silva, 1953), com esta e outras características bem
definidas.
Os prédios afetados, localizados na orla de Santos, foram construídos entre os anos de 1950 e
1960.
Suas fundações foram apoiadas sobre solos de argila mole, com profundidades entre 1,5 a 3
metros, sendo que a camada mais resistente encontra-se cerca de 40 metros de profundidade.
Até a década de 1970 acreditava-se que as argilas marinhas da Baixada Santista tinham se
formado num único ciclo de sedimentação e se caracterizavam por serem moles, isto é,
compressíveis e de baixa resistência. A descoberta de um “bolsão” pelo Professor e Eng.
Alberto H. Teixeira, em final da década de 1950, foi um surpreendente achado na época que só
encontrou sua explicação científica com os trabalhos de Suguio e Martin e o seu modelo dos
possíveis mecanismos que controlaram a sedimentação nas planícies quaternárias do litoral do
Estado de São Paulo. O referido “bolsão” é resquício das Argilas Transicionais, depositadas há
mais de 100 mil anos, e que resistiram a processos erosivos.
Outros casos inusitados como esse foram observados na região, inclusive durante a
construção da Rodovia dos Imigrantes na década de 1970, mas o impacto do “bolsão de São
Vicente” foi maior, pela elevada resistência do solo e por envolver a construção de um edifício
em São Vicente, apoiado sobre um “bolsão” de argila altamente pré-adensada, com pressões
de pré-adensamento de 600 a 700kPa, num momento do grande “boom” imobiliário em toda a
orla santista.
Em termos de prospecção do subsolo e definição de perfis geológicos, além da tradicional e
insubstituível sondagem a percussão e da extração de amostras de solo, hoje em dia são
realizados rotineiramente os modernos ensaios in situ como o DMT e o CPTU. A
instrumentação de obras continua sendo feita como no passado, mas com recurso instrumental
moderno, frequentemente via aquisição automática de dados.
Em termos de obras, vale destacar, dentre outras inovações:
a) a introdução de estacas longas para a fundação de Edifícios em Santos e São Vicente, que
em geral já não mais comportam fundações diretas como usadas no passado, com todas as
consequências de recalques acentuados e desaprumos; e
b) o uso de materiais sintéticos como, por exemplo, as geogrelhas de reforço de aterros, para
garantir a sua estabilidade, e como os geodrenos para acelerar os recalques, em substituição
aos drenos verticais de areia, muito utilizados no passado.
Outros casos podem ser relatados quanto à “discordância” entre camadas de argilas muito
moles e moles, sobrepostas a camadas de argilas médias a rijas, às vezes duras, na Baixada
Santista.
Um deles ocorreu em fins da década de 1940, quando engenheiros do Instituto de Pesquisas
Tecnológicas (IPT), ao estudarem as fundações da travessia do Canal do Casqueiro pela Via
Anchieta, depararam-se com dois horizontes nitidamente distintos de “argilas orgânicas”: o
superior, de consistência geralmente mole, e o inferior, de consistência rija.
Outro caso (Sousa Pinto e Massad, 1978) foi registrado na região da Ilha de Santana ou
Candinha, durante a construção da Via dos Imigrantes, com a ocorrência, abaixo dos 14m, de
camada de argila com SPT da ordem de 5. Em todos os casos, as camadas inferiores
apresentavam-se sobreadensadas, com pressões de pré-adensamento sem relação com o
peso efetivo de terra. Na época, esses achados não tiveram explicações plausíveis e
levantavam a questão da origem real desses sedimentos, respondida em fins da década de
1970 (Suguio e Martin, 1978a, 1981, 1994), com as variações relativas do nível do mar (N.M.)
na origem de sua evolução. Basicamente, dois episódios transgressivos, isto é, de ingressão
do mar rumo ao continente, um no Pleistoceno e outro no Holoceno, deram origem a tipos
diferentes de sedimentos:
a) as areias e argilas transicionais (ATs);
b) os sedimentos fluviolagunares e de baías (SFL);
c) os sedimentos de mangues.
Nos anos seguintes, tornou-se impreterível o estudo das características geotécnicas dos solos
da Baixada Santista, em função de sua gênese.
As argilas superficiais na região apresentam geralmente consistência muito mole a mole, com
elevada sensibilidade: são as argilas de sedimentos fluvioagunares e
de baías (SFL), sobrejacentes, de forma discordante, a sedimentos argilosos mais profundos,
médios a rijos – as argilas transicionais (ATs). Diversas sondagens revelavam essa
“discordância” no final da década de 1940, no caso das investigações geotécnicas para a
construção da ponte sobre o Canal do Casqueiro, na Via Anchieta, e até os nossos dias. Os
principais problemas são:
a) a existência de extensas áreas de manguezais, que acarretam problemas de recalques
excessivos e, não raro, de rupturas de aterros;
b) a necessidade de executar fundações profundas, de elevado custo, para obras de arte,
instalações industriais, edifícios etc.;
c) o custo de materiais de construção tanto para serviços de terraplenagem (aterros de solos
argilosos) quanto para o uso em concreto (areias e materiais pedregosos).
Mesmo nas regiões das planícies costeiras, há camadas de argilas marinhas compressíveis,
subjacentes a estrato arenoso, nas quais se apoiam diretamente as fundações de edifícios. É o
caso da cidade de Santos, onde a maioria dos edifícios sofre recalques de elevada monta e
frequentes desaprumos, causando sérios problemas aos seus moradores.
Condomínio Núncio Malzoni foi o edifico de Santos que ocorreu a maior inclinação.
Construído em 1967, com 17 andares e 55 metros de altura. Sofreu uma inclinação de
2,10 metros.
Figura 02 - O Bloco A do edifício Núncio Malzoni
Fonte: Google Imagens
O Bloco A do edifício Núncio Malzoni, primeiro prédio a ser reaprumado, apresentava 2,1m de
desaprumo, a maior inclinação da orla, e um recalque (rebaixamento) diferencial de 45
centímetros. Apesar dos riscos, chegou a ser atrativo turístico na região. Os seus dezessete
proprietários, que não viam graça na situação, desembolsaram juntos para sua correção R$ 1,5
milhão. Sofrendo inclinação de um centímetro por ano, quando seu estado foi diagnosticado,
em 1995, tinha vida útil estimada de apenas dez anos.
A solução para realinhar os edifícios foi usar macacos hidráulicos. No caso do conjunto Núncio
Malzoni, cada prédio pesava em torno de 6.500 toneladas. Foram necessários catorze
equipamentos hidráulicos para levantar as estruturas. A cada dia, elas subiam cinco milímetros.
Os vãos eram preenchidos com chapas de aço, que serviram de suporte quando se alcançava
o prumo e os macacos eram retirados. Em seguida, foram construídas estrutura de concreto
que ligaram as vigas antigas às novas estacas – essas, apoiadas em uma camada de solo
rochoso a 55 metros de profundidade. “O grande desafio era movê-los sem abalar a estrutura.
Usamos também sete vigas de concreto abraçando os pilares, para que todo o bloco fosse
deslocado, sem trincar”, explica Carlos Maffei, engenheiro civil, professor-titular da USP, que
atuou na recuperação de alguns edifícios – entre eles, os blocos A e B do Núncio Malzoni.