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A sustentabilidade em empreendimentos da economia solidária: pluraridade e

interconexão de dimensões

Autoria: Tatiana Araújo Reis, Ludmeira Meira

Resumo
Este trabalho tem por objetivo propor alguns parâmetros de compreensão da dinâmica da
sustentabilidade em organizações de economia solidária, buscando desenvolver um quadro
analítico que situa a sustentabilidade em relação à diversidade de fatores que influenciam o
fenômeno. Parte-se do pressuposto de que a construção do econômico neste tipo de prática é
permeada por uma pluralidade de lógicas entre a troca mercantil, não mercantil e as diferentes
modalidades de solidariedade, conformando sua dimensão não monetária. Tal consideração
sobre a sustentabilidade situa-se em relação a um marco conceitual específico de tratamento
do tema, em que a discussão sobre economia solidária inscreve-se numa perspectiva de
sociologia e antropologia econômica, que considera que, neste. Neste tipo de abordagem
trabalha-se com uma desconstrução do entendimento convencional do fenômeno econômico
que o reduz ao princípio mercantil. A preocupação é com a apreensão das dimensões social e
política presentes neste tipo de prática, que contribuem para redefinir o sentido do agir
econômico neste âmbito, e assim, os próprios parâmetros da sustentabilidade. O texto sugere,
neste contexto, uma caracterização do tema, a partir da proposta de alguns critérios de
definição das formas de economia solidária, passando por um debate sobre economia popular
e solidária na realidade brasileira e pela aplicação do quadro analítico em um caso concreto.

1. Introdução
Este artigo é baseado nas pesquisas exploratórias realizadas para a dissertação de mestrado
das autoras, em realização na Universidade Federal da Bahia. Apesar do seu caráter
exploratório, sua relevância se manifesta diante da necessidade de compreensão da dinâmica
de sustentabilidade em empreendimentos da economia solidária.
Este estudo se faz oportuno diante da preocupação apresentada por muitos autores sobre a
capacidade de sobrevivência destas iniciativas. Tal necessidade se faz presente diante de um
quadro promissor apresentado pelos empreendimentos da economia solidária, que, apesar de
apresentarem uma certa fragilidade, têm despertado o apoio de ativistas, organizações e
órgãos públicos. Outra preocupação presente refere-se à natureza e significado dos seus traços
sociais particulares, de socialização de bens de produção e do trabalho, que, por sua vez
interfere na gestão dos empreendimentos e, conseqüentemente, na sua sustentabilidade.
Para compreensão deste assunto, inicialmente é realizado um debate sobre as diversas
abordagens que tratam do tema da economia solidária, para em seguida, concentrar-nos na
que optamos por trabalhar, que se insere em uma perspectiva da antropologia econômica e
sociologia econômica que visa descostruir o entendimento de economia reduzida ao princípio
mercantil. Em tal perspectiva, outras dimensões, em destaque para a política e a social,
apresentam-se como relevantes para o entendimento do agir econômico nestas práticas, e o
próprio sentido da sustentabilidade.
A partir desta perspectiva, aliada às principais problemáticas levantadas pelos autores que
tratam do tema, e dos traços que caracterizam os empreendimentos da economia solidária, foi
possível levantar diversos fatores que influenciam na dinâmica de funcionamento destes
empreendimentos, e, por conseguinte, na a sua sustentabilidade. Como resultado deste esforço
construiu-se um quadro analítico para estudo da sustentabilidade, que foi aplicado em uma
pesquisa exploratória numa cooperativa de um bairro periférico de Salvador.

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2. A economia solidária e suas principais abordagens
A emergência deste tema no Brasil nos remete ao contexto dos anos 90, de
aprofundamento do desemprego. Em resposta a esta situação gerada pelas práticas neoliberais,
surgem projetos pontuais de trabalhadores organizados a partir de outra lógica, a da
cooperação. (KRAYCHETE, 2000; CORAGGIO, 2000; GAIGER, 2000; SINGER, 2002)
Vale salientar que o atual cenário político brasileiro tem favorecido a discussão de
alternativas de reinserção do trabalhador, sendo que a economia solidária tem ganhado
destaque com a criação, em 2003, de uma Secretaria Nacional própria vinculada ao Ministério
do Trabalho do Governo Federal1. É possível verificar também a expansão deste fenômeno
através do aumento do número fóruns estaduais e municipais de economia solidária e das
redes criadas com objetivo de fomentá-la, como a rede de Sócio Economia Solidária e a
Associação brasileira de pesquisadores em economia solidária2 - ABPES.
Apesar de já iniciado o debate, não existe um conceito consolidado sobre Economia
Solidária, identificamos na literatura diversas abordagens que classificamos em: alternativa de
modo de vida (ARRUDA, 2000), uma proposta de Economia do Trabalho defendida por
Coraggio (2000, 2003); uma abordagem de alternativa aos modos de produção (GAIGER,
2000; SINGER 2000, 2002, 2003); e uma abordagem que define a economia solidária através
de um olhar antropológico (FRANÇA FILHO e LAVILLE, 2004).
Marcos Arruda (2000) resgata Aristóteles para re-conceituar a economia diferenciando-a
da crematística, modelo adotado pelos economistas tradicionais. Economia seria a arte de
gerir a casa, diferente de crematística que é a preocupação de acumular riqueza. Arruda
(2000) redefine a economia a partir da etimologia da palavra “Oikos, que é a grande casa. Não
só a minha casa familiar, que é muito importante como referencial, mas também cada
comunidade a que pertencemos, o nosso país e a Terra: a grande mãe Terra que nos abriga,
que nos deu origem e que vai receber os nosso restos mortais” (ARRUDA, 2000: p. 205).
Portanto, arruda trata do tema de forma a ampliar o sentido da economia.
A segunda abordagem da Economia Solidária traz a discussão de uma economia do
trabalho que viria complementar a economia de mercado e a economia pública existentes
atualmente. Coraggio (2000, 2003) defende esta abordagem, porém argumenta que sua forma
ainda está em construção. O contexto deste fenômeno surge da crise do capitalismo e se
baseia na solidariedade, um contexto pouco mais restrito do que na proposta de alternativa de
modo de vida. (CORAGGIO, 2003)
A Economia Solidária, para Coraggio (2000, 2003), está relacionada com uma proposta de
economia alternativa baseada no trabalho. Esta Economia do Trabalho viria complementar a
economia publica e a mercantil que hoje dominam nossa sociedade. A base seria a Economia
Popular3, mas a proposta é ir além da simples reprodução da vida biológica, e ser “estrutural
ou conscientemente responsável pela reprodução ampliada da vida4 de todos os membros”
(CORAGGIO, 2003, p. 36).
A economia solidária também pode ser considerada como modo de produção alternativo
ao modelo capitalista, muito presente na obra de Paul Singer. Para o autor, a Economia
Solidária estaria relacionada ao movimento cooperativo. Segundo Singer (2002), a economia
solidária nasceu pouco depois do capitalismo industrial, quando a utilização de máquinas na
produção foi difundida. Esta situação gerou um espantoso e inédito empobrecimento dos
artesãos, que passaram a competir com a organização fabril de forma cooperativa, perdendo,
em seguida, sua dimensão política para organizações sindicais.5
A partir da segunda metade dos anos 70, segundo Singer (2002), o desemprego em massa
ameaça seu retorno, o poder dos sindicatos começa a ser abalado e tem início a flexibilização
dos direitos dos trabalhadores. “Como resultado, ressurgiu com força cada vez maior a
economia solidária na maioria dos países” (SINGER, 2002, p.110).

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Para o autor, a economia solidária é outro modo de produção, cujos princípios básicos são
a propriedade coletiva ou associada e o direito à liberdade individual. A aplicação desses
princípios une todos os que produzem numa única classe de trabalhadores que são possuidores
de capital por igual em cada cooperativa ou sociedade econômica. O resultado natural é a
solidariedade e a igualdade, cuja reprodução, no entanto, exige mecanismos estatais de
redistribuição solidária de renda (SINGER, 2002).
Gaiger (2000) concorda que a Economia Solidária seja considerada como novo modo de
produção, alternativo ao modo de produção capitalista. Ele esclarece que sua visão sobre a
Economia Solidária parte da prática, do estudo das suas formas de manifestação, que no seu
ponto de vista vai além do movimento cooperativo. Gaiger (2000) propõe a mudança no modo
de produção, ou melhor, da forma social de produção (GAIGER, 2000: p. 189). Seu
argumento é de que “o capitalismo reduz a uma parcela mínima aqueles que podem usufruir
das benesses do desenvolvimento. Enquanto que exatamente por se contraporem a isso, as
cooperativas teriam a possibilidade e a tendência a generalizar esses benefícios” (GAIGER,
2000: p. 187).
França Filho e Laville (2004) propõem a análise da economia solidária a partir de um
ponto de vista antropológico que corresponde à quarta abordagem, referencial de nossa
análise. Os autores partem de uma redefinição do próprio conceito de economia. Se ela deve
dedicar-se ao conjunto de atividades que contribuem para a produção e distribuição de
riquezas, o termo economia na atualidade restringe-se ao conjunto de tais atividades exercidas
apenas no âmbito do mercado (FRANÇA FILHO e LAVILLE, 2004). Para os autores, os
economistas deixam esquecidos outros princípios do comportamento econômico que foram
identificados por Karl Polany. Esses princípios seriam o da domesticidade, da reciprocidade,
da redistribuição e do mercado.
Destarte, França Filho e Laville (2004) constatam a existência de quatro formas de
economia, baseados neste pensamento de Polany:
• Uma economia mercantil –fundada no princípio do mercado auto-regulado. A
esta os economistas atuais dedicam seus estudos. A lógica utilitária é predominante
nesta economia pois a relação é orientada pelo valor do bem trocado, portanto são
relações marcadas pela impessoalidade e equivalência monetária;
• Uma economia não mercantil – fundada no princípio da redistribuição. Nesta o
Estado é considerado ator central que se apropria dos recursos para posterior
redistribuição, as relações de trocas são caracterizadas pela verticalização e
obrigatoriedade (pagamento de impostos e tributos);
• Uma economia não monetária – fundada no princípio da reciprocidade e da
domesticidade. Para analisar a lógica desta economia França Filho e Laville (2004)
resgatam a lógica da dádiva, tal como descrita e formulada por Marcel Mauss. As
relações seriam marcadas pela horizontalidade e orientadas pela consolidação dos
laços sociais.
A economia solidária, para estes autores, não seria uma nova forma de economia, mas uma
articulação entre estas economias mercantil, não mercantil e não monetária. Outro ponto
essencial para entender o conceito proposto por eles é o entendimento da existência da
dimensão social, política e econômica na economia solidária. “os grupos organizados
desenvolvem uma dinâmica comunitária na elaboração das atividades econômicas, porém
com vistas ao enfrentamento de problemas públicos mais gerais, que podem estar situados no
âmbito da educação, cultura, meio ambiente, etc. Com isto estamos sugerindo a idéia de que a
economia solidária tem por vocação combinar uma dimensão comunitária (mais tradicional)
com uma dimensão pública (mais moderna) na sua ação” (FRANÇA FILHO e LAVILLE,
2004: p18).

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A origem da economia solidária, para França Filho e Laville (2004), estaria relacionada
com a crise do paradigma fordista e crise do bem-estar social. Eles relacionam os
movimentos associativistas da primeira metade do séc. XIX com uma reação à crise do
trabalho e insatisfação com o sistema público, assim como estaria acontecendo nos dias de
hoje, onde a economia solidária ressurge. Destarte, converge com Singer em relação à gênese
deste fenômeno.
Vale ressaltar que os autores não entendem a crise econômica como único fator de
explicação para a reemergência da economia solidária, tal crise estaria relacionada a uma
“crise de valores da vida humana associada, interrogando o trabalho e suas formas de
organização e produção” (FRANÇA FILHO e LAVILLE, 2004: p. 21). Portanto, existem
pontos em comum entre a proposta de Marcos Arruda (2003) e estes autores.

3. A sustentabilidade em empreendimentos da economia solidária – proposta


de um quadro analítico
A sustentabilidade é um conceito cuja origem provém do debate em torno das questões
envolvendo o meio ambiente, incitado pela preocupação com os recursos naturais, diante da
utilização desenfreada por parte do ser humano. A luta ambientalista na sociedade civil
organizada iniciou-se durante os anos 60 e se organizou nos anos 70, pressionando os
governos contra os absurdos ambientais que ocorriam à época. (MILANEZ, 2003). A inserção
da dimensão ambiental na agenda internacional, segundo Sachs (2003), foi decorrente da
Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em
1972. O conceito de sustentabilidade, segundo Capra (2003, p. 237), surgiu no começo da
década de 1980, entendendo “sociedade sustentável como aquela que á capaz de satisfazer
suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras”. A
preocupação da ONU com o fracasso das ações iniciais em conter a crise, a fez criar, em
1883, a comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), e
encomendar um estudo que foi apresentado em 1987 com o nome de Nosso Futuro Comum,
também conhecido como relatório Brundtland, onde aparece pela primeira oficialmente o
termo desenvolvimento sustentável (CAPRA, 2003; MILANEZ, 2003; GUARIM, 2002,
OLIVEIRA, 2002), como sendo a capacidade de “atender às necessidades do presente sem
comprometer a capacidade das gerações futuras de atenderem às suas próprias necessidades”.
(CAPRA, 2003, p. 238). Neste relatório, o desenvolvimento sustentável é visto em seu sentido
mais amplo, tendo como alguns dos objetivos encorajar um estado de harmonia entre os seres
humanos, incluindo certa coesão social, e a harmonia entre o homem e a natureza.
A necessidade de compreender os fenômenos sociais de forma mais completa,
abandonando o antigo paradigma que ainda influencia os homens, os líderes de Estado,
instituições e empresas, que interpreta a realidade de modo mecanicista, em unidades isoladas
e independentes6 é defendido por Capra (1996, p. 25). Utilizando o conceito de ecologia
profunda, o autor propõe como um novo paradigma para entender a inter-relação entre todos
os fenômenos sociais, independente da distância espaço-temporal. Esta é uma visão holística
que recusa a fragmentação da realidade em partes dissociadas.
A economia solidária contem elementos do novo paradigma social abordado por Capra,
uma vez que evidencia a coexistência de lógicas econômicas distintas do modo de produção
hegemônico – capitalismo. Nos empreendimentos da economia solidária, esta coexistência de
lógicas, fazem com que os empreendimentos sejam geridos de um modo particular, o que, por
sua vez, interfere na forma como se define a sustentabilidade em tais empreendimentos. Ou
seja, nos empreendimentos da economia solidária, os fatores que influenciam na sua
sustentabilidade, do mesmo modo que na natureza, são complementares entre si. Sua
compreensão não tem como se dar isoladamente.

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Mas do que se trata a sustentabilidade em empreendimentos da economia solidária afinal?
Para refletir sobre relevante tema, é preciso pensar que a sustentabilidade relaciona-se à
finalidade dos empreendimentos e os meios para a sua realização. Não está relacionada
apenas aos aspectos econômicos, ou à eficiência econômica, mas também, como Coraggio
afirma (2003, p. 95), a eficiência social, entendida como “a reprodução das melhores
condições possíveis, tanto materiais como simbólicas da vida em sociedade”. Aspectos
econômicos, sobretudo quando se pensa em iniciativas empreendidas em busca de geração de
trabalho e renda, são fundamentais para a consolidação dos empreendimentos, no entanto, o
social e o político também terão uma influência significativa na gestão do empreendimento e
na sua sustentabilidade. (FRANÇA FILHO e LAVILLE, 2004; COSTA, 2003; TIRIBA,
2000; SEI, 2004). Tais dimensões estão associadas entre si, podendo ser mais relevante uma
ou outra num dado momento. Para a análise da sustentabilidade em empreendimentos como
os da economia solidária, Santos e Rodríguez (2002, p. 64) também destacam a importância
de se considerar múltiplos fatores para a sustentabilidade dos empreendimentos, afirmando
que “ainda que a produção seja uma parte essencial das iniciativas porque providencia o
incentivo econômico para a participação dos atores, a decisão de empreender um projeto
alternativo e a vontade diária de o manter dependem igualmente das dinâmicas não-
econômicas – culturais, sociais, afetivas, políticas, etc. – associadas à atividade de produção.
Neste sentido, as alternativas são holísticas e seu êxito depende em parte de processos
econômicos e não econômicos dentro dela se sustentam mutuamente”.
A economia solidária apresenta-se como uma possibilidade de reversão do processo
ocorrido nos primórdios do capitalismo, em que ocorreu a separação entre os trabalhadores e
seus meios de produção, gerando uma alienação e submissão ideológica do proletariado e sua
conversão em mercadoria adquirida destinada ao uso do capital. (CORAGGIO, 2003;
SANTOS, 2002; SINGER, 2002, GAIGER, 2003). As experiências do que Gaiger (2003, p.
193) chama de “solidarismo econômico” teriam a capacidade de reiteração da consciência
alienada, tanto em termos de ação, como em relação a finalidade. Para o este autor, a
autogestão e a cooperação são acompanhados por uma reconciliação entre o trabalhador e as
forças produtivas que detém e utiliza, sendo sua satisfação obtida não apenas em relação ao
aspecto monetário ou material. Singer (2002, p. 21) acrescenta que a autogestão teria como
principal mérito não a eficiência econômica, também necessária, mas o desenvolvimento
humano que proporciona a seus participantes.
A sustentabilidade neste estudo, diante do que foi exposto, é entendida como a capacidade
que as organizações têm de se manter em funcionamento cumprindo os objetivos a que se
propõe, em consonância com a filosofia da economia solidária. Não está relacionado com o
resultado financeiro exclusivamente ou com a capacidade de gerar receita dentro da
organização que seja suficiente para cobrir os custos operacionais e obter sobra, seja através
da venda de produtos ou pela prestação de serviços, mas também com o resultado político e
social das suas ações. Tem um caráter mais amplo, sobretudo no âmbito da economia
solidária. Está relacionada com uma diversidade de fatores que interferem na sua viabilidade e
no seu projeto político.
De acordo com França Filho e Laville (2004), existem cinco grandes traços que permitem
caracterizar uma iniciativa como sendo de economia solidária: pluralidade de princípios
econômicos; autonomia institucional; democratização dos processos decisórios; sociabilidade
comunitário-pública; finalidade multidimensional. Estes traços característicos, somados às
principais limitações e desafios levantados pelos autores que abordam o tema da economia
solidária, levando em conta ainda a perspectiva da economia solidária enquanto economia
plural, em conjunto com os outros aspectos relativos à economia solidária, tais como

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contexto, tipo de organização e dificuldades, fornecerão subsídios para a compreensão da
sustentabilidade e suas possíveis dimensões.
Existem inúmeros fatores que influenciam na gestão dos empreendimentos da economia
solidária, e, consequentemente, na sua sutentabilidade. Com o intuito de estudar os diversos
fatores que influenciam na sustentabilidade dos empreendimentos da ES, foi necessário
dividi-la em três dimensões de análise: econômica, social e política. Neste sentido, busca-se
analisar a contribuição de cada dimensão para a sustentabilidade dos empreendimentos da
economia solidária. O conjunto de dimensões e indicadores compõe o quadro analítico. Este,
além de fornecer elementos para a compreensão da sustentabilidade, interfere no plano da
gestão das iniciativas da Economia Solidária, uma vez que a sustentabilidade está
profundamente relacionada com a gestão.

QUADRO ANALÍTICO PARA ANÁLISE DA SUSTENTABILIDADE


DIMENSÃO COMPONENTES INDICADORES
Econômica Mercantil Venda produtos/serviços
Não mercantil Subsídios governamentais (nível institucional)
Subsídios não governamentais (nível
institucional)
Doações monetárias (nível individual)
Não monetário Trabalho militante
Doações não monetárias (móveis, equipamento,
utensílios)
Assessoria técnica (contábil, legal, gestão)
Qualificação profissional, técnica e gerencial
Formação sócio-política (autogestão,
cooperativismo, economia solidária)
Práticas reciprocitárias (ações comunitárias,
mutirões, formas de troca/dádiva)
Social Construção do vínculo Natureza do vínculo / padrão de sociabilidade
associativo
Grau de coesão social
Política Nível interno Grau de democracia interna
Grau de comprometimento
Capacidade efetiva de gestão
(habilidade técnica/gerencial e acesso a
tecnologia)
Controle dos meios de produção
Nível institucional Existência de ação pública
Nível de articulação de redes
Grau de autonomia institucional

A Dimensão econômica
Para compreensão da dimensão econômica da sustentabilidade em empreendimentos da
economia solidária, é importante retomarmos o conceito de economia plural discutido na
abordagem da antropologia econômica de França Filho e Laville (2004). Tal como Polany
defende, existem outros princípios do comportamento econômica presentes na nossa
sociedade. Neste trabalho, a dimensão econômica compreende os recursos financeiros ou não
financeiros obtidos pelas organizações que interferem na sua sustentabilidade. Relaciona-se

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com um dos traços característicos das iniciativas da Economia Solidária identificado por
França Filho e Laville (2004): a pluralidade de princípios econômicos.
Componente mercantil. O componente mercantil atua em interface constante com o
mercado, tendo como indicadores para análise a receita proveniente da venda de produtos
e/ou serviços, e sua importância para cobrir os custos do empreendimento e obter sobras. A
comercialização é considerada por muitos autores como uma das dificuldades enfrentadas
pelos empreendimentos da economia solidária (SINGER, 2002; KRAYCHETE, 2000; SEI,
2004; BUNCHAF, 2004; MOURA E MEIRA, 2002). Tendo em vista que tais receitas
dependem de uma comercialização realizada de forma eficiente, para uma análise mais
profunda, se faz necessário compreender as principais dificuldades que se colocam neste
sentido, tais como a ausência de experiência, dificuldade de encontrar compradores, manter a
periodicidade do fornecimento, não ter escalas de produção para clientes que compram em
grande quantidade, exigência de prazos para pagamento por parte dos clientes, dificuldade em
cumprir prazos de entrega, falta de capital de giro, etc. Ainda que as dimensões política e
social sejam de fundamental importância para a sustentabilidade em um empreendimento da
economia solidária, os grupos precisam, diante da sua condição de extrema fragilidade,
desenvolver rapidamente a sua dimensão econômica como um fator relevante para mantê-los
unidos (COSTA, 2003; JESUS et al, 2004; SEI, 2004).
Componente não mercantil. Um dos aspectos fundamentais para o funcionamento dos
empreendimentos da economia solidária, particularmente nas cooperativas populares, tanto
para o seu surgimento ou início em operação, como na etapa inicial, identificada como o
momento até o qual o empreendimento consegue gerar receita própria, suficiente para cobrir
os custos e manter uma regularidade de rendimentos que garantam sua viabilidade e
sobrevivência futura, é o apoio externo, fator destacado por diversos autores (SANTOS e
RODRÍGUEZ, 2002; SINGER, 2002; CORAGIO, 2003; KRAYCHETE, 2000; SEI, 2004,
BUNCHAFT, 2004; FSM, 2004). O componente não mercantil representa os recursos
monetários provenientes de pessoas físicas ou jurídicas entregues às iniciativas sob forma de
doação, podendo ser provenientes da esfera estatal ou da sociedade civil. Para compreensão
deste componente foram analisados três indicadores: dois no nível institucional, através de
subsídios governamentais e subsídios não governamentais e um no nível individual,
representado pelas doações de pessoas físicas.
Componente não monetário. O terceiro componente da dimensão econômica é o não
monetário, ou seja, não envolve dinheiro. São formas de ajuda concedida aos
empreendimentos da economia solidária através de recursos não monetários, que interferem
na dinâmica da gestão dos empreendimentos e, por conseguinte, na sua sustentabilidade. Para
compreender este componente, alguns indicadores foram levantados para análise: trabalho
militante; doações não monetárias; assessoria técnica (contábil, legal, gestão); qualificação
profissional, técnica e gerencial; formação sócio-política em temas como autogestão,
cooperativismo, e economia solidária a existência de práticas reciprocitárias. Em muitos
empreendimentos pode ser verificada a presença de trabalho militante, compreendido como
atividades realizadas por indivíduos espontaneamente no empreendimento. São pessoas que
oferecem seu apoio e ajuda sem receber remuneração financeira por isto, mas por acreditarem
em uma causa. As práticas reciprocitárias são atividades realizadas de forma individual e/ou
coletiva em prol do outro ou da coletividade, tais como ações comunitárias e mutirões.
Dimensão social
Torna-se importante no funcionamento das organizações de economia solidária a dimensão
social, uma vez que os aspectos sociais internos, com destaque os laços sociais, interferem
decisivamente na gestão dos empreendimentos, e, assim, para a sua sustentabilidade. Nestes
empreendimentos, os vínculos mútuos são responsáveis pela definição do processo social de

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trabalho e de produção. (GAIGER, 2003). Em outras palavras, as relações sociais determinam
as relações de trabalho (CORAGGIO, 2003). Assim, a atividade econômica não consegue se
dar separado do tecido social, ou, dito de outro modo, o econômico é encrastado no social.
Para Andion (2001), tanto a disponibilidade de meios financeiros como a reciprocidade e as
relações de proximidade parecem constituir elementos essenciais para a perenidade em
organizações do tipo solidário. Para compreensão da dimensão social da sustentabilidade de
empreendimentos da Economia Solidária, analisa-se o componente construção do vínculo
associativo através dos seguintes indicadores: a natureza do vínculo/padrão de sociabilidade e
grau de coesão social do grupo. O objetivo é compreender como este vínculo interfere no
funcionamento da organização e para a sua sustentabilidade.
Natureza do vínculo/padrão de sociabilidade. A natureza do vínculo/padrão de
sociabilidade diz respeito à maneira como as pessoas se relacionam dentro da organização, ou
seja, como são as relações sociais no interior do empreendimento. O vínculo associativo é o
que diferencia os empreendimentos da economia solidária das empresas capitalistas. As
questões levantadas para o estudo deste indicador visam apontar se o vínculo é mais
contratual formal ou pessoal informal, ou seja, se a sociabilidade é mais secundária
(impessoal), mais primária (pessoal, comunitária), ou um misto das duas. Isto fornecerá
elementos para saber se o vínculo é mais cooperativo ou competitivo, o que irá influenciar a
dinâmica interna dos empreendimentos, e, consequentemente, sua sustentabilidade.
Grau de coesão social. Outro indicador para análise do componente construção do vínculo
associativo é o grau de coesão social, visando verificar se é alto, baixo ou regular. É possível
que a coesão social interfira na dinâmica interna da organização, com reflexos no processo
produtivo interno e no empenho dos trabalhadores. Para Gaiger (2003), o interesse dos
trabalhadores em garantir o sucesso do empreendimento estimula maior empenho com o
aprimoramento do processo produtivo, a eliminação de desperdícios e de tempos ociosos, a
qualidade do produto ou dos serviços, além de inibir o absenteísmo e a negligência.
Dimensão política
A dimensão política da sustentabilidade está relacionada com a forma de ação política da
organização, tanto interna como externamente. Para compreender os componentes, é preciso
analisar antes de tudo o componente da autogestão, visto que ele interfere não apenas na parte
interna da organização. A autogestão é um processo através do qual todos os indivíduos são
responsáveis pela gestão do empreendimento do qual fazem parte. A participação do sujeito
se dá de forma democrática e consciente em relação ao coletivo. A autogestão, portanto, está
diretamente relacionada com a ideologia da Economia Solidária como uma forma de
emancipação do homem, ou seja, da sua tomada de consciência crítica no sentido da sua
formação como um cidadão integral. O maior grau de democracia apresentado em tais
iniciativas justifica o seu valor político. No âmbito externo, diz respeito à relação do
empreendimento de economia solidária com o seu entorno. Para compreensão da dimensão
política da sustentabilidade em empreendimentos solidários foi necessário apresentar dois
componentes, um no nível interno e outro no nível institucional.
Nível interno. Para verificar compreensão do componente interno da dimensão política da
sustentabilidade, foram levantados quatro indicadores de análise, que, apesar de apresentados
em separado, estão profundamente imbricados: grau de democracia interna, grau de
comprometimento, capacidade efetiva de gestão e controle dos meios de produção. O grau de
democracia interna é um indicador para a autogestão, visto que representa a participação de
todos na gestão da organização, ou seja, abre oportunidade para que todos possam opinar e
gerir o empreendimento. A gestão democrática, que se relaciona com um dos traço
característico apontado por França Filho e Laville (2004) que é a democratização dos
processos decisórios. Nestas iniciativas o mecanismo de decisão interna é baseado na

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participação democrática dos seus associados, sendo a gestão feita pelos próprios membros. A
gestão realizada de forma democrática, pode, por exemplo, tornar o processo de tomada de
decisões mais lento e as atividades realizadas na organização menos eficientes, impactando no
resultado da organização. (SANTOS e RODRÍGUEZ, 2002) Por outro lado, pode ainda fazer
com que as pessoas se sintam mais engajadas e empenhem mais, afetando positivamente na
sustentabilidade organizacional (GAIGER, 2003). Um grande desafio do trabalho associativo
é alcançar a eficiência através de processos democráticos, tendo por critério não apenas o
retorno econômico mas, também, o aumento da participação nos debates e decisões, com
conhecimento de causa, de todos os envolvidos no processo. (SEI, 2004, p. 27)
Outro indicador levantado é o grau de comprometimento, que visa verificar se os
indivíduos estão ou não comprometidos com os objetivos do grupo, que neste caso
representam os objetivos da organização. Isto interfere diretamente na participação e
cooperação, afinal, é possível que apenas os que apresentarem um certo grau de
comprometimento participem efetivamente da gestão da organização e cooperem em busca
dos objetivos do grupo. Para Gaiger (2003, p. 192), a cooperação é importante para os
resultados do empreendimento, por ser capaz de “converter-se no elemento motor de uma
nova racionalidade econômica, apta a sustentar os empreendimentos através de resultados
materiais efetivos de ganhos extra econômicos”.
A capacidade efetiva de gestão representa outro aspecto que influencia na sustentabilidade
dos empreendimentos da economia solidária. A gestão no âmbito dos empreendimentos da
economia solidária apresenta uma interface técnica, política e social, o que, demonstra que
nela estão presentes elementos que extrapolam a dimensão meramente instrumental. Assim, a
gestão nestes empreendimentos deve ser concebida como um processo político organizacional
desenvolvido no interior de uma organização econômica, que, por ser solidária, tem como
pressupostos a singularidade do voto, a democracia, a cooperação e equidade social, portanto,
aspectos do empreendimento que configuram e requerem participação, o que reafirma o seu
caráter político. Para o funcionamento e sustentabilidade dos empreendimentos da economia
solidária, se faz necessária a presença de uma capacidade efetiva de gestão.
Nível institucional. O segundo componente presente na análise da dimensão política da
sustentabilidade está no nível institucional, representando a ação ou a interação da iniciativa
com o meio ambiente externo. Este componente se relaciona com dois traços apontado por
França Filho e Laville (2004) como definidores dos empreendimentos da economia solidária:
“sociabilidade comunitário-pública”, segundo o qual afirma-se que tais iniciativas possuem
um modo de sociabilidade peculiar, ao mesclarem padrões comunitários de organização e
relações sociais com práticas profissionais, e “finalidade multidimensional” que permite a
compreensão que, ao lado da dimensão econômica, a organização internaliza uma dimensão
social, cultural, ecológica e política, no sentido de projetar-se num espaço público.
A existência de ação pública é um dos indicadores do nível institucional da dimensão
política da sutentabilidade. Representa a atuação da iniciativa no espaço público em que se
situa, ou seja, a sua forma de ação na realidade que está inserida. É a extrapolação da
autogestão interna para o ambiente externo à organização. Além de ser uma das características
das iniciativas da Economia Solidária, tendo em vista seu objetivo político, é importante para
que a organização seja legitimada na realidade em que atua, o que interfere em sua
sustentabilidade, já que, sendo aceita pela comunidade, a organização pode obter sua
cooperação, direta ou indiretamente.
O nível de articulação em redes é outro indicador importante para análise da
sustentabilidade, pois representa uma sociabilidade externa de modo que as iniciativas
cooperem mutuamente entre si, formando uma rede que englobe produtores e consumidores,
promovendo o consumo e as trocas. A articulação dos empreendimentos com outras

9
organizações é fundamental para a sua sobrevivência (ARRUDA, 2000, SANTOS e
RODRÍGUEZ, 2002; SINGER, 2002, CORAGIO, 2002, KRAYSCHETE, 2000). Segundo
Capra (2003, p. 242), “uma empresa sustentável estaria inserida numa ecologia das empresas,
na qual os subprodutos de uma empresa seriam os recursos de outra”.
A autonomia institucional é outro indicador levantado para o nível institucional da
sustentabilidade. Segundo França Filho e Laville (2004) a autonomia institucional é um dos
traços que caracterizam os empreendimentos solidários, que significa que as iniciativas não
são sujeitas ao controle de outras instituições e possuem uma gestão própria e independente.
Isto, entretanto, não exclui a possibilidade de parceria ou arranjos institucionais de
cooperação, desde que a autonomia seja preservada. A autonomia se relaciona diretamente
com a autogestão, visto que representa a manifestação autêntica do poder de decisão dos
cidadãos das organizações em relação aos mais diferentes assuntos relacionados com as
iniciativas solidárias. A busca pela autonomia, para Costa (2003, p. 91), passa
necessariamente pela qualificação dos trabalhadores, tanto na esfera técnica relativa ao
domínio dos seus processos produtivos peculiares, quanto na esfera administrativa e gerencial,
relativa à capacidade de gestão, de planejamento, de organização interna e de articulação
externa do empreendimento, e, a estes fatores, acrescenta-se a capacitação social e política. A
autonomia relaciona-se também com a dependência do empreendimento em relação aos
recursos externos e o papel do financiador na gestão do empreendimento e nas suas decisões.
Aspectos culturais estão presentes em cada dimensão de análise e por esta razão optamos
por não tratá-la de forma separada. Ou seja, ela apresenta um caráter transversal, perpassando
cada dimensão de análise. A solidariedade e a reciprocidade, valores característicos dos
empreendimentos da economia solidária, interfere em cada componente do quadro de análise,
influenciando, por conseguinte no modo como o empreendimento é gerido, na sua lógica de
ação, e, por conseguinte na sua sustentabilidade.
Apesar de terem sido apresentadas de forma separada, a gestão dos empreendimentos da
economia solidária sofre influência das diversas dimensões presentes no quadro analítico,
ainda que de forma diferente em cada empreendimento em um determinado período. Assim, o
que define a sustentabilidade em empreendimentos da economia solidária é a articulação entre
lógicas e dimensões. É o que Costa (2003, p. 41) chamou de “ponte” entre a lógica do
mercado (reprodução do capital) e a lógica da solidariedade (divisão), articulando uma
combinação em que eles reforçam-se reciprocamente, e que, ao acrescentarmos, os aspectos
políticos, garantem a viabilidade do empreendimento.

4. A aplicação do quadro analítico em um caso concreto: a Coopaed


Apresentaremos nesta parte como o quadro analítico pode ser utilizado na análise da
sustentabilidade em um caso prático. A pesquisa realizada ainda está em fase exploratória.
Para levantamento dos dados foram realizadas entrevistas a alguns membros envolvidos, a
observação in loco das atividades desenvolvidas pela cooperativa e visita ao bairro.
A Cooperativa Múltipla de Produção de Alimentos Engenho Doce (COOPAED), é uma
cooperativa que fornece alimentos para eventos e mantém três cantinas em duas unidades da
Universidade Salvador (UNIFACS). Suas atividades tiverem início no início de 2004, a partir
de um projeto de geração de renda para a comunidade do Engenho Velho da Federação,
bairro circunvizinho a uma das unidades desta universidade. Tal projeto foi empreendido pelo
Escritório Público de Pesquisas e Apoio ao Desenvolvimento Local e Regional (EPADE), um
grupo de pesquisa em atividade na UNIFACS, que procura simular, em conjunto com outros
departamentos da universidade, a criação e desenvolvimento de iniciativas de economia
solidária que promovam trabalho e renda a pessoas de comunidades carentes.

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Antes deste formato produtivo assumido pela COOPAED, é importante compreender que
suas origens remontam a um momento muito anterior, em que uma mãe de santo, a Mãe Elza,
do terreiro de candomblé Obatoni, diante da grande realidade de violência e tráfico que
vitimava os jovens da comunidade da Baixa da Égua, localizada dentro do Engenho Velho da
Federação, começou a buscar alguma forma, que ainda não se sabia qual, de geração de
trabalho e renda para que os jovens não se perdessem para o tráfico. Seis membros
começariam nessa iniciativa, dos quais dois permanecem ainda hoje, perfazendo um total de
11 integrantes atualmente.
Da união entre a iniciativa de Mãe Elza e da EPADE, surgiu a possibilidade da
concretização deste sonho através da formação de uma cooperativa de jovens que faria
produtos típicos da comunidade para serem vendidos na universidade. Esses produtos, a
princípio, milho cozido na espiga, amendoim torrado e salada de fruta, eram produzidos na
comunidade e carregados a pé até o ponto de venda, localizado do lado de fora da
universidade, em mesas de plástico, sem infra-estrutura de apoio.
Em 5 de fevereiro de 2004, depois de muita luta, foi disponibilizada pela Unifacs, por
intermédio da EPADE, uma cantina para que fossem comercializados e produzidos os
alimentos, com água e energia, sem custos para a Coopaed. Isto representou um grande
avanço em termos de infra-estrutura física, mas um problema se colocou para os cooperados:
a falta de equipamentos essenciais, como freezer, geladeira e fogão para a produção e
armazenagem dos produtos. Aos poucos a Coopaed foi conseguindo equipar o espaço, através
de empréstimos, doações e muito trabalho. Ao lado disto foi sendo necessário ajustar a oferta
dos produtos à real demanda dos alunos, surgindo novos itens a venda. Depois, com o tempo,
conseguiram mais outras, perfazendo um total de três atualmente.
Na perspectiva dos cooperados, o empreendimento está em fase de expansão, e com o
tempo vão conseguir obter renda através dele, o que até hoje, apesar do apoio recebido, não
foi possível, visto que a maior parte do que ganharam vem sendo utilizado para comprar os
materiais necessários a operacionalização do empreendimento. Esta decisão foi tomada de
comum acordo.
Após mais de um ano de funcionamento, alguns fatores podem já ser verificados como
decisivos no caminho ainda em curso em busca da sustentabilidade deste empreendimento.
Tal análise já levanta alguns elementos para compreensão da dinâmica da sustentabilidade no
âmbito da economia solidária, utilizando o quadro analítico como referência.
Do ponto de vista econômico, a dimensão mercantil, representada pela venda de produtos
e serviços, é suficiente para pagar as despesas, no entanto não é suficiente para obter sobras
de forma a garantir um rendimento regular para cada cooperado. Porém, quando alguém
necessita, é comum acordo do grupo que se retire de cooperativa dinheiro da cooperativa para
as demandas eventuais de cada um. Há uma preocupação muito grande com as pessoas. A
lógica que rege a distribuição das sobras é particular. Por um lado não é igualitária, uma vez
que nem todo mundo recebe todo mês. Mas é de certo modo “socialmente justa”, uma vez que
é oferecida a quem mais precisa em um dado momento. Segundo um dos integrantes da
cooperativa, não importa a necessidade que seja, basta dizer que está precisando, nem que seja
para ir a um show. Para a sobrevivência, diante da falta de renda regular, os cooperados
recorrem a outros trabalhos ou ao auxílio dos pais. Os cooperados recebem vale transporte e
alimentação da COOPAED.
Uma das dificuldades apresentada na comercialização é a ausência do capital de giro, que
faz com que as compras sejam realizadas diariamente e em pequena escala, fazendo com que
os custos sejam maiores do que se fosse comprado em maior quantidade.
Em relação à dimensão não mercantil, o que se percebe é que a origem dos recursos para
a fundação foi muito restrita, obtida através dos próprios membros, de empréstimos junto à

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EPADE e doações de pessoas físicas e doação de um sindicato. Sem estes, dificilmente seria
possível a operacionalização das atividades. Recentemente a foi aprovado um projeto da
Petrobrás, que prevê apoio técnico, formação profissional, investimento em equipamentos e
utensílios, bolsa para os cooperados e formalização da cooperativa.
É importante destacar que a assessoria da EPADE foi presente quotidianamente durante os
três primeiros meses de atividade, ficando quase um ano afastada tendo retornado no início de
2005, por meio do projeto da Petrobras.
A dimensão não monetária foi decisiva para o início e continuidade das atividades, a
começar pelas instalações cedidas pela Unifacs, sem ônus para a cooperativa, dentro de uma
perspectiva de projeto social. Junto com as instalações cedidas veio um outro elemento
fundamental: o público-alvo representado pelos alunos. Outro apoio decisivo foi o oferecido
pelo Terreiro Obatoni, que permitiu a utilização do espaço para as atividades iniciais, doando
materiais, utensílios e equipamentos. A cooperativa recebeu apoio semelhante da comunidade,
que a percebe como uma referência, uma iniciativa que oferece capacitação aos jovens da
comunidade numa perspectiva de geração de trabalho e renda e que atua nas questões locais.
Até mesmo os comerciantes do bairro colaboram através da doação de frutas e verduras que,
apesar de ainda estarem próprias para o consumo, estão muito maduros, de difícil
comercialização. As doações em alimentos muitas vezes são entregues aos cooperados que
mais necessitam naquele momento. O empreendimento conta ainda coma a ajuda dos
familiares dos cooperados. Quando tem uma encomenda muito grande, o apoio - pessoas da
comunidade que ajudam a cooperativa com ou sem receber remuneração em troca - entra em
cena ajudando no que for preciso.
Além disto, em termos de formação técnica e capacitação profissional, o fato de participar
de uma cooperativa tem proporcionado a muitos de seus integrantes a oportunidade de
participar de cursos, que fora dela não teria acesso ou não poderiam pagar. Recentemente, por
exemplo, tiveram curso de design e informática, que fez com que passassem a analisar a
aparência dos produtos vendidos de uma melhor forma. A participação em fóruns, feiras e
eventos, muitas vezes fora da cidade, também contribui para a formação política e profissional
dos integrantes, o que interfere na dinâmica organizacional. Estes aspectos indicam como
ganhos não monetários motivam as pessoas e fazem o empreendimento continuar em busca da
sustentabilidade. Como afirmou um dos integrantes, teve um ano que a gente sente que
passou por uma grande escola. E que o dinheiro não paga o aprendizado. Porque se a gente
fosse tá pagando curso por aí para tomar não teria condições de tomar. E o que aprendeu
este ano todo, quem sair hoje monta qualquer negócio e toma conta. É só botar em prática
tudo que aprendeu
Em relação à dimensão social, de acordo com entrevistas, o vínculo estabelecido é mais
pessoal do que profissional, o que, segundo depoimento, ajuda nas atividades da cooperativa.
Isto se justifica em face da alta coesão social e forte sentimento de pertencimento ao grupo
que os membros apresentam. Estes aspectos fazem com que ocorra um maior empenho e
dedicação na busca pelos objetivos da cooperativa, vista como um empreendimento coletivo
que depende da contribuição de cada um no todo. Os laços sociais são de fundamental
importância para as pessoas na COOPAED, e fazem com que se sintam amparadas. Um
exemplo dado pelo grupo foi uma situação em que um cooperado adoeceu e tiraram dinheiro
do movimento do dia para comprar remédio para ele, algo que ele agradeceu intensamente e
fez com que os outros cooperativados se sentissem amparados uns pelos outros
reciprocamente, pois sabiam que na mesma condição tinham a quem apelar e vice-versa. As
decisões tomadas dentro da cooperativa funcionam, assim, sob uma lógica diferenciada, em
que não apenas o econômico é considerado.

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Na dimensão política, no âmbito interno, alguns aspectos merecem destaque, pois
influenciam na dinâmica organizacional e, consequentemente, para a sua sustentabilidade. O
primeiro deles é em relação ao grau de democracia interna. Na COOPAED, as entrevistas
revelaram que o processo interno é democrático, e as decisões buscadas por meio de
consenso, e, quando não é possível, por votação, requerendo metade mais um voto para
decisão. As atividades mais rotineiras podem ser levadas adiante sem passar necessariamente
por decisões coletivas. Mas decisões mais sérias, como a exclusão de um membro, ou decisão
de um representante para viagem, precisam de três reuniões para que a decisão seja tomada
após bastante reflexão. Em relação ao comprometimento, segundo depoimento, diante da
batalha que enfrentam a cada dia e a garra que apresentam não há como não dizer que o grupo
é comprometido. No que se refere à capacidade efetiva de gestão, apesar de ter conseguido
levar adiante as atividades da cooperativa por quase um ano, período no qual esteve sem
assessoria constante, ainda se faz necessário treinamento técnico para as atividades da
cooperativa, e, além disto, alguns aspectos gerenciais. Por exemplo, os registros são feitos em
papéis e cadernos, o que faz com que, no momento de consolidar as informações para o
balanço mensal, demorem quase dois dias. O uso do computador facilitaria este tipo de
trabalho. Outra necessidade ainda presente são equipamentos e utensílios adequados às
operações. Os meios de produção estão sob o controle da cooperativa. Outro aspecto
observado foi que, ainda com as limitações existentes, há uma grande preocupação com a
qualidade dos produtos que são vendidos por uma preocupação com o bem-estar do
consumidor, o que interfere na escolha do material a ser utilizado na produção dos alimentos
e, consequentemente, nos custos e no resultado financeiro.
Já no âmbito institucional da dimensão política, que diz respeito a relação da cooperativa
com o meio ambiente externo, percebe-se que a cooperativa se preocupa bastante com a
comunidade e que o reconhecimento da comunidade contribui decisivamente para a sua
sustentabilidade. Tal apoio da comunidade é reflexo da ação positiva que a COOPAED tem
realizado, sobretudo numa perspectiva de geração de trabalho e renda, além de propiciar uma
capacitação profissional para os jovens e incentivar sua participação nas questões do bairro.
Um dos exemplos da ação pública da cooperativa aconteceu recentemente, durante o período
de fortes chuvas na cidade, quando o empreendimento ajudou as vítimas de desabamento no
bairro doando alimentos.
O empreendimento busca, além de gerar renda para os cooperados, expandir os benefícios
para outros moradores do bairro. Por exemplo, dois dos instrutores da capacitação profissional
realizada por meio do projeto da Petrobras (em pizza e salgados), foram selecionados no
bairro. Além disto, tenta-se, na medida do possível, realizar as compras no bairro.
O apoio da comunidade tem sido decisivo ao funcionamento da cooperativa. Um dos
exemplos emblemáticos na sua história foi em certa ocasião que fecharam uma encomenda de
2.000 litros de suco, sem ter refrigeradores para armazenagem nem liqüidificadores para
produção. Alguns terreiros do bairro emprestaram os liqüidificadores e disponibilizaram
espaço nos seus refrigeradores para estocagem. Segundo Kátia o mais difícil foi sair
recolhendo de porta em porta este material, sendo necessário fretar uma combi no dia seguinte
para tanto.
Com relação à articulação da Copaed com outras organizações, as entrevistas revelaram a
sua fundamental importância durante o caminho percorrido pela cooperativa, sobretudo
durante o período em que esteve sem um acompanhamento técnico da EPADE, a relação
mantida entre o empreendimento e outras organizações. Em relação ao apoio da assessoria
técnica, um dos cooperados afirmou: “Hoje a gente vê que fez falta. Mas se eles não tivessem
saído, a gente não mostraria a nossa capacidade. A gente conseguiu provar que sem
assessoria a cooperativa conseguiu se firmar e chegar até aqui. E isso é muito importante

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porque tem cooperativas que quando a assessoria deixa, ela cai, eles se desmotivam e param.
E a gente sem assessoria conseguiu fazer muito mais. Provou uma capacidade que nem a
gente sabia que tinha. De buscar os parceiros, buscar pessoas para ajudar. O que não sabia,
buscava outra pessoa, ia pra a Coopertane, ia pro Fórum, buscava a ADS. Acabou pegando
parceiros como a SESI, como o sindicato, como a ADS, como a Abong, porque o que não
sabia fazer buscava alguém que sabia. Então se tivesse ficado só com eles, não tinha ido
buscar outros parceiros. E hoje a cooperativa tem um grande número de amigos”. Assim,
além dos parceiros da comunidade do Engenho Velho da Federação, a cooperativa participa
do Fórum de Economia Solidária, do Fórum Comunitário de Combate à Violência, do Fórum
de Cooperativas e se relaciona com e com diversas cooperativas de Salvador, tais como a
Coofe, a Coopertane e a Coopercorte e outras organizações da sociedade civil como o
Sindicato dos Bancários, nos aspectos jurídicos, a Cipó e a Conexão solidária, etc. Sempre
que possível, a Copaed privilegia a compra na rede solidária.
Em relação à autonomia, o que se percebe é que a cooperativa, durante o período em que
esteve sem assessoria tinha uma grande autonomia em relação às suas ações. Um dos
membros, ao ser questionado sobre a relação entre o período com e sem assessoria, disse: “o
que teve de bom foi que trouxe para o grupo mais maturidade e caminhar com as próprias
pernas, mas o ruim foi que às vezes a gente se sentia igual a criança abandonada”. Tal
situação fez com que o grupo ficasse forte e lutasse por conseguir manter o empreendimento
na perspectiva de uma sustentabilidade futura. Com a volta da assessoria da EPADE, algumas
dificuldades de adaptação foram sentidas pelo grupo, visto que passaram a ter mais de perto
uma pessoa que lhes orientasse e chamasse a atenção dos seus erros, buscando a
profissionalização e a melhoria das suas atividades. Neste processo, algumas pessoas, que não
podiam cumprir um horário regular e que, apesar de contribuir da sua forma particular,
sobrecarregava os outros membros, acabaram se afastando por não poder dedicar mais tempo
do que o que havia sido decidido pelo grupo. Por exemplo, havia um cooperado que levava as
compras 6:30h, saía às 8:00h e retornava à noite. Esta atividade, apesar de fora do horário
regular, já contribuía bastante, pois livrara as mulheres de carregar este peso. Mas diante de
uma necessidade maior da sua presença que ele não podia atender, deixou de ser cooperado,
tornando-se apoio. Mudanças como esta interferiram no grupo. Um dos cooperados afirmou
em entrevista: “Uma vez eu comentei com as meninas que eu não sei como o projeto está nos
ajudando. E cheguei a duvidar disso. Porque como a gente tinha muita autonomia, tinha
muita, hoje em dia tem menos, e sinto que o grupo tá assim, meio fora da adaptação, perdeu
um pouco o chão. Antes tinha convicções firmes [...]. Os meninos tinha uma segurança muito
grande no que dizia e no que fazia. Hoje em dia muitos ficam calados com a presença de
[assessor da EPADE] porque não tem segurança no que tá dizendo. Acha que pode tá
dizendo errado e prejudicar o grupo”. Tal processo foi sendo revertido gradativamente,
através de muito diálogo, muitas reuniões para uma adaptação entre a assessoria e a
cooperativa. Como disse um integrante, “hoje para mim é um grupo, [...] a COOPAED é essa
que taí, e é um grupo que continua unido, tem mais firmeza e quer ser profissional decidiu o
que é que quer”.

5. Considerações finais
Neste trabalho, buscou-se uma compreensão da sustentabilidade no âmbito dos
empreendimentos da economia solidária. O que se pode concluir é que existe uma diversidade
de lógicas em interação, englobando não apenas aspectos mercantis, que também se fazem
necessários, como aspectos sociais e políticos. Estes aspectos interferem diretamente no
sentido do agir econômico, e, conseqüentemente, para a sustentabilidade destes

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empreendimentos. Assim, no longo caminho em busca da sustentabilidade, é preciso que se
considerem todas as dimensões em conjunto.

6. Bibliografia
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1
Mais informações no sítio: www.tem.gov.br/economiasolidaria
2
Mais informações no sítio: www.abpes.cjb-net
3
Economia Popular representaria as “diversas formas de sobreviver ao neoliberalismo”, porém tais experiências
seriam “fragmentadas, heterogêneas, cabendo tanto a competição como a solidariedade (...) suas células
básicas seriam as unidades domésticas na lógica de reprodução da vida biológica e social” (Coraggio, 2003: p.
35)
4
A idéia de reprodução ampliada da vida inclui a realização de atividades que de per si são necessárias à vida
ainda que não produzam valores de uso nem mercadorias destacáveis (ex diversão e esporte). O conceito de
reprodução ampliada remete ao processo de melhoria da qualidade de vida.
5
Ver França Filho (2003).
6
Exemplo desta visão levantada por Capra (1996, p. 25) é “a visão do corpo humano como uma máquina (cada
órgão uma peça), visão da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existência, a crença no progresso
material e ilimitado ... – a visão do globo dividido em territórios, da humanidade dividida em raças, as cidades
divididas em áreas, o conhecimento dividido em áreas/ disciplinas.

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