RESENHA

BERNHEIM, C. T.; CHAUÍ, M. de S. Desafios da universidade na sociedade do

conhecimento. Brasília: UNESCO, 2008. (Parte 2: As respostas da educação superior aos
desafios contemporâneos). Resenha escrita por Maurício Fonseca 1

Bernheim e Chauí (2008) relatam uma transformação nas universidades a nível global,
resultando no surgimento de uma nova “cultura universitária”, englobando aspectos
como qualidade e avaliação, pertinência, informatização, gestão estratégica,
responsabilidade social e abertura internacional. A partir de então são descritos os
principais desafios na consecução deste processo.
O primeiro desafio envolve a quantidade, no sentido de “atender ao número de
matrículas em constante crescimento, sem sacrificar a qualidade inerente à educação de
terceiro nível” (BERNHEIM; CHAUÍ, 2008, p.27). Os autores percebem a
possibilidade de aumento do corpo discente, desde que hajam mudanças nos métodos
tradicionais de ensino, tendo em vista a redução da desigualdade em todos os níveis da
educação.
O segundo desafio envolve a relevância/pertinência dos estudos, no que tange a
participação da universidade no cotidiano e na vida da sociedade, mantendo um
equilíbrio entre atender as demandas sociais e exercício da autonomia, e entre as
atividades de ensino, pesquisa e serviços (extensão). Os autores (2008) apontam a
necessidade de uma organização e currículos mais flexíveis, interdisciplinares e
oriundos de uma compreensão integral da universidade.
O terceiro e quarto desafios consistem, respectivamente, na avaliação da qualidade da
educação superior oferecida e no planejamento estratégico na administração das
organizações de educação superior. Outro desafio relacionado envolve a incorporação
de uma cultura informática em apoio ao papel do professor.
As universidades têm a responsabilidade pela autoria da maior parte da atividade
científica na América Latina, sendo importante por isso, o desafio da geração do
conhecimento. Para tal, as instituições necessitam formar cientistas e tecnologia, de
forma a “aprimorar as condições de vida dos seus povos” (p.30). Este processo demanda
Sistemas Nacionais de Ciência e Tecnologia e Inovação, além de um estreitamento na
relação entre universidade e setores produtivos. O último desafio descrito envolve a
internacionalização da educação superior.
O tema das relações entre universidade e setor produtivo está
estreitamente relacionado com a pertinência da educação superior, a
saber, sua capacidade de responder às necessidades de todos os setores
da sociedade, entre eles ao mundo do trabalho ou emprego. Sem
dúvida, as instituições de educação superior precisam ver com muita
atenção a natureza mutável do mundo do trabalho e, em lugar de
preparar os trabalhadores para tarefas específicas devem prepará-los

1
Acadêmico do Bacharelado em Humanidades da Universidade Federal da Bahia (UFBA) – Salvador,
Bahia, Brasil.
 para a “empregabilidade”, analisando as principais tendências do
trabalho. (BERNHEIM; CHAUÍ, 2008, p.30)

Estes desafios existentes levam a mudanças na educação superior como um todo, desde
os currículos disciplinares até a própria estrutura universitária. Os autores (2008)
descrevem a história da relação entre as ciências e universidade como originária do
período medieval, onde as disciplinas começaram a adquirir maior definição e
autonomia. Neste período, dá-se destaque ao movimento de departamentalização
disciplinar, inicialmente como propiciador do desenvolvimento das disciplinas e da
própria universidade. Contudo, neste processo, a partir de uma forma rígida de
compartimentalização, houve uma superespecialização e fragmentação do conhecimento
produzido, sendo estes insuficiente para a resolução de problemas humanos cada vez
mais complexos. Neste momento, a interdisciplinaridade se faz necessária como ponto
basilar das reformas acadêmicas.
Os autores (2008) apresentam os novos paradigmas no processo de ensino
aprendizagem. O primeiro envolve a mudança da ênfase do ensino, onde o estudante
passa a ser protagonista, auxiliado pelo professor, dentro de uma perspectiva de
superação do modelo de educação enquanto transmissão/acumulação de conhecimento.
O professor, neste processo, deve criar condições para uma efetiva aprendizagem -
concebida enquanto atividade de construção do conhecimento a partir da interação ativa
com a informação - do aluno, mediante estratégias cognitivas.
Os autores por fim também tratam da importância da dimensão ética em todas as
atividades no ensino superior, a partir de documentos como a “Declaração sobre a
Educação Superior na América Latina e no Caribe” e a “Declaração sobre a Ciência e o
Uso do Conhecimento Científico”.