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MANUTENÇÃO PALIATIVA: IMPORTÂNCIA DE SE

ESTABELECER CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS


ÁLVARO CAMARGO FILHO - acamargo1@brturbo.com.br
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRUSQUE - UNIFEBE.

GEORGE LUIZ BLEYER FERREIRA - bleyer33@terra.com.br


UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ - UNIVALI

OSMAR POSSAMAI - possamai@deps.ufsc.br


UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA - UFSC

Resumo: A AÇÃO PALIATIVA COMO REPARO TEMPORÁRIO DAS MÁQUINAS É


UMA SOLUÇÃO PROVISÓRIA QUE SE JUSTIFICA PELAS
NECESSIDADES MÁXIMAS DA OPERAÇÃO EM MOMENTOS CRÍTICOS,
TEM A SUA EXECUÇÃO ATRIBUÍDA AS EQUIPES DE MANUTENÇÃO.
ISSO CAUSA DESGASTE E DESCONFFIANÇA AO PESSOAL UMA VEZ
QUE AS AÇÕES MUITAS VEZES RESULTAM EM INSUCESSO E CUSTO
EXCEDENTES PARA A EMPRESA. PORÉM APESAR DAS RECENTES
TÉCNICAS DE PREVISÃO QUE DETERMINAM COM MAIS EXATIDÃO O
MELHOR MOMENTO PARA A INTERVENÇÃO DE MANUTENÇÃO NOS
EQUIPAMENTOS, TRAZENDO GANHOS INQUESTIONÁVEIS AO
PROCESSO PRODUTIVO, A ATIVIDADE PALIATIVA CONTINUA SENDO
NECESSÁRIA EM ESCALA RESIDUAL. ESTE ESTUDO VISA OFERECER
UMA ABORDAGEM MAIS TÉCNICA AS AÇÕES PALIATIVAS NAS
OPERAÇÕES DE MANUTENÇÃO COM O OBJETIVO DE DESMISTIFICAR
ESTA FORMA DE AÇÃO EM MANUTENÇÃO INDUSTRIAL MUITAS VEZES
EXECUTADA COM DESPREPARO E INFORMALIDADE, REAFIRMANDO
SUA IMPORTÂNCIA COMO MÉTODO ACEITÁVEL QUANDO APLICADO
DE FORMA RESPONSÁVEL POR PROFISSIONAIS ARROJADOS E
CRITERIOSOS. A METODOLOGIA UTILIZADA NESTE ESTUDO TEVE
COMO BASE UMA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA NAS BASES DE DADOS
DA CAPES EM ARTIGOS QUE ABORDAM O TEMA COMPARANDO-SE AS
ABORDAGENS COM AS PRÁTICAS ADOTADAS NO AMBIENTE
INDUSTRIAL. COMO RESULTADOS APRESENTA-SE UMA PROPOSTA DE
COMPOSIÇÃO DE CRITÉRIOS E PROCEDIMENTOS QUE JUSTIFICAM
AÇÕES PALIATIVAS COM SEGURANÇA NO AMBIENTE DE
MANUTENÇÃO INDUSTRIAL.

Palavras-chaves: MANUTENÇÃO INDUSTRIAL; AÇÃO PALIATIVA; MANUTENÇÃO


CORRETIVA; REPARO.

Área: 1 - GESTÃO DA PRODUÇÃO


Sub-Área: 1.5 - GESTÃO DA MANUTENÇÃO
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PALLIATIVE MAINTENANCE: IMPORTANCE OF


ESTABLISHING CRITERIA AND PROCEDURES

Abstract: THE PALLIATIVE ACTION AS A TEMPORARY REPAIR OF THE


MACHINES IS AN INTERIM SOLUTION THAT IS JUSTIFIED BY THE
MAXIMUM OPERATION NEEDS AT CRITICAL MOMENTS, ITS
EXECUTION IS ASSIGNED MAINTENANCE CREWS. THIS CAUSE WEARS
AND DISTRUST MAINTENANCE PERSONNEL, SINCE ACTIONS OFTEN
RESULT IN FAILURE AND EXCESS COST TO THE ORGANIZATION. BUT
DESPITE RECENT FORECASTING TECHNIQUES TO DETERMINE MORE
EXACTLY THE BEST TIME FOR MAINTENANCE WORK ON THE
EQUIPMENT, BRINGING UNQUESTIONABLE GAINS IN THE PROCESS,
PALLIATIVE ACTIVITY REMAINS NECESSARY IN RESIDUAL SCALE. THIS
STUDY AIMS TO PROVIDE A MORE TECHNICAL APPROACH TO
PALLIATIVE IN MAINTENANCE OPERATIONS WITH THE AIM OF
DEMYSTIFYING THIS FORM OF ACTION IN INDUSTRIAL
MAINTENANCE OFTEN PERFORMED WITH UNPREPARED AND
INFORMALITY, REAFFIRMING ITS IMPORTANCE AS AN ACCEPTABLE
METHOD WHEN APPLIED RESPONSIBLY AND PROFESSIONALLY
PITCHED JUDICIOUS. THE METHODOLOGY USED IN THIS STUDY WAS
BASED ON A LITERATURE SEARCH IN THE DATABASES OF CAPES IN
ARTICLES THAT ADDRESS THE ISSUE BY COMPARING THE
APPROACHES TO THE PRACTICES IN THE INDUSTRIAL
ENVIRONMENT. AS A RESULT WE PRESENT A PROPOSAL FOR A
COMPOSITION CRITERIA AND PROCEDURES THAT JUSTIFY
PALLIATIVE SAFELY IN INDUSTRIAL MAINTENANCE ENVIRONMENT.

Keyword: INDUSTRIAL MAINTENANCE; PALLIATIVE ACTION; CORRECTIVE


MAINTENANCE; REPAIRING.

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1. Introdução

No atual cenário da manutenção industrial muito tem sido investido em técnicas e


procedimentos que conduzam essa área da produção a excelência, conferindo às instalações
industriais o status de Manutenção de Classe Mundial. Para Li (2009), isto é obtido com a
quebra de paradigmas, elevando a cultura organizacional a níveis de alto desempenho e
competitividade. Porém apesar do avanço das técnicas de manutenção que evitam a
ocorrência de quebras não esperadas de forma a atingir um alto grau de disponibilidade,
confiabilidade e produtividade, ainda ocorrem, embora de forma residual, falhas imprevistas
que levam as equipes a situações, às vezes inseguras, principalmente quando isto ocorre em
momentos de prazos apertados. Nessas ocasiões, o tipo de soluções que restam para que os
compromissos assumidos pela produção sejam atendidos, são as “ações paliativas” que
quando executadas em situações adversas e sem a devida cautela pelo setor da manutenção,
podem trazer desconforto e descrédito.

Para Brigas (2008) as ações paliativas são ações corretivas de cunho provisório,
sugerindo a reposição da funcionalidade do bem ou ativo mesmo que não na sua totalidade, a
fim de evitar atrasos, prejuízos e perda imediata na produção. Estudos e técnicas mais
avançadas têm sido desenvolvidos para tornar mais preciso o momento adequado para a
execução da manutenção de forma a interferir o mínimo possível no processo produtivo. No
entanto, imprevistos acontecem e as ações paliativas são inevitáveis para evitar danos ou
prejuízos maiores. A prática da ação paliativa na manutenção industrial segundo Denkena at
al (2009) conduzida de maneira técnica e com procedimento formal pode resultar em soluções
inovadoras que podem resolver problemas no dia a dia da manutenção industrial.

Este artigo visa oferecer uma abordagem mais técnica as ações paliativas no ambiente
da manutenção industrial e ratificando sua importância como modalidade de atuação,
procurando desmistificá-la como uma atividade normal no meio produtivo, desde que
praticada por profissional tecnicamente capacitado e através de critérios pré-estabelecidos.
Em função da controvérsia do termo paliativo utilizado na área de manutenção
industrial estar associado equivocadamente a “gambiarras” ou “remendos” resultando em
limitado material científico para discussão sobre o assunto, utilizou-se uma abordagem
exploratória na base de dados da CAPES, bem como em livros e revistas especializadas a fim
de elucidar conceitos e confrontá-los com as práticas vivenciadas na manutenção para poder
compor critérios e procedimento técnicos que justifiquem a prática das ações paliativas com
segurança neste ambiente, procurando discutir ideias de forma a permitir contribuições na

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área de manutenção industrial.

2. Referencial teórico

2.1 Evolução e conceito

Segundo Branco Filho (2008) no século X surgiu os primeiros registros da


manutenção no sentido de manter os navios vikings em perfeitas condições para as batalhas.
No século XVI é que surge a manutenção fazendo parte da operação com o surgimento dos
primeiros teares mecânicos, em que os próprios operadores eram os responsáveis por manter e
executar pequenos reparos nos equipamentos de maneira não planejada e sem organização
(VIANA, 2002). A partir da roda d’água vieram as máquinas a vapor e, por conseguinte as
exigências e demandas de produção eram maiores o que justificava a utilização de operadores
conhecedores de suas máquinas e que cumpriam tarefas básicas como troca de partes e peças
e lubrificação. Com surgimento da eletricidade começaram a serem utilizados os motores
elétricos e daí a necessidade de pessoal especializado nessa nova tecnologia. Pessoas com
conhecimento em eletricidade foram integradas ao grupo dos mecânicos para atender com
rapidez os reparos que se faziam necessários. Essa prática de reparar o mais rápido possível se
estendeu até os anos 30 e era tipicamente de caráter corretivo, caracterizando-se na primeira
geração da manutenção.
Com a necessidade atender as urgentes demandas da Segunda Guerra Mundial as
equipes começaram a agir de maneira a se antecipar aos problemas que culminavam em
quebras, criando assim procedimentos preventivos de modo a não serem surpreendidos com
perdas de produção. Dá-se início à segunda geração da manutenção fundamentada nas ações
de intervenção por períodos de tempo fixos, se antecipando a ocorrência das quebras
inesperadas.
Para Veldman (2011) com as demandas crescentes por otimização dos custos dos
ciclos de vida surgiu por volta dos anos 70 a técnica de prevenção de falhas por
monitoramento do estado dos componentes. É nesta terceira geração que surge a técnica
preditiva da manutenção. Posteriormente até os dias de hoje surgem técnicas cada vez mais
avançadas como a Engenharia de manutenção, a Manutenção Centrada na Confiabilidade –
MCC e a Manutenção Produtiva Total – TPM, buscando pró-atividade na melhoria da
manutenção, melhorias e ganhos na organização da manutenção e ganhos de eficácia global
na atuação conjunta da manutenção e da operação no ambiente produtivo. Essas gerações
evolutivas da manutenção podem ser mais bem visualizadas na figura 1.

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FIGURA 1 – Evolução da manutenção. Fonte: Monchy (1998).

No entanto, o termo paliativo tem várias implicações. Para Ferreira (2004), paliativo
significa aquilo que serve para acalmar, atenuar ou adiar momentaneamente um mal,
tratamento que apenas fornece alívio, de duração variável a um doente ou ainda meio ou
expediente usado para atenuar ou procrastinar uma crise. Esta definição é precisamente usada
na área da saúde humana. Mas a ação paliativa na manutenção tem origem segundo Santos
(2013), na necessidade urgente de retomar o restabelecimento da função do elemento, mesmo
que a menor, ou seja, sem restabelecer a completa funcionalidade do bem, possibilitando de
maneira provisória a conclusão de uma atividade fabril onde o insucesso tenha consequências
desastrosas ou de grande custo financeiro.
Outra definição muito propícia é dada por Andrade (2006) na qual afirma que
manutenção paliativa é o tipo de manutenção efetuada após uma falha que, devido às
circunstâncias ou extensão da mesma, não permite fazer uma intervenção efetiva,
restabelecendo-se apenas o serviço, sem a eliminação definitiva do problema. Cabe reforçar
que a adoção consciente da solução paliativa implica numa ação curativa posterior.
Por sua vez a ação paliativa embora descrita pela NBR-5462 (1994), no Brasil é
frequentemente citada como gambiarra dentro do próprio ambiente da manutenção, denotando
um estado de baixa cultura e desconhecimento presente nesses setores. Nesses ambientes a
ação paliativa é tratada de maneira informal e às vezes inconsequente.

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O termo “gambiarra” de recente difusão no Brasil referente a reparos rápidos, tendo


uma variedade de significados populares possíveis como: trabalho feito de improviso com
peças alternativas, improviso “temporário-permanente”, conserto feito com jeitinho. De
qualquer forma fica claro o aspecto de amadorismo e curiosidade do pessoal não habilitado
para as práticas de manutenção industrial. A adoção de soluções baseadas em gambiarras,
pode-se dizer, são de natureza inconsequente, que denotam profundo desconhecimento da
área da manutenção e podem trazer perdas consideráveis como cessão completa da função do
bem e também consequências indiretas graves de segurança e meio ambiente. Dessa forma a
gambiarra apesar de muitas vezes fazer referência a reparos informais e eventualmente muito
criativos, deve ser considerada como uma prática intolerável no ambiente da manutenção. Sua
disseminação causa descontrole e grande risco nas instalações. Qualquer solução
caracterizada efetivamente como gambiarra na indústria não é por sua natureza considerada
como ação de manutenção.
Para Grussing (2006), a ação paliativa tem sua aplicação quando um componente se
encontra em estado de degradação avançado exigindo intervenção urgente de forma que
promova um retardamento na perda da função por um período de tempo determinado. As
medidas paliativas não restabelecem nem melhoram a condição, mas podem prevenir a
degradação de atingir níveis de desempenho abaixo do mínimo requerido até que uma solução
permanente possa ser adotada. Este mesmo autor cita que as paliativas não são
economicamente atraentes porque não restabelecem a condição, apenas retardam reparos
maiores e mais importantes ou mesmo a reposição por um curto período de tempo, mas
podem ser necessárias por falta de recursos para uma solução permanente.

2.2 Caracterizações da manutenção paliativa

A bibliografia técnica disponível trás várias classificações e tipologias referentes a


manutenção industrial. Para este artigo utilizou-se a de Trojan (2013) que classifica os
diversos tipos de manutenção resumidamente da seguinte maneira:
 Manutenção Corretiva: é a manutenção efetuada após a falha;
 Manutenção Preventiva: tem o objetivo de reduzir a probabilidade de falha.

Complementando a definição da Manutenção Corretiva, Monchy (1989) divide-a em


duas modalidades que são:
 Manutenção corretiva curativa e

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 Manutenção corretiva paliativa.


A manutenção curativa é executada de modo a restabelecer a função do bem ao nível
esperado através do reparo que é executado após a ocorrência da falha. A manutenção
paliativa ocorre quando por necessidade da urgência se procede a um reparo provisório que
reponha a função do equipamento um nível satisfatório até que na próxima parada possa ser
feito o reparo curativo.
Para Pinto e Xavier (2001) a paliativa pode ser classificada como uma ação da
manutenção corretiva que gera informações para o melhoramento para a engenharia de
manutenção numa manutenção produtiva total consolidada. A figura 2 mostra os tipos de
manutenção, seus custos diretos e a evolução atingida onde a paliativa tem o seu lugar. Como
sugestão o autor também inclui neste diagrama a gambiarra como ação fora dos limites da
manutenção.

FIGURA 2 – Formas de manutenção. Fonte: Adaptado de Monchy (1998).

Através da figura 2 é possível verificar que a paliativa está em extremidade oposta à


Manutenção Detectiva, mas há em comum o fato de ambas terem como fato gerador, a
imprevisibilidade da falha. Para William (2012) a detectiva se ocupa em antever falhas
ocultas relativas principalmente a dispositivos e sistemas de segurança em equipamentos de
grande responsabilidade e se encontra nos limites da manutenção onde as técnicas aplicadas

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se traduzem nas mais avançadas, como o FMEA (Failure Mode and Effect Analysis) e Análise
de Riscos entre outras. Em contra partida, a paliativa se encontra na extremidade oposta das
práticas evolutivas da manutenção, pois sua utilização implica em assumir grandes riscos e
custos diretos elevados.

Embora não se tenha citado anteriormente, as falhas merecem um estudo a parte, pois
dependendo de sua denominação merecem estratégias diferentes de ataque. Siqueira (2005)
desdobra os tipos de falhas pela sua: origem, extensão, velocidade, manifestação, criticidade e
idade. Ainda o mesmo autor descreve que através da Manutenção Centrada na Confiabilidade
(MCC) as falhas podem ser classificadas segundo o efeito que causam na função do sistema a
que pertencem. Na Figura 3 é possível visualizar a classificação das falhas citadas cujo estudo
pela MCC e o auxílio do FMEA, possibilita a tomada de decisões quanto às melhores
políticas de manutenção na determinação das formas de manutenção a se aplicar a cada
componente sempre procurando antever a falha.

Figura 3 – Classificação das Falhas. Fonte: Siqueira (2005)

Segundo Duarte (2010) e ETI et al (2004) mesmo com aplicação de técnicas modernas
de detecção ou antecipação à falha, a probabilidade de acontecer falhas que surpreendam o
pessoal da manutenção, embora seja pequena ela existe e pode acontecer de maneira

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inesperada, o que faz das ações paliativas uma maneira de intervenção que necessita ser
realizada de maneira profissional e consciente através de procedimentos padronizados e com
uso de critérios pré-estabelecidos.

2.3 Elementos que contribuem para uma ação paliativa

Para Veldman et al (2011) e FOGLIATTO (2009) empresas em situação financeira


desfavorável acabam definindo políticas gerenciais de redução de custos, que atinge também a
gestão da manutenção industrial e em consequência disto um aumento do nível de paliativas
se torna presente. Schuster (2011) observa que em muitos casos nos quais não se pode prever
quando as falhas vão ocorrer, há então a possibilidade de interrupções inesperadas na
produção e que agravadas se forem extensas, trazem prejuízos significativos para a empresa.
Contribuem para a ocorrência de medidas paliativas os seguintes aspectos:
 Gestão e fator humano: cultura reativa, situação financeira desfavorável, falta de
treinamento, acidentes, avaliações e estudos deficientes sobre o problema;
 Grau de relevância das instalações: instalações artesanais, convencionais,
seriadas, nuclear, aeronáutica e astronáutica;
 Tecnologias não plenamente consolidadas: equipamentos contendo soluções
inéditas em estágio de juventude.
Esses aspectos contribuem para o aumento da ocorrência das falhas de forma
inesperada, que culminam na necessidade de ações paliativas urgentes.

3. Resultados e discussões

3.1 Estabelecimentos de critérios para o uso de ações paliativas


A ação paliativa para atender a função manutenção ao ser adotada, precisa de extrema
atenção no momento da tomada de decisão. Primeiramente é necessário viabilizá-la através
de uma rápida, porém criteriosa análise da situação na qual devem ser respondidas as
seguintes perguntas:
a) Qual a extensão dos danos? Danos de grande extensão resultantes do estado de
degradação avançados, devido a acidentes, sobrecargas, quebras envelhecimento precoce
do equipamento entre outros, exigem intervenções demoradas e caras como, por exemplo,
reformas. Neste caso, pode-se adotar uma solução paliativa até o momento mais adequado
para a reforma ou mesmo para a substituição do bem;

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b) Há tempo disponível e recursos suficientes para a curativa? Para responder essa pergunta
deve-se considerar que a curativa deve ser a opção natural e mais viável que a paliativa,
porém nesses momentos há grande pressão da operação para resolver o problema o mais
rápido possível, e nesses casos é necessário um debate em níveis superiores para avaliar a
real urgência da operação;
c) Existe uma alternativa possível? A resposta a essa pergunta vai depender da pró-atividade,
conhecimento técnico, e capacidade de assumir riscos controlados do responsável pela
manutenção, pois a adoção de medidas paliativas deve estar sempre sob controle do
pessoal do nível gerencial da manutenção.
d) Quais as consequências possíveis? Todas as possibilidades devem ser levantadas
contemplando os aspectos de legislação, de seguros existentes, de garantia, de segurança,
danos ao meio ambiente, propagação da degradação que afete de alguma maneira o ciclo
de vida do equipamento;
Somente após essas perguntas fundamentais o gestor pode responder pela adoção de
uma ação paliativa. Importante ressaltar a importância que a tomada de decisão seja conjunta
ou de consenso pela equipe de manutenção. O próximo passo seria detalhar as ações que
promoverão a solução do problema definindo o que cada elemento da equipe precisa fazer e o
prazo para a realização de cada tarefa.

3.2 Técnicas para a redução do impacto da ação paliativa


Algumas técnicas poderão ser adotadas de maneira mais segura e de menor impacto
nos custos da manutenção de maneira a minimizar os efeitos sobre a disponibilidade imediata
dos equipamentos. Nesse sentido deve analisar a possibilidade de proceder das seguintes
maneiras:
a) Utilizar peças em bom estado que restaram da preventiva sistemática. Como, por
exemplo, poderão ser aproveitados jogos de correias usados com meia vida ou mais e
assim outros materiais sobressalentes quando não houver disponibilidade de novos no
almoxarifado;
b) Utilizar peças alternativas após avaliação cuidadosa quanto a sua capacidade de cumprir
a função mínima requerida. Peças de segunda linha com prévia avaliação ou mais
recentemente e ainda de forma limitada a prototipagem 3D. Neste caso inclui-se aqui
como exemplo a utilização de parafusos auto atarraxante como alternativa para conter
provisoriamente vazamentos em tubulações de rede d’água;

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c) Utilizar peças recuperadas e minimamente testadas. Podem ser utilizados procedimentos


de soldagem, deposição metálica ou até a utilização de resinas de manutenção segundo
estudo de cada caso;
d) Fabricação integral de peças. Pode ser utilizada a própria ferramentaria ou oficina para
execução do serviço.
Para diminuir o impacto pelo uso da solução paliativa é fundamental que após o
término da operação de reparo, a exemplo das práticas de manutenção centrada na
confiabilidade ou mesmo na engenharia da manutenção, se proceda o registro adequado de
todos os recursos utilizados na operação, como mão de obra, materiais, ferramental, serviços e
materiais de terceiros (há situações em que se lança mão de empréstimos na vizinhança ou
áreas logisticamente próximas), bem como de todos os aspectos que incorrem também nos
custos indiretos. Cabe, porém estar alerta para que nenhuma modificação deva ser
implementada a não ser que se saiba o que realmente se está fazendo ou obtenha parecer
escrito de um profissional especializado. Esses registros deverão ser levados a cabo para uma
avaliação da ação paliativa ocorrida, seus custos totais, resultados obtidos.
O sucesso da paliativa ocorre quando termina o período esperado de validade da
solução que foi adotado mantendo a função do desempenho requerida dentro dos limites
aceitos e com os recursos financeiros acordados com a operação. Não se pode considerar a
paliativa bem sucedida quando a solução paliativa não obedece ao período para se proceder a
reparação corretiva.
Porém há situações em que a solução paliativa desenvolvida por profissionais
competentes pode superar o desempenho originalmente especificado para o componente. É o
caso de soluções que usam materiais alternativos ou procedimentos mais avançados que os de
projeto quando da aquisição do equipamento. Normalmente as ações de melhoria adotadas
pelos programas de qualidade e produtividade na manutenção atendem a necessidades
planejadas e a urgência solucionada pela paliativa revela melhorias ainda não contempladas
por esses programas.

4. Conclusão

Ações paliativas tem recebido pouca atenção nas pesquisas na área de manutenção
industrial, este assunto tem estado às margem das pesquisas devido a caracterização pejorativa
do termo paliativo, o que deve ser combatido no ambiente da manutenção industrial.
Exemplos de tratamentos paliativos na área da medicina que por muito tempo foram
repudiados por não serem práticas curativas, hoje são aceitos, existindo farta literatura na base

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científica, procurando não negligenciar este aspecto na saúde humana que apesar dos grandes
avanços da medicina, o ser humano ainda sofre de males incuráveis. Na área da manutenção
industrial apesar dos esforços no combate à imprevisibilidade das falhas, ainda ocorre um
residual de imprevistos em momentos críticos que podem trazer grandes impactos à empresa.
Nessa pesquisa procurou-se encontrar subsídios que justifiquem a ação paliativa na
manutenção como prática inevitável para combater falhas inesperadas resultantes de situações
inesperadas que podem ocorrer mesmo em organizações de alto nível técnico na gestão em
manutenção, ou das más práticas de gestão e da cultura conservadora ainda presente em
muitas instalações produtivas.
Percebe-se pela limitação de produções científicas, que ainda a paliativa é tratada como
um tabu, sendo comum a associação do termo como “gambiarra” e assim, como uma prática
que deva ser esquecida. Também não se deseja aqui promover, a paliativa como forma de
manutenção a ser difundida. No entanto, como visto no referencial teórico ela faz parte do
processo dado a dificuldade de se antever em 100% as falhas, o que a torna, mesmo em
pequena escala, a realidade das empresas. Isto reforça que esta prática merece além de estudos
critérios e procedimentos adequados como apoio a profissionais que se depararem com as
situações em que sua adoção seja inevitável. Assim, através da pesquisa ora realizada em
conjunto com as observações das práticas observadas, sugeriu-se que a manutenção paliativa
deva ser realizada somente dentro de determinadas situações já expostas e com critérios pré-
estabelecidos para que mesmo em situações de imprevistos se tenha procedimentos
previamente analisados para executá-la de maneira a atender o seu propósito, ou seja, que a
ação paliativa traga não somente a solução, mas que possa, no desenvolvimento da solução,
desafiar as equipes de manutenção em soluções criativas que possam melhorar máquinas e
equipamentos em função do nível inovador da solução adotada. Isto definitivamente trás para
as equipes de manutenção capacitação ao adotar procedimentos criteriosos, como também
intuitivos na solução de novos problemas.

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