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DIREITO TRIBUTÁRIO

1. A taxa de exploração de recursos minerais instituída pelo município de São José


do Rio Preto é inconstitucional? Justifique sua resposta com base na legislação,
doutrina e jurisprudência aplicáveis.

Importante salientar, não são absolutos os poderes de que se acham investidos os


órgãos e agentes da administração tributária, uma vez que o Estado, em assunto de
tributação e fiscalização, está sujeito à observância de princípios constitucionais que
limitam a tributação (CF, arts. 150, 151 e 152). ¹

Como é cediço, a taxa é uma das espécies tributárias prevista pelo legislador
constituinte, cuja competência foi outorgada a todos os entes políticos (União, Estados
-Membros, Distrito Federal e Municípios) que poderão instituir taxas em razão do
exercício do poder de polícia ou pela utilização de serviços públicos específicos e
divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos à sua disposição (CF, art. 145, II).

Por conseguinte, o art. 146, inciso III, alínea "a" da Constituição Federal, cabe à
Lei Complementar definir os tributos e suas espécies, entre as quais está a taxa cobrada
pelo exercício do poder de polícia, que pode ser exercido pelos municípios e que é
hipótese para a cobrança de taxa decorrente desse exercício.

Sendo assim, para que a cobrança no exercício de poder de polícia seja de fato
constitucional é preciso que haja a fiscalização, de igual modo, devem ser respeitadas as
regras do Código Tributário Nacional² (arts. 77 e 78 e §único). Como demostrado, os
municípios têm competência constitucional para instituir e cobrar taxas pelo exercício
do poder de polícia que poderá ser exercida sempre que o município fiscalizar o
particular que estiver exercendo tal atividade econômica.

Para Machado (2003, p. 401) ³, é visível a presença do poder de polícia: “Taxa,


em síntese, é espécie de tributo cujo fato gerador é o exercício regular do poder de
polícia, ou o serviço público, prestado ou posto à disposição do contribuinte”.
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Ao “contrário dos impostos, as taxas são tributos que tem como fato gerador
uma atividade estatal específica, diretamente ligada ao contribuinte. São, por isso,
tributos vinculados (a uma atividade estatal)”. (FGV).

A questão central está em saber se Lei Municipal n° 10.166/15 (fictícia) do


Município de São José do Rio Preto pode instituir tributo na modalidade taxa com
fundamento no poder de polícia exercido pelo munícipio sobre a exploração de recursos
minerais, e, se é constitucional. 

No entanto, não se pode generalizar o tratamento da matéria é preciso analisar


cada Lei específica, atentando para o fato gerador por ela estabelecido. O fato gerador
estabelecido pelo Município citado, refere-se à fiscalização ambiental, no que tange à
exploração de lavras e a pesquisa dela decorrente da empresa “Pepitas do Paraíso
Mineradora LTDA” aderindo o Simples Nacional.

A finalidade da lei é nitidamente constitucional, pois visa reduzir dano ambiental


de forma preventiva em defesa ao meio ambiente, ressalta -se que, a devida fiscalização
que garante a constitucionalidade no exercício de poder de polícia foi exercida por um
fiscal municipal, não sendo necessário a existência de um órgão administrativo.

De acordo com o entendimento do próprio STF, vejamos;

EMENTA: Recurso Extraordinário 1. Repercussão geral


reconhecida. 2. Alegação de inconstitucionalidade da taxa de
renovação de localização e de funcionamento do Município de
Porto Velho. 3. Suposta violação ao artigo 145, inciso II, da
Constituição, ao fundamento de não existir comprovação do
efetivo exercício do poder de polícia. 4. O texto constitucional
diferencia as taxas decorrentes do exercício do poder de polícia
daquelas de utilização de serviços específicos e divisíveis,
facultando apenas a estas a prestação potencial do serviço
público. 5. A regularidade do exercício do poder de polícia é
imprescindível para a cobrança da taxa de localização e
fiscalização. 6. À luz da jurisprudência deste Supremo Tribunal
Federal, a existência do órgão administrativo não é condição
para o reconhecimento da constitucionalidade da cobrança da
taxa de localização e fiscalização, mas constitui um dos
elementos admitidos para se inferir o efetivo exercício do poder
de polícia, exigido constitucionalmente. Precedentes. 7. O
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Tribunal de Justiça de Rondônia assentou que o Município de


Porto Velho, que criou a taxa objeto do litígio, é dotado de
aparato fiscal necessário ao exercício do poder de polícia. 8.
Configurada a existência de instrumentos necessários e do
efetivo exercício do poder de polícia. 9. É constitucional taxa
de renovação de funcionamento e localização municipal,
desde que efetivo o exercício do poder de polícia,
demonstrado pela existência de órgão e estrutura
competentes para o respectivo exercício, tal como verificado
na espécie quanto ao Município de Porto Velho/RO 10. Recurso
extraordinário ao qual se nega provimento.
(STF, RE 588.322/RO, Tribunal Pleno, Rel. Min. Gilmar
Mendes, 16/06/2010, DJe-164, Divulg 02/09/2010, Public
03/09/2010 - grifo nosso)

Disto pode-se concluir que, o Munícipio de São José do Rio Preto, exerceu o
poder de polícia de fiscalização, conforme previsto em lei (art. 77 e 78 do CTN). Assim
como, os princípios constitucionais estabelecidos pela própria Constituição Federal e o
Código Tributário Nacional. Por todo exposto, concluímos que a lei municipal n°
10.165/15 é constitucional.

2 – O sócio gerente das empresas poderia ser apontado pela lei municipal como
responsável solidário? Justifique sua resposta com base na legislação, doutrina e
jurisprudência aplicáveis.

No caso mencionado, o Município de São José do Rio Preto, institui por meio de
lei municipal a responsabilidade tributária por solidariedade, pretendendo-se a cobrança
de crédito tributário proveniente de Taxa. A empresa “Pepitas do Paraíso Mineradora
LTDA” foi autuada por meio de fiscalização ambiental, em virtude do não pagamento
da exação estipulante, prevista em lei.

Em seguida verifica-se que, na mesma data, do auto de infração foi lançado o


débito total inscrito em dívida ativa, e extraída a competente certidão (CDA), além da
respectiva inscrição no CADIN. A presente medida fiscal intentada pelo município visa
a garantir a eficácia da cobrança de débitos fiscais de responsabilidade da empresa e o
sócio-gerente.
A propósito, é esse o entendimento do Colendo STJ:
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APELAÇÃO - EXECUÇÃO FISCAL ICMS Pessoa Jurídica


Encerramento Regular das Atividades CDA Nulidade
Responsabilidade tributária Redirecionamento ao sócios
Inadmissibilidade - A Certidão de Dívida Ativa que aponta como
devedora pessoa jurídica regularmente dissolvida por distrato
arquivado na Junta Comercial é nula de pleno direito - O
redirecionamento da execução fiscal só pode ocorrer em relação a
sócios-gerentes, diretores e administradores de sociedades por quotas
de responsabilidade, ou anônimas, se demonstrado que agiram com
excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos (art.
135, II, CTN) - Da insolvência em si não decorre a presunção de que
tenha havido exorbitância, abuso ou ilegalidade, por parte dos
administradores. A falta de pagamento do tributo não configura
infração à lei capaz de ensejar a responsabilidade pessoal dos sócios-
gerentes da pessoa jurídica - Dissolução regular da sociedade
devidamente averbada na Junta Comercial anos antes da formação do
título executivo e do ajuizamento da ação - Ausência de
responsabilidade do administrador. Sentença mantida. Recurso
improvido.

Ocorre que, em regra a responsabilidade pelas dívidas tributárias pertence a


pessoa jurídica, salvo se for comprovado o excesso de poder, infração da lei ao contrato
social ou no estatuto da empresa. Nesse mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça
pacificou através da Súmula 430, in verbi: Senão vejamos;

“O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não


gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente”.

Sendo assim, o simples fato da empresa está devendo tributo não gera
responsabilidade solidária do sócio gerente. E a hipótese de liquidação de sociedade está
prevista no art. 134, VII, do CTN, 'in verbis'.

“Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do


cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte,
respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem
ou pelas omissões de que forem responsáveis:'
(…) VII os sócios, no caso de liquidação de sociedade de
pessoas”.

Por sua vez, o art. 135 do mesmo Código (inserido no capítulo que trata da
responsabilidade tributária, mais especificamente em sua seção III, que cuida da
responsabilidade de terceiros pelo crédito tributário), dispõe:

'São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a


obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso
de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos:
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§1º - Quando não couber a aplicação das regras fixadas em


qualquer dos incisos deste artigo, considerar-se-á como
domicílio tributário do contribuinte ou responsável o lugar da
situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos que deram
origem à obrigação.

§ 2º - A autoridade administrativa pode recusar o domicílio


eleito, quando impossibilite ou dificulte a arrecadação ou a
fiscalização do tributo, aplicando-se então a regra do parágrafo
anterior. I - As pessoas referidas no artigo anterior;

Com efeito, da leitura dos dispositivos acima citados, de fato, a decretação de


indisponibilidade pode ser estendida, porém em casos específicos. “Aliás, o citado art.
134 do CTN não estabeleceu a responsabilidade solidária plena, além de subsidiária por
tal responsabilidade, o sócio só responde pelo crédito tributário devido pela pessoa
jurídica quando presentes os requisitos exigidos por lei que, repise-se, não foram
preenchidos”. Apelação Cível nº 1002486-87.2021.8.26.0071, da Comarca de Bauru,
em que é apelante PREFEITURA MUNICIPAL DE BAURU, são apelados
HUMBERTO PIRES DA SILVA e STREMA-TEC SERVIÇOS LTDA.

Neste sentido julgado do STJ;

Nesse sentido: '(...)RECURSO DE APELAÇÃO - AÇÃO


CAUTELAR FISCAL - INDISPONIBILIDADE DOS BENS DOS
SÓCIOS - RESULTANTE DE ATOS PRATICADOS COM
EXCESSO DE PODER OU INFRAÇÃO DE LEI - CONTRATO
SOCIAL OU ESTATUTOS - NÃO COMPROVAÇÃO - RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Conforme entendimento
consolidado do STJ, a decretação cautelar fiscal de indisponibilidade
de bens dos sócios de empresa devedora de ICMS demanda a
verificação da presença ou não dos requisitos do artigo 135 do CTN.'. '
(...) Verifica-se que o Estado embargante não comprovou quaisquer
atos praticados com excesso de poder ou infração de lei, contrato
social ou estatuto pelos sócios- administradores, não obstante alegue
que em outro processo foi reconhecida a dissolução irregular da
empresa devedora, de modo que apenas o inadimplemento da
obrigação tributária não gera responsabilidade solidária dos sócios,
conforme súmula 430 do STJ. Assim, nada há a integrar nestes
embargos de declaração, como querem fazer crer os embargantes, e
ainda que não concordem com o seu conteúdo, não é este o meio
processual adequado para provocar a modificação do julgado...”. (STJ
- AREsp: 815835/MS 2015/0294966-0, Rel. Min. Benedito
Gonçalves, DJ 20/05/2016).
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A falta de pagamento do tributo não configura infração à lei capaz de ensejar a


responsabilidade pessoal dos administradores da pessoa jurídica. “A prevalecer
entendimento contrário suprimir-se-ia a regra segundo a qual os sócios não respondem
pessoalmente pelos tributos devidos pela sociedade fazendo prevalecer, em todos os
casos, a exceção”. Esse o ensinamento de HUGO DE BRITO MACHADO (Curso de
Direito Tributário, Malheiros, 27ª edição, pág. 178) 4.

Diante de todo o exposto, concluímos que o sócio gerente da empresa não


poderia ser apontado pela lei municipal como responsável solidário.

BIBIOGRAFIA

BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.¹

Código Nacional Tributário (Lei n° 5.172, de 25-10-1966) ²

MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 23. ed. São Paulo: Malheiros,
2003.³

HUGO DE BRITO MACHADO (Curso de Direito Tributário, Malheiros, 27ª edição,


pág. 178) 4.

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