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A Bíblia e os conflitos: mediação é coisa muito antiga

A Mediação do latim mediatio simboliza a aproximação das partes interessadas em realizar


acordo ou acabar com suas controvérsias, o que é feito por meio de um terceiro, com
intervenção pacífica e neutra.

Essa forma de resolução de conflitos já era utilizada bem antes do Direito Romano ou do
Código de Hamurabi. Os povos anteriores as Cristo já se utilizavam de formas legítimas
análogas à mediação para dirimirem seus conflitos.

O conflito é uma realidade, é um fato da vida, desde que o mundo é mundo. Deus criou o
Homem à Sua imagem, mas também o fez único, o que significa dizer que alguns de nossos
pontos de vista e opiniões podem ser diferentes do das outras pessoas.

Como tudo na vida tem o lado positivo, muitas vezes o conflito pode ser visto como
aprendizagem: pode trazer justiça onde há injustiça. Na verdade o conflito pode restabelecer
sistemas político-sociais, com a finalidade de se modelar o futuro, com novas oportunidades
para todos. Até aí, tudo bem.

Porém, quando o conflito se torna violento, poderemos ter mais mal do que bem, dificultando-
se uma visão clara das melhores oportunidades para um futuro pleno e abundante, em face do
processo destrutivo causado pela irracionalidade e violência, bem como os possíveis prejuízos
causados, trazendo à tona a ira, o medo e outros sentimentos mesquinhos e paralisantes.

E isso pode e deve ser evitado com a renovação da visão de justiça, por meio do diálogo, com a
perspectiva de reconciliação e reconstrução das relações sociais em seus diversos pilares, a
que chamamos de Justiça Restaurativa.

O investimento em conversas pacificadoras e construtoras de consenso deve ser a grande


finalidade para se alcançar a Paz. Paz em sentido universal, aplicada a todas as relações de
uma pessoa: a sua relação consigo própria, com a sua família, com todos os tipos de sociedade
na qual esteja inserida, com a natureza e com Deus. Essa ideia de paz é tão ampla que não se
trata apenas de uma atitude interior do homem, mas da concretização exterior para uma vida
de bem-estar, tutelada pela ordem social e pelas instituições que garantem o direito e a
justiça.

Como já falado, a mediação e demais formas de solução de conflitos remontam tempos muito
antigos, anterior ao Direito Romano. E este artigo visa destacar esse espírito pacificador que
estão nos textos bíblicos, do Primeiro e do Segundo Testamentos, que indicam com clareza a
existência da prática mediadora, tão falada nos dias atuais, em pleno século XXI, como a nova
forma de distribuição de justiça.

Sabemos que, na vida do dia a dia, podemos nos encontrar envolvidos em conflitos com outras
pessoas e que não é fácil reagir da melhor forma no meio de uma discussão, mas, é possível
acalmar os ânimos.
Assim, o que importa é o “querer restabelecer” a justiça e as relações, tendo o Mediador a
incumbência de levar as pessoas em litígio a adotarem uma postura que busque a
reconciliação, reconhecendo o Outro na relação, humanizando o conflito.

Nessa linha, vamos considerar coisas que a Bíblia diz sobre conflitos e paz:
“Donde vem as lutas e as contendas entre vós? Não vêm elas de vossas paixões, que
combatem em vossos membros? Cobiçais, e não recebeis; sois invejosos e ciumentos, e não
conseguis o que desejais; litigais e fazeis guerra. Não obtendes, porque não pedis. Pedis e não
recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as vossas paixões.” (Tiago 4: 1-3).

“Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no
teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu
irmão” (Mateus 7:4-5).

“Se estás, portanto, para fazer a tua oferta diante do altar e te lembrares de que teu irmão
tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar e vai primeiro reconciliar-te
com teu irmão; só então vem fazer a tua oferta.” (Mateus 5:23-24).

Dessas passagens pode-se perceber que a origem do conflito está em insistirmos em sempre
estarmos com a razão e de ter as coisas do nosso modo, criticando o Outro e ao mesmo tempo
nos defendendo. Este é o sintoma do conflito: “Não julguem, para que vocês não sejam
julgados. Pois da mesma forma que julgarem, vocês serão julgados; e a medida que usarem,
também será usada para medir vocês”.

Oportuno, também, transcrever passagens interessantes extraídas do Livro da Vida, que traz
alguns importantes Princípios para a condução pacífica voltados à resolução de conflitos, e que
hoje são atualmente contemplados na legislação Pátria:

Ouvir antes de falar“Quem responde antes de ouvir, passa por tolo e se cobre de confusão.”
(Provérbios 18:13)
 
Muitas discussões ganham força negativa porque ninguém está preocupado em ouvir o que o
outro está falando! Não se preocupam em procurar entender a razão do aborrecimento antes
de responder.
 
Responder com calma 
“Uma resposta branda acalma o furor, uma palavra dura excita a cólera” (Provérbios 15:1)
Gritar só piora a discussão. Quem respira fundo e fala com calma retoma o controle da
conversa.

Ignorar o insulto“O louco mostra logo a sua irritação; o circunspecto dissimula o


ultraje” (Provérbios 12:16)

Durante uma briga as pessoas dizem coisas que não deviam, até para fazer com que o outro
perca o controle. Ignorar o insulto mostra maturidade e que o outro não pode lhe afetar.
4. Não retrucar

“Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os
homens” (Romanos 12:17)

Quando você retribui mal por mal, você perde toda a razão. Retrucar só piora a briga. Se você
agir de forma correta, você terá a vantagem moral.

5. Tratar com respeito

“Quem despreza seu próximo demonstra falta de senso; o homem sábio guarda o silêncio”
(Provérbios 11:12)

Ridicularizar o outro só vai causar reações negativas e enfurecidas. Quando a outra pessoa se
sente respeitada, vai se acalmar.

6. Ter paciência

“O homem iracundo (irritável) excita questões, mas o paciente apazigua as disputas”


(Provérbios 15:18)

Muitos conflitos acontecem porque as pessoas envolvidas não estão com paciência. Ter um
pouco de paciência para tentar entender o que se passa acalma o conflito.

7. Perdoar

“Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra
outrem” (Colossenses 3:13)

No fim de todo conflito é preciso perdão. Quando não há perdão, o ressentimento impera e
mais conflitos podem acontecer. Perdoar restaura amizades e relações.

Assim, a solução para o conflito não está em “manter a paz” ignorando o conflito ou com
algum tipo de arranjo, deixando que os sentimentos hostis permaneçam, mas, sim, levar as
partes a uma reconciliação para que haja cura e restauração do relacionamento.

Finalizando, importante que operadores do direito incorporem a busca pela Paz, por meio do
diálogo, como condição fundamental para a Mediação. É sua função propiciar um espaço novo
em que as pessoas envolvidas no conflito sejam capazes de encontrar os equilíbrios interno e
externo, sentindo-se autores de suas histórias, com a preservação das relações. Afinal, a
melhor sentença é o acordo entre as partes.

“Bem-aventurados os pacificadores, pois serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:9)

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