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Instituição: Faculdade Georgina- FAGEO

Disciplina: Filosofia Geral e do Direito


Hanilda Regina Rodrigues dos Santos
Professor: Santiago Pontes

ASPECTOS GERAIS DA MITOLOGIA GREGA

A mitologia grega é a forma mais antiga de crença e conhecimento do


homem ocidental. Os gregos tentaram explicar a realidade por meio de seres
sobrenaturais e figuras mitológicas. Nesse sentido, podemos dizer que a
mitologia surge do deslumbramento do ser humano sobre o mundo. Ou seja,
do estranhamento com tudo que o cercava e que naquele momento ainda não
tinha uma explicação racional.
A mitologia era contada em forma de poesia e cantada nas ruas por
poetas, sendo o mais famoso deles Homero, que teria vivido por volta do
século IX a.C. A mitologia foi, assim, transmitida de geração em geração
através dos poetas, o que garantiu a difusão e manutenção dos valores,
costumes e crenças do povo grego que se autodenominava helenos. A partir
de então, Hellas voltou ao seu país. O termo não era usado apenas no sentido
geográfico, mas também para um conjunto de valores culturais típicos da
civilização grega.

Em determinado momento da civilização grega, as explicações


mitológicas deixaram de ser suficientes, e o homem começou a desenvolver
respostas mais racionais para as questões que o atormentavam. Como
resultado, várias transformações ocorreram no contexto da cultura grega que
contribuíram para o surgimento do pensamento filosófico, tais como: a
descoberta da escrita, o surgimento da moeda, a formulação da lei escrita, a
consolidação da democracia, entre outras.
Dessas mudanças, puderam surgir os primeiros filósofos que passaram
a ser chamados de pré-socráticos no século VI a.C, pois a partir deles o
pensamento mítico começou a ser gradativamente deixado de lado e deu lugar
a novas questões.
O uso do raciocínio lógico e o abandono dos mitos em busca de
explicações gerais marcaram o início do processo que ficou conhecido como o
"Milagre Grego".
O surgimento da filosofia, mais uma vez só pode ser compreendido por
meio de certas características muito próprias da religião grega. Isso não
significa que a religião foi a causa da fundação da filosofia, Não se trata sequer
de simplesmente reconhecer a correspondência de determinados conteúdos. O
problema está muito mais em entender como esses conteúdos foram
transferidos do contexto mítico para o âmbito da questão racional.
Quando Tales afirma que a água é o elemento primordial de todas as
coisas, há uma clara ressonância do mito homérico, que por sua vez esbarra
nas crenças religiosas mais primitivas, mas tal ressonância não permite dizer
que a afirmação do mundo natural implica a rejeição da realidade sobrenatural.
As colônias nas quais se desenvolveu a filosofia pré-socrática
certamente não foram caracterizadas pela intensa religiosidade da Grécia
peninsular, que foi ao mesmo tempo marcada pela tragédia. No entanto, não é
a falta de religiosidade que explica o surgimento da filosofia, ao contrário, é um
tipo diferente de religiosidade que obrigou o homem colonial a viver mais para
si e a desenvolver uma certa ousadia intelectual. O percurso do pensamento
pré-socrático não se desenrola do "mito ao logos", mas do logos mítico à
conquista de um logos mais marcadamente no ético.
Por outro lado, se quisermos explicar tal audácia, devemos atentar para
um traço básico da religiosidade grega: o homem grego não entendia seus
deuses como parte do mundo sobrenatural, estamos diante de uma religião
que não conhece nenhum dogma ou qualquer tipo de verdade, que não
encontra seu fundamento na própria ordem natural, os deuses gregos
apresentam-se com evidências que os ligam à ordem natural das coisas.
Não existe exclusivismo de um Deus hebreu ou muçulmano que
reconhece uma pessoa somente quando ela se converte. Os deuses gregos
não estão confinados à Igreja ou aos privilégios de uma nação escolhida, mas
são reconhecidos na ordem mundial em sua presença puramente natural. E é
essa presença natural que confere aos deuses gregos uma universalidade
única. Deuses existem assim como plantas, pedras, amor, pessoas, risos,
lágrimas, justiça.
A partir de tais pressupostos religiosos, compreende-se que aos poucos
se tornou viável uma atitude filosófica diante da realidade, que o homem
passou a se afirmar como um ser que questiona a realidade por seu próprio
poder. Claro, a autonomia de uma questão filosófica só pode surgir ao final de
uma longa jornada.
Conclui-se em Homero o poeta se esconde anonimamente atrás das
ações de deuses e heróis, Hesíodo se apresenta como homem e quase
constrói a teogonia à sua maneira. A atividade racional do homem afirma-se
assim com intensidade crescente até atingir o seu primeiro momento de
maturidade no tempo dos pré-socráticos. Burnet aponta que os primeiros
filósofos até usaram a palavra deus em um sentido não religioso. Se o
pensamento filosófico é até certo ponto condicionado pela religião, agora sofre
o impacto da filosofia.

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