Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ANATUREZAJURIDICADOARTIGO28 DALEI11343 de 2006 PDFFINAL
ANATUREZAJURIDICADOARTIGO28 DALEI11343 de 2006 PDFFINAL
343/2006
RESUMO: A lei 11.343/2006, conhecida como nova lei de drogas em detrimento da lei
6.368/1976, trouxe nova roupagem à política criminal brasileira. Ao trazer algumas
peculiaridades, tem-se como um dos pontos mais controvertidos o disposto no artigo 28,
quanto à singularidade da sua natureza jurídica. Esse estudo, portanto, tem por objetivo
analisar a natureza jurídica do art. 28, da lei 11.343/2006, haja vista as divergências
doutrinárias existentes, as quais levaram as discussões à Suprema Corte por meio do Recurso
Extraordinário 635.659/SP. O tema foi abordado de forma dialética, cujo objetivo foi a
contraposição das visões doutrinárias a fim de se obter uma conclusão a respeito do assunto
haja vista a realidade observada na sociedade brasileira. Como resultado dessa verificação,
tem-se o posicionamento majoritário que preconiza o art. 28, da lei 11.343/06, como crime
que foi “despenalizado”. Entretanto, a análise do tema não se faz simples.
1. INTRODUÇÃO
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo,
para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia,
cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de
substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. (...)
(BRASIL, 2006)
Como se percebe, a nova redação da tipificação penal somente pune o infrator por meio
de penas alternativas, aplicando-se assim, advertência sobre os efeitos das drogas, prestação
de serviços à comunidade, ou ainda, medida educativa de comparecimento a programa ou
curso educativo.
Desta forma, em consequência à redação mais branda dada pela Lei 11.343/06 ao antigo
tipo penal, parte da doutrina passou a sustentar o entendimento de que houve uma
descriminalização “formal” da conduta, mesmo que a posse de droga para consumo pessoal
não tenha sido legalizada.
Tal posicionamento é liderado pelo jurista Luiz Flávio Gomes e fundamentado pelo
disposto no art.1º da Lei de Introdução ao Código Penal, o qual define crime utilizando como
critério o tipo de pena atribuída ao fato.
Outrossim, com base nos apontamentos do jurista Luiz Flávio Gomes, infere-se que
ocorreu a descriminalização do art. 28, da lei 11.343/06, pois a conduta descrita não possui
como punição o status de pena ou mesmo contravenção penal, ainda, que não tenha sido
legalizada pelo legislador pátrio.
Além das controvérsias acima citadas, outro assunto muito questionado é acerca da
inconstitucionalidade do art. 28 da Lei de Drogas, situação fática que enquanto não for
devidamente resolvida implica em insegurança ao nosso ordenamento jurídico. Um
posicionamento que vem se fortalecendo, o qual é defendido por inúmeros juristas, sustenta
que houve a violação de princípios constitucionais, sendo os principais a dignidade da pessoa
humana, a intimidade e a isonomia. Nesse âmbito, argumentam que,
É hora de olhar para o tal art. 28: “Quem adquirir, guardar, tiver em
depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido
às seguintes penas (...)”. Transbordando a ação para terceiros, não há mais falar em
“consumo pessoal”. Para a conformação típica, presume-se o isolamento dos efeitos
da conduta no próprio agente. Todo o cenário contemplado no art. 28 pressupõe a não
irradiação do fato para além da murada da vida privada, ambiente este que está
protegido pelo inc. X do art. 5.º da CR, e, por isso, não pode ser objeto de
criminalização. (GARCIA, s/d)
O que falta para finalizar as divergências acerca da inconstitucionalidade é o
Julgamento do Recurso Extraordinário 635.659/SP, o qual foi interposto contra a prisão de
Francisco Benedito de Souza, no ano de 2011, acusado de portar três gramas de maconha em
sua marmita, sendo condenado pelo crime de posse de drogas previsto no art. 28 da Lei de
Drogas. A sua defesa sustentou que tal criminalização viola o artigo 5º, X, da Constituição
Federal de 1988, segundo o qual “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação”.
Em contrapartida, houve a resposta do Ministério Público, o qual sustentou que o bem
protegido pelo dispositivo é a saúde pública, pois a conduta do indivíduo que traz consigo
drogas para uso próprio, contribui para a proliferação do vício na sociedade (RODRIGUES,
2016). Nessa linha, os adeptos de tal posicionamento justificam que a simples posse de
entorpecentes coloca em perigo a saúde pública, tendo em vista o risco de difusão da droga,
ademais, serve de fomento para o tráfico de drogas (COUTO; SILVA, 2015).
O julgamento do Recurso iniciou somente no ano de 2015 pelo Supremo Tribunal
Federal, e foi votado pelos ministros Gilmar Mendes, Edson Fachin e Roberto Barroso, sendo
que os três votos deliberaram pela inconstitucionalidade do art. artigo 28 da Lei nº 11.343/06,
porém cada voto com suas peculiaridades. O ministrou relator Gilmar Mendes pediu a
descriminalização de todas as drogas e sustentou em seu voto que:
No que tange ao Ministro Edson Fachin, este optou por restringir seus votos apenas ao
uso de maconha, pois esta era a droga portada pelo réu que originou e impulsionou o recurso
em tela.
Por fim, o Ministro Roberto Barroso, votou de forma semelhante à Fachin, contudo,
segundo Miguel de Almeida Rodrigues (2016), ele foi um pouco mais ousado, pois
considerou ser importante a criação de critérios que diferenciem o consumo pessoal do
tráfico, e definiu, de acordo com a legislação portuguesa, as quantidades mínimas que
definem se a destinação da droga é para uso pessoas (25 gramas de maconha e 6 plantas
fêmeas).
O processo, porém, está suspenso devido o pedido de vista feito pelo ministro Teori
Zavascki, que lamentavelmente faleceu em janeiro de 2017. Agora só resta aguardar o voto do
novo Ministro Alexandre de Moraes para que a situação seja finalmente concluída.
3. CONCLUSÕES
O presente artigo buscou analisar a natureza jurídica do artigo 28, da atual lei de
drogas, verificando se esse dispositivo tem caráter de despenalização, descriminalização ou
em última instância, se este é o caso de um dispositivo inconstitucional.
Concretiza-se a importância da reflexão dessa temática, visto que não há consenso
doutrinário a respeito desse tipo penal, que permanece com sua natureza jurídica obscura até
os dias de hoje, passados dez anos da publicação da lei 11.343/2006. Fato que levou ao STF o
Recurso Extraordinário nº 635.659/SP, que - a par das reflexões sobre a despenalização ou
descriminalização – revela que o posicionamento dos Ministros pendem para o a lado de
declarar inconstitucional o art. 28, da lei de drogas.
Nesta senda, o Recurso Extraordinário nº 635.659/SP ainda precisa ser votado pelo
Ministro Alexandre de Moraes, para que haja a finalização de seu julgamento. Entretanto,
apesar de a corrente majoritária estabelecer que o art. 28 tem natureza de despenalização,
pode-se inferir, de imediato, que o julgamento desse recurso extraordinário será decisivo para
o aclaramento sobre a natureza jurídica do art. 28, da lei 11.343/2006, determinando a sua
permanência ou possível exclusão da legislação penal, caso seja julgado pela sua
inconstitucionalidade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição Federal, 1988. Disponível em: < www.planalto.gov.br. >. Acesso
em: 07 out. 2017.
GOMES, Luiz Flávio, et al. (coord). Nova Lei de Drogas Comentada. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006.