Você está na página 1de 24

GÁLATAS

Carta escrita pelo Apóstolo Paulo e endereçada a um grupo de Igrejas na Região da


Galácia, aproximadamente entre os anos de 55 e 60 d.C..
Nessa região Paulo fundou igrejas em Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe
durante a primeira viagem missionária (At 13-14).
Apontada como a primeira carta escrita pelo apóstolo, é considerada a “declaração da
independência cristã” dos erros vigentes da religião judaica e sua tentativa de aprisionar
aqueles que buscavam liberdade em Cristo.
Evidências internas da autoria da Carta: primeiro “o nome de Paulo ocorre na
saudação (Gl 1.1) e no desenvolvimento da carta (Gl 5.2); os capítulos 1 e 2 são considerados
autobiográficos; debates do capítulo 3 (Gl 3.1-6, 15) foram postos na primeira pessoa do
singular; os apelos do capítulo 4 se referem diretamente às relações existentes entre os
destinatários da epístola e o seu autor (Gl 4.11, 12 -20); a intensidade do testemunho de Paulo
aparece no capítulo 5 (Gl 5.2-3); e a conclusão, no capítulo 6, termina com uma alusão aos
sofrimentos do autor por amor a Cristo (Gl 6.17)” (HDL Pg 13-14)
Existem também evidências externas da autoria Paulina da carta, tais como referências
de Irineu, Orígenes, Jerônimo e Pelágio. Além de ter sido amplamente utilizada no século 16,
durante a reforma, por Lutero e na compilação do seu comentário sobre este livro.

 Dificuldades apontadas na Carta:


- Reconhecimento do ministério do Apóstolo Paulo – Paulo defende seu chamado;
- Inconstância na Fé – (Gl 1.6) “admiro-me de que vocês estejam abandonando tão
rapidamente aquele que os chamou pela graça de Cristo, para seguirem outro Evangelho.”;
- Influência Judaizante – grupo que buscava devolver à Igreja os rituais e tradições
judaicas, como a circuncisão; negavam a suficiência da graça para a salvação; acrescentavam
as obras à fé como condição para alguém ser aceito por Deus;
- Salvação pela Fé – salvação deixa de ser interpretada como herança sanguínea ou
prática de normas, e passa a operar através da fé em Jesus.

 Características da Carta aos Gálatas


- Carta mais Apologética – tanto evidencia a defesa do seu apostolado como de sua
teologia. Os pregadores judaístas entendiam que “o cristianismo deveria operar dentro da
esfera da lei mosaica. A fé em Cristo não seria suficiente; precisava ser complementada pela
obediência à lei de Moisés.” (HDL – Pg 22);
- Carta mais Antiga escrita por Paulo – provavelmente escrita entre 55 a 60 d.C;
- Segundo Livro mais autobiográfico de Paulo – perde apenas para 2 Coríntios,
entendimento entre eruditos;
- Carta Magna da Liberdade Cristã – Gálatas mostra a o Caminho para a verdadeira
Liberdade (Gl 5.1), a liberdade de ser “escravo de Cristo”.
Gálatas é a resposta de Deus para os numerosos falsos cultos de hoje em dia, os quais
propõem uma mistura do judaísmo com o cristianismo. É a arma poderosa para derrotar o
sacramentalismo pagão de Roma papal, as doutrinas fantasiosas do mormonismo e distorções
da seita Testemunhas de Jeová, são veementemente combatidas em Gálatas.
- Carta mais rica em figuras de linguagem, principalmente as metáforas.
- “Gálatas é a única carta em que não há oração, nem louvor, nem ação de graças, nem
elogios” (HDL – Pg 48)
 Credenciais Apostólicas de Paulo – Gl 1.1-16
Os judaizantes colocaram a autoridade de Paulo em questionamento para a Igreja,
acusando-o de agir para autopromoção (Gl 1.10), não possuía uma mensagem verdadeira e o
colocando em posição inferior aos demais apóstolos de Jerusalém.
Além disso, atacaram a liberdade que Paulo anunciava por meio do evangelho,
querendo devolver à Igreja a obediência pela práticas da Lei como condição para a salvação
aliadas às obras. “Os inimigos acusavam Paulo de ser condescendente e de “adaptar” o
evangelho de modo a servir aos gentios.” (Wiersbe, pág. 895)
O autor inicia a carta se apresentando “Apóstolo”, que significa “alguém enviado com
uma missão”, um nome que para John Stott não era uma palavra comum, que pudesse ser
aplicada a qualquer cristão, antes era um termo especial reservado aos doze e a um ou dois
outros que o Cristo ressuscitado designara pessoalmente, ninguém poderia sucedê-los (HDL –
Pg 33).
No entendimento do pr Hernandes Dias Lopes (Pg 33) “a igreja é apostólica hoje na
medida em que segue a doutrina dos apóstolos.” Paulo não constituiu apóstolo, complementa
Lopes, mas antes recebeu do próprio Senhor Jesus, pois o mesmo não é uma instituição
democrática e independe de nomeação humana.
Paulo apresenta suas credenciais à prova das Igrejas da Galácia, não (1) sendo enviado
como representante de homens, mas conferida, autenticada e legitimado pelo próprio Senhor
Jesus Cristo. Este acontecimento na vida de Paulo em At 9, remonta a um dos principais
acontecimentos no cristianismo apostólico. Testemunho vindo da grande obra que o Espírito
realizara na sua vida, “Aquele que antes nos perseguia, agora está anunciando a fé que outrora
procurava destruir” Gl 1.23. A ideia que alguns críticos passam, que Paulo pode ter sofrido um
ataque epilético no caminho de Damasco, é uma tentativa absurda de desfazer um dos
maiores acontecimentos bíblicos do Novo Testamento.
O apóstolo registra em Gl 1.15-17 que Jesus revelou-se a ele na Arábia e lhe deu o
entendimento acerca do Evangelho. No caso ele não aprendeu da maneira tradicional que
seria aos pés dos apóstolos em Jerusalém, mas se deu única e exclusivamente através de
Cristo. (HDL – Pg 34).
“A conversão miraculosa de Paulo e seu e seu chamado ao apostolado criaram alguns
problemas. Desde o início, viu-se separado dos demais apóstolos, o que serviu de motivo para
seus inimigos dizerem que não era, de fato, um dos escolhidos e comissionados. Paulo faz
questão de ressaltar que havia sido nomeado apóstolo por Jesus Cristo, aquele que havia
escolhido os primeiros apóstolos. Seu apostolado não resultava da seleção e da aprovação
humana, mas da nomeação divina.” (Wiersbe, Pág. 892)
Todo processo após a conversão de Paulo, seu isolamento, período sem contato com a
igreja em Jerusalém, promoveu efeito contrário, posto que não fora esquecido ou serviu para
fomentar a criação barreiras de separação da Igreja em Jerusalém. Mas sem dúvida foi uma
experiência de grande crescimento e amadurecimento a ponto de propiciar receber do próprio
Senhor Jesus a “revelação” (Gl 1.11-12) do seu chamado, da vida e obra de Cristo e expansão
do Reino, ao qual ele admite (2) que o evangelho por mim anunciado não é de origem
humana.
O Evangelho é a Revelação Especial de Deus para o homem, o “theopneustos” de Deus
nos aproximadamente 40 autores, ao longo de mais ou menos 1500 anos que possibilitaram
compilar a Palavra de Deus nos seus 66 livros atuais.
“Em Gálatas 1:11, 12, Paulo expõe seu tema: sua mensagem e ministério são de
origem divina. Ele não inventou o evangelho, como também não o recebeu de homens; antes,
recebeu o evangelho de Jesus Cristo.” (Wiersbe, Pág. 897)
Também deixa registrado (3) que sua missão era anunciar Jesus aos gentios e ressalta
que recebera essa comissão única e exclusivamente da parte do próprio Deus (Gl 1.16). Paulo
cita em Gl 2.7 sobre sua visita à Igreja de Jerusalém após iniciado seu ministério ao lado de
Barnabé, e a aceitação por parte daqueles ao considerarem a pregação aos gentios parte do
seu chamado ao estenderem “as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós
fôssemos aos gentios, e eles à circuncisão” (Gl 2:9).
O tempo que Paulo passou afastado e recluso na sua cidade foi algo aparentemente
desolador, ter sido chamado e parecer estar improdutivo. Um chamamento de Deus
extraordinário, que filmes e efeitos especiais tentam recriar, mas que só uma mudança
genuína de Deus é capaz de transformar e reconduzir à verdade.
 Pessoa certa na defesa da fé – Gl 1.13-24
A apologética é o estudo que visa a defesa de uma crença, no caso da Igreja o cristão é
necessariamente um apologeta da sua fé, em todas as circunstâncias que se apresentam na
carreira da vida.
Paulo, sem dúvida nenhuma, é a pessoa ideal no contexto que se apresenta na Igreja
da Região da Galácia: influencia judaizante na crença dos novos convertidos para se voltarem
as práticas de obras da lei.
O apóstolo demonstra algumas características de quem tem propriedade daquilo que
defende:
a) Paulo, o perseguidor – Gl 1.13-14 – a primeira vez que vemos o nome de Saulo
está em At 8.1, quando o até então a serviço do Sinédrio, acompanha a execução
de Estevão e “consente com sua morte”.
A vida de Paulo era de devoção à causa de Deus, em Fp 3.3-6, ele ressalta que teria
tudo para valorizar o estilo de vida que até então vivia, porém, houve um chamado superior
que o permitiu conhecer o caminho de liberdade e vida em Cristo.
De origem israelita, da tribo de Benjamim, da seita dos fariseus e perseguidor da igreja
como gostava de se considerar, nasceu em Tarso da Cilícia e ainda jovem fora enviado a
Jerusalém para aprender a lei aos pés de Gamaliel (At 22.3). O apóstolo mais versado nos
estudos que Jesus vocacionou, homem tipo de cultura enciclopédica, poliglota e erudito, além
de um rabino de qualidades incomparáveis em sua nação. (HDL - Pg 64 e 65)
“Paulo foi um dos maiores perseguidores da igreja. Ele se autodenominou insolente,
blasfemo e perseguidor (I Tm 1.13). Disse que era o menor dos apóstolos, que não era nem
mesmo digno de ser apóstolo, pois perseguiu a igreja de Deus (I Co 15.9). Ele devastou a igreja
(Gl 1.13), assolou a igreja (At 8.3) e exterminou em Jerusalém aqueles que invocavam o nome
de Jesus (At 9.21).” (HDL – Pg 66)
“a conversão de Paulo foi um milagre espiritual. Seria humanamente impossível o
rabino Saulo tornar-se o apóstolo Paulo sem a graça de Deus. E o mesmo Deus que salvou
Paulo chamou-o para ser apóstolo e lhe deu a mensagem do evangelho. Assim, ao negar o
apostolado de Paulo e seu evangelho, os judaizantes negavam sua conversão!” (Wiersbe, Pág.
898)
b) Paulo, o convertido – Gl 1.15-16 – após apresentar seu testemunho, Paulo inicia o
relato do seu chamado para a obra do Senhor, que iniciou ainda no ventre da sua
mãe a vocação de Deus para sua vida, mas somente se tornou manifesto quando
Jesus se revelou a Paulo.
“Mas Deus se agradou fazer dele um pregador do mesmo evangelho ao qual ele antes
se opunha tão ferozmente.” (HDL – Pg 70) E o Senhor anunciara que sobre o ministério de
Paulo mostraria “o quanto deve sofrer pelo meu nome” (At 9.16), e sempre fora esta uma
marca patente da sua carreira de fé cristã.
Após sua conversão, At 9.18-20, diz que Paulo foi batizado, passou alguns dias com os
discípulos e passou a ensinar na sinagogas acerca de Jesus, o Filho de Deus. Uma mudança
muito profunda, de alguém que tinha a intenção de acabar com qualquer seguidor do
Caminho.
A nova vida tomou sentido, e Paulo começou a apresentar Jesus de maneira
contundente em Damasco, até o ponto dos judeus daquela cidade planejarem mata-lo (At
9.23). Os irmãos decidiram enviá-lo a Jerusalém, onde ocorreu o mesmo problema com os
judeus de lá (At 9.29), até ser enviado para Tarso, onde permaneceu um bom tempo.
c) Paulo, o Apóstolo – Gl 1.16-24 – toda a obra de Cristo realizado no caminho de
Damasco na vida de Paulo foi o start de um grande ministério que estaria por vir.
Após ser acolhido e recebido pela comunhão dos irmãos, foi necessário para Paulo se
retirar e reaprender à luz de Cristo o que as Escrituras ensinavam acerca do Messias, para isso
se retirou para Arábia (Gl 1.17-18) no qual ficou aproximadamente três anos “porque Jesus
passara três anos treinando seus apóstolos, agora investe três anos em Paulo, como um
apóstolo chamado fora do tempo.” (HDL – Pg 73)
O tempo com o Senhor foi responsável para Paulo receber o entendimento da obra de
Cristo, ter definição do seu chamado e assim poder partir para Jerusalém como o objetivo de
conhecer os apóstolos (“historesai” – avistar, visitar), no qual passou quinze dias (Gl 1.18), e
viu apenas Pedro e Tiago, irmão de Jesus.
Não foi um tempo para aprender teologia, ou receber reconhecimento do seu
ministério, mas um tempo para estreitar comunhão com a liderança e testemunhar aquilo que
Deus estava realizando através da sua vida e “glorificavam a Deus” (Gl 1.24) pela vida de Paulo.
 Inconsistência na Fé – Gl 1.6-8
Uma Igreja que teve um início espetacular no qual Paulo, Silas e sua equipe estiveram
sendo direcionados pelo próprio Espírito em tudo (At 16.6), e vidas foram libertas,
transformadas e curadas de maneira única, como o carcereiro e sua casa, Lídia a vendedora de
púrpura e tantos outros.
Paulo demonstra admiração, um sentimento de espanto diante da reação da Igreja ao
ser influenciada ceder a novas doutrinas e abandonar Cristo de modo tão rápido. Hernandes
Dias Lopes (pg 49) aponta uma característica que o texto no original está no tempo verbal
presente, e na voz ativa: “que estejais passando tão depressa”, isto indica que os gálatas
estavam em processo de abandono da fé.
“palavra “fascinados”, que Paulo usa em Gálatas 3:1. O termo significa “lançar um
feitiço, encantar”. (Wiersbe, Pág. 916)
Motivos para se vangloriar no legalismo: “Um dos motivos é que o legalismo é atraente
para a carne. Isso porque a carne gosta de ser “religiosa” – de obedecer a leis, de observar dias
santos, até mesmo jejuar (ver Gl 4.10).” (Wiersbe, Pág. 916)
“A carne gosta de se vangloriar de suas realizações religiosas – quantas orações foram
feitas e quantas ofertas foram dadas (ver Lc 18:9-14; Fp 3:1-10).” (Wiersbe, Pág. 916)
“Outra característica do legalismo religioso que fascina as pessoas é seu apelo aos
sentidos. Em vez de adorar a Deus “em espírito e em verdade” (Jo 4.24), o legalista cria um
sistema próprio para satisfazer seus sentidos. Não é capaz de andar pela fé; em vez disso, vive
de acordo com o que pode ver, ouvir, cheirar, provar e sentir.” (Wiersbe, Pág. 916)
“As pessoas que dependem da religião podem avaliar-se em relação aos outros e se
comparar a eles. Esse é outro elemento fascinante do legalismo. O parâmetro do verdadeiro
cristão, porém, é Cristo, nãos os outros cristãos (Ef 4:11ss).” (Wiersbe, Pág. 916)
“E faziam rapidamente, sem consultar Paulo, seu “pai espiritual”, nem dar tempo para
o Espírito Santo lhes ensinar. Encantaram-se com a religião dos judaizantes, assim como fazem
as crianças que seguem um desconhecido que lhes oferece doces.” (Wiersbe, Pág. 894)
“O evangelho é maior do que apóstolo, e a mensagem maior do que o mensageiro.
Não é a pessoa do mensageiro que dá valor à sua mensagem; antes, é a natureza da
mensagem que dá valor ao mensageiro. Por isso, nem o próprio Paulo nem um anjo poderia
alterar a mensagem.” (HDL – Pg 54-55)
“Paulo lutou contra os falsos mestres porque amava a verdade e porque amava os que
ele havia levado a Cristo. Como um pai amoroso que protege sua filha até seu casamento,
Paulo guardava seus convertidos para que não fossem seduzidos pelo pecado (2 Co 11:1-4)”
(Wiersbe, Pág. 895)
Impossível não enxergar o texto à base da parábola de Jesus em Mt 13 que relata
sobre o semeador que saiu a semear e os tipos de solo onde caem a palavra. Talvez a Igreja de
Gálatas seja aquela semente à beirado caminho que foi levada pelas aves (Mt 13.4) por não ter
profundidade e dependência da terra.
A inconsistência na Fé é percebida por algumas etapas inacabadas que ficam durante a
caminha cristã:
1) Falta de leitura bíblica – apesar de tantas versões como nunca, disponível em
meios digitais, impressos, áudios, a Palavra ainda continua sendo pouco explorada
e valorizada. Palavra que tem muitas aplicações e sentidos:
a) Viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes – Hb 4.12
b) Os céus e a terra passarão, mas as minhas Palavras jamais passarão – Mt 24.35
c) Simão Pedro lhe respondeu: Senhor, para quem iremos? Tu tens as Palavras de
vida eterna – Jo 6.68
d) Vocês estão limpos, pela Palavra que lhes tenho falado – Jo 15.3
e) Santifica-os na verdade; a tua Palavra é a verdade – Jo 17.17
2) Falta de experiências pessoais com Deus – livros que mais vendem e são
publicados ultimamente são aqueles de teor de auto ajuda, que trabalham
deficiências sentimentais, psicológicas e afirmativas das pessoas. Depende-se mais
do que o outro escreve e relata como verdade, do que aquilo vivido e
experimentado individualmente.
3) Falta de um posicionamento radical contra tudo que não seja santo – Gl 3.1-7 –
aceitar uma nova doutrina de maneira pacífica, sem resistência é o que deixou o
apóstolo inconformado. Pois ao aceitar a influência judaizante, os cristãos da
época acabavam por desmerecer a obra e sacrifício de Cristo, pelo fato de
novamente usarem a lei como parâmetro para salvação (Gl 2.16-17; 21).
Hernandes Dias Lopes citando William Hendriksen (Pg 50), averigua que os crentes
gálatas não estavam mudando apenas um posicionamento teológico, mas antes, estavam
transferindo sua lealdade daquele que em graça e misericórdia os havia chamado.
“O que os falsos mestres pregavam é um evangelho heteros, “de tipo diferente”, e não
um evangelho allos, “do mesmo tipo”.” (HDL – Pg 52) Existia uma adição à salvação por parte
dos judaístas que ia além de Cristo, se fundamentando em acréscimo de obras.
 O Evangelho de Paulo – Gl 2.2-6
Paulo mostra algumas evidências que sua pregação e dos demais apóstolos não eram
contrárias ou defendiam quaisquer interesses exceto o Reino dos Céus, algumas evidências:
a) Evangelho pregado aos gentios é o mesmo pregado aos judeus – Gl 2.2 – o Evangelho
pregado por Paulo, assim como o pregado pelos demais apóstolos não haviam
contradições entre si. O que existe são diferença na forma de exposição, de ênfase ou
público a ser apresentado, mas a Palavra é única.
b) Evangelho pregado aos gentios é o evangelho da liberdade – Gl 2.3-5 – “Tito foi levado
por Paulo como um exemplo de que é possível ser salvo sem ser circuncidado. Para os
judaizantes a presença de um gentio incircunciso na igreja era uma afronta, enquanto
para Paulo era a evidência da eficácia da graça e da liberdade do Evangelho.” (HDL - Pg
85)
c) Evangelho pregado entre os gentios não depende da aprovação dos homens – Gl 2.6a
– “Paulo não estava depreciando os apóstolos de Jerusalém, mas sim as reivindicações
extravagantes e exclusivas estabelecidas para eles pelos judaizantes.” (HDL - Pg 86)
“Paulo não questionava a dignidade dos apóstolos, e sim a vanglória indolente de seus
adversários. A fim de apoiar pretensões indignas, eles enalteciam Pedro, Tiago e João, tirando
proveito da veneração que a igreja lhes tributava, para satisfazerem seu desejo intenso de
prejudicar Paulo. A intenção de Paulo, nessa passagem, não era esclarecer quem eram os
apóstolos. O objetivo dele era desmascarar os falsos apóstolos.” (HDL - Pg 87)
d) Evangelho pregado aos gentios não aceita acréscimos – Gl 2.6b – “Paulo está
declarando que seu evangelho não precisava de revisão, aprovação ou acréscimo. O
evangelho de Paulo não era deficiente como insinuavam os falsos mestres.” (HDL - Pg
87)
“O evangelho pregado por Paulo não havia sido criado por ele nem mesmo tinha
recebido dos apóstolos que vieram antes dele, mas fora recebido do próprio Senhor Jesus.”
(HDL - Pg 87)

 Influência Judaizante – Gl 2.11-13


O objetivo deste grupo inimigo da cruz de Cristo era devolver ao cristianismo toda
tradição e práticas religiosas que a Igreja rompera, e assim aos poucos ir removendo Jesus do
centro.
Esse grupo ensinava que o evangelho que Paulo pregava era diferente dos apóstolos
de Jerusalém, porém o “propósito de Paulo era provar que não havia fenda entre ele e os
demais apóstolos. Não havia dois evangelhos, nem conflito entre os apóstolos. Os ministérios
eram diferentes, mas o evangelho era o mesmo.” (HDL – Pg 83)
O objetivo inicial era infiltrar-se na Igreja, assim como fizeram alguns que eram da
parte de Tiago (Gl 1.12). Provavelmente Tiago era líder da Igreja em Jerusalém, permaneceu
durante a perseguição que a Igreja sofreu no início de Atos e quando Paulo vai conhecer a
Igreja, reconhece a existência de Tiago, Pedro e João entre as colunas da Igreja (Gl 2.9).
Após estar no meio da comunhão dos irmãos, passavam a disseminar suas doutrinas
causando discordância entre os líderes e segregação entre os irmãos (Gl 2.11-13).
Essa doutrina tentava devolver à Igreja a separação entre níveis, daqueles que por uma
condição estariam aptos à participarem do sacerdócio de Jesus e quanto aos não circuncidados
estariam fora da comunhão.
Esse grupo que assolava a Igreja e visava torná-la judaizante, Paulo os chama de “falsos
irmãos”, buscavam tirar a liberdade dada por Jesus e reduzir os crentes à escravidão (Gl 2.4).
Influência esta que dominava a Igreja apostólica fazendo com que Pedro, Barnabé e outros
líderes fossem direcionados pelo posicionamento seletivo entre aqueles que cumprem a Lei e
aqueles que não a seguem (Gl 2.12-13). “a teologia de Pedro continuava intacta, crendo ele
que os gentios faziam parte da igreja, mas sua atitude estava em desacordo com sua teologia.”
(HDL – Pg 99).
Tal Situação levou Paulo a tomar algumas atitudes lúcidas que nos ajudam a refletir:
1) enfrentar Pedro face a face (Gl 2.11), Paulo faz isso em público para evitar que por
uma atitude errada fosse estabelecida uma situação insustentável na Igreja, que
acabara de se desvincular do judaísmo, e caso retornasse às antigas práticas
sucumbiria com o tempo e o esfriamento de regras e práticas religiosas rígidas.
“Paulo evidencia que o evangelho é maior do que o apóstolo, e demonstra que a
verdade está acima da personalidade.” (HDL - Pg 97)
“Um problema público precisa ter um tratamento público. A repreensão precisa ter o
mesmo alcance da ofensa.” (HDL - Pg 105)
“As feridas feitas com amor trazem cura, mas a bajulação dos hipócritas adoece.” (HDL
– Pg 110)
Pedro “desfrutava comunhão com todos os cristãos, quer judeus quer gentios. “Comer
com os gentios” significava aceita-los e coloca-los no mesmo nível que os judeus, como uma
só família em Cristo.” (Wiersbe, Pág. 907)
2) advogar a causa que mesmo judeus ou gentios não são justificados pela prática da lei,
mas mediante a fé como uma e suficiente condição, sendo esta em Jesus Cristo – Gl 2.15-16;
“A justificação não é apenas “perdão”, pois uma pessoa poderia ser perdoada e depois
voltar a pecar e se tornar culpada novamente. Uma vez que fomos “justificados pela fé”, nunca
mais seremos declarados culpados diante de Deus.” (Wiersbe, Pág. 909)
“A justificação também é diferente do “indulto”, pois um criminoso indultado ainda
tem uma ficha onde constam seus crimes. Quando um pecador é justificado pela fé, seus
pecados passados não são mais lembrados nem usados contra ele, e Deus não registra mais
suas transgressões (ver Sl 32:1, 2; Rm 4:1-8).” (Wiersbe, Pág. 909)
“Deus justifica os pecadores e não as “pessoas boas”. Paulo diz que Deus justifica “o
ímpio” (Rm 4:5). O motivo pelo qual a maioria dos pecadores não é perdoada é o fato de não
admitirem sua condição! E Jesus Cristo só pode salvar pecadores (Mt 9:9-13; Lc 18:9-14).”
(Wiersbe, Pág. 909)
3) Paulo mostra que o modo correto de viver se dá em agradar o Senhor no corpo,
como templo do Espírito Santo e não a carne com seus prazeres e paixões (Gl 2.20).
O resultado da confrontação de Paulo a Pedro e Barnabé, se deu definitivamente no
Concílio de Jerusalém (At 15.9), quando rejeitaram os postulados judaizantes e reafirmaram a
doutrina da justificação pela graça mediante a fé. (HDL – Pg 108)

 Salvação pela Fé – Gl 3.6-7


A única e verdadeira prerrogativa para a salvação do homem desde seu início, se deu
através da Fé. O seu relacionamento com o Deus criador e dependência originais eram marcas
do primeiro homem que habitou na terra, Adão.
“Como pode o homem ser justo para com Deus? (Jó 9.2). A resposta é clara: “O justo
viverá pela sua fé” (Hc 2.4). Este conceito é tão vital que três livros do Novo Testamento o
explicam para nós: Romanos (1.17), Gálatas (3.11) e Hebreus (10.38). Romanos explica o
significado de “o justo”; Gálatas explica “viverá”; e Hebreus explica “pela fé”.” (Warren W
Wiersbe – Comentário Bíblico Expositivo, p. 908 – HDL Pg 110)
O pecado e suas consequências fizeram com que o homem buscasse em si próprio os
meios para sua salvação, ou naquilo que poderia receber como merecimento por algo. Se
distanciando daquilo para o que fora projetado cumprir na sua vida.
Paulo cita o exemplo de Abraão (Gl 3.6) como exemplo de alguém que viveu
anteriormente à Lei, foi um dos maiores testemunhos que os judeus se orgulham e a
característica que o apóstolo ressaltou foi “creu em Deus”, ou seja, cumpriu na sua vida o
único requisito exigido por Deus para que o homem possa desfrutar da eternidade, a Fé.
“Enéas Tognini alega que Abraão não foi aceito por Deus por ter sido circuncidado,
mas foi circuncidado por ter sido aceito por Deus, mediante a fé.” (HDL - Pg 26)
A tradição judaica atribui que aos filhos de Abraão sanguíneos seria impossível a
condenação eterna, já que o pai deles agiu pela fé os mesmos receberiam como herança e
seriam abençoados. Paulo desfaz esse pensamento quando argumenta “os que são da fé, estes
é que são os filhos de Abraão” (Gl 3.7) e novamente os “que são da fé são abençoados
juntamente com Abraão” (Gl 3.9), a herança não é por nacionalidade, cor, mas por algo maior,
pela Fé.
A característica daqueles que vivem pela Fé é uma vida abençoada/justificada, por
partilhar das bênçãos juntamente com Abraão, através da Fé – Gl 3.9;
“Paulo diz que só há dois caminhos pelos quais o homem pode ser salvo: o caminho da
lei e o caminho da fé. O caminho da lei está baseado nas obras do homem e exige perfeição;
como o homem não é perfeito, a lei o coloca debaixo de maldição. O caminho da fé descansa
nas obras de Cristo e, porque ele é perfeito e realizou obras perfeitas, podemos ser salvos pela
fé.” (HDL – Pg 140)
A vida nova vivida pela fé, onde Deus passa a nos enxergar através do sangue de
Cristo, mesmo não sendo merecedores – Gl 3.11
Cristo se tornando maldito no lugar do homem (Gl 3.13) permitiu que a bênção outro
reservada apenas aos judeus pudesse ser partilhada com os gentios, ou seja, a promessa do
derramamento do Espírito Santo sobre toda carne. “Estou de pleno acordo com a declaração
de Adolf Pohl de que Cristo não se fez maldição porque transgrediu a lei. Ao contrário, foi
obediente até a morte e morte de cruz.” (HDL – Pg 143)
“A bênção é a justificação, a maior de todas as bênçãos, pois os verbos “justificar” e
“abençoar” são usados como equivalentes no versículo 8. E o meio pelo qual a bênção seria
herdada é a fé." (HDL - Pg 138)
Os opositores ao ensino da Justificação pela Fé usavam alguns argumentos para refutar
a doutrina defendida por Paulo, tais como:
“Em primeiro lugar, os falsos mestres acusavam essa doutrina de promover o pecado.”
(HDL – Pg 122) Entendiam que a fé sem as obras era responsável por enfatizar o pecado e
induzir à indolência moral. Mas Paulo rebate esse argumento (Gl 3.17-18), defendendo o
ministério terreno de Cristo, demonstrando que em nenhum momento Jesus seria ministro do
pecado. Além disso, revela que “se Cristo se manifestou para destruir o pecado, não poderia
ao mesmo tempo restaurar a sua força.” (HDL – pg 123)
“Em segundo lugar, os falsos mestres acusavam essa doutrina de perseverar no pecado
(2.17). Os falsos mestres haviam pervertido a verdade do evangelho, pois viam a justificação
como salvação no pecado e não do pecado.” (HDL – Pg 123)
“Em terceiro lugar, os falsos mestres acusavam essa doutrina de desestimular os
melhores esforços humanos.” (HDL – Pg 123) “Aqueles que querem ser justificados diante de
Deus pelas obras pensam que podem alcançar o favor de Deus com o melhor de seus
esforços.” (HDL - Pg 123)
“A salvação jamais poderia ser decorrente da obediência à Lei, pois a Lei não traz
bênção, apenas maldição.” (Wiersbe, Pág. 915)
“”Mas o justo viverá pela sua fé” (Hc 2:4) é a resposta de Deus; e foi essa verdade que
libertou Martinho Lutero da escravidão religiosa e do medo. Esse conceito é tão vital que três
livros do Novo Testamento o explicaram para nós: Romanos (ver 1:17), Gálatas (ver 3:11) e
Hebreus (ver 10:38). Romanos explica o significado de “o justo”; Gálatas explica “viverá” e
Hebreus explica “pela fé”.” (Wiersbe, Pág. 908)

 A Importância da Lei – Gl 3.24


Uma das grandes antíteses existentes na Igreja se dão entre: Lei x Graça, considerados
dois estágios da atuação de Deus na história da humanidade. Um estágio na qual se valorizava
as práticas/obras e outro explicado através do favor imerecido de Deus.
Paulo trata da importância da Lei e compara com a figura de um tutor, como aquele
que cuida dos nossos interesses, direciona, sendo este até Cristo (Gl 3.24). Sendo que este
controle é quebrado definitivamente em Cristo (Gl 3.25), do qual passa a depender todo o
futuro e se cumpre toda Lei e os profetas no mandamento do Amor (Mt 22.37-38).
“A debilidade básica e inata da lei está no fato de que ela pode diagnosticar a
enfermidade, mas não curá-la.” (HDL - Pg 178)
A lei no seu formato era limitada e por mais que seu propósito fosse conduzir a uma
vida de devoção a Deus, não era esta a realidade uma vez que aderindo as suas práticas e
estilo de vida, a pessoa acabava sufocada, aprisionada a um sistema mecânico que passou a
valorizar mais as obras.
Tais pessoas que vivem a Lei do modo errado, não pela vida que pode oferecer, mas a
tornam em morte, Jesus diz:
1 – “Guia de cegos” – Mt 5.14 aqueles que estão cegos e conduzem outros para o
mesmo caminho;
2 – “Fecham o Reino dos céus diante dos homens” – Mt 23.13 – acabam não entrando,
nem deixam aqueles que gostariam.
A liberdade conquistada em Cristo pela fé, permite rompimento com o sistema
engessado e arraigado em tradições que não cumprem o objetivo pelo qual fora criado, mas
permite que possamos nos revestir de Cristo. Receber a oportunidade de viver uma nova vida,
desfrutar de um novo começo, que não observa nacionalidade, posição social ou gênero. Antes
o que conta é a Fé e isto nos torna filhos de Abraão, único pré-requisito (Gl 3.29).
Na carta aos Romanos, Paulo, em nenhum momento deprecia a Lei em sua finalidade,
tanto que escreve que a Lei nos conscientiza do pecado e transgressões (Rm 3.20), e a Fé em
nenhum momento anula a Lei, ao contrário, a confirma (Rm 3.31).
Contudo, o apóstolo, não deixa de expor que apesar dos benefícios e sua serventia na
obra de Deus, a Lei é limitada na sua eficácia e aprisiona aquele que enxerga apenas para ela e
não é capaz de ver Jesus através dela (Gl 4.4-5).
“a justiça não decorre da lei, mas da promessa. Warren Wiersbe tem razão em dizer
que, se fosse possível obter vida e justiça pela lei, não teria sido necessário Jesus Cristo morrer
na cruz. Mas Jesus morreu, comprovando que a lei jamais poderia dar vida e justificar o
pecador.” (HDL - Pg 155)
“Adolf Pohl é preciso em sua observação: “Quando Cristo se desvanece no centro,
ressaltam as margens. O periférico torna-se o essencial, coisas secundárias se impõem como
absolutas. Pessoas não libertas socorrem-se nos ritos. Assim procedem escravos, não filhos.”
(HDL – Pg 179)
 Pastor Paulo – Gl 4.12-20
“John Stott destaca que Paulo está ensinando aqui um importante princípio e uma
grande estratégia para pastores e missionários: quando buscamos ganhar outras pessoas para
Cristo, nossa intenção é fazê-las iguais a nós, enquanto o meio para chegar a esse fim é fazer-
se igual a elas. Para que elas se tornem iguais a nós em nossa convicção e experiência cristã,
temos de primeiramente nos tornar iguais a elas em compaixão cristã.” (HDL - Pg 185)
 Paulo se torna inimigo por pregar a verdade (Gl 4.16) – “verdade de que eles
estavam abandonando o evangelho da graça para retrocederem à escravidão da
lei.” (HDL – Pg 190)
“A verdade, porém, que fere a consciência é o remédio que traz cura, mas bálsamo da mentira
é o veneno que mata.” (HDL – Pg. 190)
 Pastor que aprofunda relacionamentos (Gl 4.19a) – mesmo diante do cenário
contrário que a Igreja se encontrava afastada dos ensinamentos de Cristo, Paulo,
continua utilizando termos afetuosos “Meus filhos..., mesmo com uma carta que
inicialmente não havia nada de íntimo, Paulo demonstra que está interessado
naquelas vidas.
 Pastor que gera filhos espirituais (Gl 4.19b) – muito mais que um teólogo teórico,
pertencente a uma elite exclusivista, Paulo era um líder presente. “Paulo agoniza
pelos crentes da Galácia até o fim, comparando seu sofrimento às dores de parto.”
(HDL – Pg 193)
 Pastor que busca a maturidade dos crentes (Gl 4.19c-20) – Paulo instiga aos
crentes buscarem mais do que uma vida com Deus, mas uma vida transformada,
diferenciada.
“Calvino diz que, se os ministros do evangelho querem fazer alguma coisa, devem
esforçar-se para formar Cristo, e não eles próprios, em seus ouvintes.” (HDL – Pg 195)

 As duas Alianças Bíblicas – Gl 4.22-31


Paulo, muito inspirado por Deus, consegue buscar um detalhe profundo na história do
patriarca Abraão e do povo de Israel: dois filhos de Abraão e seu significado para a vida da
Igreja.

Abraão recebe a promessa que seria Pai de multidões aos 75 anos de idade (Gn 12.4) e
somente se cumpriria 25 anos mais tarde (Gn 21.5), com o nascimento de seu filho Isaque.

Mas no intervalo entre receber a promessa e o nascimento do filho da promessa,


Abraão cedeu e acabou gerando outro herdeiro Ismael, filho da escrava Hagar (Gn 16.4),
causando grande crise na sua casa por este ato.

A escrava quando percebe que conceberia o descendente que Abraão sonhara, passa a
desprezar sua senhora Sara (Gn 16.4), ocasionando até que sua senhora lhe expulsasse para o
deserto.

Elementos que Paulo utiliza na comparação entre as duas alianças:

a – Filho da Escrava/Filha da Livre (Gl 4.22) – uma aliança que gera escravidão quando
observada de modo indevido. “o direito antigo, uma escrava sempre à luz para a escravidão,
mesmo quando o pai da criança era um homem livre. Não bastava ser filho de Abraão. Era
preciso ser filho de Abraão como Isaque, o filho livre e herdeiro, não como Ismael.” (HDL – Pg
201-202); a segunda aliança traz em si toda revelação necessária para aproximar o homem de
Deus e lhe proporcionar liberdade. “Sara, mãe de Isaque, era a legítima mulher de Abraão. Era
mulher livre, e não uma escrava. Isaque nasceu da livre, e não da escrava. Nasceu para a
liberdade, e não para a escravidão.” (HDL – Pag. 203);
b – Nasceu de Modo Natural/Nasceu mediante a Promessa (Gl 4.23) – a primeira promessa se
deu de modo natural, apesar de ser de Deus, foi manifesta através de Moisés. Ismael
representa uma concepção na qual não “houve nenhuma intervenção sobrenatural de Deus
em seu nascimento. Seu nascimento foi uma escolha puramente humana, um esforço da
carne.” (HDL – Pag. 202). Aliado a isto, “Adolf Pohl complementa que Abraão e Sara tentaram
empurrar a aliança para a linhagem de Ismael e é nesse sentido que agem “segundo a carne”,
a saber distantes de Deus.” (HDL – Pág. 202). A segunda promessa mediante do Messias, o
Enviado da parte de Deus – Jesus. “John Stott argumenta que Isaque não nasceu segundo a
natureza, mas, antes, contra a natureza. Seu pai tinha 100 anos de idade e sua mãe, que fora
estéril, tinha mais de 90 anos.” (HDL – Pg 200);
c – Aliança do Monte Sinai/Aliança da Jerusalém do Alto (Gl 4.25-26) – a aliança da Lei
estabelecida no Monte Sinal, atual Jerusalém carnal. “A lei não liberta, mas escraviza. A lei não
salva, mas condena. Os que vivem sob a lei são filhos da escrava e nascem para a escravidão”
(HDL – Pag. 202); a aliança do Messias, representa um concerto superior, da Jerusalém
celestial. Não limitada em poder e eficácia. “Assim também são os crentes em Cristo. Eles
nascem não segundo a carne nem segundo a vontade do homem, mas de cima, do alto, do
Espírito.” (HDL – Pag. 204)
d – Perseguição do filho da escrava diante do filho da livre (Gl 4.29) – e Paulo frisa que a
mesma perseguição, discriminação e desprezo, ainda se fazem presentes nos dias de hoje
quando a falsa religião sufoca e menospreza aqueles que são livres genuinamente. Mas é
necessário uma atitude de desprendimento com o antigo sistema para viver o atual em
liberdade plena.

A argumentação que Paulo defende de acordo com as Escrituras é a mesma utilizada


por Abraão (Gn 21.12) quando Deus lhe aconselhou a deixar o filho da escrava seguir seu
caminho, pois não há condições de conviverem sob alianças diferentes, há conflito, há
condições e interesses diversos.
Para isto deve haver uma atitude de confrontação, de libertação completa para que
não existe resquícios da antiga aliança, qualquer vínculo que possa destruir toda liberdade e
vida que Jesus conquistou.
“Adolf Pohl diz: “Ismael não somente é o ancestral dos árabes, mas alegoricamente de
todas as pessoas legalistas, sejam árabes, judeus ou gentios”.” (HDL – Pag. 207)
“Warren Wiersbe acertadamente escreve:
É impossível a lei e a graça, a carne e o Espírito estarem em acordo e conviverem. Deus não
pediu a Hagar e a Ismael que voltassem de vez em quando para fazer uma visita; foi um
rompimento permanente. Os judaizantes do tempo de Paulo – e de nossos dias – tentam
conciliar Sara com Hagar e Isaque com Ismael, uma conciliação contrária à Palavra de Deus. É
impossível misturar a lei com a graça, a fé com as obras e a justificação que Deus concede com
a tentativa humana de merecer a justificação.” (HDL – Pag. 212)

 Um chamado à liberdade – Gl 5.1-12


Paulo estabelece uma grande separação na obra de Cristo e sua finalidade no chamado
do crente: a liberdade. Na concepção do apóstolo, não existe espaço na conduta cristã para
concessões, ceder espaço para o “politicamente correto” ou ser amigo de todos para não
desagradar ou machucar por viver a verdade.
O conselho é claro quando o autor define como retrocesso o ato de circuncidar-se (Gl
5.2,3), por mais que aparentemente fosse uma aproximação ao judaísmo, a religião
majoritária, uma forma de ser visto com bons olhos ou manter relações de
proximidade/amigáveis. Paulo não considera essa atitude algo positivo para a igreja, mas uma
pequena atitude capaz de desmanchar toda obra de Cristo realizada na cruz.
Consequências de pequenas concessões que permito na minha vida:
a) Escravidão (Gl 5.1) – por mais brandas e por melhor intencionadas que sejam,
qualquer concessão no final tende a se tornar em um laço e armadilha com a
finalidade de aprisionar;
b) Distanciamento de Cristo (Gl 5.2) – qualquer concessão que vá contra o propósito
de Jesus é uma forma de afronta e desqualificação do sacrifício vicário de Cristo. O
mesmo que afirmar que tal entrega fora em vão;
c) Submissão a outro sistema (Gl 5.3) – quando paro de olhar para Cristo, deixo de
observar seus ensinos e preceitos e passo a ter outras referência, depender de
outro sistema, não mais aquele no qual Jesus estava;
A tese defendida por Paulo anteriormente continua a mesma, sobre um viver pela Lei
ou pela Fé. Não que a fé elimina a Lei, antes a cumpre.
Porém estabelece que no caso dos discípulos optarem por seguir um pequeno
requisito da Lei, o devem seguir em sua integridade, não apenas aquilo que consideram
importante (Gl 5.3).
Paulo elimina qualquer disparidade ou possível vantagem que a circuncisão ou
incircuncisão teriam um sobre o outro. Não se limita a uma marca externa no corpo para
demonstrar aliança com Deus, antes em Rm 2.29 afirma que esta obra é “operada no coração,
pelo Espírito”, e a ferramenta utilizada é o amor (Gl 5.6).
A liberdade incomoda quem não está aprisionado, quem desfruta da plenitude de
Cristo e testemunha na sua vida essa experiência e estilo de vida, acaba gerando olhares
desconfiados, alguns para experimentarem do mesmo gozo, outros simplesmente vislumbram
desqualificar essa condição, aos quais Paulo chama de “fermento que leveda a massa” (Gl 5.9)
e confessa a vontade que tais sofram na carne aquilo que desejam aos outros, sendo castrados
(Gl 5.12).
 O fruto do Amor – Gl 5.22-23
A maior prova de um coração restaurado à imagem e semelhança de Deus não se dá
pelo fato de seguir regras, ou demonstrar as pessoas um viver aparente. Paulo, limita que
apenas uma característica deve ser o alvo do cristão que busca viver no Espírito, como sendo o
Amor.
E o amor é o único dom suficientemente capaz de superar dificuldades interpessoais,
atritos que se apresentam durante a caminhada na fé ou até mesmo mágoas passadas.
O apóstolo, a exemplo de Jesus (Mt 22.39), apresenta o real contexto quando a Lei é
cumprida. Quando opto amar o próximo como a mim mesmo (Gl 5.14), mesmo diante de toda
argumentação lógica que posso maquinar como vítima; ou quando injustiçado; esquecido ou
até mesmo julgado pelos irmãos.
A atitude de Amar não deve ser alicerçado no sentimento, pois este é instável,
momentâneo ou em um pensamento filosófico, que relativiza mais do que age. Mas parte de
uma atitude, uma ação, uma decisão que origina tudo; não deve esperar receber algo como
moeda de troca, antes a causa inicial está contida no próprio amor.
O Amor é o fruto a ser desenvolvido por Deus na vida do crente, assim como o próprio
Deus demonstrou esse amor em nosso favor, hoje é possível viver de modo a resplandecer
Cristo no mundo. “As obras da carne são resultado do nosso labor; o fruto do Espírito é
realização do Espírito em nós.” (HDL – Pág. 247)
O amor é responsável por ajudar a desenvolver outas características na vida cristã, que
sem ele seriam impossíveis, “nove virtudes são como que gomos de um mesmo fruto. Não
podemos ter um fruto e ser desprovidos de outros.” (HDL – Pág. 248), tais como:
- Amor – amor perfeito ágape aquele oriundo de Deus;

- Alegria – “A palavra grega chara, traduzida pro “alegria”, é a alegria fundamentada num
relacionamento consistente com Deus. Não é a alegria que provém das coisas terrenas ou
triunfos passageiros, nem mesmo é a alegria de triunfar sobre um rival; antes, é o gozo que
tem Deus como seu fundamento.” (HDL – Pág. 249)

- Paz – “A palavra grega eirene, traduzida por “paz”, refere-se fundamentalmente à paz com
Deus. Era usada para descrever a tranquilidade e a serenidade que goza um país sob um
governo justo. Significa não apenas ausência de problemas, mas, sobretudo, a consciência de
que nossa vida está nas mãos de Deus.” (HDL – Pág. 249)

- Paciência – “A palavra grega makrothumia, traduzida por “longanimidade”, significa ânimo


espichado ao máximo. É a pessoa tardia em irar-se. Trata-se de paciência para suportar injúrias
de outras pessoas. Descreve o homem que, tendo condições de vingar-se, não o faz.” (HDL –
Pág. 249)

- Amabilidade – “A palavra grega crestotes, traduzida por “benignidade”, significa gentileza.


Refere-se a uma disposição gentil e bondosa para com os outros. O jugo de Cristo é crestos
(Mt. 11.30). Trata-se de uma amável bondade.” (HDL – Pág. 249-250)

- Bondade – “A palavra grega agathosyne, traduzida por “bondade”, refere-se à bondade ativa
como um princípio energizante. A bondade pode reprovar, corrigir e disciplinar; mas a
benignidade só pode ajudar. Trench diz que Jesus mostrou agathosyne quando purificou o
templo e expulsou os que o transformaram em um mercado, mas manifestou crestotes
quando foi amável com a mulher pecadora que lhe ungiu os pés.” (HDL – Pág. 250)

- Fidelidade – “Palavra grega pistis, traduzida por “fidelidade”, significa fé, lealdade. Descreve a
pessoa que é digna de confiança.” (HDL – Pág. 250)

- Mansidão – “A palavra grega prautes, traduzida por “mansidão”, significa dócil submissão. É
poder sob controle. A palavra era usada para um animal que foi domesticado e criado sob
controle.” (HDL – Pág. 250)

- Domínio Próprio – “A palavra grega egkrateia, traduzida por “domínio próprio”, significa
autocontrole, domínio dos próprios desejos e apetites. Aplicava-se à disciplina que os atletas
exerciam sobre o próprio corpo (1 Co 9.25) e o domínio cristão do sexo (1 Co 7.9).” (HDL – Pág.
250)
O verdadeiro amor só é possível quando estou perto de Deus, no momento de
afastamento e falta de comunhão, se perde a referência e só no Senhor há possibilidade de ser
completo desse amor.

 Obra do Espírito Santo – Gl 5.16-25


a) Andar no Espírito (Gl 5.16) – “o Espírito quem guia, mas quem anda somos
nós” (HDL – Pág. 251)
b) Guiada pelo Espírito – (Gl 5.18)
c) Produzir o fruto do Espírito (Gl 5.22-23) – “O apóstolo Paulo faz um contraste
entre as obras da carne e o fruto do Espírito. Se as obras falam de esforço, o
fruto é algo natural. Donald Guthrie diz que a mudança das “obras” para
“fruto” é importante porque remove a ênfase do esforço humano.” (HDL –
Pág. 247)
d) Viver no Espírito (Gl 5.25)

 Tipos de Semeadura e Colheita – Gl 6.8

No reino espiritual existem dois tipos de sementes que posso usar: semear para carne
ou para o Espírito; e igualmente, existem duas colheitas que saem desse resultado: colher
corrupção ou vida eterna.
Dependendo do tipo de semente que utilizo vai definir aquilo que receberei como
resposta, “quem semeia para a própria carne não pode colher vida eterna; quem semeia para
o Espírito não pode colher corrupção. A raiz determina o fruto, e não o fruto a raiz. Semear
para a própria carne significa buscar a satisfação das necessidades desta vida, sem nenhuma
consideração pela vida futura, mas semear no Espírito significa buscar os valores da vida que
permanece.” (HDL – Pág. 267)

“William Hendriksen diz que semear para a carne significa deixar que a velha natureza
se expresse livremente, enquanto semear no Espírito significa deixar que o Espírito se expresse
com ele quer.” (HDL – Pág. 267)

 Israel de Deus – Gl 6.16 – “A igreja do Antigo e do Novo Testamento é um só povo.


Os judeus e gentios que se gloriam na cruz de Cristo, e são novas criaturas, são o
Israel de Deus.” (HDL – Pág. 282)

“A igreja é o Israel de Deus. “Todos quantos andarem de conformidade com esta regra” e “o
Israel de Deus” não são dois grupos, mas apenas um.” (HDL – Pág. 282)

 Marcas de Cristo – Gl 6.17 - “a palavra grega para “marcas” é stigmata. Sem


dúvida essas marcas foram os ferimentos que ele recebeu em diversas
perseguições por amor a Cristo.” (HDL – Pág 284)
“A palavra stigmata era usada também no grego secular para referir-se ao
ferretear dos escravos como um sinal de posse, à marcação de um escravo como
um sinal de seu senhor, ou alguma cicatriz distinguível a fim de demonstrar a
quem ele pertencia. Paulo era um escravo de Cristo e havia recebido essa
marcação nas diversas perseguições sofridas pelo evangelho.” (HDL – Pág. 284 –
285)
 Referências

LOPES, Hernandes Dias: Comentários Expositivos Hagnos – Gálatas a carta da


liberdade cristã. Hagnos. 1ª Edição – 2011 – São Paulo/SP

Você também pode gostar