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MENTOMAGNETISMO
& ESPIRITISMO

VITOR RONALDO COSTA


GUSTAVO HENRIQUE DE LUCENA
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SUMÁRIO

- Como e por que se iniciou o presente trabalho


- Incentivo fraterno de um espírito amigo
- Comentário inicial do instrutor Lancelin
1 – Exigências éticas do mandato mediúnico
2 – Mal-estar do médium antes da reunião
3 - Médiuns: trabalhadores da última hora
4 - Mediunidade, pensamento e equilíbrio mental
5 – Mediunidade, juventude e maturidade do senso moral
6- Filigranas da sensibilidade mediúnica
7 - Alimentação mental
8 – Experiências transatas e perturbações mediúnicas
9 – Mediunidade e as forças do bem
10 – Mediunidade e autodescobrimento
11 – Complexidade da dinâmica mediúnica
12 – Mentomagnetismo e o efeito da prece
13 - Mediunidade e sentimento fraterno
14 - Competência mediúnica
15 - Sintonia mediúnica
16 - O médium na reunião espírita
17 – Sensibilidade psíquica na infância
18 – Médiuns, esclarecedores e evangelho
19 – Palavras finais do instrutor Lancelin
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COMO E POR QUE SE INICIOU O PRESENTE TRABALHO

Desde longa data, uma de nossas ocupações no âmbito do


Espiritismo tem sido a participação em grupos mediúnicos de cunho
assistencial. Penso que a nossa formação médica tenha de algum modo
contribuído para tal obra, pois grande é a vontade de auxiliar os portadores
de enfermidades de difícil solução, sobretudo as vítimas de assédio
obsessivo persistente, ofertando-lhes gratuitamente aquilo que de graça
recebemos.
No envolvimento cotidiano com a lida da existência, vez por outra,
tomávamos ciência de algumas mensagens psicografadas pelo nosso
sobrinho, Gustavo Henrique de Lucena, médium bem formado segundo as
diretrizes espíritas. As mensagens versavam sobre temas evangélicos e
mediúnicos, sempre abordados com a profundidade típica de um
conhecedor da causa. O espírito que as ditava identificou-se como
Lancelin. O fato é que as mensagens, com o passar do tempo, ampliaram
nosso interesse, pois abordavam detalhes de significativa importância para
os estudiosos e praticantes da mediunidade no contexto doutrinário. É bem
verdade que, a partir de então, passei a alimentar em meu íntimo a
suposição de que poderia ser interessante a organização de um singelo
compêndio, contendo os ditados desse benfeitor espiritual.
Pois bem. Certa feita, em uma de nossas viagens a Natal-RN, para
rever parentes e amigos, tivemos a agradável surpresa de uma comunicação
espiritual veiculada pelo médium Gustavo Henrique. A entidade
comunicante, o nosso já conhecido Lancelin, em nome de outras mais,
inquiriu-nos sobre o interesse de elaborarmos juntos uma obra na qual o
magnetismo mental seria o alicerce do trabalho. Com certeza o livro
despertaria o interesse de espíritas afeiçoados aos trabalhos mediúnicos de
tratamento espiritual.
De acordo com a apreciação de Lancelin, o assunto abrangeria temas
de reconhecida importância, correlacionados ao magnetismo humano, por
exemplo: o valor da prece; as particularidades referentes ao dinamismo
intrínseco da mediunidade; e, a participação relevante dos doutrinadores na
condução proficiente das irradiações mentais e fluídicas que acontecem no
transcorrer das sessões mediúnicas de caridade. Além disso, seriam
sugeridas condutas mentomagnéticas específicas a serem adaptadas ao
exercício da mediunidade tarefa, visando à recuperação dos enfermos de
ambos os lados da vida. Obviamente, grande foi o nosso contentamento
diante do inusitado convite, logo aceito de bom grado, tanto pelo Gustavo
quanto por mim.
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O MÉTODO

Ficou então estabelecido que o médium natalense se encarregaria do


recebimento das mensagens psicográficas, ao passo que a nossa
contribuição, de acordo com a própria sugestão do espírito Lancelin,
permaneceria centrada na análise dos textos e a respectiva adaptação ao
linguajar espírita, simplificando, por vezes, o pensamento mais elaborado
dos instrutores espirituais, pensamento portador de inúmeras conceituações
inovadoras. Com o passar dos dias, o distinto Lancelin apresentou-nos
outras entidades convidadas a integrar a equipe de instrutores, a exemplo
dos espíritos de Carlos, João de Deus e LDMG. Por conseguinte, em vista
da quantidade de informações recebidas, bastante cuidadoso foi o nosso
empenho em facilitar seu entendimento, em face do ineditismo de algumas
hipóteses de trabalho e a natural complexidade de tudo aquilo que envolve
o estudo do desafiador campo mental.
À medida que novas determinações afloravam, procurávamos
cumpri-las da melhor maneira, levando em conta a importância e a
repercussão doutrinária que os escritos certamente trariam. Uma dessas
incumbências dizia respeito à formulação de inúmeras perguntas a serem
encaixadas no contexto da obra, de modo a permitir uma sequência lógica e
compreensível da leitura dos textos. Coube-nos, ainda, a tarefa de elaborar
breves comentários após cada capítulo.
Quando alguma dúvida surgia, eu e o Gustavo trocávamos ideias, via
skype e e-mail, de forma que a questão era submetida ao crivo de Lancelin,
o qual, prontamente nos respondia valendo-se de mensagem psicografada,
dirimindo-nos as dúvidas e clareando o entendimento do assunto. Ao final,
o trabalho foi submetido à análise do nosso coordenador espiritual que,
após revisá-lo integralmente, autorizou a sua divulgação.

Portanto, este singelo manual representa o fruto de esforço conjunto,


a reunir seleto grupo de instrutores desencarnados, um médium psicógrafo
e a nossa pessoa. Embora eu resida em Brasília e o médium Gustavo em
Natal, em momento algum tal detalhe se constituiu empecilho, visto que os
atuais meios de comunicação eletrônica nos garantiram sempre o
intercâmbio de informações, possibilitando assim o desenvolvimento
satisfatório do empreendimento literário, ora ao alcance da comunidade
espírita.
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INCENTIVO FRATERNO DE UM ESPÍRITO AMIGO

Tecerei apenas algumas considerações acerca dos atendimentos


organizados pelos irmãos que trabalham com o magnetismo.
Independentemente do método utilizado pelo grupo mediúnico, ele sempre
terá relações estreitas com o magnetismo, seja ele animal ou o que decorre
da comunhão mental entre o magnetizador e as energias transcendentais
que o envolvem.
O doutrinador, no tocante ao magnetismo, é um trabalhador
efetivo. Quando o irmão Lancelin o descreve como um caminho energético,
nas entrelinhas, deixa transparecer as características de magnetizador.
Quem exerce o papel de esclarecedor também conduz energia pela ação
volitiva da mente.
Caríssimos espíritas. No momento atual é necessária a existência,
em todas as áreas do saber e do trabalho, de irmãos que se ocupem com a
doação em favor do próximo. Na reunião mediúnica, não atendemos
somente os espíritos ali presentes, que se comunicam pela psicofonia.
Acontece uma emancipação dos limites físicos da sala de reuniões. Em
muitos casos, os diálogos são projetados aos espíritos infelizes que se
demoram nas regiões umbralinas, na busca de ofertar àqueles subjugados
pelo ódio, a oportunidade do autoperdão e a chance de buscar novos rumos
para a própria edificação. Em outras ocasiões, tais iniciativas se
concentram na transformação energética de regiões afetadas por fluidos
sufocantes responsáveis pela manutenção do desequilíbrio mental dos que
ali estagiam. Utilizamos então, as energias dos espíritos, dos médiuns e a
força motriz do dirigente/doutrinador.
É necessário alimentar a convicção de que somos discípulos do
bem. Se tivermos plasmada em nossa mente a frase pela qual Jesus nos
habilita como cooperadores do reino de Deus, estaremos em íntima
associação com o amor fraterno em ação. Portanto, não esqueçam a
convocação do Cristo: Vós sois deuses e podeis fazer muito mais do que
eu faço.

Um bom trabalho. Quem está com o Cristo no coração não se


cansa de amar.
JLA (Um amigo espiritual).
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COMENTÁRIO INICIAL DO INSTRUTOR LANCELIN

Apesar de a mediunidade ser estudada no âmbito do movimento


espírita, inúmeros detalhes práticos não se encontram elucidados nos
compêndios. É como acontece em todo ramo do conhecimento. Podemos
descrever o perfume de uma flor, mas nada será igual à experiência
olfativa, visual, tátil, emotiva, quando, no jardim, presenciamos in loco a
vida colorida e harmoniosa da natureza.
O exercício mediúnico resguarda detalhes só percebidos no
momento da atividade prática. Procuraremos resumir algumas experiências
no conteúdo desta obra, com o intuito de fornecer aos tarefeiros da
mediunidade com Jesus, o estímulo para que ninguém desista de prosseguir
nesse trabalho de cunho essencialmente afetivo. A atividade mediúnica, se
exercitada com critério evangélico, é das mais benéficas para a evolução do
espírito encarnado, pois reserva ao praticante a oportunidade de vivenciar
as linhas traçadas por Deus rumo ao amor universal.
Contudo, caros irmãos, a vivência mediúnica requer certo grau de
maturidade do senso moral, para que se não caia no abismo das desilusões.
O labor mediúnico é fruto de muita dedicação, entrega, e confiança em
Deus. O adepto deve se despir da vaidade presunçosa, pois ela pode se
converter em estímulo aos maiores equívocos no campo da assistência
caritativa. Tenhamos, todos nós, a consciência de que tudo aquilo que se
consegue realizar, acontece em decorrência do amor de Deus, a se espalhar
por intermédio das mãos dos trabalhadores da última hora.
Precisamos uns dos outros na seara mediúnica. Tenhamos a
certeza de que o trabalho não é de cunho individual, mas resultado de
cooperação entre muitos, os quais, unidos, doam o seu melhor em prol da
consolação e do esclarecimento dos irmãos necessitados. Adequemos,
então, o nosso entendimento sobre a atividade mediúnica, pois a luz vem de
Deus. Os trabalhadores da seara são cooperadores importantes na
construção do ideal maior, sem que alguém se destaque pessoalmente como
gerador de realizações assistenciais em prol dos semelhantes. O mérito
maior é do Criador. E todos aqueles que compõem essa força tarefa tão
especial, agradeçam a Deus a oportunidade de servir ao bem comum.
Os que se sentem motivados pelo trabalho assistencial mediúnico
podem integrar os grupos, desde que cultivem a paciência, a perseverança e
se dediquem ao estudo. A tarefa é de cooperação mútua e cada qual atua da
melhor maneira, conforme a própria possibilidade. Quem milita na causa,
certamente, já percebeu a quantidade e a distinção de tarefeiros do mundo
espiritual a atuarem em favor da gente sofrida. Por essa razão, quando nos
comprometemos com a tarefa, nos tornamos responsáveis por uma parte do
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todo e assim agimos para não deixar em dificuldade uma equipe que se
sustenta na base da cooperação.
Portanto sejamos fiéis aos princípios da solidariedade, não só
adquirindo conhecimento por meio do estudo, mas valorizando na prática a
importância do afeto entre os demais tarefeiros.
Amor antes de tudo – eis o princípio de um trabalho prodigioso
em nome do Cristo.
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EXIGÊNCIAS ÉTICAS DO MANDATO MEDIÚNICO

“(...) o magnetismo,
desenvolvido pelo Espiritismo, é a
chave da abóbada da saúde moral e
material da humanidade futura.”
(Allan Kardec. RE, p. 193, jun. 1867
– EDICEL)

VRC- A realidade espiritual da criatura faculta-lhe a


oportunidade de experienciar faculdades extrassensoriais, as quais
transcendem a visão materialista das ciências especulativas. Não obstante
relatos antiquíssimos de contatos mais ou menos ostensivos entre vivos e
mortos, expressivo segmento populacional ainda alimenta dúvidas quanto
a tal possibilidade. Muito embora Allan Kardec, o notável desbravador da
alma humana, tenha desenvolvido nos meados do século dezenove um
sistema de pesquisas mais do que convincente, ao demonstrar
experimentalmente a perspectiva de contatos inteligentes entre indivíduos
dotados de uma predisposição peculiar, a que ele chamou de mediunidade,
e as inteligências desencarnadas que povoam o universo invisível. Embora
um grande número de estudos espíritas tenha firmado a base teórica e
prática da mediunidade, cremos que ainda há muito a ser feito no sentido
de desbravá-la por completo.
Lancelin- A mediunidade é um sistema complexo de intercâmbio
mental entre os seres habitantes de planos dimensionais diferentes. Allan
Kardec, em sua pesquisa precursora, buscou elucidá-la ao expandir a
compreensão do fenômeno considerado por uns como milagroso e, por
outros, como manifestação alucinatória da mente desajustada. Mediante
exaustivas pesquisas, ele objetivou desvendar a extensa gama da
fenomenologia mediúnica. Em decorrência dessa análise singular, a
humanidade travou contato com as proposições explicativas dessa
faculdade psicofísica e pôde melhor assimilar os fenômenos das mesas
girantes, da xenoglossia, da tiptologia, da aparição dos fantasmas e,
consequentemente, entender a realidade da vida, em patamares nunca antes
divisados.

VRC- É bem verdade que a prática mediúnica tanto nos


proporciona o contato inteligente com os espíritos, quanto revela-nos o
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modo de vida experimentado por eles no mundo das causas. Permite-nos


ainda melhor diferenciar o bem-estar resultante dos relacionamentos
harmônicos com os desencarnados, daqueles efeitos deletérios decorrentes
das influenciações perniciosas, facultando-nos um melhor juízo de certos
transtornos estranhos, a exemplo da obsessão espiritual, cuja terapêutica
se desenvolve nas clássicas sessões desobsessivas levadas a efeito nas
instituições espíritas bem orientadas.
Lancelin- Em virtude da manipulação adequada do potencial
mediúnico disponibilizado em favor dos sofredores, tomamos ciência da
obsessão espiritual, condição enfermiça capaz de abalar a sanidade mental
e física da criatura, além de lhe opor obstáculos ao esforço evolutivo.
Assim, o surgimento das instituições espíritas alicerçadas na proposta
inovadora de Allan Kardec favoreceu a multiplicação das reuniões
mediúnicas, com o intuito de tratar os portadores de obsessões espirituais.
No Brasil, a participação decisiva do amorável Dr. Bezerra de Menezes
serviu para estimular a prática desobsessiva e a terapia fluídica magnética.

O assédio obsessivo, embora muitos imaginem, não é iniciativa


unilateral, pois pode representar uma forma velada de autopunição, um
remorso profundo ante a angústia interiorizada e ressurgida diante da
vítima indefesa do pretérito. Por essa razão, afirmamos que o processo
possui duas faces intimamente relacionadas. Separar elos tão fortalecidos e
profundos, só por intermédio de uma terapia respaldada no amor, na
compreensão e na iluminação interior.

Por isso, entre as tarefas doutrinárias habitualmente exercitadas


no contexto espírita, destacamos as sessões mediúnicas desobsessivas, as
quais, em razão da grande responsabilidade envolvida, exigem dos médiuns
a manutenção da suprema vigilância moral prescrita pelo Mestre Jesus.
Assim afirmamos, não em tom de ameaça, mas como verdade evangélica, a
alicerçar o trabalho assistencial dos tarefeiros do bem maior.

Raciocinemos juntos: expressiva amostragem ainda carece de


maior elucidação a respeito da trajetória existencial, especialmente daquilo
que se é na intimidade da própria alma. Esta última inferência é a proposta
primordial da vida: “conhece-te a ti mesmo”. Por conseguinte, somos, até
então, seres limitados na compreensão maior, embora estejamos a
palmilhar, muito acanhadamente, a trilha do bem. Para os tarefeiros da
mediunidade, a vigilância é uma constante, pois considerável percentagem
ainda possui em seu íntimo desarmonias energéticas herdadas do passado,
apesar de a maioria estar comprometida em tarefa de auxílio aos irmãos
revoltados, enredados nas malhas do ódio e da vingança.
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Na medida em que o adepto progride no processo de educação


mediúnica, aprimorando o seu próprio canal perceptivo, maior será a
possibilidade de auxílio efetivo. Contudo, alguns médiuns, no decorrer das
reuniões desobsessivas, intercambiam mentalmente com espíritos dotados
de elevado nível de perspicácia, porém, profundamente desequilibrados,
resolutos na prática indistinta do mal, em face do poder de que se julgam
detentores. Aliás, alguns se agrupam em comunidades sórdidas situadas nas
profundezas do Umbral, quase sempre de maneira bem mais estruturada do
que muitas organizações criminosas aqui da crosta.

8/12 VRC- Cremos oportunas as vossas considerações éticas a


respeito da prática mediúnica. Nem sempre a noção de responsabilidade
corresponde às exigências superiores daquilo que se espera de um
mandato mediúnico. Já é tempo de melhor nos conscientizarmos a respeito
e de firmarmos com o Cristo o compromisso de bem aproveitar a chance
proporcionada pelo Mundo Maior. Desde os tempos evangélicos ecoam em
nossos ouvidos o “vigiai e orai” propostos por Jesus. Some-se a isto, o
momento grave de transição planetária ora vivenciado, a intensificação da
maldade, a ação perniciosa de espíritos perversos e inteligentes a justificar
plenamente a conduta irreprochável, que deve ser assumida pelos
tarefeiros da mediunidade, lídimos cultores do bem, dispostos ao
enfrentamento dos inimigos da Luz. O que o prezado irmão nos diz a
respeito?
Lancelin- Analisemos, então, em poucas linhas, o papel atual dos
médiuns espíritas. Sem dúvida reconhecemos a colaboração prestada por
eles aos benfeitores espirituais no resgate de apreciável quantidade de
espíritos predispostos a cometimentos desastrosos contra a Humanidade.
Esses irmãos infelizes apresentam características que os diferenciam
daqueles constrangidos pelo impulso da desforra, pois, como de hábito, não
se dirigem a um alvo específico movido pela vingança pessoal. Dessa
forma, pode acontecer de um ou outro médium sintonizar espíritos dotados
de poderes mentomagnéticos e, sobretudo, conhecedores da dinâmica das
correntes filamentosas do pensamento. Pelo fato de essas entidades
distinguirem, com certa facilidade, a frequência pensamental emitida por
determinado médium, a partir de então, elaboram estudos de leitura pessoal
e identificam com relativa clareza os tais filamentos energéticos típicos de
emissões mentais de baixo padrão. Em verdade, é do conhecimento da
maioria, a nossa ligação uns com os outros, por meio de vibrações
mentomagnéticas, independentemente da distância em que nos situemos.
Há pessoas que conseguem captar o que a outra sente, mesmo localizada a
quilômetros de distância. Tal fenômeno se consubstancia em decorrência de
uma reciprocidade condutiva entre emissor e receptor. A projeção do
pensamento ganha curso e, por efeito de simpatia, alcança aquela mente
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receptiva, ocasião propiciatória à sutil comunicação. Espíritos sagazes e


nocivos conhecem e dominam esse mecanismo. Sabem utilizá-lo com o
intuito de fazer refluir no médium os mais recônditos pensamentos
indignos. Alheio ao fenômeno transcendental que se avoluma na intimidade
de seu próprio campo mental, o médium se imiscui com as energias
emanadas do espírito obsessor, as quais culminam por induzi-lo ao
cometimento de atitudes insensatas. Por tal razão, o tarefeiro da
mediunidade deve permanecer sempre em estado de vigilância mental e de
comportamento equilibrado, pois pensamentos negativos e ideações de
baixo teor vibratório propiciam, aos sequazes do mal, a utilização desses
filamentos energéticos como canal de ativação obsessiva. Daí a
importância do alerta evangélico: vigiai e orai para não cairdes em
tentação.

Comentário.
O instrutor Lancelin atribui a Allan Kardec, o nobre codificador
da Doutrina Espírita, o mérito das primeiras observações criteriosas a
respeito da atuação persistente de espíritos obstinados em prejudicar os
encarnados, a título de desforra ou do prazer doentio em dominar aqueles
que, por invigilância, submetem-se aos seus caprichos. A propósito, o
notável pedagogo francês enfoca com objetividade e clareza as várias
maneiras pelas quais o sujeito pode ser vitimado pelo obsessor:
“O Espírito mau espera que o outro a quem ele quer mal, esteja
preso ao seu corpo e, assim, menos livre, para mais facilmente o
atormentar, ferir nos seus interesses, nas suas afeições mais caras.” (Allan
Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, item 6).
Sem dúvida, a obsessão espiritual, em seu mecanismo intrínseco,
é um transtorno bem mais complexo do que aparenta. Pode-se dizer que há
dois aspectos a serem levados em conta: o primeiro refere-se ao drama
psicológico vivenciado pelo sujeito em razão do mal que ele próprio
praticou; e o segundo diz respeito à ação mental e fluídica de efeitos
deletérios, articulada pela entidade agressora. Interessante notar que
inúmeros quadros de distonias mentais resultam de lembranças amargas
que emergem em forma de flashes ideoplásticos e tangenciam a consciência
em vigília, produzindo como resposta reações emocionais desagradáveis,
quase sempre causadoras de reações depressivas acentuadas. Por isso, a
desarmonia mental que marca o prólogo de uma obsessão pode
desencadear alterações do humor sem causa aparente e incômoda sensação
de culpa, o que colabora para que a entidade vingativa se aperceba do
detalhe e passe a reforçar a sintomatologia angustiante, projetando clichês
mentais análogos aos fatos de outrora. A partir de então, caso a criatura não
seja orientada a buscar o auxílio competente em uma instituição espírita, a
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tendência é o agravamento do quadro, podendo chegar ao extremo de uma


verdadeira alienação mental.
No trato com os espíritos obsessores, é importante que se
estabeleça a diferença entre as entidades que agem motivadas pelo
imperativo da vingança pessoal, daquelas enceguecidas pela crueldade
indistinta, motivada pelo impulso de infelicitar os tarefeiros da seara
espírita, esta última, sabidamente, a grande barreira impeditiva à
disseminação da maldade generalizada. Corroborando com a assertiva
crística, a qual nos estimula à prática da oração e da vigilância, os
benfeitores espirituais nos incentivam de igual modo, pois conhecem
nossas tendências inferiores e a facilidade com que nos envolvemos com
pensamentos e atitudes inconvenientes.
O pensamento não é algo que permanece restrito à intimidade da
criatura, porquanto ele repercute na própria aura individual e, em seguida,
projeta-se em todas as direções, vence distâncias, transpõe barreiras e
sintoniza por simpatia com o pensamento dos desencarnados, quer sejam
bons ou maus. O pensamento incorpora-se, inclusive, à psicosfera terrena.
A aura planetária é constituída por uma combinação de faixas vibratórias de
padrões desiguais, faixas que derivam dos pensamentos de ódio,
sexualidade aberrante, tendências criminosas, viciações, violência e assim
por diante. O nosso mundo íntimo, embora imperceptível aos humanos, não
escapa ao conhecimento dos desencarnados. Valendo-se desse aspecto, o
espírito mal-intencionado, porém inteligente e sagaz, pode aproximar-se de
um indivíduo desavisado e elaborar detida análise das correntes
filamentosas do pensamento, com o intuito de identificar os filamentos
energéticos correspondentes às ideações inferiores. A partir de então, o
obsessor ajusta as frequências vibratórias em busca de uma sintonia íntima,
até assenhorear-se de um desses canais comunicativos de expansão da
mente, induzindo a vítima distraída a assumir comportamentos insanos.
15/12 Não é difícil para o obsessor astuto identificar as debilidades
morais, presentes no campo consciencial do sujeito. Depois, é só projetar
clichês mentais semelhantes até instalar-se um transtorno obsessivo de
graves proporções. A Doutrina Espírita, no cumprimento de sua tarefa
esclarecedora, reforça a premissa evangélica que recomenda a necessidade
da eterna vigilância, maneira pela qual se identifica, a tempo, tudo aquilo
que se nos afasta do bem e nos aproxima do mal.
Não obstante o esforço evolutivo empreendido pelo indivíduo
consciente, ele não deixa de ser alvo permanente das entidades cruéis, que
tentam bombardeá-lo com fluidos negativos e projeções mentais de baixo
teor vibratório. Compete, portanto, a cada criatura, mormente os tarefeiros
da mediunidade, buscar no auxílio da prece e no comportamento
equilibrado de cada dia, robustecer o próprio campo vibratório mental, de
modo a dificultar a sintonia com os pensamentos e ideações infelizes
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daqueles que ainda estagiam nas zonas umbralinas inferiores, onde


imperam as forças do mal.
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22/12 MAL-ESTAR DO MÉDIUM ANTES DAS REUNIÕES

“O magnetismo e o são, com efeito,


duas ciências gêmeas, que se completam e
explicam uma pela outra...” (Allan Kardec.
RE, p. 11, jan. 1869 – EDICEL)

VRC- Já escutamos de vários médiuns referências ao mal-estar


que apresentam desde os dias que antecedem a reunião mediúnica,
responsabilizando pelos sintomas desconfortáveis, as influenciações
maléficas dos espíritos obsessores, em decorrência do tipo de atividade
mediúnica que desempenham. Gostaríamos que o caríssimo irmão nos
ilustrasse um pouco a respeito, pois muitos desconhecem os fatores causais
de tais fenômenos.
Lancelin- A vivência corriqueira da prática mediúnica nos
permite identificar inúmeros problemas decorrentes do envolvimento
fluídico com os espíritos a serem atendidos. Comecemos por lembrar as
correntes filamentosas do pensamento que, ao se expandirem, viabilizam
uma espécie de ponte entre o campo mental do médium e o da entidade
desencarnada. Esse canal de comunicação pode atrair para o médium outras
implicações nocivas na dependência das variações vibratórias de seu
próprio pensamento. Médium não é só aquele que se desempenha no
instante da sessão espírita. O medianeiro é detentor de sua faculdade
psíquica em todos os momentos da jornada, fato que o condiciona ao
cultivo de desejável disciplina mental, em razão de a maioria ser
inconstante no manejo dos quadros expansivos da mente.
Diante das oscilações vibratórias do pensamento, o sensitivo, em
razão da sua atividade psíquica, pode se conectar aos espíritos radicados
em regiões espirituais de baixo nível vibracional. Tal contingência pode
desencadear-lhe mal-estar geral, tontura, distúrbio digestivo, dor de cabeça,
estado melancólico, tristeza, mau humor, desgaste das forças vitais, além de
outros transtornos.

VRC- O que nos causa estranheza é o fato de o mal-estar, às


vezes, se manifestar com bastante antecedência. É possível tal ocorrência
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ter relação com a sessão mediúnica, a qual está programada para


acontecer só daí a alguns dias?
Lancelin- Quando acontece um atendimento mediúnico, em
verdade, os procedimentos assistenciais tiveram início dias antes da
atividade estipulada para a casa espírita. Realmente, na maioria dos casos
atendidos, com propósitos evangélicos, o auxílio começou bem antes, até
culminar no entrelaçamento fluídico entre o médium e o espírito a ser
beneficiado pelo socorro fraterno. São situações em que o médium se
vincula às correntes mentomagnéticas provenientes da entidade socorrida e,
consequentemente, manifeste certo desconforto. Por conseguinte, é
recomendável que cada médium consiga identificar psiquicamente as
imantações exteriores, e busque a auto-harmonização por meio da prece e
da confiança em Deus.
Não obstante essas recomendações preventivas, identificamos um
ou outro médium ostensivo a padecer mal-estar generalizado, entre as
demais complicações anteriormente citadas. Entretanto, não há o que temer.
São contingências do trabalho em si, geralmente de uma complexidade
maior, a exigir de todos os envolvidos maior dose de amor à causa e doação
espontânea, para arrefecer a própria psicosfera espiritual e ajudar os irmãos
desencarnados, ainda impossibilitados de compreenderem a importância da
vida fora da matéria. A bem dizer, são casos infrequentes, pois, na maioria,
o mal-estar que se manifesta antes da reunião é resolvido com a
harmonização mental do médium.
29/12 VRC- Parece-nos que os trabalhos desobsessivos de maior
envergadura, mormente os casos de obsessões complexas, são os que mais
afetam. Todavia, questionamos se poderia haver uma espécie de assédio
fluídico dirigido propositadamente contra os integrantes da equipe, com a
finalidade de intimidá-los?
Lancelin- Quando se trata de um grupo mediúnico afeito ao
resgate fraterno de espíritos maléficos, ou seja, uma equipe dedicada à
desobsessão complexa, pode ocorrer de os médiuns e doutrinadores
vincularem-se momentaneamente às entidades sombrias e, se sentirem
envolvidos em campos vibratórios de baixo teor, tudo com a intenção de
desestimulá-los a continuidade da tarefa. Muito embora tais atividades
socorristas se desdobrem muito além do ambiente terreno, é possível
identificar-se essa acomodação mentomagnética entre o grupo mediúnico e
as regiões trevosas.

VRC- Isso nos faz pensar na possibilidade de se erigir barreiras


fluídicas de proteção em torno dos médiuns. Não seria mais sensato? O
que o prezado instrutor no diz a respeito?
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Lancelin- Uma possibilidade seria estabelecer-se uma espécie de


barreira fluídica impedindo as ligações que se efetivam sobre os
medianeiros e demais trabalhadores incomodados. No entanto, mostra-se
inconveniente apelar para um completo isolamento das emanações do
pensamento. Da parte da espiritualidade maior seria viável circunscrever
uma barreira magnética protetora em torno do médium, porém, se assim
acontecesse, o próprio médium seria prejudicado pelo fato de isolar-se dos
contatos vibracionais importantes entre a sua própria complexidade
psicofísica e os elementos da natureza. Por essa razão e em complemento
ao que já foi comentado, o importante é manter a confiança em Deus, vigiar
os pensamentos, reduzir as atitudes intempestivas e elevar, quanto possível,
o padrão vibratório mental por meio da prece, tendo em vista a redução dos
impactos fluídicos desagradáveis.
5/01 Além das medidas de proteção a que o médium pode recorrer, no
caso de obsessão complexa, a dissolução total do magnetismo vinculante
entre a mente do encarnado e o campo vibratório das entidades inferiores se
torna um pouco mais dificultosa. Os médiuns mais experimentados não
conseguem se desvencilhar por completo de tais conexões antes dos
trabalhos efetivos. No entanto, graças à intercessão dos guias abnegados no
decorrer da sessão desobsessiva, nada mais sério repercute sobre os
tarefeiros, pois iniciativas protetoras por parte do Mundo Maior são levadas
a efeito de forma a evitar que os medianeiros desenvolvam sintomas de
maior gravidade e que, após o encerramento da sessão, se sintam
restaurados energeticamente.
Por isso mesmo rendemos nossas homenagens sinceras aos
praticantes da mediunidade com Jesus, àqueles que labutam no silêncio dos
gabinetes assistenciais, imbuídos de compaixão e verdadeiro sentimento de
doação ao próximo, depositando as esperanças no resgate amorável dos
desviados da senda.

Comentário
O nobre instrutor destaca o seguinte detalhe: as repercussões
vibratórias negativas referidas por alguns tarefeiros da mediunidade prática
nem sempre se tornam perceptíveis, pois, em boa parte dos casos, os
indícios são de pequena monta, simulam breves indisposições orgânicas e
passam despercebidos pelo médium afeito à tarefa desobsessiva.
Entretanto, a conveniência do presente estudo nos parece bastante válida,
diante da oportunidade de se esclarecer o fato, especialmente quando os
sintomas incômodos se evidenciam de forma intensa.
A Espiritualidade Maior, sempre atenta e diligente, empenha-se
no socorro aos espíritos obsessores, no afã de auxiliá-los da melhor
maneira. Por isso, em muitas circunstâncias, os cuidados específicos se
iniciam antes da sessão mediúnica propriamente dita, ensejando ao
17

medianeiro escolhido afinar a sintonia vibratória com a entidade enferma


selecionada para a terapia desobsessiva. O sensitivo, aos poucos, se
acomoda ao padrão vibratório da entidade, absorvendo-lhe parte de seus
fluidos deletérios para que, no momento do transe mediúnico, o próprio
médium não venha a passar mal em decorrência do forte impacto
magnético. Todavia, ao término da sessão, os próprios mentores se
encarregam de repor as energias desgastadas, de modo que o médium se
sinta recomposto e livre de qualquer repercussão fluídica negativa.
Adverte ainda que jamais se deve descrer do auxílio prestimoso
dos mentores, pois, se por um lado os médiuns esclarecidos se escudam na
prece habitual e na vivência de uma conduta equilibrada, por outro, impõe-
se a gratidão a Deus pelo amparo dos protetores espirituais, sempre
cautelosos e prestativos, resguardando-nos dos ardis articulados pelos
cultores do mal.
18

12/01 MÉDIUNS: TRABALHADORES DA ÚLTIMA HORA

“(...) a força magnética reside,


sem dúvida, no homem, mas é
aumentada pela ação dos Espíritos
que ele chama em seu auxílio.”
(Allan Kardec. LM, c. 14, n. 176)

VRC- A busca do equilíbrio psíquico constitui-se verdadeiro


desafio. O comportamento comedido, embora simples na teoria, exige-nos
na prática, muita persistência e certo grau de maturidade moral. O sábio
psicólogo de nossas vidas, – o Mestre Jesus, assinala a importância da
eterna vigilância e da oração, atitudes reconhecidamente iluminativas da
alma. Se o indivíduo comum, ao baixar o próprio padrão vibratório se
ressente da companhia dos maus espíritos, o que dizer do médium
ostensivo, dotado de predisposição orgânica diferenciada, a lhe permitir a
assimilação de pensamento e energias fluídicas de maneira muito mais
intensa. Tal raciocínio nos remete à questão analisada anteriormente. Em
se considerando o mal-estar que pode acometer o médium nos dias
anteriores ao conclave mediúnico, ficamos a pensar na importância do
pensamento reto e do comportamento equilibrado, com vistas a minimizar
o impacto das ondas fluídicas negativas responsáveis pelos sintomas
incomodativos. Diante da importância do assunto, gostaríamos que o
prezado benfeitor nos trouxesse mais esclarecimentos.
Lancelin- Comentamos anteriormente que, alguns dias antes da
reunião mediúnica, o médium dedicado à desobsessão pode se queixar de
dores erráticas, manifestar atitudes impulsivas, sentir-se angustiado,
entristecido ou mesmo depressivo – fenômenos perfeitamente explicáveis
no contexto doutrinário. Primeiramente deve-se compreender o papel do
médium nas atividades espíritas. De livre e espontânea vontade, ele se
entrega à prática de uma atividade que lhe exige abstinência de alguns
prazeres humanos, por exemplo: ingestão imoderada de álcool, uso de
drogas, alimentação copiosa e condimentada, além do esforço consciente
em manter o pensamento reto, no sentido de não se angular em
desequilíbrios da homeostase psíquica.
Significativa percentagem de médiuns formados segundo os
postulados espiritistas sabe como comportar-se com o fito de manter-se
apto ao trabalho na seara do bem. O médium responsável estudou e
preparou-se para palmilhar com segurança o bom caminho da labuta
19

mediúnica. O equilíbrio dos pensamentos, as ideações e atitudes que visem


ao bem comum integram o ideário cristão dos seareiros da mediunidade.
Assim, o que pretendemos aqui é relatar a nossa experiência de
desencarnado no âmbito das sessões mediúnicas.
À medida que palmilha o caminho natural no exercício da
faculdade, o médium reconhece a expansão de seu campo mental em ações
intercomunicantes, pois, no cotidiano da existência, ele tanto se comunica
com o seu mundo íntimo quanto com outras mentes, em variados níveis de
permuta energética, emocional e vital. Dessa forma, pode-se afirmar: ao
intercambiar mentalmente com os espíritos, o médium não transmite
somente o pensamento destes, mas estabelece um contato bem mais íntimo
com eles. Essa permuta de pensamentos tangencia recônditas estruturas que
integram o complexo mental do encarnado. Em verdade, ocorre um contato
íntimo com as estruturas responsáveis pelo arquivamento de vivências
pretéritas menos felizes, a exemplo daquelas decorrentes dos impulsos
egoísticos e das infrações que conflitaram com a Lei do Amor. Em vista
disso, o médium mais suscetível pode acomodar em seu próprio perispírito
os sofrimentos que afligem os espíritos comunicantes. Tais eventos
angustiosos costumam ter como causa vivências, por ora adormecidas, mas
que afloram ao se estabelecer o contato fluídico com entidades enfermas, as
quais sofreram anteriormente experiências críticas semelhantes às
experimentadas pelo médium. Contudo, o sensitivo impressionável e
incapaz de elevar o pensamento em preces a favor do espírito enfermo que
ele intermedeia, acaba por apropriar-se inconscientemente dos incômodos e
das angústias da entidade, chegando ao cúmulo de o seu próprio organismo
físico refletir os tormentos energéticos do espírito sofredor.

19/1 VRC- Entendemos a vossa colocação a respeito da palpitante


temática. Percebemos tratar-se de mecanismos sutis que emergem do
inconsciente e envolvem nossas próprias experiências negativas de
reencarnações transatas. É como se ocorresse uma espécie de ressonância
na qual as angústias da entidade se misturam às nossas imperfeições
milenares, disso resultando a manifestação sintomática desagradável para
o médium. No entanto, indagamos se há outro tipo de mecanismo psíquico
que, de uma forma ou de outra, possa se responsabilizar por tais mal-
estares?
Lancelin- Há também outra categoria de médiuns que atuam
como se fossem verdadeiras antenas receptoras de energias de baixo padrão
vibratório. Desse modo, em virtude de posturas mentais inadequadas,
atraem à maneira de esponjas, os fluidos deletérios dos espíritos
perturbados que os rodeiam. Tal fenômeno ocorre com maior intensidade
em decorrência do grau de ostensividade do médium que, aliado à
negatividade de seus próprios pensamentos, atrai para si as vibrações
20

enfermiças que o envolvem. Em consequência, adoece pela invigilância do


pensar e do agir.

26/1 VRC- Sem dúvida, a vossa instrução vem ao encontro das nossas
aspirações, na qualidade de médiuns dispostos ao trabalho edificante na
seara espírita. Como seria importante que alguns tarefeiros saíssem da
superficialidade do conhecimento e mergulhassem no estudo e na reflexão,
em busca de um entendimento profundo a respeito da responsabilidade
assumida diante do mandato outorgado pelo Mundo Maior, em favor deles
próprios. Pelo visto, ainda há muito a ser pesquisado, pois o conhecimento
se amplia à medida que nos empenhamos no estudo sistemático da
faculdade mediúnica. Cremos que esta oportuna abordagem servirá para
nos enriquecer o conhecimento, desfazendo dúvidas, eliminando os falsos
temores e nos encorajando ao exercício sublime da mediunidade com
Jesus.
Lancelin- A mediunidade é a porta aberta pelo Pai Maior, para
que consigamos sair de nossa casa mental cerrada pelas trancas do
egoísmo. Entretanto, há outras causas a justificarem angústias e sintomas
incômodos nos dias anteriores ao encontro mediúnico. Não é exagero
afirmar a existência de uma amplitude do canal mediúnico promovida pela
expansão do pensamento. Em verdade nos localizamos onde nosso
pensamento está. Assim, o médium detém a perspectiva de expandir a sua
teia vibratória muito além da psicosfera que envolve a sua complexidade
psicofísica. A nossa mente emancipa-se nas asas do pensamento. Seria
difícil situar em parâmetros terrenos a capacidade de alcance das
irradiações mentais de um médium. Em decorrência do que aqui
comentamos, torna-se fácil entender de que maneira determinadas aflições
vivenciadas por alguém situado a considerável distância atingem o médium
de forma tão perturbadora. É por meio desse mecanismo que muitos
médiuns captam as energias barônticas que os alcançam antes e no dia da
desobsessão. Dessa forma, inúmeros tarefeiros abnegados iniciam as
atividades assistenciais mediúnicas muito antes da data prevista para a
reunião. Alguns médiuns são apresentados aos espíritos que se
comunicarão, enquanto outros, em desdobramento, vão conhecer regiões do
Umbral inferior, reduto das entidades obsessoras selecionadas para o
auxílio e, em consequência, se imantam às vibrações perniciosas ali
existentes. A essa altura, vale uma explicação. Sem tal envolvimento
prévio, muitas vezes, não seria possível a comunicação do espírito na data
aprazada, porquanto se tornaria dificultoso um ajuste brusco de sintonia
entre a mente do médium e a do espírito. Todavia, o Mundo Maior se
empenha para que a melhor solução seja alcançada pela equipe mediúnica.
Assim, adiantaríamos que, quando o obreiro da seara se propõe ao trabalho
no campo mediúnico, ele ali estará como instrumento útil da Divindade e, o
21

local onde primeiro ecoará a mensagem evangélica trazida pelos


esclarecedores será na sua própria consciência, profundamente agradecida
pela oportunidade de trabalho no campo da caridade indistinta.

09/02 Comentário
O orientador ressalta o fato de que, quanto mais impressionável e
temeroso for o médium – além de se mostrar incapaz de mobilizar o seu
potencial afetivo em forma de preces e de irradiações mentomagnéticas a
favor dos espíritos imperfeitos –, certamente maior será o seu grau de
angústia e aflição em consequência do envolvimento fluídico com os
espíritos selecionados para o atendimento a ser dispensado no dia da sessão
mediúnica. Na prática, o médium bem educado no exercício de sua
faculdade é o que menos se ressente do intercâmbio vibratório de baixo
teor, pois, além de absorvê-lo em menor quantidade, metaboliza-o com a
naturalidade desejável, reduzindo ao máximo o efeito desagradável que
poderia resultar. Nesse caso, prevalece o teor individual de harmonia
fluídica passível de ser expandida em favor da entidade carente de auxílio.
Outro pormenor diz respeito ao tarefeiro que sente dificuldade
em melhor gerenciar as próprias emoções, que se nutre
inconsequentemente à custa de sentimentos inferiores, entre os quais a
vaidade, o egoísmo e a inveja, pouco se importando com a desejável
higiene mental da própria alma. Este é mais suscetível de se ressentir com
pseudoenfermidades, em decorrência da absorção de fluidos deletérios
provenientes das entidades desequilibradas, as quais habitualmente lhe
compartilham as ideias. Se alguém perguntasse qual a razão de o indivíduo
reencarnar com a predisposição orgânica característica da mediunidade
ostensiva, certamente uma resposta convincente seria aquela formulada
pelo instrutor Lancelin: concessão misericordiosa da Divindade para que o
sujeito possa romper os grilhões que o algemam à casa mental contaminada
pelo egoísmo. A propósito, relembramos oportuno alerta no qual se destaca
a importância da tarefa regeneradora exercida pelos médiuns:
“Haverão de compreender, no momento devido, que muitas de
suas vítimas, comparsas de antigas aventuras ou afetos que ficaram para
trás, retidos nas teias da ignorância ou da insensatez, foram programados
para receber os benefícios espirituais por meio de suas faculdades, que se
lhes oferecerão como bálsamo e alento de esperanças para as dores que
experimentam.” (Projeto Manoel P. de Miranda. Vivência Mediúnica, cap.
3, pg.34, 2ª edição, LEAL)
16/02 É de se lamentar a quantidade de indivíduos que, uma vez bafejados
pela sensibilidade mediúnica, insistem em permanecer indiferentes ao
chamamento, conservando-se aferrados à satisfação de seus interesses
imediatos. E assim, imersos em um mar de ilusões, buscam
desenfreadamente os prazeres mundanos, inebriados pelos ouropéis da
22

vida. Em consequência, poucos imaginam o quanto o exercício da


mediunidade abençoada seria fundamental em suas aspirações evolutivas.
Todavia, as nossas esperanças se renovam a cada dia, pois se multiplicam
os esclarecimentos vertidos mediunicamente por intermédio dos espíritos
iluminados, de modo a sensibilizar aqueles ainda retidos nas malhas da
indecisão.
23

MEDIUNIDADE, PENSAMENTO E EQUILÍBRIO


MENTAL

“Entre os seres pensantes


há ligações que ainda não
conheceis. O magnetismo é o
piloto desta ciência, que mais
tarde compreendereis melhor.”
(Allan Kardec. LE, n. 388)

VRC- A cultura acadêmica é focada naquilo que pode ser


medido, pesado e passível de análise, segundo os rigores estipulados pelos
protocolos experimentais. Não obstante o progresso das ciências da saúde,
a visão materialista do ser dificulta qualquer avanço mais significativo
quando se trata de levar em consideração o aspecto espiritual das
criaturas. Tal postura impede a possibilidade de melhor entendimento
sobre as enfermidades espirituais, criando uma enorme lacuna nos
tratados de Patologia que se ressentem de qualquer informação mais
consistente a respeito. Não merece urgência um maior interesse dos
cientistas em travar contato com a realidade espiritual do ser?
Lancelin- A ciência médica tem como objetivo básico de sua
competência a análise circunstanciada do organismo humano. Na
complexidade orgânica estão inseridas as possibilidades causais das
doenças a serem investigadas pelos lidadores da saúde, com a finalidade de
encontrar as soluções para as enfermidades e, também, de descobrir novos
procedimentos que permitam o funcionamento orgânico eficiente e
harmônico. Contudo, conhecer a estrutura anatomofisiológica da criatura
não se restringe apenas à percepção concreta do organismo vivo. O corpo
carnal, em seu encadeamento bioenergético, transcende a matéria palpável
e os sentidos físicos. Trata-se de uma complexa relação de energias sutis
entrelaçadas em torno da essência espiritual. A percepção humana da
matéria é a ponta do iceberg, pois existem muito mais estratos energéticos
interpostos entre o organismo tangível e o espírito. Assim, o corpo palpável
formado de matéria adensada, em razão do fenômeno reencarnatório é
apenas uma parte do todo. Todavia, do ponto de vista da ciência espírita, há
perfeita integração entre as partes constituintes, ou seja: alma, perispírito e
corpo físico.
24

23/02VRC- Para aqueles desvinculados das noções mínimas de


espiritualidade, torna-se complicado incutir a ideia de que a realidade
física nada mais é do que uma reprodução da vida fora da matéria.
Imagine-se, então, inserir nos compêndios de Anatomia Humana a
descrição da criatura como um conjunto complexo de campos
diferenciados de energias que se interpenetram e se influenciam
mutuamente.
Lancelin- Sem dúvida, o organismo humano é reflexo da
realidade espiritual, por conseguinte, é a extensão mais periférica do ser. É
difícil explicar os pormenores em palavras, entretanto, há uma comutação
vibrátil de energia tão intensa que a distinção entre os vários campos
energéticos não é tão relevante assim – por essa razão, Allan Kardec
simplificou a nomenclatura, ao denominar perispírito, o conjunto
harmônico de corpos energéticos. E, de acordo com a formulação didática
atribuída à palavra perispírito, o respeitável Codificador do Espiritismo
possibilitou avanços no entendimento da relação eletromagnética entre o
campo perispiritual e o corpo físico.

VRC- Os aspectos múltiplos da energética humana, bem


estabelecidos nas bases kardecianas, ampliam os nossos horizontes,
permitindo-nos melhor descortino sobre os mecanismos íntimos da relação
mente/corpo. Daí a importância de bem se avaliar os tipos de pensamentos
emitidos pela criatura humana no decorrer da jornada, especialmente
aqueles elaborados por parte dos médiuns ostensivos, sabendo-se de
antemão os malefícios decorrentes da persistência nas ideações viciosas.
Lancelin- O médium ostensivo é dotado de características
vibratórias que o distingue dos demais seres. Essa a razão pela qual a sua
mente excitável tem a capacidade de elaborar contatos inteligentes bem
mais marcantes com outros campos mentais, quer de encarnados quer de
espíritos. Quando no linguajar corrente referenciamos corpo e mente, é
imperativo lembrar a integração intensa e sutil entre ambos, não obstante a
tendência cartesiana de separá-los, como se fossem componentes distintos
um do outro. No entanto, eles estão muito mais interligados do que se
imagina, compondo um sistema único. Podemos mencionar as deformações
do perispírito narradas em obras de André Luiz. São relatos de
transformação sofrida pelo corpo espiritual em formas animalizadas,
consequência da ação obstinada da mente em desequilíbrio profundo.

VRC- A ação da mente sobre a matéria é tão intensa, que não só


imprime modificações no corpo espiritual, a exemplo do que acontece na
Zoantropia, como influencia, positivamente ou não, o próprio metabolismo
orgânico, gerando bem-estar e saúde integral ou enfermidades múltiplas
catalogadas no âmbito da medicina. Parece-nos conduta de grande
25

relevância conhecer mais profundamente a dinâmica mental que se opera


no médium ostensivo e as relações íntimas resultantes da sintonia
vibratória que se estabelecem com outros campos mentais, inclusive o dos
desencarnados.
Lancelin- Ao enfatizarmos a complexidade da criatura,
admitimos que o conjunto de corpos energéticos intercomunicantes se
encontra tão intimamente imantado, que nos quedamos a imaginar o quanto
a mente é parte integrante desse conglomerado em sua extensão relacional.
O corpo sofre mudanças à medida que o tônus mental se modifica. Assim,
quando o nosso componente moral evolui, necessariamente também se
aperfeiçoa o conjunto de corpos que integram o agregado humano. Em
ralação ao médium, o seu corpo como um todo (perispírito e campo físico),
é o reflexo das comunicações que se processam entre os diversos
compartimentos de sua própria organização mental, além daquelas que se
efetivam com outras mentes. É assim que muitos médiuns não conseguem
equilibrar a própria faculdade, em virtude de agregar energias externas de
baixo padrão vibratório provindas de outras consciências. Uma ideia
concebida na mente de alguém pode ser projetada por intermédio da
expansão mental, formalizando um caminho vibrátil, de modo que alguns
médiuns podem assimilá-la. Em inúmeras situações, o clichê mental
apreendido sequer emerge para a consciência de superfície, permanecendo
aderido ao componente consciencial de profundidade. Contudo, a
reverberação da ideia intrusa encontra, por similaridade, vibrações
energéticas semelhantes, ou seja, o pensamento emitido pela fonte externa
se relaciona intimamente com as ideias que palpitam na intimidade
consciencial do médium. Nesse vibrar consoante, pode surgir uma ideia
conjunta e, por conseguinte, causar problemas, pois nem sempre os
pensamentos agregados pelo médium são dotados de um bom quilate
vibracional. Ajuizamos então que o médium ostensivo tem a capacidade de
exteriorizar e de interiorizar ideações, estados de humor e sofrimentos,
tanto de encarnados quanto dos desencarnados que o influenciam. Por isso,
o sensitivo beneficiado por uma faculdade mais exuberante revela a
necessidade de manter um bom nível de equilíbrio psíquico, pois, além de
conviver com as próprias variações mentais, reflexo de suas reencarnações
transatas, deve manter-se em harmonia com os clichês mentais externos
assimilados dos circunstantes.

VRC- É tão vasta a riqueza da fenomenologia mentoafetiva – a


exemplo do sentimento de amor a nos vincular vibratoriamente àqueles a
quem muito queremos –, que nos indagamos se, diante dessa expressão de
tamanho refinamento, não estaríamos a inverter a ordem natural das
coisas ao subtrair do espírito imortal os impulsos que, refletidos nos
neurônios encefálicos, responderiam pela manifestação de sentimento tão
26

purificado. E o que dizer dos fenômenos inteligentes revelados pelo sujeito


no momento do transe mediúnico, ao informar sobre situações
desconhecidas por ele próprio e que ficariam sem explicações plausíveis,
caso não reivindicássemos a realidade e a sobrevivência do espírito, bem
como a comunicabilidade entre os que habitam planos vibratórios
diferentes.
Lancelin- Caríssimos irmãos, quando a ciência acadêmica
entender que o corpo carnal nada mais é do que energia densa integrada à
mente; quando perceber que o períspirito é, na realidade, a ligação mais
próxima da verdadeira composição reflexa do espírito imortal; então, os
cientistas explorarão o assunto em campo experimental, melhor
valorizando a faculdade mediúnica. Em tese, diríamos que a mediunidade é
uma forma de comunicação de mão dupla, pois, ora expandimos os nossos
pensamentos, ora os assimilamos de outras fontes. A mediunidade nos
proporciona saberes mais significativos, pois, tanto nos instruímos com as
nossas próprias experiências quanto com as experiências alheias, desde que
se estabeleçam contatos vibratórios com as nossas referências
reencarnatórias. Assim, o sensitivo se defronta com diversas oportunidades
de aprimoramento e, quem possui a mediunidade aflorada, bem cuide de
seu próprio eu, aderindo aos propósitos de renovação. O médium também é
condutor de equilíbrio, à proporção que ele expande o seu estado
harmônico e interage com outros campos mentais. Isso corresponde à
aplicação prática do “orai e vigiai”, preconizado por Jesus. Cada criatura se
responsabiliza em particular pelo tipo de irradiação mental que emite. Isso
é válido para todos os encarnados, não olvidando, entretanto, que os
médiuns ostensivos possuem uma dinâmica bem mais pronunciada de
expansividade e percepção.
Concluímos o nosso raciocínio ressaltando, mais uma vez, a
importância do comportamento equilibrado no transcurso da existência.
Torna-se essencial observar com mais rigor os pensamentos edificantes
que nos ornamentam o campo mental, buscando elevar em todas as
circunstâncias o padrão vibratório da própria alma. Quanto às irradiações
mentais saudáveis expandidas ao infinito, é nosso propósito crístico
dispensá-las amoravelmente em benefício daqueles que conosco partilham
as paisagens terrenas. Ao Deus de misericórdia infinita, ofertemos sempre
os nossos melhores pensamentos.

Comentário
O assunto nos remete à seguinte reflexão: por quanto tempo
ainda estaremos submetidos à ditadura do materialismo científico a sufocar
as evidências da realidade espiritual? Caso todas as iniciativas voltadas à
investigação da alma humana recebessem a tutela da ciência acadêmica,
certamente a população colheria os benefícios da medicina centrada na
27

realidade do homem espírito. Tal ciência lhe permitiria o diagnóstico de


certeza dos transtornos mentais e das obsessões complexas, além da
terapêutica mentomagnética de ação profunda, quer na busca do
reequilíbrio psíquico, quer auxiliando a recuperação de inúmeras
enfermidades que assolam o campo físico.
Vejamos contundente previsão articulada pelo espírito de André
Luiz, ao afirmar que nada é impossível no campo das manipulações
mentais para o bem da pessoa humana.
“- A mente, tanto quanto o corpo físico, pode e deve sofrer
intervenções para reequilibrar-se. Mais tarde, a ciência humana evolverá
em cirurgia psíquica, tanto quanto hoje vai avançando em técnica
operatória, com vistas às necessidades do veículo de matéria carnal. No
grande futuro, o médico terrestre desentranhará um labirinto mental, com
a mesma facilidade com que atualmente extrai um apêndice condenado.”
(Fco. C. Xavier/André Luiz. Entre a Terra e o Céu, cap. XIII, pg. 82, 13ª
edição, FEB)
Será que não chegou esse momento? Por conseguinte, no nosso
modo de ver, a questão espiritual da criatura não é da conveniência apenas
das religiões, mas do interesse dos bancos acadêmicos. Isso porque a
seriação energética do encarnado nada mais é do que aquilo que se encontra
interposto entre a alma e o arcabouço físico. Se em campo experimental
mediúnico já é possível identificar as causas de uma série de enfermidades
espirituais complexas de ordem anímica ou de natureza obsessiva, é de se
supor que tais aspectos sejam do interesse da medicina, que só teria a lucrar
caso o preconceito fosse substituído pela pesquisa honesta e bem orientada.
Todavia, para que tal ocorra é necessário despir-se da vaidade que
corrompe, e revestir-se da vontade de ser útil ao gênero humano.
Outro argumento a ser destacado neste capítulo é o valioso alerta
do benfeitor espiritual aos que possuem a mediunidade aflorada. Inúmeros
desajustes emocionais de certa monta podem resultar tanto da emersão de
ideias subalternas forjadas no recesso da própria mente viciada, quanto do
intercâmbio de pensamentos inferiores com os espíritos perturbados. Ora,
se isso acontece com toda gente, maior cautela deve-se atribuir aos
médiuns, em decorrência da permeabilidade psíquica exuberante, típica de
quem possui a faculdade ostensiva.
“Duas origens pode ter qualquer pensamento mau: a própria
imperfeição de nossa alma, ou uma funesta influência que sobre ela se
exerça. Neste último caso há sempre indício de uma fraqueza que nos
sujeita a receber essa influência; há, por conseguinte, indício de uma alma
imperfeita. De sorte que aquele que venha a falir não poderá invocar por
escusa a influência de um Espírito estranho, visto que esse Espírito não o
teria arrastado ao mal, se o considerasse inacessível à sedução.” (Allan
28

Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVIII, item 26, pg.


341, 131ª edição, FEB)
Evidentemente, os tarefeiros da lida mediúnica, educados em
sintonia com as diretrizes evangélicas, reconhecem a importância da
vigilância e da prece na manutenção de um comportamento saudável, aliás,
iniciativa fundamental a ser observada por aqueles que desejam evitar os
arrastamentos maléficos, em virtude do cultivo de pensamentos
corrompidos.
29

MÉDIUNIDADE, JUVENTUDE E MATURIDADE DO SENSO


MORAL

“O poder da fé se demonstra,
de modo direto e especial, na ação
magnética; por seu intermédio, o
homem atua sobre o fluido, agente
universal, modifica-lhe as qualidades
e lhe dá uma impulsão por assim
dizer irresistível.” (Allan Kardec.
ESE, c.19, n.5)

VRC- É fora de dúvida o desconhecimento das pessoas a


respeito da faculdade mediúnica como instrumento de evolução espiritual.
Aliás, quando o assunto é ventilado em âmbito não espírita, defrontamo-
nos com muita fantasia e temores infundados. Consequentemente uns a
consideram um dom divino, outros, um transtorno psicológico, enquanto
significativo segmento crê tratar-se de influência do demônio. Diante de
posturas tão disparatadas, que se avolumam no imaginário popular,
quando alguém se sente acometido pelos pródromos da faculdade
ostensiva, desenvolve um verdadeiro pavor e, desnorteado, busca a
medicina na esperança de que a mediunidade lhe seja subtraída, a exemplo
de uma enfermidade erradicada com terapia medicamentosa.
Lancelin- A questão merece considerações à luz da
reencarnação. Habitualmente a iniciação mediúnica se dá antes do retorno à
carne e, às vezes, em existência anterior, na qual a criatura teve a chance de
desenvolver suas faculdades perceptivas. Ainda no plano invisível,
mentores especializados se empenham na implantação de características
peculiares no recesso da memória perene, pois, para que o espírito retorne
na qualidade de médium ostensivo, ele deve reter em seus arquétipos
mentais informações que transcendam a barreira imposta pelo corpo físico
e influenciem a consciência em vigília. Por isso, ocorre a intervenção nos
bancos da memória espiritual do sensitivo, com o intuito de abrir algumas
brechas, de modo a facilitar a transposição das informações específicas a
serem fixadas no conjunto mente/cérebro do espírito em nova experiência
reencarnatória.
30

VRC- Outro detalhe interessante é o fato de muitos imaginarem


a mediunidade um apanágio do Espiritismo, detalhe que lhes aumenta o
receio por ambos. Contudo, quando o assunto é tratado no recesso das
instituições espíritas, os médiuns iniciantes, particularmente os mais
jovens, perdem o temor da faculdade, aprendem a manejá-la com
discernimento e a se conduzir na existência de maneira equilibrada,
buscando na Lei de Amor o aproveitamento correto do mandato que lhes
foi conferido pelos espíritos superiores.
Lancelin- O médium, como alguns acreditam, não se
desempenha somente no âmbito do Espiritismo. Seria um disparate, um
atentado à Inteligência Divina, imaginar a possibilidade do exercício
mediúnico restrito apenas ao contexto espírita. Por outro lado, em todo o
planeta, as ideias consoladoras ganham forma, especialmente por meio da
mídia. Curiosamente, na atualidade, verifica-se que os pressupostos
kardecianos não se circunscrevem apenas ao movimento espírita
organizado, pois, em verdade, eles repercutem nos quatro cantos do mundo,
a influenciar culturas e inúmeras áreas do conhecimento. Por esse motivo,
o Codificador previu que, em breve, o ideário espírita haverá de
predominar. O Espiritismo, na qualidade de doutrina excelsa assegura que a
essência da vida é o amor. Assim, a Doutrina, por trabalhar melhor as
questões fundamentadas na Lei do Amor, em um sentido prático, traçou
uma dinamicidade para o intercâmbio mediúnico, ao formalizar uma escola
para o ensino e a educação da mediunidade. Hoje, a maioria dos centros
espíritas se empenha no aperfeiçoamento da educação mediúnica, mediante
atividades teóricas e práticas experimentais. Muitos não se dão conta que,
apesar da importância do estudo das obras da codificação e daquelas mais
específicas sobre a mediunidade, a área que mais necessita de ajuda é a
estrutura que engloba o conjunto mente e pensamento, pois aí se
localizam os mais diversos problemas e obstáculos enfrentados pelos
médiuns ostensivos. Dá-se uma oportunidade de trabalho na área
mediúnica, todavia, o médium espírita carece ser tratado com carinho e
extremo cuidado.
Como frisamos, não há dúvida quanto à importância do estudo
continuado da faculdade. Todavia, existe um fator, que, muitas vezes, se
destaca no comportamento do sujeito, a ponto de ele se mostrar tranquilo e
seguro no exercício de suas atividades psíquicas; refiro-me ao grau de
maturidade do senso moral alcançado, qualidade que lhe permite se portar
com equilíbrio e harmonia. Esse estágio de maturidade moral se deve às
experiências proveitosas de reencarnações pretéritas, ou de espíritos que se
habilitaram devidamente antes de reencarnar, com vista ao melhor
cumprimento da tarefa a que se propuseram.
Alguém poderia inquirir: mas como faremos com os nossos
jovens médiuns ante a dificuldade de se identificar o grau de maturidade
31

adequada? Caros irmãos, a maturidade é o resultado de estrada percorrida


com persistência e vontade de acertar; é trabalho profícuo prodigalizado em
existências transatas. Assim, ao lidarmos com o jovem médium espírita,
não nos esqueçamos de levar em conta, em nossas observações, a sua
condição de maturidade moral. Muito embora a grande questão não se
restrinja apenas ao nível de amadurecimento atingido, pois, todos, um dia o
alcançaremos. O grande desafio é a manutenção do pensamento uniforme
em torno dos ideais cristãos. Por essa razão, sugerimos que, no estudo da
mediunidade, se faça um planejamento pedagógico com ênfase na
compreensão da atividade mediúnica com Jesus em todos os momentos
da existência. As janelas psíquicas daqueles favorecidos pelo mandato
mediúnico precisam receber a iluminação do discernimento racional e
afetivo. É providencial o médium conhecer a importância de sua posição no
contexto mediúnico, pois a forma não toma o lugar da essência. Desde já
alertamos: não é nossa intenção aqui disponibilizar uma fórmula com o
poder de resolver o problema do equilíbrio mental, todavia, nada nos
impede de sugerir algumas reflexões de modo a incentivar o tarefeiro a
buscar respostas para as seguintes indagações: - Por que na presente
reencarnação exercito a mediunidade? - Qual a razão, as causas, de eu ter
nascido médium? – Sinto-me recompensado intimamente, quando me
desempenho na tarefa mediúnica?
Pois bem, meus irmãos. Ser médium é conseguir trabalhar com
as edificações mentais erigidas na atual existência, associadas às
construções pretéritas arquivadas na memória integral. Para executarmos
um trabalho proveitoso na qualidade de médium, é imprescindível que a
nossa mente esteja destituída de culpa, de arrependimento, de ilusão. Pelo
fato de ainda não conseguirmos manter um estado de harmonia mental em
nível suficientemente elevado, só podemos nos desempenhar limitados por
nossa compreensão de vida. Todavia, a melhor forma de nos converter em
médiuns mais capacitados na seara espírita é levarmos em conta a nossa
renovação interior como dinâmica existencial e vivenciarmos a fraternidade
cristã com o objetivo de ajudar ao próximo.
De certa forma, impomos oportuna proteção às próprias
variações pensamentais, quando nos concentramos no auxílio fraterno
dispensado aos irmãos necessitados. A carência, as dores e o sofrimento
alheios assumem momentaneamente a governança de nosso estado mental,
permitindo-nos o alheamento de nossos problemas íntimos. Por tal razão,
os médiuns espíritas imbuídos de bons propósitos trabalham amparados
pelo Mundo Maior, pelo fato de alimentarem o desejo ardente de ajudar. É
no exercício continuado do bem que se encontra o caminho seguro para que
as criaturas se desfaçam das dúvidas e incertezas que obscurecem a
presente existência. Quando focamos mentalmente aqueles que se arrastam
entre as veredas da dor, com o propósito de estender-lhes o amparo,
32

certamente esquecemos os sentimentos de culpa, a lembrança tormentosa


do remorso ainda presente a reverberar na própria alma. Daí, então, a nossa
mente altera o seu padrão vibratório para melhor, abrindo-se para novas
experiências edificantes. Assim, todos se beneficiam com a caridade
prestada pelo trabalho mediúnico, tanto o espírito assistido quanto o
próprio médium imbuído de boa vontade.

Comentário
Diante dos relatos, inferimos que a mediunidade ostensiva não é
fruto de um desenvolvimento forçado, mas de uma programação
previamente articulada no mundo espiritual, antes da reencarnação do
sujeito, com o objetivo de auxiliá-lo na senda do progresso. Uma vez
aflorada, exige educação contínua, prática assistencial em bases
evangélicas e reafirmação dos objetivos dignos de vida, aliás, preceitos
contidos na Doutrina Espírita. Por outro lado, reconhecemos que, dos
médiuns em geral, especialmente dos mais jovens, não há como exigir-se
elevado grau de inteligência e cultura privilegiada para o perfeito
entendimento dos postulados espiritistas.
“Será então necessária, para compreendê-la, uma inteligência fora
do comum? Não, tanto que há homens de notória capacidade que não a
compreendem, ao passo que inteligências vulgares, moços mesmo, apenas
saídos da adolescência, lhe apreendem, com admirável precisão, os mais
delicados matizes. Provém isso de que a parte por assim dizer material da
ciência somente requer olhos que observam, enquanto a parte essencial
exige um certo grau de sensibilidade, a que se pode chamar maturidade do
senso moral, maturidade que independe da idade e do grau de instrução,
porque é peculiar ao desenvolvimento, em sentido especial, do Espírito
encarnado.” (Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.
XVII, item 4, pg. 234, 131ª edição, FEB).
Por mais ignorante que possa parecer, o indivíduo, na sua
intimidade, conduz uma pequenina luz, bruxuleante, mas passível de ser
intensificada, desde que, com o combustível evangélico, alimente suas
esperanças de renovação e evolua, pois tudo evolui. A evangelização é um
dos caminhos pelos quais o indivíduo pode ser educado para a vida. E, por
via de consequência, ele, na condição de médium atuante vai, a cada dia,
absorvendo ensinamentos úteis, alargando os horizontes consciências,
compreendendo a razão de ser da existência, aprendendo a compartilhar
ideias, doando-se em prol dos mais carentes e, assim, aperfeiçoando seu
nível de maturação espiritual. Maturidade é conquista evolutiva do espírito,
lograda nos embates rotineiros contra as próprias imperfeições morais, no
decorrer das múltiplas existências. Todavia, o que nos parece de utilidade
premente é o bom propósito de educar o pensamento, evitando desvios e
induções inferiores nas ideações construídas. A firmeza de resolução no
33

exercício do bem serve para aliviar o nosso próprio sofrimento, reduzindo-


nos a sensação culposa e a reminiscência dos equívocos que cometemos em
épocas transatas.
34

6 - FILIGRANAS DA SENSIBILIDADE MEDIÚNICA

“O Espiritismo liga-se ao
magnetismo por laços íntimos, como
ciências solidárias.” (Allan Kardec.
RE, 1858, out. p. 288 - EDICEL)

VRC- Na qualidade de aprendizes, é nossa intenção indagar,


com o objetivo de colher informações que nos habilitem ao conhecimento
dos mecanismos íntimos da mediunidade ostensiva, processados nos
escaninhos da mente humana. Quantas vezes nos perguntamos qual o tipo
de sensibilidade mediúnica de efeitos inteligentes, que menos sofre a
influência anímica do médium: a consciente ou a inconsciente? O que dizer
de nossa capacidade perceptiva atual e das relações conturbadas com as
nossas vítimas do passado, ainda ligadas vibratoriamente ao nosso
agregado mental? E o sentimento de culpa, o remorso e o arrependimento
derivados dos delitos e abusos cometidos no pretérito. Tais detalhes
poderiam atuar como fatores de desequilíbrio no desempenho da
manifestação mediúnica em si?
Lancelin- Na seara mediúnica, é natural a insegurança daquele
que se envolve constantemente com as energias alheias ao seu campo
vibratório. É plausível surgirem dúvidas quanto à consciência da
comunicação. Tem-se a tendência de associar o médium inconsciente
àquele que menos interfere no intercâmbio mediúnico, embora tal
concepção não corresponda à realidade absoluta; assim como não o é o
entendimento de que o médium consciente obstrui a mensagem do espírito
comunicante. Tanto numa quanto noutra situação há informações acatadas
como absolutas, mas que em verdade são relativas. Em essência, o caráter
virtuoso do médium também pode ser favorável, pois nos dá a impressão de
que se trata de um instrumento sensível mais avançado, de um
intermediário com possibilidades acima da média e, que através de sua
mente só transitam mensagens condizentes com a postura crística. Diante
do quadro, alertamos fraternalmente: é preciso revisar com atenção obras
do quilate de “Mecanismo da Mediunidade” (FEB), ditada pelo espírito de
André Luiz ao médium Chico Xavier. Sua leitura possibilitará melhor
compreensão das interações energéticas da nossa consciência volitiva e
também do inconsciente que, por sinal, encontra-se embutido em nosso
arcabouço mental a produzir energia. Cabe aqui uma observação pertinente.
É por meio dessa condição vibrátil do inconsciente que muitos espíritos
identificam outros, atraídos pela energética do campo mental. Ademais, por
35

intermédio dessa dinâmica psíquica, agrupamos os interesses da existência,


ou seja: atraímos, repelimos, identificamos, coagimos etc. Há muito para se
compreender a respeito da lei de atração exercida por impulsos vibratórios
mentais derivados de experimentações que se demoram em nosso íntimo.
Um bom médium não se caracteriza apenas pela sua predisposição
psicofísica adequada à transmissão daquilo que interage com o seu campo
mental, mas, sim, pela intimidade de experiências transatas. O médium não
detém em seu arcabouço mental somente o panorama psíquico da atual
reencarnação. O seu agregado mental, em essência, é um conjunto de
estratos vibratórios contíguos, intercomunicantes, em que se sedimentam os
registros vivenciais do passado e do presente. Por conseguinte, em alguns
casos, como propôs o nobre pesquisador espírita, Dr. José Lacerda de
Azevedo, é importante tentar uma cisão dos elos conscienciais
adormecidos. Esse ilustre pesquisador espírita brasileiro denominou-os
“bolsões kármicos” e sugeriu tratamento magnético com a finalidade de
desvinculá-los da memória transata, pois sua persistência impede ao
espírito encarnado o exercício de sua plena liberdade de ação.
Todavia, observem. Não basta identificar e propor a cisão
magnética do “bolsão kármico”. É preciso cuidar das entidades ali retidas,
vinculadas fluidicamente ao campo mental do sujeito, impondo-lhe
sofrimento subjetivo e intensamente desgastante, sem que a medicina atine
para a real causa do transtorno. São casos de maior complexidade, pois
envolvem espíritos aprisionados aos acontecimentos infaustos perdidos na
noite dos tempos. Cabe, em tais casos, consultar os guias espirituais, por
meio dos médiuns presentes, pois decisões de maior responsabilidade
necessitam do aval dos mentores da reunião. Entretanto, quando autorizado
o resgate adequado das entidades sofridas e a consequente aplicação da
metodologia magnética de apagamento dos estímulos na estratificação da
memória, os resultados quase sempre nos surpreendem na prática, o que
nos deixa otimistas quanto à validade de um procedimento a se popularizar
em breve no contexto mediúnico das desobsessões espíritas.

VRC- Bastam as interações entre o agregado mental, a dinâmica


energética do circuito mediúnico e a predisposição orgânica, para
assegurar, na prática, um modelo seguro de exercício da faculdade?
Lancelin- As expressões “campo mental” e “organismo
mediúnico” não se circunscrevem àquilo que o médium acredita ser
possuidor no presente momento, mas no que ele é em sua essência imortal.
Por essa razão, entre outras, a mediunidade não se restringe a conceitos
padronizados. Em se considerando a realidade mutável do agora, não há
fórmulas preestabelecidas para fornecermos e, daí, aferir qual o melhor
modelo de instrumento mediúnico, pois tudo depende das aquisições e
intenções íntimas de cada um. Claro que não abstraímos dessa concepção o
36

estudo sistemático da mediunidade e o esforço de transformação pessoal do


médium esclarecido. Estamos apenas enfatizando o quanto a mediunidade é
repleta de injunções e detalhes a serem mais bem compreendidos por todos.
Quando nos referimos às intenções íntimas do médium, estamos
ajuizando valores que ele, em sua estrutura psíquica, disponibiliza para o
labor mediúnico. As intenções e os objetivos de vida se entrelaçam na
vivência do exercício mediúnico. Podemos enunciar que o controle da
expansividade vibracional da mente encontra-se na razão direta dos
impulsos procedentes de nosso cosmo afetivo. O médium, na vivência
equilibrada ou não de suas manifestações afetivas e na interação racional de
suas aspirações íntimas colabora para modificar o fulcro, o sentido da
própria existência. Assim, desvirtuamos, vezes sem conta, o foco de nosso
viver, em decorrência de distonias interiores. Por conseguinte, pode-se
verificar uma distorção da faculdade mediúnica. O campo mediúnico,
campo energético que integra a veiculação da mensagem emanada do plano
espiritual para o plano da matéria densa, apresenta-se na área mental,
subdividido nas seguintes frações: a que compreende as energias volitivas
da mente do médium; a fração da mente do espírito que interpenetra a do
médium na ocasião da comunicação mediúnica; e, aquela correspondente à
expansividade do inconsciente vivencial. A partir desse modelo,
observamos que, na tríade mental, inexiste uma predominância do
organismo físico sobre a vontade e o pensamento do sensitivo. Quem
coordena as interações no campo mental é o pensamento cujo impulso
inicial brota do espírito e coexiste em comunicação energética com a
dimensão espiritual e não com o espaço cartesiano como nós o definimos.
Esse pensamento é a substância do existir, é o atributo da vontade
emocional e da racionalidade lógica do caminhar terreno.
Prezados médiuns. Elevemos o pensamento e nos coloquemos
em conexão interior com o que desejamos. Dessa forma, conseguiremos
sobrepujar os impulsos mentais inconscientes, nem sempre favoráveis, e
submetê-los ao pensamento daquilo que somos no aqui e no agora, em
nossa luta constante em busca da melhoria íntima. Vigiai vossos
pensamentos. Cultivai habitualmente o recurso da prece, para melhor
compreender a importância do equilíbrio no que que desejam e naquilo a
que aspiram.

Comentário
Este capítulo esclarece particularidades referentes ao mecanismo
complexo da percepção mediúnica. É possível que o médium novato se
deixe envolver por certo grau de hesitação e dúvida quanto à autenticidade
da mensagem por ele intermediada. Tanto o médium consciente quanto o
inconsciente podem contribuir com as características próprias de seu
intelecto na elaboração da comunicação mediúnica, mediante projeção de
37

frações procedentes de seu universo anímico. A autenticidade do


pensamento do espírito comunicante se encontra na dependência do caráter
virtuoso do sensitivo, fator preponderante nas manifestações mediúnicas
ostensivas.
“Cabe-nos reconhecer que excetuados os casos especiais, em que
o medianeiro e a entidade espiritual se completam de modo perfeito, na
maioria das circunstâncias, apesar da integração mental profunda entre
um e outro, quase toda exteriorização fisiológica no intercâmbio pertence
ao médium cujos traços característicos, via de regra, assinalarão as
manifestações até que a força psíquica da Humanidade se mostre mais
intrinsecamente aperfeiçoada, para mais aprimorada evidência do Plano
Superior.” “Fco. C. Xavier/André Luiz. Mecanismos da Mediunidade,
cap. XVIII, pg. 134, 11ª edição, FEB)
Ressalta também o fato de que a mediunidade não decorre apenas
da disposição orgânica do sujeito, como se a parte material preponderasse
sobre os demais fatores. Nesse sentido, outras variáveis entram em jogo,
entre elas, a energética avassaladora do inconsciente. Vimos que o campo
mediúnico integra três aspectos vibratórios embutidos no agregado mental
do sensitivo:
1- as próprias energias volitivas a delinearem os seus objetivos
particulares de vida;
2- as energias mentais do espírito comunicante a interagirem com
a energética mental do próprio médium; e,
3- o aspecto correspondente à expansividade do inconsciente
vivencial, estrato mental responsável pelo resguardo das experiências
arquetípicas do indivíduo.
Assim, as experiências pretéritas malsucedidas exercem certa
pressão no processamento da dinâmica mediúnica, pois emergem da
memória ancestral do sensitivo para a sua consciência em vigília, sob a
forma de padrões vibratórios desarmônicos, atrelando-o fluidicamente aos
desencarnados vítimas de sua maldade em épocas passadas, ou àqueles
outros, que a ele se vinculam por afinidade às más tendências cultivadas.
O médium normalmente se comporta em sintonia com aquilo que
as energias do inconsciente determinam. Daí a necessidade de ele
submeter-se a uma reprogramação bem planejada de valores morais, capaz
de atender aos reclamos evolutivos da própria alma. A educação da
mediunidade implica empenho de retificação do pensamento, no hábito
salutar da prece e no esforço inadiável de reforma íntima. À medida que os
objetivos são alcançados, os padrões negativos retidos na memória
arquetípica cedem lugar aos valores éticos incorporados ao patrimônio
espiritual do sujeito e, consequentemente, o seu exercício mediúnico torna-
se menos atormentado.
38

ALIMENTAÇÃO MENTAL

O magnetismo preparou
o caminho do Espiritismo, e os
rápidos progressos desta última
doutrina são
incontestavelmente devidos à
vulgarização das ideias sobre a
primeira.” (Allan Kardec. RE,
1858, mar. p. 96 - EDICEL)

VRC- A extensa bibliografia espírita nos dá conta que o


pensamento reflete a realidade do espírito em qualquer situação em que ele
se encontre. No caso do encarnado, o pensamento é a energia responsável
pela integridade da saúde; pelas manifestações mentoafetivas;
intelectomorais; e, anímicomediúnicas. Quando projetado do ser, o
pensamento purificado é energia vibrátil de elevado poder de expansão e
penetração, a converter-nos em cocriadores a serviço do Pai Maior.
Todavia, em várias circunstâncias, pode manifestar-se também sob a forma
de energia degradada, quando contaminada pela mente viciosa, indutora
de enfermidades mentais e orgânicas de grande complexidade. Por outro
lado, além dos avanços conquistados pela neurofisiologia, estimaríamos
conhecer outras conotações sutis do pensamento, em sua sofisticada
dinâmica, condizente com a realidade do médium ostensivo.
Carlos- Vivemos imersos em um universo ilimitado de vibrações
energéticas. O conceito de energia não está circunscrito ao entendimento
clássico do intercâmbio eletrônico entre átomos. A energia é uma forma de
manifestação primária da matéria. Tal concepção alcançará em futuro breve
a complexa relação da mente com a matéria. É possível averiguar-se, ante
tantas pesquisas a respeito, que o magnetismo humano é uma decorrência
da ação da mente sobre a matéria. Sem que nos apeguemos excessivamente
a conceitos, é preciso compreender na prática o modus operandi do
fenômeno. A força da mente ainda não é bem conhecida pelos bancos
acadêmicos. Ela age de maneira decisiva sobre a matéria organizada, em
que, de certa forma lhe empresta características sui generis.
O médium ostensivo, entre outras aptidões, tem a possibilidade
de intervir no Fluido Cósmico Universal, pois, ao entrar em estado de
emancipação no decorrer do transe mediúnico, liberta-se
momentaneamente dos laços que o imantam ao corpo físico. Isso possibilita
39

que sua mente atue, por ação da vontade, sobre o fluido cósmico que a tudo
interpenetra. Por essa razão, entre outras, o médium tem significativa
importância nas sessões de cura, bem como nos demais tipos de reuniões,
sejam de preces, irradiações mentais, desobsessão ou fluidoterapia
magnética. Onde existe sofrimento a ser amenizado, há necessidade de
fluidos purificados pelo sentimento de compaixão. Agir sobre a matéria é
fundamento recorrente nas reuniões mediúnicas de assistência aos
necessitados, pois assim acontece, mesmo sem a consciência de tal feito. A
intenção nem sempre nos ocorre, mas, ao pensarmos, irradiamos vibrações.
O pensamento é força propulsora e agregativa de energia. Assim como o
períspirito se manifesta em decorrência de impulsos procedentes do espírito
que o comanda, o pensamento se reveste de energia primária para agir no
campo da matéria sutil. Quando pensamos, agregamos matéria e damos
forma ao pensamento, pois a mente detém uma infinita capacidade de ação
motivada pelo pensar. Precisamos cuidar da higienização mental, uma vez
que a mente nos permite a formatação daquilo que somos em essência. Os
espíritos conseguem, quando treinados, perceber nossas intenções e
identificar a estrutura do nosso pensamento valendo-se da leitura
circunscrita ao hálito mental, visto que ideoplastizamos formas mentais
constantemente, apenas pelo ato de pensar.
Oh, médiuns, que em várias circunstâncias se emancipam do
corpo físico graças à capacidade sonambúlica e que mantêm contato com o
mundo das ideias, escutai o vosso interior. Não temais a transformação,
trabalhai para o bem e diante das inquietações costumeiras entreguem-se à
prática silenciosa da oração, pois, caso se encontrem envolvidos com a
tarefa mediúnica, é porque lhes foi facultada a condição de exercitá-la.
Quando enfatizamos o poder mental, é para que o apliqueis nos mais
simples labores do dia, vivenciando as contendas diárias com a devida
coragem e paciência. O pensamento é exsudação do espírito a se manifestar
por intermédio de intrincados mecanismos psicofísicos. A causa de
qualquer tipo de ação de um espírito sobre outro está no domínio exercido
pela mente mais poderosa sobre a mais fraca. Além disso, quer nos
trabalhos de desobsessão quer nos serviços de fluidoterapia magnética,
veiculamos a energia transformada pelo nosso próprio exalar mental. As
energias que abastecem as reuniões mediúnicas são fluidos transformados
pelas mentes altamente capacitadas dos benfeitores espirituais. E a exemplo
deles, emanemos bons fluidos por meio do pensamento superior, tanto em
benefício dos circunstantes quanto em prol de nossa própria saúde.

VRC- O efeito prodigioso do pensamento equilibrado pode


parecer algo inalcançável pela criatura comum, alguma coisa de difícil
manejo e, por isso mesmo, quase sempre relegado a um plano secundário.
Em verdade, o desconhecimento das infinitas possibilidades do espírito
40

imortal restringe as iniciativas pessoais em busca de maior interesse pela


questão da higiene mental. Quando se fala em poder da mente, logo se
imagina tratar-se de algo mágico, daqueles truques muito bem ensaiados
por ilusionistas profissionais que se apresentam em espetáculos teatrais.
No entanto, a nossa capacidade mental é passível de ser desenvolvida no
sentido de melhor gerir as emoções, cultivar os bons sentimentos,
conservar a saúde integral e trabalhar em favor das causas que
engrandecem o espírito encarnado.
Carlos- O poder da mente traduz uma gama de possibilidades.
Por essa razão, quem consegue se infiltrar na sutileza molecular da matéria,
por meio da atividade mental, alcança muito mais. No entanto, ainda
estamos distante dessa interatividade consciencial mais ampla, tal qual o
Mestre Jesus a possuía. Mesmo assim, temos condições de obter
realizações das mais significativas. A volição mental é instrumento crístico,
desde que, direcionada em favor dos semelhantes. Por isso, alimentemo-
nos da paz, exalemos a paz.
Adoecemos quando exteriorizamos revolta. A angústia que nos
ensombrece a alma decorre do desespero na ausência da fé, por isso, onde
estivermos, projetemos ao derredor parte do nosso universo íntimo, da
forma mais harmônica possível. Dessa maneira construímos o nosso céu ou
o nosso inferno. A matéria espiritual que alicerça as zonas purgatoriais de
sofrimentos provém do hálito mental daqueles que cultivam pensamentos
sórdidos. Por outro lado, inúmeros quadros de angústias e pesares
experimentados pelos encarnados defluem do próprio pensamento em
desalinho. O indivíduo cria e projeta em torno de si as mais diferentes
ideoplastias. A partir de então, ele passa a se alimentar da energia
corporificada pela própria mente. É por meio desse mecanismo sutil que as
criaturas transgridem as leis da harmonia cósmica e, em consequência,
deformam e embrutecem o próprio períspirito. A repercussão de um
pensamento inferior emitido de forma contínua chega ao cúmulo de
transformar o corpo espiritual em ovóide ou asquerosa forma animalizada
(zoantropia), em consequência da assimilação contínua das vibrações
correspondentes de angústia, revolta, ódio e de outras ideações indignas e
violadoras. Para romper tal círculo vicioso, é imprescindível que a criatura
se desvincule dos pensamentos tormentosos, inclusive, os de autopiedade,
de autopunição e do sentimento desgastante de culpa despropositada.
O cultivo dos bons pensamentos seria um caminho, muito
embora respeitemos as escolhas individuais, pois somos indivíduos
complexos ao levarmos em conta as interações energéticas da nossa
realidade psicofísica e criaturas singulares em nossas características
individuais. Alguns custam a abandonar o estado de sofrimento atroz,
mormente aqueles que se debatem no inferno da sexualidade desvairada.
41

Percebe-se assim que o alimento mental não é somente aquele


absorvido do ambiente à nossa volta, mas também a vibração harmônica ou
não proveniente dos nossos pensamentos. Portanto, cuidemos com carinho
do nosso universo íntimo, pois, em verdade, vivemos conectados
permanentemente com a infinitude da própria mente.

Comentário
O instrutor Carlos comenta que o magnetismo humano é uma
poderosa força derivada da ação da mente sobre a matéria. Em reuniões
mediúnicas específicas, a projeção pensamental do médium, ao incidir
sobre o Fluido Cósmico Universal, vai permitir a aplicação dessa energia
altamente diferenciada no âmbito das terapias espirituais e demais
atividades socorristas típicas das sessões mediúnicas de caridade.
Ademais, outro fenômeno de ordem transcendental diz respeito
ao pensamento mobilizado pela vontade persistente. Quando projetado,
pode assumir as mais variadas formas e permanecer impresso na tessitura
tênue da própria aura individual do ser. Denomina-se ideoplastia a
formação de imagens mentais plasmadas em nossa psicosfera individual, a
retratar as disposições íntimas que nos animam.
“(...) criando imagens fluídicas, o pensamento se reflete no
envoltório perispirítico, toma nele corpo e aí de certo modo se fotografa.
(...) Desse modo é que os mais secretos movimentos da alma repercutem no
envoltório fluídico; que uma alma pode ler noutra alma como num livro e
ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.” (Allan Kardec. A Gênese,
cap. XIV, item 15, 1ª edição de bolso, FEB)
O poder da mente também faculta a possibilidade de se agir
magneticamente, por intermédio do próprio fluido emanado do perispírito,
sobre as moléculas doentias de um enfermo. De acordo com a vontade
focada no exercício da terapêutica fluídica, é possível a realização de
verdadeiras cirurgias espirituais, nas quais ocorre a substituição das
moléculas comprometidas do organismo afetado por outras dotadas de
vitalidade e harmonia.
“(...) o Espírito, encarnado ou desencarnado, é o agente
propulsor que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do
seu envoltório fluídico. A cura se opera mediante a substituição de uma
molécula malsã por uma molécula sã. O poder curativo estará, pois, na
razão direta da pureza da substância inoculada; mas, depende também da
energia da vontade que, quanto maior for, tanto mais abundante emissão
fluídica provocará e tanto maior força de penetração dará ao fluido.”
(Allan Kardec. A Gênese, cap. XIV, item 31, 1ª edição de bolso, FEB).
Tudo leva a crer que, em futuro não muito distante, quando o
homem souber cultivar o padrão elevado da própria mente; estiver mais
bem adaptado à vivência de um comportamento equilibrado; possuir o
42

conhecimento superior das interações entre o pensamento e o Fluido


Cósmico Universal; e, mostrar-se suficientemente amadurecido em seu
senso de moralidade, verdadeiras intervenções magnéticas de ação
profunda possibilitarão o restabelecimento de significativo número de
enfermidades e da consequente restauração da saúde integral.
43

EXPERIÊNCIAS TRANSATAS E PERTURBAÇÕES


MEDIÚNICAS

“Podem considerar-se as
pessoas dotadas de força
magnética como formando
uma variedade de médiuns? –
Não há que duvidar.” (Allan
Kardec. LM, c. 14, n.176)

VRC- A cada experiência reencarnatória, os arquivos mentais


do ser registram de forma indelével as aquisições compatíveis com a moral
crística, responsáveis pelo engrandecimento e evolução do espírito imortal.
Todavia, as vivências equivocadas, também permanecem retidas na
memória perene do espírito, de tal modo, que as lembranças
desagradáveis, ao emergirem por força das reações emotivas, são
portadoras de um colorido afetivo desarmonizante, francamente
prejudicial ao médium mais sensível. Há maneira de o sensitivo evitar as
consequências imprevisíveis das ressonâncias negativas resultantes dos
estímulos emotivos?
João de Deus- Em nosso mundo íntimo, reverberam
pensamentos conflitivos herdados de vidas pretéritas e que afloram
sutilmente das profundezas do inconsciente. É como se fôssemos joguetes
de acometimentos antigos a exercerem pressões intensas em nossos valores
atuais. Por agora, não é possível descrever em sua integralidade o modo
pelo qual as correntes de energia circulam através do agregado humano em
razão da força propulsora das emoções. A nossa compleição afetiva se
ilumina quando vivenciamos ou revivemos momentos marcantes, tendo
como alicerce o foco dos sentimentos enobrecidos. Somos então tomados
por intensa sensação de júbilo impossível de expressá-lo pela palavra. Por
outro lado, a emoção deprimente e opressiva, em boa parte dos casos,
reflete a energética desarmônica que emerge do inconsciente, efeito cuja
causa dormita na noite dos tempos. No nosso atual estágio evolutivo, as
manifestações afetivas são forças propulsoras nem sempre controláveis
pela razão. O pensamento elaborado, muita vez, se manifesta influenciado
pela força inconteste dos impulsos emotivos. Por conseguinte, o médium
precisa exercitar a vigilância com o devido empenho a fim de salvaguardar-
se, pois o véu que propicia o esquecimento de experiências transatas, nem
44

sempre as impede de alcançar a consciência de superfície na reencarnação


atual.
Quando enfatizamos a emoção, não é para destacá-la na
complexidade do caráter humano, mas, uma forma didática de descrever o
quanto agimos por impulsos. No decorrer da jornada, nos defrontamos com
situações desconcertantes e os exemplos são variados: é o caso do bom
senhor que sorri para todos e de repente converte-se em assassino em
potencial, quando ao volante de um veículo; é a criança meiga que, por
vezes, torna-se impulsiva e malcriada, em virtude de a mente em vigília
assimilar situações que afloram do pretérito. Infelizmente a medicina ainda
desconhece o vasto capítulo referente às reencarnações sucessivas, o que
lhe dificulta o entendimento correto de inúmeros transtornos
comportamentais. Psicoterapeutas, vez por outra, conseguem alguns
resultados positivos, entretanto, a ciência no seu todo ainda padece dos
limites impostos por sua metodologia arcaica.

VRC- Evidentemente estamos aqui tratando dos fenômenos


psíquicos que particularmente se manifestam nos médiuns ostensivos,
muito embora tais acontecimentos acometam qualquer indivíduo
encarnado, inclusive as crianças. E a propósito, gostaríamos de esclarecer
uma dúvida. Em face dos canais perceptivos mais permeáveis na infância,
e em decorrência da própria vibratilidade acentuada, a criança não
estaria mais sujeita às perturbações psíquicas induzidas por entidades
maléficas?
João de Deus - As crianças médiuns, em certas circunstâncias,
são acometidas de percepções psíquicas que as perturbam e desequilibram
em função de algumas recordações tormentosas de reencarnações transatas.
Em razão da pouca idade são incapazes de verbalizar o turbilhão de ideias
que lhes inunda a mente e acabam por criar campos de energias
convergentes, a lhes facultar a sintonia com entidades afins nesse estágio
vibracional da matéria. A partir de então, se estabelece um quadro de ordem
obsessiva por afinidade de desequilíbrio, condição pela qual o espírito se
imanta magneticamente à criança, fazendo-a sentir-se mal, até mesmo
adoecer gravemente. Em outras ocasiões, tais interações são confundidas
com o vulgarmente conhecido “mau olhado”, quadro corrigido com os
passes magnéticos, a água fluidificada e as orações intercessórias. Pode
ocorrer também que esse transtorno nada tenha a ver com influenciação
espiritual, e decorra, em verdade, do reverberar de energias desarmônicas
organizadas pela própria mente infantil, o que não deixa de ser uma forma
de envenenamento energético. Em grande parte, à proporção que cresce e
se desenvolve, quando ultrapassa a barreira dos sete anos, a criança se sente
mais aliviada dos sintomas incômodos pois o próprio cérebro bloqueia com
45

mais facilidade as emersões dos fatos desagradáveis originárias dos bancos


da memória espiritual.
Se na fase infantil tal fenômeno acontece com maior clareza, nos
adultos as ocorrências ocorrem de forma sutil. Na idade da razão, o sujeito
não percebe as ebulições internas a comprometerem o estado de sanidade
de sua própria consciência e, em seguimento, ele se sente acometido por
sintomas opressivos e emoções descontroladas. Contudo, os espíritas, por
apresentarem certo grau de conscientização, conseguem enxergar um pouco
além e, portanto, são sabedores da influência que o passado das criaturas
pode exercer na presente encarnação.
Certos médiuns ostensivos, que desde a juventude manifestavam
qualidades psíquicas mais exuberantes, em circunstâncias variadas, sentem
dificuldade em compreender o mundo “real” na condição de encarnados.
Alguns são diagnosticados como autistas em virtude de se encastelar em si
e não ter condições de interagir adequadamente com o ambiente que os
envolve. Até assim, a mediunidade é regeneradora, pois permite que o
espírito encarnado vivencie o passado tormentoso, atenuado pela proteção
vibracional de um corpo físico.
Alguns transtornos mentais que acometem as crianças não
incidem sobre as camadas íntimas do psiquismo profundo. Assim, torna-se
facilitado o tratamento recuperador ao se utilizar práticas mentomagnéticas,
as quais permitem auxiliar na recomposição e reajuste progressivo das
energias psíquicas.
Por outro lado, o autoequilíbrio não se consegue apenas com
afirmativas verbalizadas, mas mediante o esforço correto no sentido da
própria transformação moral. Ao médium acrescente-se outra característica
já referida. Ele interage vibratoriamente com diversos campos mentais e
pode assimilar, sem que se dê conta, as qualidades emotivas da mente
espiritual com a qual entra em sintonia vibratória. A interatividade mental,
em seu mecanismo íntimo, tem valores ainda muito distanciados de nossa
compreensão. Por hora, devemos investir em atitudes protetivas, a exemplo
da prece fervorosa, da confiança no amparo da Divindade e no cultivo da
honestidade em nossos propósitos existenciais. Com o exercício continuado
de tais atitudes, disponibilizaremos a força mental propulsora capaz de
estimular mudanças na estrutura íntima dos nossos pensamentos.
As emoções inferiores permanecem indelevelmente gravadas em
nosso inconsciente. E, para mudarmos esse estado de coisas, precisamos
nos libertar dos fatores perniciosos de autopunição, autopiedade e de outros
vínculos com o próprio sofrimento. Só nos é possível conviver com a
oscilação de lembranças tormentosas que nos assolam porque a maioria
delas não chega a comprometer a nossa consciência de superfície.
Todos podem experimentar experiências mediúnicas de
magnitude diferenciada, entretanto, só o médium ostensivo, em função de
46

sua expansividade mental, necessita lidar melhor com as próprias reações


emotivas decorrentes das reminiscências dolorosas e com a influência
mental dos espíritos menos evoluídos. Orar e vigiar é a lei máxima do
equilíbrio e da ação.

Comentário
O capítulo aborda a vulnerabilidade de nosso equipamento
mental e avalia quanto os nossos pensamentos retratam a atividade de
conflitos antiquíssimos resguardados nos escaninhos da mente. Aquilo que
denominamos inconsciente equivale a poderosa energia represada nas
profundezas do ser; é como se fosse um vulcão que vez por outra entrasse
em atividade, deixando emergir conteúdos psíquicos perturbadores em sua
maioria.
O espírito humano comporta-se como um viajante cósmico, ainda
imperfeito e detentor de inúmeras limitações evolutivas. Assim, quando
menos se espera, a energética avassaladora originária das camadas
profundas do inconsciente ganha força, vence as barreiras naturalmente
impostas pelo véu do esquecimento e se insinua por meio de pequenas
brechas psíquicas, expandindo-se incontrolavelmente até atingir a
consciência em vigília. A partir daí, a criatura se deixa envolver por
tendências viciosas e emoções conflitivas, mormente aquele indivíduo
desprovido de suficiente maturidade do senso moral. Por isso, costuma-se
dizer que o inconsciente nos governa, induzindo-nos ao comportamento
habitualmente observado no dia-a-dia.
Pelo fato de nem sempre a individualidade humana sentir-se
perfeitamente estimulada pelos sentimentos superiores, é compreensível a
facilidade dos arrastamentos para os esquemas infelizes da experiência
terrena. São circunstâncias em que se destaca a força imperiosa do
inconsciente arquetípico, sobrepondo-se aos apelos da razão não
esclarecida.
Ao levarmos em conta o arcabouço mental dos médiuns,
vislumbramos a intensidade da dinâmica energética ali processada, pois
sabidamente a permeabilidade mental que os caracteriza facilita o
afloramento dos impulsos corrompidos. Caso o médium não se afeiçoe aos
ensinamentos evangélicos e se descuide do esforço de renovação moral, a
possibilidade de sucumbir no desempenho da tarefa libertadora será bem
mais expressiva.
O instrutor João de Deus também comenta a questão pouco
discutida das recordações tormentosas nas crianças, fenômenos
propiciatórios de certos transtornos psíquicos, entre eles, os rotulados de
“autismo”. Antes dos sete anos, quando os mecanismos reencarnatórios se
encontram em vias de consolidação, o psiquismo infantil mostra-se mais
vibrátil e expansivo, portanto, vulnerável às reminiscências desarmônicas
47

que afloram dos bancos da memória espiritual. Obviamente as perturbações


psíquicas podem variar de intensidade conforme o grau de
comprometimento kármico. Todavia, após a ultrapassagem dessa faixa
etária, as repercussões mentais tornam-se menos evidentes, pois o
acoplamento total do perispírito ao campo físico serve como atenuador das
reverberações do próprio inconsciente e das irradiações psíquicas negativas
provenientes dos desencarnados.

9
48

9 - MEDIUNIDADE E AS FORÇAS DO BEM

“O magnetismo é uma das


maiores provas do poder da fé posta
em ação. É pela fé que ele cura e
produz esses fenômenos singulares,
qualificados outrora de milagres.”
(Allan Kardec. ESE. C. 19, n. 12)

VRC- A mediunidade ostensiva possibilita ao médium o ensejo


de ele se vincular a um grupo de pessoas interessadas em participar de
tarefas mediúnicas úteis ao esclarecimento e resgate de espíritos sofredores
ou rebeldes, os quais enxameiam a erraticidade na expectativa de uma
chance de socorro. Trata-se de um trabalho de larga repercussão, a
requisitar dos obreiros encarnados significativa dose de paciência,
considerável firmeza de propósitos e, sobretudo, compaixão fraternal.
Entretanto, apesar dos esforços, circunstâncias imprevistas se avolumam
na batalha do bem contra o mal; sobressaem as dificuldades; e, por fim,
avultam as ameaças articuladas por espíritos imperfeitos, contaminando
com o desânimo alguns tarefeiros desatentos à importância da labuta
desobsessiva. O que dizer a esses irmãos?
L.D.M.G.- No exercício da atividade mediúnica, por vezes, o
desânimo costuma ganhar terreno entre os companheiros da seara, desde
que eles não tenham em mente o objetivo maior do bem. A falta de
compreensão justa sobre a importância da reunião desobsessiva estimula
alguns confrades a creditarem menos apreço a esse tipo de assistência
espiritual. A desobsessão, a bem dizer, é um novo caminho que tomou vulto
em nosso país, como decorrência dos incentivos propostos por espíritos
bondosos, interessados em cooperar com os encarnados no desempenho da
caridade em larga escala.
O Mundo Maior elaborou carinhosamente toda uma
programação, que inclui embasamento metodológico, filosófico e estrutural
para as reuniões desobsessivas. Espíritos enobrecidos reencarnam com esse
propósito e autores do mundo espiritual enviam constantemente alertas e
estudos por intermédio de médiuns de reconhecida idoneidade. Graças aos
espíritos benfeitores, dispomos hoje de diretrizes seguras a alicerçar a
prática desse gênero de mediunidade, a qual no Brasil se notabilizou sob o
rótulo de desobsessão. Vivemos interligados à teia da vida. Experienciamos
constantemente relações com os encarnados e os desencarnados, assim, não
podemos desvincular a atividade espírita da assistência afetiva e energética
49

aos irmãos desafortunados vítimas dos mais variados transtornos


obsessivos. É inadiável assumir a posição de trabalhadores espíritas a
serviço do bem, num momento em que se faz necessário o apoio aos grupos
mediúnicos nas casas espíritas.

VRC- No período do Espiritismo nascente, aqui no Brasil, as


instituições antigas valorizavam tanto a desobsessão quanto as demais
tarefas assistenciais disponibilizadas aos carentes de todos os matizes.
Todavia, diante da constatação de que algumas casas espíritas, na
atualidade, estão priorizando apenas os estudos doutrinários, indagamos
se não se trata de um exagero o abandono lamentável da prática
desobsessiva, em detrimento dos desencarnados que tanto necessitam ser
acudidos ?
L.D.M.G.- Entre os pioneiros da Doutrina Consoladora no
Brasil, não podemos olvidar as experiências mediúnicas do nobre Dr.
Adolfo Bezerra de Menezes que, mesmo sofrendo duros golpes em família,
e sendo vitimado pela perseguição de espíritos endurecidos, que tudo
faziam com o intuito de desequilibrá-lo, iluminava progressivamente o
próprio espírito, desincumbindo-se na prática da caridade indistinta,
especialmente aquelas efetivadas no decorrer das sessões desobsessivas das
quais participava. Até hoje, o querido Dr. Bezerra, ao lado dos tarefeiros de
Maria de Nazaré, é encontrado com frequência nas regiões mais densas do
planeta, resgatando espíritos perdidos nos labirintos da ambição desvairada.
Por isso, caros irmãos, evitem deixar a própria razão nublar os objetivos do
bem. Quantos se vangloriam do poder temporal, esquecendo que as
posições de destaque no cenário terreno são condições transitórias, frágeis e
destituídas de sustentabilidade nos trilhos do tempo. Quantos perdem a
oportunidade de auxiliar o irmão necessitado por não compreenderem que
o trabalho de reestruturação do bem ocorre nos lagos onde as águas se
movimentam e se agitam, não permanecendo estanques para não apodrecer
por falta de uso do manancial.
Valorizemos as nossas instituições espíritas, sugerindo aos
tarefeiros do bem que não desperdicem a oportunidade do auxílio cristão,
podando a possibilidade de ajudar os espíritos em sofrimento que, por ora,
estacionam nas veredas da irracionalidade. Se hoje pregamos a razão como
companheira da fé, é preciso lembrar que o amor é o alicerce de tudo aquilo
cujo objetivo seja o bem estar do próximo. Não nos furtemos ao trabalho
glorificado pela renúncia do próprio ego, pois a paz que almejamos é
companheira da luz adquirida em decorrência da caridade providencial.
“Ninguém vai ao Pai se não através de mim”, disse o Mestre Jesus. Seria
inadmissível a criatura articular um pequeno passo na senda do progresso,
sem apontar a mesma estrada ao companheiro de jornada. Que se evite
negar o auxílio cristão aos desencarnados, pois vivemos numa comunidade
50

planetária em que vige o intercâmbio incessante e dinâmico entre ambos os


planos da vida. Deixemos os trabalhos mediúnicos crescerem cada vez
mais em sustento das casas espíritas e da humanidade.

Comentário
O assunto não deixa dúvida quanto à valorização que devemos
conceder aos trabalhos mediúnicos centrados na prática do esclarecimento
evangélico aos espíritos ainda encarcerados nas trevas da ignorância. Na
mesma proporção em que cresce o número de malfeitores encarnados,
aumenta a quantidade de espíritos perturbadores e malignos, alguns,
verdadeiros artífices do mal, especializados nas mais avançadas técnicas de
infelicitar o gênero humano. Por isso, os transtornos obsessivos se alastram
a cada dia, enquanto a medicina, alheia à realidade espiritual do ser, não
tem como diagnosticá-los, o que aumenta a nossa responsabilidade diante
do fato, pois somos conhecedores de causa. Ninguém, de sã consciência, se
opõe ao estudo, ao contrário. É preciso que alarguemos o nosso nível de
consciência, buscando a ilustração trazida tanto por Allan Kardec quanto
pelos pesquisadores espíritas, encarnados e desencarnados. O que o mentor
sugere, e nós concordamos plenamente, é que a prática da caridade
caminhe lado a lado com a teoria. A caridade exercitada nos gabinetes
mediúnicos deve ser indistinta e voltada aos ignorantes e aos que sofrem
em ambos os planos da vida.
“Longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo
carnal partem daqui, com as necessárias instruções, porque os benfeitores
da Espiritualidade Superior, para intensificarem a redenção humana,
precisam de renúncia e de altruísmo. Quando os mensageiros se esquecem
do espírito missionário e da dedicação aos semelhantes, costumam
transformar-se em instrumentos inúteis.” (André Luiz/Fco. C. Xavier. Os
Mensgeiros, cap. 3, pg.22, 30ª edição, FEB)
No contexto espírita, é providencial que se avance no
conhecimento das filigranas relativas à mediunidade e à obsessão, da
mesma forma que nos interessa o aprendizado da filosofia e o exercício da
moral evangélica. Por isso, caso abandonemos os espíritos obsessores ao
desprezar o instrumental mediúnico a nós disponibilizado pela misericórdia
divina, certamente entraremos em conflito consciencial. Mais adiante,
teremos de prestar conta daquilo que nos foi concedido por empréstimo
com o objetivo de servir ao progresso próprio e ao socorro fraternal do
nosso semelhante.
51

10

MEDIUNIDADE E AUTODESCOBRIMENTO

“Tanto quanto do Espírito


errante, a vontade é igualmente
atributo do Espírito encarnado; daí o
poder do magnetizador, poder que se
sabe estar na razão direta da força de
vontade.” (Allan Kardec. LM, c.8, n.
131)

VRC- A faculdade mediúnica estuante é uma espécie de


extensão dos sentidos físicos; digamos que se trata de um sentido mais
apurado, responsável pela captação dos clichês mentais projetados pelos
espíritos. Quando ela desponta, as impressões psíquicas nem sempre são
harmônicas, porquanto é comum a vivência de momentos tormentosos em
consequência das perturbações iniciais induzidas por entidades menos
qualificadas. Nesse período, o indivíduo se sente angustiado, teme estar
enlouquecendo, pois não consegue identificar as causas dos sintomas
incomodativos que experimenta, daí nascendo o receio de ter de conviver
com a faculdade pelo resto da existência. A impressão registrada em seu
raciocínio é que o contato ostensivo com o mundo espiritual é sempre
nocivo, o que lhe causa temores infundados e preocupações diante do fato.
Carlos- Vigora um tipo de entendimento equivocado em alguns
pontos, sobre a mediunidade tarefa. Existe, por parte do médium novato,
ainda inseguro no campo de atuação prática, certa preocupação em se
relacionar com alguma entidade espiritual que o leve ao desequilíbrio. Há
também aquele que teme as perseguições espirituais, por receio de não
suportar o contato vibratório com outras mentes desajustadas.
A mediunidade não é atributo psíquico que fomente
obrigatoriamente atitudes heróicas. Os médiuns, porém, precisam estar
atentos ao caminho a ser seguido no exercício da própria faculdade.
Quando falamos em estar atentos, desejamos salientar o estudo dos
postulados doutrinários e a perspectiva interior aconselhável ao exercício
equilibrado da faculdade em questão.
O fato de penetrar outros planos vibratórios para lidar com o
subjetivo pode provocar receio em relação à atividade mediúnica. Isso
porque a criatura prefere a segurança das fórmulas matemáticas, nas quais
encaixamos valores com vista à obtenção de resultados exatos e
incontestes. Contudo, até mesmo na matemática dialética, encontramos o
52

caos, alguma inexatidão como meio de pesquisa e de resultados. Nem


sempre as variáveis seguem padrões preestabelecidos, de tal forma que os
resultados podem ser contrários ao que se esperava. Entretanto, o
importante é dispor nossa mente a serviço da autoeducação. Para o
médium, a faculdade exuberante é uma forma de preservar-lhe a
compreensão do bem e ao mesmo tempo um estímulo ao empenho
duradouro no desenvolvimento de suas qualidades interiores.

VRC- Ao vivenciar as indisposições preliminares da


mediunidade em afloramento, o indivíduo imagina-se enfermo, e ao
proceder dessa forma, entrevê apenas o lado negativo dos ajustes iniciais
de sua faculdade psíquica, deixando de compreender a dimensão exata do
que lhe está reservado. Sequer imagina tratar-se de uma condição
especial, muita vez escolhida por ele próprio antes da atual reencarnação,
da qual desconhece, por ora, os benefícios a serem auferidos no decorrer
da labuta terrestre. Quanto é prejudicial o desconhecimento de causa,
não?
Carlos- É fato deveras conhecido que a mediunidade ostensiva é
concedida à criatura como oportunidade pedagógica ao seu próprio espírito.
Não se trata, portanto, de uma condição impositiva de sofrimento, mas a
chance de apaziguar-se o espírito endividado nas lutas intestinas do
processo evolutivo. Diante da opção aceita, ainda em condição pré-
reencarnatória, a Providência concede essa dimensão perceptiva ao médium
para que ele encontre, no próprio vislumbrar do espírito imortal, a
compreensão das dores humanas e a ventura de um coração pacífico apto a
sobrepujar o próprio egoísmo.
Aprendemos tanto com a ciência quanto com a vivência terrena,
pois o convívio social integra nossas experiências, facilita-nos a melhor
compreensão de nós mesmos e incentiva-nos a cooperar para o progresso
dos semelhantes. Percebe-se assim o quanto a mediunidade potencializa a
nossa aprendizagem, já que o médium, em sendo portador da mais ampla
sensibilidade psíquica, interage de pronto com as demais criaturas
circunscritas ao seu campo vibratório mental, quer no âmbito do bem como
na esfera dos sentimentos inferiores. Valendo-se dessa dinâmica, os
médiuns aprendem como as decisões tomadas ao longo da existência
servem para moldar seu próprio destino.
A partir dessas considerações compreendemos a inutilidade do
receio para com os desencarnados, já que a vida não é só percebida pelos
sentidos físicos, assim como avalia o academicismo oficial. Nos diversos
planos energéticos que constituem o Planeta Terra, há manifestações do
consciente e do inconsciente, em diferentes ângulos de expressões. Larvas
vulcânicas, carbono, oxigênio e os demais elementos expressam comunhão
com Deus por meio de suas mutáveis organizações atômicas. Os animais
53

unicelulares exercem função existencial específica no ecossistema terreno.


Os espíritos encarnados coabitam com incontáveis manifestações de vida,
no entanto, poucos percebem a grandiosidade da mecânica divina.
Ademais, o homem, embora não se aperceba, está em convívio constante
com os desencarnados, a permutar fluidos e a assimilar sugestões passíveis
de influenciá-lo em seu comportamento. A mediunidade abre as portas de
uma compreensão mais abrangente, de modo a possibilitar na presente
existência a doação incondicional de si mesmo. Laborar na mediunidade é
antes de tudo desnudar a racionalidade objetiva e se transportar para o além
consciencial.
Todavia, o fato de o espírito encarnado viabilizar contato com a
mente de irmãos desencarnados causa pânico em muita gente. Quantos
médiuns desistem do trabalho na seara mediúnica por se fixarem no medo,
por cultivarem angústias interiores, situações que, em várias circunstâncias,
nada mais são do que reverberações de outras vidas. Não se deve culpar a
outrem pelas escolhas feitas, assim como não cabe incriminar a
mediunidade por razões vinculadas aos caminhos que refletem decisões
efetivadas no plano espiritual.
Permanecem oscilantes em nossa memória ancestral certas
iniciativas tomadas ante os desafios com os quais nos deparamos em
existências transatas. E, infelizmente, prevalece a tendência de repetirmos
as decisões, escolhas e maldades que disseminamos no pretérito. Anular
tais programações interiores custa-nos algum esforço, inclusive essa é a
razão pela qual tantos falham em suas reencarnações, pois não conseguem
trabalhar e modificar as estruturas psíquicas impressas em passado remoto.
Bem que algumas vertentes da psicologia de vanguarda tentam e, muitas
vezes, até conseguem bons resultados.

VRC- É interessante notar que a mediunidade ostensiva, em


certas ocasiões, faculta a abertura de brechas psíquicas que interconectam
o inconsciente, de onde emergem as experiências pretéritas equivocadas,
ao campo consciencial em vigília. Some-se a isso o contato vibratório com
as entidades sofredoras, ampliando a carga de impressões desarmônicas
sobre os campos mentais do sensitivo. Embora pareça algo difícil de ser
contornado, a Doutrina dos Espíritos sugere iniciativas oportunas a serem
levadas em conta, com vista a reduzir a sintomatologia opressiva que
porventura comprometa o sujeito e, consequentemente, abrandar o receio
da atividade mediúnica. No nosso modo de ver, tais resoluções incluem o
estudo continuado; a prece habitual; o exercício criterioso da faculdade; e,
a confiança irrestrita depositada na ação protetora dos benfeitores
espirituais. Que outras opções os médiuns devem considerar?
Carlos- Ora, esses problemas acontecem em decorrência do
egoísmo que nutrimos ao longo da jornada. Desvencilharmo-nos do
54

passado comprometedor é percorrer o caminho de um futuro incerto ou de


certas decisões que nos trazem dor. Por isso, preferimos escolher uma
situação sofrida, porém conhecida, a experimentar uma nova carga de
sofrimento. Seguindo a linha desse raciocínio, inferimos que os médiuns
ostensivos devem melhor refletir sobre as próprias decisões e optar por
novas trilhas iluminativas, restringindo o receio do incômodo ocasionado
pela aproximação momentânea dos espíritos sofredores. Por outro lado, a
mediunidade praticada para o bem oferece ao médium a segurança da
assistência dos bons espíritos, a fim de que ele enfrente com equilíbrio duas
situações habituais: as dificuldades das interações mentoafetivas com os
desencarnados e a emersão para a consciência de superfície das decisões
equivocadas do passado. Acreditamos ser bem melhor experimentar-se a si
mesmo, vinculado aos espíritos amoráveis no trato das questões interiores,
do que perder a oportunidade e deixar que aflore em reencarnação futura o
lamentável engano da negação em trabalhar para Jesus. Certamente, a
decisão é pessoal e intransferível, todavia, não se tome como verdade única
as palavras aqui veiculadas a respeito da iluminação por intermédio do
exercício mediúnico. Há sempre diversos caminhos produtivos a serem
palmilhados no transcurso das encarnações sucessivas. Não olvidemos que,
em qualquer circunstância, Jesus sempre espera por nossa colaboração.
Apesar de enfatizarmos a importância do autodescobrimento por
meio da vivência mediúnica, o médium não percebe os equívocos de
outrora apenas pelo descortinar vibracional oferecido pela mediunidade.
Ele também experimenta as alegrias provenientes daquilo que o amor
construiu e que se converteu em alicerce sólido de revigoramento para a
vida.
Oh, queridos tarefeiros. A mediunidade não é embaraço para a
presente encarnação, mas um passo seguro no sentido de se divisar
perspectivas de renovação. É encontrar-se com Jesus, ao amparar-se na
compassividade acionada em proveito dos irmãos necessitados de afeto; é
ainda a oportunidade de crescimento espiritual ao firmar com empenho
corajoso a renovação de seus propósitos para com a própria vida.

Comentário
O benfeitor espiritual Carlos é experiente biopsicólogo
acostumado a lidar com os conflitos da psique humana. Por isso, as suas
considerações calam profundamente em nossas almas. Neste capítulo, é
bastante significativo seu alerta em relação ao receio infundado, às vezes
doentio, de alguns contra a faculdade que lhes permitiria o contato mais
fluente com os habitantes dos planos invisíveis. Obviamente o intercâmbio
mediúnico não oferece a precisão matemática de resultados incontestes. Os
desafios se sucedem de acordo com a capacidade individual de enfrentá-
los, mas nada que se torne inviável ao tarefeiro em ação no front terreno.
55

Mediante o cultivo da confiança em Deus e o interesse em auxiliar os


estropiados do caminho, aos poucos, afloram no médium as qualidades
afetivas agasalhadas em seu mundo interior, detalhe que lhe confere maior
proteção dos mentores e salvaguardas contra as investidas dos espíritos
oportunistas.
Infelizmente vigora o conceito de que a mediunidade ostensiva
só é concedida ao indivíduo imperfeito, para que mediante experiências
dolorosas, ele cumpra o propósito de sua evolução espiritual. Ora, em
verdade, expressivo contingente humano é constituído de criaturas
imperfeitas, mas, nem por isso os mais conscientes recuam ante o
desconhecido, nem maldizem os reptos que a existência habitualmente lhes
reserva. É preciso entender que a mediunidade é chance misericordiosa de
Deus em prol da criatura, para que ela melhor compreenda as causas das
aflições humanas e se capacite a desenvolver qualidades compassivas,
abdicando progressivamente da ancestral indiferença ao sofrimento do
semelhante. Uma desventurada causa de remorso é o sujeito descobrir,
tardiamente, que a faculdade não é fator de sofrimento, porém, lídima
oportunidade de crescimento espiritual na senda iluminada do progresso.
Ademais, o exercício consciente e bem fundamentado da
mediunidade ostensiva desperta o sentimento de religiosidade e consolida a
disposição piedosa em favor dos encarnados e desencarnados. Por isso, é
uma lástima, quando um médium se intimida diante do chamamento, por
receio de enfrentar transtornos, os quais dependem muito mais de
reverberações tormentosas emergentes de seu próprio inconsciente do que
aqueles resultantes de influências espirituais perturbadoras.
56

11

COMPLEXIDADE DA DINÂMICA MEDIÚNICA

“Mas como o magnetismo é


uma lei da Natureza, triunfou pela
força das coisas. Sua propagação é
devida sobretudo à sua força curativa;
por aí tem um fim humanitário e não
egoísta...” (Allan Kardec. RE. P. 392,
jun. 1864 - EDICEL)

VRC- Assim como se constitui um desafio o conhecimento


profundo das ligações energéticas entre o perispírito e o corpo físico, por
conseguinte, também se revela instigante a complexidade dinâmica da
mediunidade, mecanismo impossível de ser devidamente pesquisado em
campo experimental científico, por insuficiência de instrumental passível
de devassar os planos vibratórios que nos interpenetram. É bem verdade
que o espírito André Luiz, no capítulo II da obra “Missionários da Luz”
(FEB), acena com sugestiva hipótese de trabalho, a qual envolve a
participação da glândula pineal no controle de extensa fenomenologia
psíquica, até então desconhecida dos bancos acadêmicos. Todavia, tudo
indica que ainda perlustraremos uma longa trajetória até assimilarmos a
compreensão exata dos vínculos sutis que estruturam as ligações fluídicas
entre o perispírito e a matéria.
Lancelin- Está convenientemente explicitado na literatura
espírita o fato de a mediunidade ter o seu caráter orgânico. Tal como
demonstram os estudos de pesquisadores de ambos os lados da vida, a alma
liga-se ao campo da matéria densa por intermédio de complicados liames
energéticos. O vínculo entre o espírito e a matéria não acontece somente
por meio da glândula pineal e do sistema nervoso encefálico. As ligações
perispirituais implicam múltiplos mecanismos dotados de uma
complexidade tal que, por ora, não há como descrevê-las. Portanto, não se
restringem a um único vínculo. Ainda nos ressentimos de melhor
compreensão dos mecanismos intricados da dinâmica mediúnica, em
decorrência de nossa reduzida capacidade de percepção. Por enquanto,
falta-nos uma terminologia adequada para descrever em minúcias os canais
definitivos das ligações espirituais/perispirituais com o corpo físico.
É bem verdade que existem vias de contato a partir das
granulações energéticas que compõem a epífise, verdadeiros canais
57

responsáveis pelo acionamento de certas camadas do psiquismo de


profundidade. As características modulares das energias assimiladas e que
se expandem a partir da mente do espírito encarnado, por ajuste de
frequência, entram em sintonia com o campo mental do espírito
comunicante. Lembramos que a mente humana não se trata de algo restrito
ao cérebro físico, pois tal estrutura não tem como ser enquadrada com base
nos parâmetros terrenos. Assim, o contato mental na comunicação
mediúnica não pode ficar circunscrito apenas ao modelo organicista. Daí
decorre o que anteriormente comentamos: a mediunidade não tem como ser
avaliada em termos de valores espaciais. Todavia, tal comentário não
significa que estejamos indo de encontro ao pouco que se conhece a
respeito da mecânica mediúnica cuja acomodação no organismo físico se
alicerça na glândula pineal.
Digamos que a mediunidade, quando considerada de acordo com
os parâmetros organicistas, restringe-se à epífise, verdadeira antena
psíquica passível de permitir ao campo físico, a assimilação de vibrações
energéticas distintas, entre elas, as informações perfeitamente enquadradas
no terreno da mediunidade de efeitos inteligentes. Os estudos que
aprofundam a vertente orgânica da comunicação mediúnica são de máxima
importância, porquanto os esforços de pesquisa sempre resguardam valores
significativos.
Em razão do exposto, gostaríamos de lembrar que a atividade
mediúnica não se efetiva apenas por esse viés. Há outras injunções a serem
levadas em conta para que se tenha uma visão mais alargada do sistema
integrativo de energias mentais, a que denominamos mediunidade.

VRC- A nossa afeição pelo estudo e prática da mediunidade se


deve ao descortino promovido por Allan Kardec sobre o assunto, aliás,
aspecto cativante e infinitamente vasto no contexto da aprendizagem
doutrinária. Assim, mais uma vez indagamos: a melhor mensagem
mediúnica parte de um médium ostensivo ou daquele que se vale de sua
intuição consciente? Qual a de maior valor e a que nos merece todo
crédito?
Lancelin- Prezados trabalhadores do Cristo. A mediunidade,
apesar das características atreladas ao encéfalo, é bem mais expansiva em
sua singularidade do que se imagina. Um médium não portador da
faculdade ostensiva, mas favorecido pela intuição consciente, pode ser mais
fiel na mensagem que transmite do que um médium ostensivo. A fidelidade
deve ser compreendida em diversos parâmetros e, para nós espíritas, que
almejamos o bem comum, a utilidade pedagógica da comunicação
mediúnica é o principal fator, quer provenha de um médium ostensivo ou
intuitivo.
58

VRC- Concordamos perfeitamente com a vossa interpretação de


fidelidade doutrinária referente às mensagens mediúnicas. A propósito, vez
por outra, o movimento espírita registra o surgimento de comunicações
não condizentes com a ética doutrinária, nem com os princípios educativos
úteis aos interesses evolutivos das criaturas. Mas, sigamos em frente. A
complexidade do fenômeno mediúnico é tão vasta, que o espírito de André
Luiz ditou ao saudoso médium Francisco Cândido Xavier, um verdadeiro
compêndio dedicado à análise percuciente da temática, com o sugestivo
título de “Mecanismos da Mediunidade” (FEB). Assim, parece-nos
providencial que o querido irmão nos forneça mais alguns esclarecimentos
sobre a matéria em pauta.
Lancelin- Prossigamos mais um pouco. Quando analisada à luz
do modelo terreno, a mediunidade se restringe às construções orgânicas.
Entretanto, as interações mentoafetivas entre o sensitivo e a entidade
espiritual têm um alcance impossível de ser dimensionado por intermédio
da teorização científica, porquanto se sucedem em níveis vibracionais bem
mais sutis do que aqueles derivados do metabolismo neuroencefálico. A
essência de tal intercâmbio se consubstancia em planos energéticos
diferenciados. Por essa razão, quando um espírito se comunica por
intermédio de um médium, ele interage magneticamente com o campo
mental do sujeito em nível vibratório bastante elevado, impossível de ser
avaliado com base em nossas conjecturas científicas. Diríamos então que a
modulação vibratória é o agente primordial a determinar o grau de
fidelidade da comunicação mediúnica. A sua intensidade é o fator
responsável pela sintonia adequada entre os campos mentais do médium e
do espírito; é o que denominamos campos energéticos vibráteis.
Elegemos essa expressão como um termo explicativo para as angulações
infinitas do universo mental. Tais campos magnéticos equivalem aos
registros mentais nos quais se encontram armazenadas as informações
provenientes de reencarnações passadas. São registros energéticos
constituídos de informações vivas que se expandem e se comunicam.
Quando se tem acesso mais direto a tais campos, costuma-se vivenciar de
forma intensa algumas experiências de diferente colorido afetivo, como se
estivéssemos experimentando-as no presente. Dessa forma, inúmeros
espíritos permanecem retidos a essas vibrações durante séculos, imersos no
mesmo espaço/tempo, sem conseguir perceber além daquilo que vibra no
campo energético ao qual se aferrou, por força do próprio pensamento
perturbado, da angústia, do sentimento de culpa, da vilania a que se
entregou. O ódio, o sofrimento moral e a angústia aprisionam, só o amor
liberta.
VRC- Considerando a intrincada rede de comunicações
energéticas profundas a vibrarem no campo mental do médium, de que
forma entender a clareza, a autenticidade de um intercâmbio instrutivo,
59

sem que os registros arquivados nas múltiplas angulações mentais do


sensitivo interfiram de maneira acentuada na produção da mensagem
formulada?
Lancelin- Bem, retomando as considerações relativas à
mediunidade, informamos que é por essa via que interagem os campos
vibráteis mentais do espírito e do médium, onde se manifestam as
características que imprimem maior ou menor grau de fidelidade à
comunicação mediúnica. Assim refletindo, diríamos que são duas vias (em
sentido expansivo) que se absorvem e se expandem. Cada mente nesse
intercâmbio tem acessos que não se evidenciam na somatização de
emoções, nas palavras ditas. São comunicações subalternas a imprimirem
as características da comunicação.
Em um médium, moralmente habilitado, há uma espécie de
formação energética que lhe permite coordenar a integração entre os
diversos segmentos dos campos magnéticos de sua própria mente. É a
salvaguarda mental, verdadeiro filtro que age de forma a protegê-lo das
interações vibráteis prejudiciais. Esse campo vibrátil é chamado de
coordenação protetiva. Ele dimana de um conjunto de fatores, a exemplo
do estudo, do comportamento edificante, do aperfeiçoamento do caráter e
da vivência evangélica da mediunidade de serviço. O referido campo de
coordenação protetiva, além de servir como instrumento seletor, age por
força do pensamento inercial, de forma a sincronizar melhor as
informações derivadas do espírito comunicante. Por conseguinte, ele
também exerce a função de integrar as vibrações pensamentais do
desencarnado com a mente do médium.
Estabelecidos os caminhos da comunicação, em que o espírito
tem acesso à memória integral do médium, as informações exteriorizam-se
de forma intuitiva, por intermédio da palavra falada ou escrita. Observem
nas reuniões mediúnicas a diversidade comportamental de cada sensitivo na
forma peculiar de manifestar o transe. Os médiuns desenvolvem e
consolidam suas características próprias no transcorrer da existência.
Pergunta: – Mas, a mediunidade não é uma forma de atividade ofertada
por Deus? Como pode ser resultado de um trabalho de desenvolvimento? –
A característica da predisposição orgânica é, na maioria dos casos, uma
oportunidade misericordiosa da Divindade. Entretanto, o bom uso da
faculdade está intimamente atrelado ao esforço de educação interior do
médium. Por essa razão, a importância do estudo, não só para perder o
receio, mas para saber como portar-se erigindo dentro de si o sentimento de
piedade para com o semelhante, em plena consonância com o Evangelho de
Cristo.
Não olvidemos que o treinamento mediúnico inicial não exige
muito do médium, apenas serve para melhor desenvolver as características
sui generis dos circuitos neurológicos cerebrais. Entretanto, à medida que o
60

processo avança também se desenvolve o campo energético de


coordenação protetiva. É nesse transcurso que o médium, volitivamente,
agrega algumas características importantes ao seu campo mental de
coordenação das atividades mediúnicas. Desse modo, mediante o
conhecimento da Doutrina codificada por Allan Kardec, o médium adquire
confiança, saber mediúnico, e evangeliza-se.
Irmãos do labor mediúnico. Que cada um edifique a própria
individualidade, aprimorando o trabalho no campo do auxílio
despretensioso, maneira correta de autoeducar-se para melhor servir.
Quanto mais próximo de Jesus, em ação beneficente, melhor o sujeito
exercerá a mediunidade abençoada. O médium fidedigno é aquele que mais
ama e que se compadece dos aflitos do caminho. Serão dele, portanto, as
melhores comunicações, seja ele médium ostensivo ou não.

Comentário
O assunto suscita-nos reflexões meticulosas. A glândula pineal
tem importância na regência da fenomenologia mediúnica efetivada em
nível orgânico, muito embora o instrutor ressalte que a faculdade
verdadeiramente se alicerça em sítios energéticos bem mais profundos da
intimidade vibratória do ser. A dinâmica mediúnica não se restringe
unicamente ao encéfalo, uma vez que a mente humana não se encontra
radicada no corpo carnal. O impulso inicial da mediunidade ocorre nos
refolhos do campo mental, tangencia obrigatoriamente o perispírito e
deságua na epífise onde, por meio de mecanismos complexos, ocorre a
transdução da energética espiritual em atividade eletroquímica, maneira
pela qual o circuito mediúnico se ativa e se completa nos núcleos
neuroencefálicos.
Não é incomum o fato de reminiscências desagradáveis,
provenientes dos registros mentais arquetípicos, pressionarem a
consciência de superfície e sutilmente contaminá-la com os conflitos ali
armazenados. Os médiuns, em face da sensibilidade perceptiva, podem se
ressentir desses mecanismos silenciosos, responsáveis por desarmonias e
perturbações passíveis de dificultar o curso do intercâmbio interplanos.
Todavia, nos médiuns moralmente aquinhoados, forma-se uma estrutura
energética especial, denominada campo de coordenação protetiva. Ele
age à maneira de um filtro, bloqueando as interações vibratórias
prejudiciais e melhor sincronizando as informações procedentes do espírito
comunicante. Por isso, cada médium exibe um comportamento específico
que o distingue dos demais. É inegável o fato de que os tarefeiros da
mediunidade, que se sobressaem pela dedicação aos estudos e pela
honestidade de propósitos no auxílio prestado aos semelhantes,
habitualmente exercem o seu mandato de forma digna. Transmitem-nos
61

assim, com fidelidade e equilíbrio, as mais significativas mensagens cujos


conteúdos nos sensibilizam pela excelência dos ensinamentos transmitidos.
62

12

MENTOMAGNETISMO E O EFEITO DA PRECE

“A prece, que é um
pensamento, quando fervorosa,
ardente, feita com fé, produz o efeito
de uma magnetização, não só
chamando o concurso dos bons
Espíritos, mas dirigindo ao doente
salutar corrente fluídica.” (Allan
Kardec. RE, p. 254, set. 1865 -
EDICEL)

VRC- A sabedoria popular qualifica a voz da consciência como


uma espécie de sensor, a orientar por meio de estímulos emergentes das
profundezas da alma, o melhor caminho a ser palmilhado quando nos
situamos diante das encruzilhadas costumeiras da existência. Ninguém
pode negar esse tipo de experiência transpessoal, pois todos a vivenciam
em várias circunstâncias, muito embora não a identifiquem de maneira
consciente. Há quem admita tratar-se o fato de uma intervenção sutil dos
espíritos protetores sobre a memória arquetípica, maneira de justificar
cada tipo de impressão a repercutir na consciência de superfície,
orientando-nos quanto às iniciativas viáveis para que não comprometamos
a reencarnação com atitudes infelizes. Nesse sentido, indagamos se
poderiam os maus espíritos, conhecedores das filigranas do magnetismo
mental, atuar nas camadas profundas do inconsciente com a finalidade de
pinçar impressões desarmônicas adormecidas em nossos bancos de
memória a ponto de nos tornar enfermiços?
Carlos- A verdade é que também obedecemos a códigos internos
de conduta, acrescidos progressivamente ao nosso patrimônio espiritual no
decorrer das múltiplas existências. Embora saibamos das intervenções
favoráveis dos mentores espirituais, dos anjos guardiães e dos espíritos
amigos, com grande frequência, a voz que ecoa em nossa consciência
emerge do psiquismo de profundidade, dos refolhos de nossa mente
espiritual, de onde acionamos os arquivos lá existentes mediante ação
volitiva no decorrer da existência. Quando ouvimos a máxima “pensou,
pecou”, é porque o pensamento é ágil comando de energias a atuar, por
exemplo, no objetivo irrelevante determinado pelo pensamento. Entretanto,
o que comumente chamamos de voz da consciência, nada mais é do que a
63

emersão de nossa própria experiência transata, registrada nos bancos da


memória arquetípica, importante ponto de convergência de onde brotam
conteúdos energéticos que permeiam o nosso pensar em vigília. Por vezes,
afloram na qualidade de um alerta, a exemplo de certo mal-estar, de uma
sensação de angústia ou de um complexo de culpa. As referências que
temos interiormente formadas de ações perante a vida é que dão forma à
sintomatologia que vem aos nossos sentidos físicos e da mente em vigília1.
Algumas vezes os espíritos que nos assistem acessam o nosso
arcabouço mental e fazem emergir alguns dissabores sensoriais, a título de
alerta sobre o mal que praticamos ou que estamos prestes a praticar. No
entanto, o acesso aos campos mentais não é possível a qualquer espírito
ignorante das leis magnéticas. Assim, temos vastos exemplos das
imantações magnéticas entre campos mentais distintos que se
complementam em trocas energéticas afins. É por meio desses mecanismos
que recebemos as benesses dos espíritos protetores e amigos. Todavia, o
mesmo acontece quando espíritos em desequilíbrio de conduta atuam sobre
a mente da criatura, com o objetivo de desviá-la do cumprimento de seus
deveres. Trazem à tona, na mente em vigília, a lembrança dos deslizes de
outrora que subsistem desde um passado remoto e arquitetam conexões
com diferentes campos mentais, determinados lugares ou situações onde
prevalecem as energias de baixo padrão. Os maus espíritos conseguem, por
vezes, induzir doenças nos encarnados, em virtude de vinculá-los às
energias mais densificadas presentes tanto no campo somático quanto em
áreas mentais em desalinho vibrátil. Por intermédio dessas verdadeiras
pontes, eclodem as mais variadas modalidades enfermiças. Infelizmente,
inúmeras entidades maléficas, inteligentes e conhecedoras que são das
práticas magnéticas, sabem se utilizar dessas vinculações.

VRC- Embora tenhamos ciência de que somos dirigidos, na


maior parte das vezes, por espíritos que nos influenciam a todo o momento,
no caso de se tratar de um domínio pernicioso, estaremos sempre sujeitos
aos efeitos maléficos de tais contatos ou existe algum componente em
nosso psiquismo, apto a nos defender da atuação negativa proveniente do
meio externo?
Carlos- É nosso intuito destacar o campo energético da mente
humana em sua totalidade e enfatizar que este se vale de mecanismos de
autodefesa para que o indivíduo tenha condições de bem evoluir. Quem

Mente em Vigília – Termo que designa o segmento do campo mental que, em estado
vibratório, se conecta ao cérebro físico.
64

disse que Deus concedeu a “consciência” para nos auxiliar proferiu uma
grande verdade, se bem que ainda não dispomos das condições de esmiuçar
com detalhes o campo energético de nossa consciência alerta. Ele é uma
espécie de trincheira na mente, impermeável às sugestões maldosas
provindas do exterior. Os investigadores do psiquismo humano,
desprovidos em seus campos mentais vibratórios de ondulações energéticas
compatíveis com o bem, não têm acesso a ele. Somente tarefeiros bem
intencionados e honestos conseguem tal intento, porém, de forma a não
modificá-lo, apenas fazem-no vibrar em ondulações convenientes, as quais,
aos poucos, se exteriorizam da mente. Em face disso, por mais que o
componente mental de um indivíduo se extravie, como resultado de uma
conduta desequilibrada, é por intermédio da consciência alerta que os
tarefeiros amoráveis, com frequência, fazem emergir adequadamente as
escolhas pretéritas lastreadas no campo do bem. Por servirem de pontos de
partida de tudo aquilo que fizemos em comunhão com Deus, é possível que
o missionário amorável consiga, a partir do campo mental da consciência
alerta, percorrer muitas conexões. Isso faz com que seja impresso na mente
em vigília um verdadeiro potencial magnético que, em expressivo número
de casos, serve como estímulo à retomada do equilíbrio e do aprendizado
no bom caminho da vida. A importância desse campo é de tal magnitude
que se trata de área energética protegida por Deus. Pode-se cogitar a
existência de gente tão perversa que nos parece impossível a existência
desse aspecto consciencial. Pois bem, meus irmãos. Embora alguns
desacreditem, por mais desajustada que se manifeste a mente, esta possui
esse campo energético fundamental ao progresso do indivíduo. Há quem o
denomine consciência adormecida, mas ela está lá, vívida e pulsante. Em
várias situações, o espírito infeliz, por intermédio de sua consciência alerta,
se conecta mentalmente ao espírito de sua genitora amada ou ao espírito de
alguém a quem ele muito amou e que o compreendeu acima de tudo. É
nesse instante que o prodígio se manifesta. São momentos de insopitável
beleza, capazes de abalar qualquer tipo de mente enferma. Assistimos tais
ocorrências no desenrolar das reuniões mediúnicas, quando entidades
endurecidas, de repente, se rendem à presença de um afeto. O amor é
poderoso e nele repousa a maior força que possuímos. Se Deus é amor, pelo
amor estaremos em comunhão com Deus.

VRC- O momento de transição vivenciado pela humanidade


exige-nos a ativação de nosso potencial mentomagnético, adornado pelo
sentimento de religiosidade, de modo a vencermos as barreiras energéticas
mais densificadas que orbitam nosso planeta. Entendemos que, por mais
comprometedora que sejam as circunstâncias enfrentadas pela sociedade
terrena, o nosso compromisso com o “Príncipe da Paz” nos converte em
65

servos pacifistas, aliados do bom-senso e do comportamento equilibrado.


No nosso entendimento, a maneira pela qual nos aproximamos
mentalmente da Divindade é por intermédio da oração piedosa, recurso
espontâneo e infalível de ativação do campo consciencial alerta. Por outro
lado, a nossa experiência de dezenas de anos em sessões desobsessivas
tem nos mostrado o valor da prece, o quanto é possível, em clima de
expansão consciencial amorável, realizar em prol dos espíritos
endurecidos, onde quer que eles se encontrem. As vibrações harmonizantes
das preces, quando formuladas pelo conjunto dos médiuns, parecem abrir
caminhos, despertar corações adormecidos e facilitar a aceitação por
parte dos espíritos revoltados, das propostas iluminativas do evangelho de
Jesus. Que mais o prezado irmão acrescentaria?
Carlos- Nos códigos de conduta que regem as relações humanas,
inclusive aqueles que administram a convivência entre bandidos, há
substratos de justiça, de tal forma que os Anjos Guardiães desses espíritos
desajustados trabalham por anos, a fomentar princípios, com o objetivo de
criar conexões com a consciência alerta. Deus aproveita qualquer resquício
de bondade para nos induzir à compreensão do amor universal.
Nas reuniões mediúnicas de desobsessão, é importante
conhecermos as técnicas de acesso a esse campo consciencial, visto a
importância dele para o soerguimento do irmão assistido, não obstante, nos
citados grupos de atendimento fraterno, quando bem estruturados e por
misericórdia de Deus, nos utilizemos desse campo energético sem que
tenhamos consciência do feito.
A prece, irmãos, em todas as instâncias, sempre repercute de
forma benéfica. Em substância, a prece fervorosa, proferida mentalmente
em favor do assistido faz o seu campo da consciência alerta vibrar. Ao
imergimos em oração piedosa, nos aproximamos do Pai Maior e, assim,
sintonizamos mais facilmente com os mentores espirituais que nos
orientam e protegem. Tudo o que somos em comunhão com Deus nos traz
bons sentimentos e virtudes ressaltadas. Quando desdobramos as
complexas conexões psíquicas por meio da prece, criamos uma expansão
energética de nível superior, a qual atinge aqueles sobre os quais focamos
as nossas energias mentais. Dessa forma, muitas vidas foram poupadas e
muitos caminhos se tornaram iluminados. Aquele que emite rogativas
elaboradas com sinceridade e desprendimento entra na rede de ação e ativa
no assistido o campo energético de consciência alerta, facultando-lhe o
contato íntimo com o próprio Cristo interior. As rogativas formuladas
durante as reuniões mediúnicas criam campos de proteção intransponíveis
aos espíritos mal-intencionados, além de propiciar um ambiente harmônico
e propício à circulação de bons fluidos.
Enquanto o dirigente da reunião (esclarecedor) assiste ao espírito
em desequilíbrio, os demais integrantes do grupo devem envolvê-lo em
66

preces, pois tal atitude fará vibrar o seu campo energético de consciência
alerta, possibilitando-lhe a emersão dos sentimentos de amor, de harmonia
e de paz. Em muitos casos, a entidade assistida mantém conexões mentais
com outros espíritos ou regiões umbralinas, de tal forma que as citadas
ligações mentais servirão de ponte de acesso aos espíritos socorristas,
facilitando-lhes a tarefa do resgate emergencial dos demais espíritos
necessitados.
O cultivo da prece dispõe de mais um fator favorável. O
encarnado possui um campo energético agregado ao corpo físico, o qual se
mantém em equivalência com a maioria dos espíritos assistidos. Assim, a
oração, em suas conexões já referidas, serve para conduzir o fluido vital,
facilitar o rompimento das barreiras vibratórias de baixo teor e,
consequentemente, penetrar as esferas energéticas mais íntimas do
assistido. É relevante ainda destacar que a súplica fraternal formalizada
pelo grupo mediúnico tem a função de criar um caminho energético, em
razão do fluido animal pertinente aos encarnados e de estimular a vibração
do campo consciencial alerta. Igualmente, os socorristas espirituais se
valem do suporte fornecido pelas energias vinculadas à súplica grupal, para
socorrer os enfermos estacionados na erraticidade umbralina, por
intermédio do magnetismo restaurador.
Prezados irmãos. À medida que o grupo mediúnico desenvolve a
própria maturidade, os tarefeiros espirituais crescem junto com a equipe,
tudo em consonância com a misericórdia de Deus e com o amor
incondicional de Jesus, amor em substância educativa.

Comentário
Ante a relevância da temática, permita-nos o leitor abrir aqui um
parêntese para discorrermos a respeito de uma falange de espíritos
abençoados presentes, sempre que possível, nas reuniões mediúnicas
desobsessivas. A propósito, André Luis, o respeitável repórter do Mundo
Maior, menciona em obra psicografada pelo saudoso Chico Xavier, a
repercussão de um reencontro feliz entre espíritos que se amaram e os
efeitos benéficos sobre a entidade sofredora.
“A presença reconhecida de sua mãe completara-lhe a
modificação benéfica. O sofredor, como o náufrago desesperado atingindo
porto amigo e reconfortante, esquecera as palavras odientas e blasfemas
de minutos antes e, conchegando-se ao coração materno, rogava: - Minha
mãe, o infortúnio colheu-me o espírito desventurado!... não me abandones!
Não me abandones!...” (André Luiz e Chico Xavier. Obreiros da Vida
Eterna, pág.109, 17ª edição, FEB.)
A atividade mediúnica de cunho assistencial, especialmente
aquela voltada ao socorro dos espíritos obsessores reserva-nos surpresas
incontáveis, haja vista as iniciativas diversificadas em forma de auxílio,
67

originárias do Mundo Maior. No nosso modo de ver, a reunião consagrada


ao mister da desobsessão reveste-se do máximo empenho fraternal, pois é
o momento em que as forças do Céu e da Terra se irmanam em luminoso
consórcio, com a finalidade de aliviar o sofrimento dos encarnados
enfermos e dos espíritos em profundo estado de perturbação. O mecanismo
íntimo daquilo que se processa na espiritualidade, no transcorrer de uma
sessão assistencial mediúnica, evidencia-se de acordo com os objetivos
propostos pelos Mentores, tendo em vista o melhor aproveitamento das
circunstâncias em benefício do espírito assistido. Os obreiros mais
afeiçoados às reuniões práticas sabem que, em algumas situações, o
obsessor se manifesta seduzido pelo sentimento abastardado de vingança,
motivado pelas recordações tormentosas cultivadas. Por vezes, é tão
intenso o ódio nutrido contra o desafeto encarnado, que ele mal consegue
escutar os apelos evangélicos que lhe são dirigidos e, em estado de
desespero, desfia continuadamente um verdadeiro rosário de lamúrias,
entremeado de imprecações disparatadas, em virtude da cristalização do
pensamento no objetivo da vingança. Em outras ocasiões, defrontamos
entidades ardilosas e cruéis, a agirem como verdadeiras hipnotizadoras das
sombras. Satisfazem-se em atormentar a existência daqueles mais
vulneráveis às influências espirituais negativas. Costumam assumir
posturas supostamente relevantes. Ora apropriam-se do título de justiceiros,
ora autodenominam-se cientistas, utilizando as vítimas encarnadas como
cobaias de suas atrocidades. Mas, qualquer que seja o tipo de espírito
agressor, a desobsessão constitui-se um dos grandes desafios da prática
espírita. Daí a necessidade de o grupo mediúnico corresponder às premissas
kardecianas explicitadas em “O Livro dos Médiuns”.
A caridade dispensada em reuniões desobsessivas é tarefa de
abnegação e desprendimento, a exigir dos tarefeiros um bom nível de
conhecimento doutrinário e uma vivência razoável no campo da ética
evangélica. Assim, parece-nos imperioso nos situarmos à altura daquilo que
pretendemos alcançar, pois as tarefas mais complexas desveladas no
decorrer da terapia desobsessiva só serão consideradas exitosas desde que
contemos com o imprescindível concurso dos benfeitores espirituais. Não
obstante o emprego de inúmeras manobras magnéticas a ilustrar o arsenal
terapêutico anti-obsessivo, especialmente as técnicas utilizadas pelos
grupos que adotam o mentomagnetismo aplicado, parece-nos oportuno
relembrar o seguinte alerta: acima da mais apurada técnica, situa-se o
amor fraternal e, muito além de nossas possibilidades volitivas, prevalece
a vontade dos Mentores Espirituais. Nessa perspectiva, a título de troca de
vivências doutrinárias, comentaremos um fato relevante acontecido em
uma das nossas reuniões mediúnicas de caráter assistencial.
Em certa ocasião, recebemos a visita de infeliz entidade, irascível
e odienta que, há muito, atormentava um cidadão submisso, vítima de
68

enfermidade pertinaz de natureza puramente fluídica. Todavia, a dialética


esclarecedora intentada parecia ecoar distante de seus ouvidos. Portadora
de elevado grau de insanidade, cristalizara o pensamento nos propósitos do
revide, tornando-se refratária aos apelos evangélicos que lhe
formulávamos. Fizemos, então, alguns segundos de silêncio e recolhemo-
nos em prece, em sentida rogativa de auxílio ao Pai Maior. Ao seu turno, a
entidade deixou de vociferar, também silenciou por um instante, como se
estivesse pressentindo algo. Foi quando uma entidade feminina de elevado
padrão vibratório se aproximou de uma das médiuns e, valendo-se da da
psicofonia, repassou-nos a seguinte informação: “Querido irmão. Nós, as
mães dos filhos que atendes, junto com abnegados amigos, solicitamos a
condescendência obsequiosa de todos para com os nossos 'meninos'.
Nossos queridos filhos ainda carecem de melhor compreensão da vida. A
paixão abate seus corações, por vezes, inseguros, entretanto, tão intrépidos
para praticar atos de vandalismo despropositados. As correntes do bem se
somam para ajudar nossos 'pequeninos'. Oh, queridos amigos!
Manifestamos um grande amor fraternal por todo o grupo de vocês, tanto
os que estão no corpo físico quanto aqueles que compartilham conosco o
Mundo Espiritual. Somos agradecidas pelo amor que o grupo demonstra
no atendimento aos nossos filhos enfermos. Há tempos, juntamo-nos aqui
na espiritualidade para colaborar com a atividade renovadora do Cristo.
Organizamos, então, uma Comunidade Cristã das Mães Consoladoras.
Tentamos, por nossa feita, contribuir com as equipes socorristas e
passamos a trabalhar, principalmente, na localização das mães de espíritos
necessitados de esclarecimentos. Quando localizamos a mãezinha de um
desses enfermos, a trazemos para a nossa comunidade, onde trocamos
experiências, ministramos aulas e oficinas, tudo feito com o objetivo de
infundir o equilíbrio interior das mães para que, em momento oportuno,
elas possam acolher os filhos queridos e resgatá-los para as fileiras do
Cristo. Sentimo-nos extremamente agradecidas e edificadas quando
recebemos, em nossos colos, um filho transviado e carente de afeto. Que
Jesus abençoe os grupos desobsessivos que exercitam a técnica abençoada
do mentomagnetismo aplicado e que viabilizam uma melhor acolhida dos
nossos filhos. Eles se restauram mais rapidamente, logo no decorrer do
atendimento e são protegidos dos ataques daqueles que se manifestam
contrários a sua edificação. Paz, queridos irmãos. Que Deus ilumine cada
vez mais os vossos corações.” Em sequência, os médiuns identificaram a
aproximação de outra entidade feminina. Pela maneira carinhosa como
envolveu o obsessor, compreendemos tratar-se daquela que fora sua
genitora. A emoção externada pelo significativo encontro permitiu ao
enfermo espiritual aceitar o socorro antes rejeitado. O fato é que, desde
então, passamos a contar, sempre que possível, com o concurso dessa
69

falange bem aventurada, a facilitar-nos a bendita tarefa de reconquistar para


o Cristo os espíritos obstinados no mal.
Os lidadores da mediunidade nas instituições espíritas sabem por
experiência própria que, vez por outra, ocorre a presença de um familiar
desencarnado, disposto a auxiliar na tarefa de esclarecimento evangélico
dispensado ao espírito decaído. Todavia, a nossa satisfação se ampliou ao
sabermos da existência, no Mundo Maior, de uma verdadeira falange de
mãezinhas organizadas e esperançosas, aptas a cooperarem mais
diretamente na recuperação de seus filhos queridos. Ninguém duvida da
poderosa força que se constitui o amor maternal. Quando encarnada, a
personagem feminina é aquela que se preocupa e vela pela saúde e
educação dos seus rebentos. Capaz de qualquer sacrifício, enfrenta com
coragem e muita renúncia os inúmeros desafios da existência, tendo em
vista o bem-estar de cada filho. Desencarnada, permanece atenta às
necessidades daqueles que se rebelaram contra a harmonia divina,
pleiteando junto ao Pai Celestial a intercessão benfazeja dos espíritos
superiores. Não é difícil constatar tal realidade. A propósito, lembramos a
participação heróica do espírito de Ernestina em favor do desventurado
Domênico, conforme assinala André Luiz em “Obreiros da Vida Eterna”
(FEB). Recordamos, também, o encontro caloroso e emocionante entre os
espíritos da nobre Matilde e do rebelde Gregório, autêntico agente das
sombras, que, no entanto, dobrou-se vencido ao chamamento amorável de
sua querida mãezinha, segundo relata o respeitável repórter do mundo
espiritual, em “Libertação” (FEB). Que poder de persuasão é esse, capaz de
iluminar os corações empedernidos, restaurar as mentes degeneradas e
infundir o arrependimento nos que se perderam pelos desvãos da vida? A
explicação encontra-se no sentimento superior, expandido dos corações
maternais. É incontável o número de entidades afetuosas, a exemplo de
Matilde e Ernestina, que se aproximam dos gabinetes mediúnicos e, plenas
de esperanças, empenham-se no resgate dos seus “pequeninos” infelizes.
Por conseguinte, a nossa vivência em campo experimental mediúnico
permitiu-nos as seguintes observações: as integrantes da falange das mães
consoladoras não se propõem a substituir o esforço da dialética evangélica
com os obsessores. Elas apenas aguardam o momento propício de atuação.
Pode acontecer que o obsessor, em face da alienação mental que o acomete,
só desperte do pesadelo ao captar, com mais intensidade, as vibrações
maternais em sua proximidade. Por isso, na condição de esclarecedores
responsáveis, quando possível, busquemos o concurso de uma integrante
dessa falange honorável, recepcionando-a com respeito e gratidão,
porquanto, na condição de benfeitora espiritual, ela se mostrará apta a
resgatar, pelo amor supremo, o filho querido estagiário das sombras.
Cremos que, por misericórdia divina, as forças benéficas do Céu e da Terra,
nesse momento grave de transição planetária, encontram-se firmemente
70

vinculadas, com a finalidade de propiciar o resgate do maior número


possível de irmãos desencarnados, necessitados de nosso concurso fraterno.
Os coordenadores da comunidade espiritual em questão destacam
entidades encarregadas de monitorar aqueles espíritos que se desviaram da
senda do bem, de forma que, ao patrocinarem o reencontro, ajam
magneticamente no referido campo da consciência alerta, com a
finalidade de dar o impulso inicial à transformação interior do enfermo.
Desde que exista um limiar de esperança em seus corações, alguns recebem
a visita das genitoras queridas no plano espiritual, ou são encaminhados às
reuniões de desobsessão. Ali, aproveitam o fluido vital do próprio médium
e a magnetização específica do dirigente sobre o campo consciência alerta,
para que eles possam perceber e sentir a presença desses espíritos bondosos
e, ao mesmo tempo, rememorar de forma profunda o amor incontinente que
os entrelaça. Por razões assim, muitos choram e alguns até se descontrolam
emotivamente, pois não deixa de ser um choque energético e de realidade.
Ao fechar o parêntese desta nossa observação, estendemos o valor da
prática aqui relatada, não somente à comunidade espiritual mencionada,
mas aos trabalhadores do Cristo que, incessantemente, reerguem o ser
humano para o seu retorno à Casa Paterna. Amigos, Deus nos agraciou com
esse campo recôndito em nosso arcabouço mental para não perder nenhuma
de suas ovelhas.
71

13

MEDIUNIDADE E SENTIMENTO FRATERNO

“Dos fenômenos magnéticos,


do sonambulismo e do êxtase às
manifestações espíritas há apenas um
passo; sua conexão é tal que, por
assim dizer, é impossível falar de um
sem falar do outro.” (Allan Kardec.
RE, p. 96, mar. 1858 – EDICEL)

VRC- Na contemporaneidade, a faculdade mediúnica é


apresentada em filmes, discutida em periódicos da imprensa leiga e
explorada de forma sensacionalista em telenovelas. Embora se manifeste
naqueles dotados de uma predisposição psicofísica especial,
independentemente de raça, sexo e idade, o que mais nos intriga é a
ausência de interesse por parte da ciência oficial em examiná-la com o
devido interesse e isenção de ânimo. Imaginamos o quanto a
neuropsiquiatria poderia lucrar com a inserção do assunto em seus
compêndios acadêmicos, desmistificando as crendices sobrenaturais que
alguns lhe atribuem e auxiliando os médiuns a melhor conhecerem os seus
atributos psíquicos. Seria uma forma de contemplar a sociedade com vasto
material de estudo e de facilitar-lhe um melhor entendimento da
complexidade do nosso universo mental.
Lancelin- De acordo com os registros temporais, desde a aurora
da Humanidade, têm-se notícias dos primeiros médiuns a servirem de
canais inteligentes entre os homens e os planos invisíveis. Todavia, a
mediunidade não se restringe apenas à funcionalidade do intercâmbio com
os seres incorpóreos. O que destacaríamos nessa expressiva faculdade
psicofísica são as relações complexas que se estruturam no psiquismo
profundo do sensitivo. O médium, em verdade, se caracteriza pela
expansividade perceptiva do seu campo mental, o que lhe faculta a
possibilidade de entrar em sintonia vibratória tanto com os espíritos quanto
com outros encarnados. Além disso, o médium também pode captar
energias ambientais de baixo teor vibratório.
Toda potencialidade magnética que possuímos tem a sua origem
no pensamento formulado nas experiências transatas e na existência atual.
Em nosso complexo mental, as forças integrativas e desagregadoras
constroem o arcabouço da individualidade espiritual da criatura. Por isso,
72

as questões de natureza psicológica e psiquiátrica têm, em geral, causas de


extrema complexidade.
As denominadas “terapias regressivas”, por vezes, não
conseguem atingir o âmago da questão em virtude das defesas psíquicas
que nos guarnecem. É sabido entre os praticantes dessas terapias que, em
muitos casos, a mente se impregna de energias exteriores, as quais não
refletem o estado aflitivo interior. Em outros, a recordação de uma vida
pretérita é um reflexo dos condicionamentos da mente atual e o paciente
submetido ao processo de regressão procura, em lembranças remotas,
vivências conexas por afinidade vibratória. Contudo, nem sempre essas
experiências, no seu todo, são a causa da aflição atual. Por vezes, há
conexões que não subvertem a sintomatologia descrita pelo paciente ao
terapeuta. Isso pode ocorrer em face de uma circunstância atual ser o
reflexo antagônico da descrição de uma experiência transata. Por exemplo:
uma imperfeição do caráter pode se apresentar à consciência, como uma
repulsa ao comportamento em desvio do sujeito em tratamento. Nesse caso
em particular, a mente percorre, entre as inúmeras ocorrências infelizes, a
que mais se aproxima vibratoriamente da origem e que, portanto, se
constitui a falha de caráter. Em tal circunstância, não se caracterizará, de
forma objetiva, uma relação estreita entre a sintomatologia descrita pelo
paciente, a experiência pretérita e a falha do caráter. Pelo fato de a
imperfeição do caráter ter sua origem em muitas desditas, é difícil
perceber-se tais meandros da mente, a não ser que o terapeuta seja
suficientemente arguto para identificar a origem do problema, o qual não se
encontra acessível na consciência em vigília do sujeito. Assim, o terapeuta
ou o esclarecedor de uma reunião mediúnica vão se defrontar com a dor, o
sofrimento do paciente e as lembranças que indiretamente podem ser
desencadeadas por uma falha de caráter.

VRC- Reconhecer o campo mental como agente executor das


ordens emanadas do espírito pode parecer coisa simples e corriqueira, no
entanto, entender a rede intrincada de comunicações internas que
interligam os diversos departamentos da mente é algo muito mais
complicado do que se pode imaginar. A mente não resguarda apenas os
fenômenos psíquicos condizentes com a presente existência, visto que, em
seus refolhos, vibram energias relacionadas com outras reencarnações,
energias decorrentes da própria atividade anímica do ser e dos
relacionamentos quase sempre infelizes com os semelhantes. Cremos,
porém, que as vossas dissertações estão nos ajudando a melhor
compreender o vasto e complexo universo que integra a realidade humana.
Lancelin- Podemos dizer que, em razão da infinitude do
universo mental, ainda estamos dando os primeiros passos na busca das
relações de causa e efeito. A complexidade dessas relações, muitas vezes,
73

não condiz com a lembrança de outra existência, mas, do entrelace de


situações vivenciadas em várias reencarnações, as quais se conectam por
elos invisíveis. Tais conexões, em realidade, formam uma espécie de teia
vibracional. Em inúmeras circunstâncias, o terapeuta acessa apenas um
estreito espaço de relações a palpitar na referida teia vibratória,
impossibilitando-o sanar, promover uma mudança profunda em espaço tão
diminuto não correspondente àquele lócus emergente.
Os comentários aqui referidos valem para os esclarecedores
espíritas que, em diálogo com os desencarnados, frequentemente
encontram espíritos desnorteados ou maldosos, dotados de consciência
vibrátil de vigília em que palpitam complexas teias reencarnatórias.
Interessante notar que o desencarnado acessa, com mais facilidade, as
lembranças de seu próprio passado e os propósitos evolutivos de que
necessita. O doutrinador, ao formular diálogos esclarecedores, deve saber
agir com discernimento em tais situações. Cônscio da extensa realidade de
relações estruturadas na mente, ele tem o dever de buscar os elos
propiciadores das emersões mnemônicas positivas que envolvem as
experiências passadas do assistido. Não obstante a intensidade maldosa
com a qual alguns espíritos se manifestam, há sempre reminiscências
positivas em suas experiências seculares. Então, por intermédio do diálogo
fraterno, aos poucos ocorre a emersão dos momentos significativos da
história de vida do espírito assistido. Muitas vezes, lançamos mão de
artifícios sublimes, ao solicitar ao Mundo Maior a possibilidade da
presença de um ente querido a quem o assistido amou e dele se encontra
saudoso.
Apesar dos esforços e dos resultados satisfatórios decorrentes do
diálogo fraterno entre o doutrinador e o espírito, não acontece nenhum
“toque de mágica” nos condicionamentos das estruturas mentais.
Transformar o encadeamento das experiências pretéritas, responsáveis
pelas diretrizes da nossa maneira de pensar e agir, não é tão simples quanto
parece. Se assim fosse, não precisaríamos das reencarnações sucessivas,
pois, enfim, só conseguiremos transmutar as rotas coordenadas pela nossa
mente à proporção que mudarmos os objetivos de vida e nos empenharmos
no esforço de autoeducação moral.
Em reunião mediúnica, além do choque anímico experimentado
pelo espírito assistido, ocorre também o choque vibratório afetivo. A
assimilação de energias compassivas se dá por intermédio do amor
incondicional. Em decorrência, afloram na mente do assistido as
reminiscências positivas, a exemplo dos sentimentos de fraternidade,
bondade e amor, resguardados no campo consciencial alerta.
A prece proferida com amor e intenção de auxiliar surte efeitos
transformadores no tônus mental dos irmãos em desequilíbrio. Em
passagem anterior, nos referimos ao campo mental de consciência alerta,
74

onde ficam armazenadas as experiências positivas amealhadas durante o


transcorrer do jornadear evolutivo. Nesse campo, vibra o amor em
potencial a definir o elo com a Divindade.
Pois bem, a consciência alerta mantém estreita conexão com os
demais campos mentais do assistido, e fazê-la vibrar magneticamente por
meio da prece, possibilitará que venham à tona, não só as lembranças
proveitosas e benéficas, como também os sentimentos edificantes. Em tais
circunstâncias, os mentores promovem a efetivação de conexões afetivas
por intermédio de energias balsamizantes procedentes de planos espirituais
elevados. É o momento em que se percebe o irmão assistido ser tomado de
intensa emoção afetiva. Sua mente vibra em estágios superiores de
harmonia, ele se sente envolvido por sentimentos elevados provenientes de
seus entes queridos, os quais se aproximam com a finalidade de auxiliá-lo.
Para sermos mais atuantes, ao elaborarmos a prece em favor do
assistido, imaginemos os fluidos magnéticos salutares a repercutirem
intensamente em seu campo mental. E à medida que intensificarmos a
emissão de ondas saturadas de piedade fraternal, a mente da entidade
espiritual comutará, nesse momento, com os elos intrínsecos das múltiplas
experiências positivas arquivadas, o que a tornará predisposta aos novos
propósitos de reajustes para melhor.
Todavia, durante o atendimento fraterno, caso não ocorra o
despertar de um sentimento profundo de intenções renovadoras perante a
vida, o irmão assistido guardará lembranças afetivas que não mais se
esvairão da mente em vigília. Assim, permanecerá em seu substrato
consciencial uma poderosa fonte afetiva sobre a qual os espíritos terapeutas
poderão utilizar como ferramenta de auxílio para tratamentos porvindouros.
Com frequência, lidamos com as reminiscências pretéritas a
interferirem no presente dos irmãos que nos chegam para tratamento na
reunião mediúnica de assistência fraterna. Mesmo sem regressão
experimental, somos o resultado de múltiplas experiências transatas. Nesse
sentido, dialogar com um espírito em uma reunião mediúnica não é só
comunicar-se com alguém em situação presencial. Contatamos um ser ao
alcance de nossa mente vibrátil e isso é muito mais do que um simples
dialogar. Em tais contatos fraternos, a mente do esclarecedor assume uma
compenetração superior e esse canal passa a ser utilizado pelos mentores
empenhados em ajudar efetivamente o irmão assistido. Os doutrinadores
devem estar cientes disso e, assim, vibrar afetivamente em prol da entidade.
O médium também exerce um papel indispensável ao assumir
idêntico comportamento, vibrando na prece oportuna, pois se encontra em
contato mental com o espírito assistido a servir de canal para as energias
renovadoras, possibilitando que os atendimentos organizados pelos
mentores atinjam o objetivo almejado. A confiança, a fé e o amor são
75

objetivos que devem permanecer congregados a fortalecer os elos


assistenciais.

VRC- Muito embora expressivo contingente se deixe influenciar


pelas vivências transatas negativas de modo a comprometer o próprio
comportamento na reencarnação atual, é para nós um estímulo
esperançoso saber da existência do campo consciencial alerta a vibrar no
âmago de cada ser, servindo de alavanca propulsora no sentido do bem,
sempre que ativado pela força incoercível do amor. Cremos não estar
distante o tempo em que a criatura compreenderá a necessidade de
cultivar o amor em sua plenitude para alcançar em definitivo o estado de
conscientização cósmica. Enquanto isso, sustentemos com afinco o esforço
de nossa reforma íntima e oremos fervorosamente, sempre que possível, em
prol dos espíritos endurecidos, objetivando a ativação vibratória do campo
consciencial alerta, por intermédio de nosso manancial afetivo.
Lancelin- No início, falamos em conexões agregadoras e
desagregadoras em nosso universo mental, pois os campos energéticos
coexistem mediante interligações sutis. Porém, o único esteio energético
que perpassa todos os campos mentais são os condutos originados pelo
amor. Só o amor equilibra a nossa mente. O sentimento amorável cria
canais de comunicação entre os segmentos de variados matizes. Nossos
objetivos maiores consubstanciados pelo amor nos indicam o norte da vida
a ser seguido em nossa trajetória evolutiva. Por conseguinte, aquilo que
desagrega, a ponto de criar uma comunicação intermitente em nosso campo
mental, são as vibrações oriundas do egoísmo, do orgulho, do ódio, da
vaidade. Esse desagregar não é no sentido de se interromper a
comunicação, mas, sim, no que se refere ao desvinculamento com o Ser
Supremo. A mente em desalinho precisa liberar-se dos condicionamentos
sedimentados pela ação dissonante com o Criador. Tais conexões têm uma
fluidez distinta, na qual as informações circulam entre os mais diversos
campos energéticos da mente. Diante disso, as ideações formuladas
perpassam os domínios mentais, intercomunicando-os. Entretanto, os
campos de natureza positiva, a exemplo da consciência alerta,
espontaneamente se isolam, sem que mantenham vínculos com as energias
deletérias que circulam através da mente. Entretanto, a depender do
acúmulo de pensamentos em desalinho a vibrar prolongadamente, pode
acontecer uma espécie de intoxicação fluídica, alterando as estruturas
energéticas do períspirito até que ele perca a forma consciencial humana e
se converta em ovoide, assim como tem sido relatado na literatura espírita.
Doutrinadores e médiuns! Quando estiverem congregados em
sessão mediúnica assistencial, mantenham-se conscientes da necessidade
da prece enternecida, direcionando-a intencionalmente para o campo
mental consciência alerta do espírito assistido, na esperança de que o
76

mesmo se reencontre e tenha a oportunidade de reformular os seus planos


de vida.

Comentário
O capítulo nos surpreende pelo manancial de informações
relevantes repassadas aos lidadores da prática desobsessiva. Parece-nos de
bom alvitre fixar na memória certos detalhes corriqueiros identificados nas
sessões mediúnicas. Em inúmeras situações, nos defrontamos com
entidades desnorteadas ou maléficas, todas portadoras de impressões
conscienciais perturbadoras, nas quais vibram teias reencarnatórias
complexas. Todavia, faz-se oportuno reconhecer que, ao lado da maldade
milenar a obscurecer inúmeros segmentos vibratórios do campo mental,
encontram-se as reminiscências de caráter favorável, para as quais os
esclarecedores devem estar atentos quando no trato com as entidades
assistidas. No decorrer de uma sessão desobsessiva, o diálogo fraterno é de
capital importância; se bem dirigido, predispõe à rememoração de alguns
momentos significativos e de recordações felizes experimentados em
reencarnações transatas, associados ainda à intervenção de familiares
queridos que ali comparecem autorizados pela misericórdia divina.
O espírito assistido beneficia-se tanto do choque anímico quanto
do choque afetivo proporcionado pela presença carinhosa de um ente
desencarnado, a quem muito ele amou e que se apresenta com o intuito de
demovê-lo dos pensamentos degradados de ódio e de vingança. Some-se a
isso a repercussão positiva das projeções mentomagnéticas irradiadas pelos
tarefeiros em favor do assistido. Aliás, tal pormenor ficou bem evidenciado
no capítulo anterior. Aqui renovamos o alerta tendo em vista a importância
da desobsessão conduzida com conhecimento de causa e levada a efeito em
bases essencialmente evangélicas. Essas iniciativas constituem-se precioso
estímulo, capaz de fazer vibrar o campo consciencial alerta da entidade,
de modo a permitir-lhe a emersão das reminiscências condizentes com os
sentimentos amoráveis ali resguardados. Não olvidemos o fato de que, por
mais atrasado que seja o espírito, ele abriga em sua consciência alerta as
sementes de bondade ali plantadas, a serem germinadas no momento
adequado, com a finalidade de lhe permitir a superação das próprias
imperfeições morais.
77

14

COMPETÊNCIA MEDIÚNICA

“Os Espíritos sempre


preconizaram o magnetismo, quer
como meio de cura, quer como causa
primeira de uma porção de coisas;
defendem a sua causa e vêm prestar-
lhe apoio contra os seus inimigos.”
(Allan Kardec. RE, p. 288, out. 1858
- EDICEL)

VRC- Certamente, o espírito não reencarna no mundo para se


refrescar sob o teto de um resort luxuoso ou saciar a sede sorvendo
bebidas importadas servidas em taças de cristal. A reencarnação é
oportunidade evolutiva a ser conquistada em meio aos desafios típicos de
um mundo ainda imperfeito. Segundo os ensinamentos auferidos na
Codificação Espírita, o egoísmo constitui-se chaga espiritual crônica a
comprometer os propósitos reencarnatórios dos invigilantes e desprovidos
de quaisquer sentimentos de religiosidade. O ato egoístico de buscar
conforto e paz de espírito à custa do sacrifício alheio é profundamente
enganador. A paz resultante da consciência tranquila só se adquire
mediante os méritos conquistados com o trabalho honesto, a paciência
diante das provações, o respeito à Lei de Justiça e o equilíbrio
demonstrado nos embates terrenos. O equívoco em que a maioria incorre é
querer impor a paz sem implantá-la primeiramente em seu coração.
Carlos- A paz é um patrimônio cósmico almejado por aqueles
que disponham da consciência desperta. No entanto, em se considerando o
atual estágio evolutivo da humanidade terrena e o pouco entendimento dos
valores espirituais, busca-se a tranquilidade, muito mais por egoísmo do
que altruísmo, pois a paz que geralmente se tem em mente é não ser
importunado por outrem; é não experimentar situação incomodativa que
subverta a harmonia aparente das necessidades básicas satisfeitas. De
acordo com esse modo de pensar, a paz é um estado de alma decorrente de
uma conquista mundana, ou de uma tranquilidade momentânea em meio
aos embates terrenos e do desfrutar de um conforto relativo, enquanto
tantos sofrem necessidades. Ledo engano. Refletindo melhor sobre o
assunto, recordemos a assertiva crística: - “Não penseis que eu vim trazer
paz à Terra; não vim trazer paz, mas espada.” (Mateus 10:34). É possível
que imenso contingente não tenha compreendido o real sentido da frase. A
78

paz na Terra só será erigida à custa de golpes de espada desferidos contra as


imperfeições humanas. Jesus refere-se às dificuldades íntimas de cada um
ao lidar com as novas propostas de pacificação interna, de autocontrole, de
domínio sobre o egoísmo e o orgulho.

VRC- Por extensão de raciocínio, aqui levantamos uma questão,


por sinal, bastante generalizada. O que dizer aos médiuns que se julgam
afetados pela sensibilidade psíquica que apresentam, a qual consideram
um estorvo em suas vidas e, por isso mesmo, desdenham de seus mandatos
conferidos pelo Mundo Maior?
Carlos- Se estendermos essas reflexões às tarefas mediúnicas,
diríamos que, da mesma forma, os médiuns carecem melhor compreender a
importância da faculdade, instrumento por excelência de realizações
altruísticas, na busca incessante da paz consciencial. É importante saber
buscar o equilíbrio interior, estar com a consciência de vigília plena de
confiança, em especial quando arejada pelo recurso da prece. Uma das
características fundamentais a ser exercitada na conquista da própria
harmonia se refere ao médium esclarecido em seus propósitos de vida, em
saber concentrar sua atenção no bom desempenho do mandato que lhe é
confiado. Lembrando que a mediunidade não é uma espécie de adorno a ser
ostentado em determinadas circunstâncias, mas algo que integra sua
existência terrena. Por conseguinte, não há uma linha demarcatória a
separar as realizações mundanas do aproveitamento da sensibilidade
mediúnica aflorada. Trata-se da mesma persona, por tal razão, o médium
que procede de uma forma na reunião mediúnica e de maneira diferente
fora dela está agindo em conformidade consigo mesmo. Dessa forma,
quando age de modo equivocado, é apenas um médium não amadurecido,
sem condições ainda de entender a oportunidade de autoiluminação
ofertada por Deus.
Como já referimos, a persona é uma só, embora enfeixada em
sua complexidade psicofísica e, a mediunidade, quando presente, serve de
estímulo ao seu próprio crescimento espiritual. Admite-se que o médium
ostensivo é portador de algumas características em sua estrutura orgânica
que o tornam diferente em relação aos demais, especialmente na
dependência do grau e da distinção da faculdade.2 Podemos afirmar que as
características dessa sensitividade, são personalíssimas em suas sutilezas,

Deus oferece a todos a faculdade mediúnica, porém em graus e características


diferentes. Allan Kardec classificou de médiuns ostensivos os que possuem maior
suscetibilidade ao intercâmbio com os desencarnados.
79

não existindo um médium estritamente igual ao outro. Isso se dá pelo fato


de a mediunidade ser uma expansão mental do sujeito, expansão que lhe
permite acessar de forma direta o próprio eu e, ao mesmo tempo, entrar em
contato com outras vibrações pensamentais. Asseguramos, então, que tal
predisposição psicofísica detém características sui generis, ou seja, é um
aprofundar-se em si mesmo e, ao mesmo tempo, um expandir-se. Aquele,
pois, em condições de melhor compreender e vivenciar os objetivos
maiores da vida possui as conexões mentais em estágios mais avançados.
Podem ser incluídos na categoria de médiuns intuitivos conscientes por
dominarem com maior facilidade os mecanismos da introspecção e da
expansão do próprio campo mental.
Em nosso estágio evolutivo, expressivo percentual das
características mediúnicas decorre do desenvolvimento da percepção
mental e dos avanços cognitivos próprios das conquistas evolutivas a se
refletirem no perispírito, o qual se torna mais diáfano e brilhante, à
proporção que a criatura se esmera no cultivo dos pensamentos mais
enobrecidos. Entretanto, os elos energéticos subjetivos são construídos na
maioria das vezes pela espiritualidade.
Como se percebe, o médium tem participação ativa na prestação
de assistência aos sofredores do caminho, utilizando sua própria faculdade.
Em princípio, ele oferece a base estrutural para as conexões arquitetadas
por iniciativa da espiritualidade. Lembramos existir uma ramificação entre
a persona do médium e a sua mediunidade, de tal forma que esta última se
torna ainda mais expansiva se analisada em conjunto com os elos, as
conexões, os campos mentais e a consciência em vigília. O médium lida
constantemente com um fluxo ininterrupto de informações, energias e
conexões. Algumas se originam no próprio sujeito, ou seja, na sua própria
mente. Isso pode representar certo grau de dificuldade para aquele
destituído da capacidade de autovigilância e que não cultiva o hábito
efetivo da prece.

VRC- Qual o significado pretendido pelo distinto mentor ao


vocábulo persona?
Carlos- Preferimos utilizar o termo persona com o objetivo de
distinguir a personalidade associada aos seus objetivos de vida. Assim, a
persona do médium exerce forte influência em seu autoequilíbrio. Partindo
desse pressuposto, pode-se afirmar que a persona é o espírito em ação, a
vida em curso.

VRC- Entendemos a vossa proposta em relação ao termo persona.


Todavia, insistimos na questão da mediunidade, tendo como objetivo a
busca de informações, que nos satisfaçam o desejo de conhecimento.
Parece-nos que a faculdade é bem mais extensa e complexa em seu
80

dinamismo íntimo do que se imagina. Pelo visto, não se trata apenas de um


simples canal de comunicação com a dimensão espiritual, mas de uma
espécie de convergência em que se concentram forças oriundas do
psiquismo individual; emoções viciosas provenientes da memória
ancestral; influências captadas dos circunstantes; impressões nem sempre
favoráveis das paisagens astrais com as quais sintonizamos; e, assimilação
dos clichês mentais projetados pelos espíritos com os quais permutamos
vibrações. Seriam tais contingências motivos de temeridade por parte dos
médiuns receosos e reticentes quanto ao cultivo da faculdade?
Carlos- A mediunidade é mecanismo dinâmico de ligação, de
transmissão e de recepção. Porém, a faculdade não age por si, não toma
decisões, é simplesmente uma predisposição psicofísica. Logo, a
mediunidade ostensiva não é culpada em nada do que dela resulta, muito
embora há quem pense o contrário e desista de oferecer-se ao serviço
edificante de sua prática, por receio infundado das consequências. É bem
verdade que muitos ainda se mostram desprovidos de maturidade suficiente
para lidar com tantas forças efervescentes no complexo mental. Entretanto,
se confiarmos em Deus e se frequentarmos uma instituição espírita bem
orientada, o desenvolvimento do nosso manancial perceptivo se dará de
forma tal a não permitir que sejamos atingidos na delicada coesão das
nossas estruturas psíquicas. Contudo, os que abandonam de moto próprio o
estudo, se esquivam de auxiliar o próximo, seja em que área for, acabam
portadores de desequilíbrios pronunciados e até mesmo de obsessões
complicadas, de difícil tratamento.
Na qualidade de espíritos milenares, mas de mediana evolução,
trazemos em nosso campo mental um extenso arquivo de experiências
vivenciais. Nele se encontram registrados as relações infelizes com nossos
semelhantes, bem como as ligações com regiões penumbrosas do Umbral
inferior. Ora, meus irmãos, a mediunidade é conexão e exteriorização
vibratória, é fluxo e refluxo. O médium se encontra em constante permuta
vibratória e, quando a persona não registra uma conduta edificante, o lidar
consigo próprio se torna um desafio doloroso de grande dificuldade. É
também nesse sentido que a faculdade ostensiva é oportunidade de
progresso moral, desde que o sensitivo aprenda a lidar com o seu mundo
interior. O médium que não sabe controlar a emersão de seus maus
pendores torna-se suscetível de graves desequilíbrios. Assim, quem se
evade das oportunidades de agir no âmbito do bem acaba por abafar
interiormente os propósitos evolutivos e por se ressentir com as próprias
dificuldades.
Irmãos, não temam a mediunidade e o seu cultivo em favor do
próximo, pois a faculdade em si não nos traz nenhum tormento. E, se por
acaso nos defrontarmos com algumas ameaças de espíritos intolerantes, nos
quais prepondera o comportamento hostil, a possibilidade de erigirmos um
81

campo energético de autoproteção estará na razão direta de nosso empenho


em auxiliar o semelhante atormentado por insondáveis amarguras terrenas.
Aceitemos a sabedoria misericordiosa de Deus ao nos brindar com a
mediunidade redentora, oportunidade ímpar de edificarmos a nossa
trajetória ascendente em busca da Luz.

Comentário
A misericórdia divina, sempre atenta às necessidades humanas,
resolveu por bem fornecer em caráter de mandato aos espíritos endividados
com a própria consciência, a dádiva da mediunidade ostensiva, tendo em
vista a pacificação interna do médium acometido de conflitos milenares.
Outrora, a alma ambiciosa lançava mãos de artifícios contundentes com o
objetivo de exercer o poder de mando e de submeter ao talante de sua
vontade as criaturas indefesas. Hoje, de posse da instrumentação
mediúnica, o sujeito assolado pelo complexo de culpa se propõe a vencer
os velhos inimigos internos, a exemplo do egoísmo, dos vícios e da
maldade, dedicando-se em campo mediúnico à batalha em prol da caridade
indistinta, com o objetivo de reparar os males de outrora e de se afinizar
com o campo do bem. Nos tempos modernos, a mediunidade tarefa
converte-se em valioso instrumento de obtenção da paz espiritual.
O médium esclarecido à luz da doutrina consoladora age como
tal nas vinte e quatro horas do dia. Coloca-se na posição de medianeiro útil
aos bons propósitos e atua em sã consciência nas mais variadas
circunstâncias da existência, sempre exemplificando o seu comportamento
equilibrado. A propósito, os mensageiros do Alto, aqueles que enriquecem a
literatura espírita com ditados mediúnicos proveitosos e instrutivos, não se
cansam de valorizar o estudo metódico do Espiritismo, de incentivar a
aquisição de conhecimentos valiosos e de insistir no convite ao bom uso da
faculdade redentora, com a qual incontáveis criaturas são agraciadas pela
Providência Divina.
82

15

SINTONIA MEDIÚNICA

“Ora, como os Espíritos


também têm o poder de magnetizar,
conforme as circunstâncias podem
dar propriedades curativas a certas
substâncias. Se o Espiritismo revela
todo um mundo de seres pensando e
agindo, revela, também, forças
materiais desconhecidas que um dia
serão aproveitadas pela ciência.” (
Allan Kardec. RE, p. 63, fev, 1863 -
EDICEL)

VRC- Diante do avanço da tecnologia, significativo segmento


populacional se torna cada vez mais exigente em matéria de conforto, bem-
estar e prazeres fugazes. Em face de tais circunstâncias, a criatura anseia
por veículos modernos e superequipados, residências luxuosas e
funcionais, medicina de ponta a realizar prodígios e assim por diante. Em
decorrência, há quem imagine tais recursos verdadeiros prenúncios da
ventura suprema implantada aqui na crosta. Estaria a felicidade humana
condicionada ao progresso da ciência, à satisfação prazerosa dos instintos,
ao bem-estar material da criatura?
Lancelin: O homem contemporâneo confronta inúmeros
paradoxos cotidianos. Busca o prazer a todo custo, almeja o progresso e a
evolução da técnica, desde que obtenha a satisfação de suas necessidades
materiais. É a valorização extrema do ter sobre o ser. O espaço dedicado à
valorização do ser é exíguo e enfadonho nos comenos do agora, enquanto a
inquietude expressada na ambição desmedida prevalece a ratificar os
prazeres imediatos.
Sem dúvida, a humanidade avança obcecada pelos anseios de
uma existência cada vez mais confortável. Descobertas admiráveis se
efetivam no campo da tecnologia da informação. É claro que tais
acontecimentos evidenciam o seu lado positivo, é só observar o quanto o
homem tem progredido na feição intelectiva ao descortinar horizontes
promissores no âmbito do conhecimento. Contudo, retornemos à proposta
83

inicial do nosso argumento. Há paradoxo, pois, apesar do progresso


evidente das ciências, a criatura humana ainda sente dificuldade em manter
um relacionamento harmônico com o seu semelhante e, por extensão, com
o habitat que a acolhe. Que paradoxo é estar no mundo e não ser deste
mundo. Como transcender a materialidade do planeta que habitamos para
viver a plenitude do amor? Inexiste mágica, pois tudo é aprendizado. Resta-
nos entender o modo aceitável de conviver com os nossos desejos
satisfeitos ou negados e aprender a lidar com os conflitos mentais
decorrentes de conexões estruturadas em nosso psiquismo profundo. Diante
disso, embora não desejemos, repetimos os mesmos equívocos de outrora.
Agreguemos agora a esse modo de pensar novos níveis de
entendimento. Admitamos a possibilidade de que nossos desejos suscitem
dúvidas e equívocos, quando satisfeitos ou não. Isso se deve à ligação do
presente com o pretérito, por intermédio de ações sutis responsáveis pelas
conexões entre campos mentais já estruturados. Aqui no orbe mantemo-nos
em constante aprendizagem, desenvolvendo a capacidade de discernir o
que realmente necessitamos. Em geral, não conquistamos com
desembaraço as necessidades prementes de nossa alma, estacionando na
superficialidade das ambições pueris em razão da imaturidade espiritual,
ainda cultivada. Como poderemos suplantar a superficialidade das ilusões
mundanas e aspirar ao progresso moral, sem que nos desliguemos das
conjunturas atávicas da própria mente? Tal aglomeração3 se constitui
verdadeiro sistema de autopreservação, por isso, torna-se difícil modificar
as suas exteriorizações sem que alteremos o fulcro de atração e de
contração. Para desfazer esse aglomerado energético, precisamos mudar as
rotas mundanas traçadas como importantes. São caminhos alicerçados em
ambições temporais, responsáveis pela satisfação do existir. Eis aí o motivo
da demorada transformação interior de cada um. É difícil erradicar de nossa
mente aquilo que tanto desejamos, uma vez que a intensidade do querer é
quase que desmedida a se debater com a real necessidade do ser.
Com frequência repetimos condicionamentos pretéritos. E assim
acontece, porquanto, em nosso universo mental subsiste um arcabouço
complexo forjado à custa do pensar e do agir. Então, erigimos campos
mentais que, em verdade, são energias ativas, registros vívidos a se
exteriorizarem, o que nos transmite certa segurança por se tratarem de
caminhos conhecidos. Constantemente recebemos influências dos próprios
campos mentais usando a dinâmica operacional dos pensamentos.
Entretanto, o mecanismo inverso também é possível, pois podemos ativar
os mesmos campos por meio do pensar e do agir. E tal pode acontecer de

3 Usamos esse termo para qualificar um conjunto constituído por


departamentos mentais, a gravitar em torno de nossos desejos.
84

maneira harmônica ou desequilibrada. À medida que nos conheçamos


melhor, menor será a possibilidade de incidirmos nos mesmos equívocos e
condicionamentos do passado. Por isso, os grandes filósofos repetem há
milênios: “conhece-te a ti mesmo”.

VRC- Não é sem motivo, no presente momento, o grande número


de obras literárias a incentivar o melhor gerenciamento das emoções como
fator de harmonia e de saúde integral ao alcance de todos. A literatura
espírita, com frequência, estimula a necessidade de um comportamento
equilibrado, com a finalidade de favorecer a própria evolução espiritual
dos seres. A questão da vigilância recomendada pelo Cristo não é levada
em conta por tantos que se dizem seus seguidores, muito embora, no nosso
modo de ver, o alerta seja um convite para que o indivíduo corrija a
trajetória terrena, desviando-se dos atalhos prazerosos, porém prejudiciais
ao processo evolutivo.
Lancelin- A autovigilância ante as manifestações emotivas é de
grande valia para evitar quedas sucessivas engendradas pelas armadilhas do
ego. O grande problema é que nos apegamos aos desejos e aspirações, sem
a percepção consciente de que traçamos o futuro por causa deles. Assim, o
aglomerado se sustenta em função de nosso apego aos ouropéis mundanos.
De fato, ele funciona a exemplo de zona energética atrativa, onde se
concentram as conexões de experiências vividas responsáveis pelo
condicionamento de nossos passos ao longo da trajetória evolutiva. Vale
aqui relembrar sutil pormenor. O que denominamos “aglomerado” não é a
mesma coisa que rotulamos de “mente”. O aglomerado difere, em termos
energéticos, do campo mental, portanto, não é somente uma área
circunscrita, vibrátil, que se expande e assimila. É via energética, composta
de vértices que se articulam com os sentimentos, afeições e aspirações
existentes no universo mental do ser, conectando-os em função das
similaridades vibráteis4. Melhor explicando. O aglomerado atrai e faz
emergir para a mente em vigília tudo o que está contido no universo
mental, em conexão com nossos desejos e aspirações, “porque, onde está o
vosso tesouro, aí estará também o vosso coração”. (Lucas 12:34). Assim,
traçamos a metamorfose íntima em razão do querer, mas aquilo que se
expressa em forma de desejo é algo profundo, habitualmente imperceptível
à mente em vigília. Conscientizar-se dele é modificar o futuro, pois alargar
os horizontes do conhecimento é palmilhar com segurança o caminho que
se nos descortina diante da eternidade. Por isso, não é sem motivo a
assertiva evangélica: “conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”

4 No universo mental, as ligações do aglomerado, os vértices, perpassam


os campos mentais.
85

(João 8:32). Entretanto, alimentamos um infundado receio em conhecê-la,


não obstante vivenciá-la é ter a liberdade de percorrer o caminho que nos
leve ao encontro da sabedoria. Jesus se fez presente em nosso meio
humano, não só para que o enxergássemos pessoalmente, mas, sobretudo,
para que o sentíssemos com o coração. Estar em sintonia com a verdade é
nos comunicarmos com o reflexo da Divindade em nosso íntimo. Se assim
o fizermos, certamente o amor desabrochará em nossas almas.
Apesar de sermos conhecedores da trilha do bem, em virtude da
Lei Divina impressa em nossa consciência, ainda nos apegamos aos
clamores do ego. Quando Jesus proclamou o “vigiai e orai”,
carinhosamente nos transmitiu um ensinamento cósmico de valor
inquestionável. Conhecer-se intimamente é entrar em comunhão com o Pai
Maior, e assim o fazemos em momentos de concentração, silêncio interior e
de prece. Vejam, irmãos. Chegamos novamente a essa ferramenta
primorosa de bem-viver, de conviver, de reverenciar a vida, de sentir o
amor pleno de Deus. E para que convertamos a convergência naquilo que
chamamos de “aglomerado”, é fundamental entrarmos em sintonia plena
com o Pai Maior, por meio da prece.

VRC- Seguindo essa ordem de ideias, imaginamos que o


exercício mediúnico deve ser um dos objetivos daqueles indivíduos que,
agraciados pela faculdade, anseiam suplantar os arrastamentos emotivos e
promover a própria renovação íntima.
Lancelin- Ao valorizarmos o ensejo da mediunidade
compromisso, certamente muitos ainda não compreenderão o alcance dessa
máxima. Há quem renegue a oportunidade abençoada, crendo-se imaturo
para palmilhar a trilha desafiadora e dificultosa. Entretanto, é justamente no
exercício da mediunidade assistencial que se descortina a grande chance de
transformação interior. A faculdade consiste em mudanças nas estruturas de
comunicação energética da mente que alcançam o substrato da consciência
em vigília. Esta, por sua vez, imanta-se ao cérebro perispiritual e, por
conseguinte, ao encéfalo do campo físico, quando o espírito se encontra
encarnado.
A mente do médium ostensivo é algo diferenciado, em razão do
grau de comunicação interior. Ele tem a oportunidade de entrar em contato
vibratório mais facilmente com seus próprios campos mentais e, por
conseguinte, com os vértices de comunicação do aglomerado. Eis aí a
possibilidade de ele melhor se conhecer intimamente. O ir e vir de
86

informações5 permite-lhe acessar mais conscientemente os desejos e


aspirações, facultando-lhe certa facilidade em identificar os apegos aos
quais ainda se escraviza. Portanto, ele tem a capacidade de melhor
exteriorizar-se. Aqui destacamos a essência da sensibilidade ostensiva: o
médium assim constituído não só intercambia com os desencarnados, mas,
também se comunica com o seu íntimo e com a própria vida.
Por tal razão, enfatizamos a importância de o sujeito, na condição
de médium, bem definir o que espera de si próprio, o que almeja ao
desenvolver e educar as suas qualidades mediúnicas. Divisar esse objetivo
singular certamente o incentivará a expandir as possibilidades de agir em
sintonia mais afinada com a Divindade.

VRC- Uma ideia bastante disseminada é aquela na qual o


médium ostensivo só se presta a estabelecer contatos mentais com os
desencarnados, conceito que limita o alcance, a expansividade de sua
capacidade perceptiva. Entretanto, a perspectiva de imergir em seu próprio
escaninho mental é o detalhe que lhe propicia melhor conhecimento de si,
a chance de avaliar a oportunidade de seus desejos e anseios e, assim,
tornar-se capaz de selecionar as iniciativas adequadas a serem
mobilizadas ante os desafios terrenos. Não seriam tais qualidades formas
de satisfazer a confiança e a gratidão a Deus, por parte daqueles que se
sentem agraciados por serem portadores da mediunidade ostensiva?
Lancelin- Não há dúvida. O médium ostensivo é mais suscetível
às influências do seu próprio “eu”, assim como noticiam alguns estudiosos
da espiritualidade humana. O “eu” profundo refere-se ao ser em essência e
o médium tem a facilidade de fazê-lo se expandir, quando, por intermédio
da prece eleva o próprio tônus vibratório mental e se põe em sintonia mais
íntima com o Criador, percebendo assim que a Divindade é parte integrante
da vida humana. Portanto, entendam a grandeza do chamamento
mediúnico.
Durante o estado de transe, o médium afeito à prece e
acostumado a entrar em sintonia com os planos invisíveis serve de vereda
vibratória para os espíritos a ele vinculados pelo magnetismo mental.
Melhor expliquemos. Além de propiciar o choque anímico, o seu campo
mental atua à semelhança de uma via, através da qual o espírito

5 Não são simples informações factuais, mas informações que abrangem


sentimentos e lembranças vívidas. Portanto, a informação não se restringe a mero
registro, mas ao vibrar de tudo que a envolve.
87

comunicante estabelece sintonia com as energias provindas de Deus6. O


médium diligente, em conexão com a mente do espírito assistido, pode
proporcionar tal fenômeno de natureza transcendental. No entanto, se o seu
aspecto racional se sobrepõe ao sentimento fraterno de auxílio, ele não só
reduz a possibilidade do contato mediúnico como, indiretamente, impede
que os fluidos benéficos advindos dos passes espirituais sejam assimilados
pelo espírito assistido. Quando assim acontece, os mentores espirituais
dispõem de recursos para contornar a situação constrangedora, muito
embora ocorra maior dificuldade na assistência prestada ao necessitado.
Por conseguinte, avaliemos a necessidade de progresso constante por parte
do médium, não só por meio do estudo, que esclarece e conscientiza, mas
especialmente por intermédio do exercício constante da doação abnegada
de si mesmo.
Pois bem. O médium ostensivo sintoniza mentalmente o espírito
comunicante, não somente no momento da reunião mediúnica, mas em
virtude daquilo que ele é na qualidade de ser humano. Na sessão de
assistência, durante as diversas manifestações psicofônicas, é importante
que ele permaneça vigilante e em prece. Evitar divagar ou distrair-se
enquanto outro tarefeiro intermedeia a entidade sofredora. Obstar a
curiosidade em relação ao esforço evangelizador do espírito, agindo com
empenho na sustentação da prece sentida, verdadeiro veículo de auxílio aos
que se submetem ao esclarecimento evangélico.
Por outro lado, ao se defrontar com um espírito muito
endurecido, o doutrinador deve solicitar a cada um dos presentes, preces
intercessórias fervorosas, com o intuito de favorecer o bom
encaminhamento do diálogo. Quando o médium se recolhe em prece, a
elevação do seu padrão vibratório faz com que a mente do espírito assistido
também altere a sua própria frequência, melhorando tanto a sintonia quanto
a assimilação das sugestões edificantes proferidas pelo esclarecedor. À
proporção que o médium aprimore o seu status mental, através da oração,
maior será possibilidade de ajudar aos espíritos enfermos, mesmo no
transcorrer do dia. Valendo-se de procedimento magnético, o doutrinador
pode estabelecer a sintonia do aglomerado do espírito assistido com o
campo mental consciência alerta do médium. Por intermédio do passe
magnético, as energias vibráteis do campo consciência alerta do médium
entram em conjunção vibrátil com a mente da entidade, facilitando-lhe a
sintonia com as energias originárias dos espíritos superiores. Compreendam
que, quando assim procedemos, efetivamos uma ligação energética do
campo consciência alerta com o aglomerado, permitindo, portanto, uma

6 Os espíritos elevados são canais de energias salutares. Eles assim


procedem em íntima comunhão energética com o Criador. Deus é amor.
88

sintonia afinada dos registros amoráveis nos quais se sobressaem os


sentimentos superiores ali presentes. Tal ação permite ao irmão assistido
sentir-se envolvido pelo toque do magnetismo balsâmico e saudável.
Comentário
O instrutor propõe um alerta especial aos médiuns, sugerindo-
lhes a urgência de se valorizar o ser sobre o ter, de se concretizar as
realizações espirituais realmente úteis à tranquilidade consciencial e, assim,
dedicar menos importância às iniciativas mundanas vinculadas às
exigências do ego. Os equívocos, viciações e desmandos que se repetem a
cada reencarnação permanecem arquivados nos refolhos da memória
ancestral, a se constituírem verdadeiros entraves ao pensamento equilibrado
e aos desejos cultivados em bases harmônicas. Ora, tais entraves dificultam
ao sensitivo o manejo adequado dos próprios conflitos mentais. Dessa
forma, o que se pretende é o discernimento correto daquilo que realmente
se mostra necessário. Há que se buscar a sintonia desejável com a verdade,
aquela que repousa na qualidade de reflexo divino em nosso âmago. E esse
objetivo pode ser alcançado mediante a prece sentida e os momentos de
tranquilidade interior, favorecendo a comunhão com o Altíssimo.
A mente do médium ostensivo vibra e se expande em dois
sentidos, o externo e o interno, fenômeno que lhe permite tanto
intercambiar ideias com os espíritos quanto contatar os múltiplos estratos
vibratórios de seu próprio campo mental e, por conseguinte, tangenciar os
vértices do aglomerado. Essa estrutura, conforme a descreveu o mentor,
atua na qualidade de vereda energética, atraindo para a consciência de
superfície o conteúdo mental ali registrado, bem como as aspirações e os
desejos. A sabedoria da criatura consiste em retificar anseios e propósitos
íntimos na atual experiência carnal, mediante o conhecimento de causa e o
bom uso do livre arbítrio.
O que deve ficar claro neste capítulo é que o cultivo da
mediunidade ostensiva, além de permitir ao sensitivo o intercâmbio mental
com os desencarnados, faculta-lhe também a imersão oportuna em seu
inconsciente, maneira pela qual ele identifica equívocos e apegos ainda
remanescentes – condição propiciatória ao esforço de renovação íntima e
de conquista perene dos bens espirituais.
89

16

O MÉDIUM NA REUNIÃO ESPÍRITA

“A força magnética é
puramente orgânica, pode como a
força muscular, ser partilha de toda
gente, mesmo do homem perverso;
mas, só o homem de bem se serve
dela exclusivamente para o bem...”
(Allan Kardec. OP, 1ª parte, n. 52)

VRC- O desempenho da atividade mediúnica desobsessiva


apresenta nuances tão elaboradas em sua dinâmica processual, que
apreciaríamos abordagens mais elucidativas, compatíveis com o nível de
entendimento que nós, espíritas, já atingimos no presente momento.
Tratando-se de prática mediúnica inserida no contexto doutrinário de
muitas instituições, as informações esclarecedoras trazidas pelo querido
irmão viriam ao encontro de nossa busca interior incessante, de certa
forma, satisfeita com a análise detalhada das obras assinadas por Allan
Kardec e dos demais pesquisadores dedicados ao aprofundamento do
aspecto científico da Doutrina Espírita.
Lancelin- Muito já se discorreu sobre a mediunidade em seus
múltiplos aspectos. E de acordo com o prisma doutrinário, a reunião
mediúnica de desobsessão obedece a padrões mais ou menos idênticos na
maioria dos centros espíritas. Apesar do amplo empenho, a mediunidade
em ação, até este momento, carece de melhor compreensão nos círculos
reservados do nosso movimento. Embora sejamos reconhecidos lá fora pelo
gosto da leitura e do estudo, em matéria de assistência espiritual mediúnica,
ainda convivemos com algumas incompreensões e infundados receios.
Entretanto, parece-nos injustificável tanto temor diante dos cuidados
direcionados àqueles que se iniciam nessa prática. Em se tratando de um
tema abordado por tantos estudiosos, não pretendemos aqui repisar as
mesmas teclas. Apenas salientaremos alguns enfoques que acreditamos ser
oportunos, quando nos propomos à efetivação da mediunidade tarefa em
campo experimental. Antes, porém, gostaríamos de deixar bem definida a
nossa posição particular em favor da prática desobsessiva espírita.
Ao se iniciar o processo de educação mediúnica, convém ter em
mente que o personalismo não cabe em um ambiente consagrado à
promoção do bem. Nessa perspectiva, ao nos reunirmos em recinto adrede
90

preparado é imprescindível que estejamos imbuídos do sentimento de


compaixão fraternal pelos sofredores de ambos os lados da vida. Aliado a
isso, ressalta o entendimento maior de nossa tarefa digna, executada no
contexto doutrinário, maneira pela qual forjamos os liames de atuação no
decorrer do conclave mediúnico. Quando em atividade prática, organizam-
se vias de acesso entre os campos mentais dos tarefeiros desenvolvidos e
educados nos postulados espiritistas, de maneira que a tarefa transcorra em
clima de harmonia e bom proveito, criando-se, inclusive, providencial
isolamento de áreas mentais mais sensíveis às projeções maléficas
intentadas por espíritos contrários ao bem.
Emitimos anteriormente considerações sobre o campo mental de
ação protetiva. Todavia, existem outros, a exemplo daquele forjado
especialmente para a atuação em grupo mediúnico. Esse tipo de campo
mental tem o objetivo de criar uma psicosfera coletiva de amparo dos
médiuns integrantes da equipe. Seria algo semelhante à união de fios
provenientes de várias usinas geradoras de energias, de tal forma que cada
uma, nessa rede, supre e fornece segurança a quem necessite de
reequilíbrio. Denominamos tal estrutura campo de segurança mútua ou
somente campo de segurança. Nele se fundamenta a base do auxílio mútuo
que os médiuns exercem uns sobre os outros no transcorrer de uma sessão
mediúnica.
Em verdade, esse campo sui generis deriva da ação
misericordiosa da Divindade e tem a sua utilidade máxima dirigida ao
grupo de auxílio ao semelhante. É um campo mental de mútuo amparo e a
chave para a sua efetiva atuação decorre do afeto existente entre os
componentes do grupo.
Em uma reunião de assistência, à proporção que o sensitivo
sintonize um espírito degradado energeticamente, acontece expressiva
doação de energia vital por parte do médium, energia de equilíbrio
bioenergético, o que implica a reposição de tais perdas. Mas, para que tal
ocorra faz-se necessária a estreita vinculação mental da equipe mediúnica.
É quando, magneticamente a espiritualidade benfazeja acondiciona os
fluidos do grupo e imprime características salutares, conduzindo-os para o
médium necessitado em conjunto com as energias balsâmicas procedentes
das esferas superiores. Nesse comenos, transfusões fluídicas se operam no
sensitivo, tendo como veículo o fluido vital, a energia anímica extraída dos
demais tarefeiros presentes. O citado vínculo mental deve ser considerado
essencial em uma reunião mediúnica. Quando ele existe em grau elevado,
assegura melhor restabelecimento dos médiuns e também dos espíritos
assistidos por meio da psicofonia.

VRC- Estamos convencidos de que o estado de concentração da


equipe mediúnica durante os trabalhos é algo que se deve manter
91

constante, o que implica necessariamente disciplina interna a ser


desenvolvida pelo integrante. Se no decorrer da reunião, um dos presentes
desvia o foco mental do objetivo em pauta e passe a divagar, alimentando
ideações incompatíveis com a natureza do trabalho ora em execução, é
possível que tal procedimento acarrete interferências perniciosas.
Lancelin- Aquele componente do grupo menos atento aos
princípios que lhe assegurem um padrão vibratório superior, ensejará uma
quebra do vínculo. Por conseguinte, dificultará a boa fluência das
atividades. Seja qual for o motivo que induza um dos médiuns ao cultivo de
uma atitude íntima de perturbação e, se tal sentimento abastardado tiver
raízes de difícil solução, o médium precisará reequilibrar-se perante o
grupo, sob pena de constituir-se uma peça de entrave. Todavia, caso tal
iniciativa não seja possível, é melhor que o sensitivo não participe da
reunião, pois, além de lesar a si, trará prejuízos incalculáveis aos
companheiros de trabalho.
O campo mental aqui aludido é uma ligação energética entre as
mentes daqueles que ali se congregam, campo responsável pela coesão
vibratória da equipe no transcorrer dos trabalhos. No entanto, tais vínculos
magnéticos não se restringem aos momentos dedicados à assistência
espiritual em grupo. O vínculo continua a vibrar ao longo dos afazeres
diários. Por essa razão, os mentores espirituais solicitam preces diárias em
favor da equipe, pois, quando se efetiva o compromisso moral com um staff
mediúnico, ele permanece válido mesmo após o término das atividades
práticas. É bem verdade que o vínculo torna-se mais atenuado, porém
permanece, e o nível de entrosamento entre os campos mentais dos
médiuns varia conforme o sentimento de afeto construído pelo conjunto.
Nada edificamos de forma solitária, pois, em verdade, sempre
precisamos uns dos outros. Existe ainda outro componente a ser destacado.
Em virtude do adequado enlace afetivo entre os componentes, melhor
assimilamos as influências salutares provenientes dos espíritos benfeitores.
Por conseguinte, não esqueçamos que o liame benéfico dos campos mentais
envolvidos com a mediunidade tarefa é um precioso objetivo de vida posto
a serviço da solidariedade fraterna. Nunca estamos sozinhos.
Poderia haver cogitações sobre outras formas de vinculações
mentais, uma vez que assim acontece. Pois bem. Os vínculos se
estabelecem igualmente entre as pessoas que se gostam,
independentemente de participarem de uma reunião mediúnica. É verdade,
assim acontece. Contudo, o campo mental de segurança mútua apresenta
características distintas de fluxo e refluxo de energia. Anteriormente
aludimos à veiculação de energia anímica e, realmente, ela é a base da
corrente desse campo especial, embora outras formas de energias também
percorram os fios condutores entrelaçados nos campos mentais. Tudo
depende da ação volitiva do pensamento. É possível projetar outras
92

energias, de acordo com as diretrizes propostas por meio de nossas


intenções. Assim, quando os componentes do grupo fazem preces uns pelos
outros, criam uma teia energética na qual as mentes envolvidas recebem e
assimilam fluxos de energias com o objetivo de restaurar o próprio
equilíbrio. Não esqueçamos que a prece será sempre um instrumento muito
valioso ao ser humano desperto.
Referimo-nos ao indivíduo; agora destacaremos o grupo. Em
nosso contexto, ele é constituído por um conjunto de adeptos voltados à
prática salutar da reunião mediúnica. Do ponto de vista transcendental,
efetiva-se um mecanismo sutil de coesão magnética entre os componentes
por meio de fiações invisíveis de energias mentais. A equipe assume o
perfil de um organismo vivo a vibrar em uníssono com a finalidade de
facilitar os atendimentos possíveis em uma sessão mediúnica. O grupo
funciona a exemplo de um dínamo gerador a produzir intensamente, desde
que as mentes se entrelacem e se interpenetrem segundo um padrão
vibratório idêntico. A capacidade de atuação do grupo mediúnico é deveras
importante, pois, a partir de sua própria psicosfera coletiva, delineam-se os
tipos de assistência que cada um é capaz de desenvolver. O tipo, a
qualidade, o nível de complexidade e a amplitude da assistência a ser
prestada são determinados pela coexistência dos pensamentos emitidos.
Fazemos tal referência para deixar claro que os bons espíritos prestam
atenção na comunhão de pensamentos construtivos consignados de acordo
com as propostas ofertadas pelo Mestre Jesus. Quanto maior a coesão
afetiva do grupo, em virtude da compreensão entre os seus pares e do
conhecimento da área de atuação, maior a responsabilidade dos
atendimentos a serem desenvolvidos por sugestão do Mundo Maior.

VRC- O trabalho mediúnico em equipe implica eficiente


mobilização energética cujo alcance, infelizmente, ainda nos é
desconhecido. Se a energia que circula no recesso do campo mental de um
médium ostensivo é algo de tão elevada magnitude, imagine-se o que não
deve acontecer com o conjunto dos médiuns a vibrar na mesma tônica,
enquanto o grupo está empenhado na consecução de um determinado
propósito de auxílio. Trata-se, sem dúvida, de detalhe significativo para o
qual devemos estar atentos diante das repercussões vibratórias que se
encadeiam no plano extrafísico.
Lancelin- Como referimos acima, o grupo se assemelha a um
dínamo gerador a partir das disposições íntimas de cada componente. Essa
energia é utilizada para o tratamento dos espíritos trazidos à reunião e,
também, cedida às caravanas assistenciais de benfeitores que se deslocam
às regiões umbralinas com o objetivo de resgatar espíritos em estado de
sofrimento depurador. Além disso, a equipe também cria uma atmosfera
energética, na qual a vibração emitida comuta com as energias
93

circundantes, transmutando o nível vibracional destas. Quando assim


ocorre, os benfeitores ajuízam as múltiplas oportunidades de aplicações,
distendendo-as em assistência às regiões penumbrosas retidas em
desequilíbrio estrutural.
O que acima descrevemos poderia ser dito em outras palavras: a
vibração energética formalizada pelos pensamentos e intenções de um
grupo harmônico interage com as demais energias circulantes de diversos
padrões, modulando-as adequadamente, de modo a permitir o seu emprego
edificante pelos benfeitores espirituais. Do mesmo modo, quando o grupo
mediúnico se defronta com uma falange de espíritos cristalizados no ódio, a
forma eficaz de contribuir é alterar o nível vibracional das energias densas
que a envolve por meio da oração articulada. Um dos componentes profere
uma prece em voz alta e os demais o acompanham em pensamento. Caso
seja satisfatória a coesão em torno da prece, as energias densas tendem a
transmutar o tônus vibratório, de tal modo que, se houver algum espírito
sendo assistido pela psicofonia, ele se beneficiará com a assimilação e
circulação de fluidos balsâmicos originários dos planos espirituais
superiores. A própria organização mental do espírito assistido tende a ser
impactada com tal procedimento. Nesse ponto, o dirigente pode impetrar
forças mentais, diretrizes para o campo consciência alerta do espírito
assistido e, igualmente, fazer vibrar a fiação da teia que compõe o
aglomerado em consonância com as energias divinas.
Naquilo já descrito, há detalhes a serem destacados em relação
aos médiuns ostensivos. O campo mental deles tem como característica
uma expansividade maior e a facilidade de acessar os registros íntimos de
suas próprias mentes. Por isso, é preciso um refinado estado de
concentração por parte dos médiuns, pois suas mentes vibram de forma
diferenciada graças à maior facilidade em moldar energias vibratórias
distintas das suas. Todavia, o inverso também ocorre quando a energia do
meio externo influencia o equilíbrio psícofísico do médium. Por exemplo:
se na reunião, o espírito assistido é mais astuto e dotado de um bom nível
de inteligência, pode ao mesmo tempo em que se comunica imprimir
desarmonias no médium desprevenido. Quando o sujeito mediúnico
interage mentalmente com as energias circundantes, ele imprime nelas as
suas características. Porém, ao se tratar de energias mentais provenientes de
um espírito perturbado, o médium em transe assimila tais energias e
verbaliza o seu pensamento de maneira agressiva ou debochada. Caso a
entidade seja dotada de maior força mental, pode impor a sua vontade e
forçar a comunicação mediúnica. Em tal situação, o médium em comutação
energética com a mente do espírito passa mal, se ressente de sensações
opressivas, culminando por dispersar o atendimento e comprometer a
harmonia da sessão assistencial. A situação acima descrita é exemplo vivo
da falta de vigilância e de maturidade mediúnica. Avaliem então, de que
94

maneira um indivíduo pode atrapalhar o empenho assistencial dirigido a


um espírito ou às regiões visitadas por caravanas de benfeitores, os quais se
utilizariam das energias harmônicas moldadas pelo conjunto das mentes
integrantes do grupo mediúnico. Certamente um médium despreparado
torna-se um obstáculo ao atendimento fraterno. E a referência acima
mencionada não vale somente para os iniciantes, mas, sobretudo, para o
médium experiente na labuta mediúnica, que por um motivo qualquer se
deixe resvalar no lodaçal de um desequilíbrio momentâneo.

VRC- Quais seriam as medidas práticas mais convenientes a


serem adotadas pelos tarefeiros da mediunidade, com o objetivo de reduzir
ou mesmo anular, o envolvimento fluídico negativo arquitetado pela mente
treinada de um espírito maléfico?
Lancelin- A precaução que o médium ostensivo deve ter é a de
não se deixar envolver pela ação hipnótica engendrada pelo espírito
comunicante, durante o transe psicofônico. Entidades experimentadas, por
vezes, logram envolvê-lo, com tal sutileza que o sujeito não se apercebe
vítima de uma artimanha hipnótica. Assim, o espírito maléfico consegue
manipular as próprias energias anímicas do médium e promover uma
espécie de barreira fluídica, isolando-o compulsoriamente dos fluidos
salutares que circulam no ambiente, além de prolongar a psicofonia com a
evidente intenção de desgastá-lo energeticamente.
O médium ostensivo deve bem cuidar de seu campo mental
protetivo para não assimilar as energias projetadas pelo espírito
perturbador. Eis outra observação oportuna a envolver uma questão
delicada, pois inúmeros médiuns admitem não ter nenhuma
responsabilidade quando passam mal depois de uma manifestação
psicofônica. Há quem inadvertidamente acredite que é mais fiel o contato
mediúnico quando ocorre a absorção maciça das energias densas e
desequilibradas da entidade assistida. Um exemplo corriqueiro é a
impressão sufocante e opressiva deixada pelo espírito de um suicida. O
mal-estar consequente experimentado pelo tarefeiro pode ter sido
ocasionado pelo fato de que, em uma encarnação anterior, ele tenha sido
vítima de suicídio ou se envolvido de alguma forma com situações em que
o fato lamentável o impressionou. Podemos assim atestar que tais situações
anômalas correspondem à existência de fragilidades emotivas por parte de
certos médiuns. O remédio para o problema é o sujeito reconhecer seus
limites e permanecer em preces fervorosas, focado mentalmente na
frequência vibratória do sentimento de fraternidade. Quando o médium
mantém a mente centrada na prática do bem, faculta à espiritualidade
amiga a possibilidade de protegê-lo contra as investidas dos espíritos
malévolos. Destacamos, porém, a título de rememoração, que os
descaminhos mentais forjados pelos médiuns em momentos de
95

imprevidência não se restringem apenas às emoções desarmônicas


provindas de vivências transatas, pois podem ter causa na existência atual.
A falta de objetivo enobrecido se constitui brecha acentuada à atuação dos
maus espíritos. As viciações, os maus pensamentos, o desânimo, os ímpetos
de violência, enfim, os apegos egoísticos aos valores mundanos podem ser
considerados caminhos temerários. Porém, se a criatura manifestar boa
vontade em servir ao próximo e se autorrealizar no trabalho para o Cristo, o
impulso emergente torna-se apenas um cometimento interno a ser
reequilibrado, pois as equipes espirituais de auxílio conseguem anular o
impacto das energias barônticas originários do meio externo.
Médiuns espíritas! Cuidem dos pensamentos e deixem que a
aragem da harmonia higienize suavemente o vosso universo mental. Sejam
mensageiros da alegria em servir e mantenham-se em alerta quanto ao teor
da força motriz que rege o vosso mundo íntimo. Dos integrantes da reunião
mediúnica, não se exige superioridade moral em nível angelical, todavia, há
necessidade de trabalhadores ciosos da causa abraçada e de tarefeiros
vigilantes nas veredas da existência, sempre dispostos a se comunicar com
o Criador por meio da prece sentida e sincera.

Comentário
O parágrafo inicial aborda a questão do personalismo no âmbito
doutrinário. Quando aliado à vaidade e à soberba, ele se constitui inimigo
obstinado do médium espírita. Entre os que aspiram progredir na seara
mediúnica, qualquer indisciplina comportamental deve ser identificada e
revertida a tempo, visando-se à retomada da harmonia desejável, assim
como sugerem as diretrizes traçadas por Allan Kardec em “O Livro dos
Médiuns”. Há que se buscar a todo custo o equilíbrio de atitudes, pois é
inadmissível a manifestação personalística, quando se pretende o
engajamento no labor mediúnico dedicado à caridade.
Outro detalhe diz respeito à construção ideoplástica do campo de
segurança mútua, plasmado nos planos invisíveis como decorrência da
atividade mental harmônica de cada tarefeiro. Ele serve de psicosfera de
amparo coletivo aos integrantes da equipe. Naturalmente a sua efetividade
resulta do bom entrosamento entre todos. Assim, qualquer tipo de
perturbação demonstrada por um dos discípulos requer medida de controle
satisfatória seguida da adequada correção, tudo com base no bom-senso e
na maturidade desejável, sob pena de se afetar a harmonia vibratória do
conjunto. Portanto, o campo energético de segurança mútua é uma espécie
de conjugação mentomagnética daqueles que ali se congregam e responde
pela coesão da equipe no transcorrer dos labores assistenciais. É
interessante notar que tal vínculo mentomagnético não se dissipa após as
sessões, pois permanece vibrando ao longo dos afazeres diários, mesmo
que um pouco mais atenuado, porém mantendo a sua efetividade. Além
96

disso, as irradiações mentais provenientes do grupo são aproveitadas no


tratamento dos espíritos obsessores, podendo ainda ser cedidas às
caravanas de benfeitores que habitualmente atuam em áreas umbralinas
densificadas.
O instrutor, mais uma vez, relembra a inutilidade de se alimentar
receios quando espíritos integrantes de falanges cristalizadas no mal se
fizerem presentes. A contraofensiva vibratória repousa na prece fervorosa
proferida em conjunto, com muita fé e confiança na atuação protetora dos
mensageiros do Cristo. A oração sentida altera a tonalidade vibratória do
ambiente, elevando-lhe o padrão e, em decorrência, evita que as investidas
maléficas se concretizem, anulando por completo o intento daqueles que
pretendiam perturbar o bom andamento da atividade mediúnica.
97

17

SENSIBILIDADE PSÍQUICA NA INFÂNCIA

“Se magnetizas com o


propósito de curar, por exemplo, e
invocas um bom espírito que se
interessa por ti e pelo teu doente, ele
aumenta a tua força e a tua vontade,
dirige o teu fluido e lhe dá as
qualidades necessárias.” (Allan
Kardec. LM, c. 14, item 176 – FEB)

VRC- O período que se estende do nascimento até os sete anos


de idade tem sido motivo de acurada atenção por parte dos estudiosos das
questões psíquicas. Além da sagacidade, certas crianças demonstram um
elevado nível de inteligência, de aptidões inatas e de percepção
extrassensorial, fenômenos inabituais, entre os quais se destacam a
vidência mediúnica e a recordação espontânea de vidas passadas. As
causas de tais fenômenos surpreendentes, quase sempre são desconhecidas
dos educadores, psicólogos e neurologistas infantis. A que se deve atribuir
a sensibilidade psíquica tão aflorada nessa faixa etária?
Lancelin- A infância é o período da existência na qual a alma se
adéqua às vibrações do corpo físico, interagindo de forma direta com as
acomodações do fluido cósmico. Em se tratando de uma etapa favorável à
instabilidade adesiva entre o perispírito e o organismo físico, é possível que
a criança tenha uma relação mais atenuada com a existência terrena. O
discreto desacoplamento observado decorre da própria vibração
perispirítica não plenamente modulada em relação ao organismo do
encarnado. Por essa razão, algumas crianças involuntariamente acessam os
arquivos da memória extracerebral, de lá extraindo com maior ou menor
grau de nitidez, acontecimentos pretéritos que emergem do inconsciente e
alcançam a consciência de vigília, de forma enfática ou por intermédio da
vivência de emoções intensificadas concernentes a fatos, por vezes,
dolorosos. Medo exacerbado a um detalhe específico pode significar a sua
rememoração acompanhada de forte colorido afetivo, particularidade que a
faz recordar o sentido de perigo.
É deveras importante frisar as três fases marcantes no
desenvolvimento do ser encarnado – fases responsáveis pela acomodação
vibracional do períspirito à reencarnação vigente. A primeira acontece por
volta dos sete anos, quando se completa o fenômeno reencarnatório,
98

condição na qual as expansões perispiríticas se aderem definitivamente às


moléculas constituintes do organismo físico; a segunda acontece em torno
dos quatorze anos, período correspondente ao despertar da glândula pineal
ou epífise; e, a terceira evidencia-se aos 21 anos, quando prevalece a
influência soberana do campo mental e o indivíduo assume a
responsabilidade penal de seus atos. Porém, não nos apeguemos tanto aos
números, pois ocorrem variações para mais ou para menos e as
acomodações entre o corpo espiritual e o organismo físico dependem, em
princípio, do equilíbrio psicoemocional do sujeito encarnado.
Quanto à reencarnação, um espírito menos evoluído pode
demonstrar intenso desejo de retornar à carne, enquanto outro mais
desenvolvido pode se tomar de temores, retardando, assim, as modulações
de encaixes referentes às acomodações vibratórias previstas. Contudo, as
variações não costumam ultrapassar o limite de três anos, para mais ou
menos, em relação às mudanças de fases. Em circunstâncias diversas,
ocorrem excepcionalidades suscetíveis de influenciar tais limites, a
exemplo de enfermidades mentais, fortes abalos psicológicos, violência
familiar, inadaptação ao ambiente escolar, rejeição por parte da família etc.
Se pretendermos que o espírito reencarnado se desenvolva em clima de
harmonia, envolvamos a criança com carinho e desvelo, sejamos realmente
anfitriões de um viajor da vida, o qual se acomoda indefeso e ingênuo em
nossos braços, a nos solicitar compreensão e amor.
Por outro lado, o processo de amadurecimento aqui ventilado não
condiz apenas com a observação de um único parâmetro. Há múltiplas
relações envolvidas com as diversas fases do desenvolvimento
infantojuvenil.
No início da infância, o corpo físico atende às necessidades das
primeiras impressões arquivadas ao contato com o períspirito. A sonolência
mental decorre da imaturidade encefálica, em que apenas algumas funções
primárias se consumam ao lado de uma reduzida percepção do que ocorre
em seu derredor. Tudo em obediência a uma gradação progressiva, na qual
novas sinapses cerebrais e conexões sensoriais de integração com o corpo
se efetivam paulatinamente.
Alguns pesquisadores propensos à aceitação das concepções
espiritualistas concluíram que a existência da mente transcende a
localização espacial do cérebro humano, não obstante o equilíbrio
energético a envolver o corpo carnal e os comandos oriundos da estrutura
mental. Em muitos casos, os estímulos procedentes do meio externo não
percorrem as vias sensitivas habituais do sistema nervoso. Haja vista os
pontos de acupuntura, onde ocorrem mecanismos energéticos ainda
desconhecidos em profundidade pelo homem. A agulha toca um
determinado ponto com o objetivo de dispersar energias acumuladas,
entretanto, o terapeuta com a mente treinada imprime características
99

especiais à aplicação. A agulha, de certa forma, converte-se em instrumento


magnético comandado pela mente adestrada do acupunturista, o que nos faz
pensar na existência de clara linha divisória entre os bons e os maus
praticantes dessa modalidade terapêutica. Desse modo, a principal fonte de
dispersão e de novas modulações energéticas ocorre motivada pela força
mental responsável pela impressão das características magnéticas
imantadas nas agulhas.
A homeopatia, por sua vez, age de forma análoga, não obstante
faça uso de procedimentos diferentes. Há componentes dispersos nos
medicamentos energizados cuja identificação em laboratório ainda não é
possível. Na prática, o médico homeopata se utiliza de uma metodologia
sui generis de abordagem clínica, na qual se destaca o diálogo capaz de
despertar no paciente uma receptividade mental para os medicamentos
constituídos de substâncias diluídas e dinamizadas. Sem dúvida, os mais
destacados especialistas em homeopatia são aqueles dotados de paciência e
afetividade, pelo fato de possibilitarem ao paciente a real aceitação do
tratamento, sem que ocorra a cisão das energias vibracionais do
medicamento. O profissional da saúde em sua anamnese, por força do
diálogo respeitoso e circunstanciado, concorre para imprimir
gradativamente nos enfermos, campos magnéticos favoráveis à correta
assimilação das energias dinâmicas impressas nos respectivos
medicamentos. O tratamento homeopático não combate a doença em si,
mas concorre para harmonizar o períspirito, estimular a reação do corpo
vital e, consequentemente, restaurar o metabolismo do organismo físico.
O que comentamos até agora serviu como introdução à
abordagem do que pretendemos discorrer a respeito da criança, portanto,
não se trata de uma fuga do tema abordado. Em todas as realizações
humanas, imprimimos modificações energéticas circunstanciais valendo-
nos da ação plástica das nossas vibrações pensamentais. Um lar em
desarmonia, desprovido de segurança afetiva, distorce certas acomodações
energéticas do períspirito infantil em fase de modulagem reencarnatória,
disso resultando transtornos de gravidade variada nas crianças.
Obviamente acontece a influência comportamental dos familiares
sobre o desenvolvimento infantil, a exemplo da violência doméstica, da
indiferença, da falta de atenção e carinho, com o consequente surgimento
de inúmeros transtornos cognitivos. Agregamos ainda ao vasto campo de
análise do comportamento infantil, as distonias comportamentais,
psicológicas e psiquiátricas mais severas. Além desses fatores, há campos
energéticos fomentados mentalmente por quem convive diuturnamente com
a criança. Tais estímulos negativos podem afetar sobremaneira os vínculos
perispirituais em processo de adaptação ao corpo físico.
100

VRC- Seria importante que os pais melhor conhecessem a


repercussão das correntes mentais do pensamento a circularem na
intimidade do lar, com reflexos quase que diretos sobre o componente
espiritual dos infantes. Daí a importância de uma aura benéfica a envolver
um lar em que se cultive a harmonia psíquica, pois quantas enfermidades
estranhas não se manifestam em decorrência do entrechoque vibratório de
energias desarmônicas?
Lancelin- Inúmeras enfermidades, além do conhecido “mau
olhado”, decorrem da ação magnética exterior, a ponto de desarmonizar o
arcabouço perispirítico fragilizado pela vibração ambiental. São campos
magnéticos mentalmente criados a interferir na coesão da tessitura
perispiritual, um tanto instável, em face do processo de reingresso na
existência terrena. Tais campos desarmônicos interferem nas linhagens
defensivas do organismo físico, possibilitando, assim, maior incidência de
distúrbios. O famoso “mau olhado”, em certas circunstâncias, é ocasionado
pelo próprio ambiente familiar em desarmonia, condição propiciadora da
debilidade energética da criança.
Entretanto, a sabedoria popular detém parcela da verdade.
Quando alguém fixa com o olhar uma determinada criança, pode projetar
uma torrente fluídica capaz de alterar-lhe a impedância energética,
provocando-lhe em consequência a manifestação sintomática típica do
“mau olhado”, sintomatologia facilmente revertida à custa de uma prece
seguida de passe magnético. Por conseguinte, o transtorno se caracteriza
não pelo fato de a pessoa manifestar inveja ou maldade, mas em
consequência de alguma desarmonia preeexistente no frágil e sensível
campo vibratório infantil.
O influxo de uma psicosfera familiar negativa amplia a
possibilidade de doenças decorrentes do adensamento vibratório que
interpenetra a criança. Acontece, desse modo, significativa alteração nos
mecanismos sutis que envolvem o complexo epífise/campo mental. A aura
familiar de baixo padrão vibratório –, resultante de desavenças, violências,
ódios mútuos e outras irresponsabilidades-, corrobora para alterar as
acomodações mentais envolvidas com a dinâmica do complexo epifisário.
Assim, grande número de crianças acometidas de pesadelos frequentes e
terror noturno sofre os efeitos das vibrações densificadas e desarmônicas
das camadas sobrepostas e intercomunicantes da glândula pineal.

VRC- Servem-nos de alerta os comentários oportunos aqui


proferidos pelo prezado irmão. Não há dúvida de que entre as
manifestações comportamentais cotidianas presenciadas nos lares, as
famílias podem se defrontar com a sintomatologia expressiva, reveladora
da instabilidade psíquica de uma criança, a exemplo de sono agitado,
terror noturno e crises de choro convulsivo. São queixas relativamente
101

frequentes no domínio da clínica pediátrica. Haveria a possibilidade de


que tais ocorrências decorram também de assédios induzidos por seres
invisíveis maléficos, com a finalidade de perturbar a criança e os demais
familiares?
Lancelin- Não há dúvida. As consequências daninhas do
entrechoque energético não se restringem apenas à viabilidade de
pesadelos. A condição anômala pode facilitar a ação perniciosa de espíritos
obsessores, além de dificultar aos espíritos protetores a atuação benfazeja
de harmonização do perispírito e do próprio complexo pineal infantil.
Recordemos que a epífise é o órgão responsável pela condução de energias
e de informações entre mentes distintas. Caso esse mecanismo apresente
alguma disfunção, poderá favorecer o inconveniente de uma eclosão
mediúnica precoce, mas de caráter temporário. Então, verificar-se-á certa
dificuldade de acomodação perispirítica, daí resultando o surgimento de
inúmeros transtornos, inclusive maior dificuldade em lidar com a emersão
descontrolada de reminiscências dolorosas provenientes de reencarnações
transatas.
O afloramento mediúnico intempestivo, em virtude do
desequilíbrio em família, faculta a interação mental do infante com
entidades obsessoras, disso resultando perturbações psíquicas responsáveis
por quadros de isolamento, irritabilidade e dificuldade de ajuste à
constelação familiar.
O Espiritismo nos desvela os mecanismos dinâmicos das
interações mentais. Os médiuns7 integram vasta rede de contatos via
pensamento. Diante de tal realidade, tenhamos o devido cuidado com o tipo
de psicosfera articulada em nossa volta. Quando emitimos pensamentos
harmônicos, interagimos de imediato com aqueles que sintonizam conosco.
Se o nosso pensamento se firmar na abnegação fraterna, tanto se
reconfortam aqueles que o assimilam quanto nós próprios. É como se
recebêssemos em dobro o valor doado, pois ao beneficiar o semelhante, em
contrapartida, ele nos renova com a satisfação e a alegria de viver. Deus é
sábio na condução dessa via de mão dupla. No momento em que emitimos
força mental degradada, tanto nos prejudicamos quanto afetamos aqueles

Diante da realidade mediúnica que nos toca, reflitamos na observação substancial de


Emmanuel: “Esmagadora maioria dos estudantes do Espiritismo situam na mediunidade a
pedra basilar de todas as edificações doutrinárias, mas cometem o erro de considerar por
médiuns tão somente os trabalhadores da fé renovadora, com tarefas especiais, ou os doentes
psíquicos que, por vezes, servem admiravelmente à esfera das manifestações fenomênicas.
Antes de tudo, é preciso compreender que tanto quanto o tato é o alicerce inicial de todos os
sentidos, a intuição é a base de todas as percepções espirituais e, por isso mesmo, toda
inteligência é médium das forças invisíveis que operam no setor de atividade regular em que se
coloca...” Emmanuel/Fco. Cândido Xavier – “Roteiro”, capítulo: Mediunidade - FEB.
102

que transitam conosco. Portanto, pensar de maneira edificante é estar de


bem com a vida, é ser cooperador de Deus na construção inexorável da
nova humanidade que herdará a Terra neste milênio de redenção.

VRC- No contexto do desenvolvimento infantil, em primeiro


plano situa-se o empenho carinhoso, paciente e protetor dos pais no
cumprimento da sagrada missão de bem-educar os seus rebentos para que
enfrentem com dignidade os desafios circunstanciais da existência. No
entanto, em complemento à formação religiosa destaca-se, a nosso ver, o
trabalho magnífico realizado pelas equipes de evangelizadores infantis das
diversas instituições espíritas.
Carlos- A criança, na qualidade de ser humano em
desenvolvimento, assemelha-se a um livro em branco a ser preenchido pela
relação proximal com os familiares e as valorações levadas em conta no
intercâmbio com o meio ambiente que a cerca. Os evangelizadores espíritas
se encantam quando aplicam, nas aulas de educação moral, as práticas
construtivistas, excelente metodologia de ensino-aprendizagem. Entretanto,
os instrutores não exclusivistas, melhor entendem as constantes
transformações conceituais e, por isso, se habilitam a compor uma forma de
atuação que aproxime metodologias e práticas educacionais.
As projeções de fluidos magnéticos sobre as mentes infantis8
atuam, harmonizando ou não, a psicofisiologia sutil de seus campos
mentais, os quais se encontram suscetíveis a tais impactos energéticos em
decorrência das afinidades afetivas e emotivas que se estabelecem. Além
do mais, a criança ainda não desenvolveu em seu “campo de ação
protetiva” as características desejáveis de compreensão vibrátil, pois tal
campo também se encontra limitado pela conformação do organismo físico
no presente estágio reencarnatório. Ora, isso não é tão maléfico assim, pois
sabemos que o estágio infantil, conforme assevera Allan Kardec, em “O
Livro dos Espíritos”, é a fase na qual o adulto responsável tem

Existe uma amortização da mente em razão de sua corporação física no período de


criança. Na mente infantil, como a denominamos, é porque a compressão energética do
cérebro físico e as acomodações vibracionais do períspirito, de certa forma, repercutem
também no cérebro perispiritual e no campo mental. Raros são os espíritos que não
manifestam o embotamento exercido pelo corpo físico sobre a mente na fase infantil. À medida
que o ser se desenvolve este repercutir reduz de intensidade e, quando adulto, consegue ter
mais acesso aos registros. Por isso, para alguns espíritos que desencarnam quando criança, é
necessário um tempo maior para a devida readaptação às novas conformações vibracionais,
sem o imperativo da vibração corporal.
103

possibilidades reais de adicionar valores meritórios à consciência espiritual


do sujeito encarnado.
As lembranças arquivadas na memória, no decorrer da fase
infantil, equivalem a sustentáculos emotivos para o espírito reencarnante,
fornecendo-lhe segurança para prosseguir adiante. A criança que desfrute
de uma base familiar digna se desenvolverá guarnecida pelo respeito ao
próximo e, apesar das tendências viciosas do pretérito, poderá suplantá-las
graças aos bons propósitos pedagógicos assimilados e da vivência amorosa
no seio da constelação familiar. Portanto, a repercussão do convívio salutar
em família vai muito além do que se imagina, pois a convivência
harmônica gera pensamento motriz e força pulsátil, os quais reverberam de
forma positiva sobre a mente infantil. Tal condição facilita o desabrochar
dos bons sentimentos arquivados no “campo consciencial alerta”,
edificados em existências transatas. Isso acontece porquanto as ondas
magnéticas mentais emitidas pelos familiares podem, quando moduladas na
frequência do amor, fazer vibrar o campo consciência alerta da criança.
Tais observações nos permitem inferir que o espírito, ao reencarnar em lar
equilibrado, traz potencialmente mais chances de acessar os propósitos de
melhoras e de ações positivas na atual experiência reencarnatória. Dessa
forma, compete aos responsáveis cuidar do corpo e também da mente
infantil, pois esta última se mostra receptiva às impressões magnéticas
provenientes dos adultos.
Por outro lado, alertarmos sobre o que acorre quando o campo
mental infantil recebe impactos vibratórios saturados de ódio, violência e
demais ações perturbadoras. Nem todos reconhecem a utilidade das
comunicações mentais, imbuídos que se encontram dos valores procedentes
da comunicação verbal perceptível aos sentidos. Torna-se imperativo
entender que, além do intercâmbio mental, projetamos à nossa volta
verdadeira psicosfera vibrátil impregnada com os nossos pensamentos e
ideações inferiores. E ao contato com tal campo de força, os pequeninos os
assimilam e sofrem as consequências dessas cargas energéticas de baixo
teor vibratório.
A oportunidade de enriquecimento psicopedagógico concedido
pelo Eterno ao espírito no período infantil pode não acontecer de acordo
com o almejado e se tornar um tormento para o espírito reencarnante, em
razão da indiferença afetiva dos pais ou responsáveis. Assim, quantas
crianças são tolhidas em suas oportunidades reencarnatórias em
consequência do descuido familiar – incapaz de arar convenientemente o
solo da planta que desabrocha sensível aos raios solares –, mas, também
sujeitas às tormentas passíveis de comprometer-lhe o desenvolvimento.
Durante o período infantil, incontável número de futuros médiuns
ostensivos se ressente emocionalmente, quando reencarnam em ambiente
energeticamente hostil. Por isso, avaliamos que boa dose de afeto os
104

ajudaria na formação de uma base moral sólida, capaz de sustentá-los mais


adiante, no exercício salutar do intercâmbio mediúnico com os
desencarnados em geral.

VRC- É notória, hoje em dia, a quantidade de crianças


portadoras de sintomas e sinais compatíveis com síndromes psíquicas de
relativa gravidade, condições que lhes dificultam a interação afetiva com
os pais, com os educadores e com as demais pessoas com as quais
convivem. Por falta de informações conclusivas a respeito das causas,
muitas famílias recorrem ao apoio espiritual como medida complementar
ao empenho dos profissionais da saúde, na expectativa de encontrar uma
assistência que repercuta favoravelmente no conjunto de medidas
terapêuticas. O que o prezado irmão poderia comentar a respeito?
Carlos- Habitualmente batem às portas das instituições espíritas
casos incontáveis de perturbações infantis. E de acordo com as orientações
sugeridas, os pequenos são encaminhados para o tratamento com água
fluidificada e passe magnético. Tais providências salutares contribuem, na
maioria dos casos, para o reequilíbrio energético da criança. Porém, outras
formas de auxílio podem ser aduzidas. A criança hiperativa, por exemplo,
apresenta um transtorno de comportamento, às vezes, confundido com a
ausência de educação paterna ou com uma perturbação decorrente da
própria indisciplina familiar. Contudo, as duas situações podem coexistir,
ou seja, a hiperatividade e a falta de educação social. No estágio inicial do
processo reencarnatório, o espírito necessita de parâmetros que lhe
forneçam segurança, tendo em vista o melhor aproveitamento da jornada
terrena. Quando lhe falta tal incentivo, há possibilidade de ocorrer diversos
desvios comportamentais, entre eles, a hiperatividade. Entretanto, a causa
real do transtorno pode se encontrar flutuante nos refolhos da memória
espiritual. É um reflexo da inconformidade consigo mesmo expresso na
sintomatologia da hiperatividade. Os portadores de déficit de atenção
possuem causa semelhante à do hiperativo, sendo, portanto, reações ao
ambiente energético em que se situa a família ou à verdadeira recordação
tormentosa do passado.
Na instituição espírita, além do passe, há possibilidade de se
promover ações pedagógicas que visem assegurar um melhor ambiente
familiar. Não custa sugerir à família a prática habitual do evangelho no lar,
inclusive com a participação da criança. A psicosfera doméstica se modifica
para melhor durante a leitura seguida de breve comentário a respeito dos
ensinamentos de Jesus. Caso a família apresente pontes magnéticas
negativas com o campo mental da criança, tais pontes tornar-se-ão
caminhos de energias salutares diante da atuação benfazeja dos espíritos
protetores presentes no recinto. Além da prática do evangelho no lar, pode-
se aproveitar também, o ensejo para a leitura de uma mensagem de
105

esperança, a exemplo daquelas psicografadas pelo saudoso Chico Xavier,


ao lado da criança, durante o período de sono. Tal iniciativa permitirá aos
mentores espirituais organizar um tratamento mais específico dirigido ao
pequeno paciente. No caso de a família conhecer alguma técnica de
transfusão bioenergética executada com as mãos, é recomendável a prática
do passe magnético após a leitura do evangelho ou enquanto a criança
repousa no leito.
Embora tais recomendações sirvam para recompor o equilíbrio
infantil, de nada adiantarão os esforços, se a família permanecer exercendo
forte impedância magnética desarmônica sobre a criança. Por isso, caso os
pais pretendam cuidar bem de seus filhos, em primeiro lugar, que se
esmerem na promoção da própria higiene mental e no cultivo da harmonia
no lar. Todos aqueles que contraem laços proximais com as crianças
tornam-se objetos significativos para elas, não só a se constituírem
educadores de primeira linha, mas, ao agir como instrumentos que lhes
possibilitem o acesso aos registros positivos de ordem reencarnatória. Esses
registros facultam a emersão das razões do retorno à existência física, além
de estimular os bons sentimentos e as recordações pesarosas do pretérito.
As reminiscências, em geral, não acontecem de forma abrupta, mas
permanecem subjacentes à consciência de vigília, emergindo aos poucos,
sob a forma de pequenos pulsos, porém, suficientes para coordenar ações
na atual existência e permitir reações com as pontes que reverberam em sua
mente.
Assim, irmãos, cuidemos de nossas crianças, compreendendo a
importância do ser que se nos apresenta como oferta de Deus ao nosso
reequilíbrio. Amá-las e respeitá-las é criar profundos laços de um afeto sem
limites. Não esqueçamos aqueles que nos receberam em seus braços,
sacrificaram-se em prol de nosso bem-estar, conosco compartilharam a sua
energética mental amorável para que bem cumpríssemos a nossa parte na
atual jornada evolutiva.

Comentário
Não há dúvida quanto à presença, em algumas crianças, de
características psíquicas especiais, próprias da fase de adaptação
reencarnatória. É comum nessa etapa do desenvolvimento, observar-se o
surgimento de sintomas psíquicos como resposta ao processo de
justaposição entre as expansões perispiríticas e as moléculas do corpo
físico, circunstância que favorece a eclosão de fenômenos anímicos e
mediúnicos, frequentemente confundidos com manifestações
psicopatológicas.
Conteúdos pinçados espontaneamente da memória extracerebral,
vez por outra, emergem e alcançam a consciência em vigília,
desencadeando emoções de forte colorido afetivo, por se tratar de
106

lembranças dolorosas. São eventos intempestivos perfeitamente cabíveis


nessa etapa da existência, a exemplo das surpreendentes recordações de
existências transatas, aliás, contingências relativamente frequentes, motivo
de investigações criteriosas e de obras publicadas por pesquisadores de
várias nacionalidades.
Não olvidar a influência nociva, infelizmente oriunda do próprio
contexto familiar, quando se sucedem as ocorrências trágicas de violência
doméstica e de desrespeito mútuo entre o casal –, ao lado da indiferença, da
falta de comunicação e de carinho para com os filhos. Os impactos
psicológicos decorrentes podem interferir nos mecanismos sutis da
adesividade perispirítica, prejudicando a dinâmica transcendental ora em
curso, a ponto de predispor a criança aos agravos psíquicos, especialmente
aqueles de ordem obsessiva e que se caracterizam por crises de choro
imotivados, medos inexplicáveis e terror noturno.
Campos mentomagnéticos negativos instalados na psicosfera do
lar propiciam a debilidade energética da criança e se convertem em
mecanismos propiciadores de intensa absorção de fluidos corrompidos, daí
resultando verdadeiras intoxicações fluídicas, a exemplo do que ocorre com
o popular “mau olhado”.
Além do mais, a dificuldade de acomodação do perispírito
infantil, diante dos fatores citados, pode favorecer uma espécie de eclosão
precoce da mediunidade, seguida de assédio de ordem espiritual. Tudo isso
pode confundir os pediatras, induzindo-os a se fixarem nos aspectos
clínicos da questão. Desse modo são levadas em conta a possibilidade de
cólica abdominal, otalgia, erupção dentária, verminoses e outras
contingências relativamente frequentes, causadoras de perturbação na
criança. É claro que a participação do médico em questão de saúde é
iniciativa de caráter imprescindível. Em princípio, a pesquisa do transtorno
é objeto da medicina. Só quando se afasta a eventualidade de uma patologia
orgânica é que deve prevalecer a hipótese de uma síndrome espiritual, com
vista às providências adequadas a serem consideradas pela instituição
espírita.
Todavia, nada substitui o carinho, a atenção e o amor dedicados
aos pequeninos nessa fase tão delicada da existência. Iniciativa iluminada
diz respeito à conveniência de se manter a harmonia em família e a prática
habitual do evangelho no lar. A água fluidificada e a terapia magnética,
por meio dos passes, geralmente amenizam a situação, colaborando para o
devido ajustamento vibratório da criança, até que ela ultrapasse a faixa dos
sete anos, época em que a reencarnação de fato se efetiva e as perturbações
espirituais tendem a desaparecer.
107

18

MÉDIUNS, ESCLARECEDORES E EVANGELHO

“A força magnética pode


chegar até ao poder de curar, quando
secundada pela natureza dos
sentimentos e por um ardente desejo
de fazer o bem, porque então os bons
Espíritos lhe vêm em auxílio.” (Allan
Kardec. ESE, c. 8, n. 20)

VRC- Esclarecer, evangelizar e resgatar espíritos endurecidos no


mal é um dos empreendimentos mais complexos e delicados da prática
doutrinária. Será que os confrades que se habilitam à tarefa de
esclarecedores estão conscientes de tal responsabilidade e se acham
realmente preparados? A nosso ver, há quem expresse comportamentos que
se nos apresentam enganosos. Vez por outra, tomamos conhecimento de
doutrinações levadas a efeito, nas quais o diálogo com os obsessores se
converte em verdadeiro tribunal inquisitório, onde as acusações e ameaças
se consumam com o intuito de induzir o temor e a tentativa de dominar
essas infelizes entidades enfermas. Infelizmente, tais adeptos imbuídos de
pretensa autoridade agem como se a reunião mediúnica de assistência
espiritual estivesse sob o seu controle e mostram-se indiferentes ao
concurso dos mentores bondosos cujas presenças objetivam conduzir com
sabedoria e equilíbrio uma tarefa, em tudo considerada da maior grandeza
no contexto doutrinário. Pelo fato de conhecerem algumas técnicas
magnéticas, avaliam como secundária e desprovida de importância a
participação dos mentores, sem que se apercebam em sua cegueira que
qualquer benefício, advindo da desobsessão, depende única e
exclusivamente da participação dos bondosos emissários do Cristo. Em
decorrência, algumas atitudes nos preocupam, por exemplo: ausência de
compostura fraterna, falta de humildade e respeito para com a
espiritualidade e escassa formação doutrinária – situações responsáveis
por atuações lamentáveis, absolutamente contrárias aos ditames
evangélicos sugeridos para tais circunstâncias.
Lancelin- Concordamos com a sua preocupação. E muito a
propósito, aqui relembramos o encontro oportuno com as palavras doces do
Mestre da Paz. Elas são as bases do equilíbrio e da proeminência
elucidativa de todo aquele que se proponha à tarefa de esclarecedor na
seara espírita. Em verdade, o doutrinador é o intermediário das lições vivas
de amor legadas pelo maior e mais caridoso Mestre que a humanidade
108

conheceu: - Jesus. Ele, com sua doçura, nos toca e contagia por intemédio
da força emancipativa de sua alma.
Nas memoráveis andanças pela vetusta Palestina, o Cristo foi o
pacificador de espíritos engolfados no ódio e no sentimento abastardado de
vingança. Por onde passava, Ele deixava exalar o perfume da compreensão
e do amor incondicional. Raro aquele que não sentiu todo o ser se abalar
ante a presença do amor corporificado em um homem. Nenhum livro ou
discurso teriam condições de descrever o olhar profundo e acalentador de
Jesus. A sua superioridade residia exatamente na sua simplicidade
autêntica; os dotes intelectuais que lhe adornavam o espírito,
propositadamente, não eram evidenciados, de maneira a não enaltecer a
própria personalidade usada para a compreensão e pacificação. Por isso, os
tarefeiros espíritas responsáveis pelo diálogo fraterno com as entidades em
desequilíbrio, devem se espelhar em Jesus, o exemplo maior da conduta
dialética que deve ocorrer nas reuniões de desobsessão.

VRC- Não há dúvida. Cremos que na desobsessão espírita levada a


efeito nas instituições erigidas à luz dos preceitos doutrinários propostos
pelo eminente Allan Kardec, Jesus serve como protótipo para aquele que se
realiza no terreno desafiador do esclarecimento fraterno em ambiente
mediúnico.
Lancelin- O Mestre dos mestres assumia a condição de um irmão
experiente, sem encharques do ego, sem subterfúgios ou malícias. Com um
olhar sereno, falava sempre à alma sedenta de harmonia. Assim, por causa
de seu exemplo edificante, é de se esperar que quanto mais afeto o
esclarecedor espírita demonstrar, maior será a condição de ofertar opções
de retomada do caminho reto aos desencarnados ainda retidos nas malhas
da ignorância. O doutrinador é um instrumento por meio do qual as
palavras conjugadas às energias de vibração equitativa patrocinam o auxílio
necessário ao espírito assistido.

VRC- Divisamos a reunião mediúnica como se fosse um trabalho


integrado pelas forças do céu e da terra. Não acreditamos naqueles que se
dizem doutrinadores desvinculados do contato respeitoso para com a
coordenação espiritual das atividades. No nosso modo de ver, sessão
mediúnica –, capaz de render bons frutos –, se deve ao trabalho conjunto
dos tarefeiros encarnados e dos bons espíritos. Parece-nos que o dirigente
ideal é aquele que se apresenta respeitoso e singelo diante das potências
espirituais, além de encerrar apreciável conteúdo doutrinário.
Lancelin- Para o bom andamento do intercâmbio mediúnico é
indispensável a presença de um esclarecedor capaz de coordenar as ações
de atendimento espiritual, em harmonia com as diretrizes emanadas do
plano espiritual. Muito embora expressivo contingente de esclarecedores
109

não possua a mediunidade ostensiva propriamente dita, eles têm e


desenvolvem acuradas possibilidades intuitivas.
O grupo mediúnico deve sujeitar-se a um roteiro a ser cumprido na
sequência da reunião, e o doutrinador precisa estar preparado em estudo e
equilíbrio, com a finalidade de exercer com proficiência o papel de médium
das atividades do grupo. Talvez pareça inusitada essa afirmação, porém, em
verdade, ocorre uma comunhão de forças nas tarefas mediúnicas e, para
tanto, cada equipe precisa estar coesa em torno de propósitos edificantes.
No instante em que um espírito é assistido, é importante que o
campo mental do grupo se mantenha uníssono e focado no propósito do
auxílio fraternal. Deve-se evitar a dispersão de pensamentos. Nesse meio
tempo, o doutrinador conduzirá com habilidade o atendimento por
intermédio do diálogo fraterno. Como aludimos anteriormente, ele é o
médium do grupo. Tal condição se explica por um motivo simples: no
transcorrer do auxílio mediúnico, o esclarecedor expressa verbalmente o
pensamento do grupo e, atuando como se fosse um ponto de convergência,
canaliza as energias mentais projetadas pelos integrantes da reunião, tanto
encarnados quanto desencarnados. Em virtude da característica de mediar o
pensamento da equipe é que afirmamos ser o médium do grupo o
esclarecedor, e quando nos referimos ao grupo, incluímos também os
componentes que habitam o plano espiritual.

VRC- Essa visão inovadora serve para ampliar ainda mais a


responsabilidade do dirigente mediúnico. Quantos adeptos da Doutrina
Consoladora imaginam que a participação do esclarecedor seja a de mero
interlocutor com o mundo espiritual, no desempenho de um papel de menor
relevância. Desconhece-se, no entanto, que o metabolismo mentomagnético
a envolver os componentes encarnados e desencarnados de uma sessão
desobsessiva são devidamente assimilados e projetados pelo dirigente em
favor dos assistidos, em trabalho de alta relevância para o sucesso do
empreendimento mediúnico. Seria oportuno um comentário a respeito, com
o objetivo de despertar a atenção daquele que moureja na tarefa
desobsessiva, investido das responsabilidades de doutrinador.
Lancelin- Eis um detalhe que gostaríamos de melhor elucidar. O
doutrinador que progressivamente se firma na tarefa termina por
desenvolver características mentais particulares. Habitualmente, ante a
rotina da existência, esquecemos a nossa condição de espírito encarnado.
Então, as atenções se voltam para os afazeres laborativos e as obrigações
para com a família e a sociedade. É natural que assim aconteça, pois a
sobrevivência no mundo depende, em primeira análise, das atividades aqui
desempenhadas. Por outro lado, ocorre em nossa vida de relação algo de
maior extensão situado um pouco além dos afazeres cotidianos. Somos
110

muito mais do que percebemos, temos bem mais capacidade energética do


que imaginamos.
De certa forma atuamos a exemplo de verdadeiros professores da
vida, perante aqueles que nos observam nos afazeres mais comezinhos de
cada dia. E Deus, mediante Sua infinita sabedoria, permite que os
aprendizes, especialmente os espíritos desencarnados, aprendam sempre
um pouco mais com a nossa maneira de ser. Então, além de
exemplificarmos por intermédio de nossa conduta, emitimos, pelo tônus
das correntes magnéticas coordenadas pelo complexo mental, um campo
comunicante de sensações e pensamentos que se interconectam com os
habitantes do plano espiritual. O médium ostensivo, por ser detentor de um
condicionamento vibrátil de mão dupla (tanto para o interior, quanto para o
exterior), estabelece contato mental com os espíritos que dele se
aproximam e que se imiscuem em sua convivência diária. Esse repercutir
pode ser proveitoso tanto para o médium quanto para os espíritos.
Entretanto, muito depende da maturidade do médium, cujo padrão mental,
em harmonia com o Criador, conduz e cria em torno de si verdadeiro halo
energético favorável, do qual os espíritos carentes podem se beneficiar. O
médium pode ser uma peça estéril se não consegue compreender a
dimensão de sua tarefa de auxílio ou ser um caminho para as energias do
mais alto que, bem assimiladas, permitem-no acolher e favorecer os irmãos
enfermos. Onde estiver, pode o médium projetar energia capaz de entrar em
contato vibrátil com o respectivo campo mental de um desencarnado. Isso
acontece, em grande parte, sem o médium ter a consciência do que ocorre,
bastando para isso o cultivo de uma psicosfera mental composta e
alimentada por pensamentos positivos.

VRC- De acordo com essa linha de raciocínio, imaginamos do que


deve ser capaz o médium disciplinado, responsável e educado segundo os
padrões evangélicos de Jesus.
Lancelin- Certamente. O evangelho no coração faz prodígios com a
mente. A onda mental do médium ostensivo é diferente – tem a
característica de moldar e, ao mesmo tempo, estabelecer uma ressonância
adaptativa com as energias mentais de um desencarnado. É nesse ir e vir
energético, no qual sobressai a modulagem mantida por intermédio da
energia mental do sensitivo, que o espírito necessitado se beneficia com
cargas vibratórias salutares direcionadas por irmãos protetores do plano
espiritual.
No entanto, cabe destacar que esse mecanismo dinâmico e de via
dupla não ocorre somente de forma positiva. A facilidade comunicativa do
médium pode ter um viés inverso a expressar-se de forma distorcida. Por
invigilância e abaixamento do seu próprio tônus vibratório, ele pode se
111

converter em alvo de cargas mentais exteriores que, uma vez assimiladas,


acabam por prejudicá-lo.
Vale relembrar que somos médiuns em tempo integral, porém, a
incompreensão de alguns a respeito dessa realidade produz um efeito
desastroso ao permitir que o indivíduo atribua, à sua própria mediunidade,
os males e perturbações que o atingem no dia a dia, levando-o a se afastar
das atividades doutrinárias. Em consequência dessa interrupção, alguns
deixam de perceber as mudanças energéticas ocorridas em torno de si,
embora as interações mentais persistam. O que em verdade acontece é
apenas um embotamento perceptivo consciencial motivado pelo
afastamento das atividades mediúnicas. Alguns até desenvolvem
incompreensível repulsa à própria faculdade psíquica. Obviamente, o
médium pode, em alguns casos, bloquear as sutilezas da comunicação
mental, embora elas continuem acontecendo. Depois de um tempo, por não
sentir-se mais atordoado por comunicações mentais, (vale lembrar que este
atordoar é resultado de imaturidade de vida e de propósitos), o médium
acredita que tomou a decisão certa, sem se dar conta que as comunicações
subalternas à consciência ainda perdurem. A partir daí, a perturbação
interna pode se intensificar a ponto de ele se desorientar no prosseguimento
de sua jornada terrena.
Eis uma das possíveis ocorrências da mediunidade mal conduzida,
pois, quando a ostensividade é estuante e, sem o devido controle mental, o
médium já não consegue se desempenhar com base nos parâmetros
mínimos de sanidade psicofísica. A partir de então, o grau de
comprometimento pode variar conforme a intensidade do assédio sutil dos
obsessores.

VRC- Habitualmente, no decorrer de uma atividade mediúnica,


atribuímos aos médiuns a responsabilidade total pelos acontecimentos que
se processam nos planos invisíveis. Todavia, diante das informações aqui
recebidas, nos surpreendemos com as particularidades mentomagnéticas
atribuídas aos doutrinadores – detalhes nem sempre levados em conta no
contexto espírita, não obstante a relevância enfatizada pelo prezado irmão.
Se possível, gostaríamos de outras informações a respeito da dinâmica
mental e importância da funcionalidade entre o componente psíquico do
esclarecedor, os médiuns e a espiritualidade.
Lancelin- Voltemos ao tarefeiro que trabalha na coordenação do
grupo mediúnico. Há quem julgue que somente os médiuns ostensivos
sofrem a ação direta dos maus espíritos, sempre interessados em desviá-los
do trabalho no bem. Equivoca-se quem assim pensa, pois o dirigente da
sessão mediúnica (esclarecedor) também é médium, desprovido apenas de
maior amplitude ostensiva. Talvez por isso, ele seja encarado como
participante isento de afetações em sua organização mental. Em verdade,
112

não é bem assim. Vamos paulatinamente vergar esse conceito distorcido da


realidade.
Tanto o médium quanto o doutrinador desempenham papéis
importantes na reunião mediúnica, de modo que cada qual, com sua
funcionalidade, detém características mentais próprias em plena sintonia
com as funções habitualmente exercidas. A seu turno, o doutrinador
desfruta de uma complexidade mental capaz de possibilitar a convergência
de energias. Todavia, a exemplo do médium ostensivo, a sua construção
mental é que lhe permitirá a funcionalidade desse caminho energético. Em
resumo, o estilo de vida assumido se refletirá no desempenho apresentado
na condição de esclarecedor de sessões mediúnicas.
No doutrinador existe, em especial, um campo mental de ação
protetiva, pois ele estabelece contato com espíritos de diversos matizes
evolutivos. Igualmente, tudo o que já dissemos sobre a conduta do médium
ostensivo se aplica também para o doutrinador. Apesar de este não ter a
mesma característica de modulagem mental do médium, ele utiliza a dos
médiuns presentes para atuar de forma harmônica, seja sobre o espírito
perturbador que se manifesta mediunicamente, ou nos demais espíritos que
o acompanham.
O doutrinador permite que a atuação da equipe mediúnica propicie
o auxilio magnético a quem necessita. Dessa forma, por seu intermédio,
reconhecemos a efetivação de dois tipos de mecanismos mentomagnéticos:
1°- que os médiuns atuem em conjunto, objetivando determinada
finalidade;
2° - que ele próprio (o doutrinador), graças à sua capacidade mental
de aglutinação e de propulsão, impulsione as energias circulantes no
sentido daquele beneficiado com as cargas fluídicas.

VRC- Por intermédio dos vossos esclarecimentos, melhor


compreendemos o valor daqueles que se congregam em equipe, para se
dedicar à prática da mediunidade assistencial. Por outro lado, há médiuns
portadores de reconhecida ostensividade que se propõem a tratar o
enfermo supostamente acometido de transtorno espiritual, muito embora se
decidam pelo isolamento no exercício da mediunidade curativa –, não
levando em conta o auxílio que poderiam receber tanto da equipe
mediúnica quanto dos bons espíritos. O que se poderia dizer sobre o
desempenho desses médiuns ostensivos, que desprezam o trabalho do
grupo mediúnico nas tarefas de auxílio aos necessitados?
Lancelin- O orbe terreno, em seus múltiplos planos de vida, precisa
de grupos coesos em propósitos beneficentes. A atuação em grupo é o fator
que viabiliza a perfeita condição dos atendimentos. O tônus vibratório de
uma determinada faculdade mediúnica exercitada em conjunto só é
113

verdadeiramente frutífero quando lastreado em trabalho harmônico com os


demais componentes.
Não existe individualidade privilegiada, mas, sim, uma coletividade
operacional que se desempenha com o Cristo.

VRC- Ao referenciarmos o trabalho mediúnico em grupo,


obviamente englobamos os médiuns falantes, os psicógrafos, os
magnetizadores encarregados da fluidoterapia, os chamados médiuns de
apoio e os esclarecedores – todos integrados na equipe coesa em perfeita
sintonia com os mentores espirituais. Mas gostaríamos, no entanto, de
conhecer um pouco mais a respeito do papel desempenhado pelo
doutrinador, considerando a dinâmica mentomagnética que o torna
instrumento de real valor no âmbito de uma reunião mediúnica
desobsessiva.
Lancelin- Nessa perspectiva, o doutrinador, quando bem orientado,
desempenha a função de equilíbrio do grupo ao conduzir as comunicações
espirituais, facilitar a execução dos atendimentos e apontar o caminho a ser
seguido. Nos grupos bem integrados, a espiritualidade desempenha papel
de proeminência ao promover as intuições construtivas, facilitar as
mensagens mediúnicas e favorecer a harmonização energética entre os
componentes da reunião. Por tudo que foi dito, entenda-se a existência, nos
doutrinadores, de um campo mental de fusão e dispersão energética. Esse
campo mental está apto, portanto, a integrar as forças mentais circulantes e
consequentemente proporcionar um feixe integrado de energias,
impulsionando-o na direção do espírito assistido, ou direcionando-o a
outros locais específicos, onde seja necessária a presença dessas energias
benéficas.
Sem um doutrinador capacitado, a reunião mediúnica perde muito
em possibilidade de atendimento. Denominamos campo mental de
convergência ativa o referido aparato psíquico do doutrinador. Ele é
oferecido por Deus aos esclarecedores espíritas e de outras religiões. Está
presente em todos aqueles dispostos a dialogar com a finalidade de ajudar o
próximo. É a sabedoria de Deus para conosco. O Pai Maior apenas
disponibiliza o mecanismo mental, porém quem atua imprimindo as
devidas modificações são os doutrinadores, mediante as atitudes
enobrecidas perante a vida e o envolvimento positivo com o diálogo e a
evangelização.
Obviamente, há espíritos dotados de grande força mental, mas em
desequilíbrio flagrante nos propósitos de vida, a manipularem energias de
baixo teor vibratório. Esses espíritos possuem um campo mental
aglutinador de energias apto a funcionar de acordo com os objetivos
determinantes de sua vontade. Existem mentes impregnadas de ódio, de
vingança e de desprezo ao próximo. Contudo, voltamos a afirmar: tais
114

campos mentais de baixíssima tonalidade vibratória foram elaborados por


eles mesmos, e não por Deus. O campo mental de convergência ativa não
se vincula às energias de padrão barôntico. Quando ele vibra na mente do
doutrinador é em consonância com os objetivos da harmonia.
A criatura humana detém a propriedade de elaborar e impulsionar
vibrações magnéticas, sendo capaz de fazer com que a energia proveniente
de outros campos mentais se conjugue com a energia dela própria e alcance
a meta delineada por sua perseverante vontade. Contudo, o campo de
convergência ativa é diferente, porquanto tem a capacidade de assimilar e
de fazer convergir essas energias, de forma bastante intensificada,
fenômeno que nenhuma outra mente humana, por si só, seria capaz de
reproduzir.
Espíritos infelizes que coordenam falanges das sombras temem o
indivíduo detentor desse tipo de campo mental, pois reconhecem o seu
poder efetivo a serviço de Jesus, potencialidade capaz de direcionar
energias transformadoras colhidas entre os encarnados e as entidades
desencarnadas. Para bem usufruir a utilidade desse campo, é preciso ter fé
operante, confiança alicerçada na prática do bem e o coração iluminado
pelo senso superior de moralidade.
Ora, bem sabemos que a criatura humana ainda carece desses
requisitos em grau maior, e aí incluímos o esclarecedor. Entretanto, quando
este se encontra imbuído de honestidade de propósitos e recebe a assessoria
mediúnica de espíritos afinados com o bem, sua mente imanta-se às
vibrações superiores que permeiam o ambiente, de modo a despertar as
forças internas de harmonização e fazer vibrar os registros positivos
resguardados em seu campo mental consciência alerta. Nesse instante, o
doutrinador se encontra com a mente em estado vibrátil sutil, o que lhe
favorecerá a utilização do campo de convergência ativa em nível bem
superior de harmonia. A prece sentida é o estímulo insuperável da mudança
mental. A harmonia decorrente do pensamento construtivo em forma de
prece é o melhor caminho para atendermos a um irmão necessitado.

VRC- Na concepção de alguns, vige uma espécie de louvação aos


médiuns ostensivos, falantes ou psicógrafos, minimizando, a bem dizer, o
valor que se deve atribuir aos demais tarefeiros da Doutrina Espírita,
todos dignos de aprovação e respeito, a exemplo do que acontece com os
doutrinadores. Aliás, há doutrinador que sequer entendeu a
responsabilidade assumida perante o Mundo Maior, e o papel que lhe
compete no cenário da equipe mediúnica, para que os objetivos maiores
sejam plenamente alcançados. Parece-nos indispensável lembrar que a
autovalorização com responsabilidade é a postura correta a ser levada em
conta por parte do esclarecedor consciente de sua importância no contexto
115

mediúnico. No nosso modo de ver, ele não deve se achar menos importante
ou, ao contrário, se envaidecer do papel de administrador rígido do grupo.
Lancelin- Em relação ao fato de se apequenar diante da tarefa, é
possível que tal posição decorra do desconhecimento do metabolismo
mentomagnético atribuído à essência do próprio esclarecedor. Por isso, ele
imagina que, pelo fato de não possuir a mediunidade ostensiva, optou pela
tarefa da doutrinação como instrumento de trabalho assistencial de menor
expressão, muito embora alguns apresentem sinais evidentes de
mediunidade. Assim, equivocam-se quando atribuem a si próprios um papel
secundário no contexto dos trabalhos práticos na esfera mediúnica.
O doutrinador é como o timbre, a nota musica – aquela que permite
ao músico afinar o seu instrumento. Ele dá o tom reverberativo da
sonoridade energética da reunião. Uma equipe que dependa da iniciativa de
um dirigente desprovido de visão expansiva, que não confia na
espiritualidade nem na atuação convincente do grupo mediúnico não pode
geri-lo com a devida harmonia mental. É forçoso admitir que a criatura
humana possui algumas idiossincrasias e certas imperfeições, apesar disso,
o adepto espírita, quer seja médium ou doutrinador, deve se empenhar no
estreitamento de vínculos com os postulados evangélicos de Jesus, ao
pretender desbastar progressivamente as arestas grosseiras ainda presentes
na própria personalidade.
Por sua vez, o dirigente do trabalho mediúnico, quase sempre
investido da função de esclarecedor, embora represente uma espécie de
esteio do grupo, não deve se considerar dono da equipe nem atribuir a si
próprio importância maior do que a de um simples trabalhador do Cristo.
Os valores morais que o regem determinam-lhe o teor de sua atividade
como dirigente e harmonizador da equipe. São esses os singelos valores
mais próximos daquilo que ele deve almejar em si, para que o grupo
prospere, pois, apesar da surpresa de muitos, o grupo mediúnico também
progride. Quanto mais amadurecido, maior o desafio, maior a
responsabilidade. Por conseguinte, é um progresso atribuído a todos.

VRC- Comportar-se na qualidade de esteio da equipe se refere


realmente a um aspecto bastante particularizado da função de
esclarecedor. Mas, sem dúvida, quantos ignoram os valores de suas
próprias possibilidades mentais frente ao trabalho mediúnico e, em
decorrência, acabam por se acomodar na função de simples
administradores da equipe que coordenam.
Lancelin- Tendo em vista os comentários anteriores, voltamos a
argumentar que inúmeros doutrinadores não creditam a si próprios
participação de importância no intercâmbio mediúnico e, como tal,
colocam-se na posição de simples administradores, meros organizadores de
horários. Há quem chegue a notificar o horário preciso de ingresso de cada
116

médium no recinto da reunião. É como se utilizasse sua capacidade mental


para trabalhar com aquilo que o aproxima do convencionalismo terreno. Tal
posicionamento, quando rígido e obstinado, chega a dificultar os lampejos
intuitivos com os quais deveria ser tocado no decurso do intercâmbio
fraterno estabelecido com os obsessores.
Mas, entendam. Não estou discordando quanto à importância da
função de administrador da reunião mediúnica, mas o apego ao formalismo
e aos rituais administrativos subverte, em seus meandros mentais, o que
realmente seria de relevância para o sucesso do empreendimento, no caso, a
harmonia cultivada entre o doutrinador e os médiuns. O controle, quando
exagerado, gera o descontrole. Por essas razões o doutrinador/dirigente
deve aprimorar as qualidades de apaziguador, esmerar-se na convergência
de propósitos e elevar ao grau máximo o empenho fraterno nos serviços
mediúnicos. A metodologia é importante, os preceitos também, no entanto,
é imprescindível ter maturidade para tolerar e compreender o tarefeiro da
mediunidade.
Uma das funções mais importantes do dirigente é a de manter um
bom diálogo com o grupo, ter a sabedoria da boa convivência e a
indispensável força do afeto. Ele é o equilíbrio das energias mentais
circulantes no decorrer das atividades práticas. Para tanto, é preciso que as
energias mentais que se entrecruzam vibrem em consonância com os
objetivos elevados do trabalho fraterno. Como já referimos, o dirigente é o
médium do grupo, porém, ele não atua apenas no momento da atividade
prática, pois a sua ligação mentomagnética com os demais permanece além
das paredes do recinto dedicado ao intercâmbio com o plano espiritual.

VRC- Os médiuns se caracterizam como moduladores de energias


e de outros atributos referentes ao dinamismo psíquico. Cremos que tal
assunto ficou bem determinado. Gostaríamos, entretanto, de conhecer mais
um pouco a respeito do metabolismo energético que se processa no campo
mental dos doutrinadores.
Lancelin- A variação de valores e objetivos de vida, responsáveis
pelo norteamento das correntes mentais, fornecem a tonalidade vibratória
de cada esclarecedor em serviço. Entretanto, os dotes psíquicos destes
diferem em algumas particularidades em relação aos médiuns. Na mente do
doutrinador, desenvolve-se algo semelhante a um reator energético, que
aglutina e dá impulso vigoroso à energia. O seu campo mental experiente e
capacitado tem um grande poder de aceleração impulsiva da energia. Essa
atividade é mais bem executada quando há participação conjunta dos
médiuns ativos nas modulagens de energias e dos espíritos mentores
integrados ao grupo. Aliás, estes últimos são os verdadeiros responsáveis
pelas induções intuitivas e pela mobilização qualificada da energética
espiritual.
117

É importante ressaltar o contato mental com a falange de


benfeitores espirituais que assistem ao grupo, pois são eles que auxiliam no
direcionamento mental do doutrinador. Assim ocorre por uma razão
simples: os benfeitores espirituais enxergam melhor a dimensão do
problema a ser beneficiado pela canalização energética. Eles também
influenciam o doutrinador a projetar vibrações convergentes no sentido de
alcançar determinadas regiões espirituais, emitir energias em proveito do
obsessor assistido e, por extensão, irradiar aos que a ele se ligam por fios
conectivos mentais. A força mental do doutrinador é em grande parte
lograda por meio do uso do campo mental de convergência ativa.

VRC- Quando se diz que o indivíduo é médium nas 24 horas do


dia, imaginamos que tal predicado psíquico também se estende ao
esclarecedor, embora de forma peculiar. Todavia, as características de um
e de outro não se manifestam apenas no momento da reunião mediúnica.
São qualidades inerentes à condição psicobiofísica dos indivíduos,
presentes e atuantes em todos os instantes da jornada. Nesse aspecto, as
responsabilidades são compartilhadas, apesar da ênfase que ora
atribuímos ao desempenho do doutrinador. O orai e vigiai se apresentam
como exigências maiores àqueles que aceitaram o desafio da lida habitual
com os obsessores.
Lancelin- Sem dúvida, enfatizamos o processo acima para destacar
a participação do dirigente/doutrinador no decorrer da reunião e acrescentar
que este, durante os afazeres cotidianos, mantém a operacionalidade de seu
campo mental, o que lhe exige especial vigilância e disciplina de
pensamento, para não interferir negativamente no complexo psíquico
daqueles que a ele estiverem ligados.

VRC- Admiramo-nos com as referências que o prezado irmão tem


feito a respeito do campo mental de convergência ativa, espécie de
capacidade mental, bastante intensificada, desenvolvida pelo doutrinador.
Todavia, levantemos uma hipótese. Admitamos que, num determinado
momento, o esclarecedor sofra um desvio doutrinário e passe a utilizar a
sua qualidade psíquica para influenciar alguém negativamente. Isso seria
possível?
Lancelin- De maneira alguma, visto que o campo de convergência
ativa não se presta a veicular energia negativa, conforme já mencionado. É
um campo criado por Deus e o homem não pode nele interferir
volitivamente, a ponto de subverter a finalidade dos propósitos a que foi
criado. Comentávamos antes sobre o poder aglutinador e expansivo que o
doutrinador possui e a possibilidade de empregar a sua força mental para
dar vigor às energias. Nesse sentido, o campo de convergência ativa
desempenha a função de selecionar e acelerar as energias, potencializando-
118

as quando necessário. Portanto, a sua ação específica limita-se à vibração


energética irradiada com finalidade enobrecida e fraterna.
Qualquer irradiação mental emitida, que se contraponha ao teor
vibracional elevado requerido aqui no caso, inativa o referido campo
mental.
Toda essa argumentação é para alertar que um doutrinador
perturbado, em face das características de sua mente, pode interferir tanto
nos irmãos desencarnados quanto nos médiuns da equipe mediúnica da
qual participa.
Não olvidar que os médiuns integrantes do grupo possuem uma
conexão mental muito forte com o doutrinador.
Por essa razão, um dirigente em desequilíbrio se comunica, via
irradiação mental, não somente com o grupo mediúnico, mas com os
parentes, os amigos, de forma potencializada pela mente treinada na
condução de energia. Sua responsabilidade mental é tão imprescindível
quanto a dos médiuns ostensivos. Ao contrário do que se imagina, o
doutrinador tem participação funcional, tanto no intercâmbio mediúnico
como nas demais comutações energéticas. Por isso mesmo, trata-se de um
membro ativo na permuta de informações, pois se mostra investido da
responsabilidade de coordenar as energias mentais circulantes, mecanismo
que acontece de forma direta, consciente e também indireta.

VRC- A capacidade mental da criatura humana excede em muito


aquilo que imagina a vã filosofia terrena. Os estudos espíritas alargaram
suficientemente os horizontes mentais da criatura, permitindo-lhe melhor
entendimento dessa mecânica energética sutil que se desdobra em planos
eterizados, fora do alcance dos sentidos físicos, tendo como ponto de
partida a nossa própria usina mental. Se possível, gostaríamos de mais
elucidações a respeito da energética mental dos médiuns e doutrinadores,
de acordo com a interessante linha de pensamento proposta pelo prezado
irmão.
Lancelin- Ficou exposta, nos estudos realizados em conjunto com o
Dr. Carlos, a influência dos pais e demais familiares que convivem
próximos às crianças –, não só pelas ligações mentais decorrentes do afeto,
mas por intermédio de outras formas de conexão mental. Os integrantes do
contexto familiar articulam um verdadeiro campo magnético em torno
deles, passível de interferir na criança em fase reencarnatória, período bem
mais suscetível às alterações do equilíbrio energético.
O doutrinador, em particular, possui esse campo energético dotado
de características peculiares, pois, embora não manifeste a mediunidade
ostensiva, ele desenvolve, mediante a prática, o mesmo sistema
anímico/mediúnico do médium ostensivo. Se bem que o faz com certo grau
de limitação para não alimentar a consciência de vigília. A razão do
119

desenvolvimento dessa relação energética que perpassa a mente, o cérebro


e o corpo físico é justamente a possibilidade de melhor canalizar a energia.
A interconexão mente/encéfalo, via sistema mediúnico, facilita, por ato
volitivo, contato direto com as energias físicas adensadas, em harmonia
vibrátil com a psicosfera terrena.
Abramos um parêntese para o seguinte comentário. Os médiuns
ostensivos trabalham com mais facilidade a modulação das energias
procedentes do meio externo, transformando-as conforme as necessidades.
O sistema mediúnico integrado no médium, além de permitir o intercâmbio
inteligente com os espíritos e a comunicação com os registros mentais das
criaturas, também facilita a conexão com energias diferenciadas, todas
passíveis de significativas transformações.
Em mensagem anterior, foi relatado que tal ocorrência se verifica de
maneira inconsciente. O médium é um intermediário da divindade,
contudo, em desequilíbrio, espalha desarmonia por onde passa. Por outro
lado, comentamos que o doutrinador também possui um tipo de sistema
mediúnico, porém, com limitações relativas à consciência em vigília.
Existe sutil diferença entre o médium ostensivo e o doutrinador. Digamos
que o médium é o modulador de energias, enquanto o doutrinador é o
elemento capaz de assimilar e canalizar adequadamente o fluxo energético.
No entanto, a dinâmica de indução energética compreende mais
alguns detalhes, por exemplo: o doutrinador com a mente focada nos
esquemas de auxílio consegue fazer com que as energias elaboradas
alcancem diferentes destinos, desde os penumbrosos sítios no Umbral
inferior até os recônditos domínios da mente humana. Tal possibilidade se
deve aos impulsos provenientes de sua resoluta vontade, principalmente
quando estabelece diálogo com os espíritos assistidos, ocasião em que, por
intermédio da prece sentida, ele assimila, elabora e veicula quantidades
apreciáveis de energias mento magnéticas, direcionando-as aos diversos
tipos de tratamento.

VRC- A reunião mediúnica é uma das vivências espíritas que


aguçam a nossa curiosidade saudável, porquanto imaginamos o bem a ser
ofertado aos enfermos de ambos os lados da vida, por intermédio dos
esquemas doutrinários disponibilizados nas instituições espíritas. Cremos
que ainda há muito a aprender sobre o assunto e aqui nos colocamos em
posição de total receptividade.
Lancelin- Destaquemos, então, os mecanismos íntimos que se
sucedem no transcurso de uma reunião mediúnica e que não podem ser
deixados de lado. Ocorre no ambiente, durante o atendimento fraterno, um
somatório de forças benfazejas, as quais englobam as energias provindas da
mente de cada médium, dos benfeitores espirituais e do doutrinador. O
arcabouço mental do sensitivo dispõe de uma funcionalidade mediúnica
120

complexa. Ele atua em conjunto com a espiritualidade maior responsável


pela coordenação e desenrolar da reunião. Nesse meio tempo, ocorre a
modulagem do campo vibracional do médium, e este age em consonância
com a frequência ondulatória impressa pelos espíritos superiores. Por
conseguinte, o doutrinador encampa essa massa energética e vale-se de sua
capacidade de canalizar as energias salutares. Tudo que acontece na reunião
mediúnica tem funcionalidade própria de elevada repercussão, por isso, a
importância que lhe é conferida.

VRC- Em nossa atividade espírita rotineira, não divisávamos o


alcance da responsabilidade atribuída aos esclarecedores, não obstante a
seriedade, o empenho e a vontade de auxiliar os desencarnados enfermos,
sempre tão necessitados de amparo e carinho por parte de toda a equipe.
Vossas palavras servem de alerta e estímulo, especialmente àqueles que
cumprem sem o devido entusiasmo afetivo a tarefa de dialogar com os
espíritos necessitados e esclarecê-los, como se a desobsessão não passasse
de prática corriqueira e enfadonha.
Lancelin- Alguns doutrinadores acostumados à rotina acabam por
minimizar a excelência do diálogo levado a efeito com a entidade espiritual
em desequilíbrio. Todavia, é nesse momento que o dirigente serve de
canalizador de energias, em virtude de possuir, em graus variados, aquela
expansividade mental capaz de interagir com a mente do espírito assistido.
Durante a conversação com a entidade, o doutrinador consegue
progressivamente obter a sua condescendência ao construir e consolidar um
caminho vibrátil direcionado ao seu campo mental. Lembremos o campo
consciência alerta, presente em todos os humanos. Dissemos que o acesso a
ele só ocorre com a permissão de Deus. Todavia, ao doutrinador bem
intencionado é permitido atingir esse campo na mente do irmão necessitado
e fazê-lo emergir até a consciência em vigília, para que ele se conscientize
do amor de Deus em sua vida. As energias moduladas pelos médiuns e
canalizadas pelo doutrinador permitem ao espírito assistido excelente
possibilidade de despertamento e reflexão, o que lhe serve como estímulo
para retomar o caminho do bem, objetivando a sua própria reabilitação.

VRC- Cremos serem de muita utilidade as orientações a nós


repassadas. Assim, ao encerrarmos o presente capítulo, deixamos ao vosso
critério os comentários a mais, que nos sejam convenientes.
Lancelin- Nenhum espírito reencarna com a destinação de fazer o
mal, de maltratar o semelhante, de escandalizar a sociedade. Por
conhecimento de causa, sabemos existir em nossa intimidade os caminhos
propícios a nossa harmonia com o Criador. Pode-se afirmar, mediante
comparação aproximada, que o doutrinador age como se fosse um
hipnotizador, apto a proferir palavras que reverberam e promovem a
121

alteração dos fluxos de energias mentais. É também um magnetizador, que


se utiliza das próprias energias anímicas, mescladas às energias moduladas
pelos médiuns e as procedentes dos espíritos bondosos que o assistem no
decurso do atendimento mediúnico. Há que se ressaltar nesses mecanismos
transformadores a presença do amor. Quanto mais amor, mais poder.
Realmente o amor é a força maior de todas as que permeiam o nosso
Universo.
O dirigente que se aprofunda no estudo da doutrina, que procura
sempre aperfeiçoar sua compreensão da vida, que busca afinizar-se com o
evangelho de Jesus, certamente consegue ajudar mais, tanto em quantidade
quanto em qualidade. Durante a reunião mediúnica, é preciso um roteiro
com função estabelecida para todos. Quanto ao doutrinador, este pode ter
uma forma esquematizada, um modelo próprio de dialogar com os
espíritos. Contudo, muitas vezes, o roteiro em mente não é a melhor
escolha. Exemplos: um suicida ou um espírito que desconhece o fato de
estar desencarnado. Naturalmente cada caso exige abordagem compatível
com a situação específica. Diante de cada individualidade complexa é
fundamental saber ouvir e entender a circunstância na qual o espírito está
envolvido.
A referência feita ao estudo e à compreensão da vida serviram para
expor aos irmãos certos axiomas de elevada significância, pois, em
verdade, quanto mais conhecemos, melhor a condição de compreender e
auxiliar o próximo por intermédio da sessão mediúnica. E isso se deve à
circunstância de ainda nos vincularmos aos ambientes mentais de níveis
semelhantes, não tão elevados assim e que interpenetram o orbe terreno.
Desse modo, o caminho interno de cada espírito enfermo tido na condição
de obsessor será desvelado pelo diálogo amoroso alicerçado no ideário
evangélico.

Comentário
O instrutor recorda o comportamento de Jesus na velha Palestina,
quando multidões o procuravam na ânsia de obter alívio ou cura para os
seus males físicos e psíquicos. O seu exemplo edificante, no qual
preponderava a simplicidade de atitudes e a compaixão fraternal serve de
roteiro a ser cumprido pelos espíritas conscientes da necessidade de
praticar o bem indistinto e de socorrer a gente sofrida do caminho, de
maneira que não percam a fé nem a esperança na misericórdia de Deus.
Jesus se desempenhava ao lado dos aflitos de forma espontânea e
benevolente, com o devido cuidado para não humilhar nem constranger a
criatura sofrida. Por isso, Ele serve de modelo aos médiuns e
esclarecedores, pois estes, na qualidade de instrumentos propiciadores do
bem maior, servem-se da palavra e das energias mentomagnéticas para
122

levar consolo e esperança aos enfermos e aos espíritos perturbados ainda


atados às algemas da ignorância.
Orienta-nos o instrutor Lancelin quanto à necessidade de os
médiuns se compenetrarem do mandato que lhes foi conferido pela
misericórdia divina, assim como nos elucida a respeito das peculiaridades
transcendentais que envolvem a mente do esclarecedor. Ele assume
significativa importância na tarefa de transmitir as energias
mentomagnéticas em favor dos enfermos, tornando-se peça chave,
indispensável na boa condução das atividades mediúnicas caritativas, em
consonância afinada com as diretrizes estabelecidas pelos benfeitores
desencarnados responsáveis pela orientação dos trabalhos práticos.
Reafirma-nos igualmente que, se os médiuns são dotados da
capacidade de comutar os fluidos ambientais, os doutrinadores, por sua vez,
aproveitam-se desse caudal energético e os canalizam adequadamente em
benefício de um doente encarnado, muitas vezes preso ao leito da dor ou de
um obsessor intransigente. Após assimilá-lo, o obsessor sente-se tocado
pela vibração de seu próprio campo consciencial alerta, donde afloram os
aspectos enobrecidos ali arquivados, de modo a facilitar-lhe o desabrochar
do bom-senso e da submissão aos ditames da Lei Divina. Assim acontece
na maioria das vezes. Inúmeros espíritos que nos contatam nas sessões
mediúnicas se apresentam com a mente obstinada na ideia de vingança. No
decorrer do diálogo fraterno, eles acabam por ceder aos influxos
energéticos amoráveis e, depois de assimilar os fluidos balsamizantes que
lhes impregnam o campo mental, aos poucos se tornam menos irredutíveis,
até que se disponham a receber ajuda dos socorristas espirituais, prontos
para resgatá-los para a seara bendita do Senhor Jesus.
Enfatiza, por fim, o quanto o evangelho plantado no coração
faculta ao médium e ao doutrinador a realização de verdadeiros prodígios
em termos de reabilitação dos espíritos endurecidos e de expressivas curas
prodigalizadas em favor dos enfermos em geral.
123

PALAVRAS FINAIS DO INSTRUTOR LANCELIN

Tudo se transforma na natureza, assim prescreve uma das leis


fundamentais do Universo. É a regeneração da vida expressa na vontade do
Criador em nos fazer melhores. Na obra da codificação espírita,
identificamos oportuna análise a respeito das fases e mudanças por que
passam os mundos habitados. A paz só resplandecerá dominante sobre a
Terra quando seus habitantes a implantarem primeiramente em seus
corações. O mundo de regeneração que aos poucos adentramos nada mais é
do que um reflexo da Lei Maior a nos incentivar a prática do amor.
Os novos tempos necessitam da colaboração enfática daqueles que
reconhecem a importância da fraternidade implantada no seio da
Humanidade verdadeiramente cristã. Nesse tocante, somos a maior força
consciencial dos novos tempos. Por essa razão, o nosso país jamais
dominará o mundo pela imposição do poder econômico nem pelos conflitos
bélicos. O Brasil deve ser considerado apenas um local para o
assentamento das vibrações desequilibradas em face do desespero,
convertendo em preciosos padrões de harmonia a mente dos viajores
exaustos das paixões viciantes que dominaram até então vasta extensão
planetária.
Não exerceremos o poder de coação política, todavia,
exemplificaremos com a compreensão fraterna e, para tanto, estaremos
cada vez mais necessitados do auxílio imprescindível de equipes
mediúnicas solidárias para com os grupos de irmãos sofridos de ambos os
planos da vida. O momento atual não deve ser considerado apenas de cisão
e separativismo, mas de fraternidade e de auxílio mútuo. Estejamos,
portanto, mais interessados em congregar pacificamente do que em nos
enredarmos nas malhas das atitudes sectárias. O respeitável Dr. Bezerra de
Menezes, obreiro fiel de Jesus a serviço do amor indistinto, sempre nos
incentiva ao exercício da fraternidade universal. Ele decidiu permanecer
entre nós, de forma a nos auxiliar com sua sabedoria de vida alicerçada no
amor. Sejamos nós, também, colaboradores autênticos.
Caríssimos lidadores da seara mediúnica. Ocupem suas mentes
com pensamentos de compreensão e harmonia, pois os espíritos
esclarecidos necessitam lidar com tarefeiros mediúnicos equilibrados e
desprendidos. Busquem uniformidade em vossas ideações mentais diárias.
Orem sempre, não se desgastem com pensamentos negativos, sejam ciosos
124

de suas condutas interiores. Aqueles que foram agraciados pelo Mundo


Maior com o mandato mediúnico e boa capacidade de colaboração efetiva
para com a espiritualidade, permaneçam firmes em seus postos de luta
regeneradora, sejam corajosos e fiéis à causa crística. O momento solicita a
presença de médiuns agradecidos e venturosos perante as responsabilidades
assumidas com o Mestre Jesus. Conviver em sociedade hoje, portando a
marca de colaborador do Cristo, pode parecer um peso, mas, a bem dizer, é
a expressão máxima do envolvimento da criatura com a consciência da
verdade.
A presente obra tem como escopo alertar os tarefeiros espíritas
quanto à importância do autoequilíbrio para o melhor desempenho na tarefa
de obreiros do Cristo. Que Deus esteja em vossos corações, que o
sentimento de fraternidade e de paz interior lastreie vossos pensamentos e
obras em benefício dos semelhantes.

O Espiritismo e o magnetismo nos


dão a chave de uma imensidade de
fenômenos sobre os quais a ignorância
teceu um sem número de fábulas, em que os
fatos se apresentam exagerados pela
imaginação. O conhecimento lúcido dessas
duas ciências, que, a bem dizer, formam
uma única, mostrando a realidade das
coisas e suas verdadeiras causas, constitui o
melhor preservativo contra as ideias
supersticiosas, porque revela o que é
possível e o que é impossível, o que está
nas leis da Natureza e o que não passa de
ridícula crendice.” (Allan Kardec. LE, n.
555)

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